NOVAS TECNOLOGIAS NO USO DA VINHAÇA E ALGUNS ASPECTOS LEGAIS Pedro Henrique de Cerqueira Luz1 1. INTRODUÇÃO O emprego da vinhaça como fertirrigação para a cana-deaçúcar, merece destaque nacional quando se pensa na produção de efluentes do setor agroindustrial brasileiro, uma vez que a vinhaça vem a ser um efluente com elevada carga orgânica e nutrientes, oriundos da produção de álcool das destilarias de cana-de-açúcar. Segundo Rosenfeld (2003) o setor sucroalcooleiro é o que melhor uso faz dos efluentes gerados, comentando que esse uso não se dá apenas devido a crescente consciência ambiental, mas principalmente porque os efluentes produzidos têm grande quantidade de nutrientes, não tem metais pesados, e tem baixa quantidade de sódio que diminui o risco de saturação. Os nutrientes existentes nestes efluentes são provenientes da própria cana, em alguns casos complementados com nitrogênio, fósforo e enxofre adicionados no processo industrial, e algumas vezes contaminados com pequenas quantidades de antibióticos e ácidos usados na descontaminação e/ou lavagem de equipamento. Utilizando-se de dados do AGRIANUAL 2004 e de Rosenfeld (2003) elaborou-se a Tabela 1 que contém um cenário atual do setor sucroalcooeliro com vistas a estimar a área potencial para a 1 Professor Doutor de Ciências AGRÁRIAS/FZEA/USP; Pirassununga SP, (__19) 3565.4196 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR aplicação de vinhaça, considerando doses de 185 (mínima) até 370 (máxima) kg de K2O/há, os teores regionais de K2O na vinhaça, e a produção brasileira de álcool. Nesse contexto encontrou-se área potencial de cerca de 907.000 há na maior dose e de 1.814.000 há na menor dose, o que vem a ser altamente expressivo, pois se considerarmos uma adubação mineral média de 120 kg de K2O/há feita através de KCl, essas área utilizariam cerca de 181.400 a 362.800 t o que implicaria em recursos financeiros da ordem de 55,9 a 111,8 milhões de U$, lembrando que a principal fonte de fertilizante potássico é o KCl praticamente todo importado. Tabela 1. Dados do setor sucroalcooleiro e o potencial de área para fertirrigação com vinhaça. PARÂMETRO Área Cultivada – há Produção de cana – t Produtividade - t/há Produção de Álcool - m³ Produção de Vinhaça - m³ Teor K2O - kg/m³ Dose de Potássio - kg K2O/há Opção "A" Opção "B" Aplicação de Vinhaça m³/h Opção "A" Opção "B" Área Fertirrigada Potencial – há Opção "A" Opção "B" Área Irrigada atual – há Irrigada/Potencial "A" Irrigada/Potencial "B" Substituição da adubação com K Opção "A" - % da área cultivada Opção "B" - % da área cultivada Luz, Pedro Henrique de Cerqueira São Paulo 2.745.344 218.906.942 79,74 8.291.644 107.791.372 1,90 REGIÃO Centro Sul Norte e Nordeste 4.156.771 1.121.567 299.049.686 59.145.054 71,94 52,73 12.030.575 1.561.748 156.397.475 20.302.724 1,80 2,40 Brasil 5.278.338 358.194.740 67,86 13.592.323 176.700.199 1,90 185,00 370,00 185,00 370,00 185,00 370,00 185,00 370,00 97,37 194,74 102,78 205,56 77,08 154,17 97,37 194,74 1.107.046,52 553.523,26 439.964,78 39,7 79,5 1.521.705,16 760.852,58 568.718,09 37,4 74,7 263.386,69 131.693,34 84.594,68 32,1 64,2 1.814.758,80 907.379,40 653.312,77 36,0 72,0 40,3 20,2 36,6 18,3 23,5 11,7 34,4 17,2 09 e 10 de Junho de 2005 2 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Atualmente o Brasil conta com 653.312 há de área fertirrigada correspondendo a 12,44% da área cultivada, sendo que pode-se atingir dentro de um uso racional da vinhaça cerca de 34,4 % da área cultivada. Para o Estado de São Paulo estima-se que esteja utilizando 79,5 da área potencial para dosagem de 370 K2O/ha e apenas 40,3% da área quando se considera a dosagem mínima de 185 kg de K2O/ha 2. UTILIZAÇÃO DA VINHAÇA NA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR A fertirrigação, processo conjunto de irrigação e adubação, consistente na utilização da própria água de irrigação para conduzir e distribuir o adubo químico ou orgânico na lavoura, podendo ser feita por qualquer sistema de irrigação (Vieira, 1986). O adubo, no caso, pode ser sólido ou líquido, devendo ser respectivamente, para posterior aplicação. dissolvido ou diluído, Dentro deste contexto, o termo fertirrigação, no que concerne à vinhaça, não é de todo correto, pois se refere mais ao método de irrigação empregado, não se constituindo mais do que um processo de aplicação de adubo e molhamento, sem controle prático da lâmina hídrica aplicada e muito menos da freqüência das aplicações, interessando mais a quantidade de potássio carregada pela vinhaça e transferida ao solo. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 3 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR O emprego da fertirrigação é recomendado no caso de solos de baixa fertilidade, que exigem elevadas quantidades de vinhaça por unidade de área ou daqueles com acentuado déficit hídrico quando então a irrigação é necessária (Freira & Cortez 2000). A composição química da vinhaça, segundo Glória e Orlando Filho (1984) que consta da Tabela 2, é variável de acordo com o tipo de vinho a ser destilado, da natureza e composição da matéria prima, do sistema usado no mosto, do método de fermentação adotado e do sistema de condução da fermentação alcoólica, da raça da levedura, dos equipamentos de destilação, do modo de destilação e do tipo de flegma. Tabela2. Composição química média da vinhaça Elemento 3 N (kg/m ) P2O5 (kg/m3) K2O (kg/m3) CaO (kg/m3) MgO (kg/m3) SO4 (kg/m3) Mat. Orgânica (kg/m3) Fé (ppm) Cu (ppm) Zn (ppm) Mn (ppm) pH Melaço 0,77 0,19 6,00 2,45 1,04 3,73 52,04 80,00 5,00 3,00 8,00 4,40 Vinhaça de Mosto Misto 0,46 0,24 3,06 1,18 0,53 2,67 32,63 78,00 21,00 19,00 6,00 4,10 Caldo 0,28 0,20 1,47 0,46 0,29 1,32 23,44 69,00 7,00 2,00 7,00 3,70 Observando-se a Tabela 2, nota-se que a vinhaça é rica em K, matéria orgânica, contendo também quantidades razoáveis de N, S, Ca e Mg, podendo substituir totalmente a adubação potássica e de Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 4 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR enxofre, e parcialmente a de nitrogênio, além de contribuir com micronutrientes. Inicialmente a fertirrigação se processava por inundação, sendo o processo mais empírico de distribuição da vinhaça, geralmente diluída sem controle da qualidade aplicada. Outro sistema de distribuição da vinhaça, que foi usado inicialmente era através de sulcos de infiltração, que exigia a preparação prévia do terreno, com canais principais, sulcos de plantio, podendo ser considerado mais evoluído que o anterior. Com a evolução dos métodos de irrigação, surgiu o sistema de aspersão convencional, com equipamento semifixo, sendo a vinhaça pura ou diluída tomada nos canais principais, que margeiam os talhões, com o auxílio de uma motobomba que, por sua vez, alimenta tubulações principais e laterais, nas quais se acoplam os aspersores. Além dos sistemas convencionais de irrigação, no início dos anos 80 difundiu-se o sistema de aspersão com canhão hidráulico, denominado de montagem direta, que compreende um conjunto motobomba montado sobre carreta, dotado de um aspersor setorial tipo canhão hidráulico, que se desloca tracionado por trator em pequenos carreadores ao lado dos canais alimentadores de vinhaça. (Orlando Filho et al. 1980; Orlando Filho, 1981; Orlando Filho et al., 1993). A cana-de-açúcar é uma cultura exigente em nitrogênio e potássio, extraindo em torno de 130 a 150 kg de N e de 140 a 180 kg de K2O para uma produção de 100 t/ha, e somente 20 kg de P2O5 por esse motivo, como a vinhaça é um efluente que apresenta teor elevado de potássio, relativamente médio em nitrogênio e pobre em fósforo, Glória (1976) recomendou que a substituição da adubação usual das soqueiras por vinhaça apenas, fosse feita com quantidades de vinhaça de mosto Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 5 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR de melaço variáveis de 35 a 50 m³/ha, aplicadas através de um sistema que permitisse um controle rigoroso do seu volume. Como a vinhaça é um efluente sazonal, ou seja, somente disponível em determinada época do ano (safra), sua aplicação nas soqueiras deve ser considerada prioritária. Embora a adição de vinhaça ao solo provoque atraso da maturação, redução do teor de sacarose e acúmulo de amido e cinzas no caldo, a COPERSUCAR (1978) recomendou seu emprego como fertilizante até mesmo porque, além de repor ao solo os nutrientes que a planta dele retira, a adição de vinhaça leva a um aumento da produtividade agrícola, elevação do pH do solo, aumento da disponibilidade de alguns nutrientes e imobilização de outros, aumento da população microbiana, aumento no poder de retenção de água e melhoria da estrutura física. A complementação da vinhaça com fósforo, potássio e nitrogênio, muitas vezes é desnecessária; neste caso, a COPERSUCAR (1978) sugeriu que seja verificada a dosagem adequada capaz de substituir a adubação mineral correspondente, a fim de satisfazer totalmente as necessidades da cultura e evitar um desequilíbrio de nutrientes. Tendo como objetivo a verificação do comportamento de produtividade de cana-de-açúcar e da qualidade da matéria-prima em função da aplicação de vinhaça complementada com fósforo e nitrogênio, Monteiro et al. (1979) instalaram um experimento que consistiu na aplicação de 35 m³ de vinhaça de mosto de melaço in natura, por hectare, distribuída através de carro-tanque dotado de barra de distribuição em queda livre, logo após a colheita. Os tratamentos compreenderam a aplicação de vinhaça sem qualquer adição; vinhaça Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 6 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR adicionada de 46 Kg de N/ha; vinhaça com adição de 20 kg de P2O5/ha; vinhaça adicionada de 46 Kg de N mais 20 Kg de P2O5/ha; vinhaça adicionada de 20 Kg de N mais 20 Kg de P2O5/ha; adubação mineral (75 Kg de N, 45 Kg de P2O5 e 90 Kg de K2O/ha). Ao final do experimento, os autores concluíram que a aplicação de vinhaça influi no aumento da produtividade de colmos, contribuindo a complementação apenas com nitrogênio, com ganhos expressivos. De um modo geral, com ou sem complementação, a aplicação de vinhaça não afetou à qualidade tecnológica da cana-de-açúcar, como matéria-prima industrial. O problema representado pela má uniformidade de dosagem da vinhaça aplicada em queda-livre, por caminhão, tem reflexos negativos na produtividade da cana-soca, pois, à medida que vai aumentando a distância percorrida pelo caminhão distribuidor, mantida constante à velocidade de deslocamento, vai havendo, também, uma conseqüente redução da dose de vinhaça aplicada por unidade de área (Furlani Neto et al., 1985). A dosagem inicial de vinhaça aplicada por meio de caminhão equipado com tanque de vinhaça com capacidade de 15.000 litros, deslocando-se em primeira marcha reduzida à razão de 1.950 rpm no motor, caiu de 141 m³/ha para 69 m³/ha de vinhaça, depois de percorridos 650 m de comprimento. Por sua vez, Penatti et al. (1988) selecionaram dois solos diferentes, um Latossolo Vermelho-Amarelo, fase arenosa, com 9,3% de argila, e um Latossolo Roxo de textura argilosa, com 57,0% de argila, para receberem doses crescentes de 0, 50, 100 e 150 m³/ha de vinhaça complementada com 0, 50, 100 e 150 Kg/ha de nitrogênio, combinandose doses de vinhaça com doses de nitrogênio. Os resultados indicaram Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 7 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR um efeito linear e significativo da vinhaça sobre a produção de cana-deaçúcar para ambos os solos estudados, sendo os maiores aumentos observados para o solo de textura mais arenosa. Os autores concluíram também que, nas doses de 50 e 100 m³/ha de vinhaça, a produção de cana-de-açúcar respondeu linear e significativamente para a complementação nitrogenada. Por outro lado, não houve influência das doses de vinhaça e/ou nitrogênio sobre a qualidade da matéria-prima. Aumentos dos teores de potássio ocorreram em ambos os solos em função da incorporação de vinhaça. A aplicação de doses crescentes de vinhaça (0, 30, 60, 90, 120, 150 e 180 m³/ha), com e sem complementação com fosfato, foi pesquisada pela COPERSUCAR (1980) quanto ao seu efeito sobre o solo e sobre a produtividade de colmos e de açúcar. Trabalhando com um Latossolo Roxo, os autores aplicaram a vinhaça com um caminhãotanque provido de conjunto motobomba, ao longo de três anos consecutivos, no mesmo local, concluindo ao final que a fertilização da soqueira com vinhaça não alterou significamente a composição química do solo, exceção feita para o potássio trocável cujo teor aumentou linearmente com a dosagem de vinhaça aplicada, decrescendo em seguida até o movimento das aplicações subsequentes devido à absorção do elemento pela planta e à lixiviação em profundidade no solo. Foi constatada, também, redução na qualidade tecnológica da cana-de-açúcar para as dosagens mais elevadas de vinhaça, assim como um aumento da produtividade de colmos para as doses de até 90 m³/há. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 8 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR 3. IMPLICAÇÕES DA LEGISLAÇÃO ATUAL NO MANEJO DO USO DA VINHAÇA Foi homologada em março de 2005 a Norma Técnica CETESB P4.231 “Vinhaça: critérios e procedimentos para aplicação no solo agrícola”, que tem por objetivo estabelecer os critérios e procedimentos para a aplicação de vinhaça, gerada pela atividade sucroalcooleira no processamento da cana-de-açúcar para o Estado de São Paulo. A referida Norma P4.231 levou em consideração aspectos da Legislação Federal e Estadual, além de normas técnicas ABNT e CETESB, para estabelecer os critérios e procedimentos propostos para a utilização da vinhaça. Isto posto, destacaremos a seguir os principais aspectos da legislação que implicam diretamente no manejo do uso da vinhaça pelo setor sucroalcooleiro, que devem ser contempladas pelo meio técnico, nos projetos de fertirrigação. 3.1 Localização das Áreas Fertirrigadas As áreas a serem utilizadas para a aplicação da vinhaça no solo deverão contemplar os seguintes aspectos: - não estar contida no domínio da APP- Área de Preservação Permanente, ou de Reserva Legal; - estar afastada no mínimo 15 m da área de domínio de ferrovias e rodovias federais e estaduais; - distanciar no mínimo 1.000 m de núcleos populacionais compreendidos na área de perímetro urbano; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 9 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - considerar um distância mínima de 50 m das APPs, além de estar protegida por terraços de segurança; - as áreas com declividade superior a 15%, deverão ser adotadas práticas conservacionistas, com medidas de segurança para evitar a erosão, além de efetuar a escarificação do solo, para melhorar a capacidade de infiltração do solo. Por outro lado, se a dosagem de vinhaça for superior a capacidade de infiltração do solo, a aplicação deverá ser parcelada. 3.2 Armazenamento, Transporte e Aplicação No tocante ao armazenamento, transporte e aplicação da vinhaça no campo, diversas medidas deverão ser tomadas, dentre as quais destacamos: - cessar imediatamente a prática de armazenamento e/ou disposição da vinhaça em áreas de “sacrifício”, eliminando-se aquelas que estiverem por ventura em utilização; 3.2.1. Tanques - os tanques de armazenamento de vinhaça também deverão respeitar os aspectos de localização colocados anteriormente; - os tanques deverão ser impermeabilizados com geomembrana impermeabilizante, ou outra técnica de igual ou superior efeito; - deverão ser instalados ao lado dos tanques 4 (quatro) poços de monitoramento, sendo 1 (um) a montante e 3 (três) a Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 10 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR jusante, de acordo com o mapa potenciométrico e da Norma 13.895 de Construção de Poços de Monitoramento e Amostragem; - a água dos poços deverá ser analisada semestralmente para os parâmetros especificados na Norma P4.231; - Obs: os poços de monitoramento poderão ser dispensados, se forem implantados “drenos de testemunha”. 3.2.2. Canais - os canais mestres ou primários de uso permanente para a distribuição de vinhaça durante a safra, deverão ser impermeabilizados com geomembrana impermeabilizante ou técnica de igual o superior efeito; - os canais deverão sofrer limpeza da vinhaça remanescente ou aplicá-la ao solo segundo as recomendações da presente norma. - o prazo para o revestimento dos canais e dos tanques deverá ser fixado em regulamentação específica. 3.3 Plano de Aplicação Deverá ser realizado ou atualizado anualmente o “Plano de Aplicação de Vinhaça”, o qual deverá ser elaborado conforme instruções contidas na referida Norma P4.231, e assinado por profissional devidamente habilitado junto ao CREA - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, que deverá recolher a ART (Anotação de responsabilidade técnica) específica. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 11 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR O prazo para a entrega do plano de aplicação a cada ano é 2 (dois) de abril devendo a unidade sucroalcooleira encaminhar à CETESB a documentação necessária, que será utilizada pela agência para fins de acompanhamento e fiscalização. Quando houver necessidade de expansão na área de aplicação de vinhaça, decorrente dos critérios estabelecidos na presente norma, o plano de aplicação poderá ser reapresentado à CETESB. Caso ocorra alterações prejudiciais ao solo a aplicação de vinhaça deverá ser suspensa e a CETESB deverá comunicar a Coordenadoria de Defesa Agropecuária, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, bem como se houver contaminação das águas subterrâneas, principalmente quando houver a existência de poços de abastecimento no entorno da área, cabendo a CETESB comunicar a Vigilância Sanitária. 3.3.1Caracterização da vinhaça A vinhaça será caracterizada através de no mínimo 2 (duas) amostragens feitas no local de geração durante a safra anterior à apresentação do plano de aplicação, quanto aos seguintes parâmetros: - pH; - resíduo não filtrável total; - dureza; - condutividade elétrica; - nitrogênio Kjeldhal total; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 12 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - sódio; - cálcio; - potássio; - magnésio; - sulfato; - fosfato total; - DBO e - DQO Por outro lado, será determinado semanalmente o teor de K2O (kg/m3)da vinhaça, que fará parte da determinação da dosagem a ser aplicada. 3.3.2 Dosagem O estabelecimento da dosagem a ser utilizada para a aplicação de vinhaça tem como preceitos básicos os seguintes aspectos: - enriquecimento do solo agrícola, ou seja a melhoria da fertilidade do solo; - considerar um “volume de solo” para o manejo da aplicação da vinhaça, estabelecendo a camada de 0 a 0,8 m como alvo; - levar em conta o estado “atual” da fertilidade do solo, limitando a aplicação de vinhaça, quando a concentração de K+ no solo – Ksolo ultrapassar o correspondente a “5% de ocupação da Capacidade de Troca Catiônica – CTC”; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 13 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - a “qualidade” da vinhaça no que tange à concentração de K+ expressa em kg de K2O/m3; - a capacidade de extração de K+ pela cultura da cana-deaçúcar, assumindo um valor referência de 185 kg de K2O/há por corte. Sendo assim a dosagem de vinhaça a ser aplicada nas áreas agrícolas com cana-de-açúcar definidas para no plano de aplicação, será determinada através da equação a seguir: [(0,05 x CTC – Ksolo) x 3744 + 185] V = ───────────────────── Kvinhaça Onde: V = volume em m3 de vinhaça a ser aplicado por hectare; CTC = Capacidade de Troca Catiônica, expressa em cmolc/dm3 a pH 7,0 obtida da análise química do solo realizada por Laboratório de análise de solo certificado para a metodologia analítica prevista pelo Instituto Agronômico de Campinas, assinada por técnico responsável; Ksolo ou Ks = concentração de potássio – K+ no solo em cmolc/dm3, à profundidade de 0,8 m obtida da análise química do solo realizada por Laboratório de análise de solo certificado para a metodologia analítica prevista pelo Instituto Agronômico de Campinas; 3744 = constante de transformação dos resultados expressos em cmolc/dm3 para kg de K+ correspondente a um volume de 1 (um) hectare para a profundidade de 0,8m; 185 = quantidade em kg de K2O/há extraído pela cana-deaçúcar por corte; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 14 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Kvinhaça ou Kv = concentração de K+ na vinhaça, expressa em kg de K2O/m3, obtida do boletim de resultado analítico da vinhaça, assinado por técnico responsável. 3.4 Caracterização do Solo Como a fertilidade atual do solo é determinante para o estabelecimento da dosagem de vinhaça, o solo deverá ser caracterizado para fazer parte do plano de aplicação. 3.4.1 Amostragem do solo Para a caracterização do solo será utilizada uma amostra composta constituída de quatro sub-amostras, coletadas em gleba homogênea de, no máximo, 100 (cem) hectares. As sub-amostras deverão ser coletadas, uma no centro de um círculo com raio de 10 metros e as outras três ao longo do perímetro, distanciadas cerca de 120 graus uma da outra, conforme Figura 1. Essa amostragem deverá estar geo-referenciada com suas coordenadas. As amostras deverão ser coletadas com trado, de maneira contínua, até a profundidade de 0,80 m. O solo deverá ser colocado em recipiente limpo, ou seja em baldes plásticos limpos utilizados especificamente para essa finalidade. Após a coleta das quatro sub-amostras, homogeneizar e, por quarteamento, retirar uma amostra de 500 gramas, que será encaminhada para análise em laboratório certificado pelo Programa de Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 15 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Qualidade de Análise Química do Solo pelo Sistema do Instituto Agronômico de Campinas - IAC. 4 120° 120° 1 Ponto geo-referenciado 120° 3 2 Figura 1. Esquema de coleta de amostra de solo para caracterização química. 3.4.2 Caracterização da qualidade do solo A qualidade do solo será avaliada através dos seguintes parâmetros: - Al = alumínio total; - Ca – cálcio; - Mg = magnésio; - SO4 = sulfato; - H = hidrogênio dissociável; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 16 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - M.O. = matéria orgânica; - CTC = capacidade de troca catiônica; - pH = potencial hidrogeniônico e - V% = saturação por bases 4. SISTEMAS DE TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO DA VINHAÇA Para a utilização da vinhaça como fonte fertilizante principalmente de K para a cana-de-açúcar, diversos aspectos devem ser considerados além daqueles voltados para o manejo da aplicação no campo, ou seja a partir da geração da vinhaça na indústria as preocupações devem ser tomadas com relação ao equacionamento dos problemas de armazenamento e transporte para a lavoura. Os principais sistemas de distribuição da vinhaça da usina para o campo são o caminhão e os canais de irrigação, cujo levantamento feito em por Nunes Jr. Et al. (2004) em 54 usinas e destilarias do Brasil sendo 25 no Estado de São Paulo, colocado na Tabela 3, evidencia que em São Paulo 76,6% da vinhaça utilizada é transportada essencialmente por canais restando 23,4% para ser transportada por caminhão. Entre as principais regiões canavieiras do Estado de São Paulo, destacam-se Araçatuba, Assis/Pres. Prudente e Ribeirão Preto com elevada utilização de canais, acima de 90%, enquanto que a região de São José do Rio Preto se caracteriza pelo uso do caminhão com 73,1%. De um modo geral o setor canavieiro brasileiro usa em apenas 17,5% o caminhão para o trasnporte da Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 17 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR vinhaça e os restantes 82,5% dos casos utilizam os canais de irrigação. Tabela 3. Formas de distribuição de vinhaça. FORMA DE DISTRIBUIÇÃO (%) REGIÃO/ESTADO Araçatuba Assis/Pres. Prudente Jaú Piracicaba Ribeirão Preto São José do Rio Preto SÃO PAULO CENTRO-SUL NORDESTE/LESTE BRASIL CANAIS 100,0 95,6 67,5 62,5 92,8 26,9 76,6 CAMINHÕES 0,0 4,1 32,5 37,5 7,2 73,1 23,4 80,9 100,0 82,5 19,1 0,0 17,5 Esses dados são importantes uma vez que para o Estado de São Paulo a atual legislação sobre o uso da vinhaça requer a impermeabilização dos canais. Quanto ao tipo de sistema de aplicação, observando o mesmo levantamento feito por Nunes Jr. Et al. (2004) nota-se que (Tabela 4) das usinas que utilizam os canais de irrigação (76,6%) para transporte da vinhaça, 69,9% fazem a aplicação através do sistema de carretel enrolador, e as demais 6,7% através da montagem direta, e aquelas que transportam via caminhão (23,4%) também predomina o uso do carretel enrolador com 13,5% restando apenas 9,9% dos casos que a aplicação é feita com o caminhão entrando na lavoura. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 18 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Tabela 4. Sistemas de aplicação de vinhaça. REGIÃO/ESTADO Araçatuba Assis/Pres. Prudente Jaú Piracicaba Ribeirão Preto São José do Rio Preto SÃO PAULO CENTRO-SUL NORDESTE/LESTE BRASIL MODALIDADE DE DISTRIBUIÇÃO (%) ASPERSÃO CAMINHÃO Montagem Direta Carretel Enrolador Na Lavoura Com Carretel 0,0 100,0 0,0 0,0 0,0 95,9 0,0 4,1 9,7 57,9 24,8 7,7 6,1 56,4 0,0 37,5 7,2 85,6 7,2 0,0 5,9 6,7 21,0 69,9 0,0 9,9 73,1 13,5 24,0 100,0 30,3 56,9 0,0 52,2 9,2 0,0 8,4 9,9 0,0 9,1 As dosagens médias de vinhaça aplicada através dos vários sistemas, estão colocadas na Tabela 5, para a safra 2003/2004 de acordo com o levantamento feito por Nunes Jr. et al. (2004), considerando como média geral para o Brasil de 250,3 m3/há para aplicação em soqueira e de 273,8 m3/há para a cana planta. Tabela 5. Dosagens médias de vinhaça em cana-de-açúcar. REGIÃO/ESTADO Araçatuba Assis/Pres. Prudente Jaú Piracicaba Ribeirão Preto São José do Rio Preto SÃO PAULO CENTRO-SUL NORDESTE/LESTE BRASIL Cana planta m3/há 370,0 240,0 150,0 272,4 353,5 TCH t/há 100,0 124,8 84,0 94,9 97,7 Cana soca M3/há 355,0 205,0 150,0 294,8 225,0 TCH t/há 69,7 85,7 64,2 77,3 75,5 300,1 120,0 99,9 270,0 270,0 85,9 75,4 290,5 257,1 273,8 97,2 75,7 93,7 252,9 247,6 250,3 75,1 62,7 72,2 Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 19 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR 4.1 Reservatórios Cada unidade sucroalcooleira ao estabelecer as condições para a utilização da vinhaça na cana-de-açúcar, deve levar em conta a questão da necessidade de se ter capacidade de armazenamento para possibilitar o adequado manejo da fertirrigação. O armazenamento temporário da vinhaça permite que a unidade agroindustrial possa ter flexibilidade para a mudança dos equipamentos nas frentes de aplicação no campo, conviver com períodos de precipitação elevada (volume e intensidade) e realizar reparos e manutenção nos equipamentos voltados para a fertirrigação. Por outro lado, pela legislação atual haverá necessidade de impermeabilizar os reservatórios, quer para os novos projetos bem como aqueles já existentes (prazo a ser definido), com geomembrana impermeabilizante ou técnica de igual ou superior efeito. Desta forma a tomada de decisão para a construção de novos reservatórios deve estar bem embasada uma vez que implicará na necessidade de recursos financeiros para investimento. Cabe comentar que de fato o revestimento dos reservatórios além de contemplar os aspectos de “proteção do meio ambiente”, evitam as perdas de vinhaça por percolação profunda, uma vez que no contexto de nutrição e adubação da cana-de-açúcar a vinhaça vem a ser um fertilizante. Quanto ao dimensionamento do reservatório, parâmetros tais como: vazão da vinhaça, dados climáticos relacionados com a precipitação, balanço hídrico da cultura, dimensionamento de frota dos Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 20 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR equipamentos da equipe de fertirrigação, localização das áreas de aplicação, continuidade das áreas etc.... No tocante a impermeabilização do reservatório, a norma P4.231 se refere a geomembrana impermeabilizante, podendo ser utilizados materiais como: PEAD – polietileno de alta, manta asfáltica, laminados de PVC etc. O PEAD espessura 2,0 mm é um material de revestimento menos sujeito a perfurações casuais do que a manta asfáltica, sendo que ambos materiais possam ser reparados quanto a perfuração. Na Figura 2 pode-se observar um reservatório revestido com PEAD e na Figura 3 com manta asfáltica. Para bom desempenho, otimizar a vida útil e adequar a a legislação ambiental, os reservatórios devem possuir sistema de drenagem de líquidos e gases. O sistema de drenagem de líquidos funciona como um indicador de problemas na impermeabilização, constatando a presença de vazamento de vinhaça o que permite programar reparos e manutenção no material de revestimento. Além disso contando com o sistema de drenagem não há necessidade da instalação de poços de monitoramento. O sistema de drenagem de gases deve ser planejado e instalado juntamente com o de líquidos, para possibilitar o escape de gases oriundo de processos de biodegradação da vinhaça no perfil do solo, quando de eventos de vazamento, evitando a formação de “bolhas”, no fundo do reservatório preservando o material de revestimento tipo flexível tais como a manta asfáltica e o PEAD. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 21 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Figura 2. Reservatório para vinhaça revestido com PEAD 2,0 mm. Figura 3. Reservatório para vinhaça revestido com manta asfática. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 22 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR 4.2 Caminhões Tanque Uma das principais formas de transporte e aplicação da vinhaça na década de 70 era a utilização de veículos-tanque, constituídos na maioria dos casos por caminhão tanque com descarga tipo “queda-livre” acoplada a “barra irrigadora”, ou então caminhão tanque com conjunto motobomba distribuindo a vinhaça pressurizada por barra aplicadora ou através de um bico com defletor. A utilização dos caminhões tanque para a aplicação de vinhaça é um sistema que se adapta muito bem aos “problemas” de liberação de área para fertirrigação no início de safra, ou para as unidades que dispõem de áreas muito segmentadas. Todavia segundo Gentil (1979) a fertirrigação com caminhões com descarga livre por meio de barra irrigadora, estavam associados vários problemas, dentre os quais destacou os seguintes: - necessidade de grande quantidade de veículos e motoristas; - dificuldade de trabalhar em dias de chuva e terreno úmido; - incapacidade de trabalhar em terrenos acidentados e com sulcos; - pequeno rendimento diário; - vazão desuniforme à medida que o tanque vai se esvaziando; - elevado custo operacional; - reduzida vida útil dos veículos; - dificuldade de trabalho ao final das safras quando tem início o período chuvoso que pode saturar o solo. Para uso de veículos tanque, várias exigências eram requeridas para o transporte da vinhaça das destilarias aos talhões de cana-de-açúcar de acordo com Orlando Filho et al. 1983a: Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 23 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - estradas e carreadores em bom estado de conservação; - frota de veículos; - sistematização dos talhões, sem barrancos e obstáculos que dificultem a movimentação dos veículos; - planejamento de corte de cana de forma a permitir a aplicação da vinhaça 24 h/dia. Por outro lado, como desvantagens do referido sistema podem ser citadas: - compactação do solo pelos veículos; - impossibilidade de aplicação em cana-planta; - inviabilidade da diluição da vinhaça com efluentes industriais; - dificuldades de aplicação em dias de chuva. De uma maneira geral, segundo Orlando Filho et al. (1980) levada em conta à fertilidade do solo e o tipo de composição do mosto, as quantidades de vinhaça a serem aplicadas através de veículos-tanques são as seguintes: - vinhaça de mosto de melaço: 35 a 50 m³/ha; - vinhaça de mosto misto: 60 a 100 m³/ha; - vinhaça de mosto de caldo: 100 a 150 m³/ha. Matioli e Menezes (1984) e Matioli et al. (1988b) se empenharam no estudo da otimização dos sistemas de aplicação de resíduos líquidos na lavoura canavieira, destacando a necessidade de se elaborar projetos fundamentados em critérios técnicos-econômicos, visando ao máximo aproveitamento do potencial nutricional da vinhaça e o enquadramento dos sistemas de aplicação dentro das exigências dos órgãos responsáveis pelo controle de poluição do meio-ambiente. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 24 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Os autores consideraram de início, que todos os sistemas de aplicação apresentam certas limitações que resultam em desperdício de vinhaça e prejuízos no custo global de produção do açúcar e álcool. O sistema de aplicação com caminhões-tanque (Figura 4) promove a distribuição da vinhaça através de dois processos: por gravidade e por bomba (ou por saída forçada) e está limitado pela distância econômica do ponto de carregamento às áreas de aplicação, tratando-se de uma alternativa que normalmente está conjugada com outros sistemas, principalmente com uma área de despejo. Figura 4. Sistema de transporte e aplicação de vinhaça por caminhão tanque com prato defletor. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 25 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR A utilização de caminhões tanque para transporte e aplicação da vinhaça trafegando dentro dos talhões de cana-deaçúcar foi sendo deixada de lado pelas Usinas devido aos problemas relatados anteriormente. Todavia, segundo Geraldi Filho et al. (1988) a Usina da Barra localizada em Barra Bonita, SP, desenvolveu e testou um sistema alternativo de aplicação de vinhaça ao sistema então utilizado de caminhão-tanque e aspersão. Esse sistema, denominado de caminhão-extensão, compreendia um caminhão-tanque com reboque de dois eixos tipo “julieta” e um conjunto de aplicação de vinhaça por aspersão tipo montagem direta com extensão. Este último, por sua vez, era constituído por um conjunto motobomba diesel montado sobre carreta de quatro rodas e um carretel enrolador com aspersor tipo canhão hidráulico na ponta de um mangote de PEAD,montado sobre um suporte com duas rodas, capaz de operar à distâncias de até 300 m do conjunto motobomba (Figura 5) os resultados dos testes mostraram-se promissores, tanto sob o aspecto técnico como o econômico, com os custos fixos e variáveis correspondendo a 75% dos custos do caminhão-tanque convencional, embora os custos com mão-de-obra de aplicação fossem 5,7 vezes maiores; se referidos aos custos de aplicação por área, por volume aplicado e volume por distância percorrida, estes foram sempre menores. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 26 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Figura 5. Sistema de transporte e distribuição de vinhaça por caminhão tanque associado ao carretel enrolador. Para otimizar o referido sistema, algumas Usinas definiram “pontos de carregamento” distribuídos a uma certa distância da unidade industrial, sendo a vinhaça conduzida até estes através de redes adutoras. Esses pontos de carregamento permitem aumentar o raio de aplicação de vinhaça nas áreas agrícolas da Usina, uma vez que o determinante para o transporte e aplicação de vinhaça por caminhão é a distância econômica. 4.3 Redes Adutoras Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 27 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR As redes adutoras ou condutos forçados são a forma mais econômica de transporte da vinhaça para cotas superiores à da Usina, compreendendo conjunto motobomba que realiza o recalque do líquido, podendo ser acionada por motor elétrico ou de combustão interna à diesel, além de uma série de componentes acessórios (registros, válvulas, curvas, etc.). O uso de redes adutoras permite levar a vinhaça para reservatórios em cotas superiores à Usina, estratégicamente localizados, para possibilitar a distribuição via gravidade em canais mestres ou para pontos de carregamento para transporte via caminhão. As redes adutoras podem ser compostas por tubos de RPVC, aço ao carbono para essa finalidade, PVC linha azul, PEAD ou PP. A bomba deve ser adequada para o uso da vinhaça devido ao seu efeito corrosivo e abrasivo, sendo constituída normalmente com componentes de aço inox. Recentemente surgiu o conceito de redes adutoras “deslocáveis ou móveis” (Figura 6), que possibilitam a ação de recalque da vinhaça para cotas superiores além de funcionar como “linha lateral” ou seja levando pressão suficiente para o acionamento do carretel enrolador juntamente com o canhão hidráulico. As principais vantagens da rede adutora “móvel” são: - não necessita perenizar a instalação da rede hidráulica; - evita obras de abertura de valeta e enterrio dos tubos; - otimiza a utilização dos tubos, uma vez que operarão a safra toda; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 28 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - dependendo do diâmetro a ser adotado comportará vazão e pressão para o acionamento conjunto de 2 (dois) carretéis enroladores, o que permitirá uma operação de aplicação de vinhaça constante; - maior rendimento de operação do conjunto motobomba e da mão de obra, uma vez que permanecerá por maior tempo no mesmo local de captação; - redução na quantidade de canais para o transporte da vinhaça no campo; - aumento da área útil plantada com cana-de-açúcar. Figura 6. Sistema de aplicação de vinhaça com carretel enrolador associado com rede adutora “móvel”. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 29 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR O sistema de redes adutoras “móveis ou deslocáveis” trabalha com tubos de alumínio de 8”, por serem mais adequados ao uso de bombeamento de vinhaça (efeito corrosivo e abrasivo), serem mais leves (cerca de 20 kg/barra de 6m), utilizar sistema de engate rápido com excelente vedação, facilitando assim a mudança de rede de local. 4.4 Canais Mestres A utilização de canais ou condutos livres para transporte de vinhaça da Usina ou de reservatórios intermediários até o campo é uma das maneiras mais econômicas em relação aos veículos de transporte ou redes de tubos, uma vez que evita o contato da vinhaça com a tubulação e equipamentos hidráulicos, evitando o desgaste por corrosão e abrasão, por outro lado implica em “perdas” de vinhaça, que poderão atingir valores significativos para solos muito permeáveis, reduzindo o potencial de fertirrigação além dos problemas ambientais; requer adequação do sistema viário redesenhando o traçado dos carreadores, implica em perdas de “área plantada” quer com carreador paralelo ou não ao canal, ou seja o uso dos canais requer uma série de condições para sua implantação e operação no cenário atual. Os canais podem assumir diferentes formatos para o perfil transversal: trapezoidal, triangular, quadrangular e semi-circular. Os mais usados no setor sucroalcooleiro são respectivamente o trapezoidal e o triangular. O dimensionamento ou seja a seção transversal do canal depende da vazão a ser transportada, do raio hidráulico, da declividade do fundo do canal e do tipo de material de Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 30 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR construção ou revestimento. O fato de se revestir os canais melhora seu desempenho no que tange as perdas de vinhaça, bem como melhora a rugosidade no sentido de reduzir o atrito no escoamento. Geralmente os canais para vinhaça oscilam entre declividades de 0,5%o até 1,2%o para solos mais arenosos, passando para 1,0 até 3,0 %o para solos mais argilosos. A declividade do canal também está associada com a velocidade mínima de escoamento da vinhaça, que por sua vez depende da quantidade de sólidos em suspensão. Por outro lado a velocidade também apresenta um limite máximo para não provocar erosão no fundo do canal, que depende do tipo de solo no qual é construído, bem como do tipo de revestimento uma vez que velocidades elevadas poderão reduzir a vida útil dos materiais de revestimento. A vazão a ser transportada depende da quantidade gerada pela unidade industrial, bem como dos equipamentos de irrigação para aplicá-la. Assim como a legislação requer a impermeabilização dos reservatórios, os canais também deverão ser impermeabilizados com geomembrana ou outra técnica de igual ou superior efeito, tanto para novos como para os existentes (prazo a ser definido). Atualmente nota-se uma demanda crescente de dados sobre o desempenho de materiais de revestimento para os canais, sob os pontos de vista técnica, operacional e de custo. Nesse sentido destacam-se os canais revstidos com: manta asfáltica; concreto; PEAD; vinilona; etc. a) Manta asfáltica Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 31 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR A manta asfáltica vem a ser uma material que pode ser utilizado no revestimento de canais para transporte de vinhaça, conforme Figura 7, tendo como vantagens a facilidade de se moldar ao perfil dos canais, facilidade de realizar as emendas do material, todavia é justamente nas posições das emendas que se tem o ponto mais frágil desse tipo de revestimento. Isto ocorre porque se houver uma “falha” de solda nas emendas, o fluxo de vinhaça certamente passará por essa falha infiltrando-se por de baixo da manta provocando grandes estragos. Cabe comentar que há uma emenda a cada 0,8 a 0,85 m, ou seja para cada 1000 m teríamos 1170 a 1250 emendas. Figura 7. Canal para transporte de vinhaça revestido com manta asfáltica. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 32 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Outro aspecto observado por Luz et al. (2005) foi a necessidade de se realizar um ótimo acabamento das paredes de terra para aplicação da manta, bem como a exigência de “ancoragem” da mesma para que não se movimente para dentro do canal com o peso da vinhaça. A ancoragem pode ser feita ao longo da seção transversal do canal, através de corte específico no talude, o que possibilita a redução do consumo de manta por metro linear de canal, ou então pode ser feita na superfície do solo implicando em maior área de manta por unidade de comprimento do canal. Para evitar que os estragos provocados pela “infiltração” da vinhaça, por de baixo da manta se prolongue por longa distância, recomenda-se a instalação de “dispositivo de segurança” a cada 100m. Ao final da safra há necessidade de realizar a limpeza do canal o que deve ser feito com muito cuidado, uma vez que a manta não apresenta resistência para ferramentas pontiagudas (como enxada por exemplo). b) PEAD O PEAD com espessura de 1,5 a 2,0mm também é uma opção para a impermeabilização dos canais de vinhaça, como pode ser visto na Figura 8, sendo um material menos maleável que a manta asfáltica, porém com maior resistência a perfuração, todavia também requer a limpeza com ferramenta que não tenha perfil pontiagudo. Diferentemente da manta a ancoragem para o PEAD deve ser feita na superfície do solo, o que pode levar a maior área de PEAD por unidade de comprimento do canal. Como o PEAD é fornecido em rolos Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 33 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR de 50m, a distância entre as emendas dependerão da retidão do traçado do canal, podendo ser no máximo cerca de 50m, tendo baixa freqüência quando se compara com a manta. Figura 8. Canal para transporte de vinhaça revestido com PEAD. Tanto a manta como o PEAD são sujeitos à queima por fagulhas oriundas da queima do canavial, o que implica na necessidade de se construir carreador ao lado dos canais revestidos com esses materiais. Tal fato leva a “perda” de área cultivada com cana-de-açúcar, que será função do traçado dos canais e do espaçamento entre estes. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 34 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR c) Concreto O revestimento dos canais também pode ser feito através da aplicação de concreto (Figura 9), com especificação de resistência fck 11, utilizando brita número 2, com juntas de dilatação a cada 2,0 m. Para a aplicação do concreto utiliza-se formas feitas com sarrafo de madeira, para possibilitar uma espessura de parede do concreto de cerca de 40 mm, para tanto utiliza-se 1,0 m3 de concreto para cada 10,7 m lineares de canal, empregando uma equipe para acertos da vala e aplicação do concreto de 18 a 20 pessoas, que apresentam um rendimento de aproximadamente 150 m de canal/dia. Figura 9. Canal para transporte de vinhaça revestido com concreto. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 35 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Como a vinhaça apresenta efeito corrosivo sobre o concreto, para otimizar sua vida útil é necessário impermeabilizar a superfície que entrará em contato com a mesma, o que pode ser feito com impermeabilizante Elastron ou RR-2C usado em pavimentação asfáltica. A experiência das Usinas em impermeabilização dos canais de vinhaça até o presente momento ainda não é significativa, uma vez que não se dispõem de um histórico consistente, sendo que as unidades que já vem adotando o revestimento o fizeram para melhora a eficiência de transporte da vinhaça e/ou água. Nesse sentido ainda há necessidade de mais dados de desempenho dos materiais a serem empregados para o revestimento, todavia Luz et al. (2005) elaboraram a Tabela 6, que apresenta uma comparação com cunho operacional – qualitativa dos sistemas de revestimento. Tabela 6. Comparação entre sistemas de revestimento de canais para vinhaça. VARIÁVEL Operacionalidade de construção Qualidade da mão de obra Necessidade de mão de obra Manejo de recalque do canal Limpeza – safra Necessidade de manutenção Perda de área de cana-de-açúcar Custo total – R$/m linear * TIPO DE REVESTIMENTO CONCRETO PEAD MANTA ASFÁLTICA alta média baixa média média elevada baixa média alta simples complicada complicada fácil mediana difícil baixa média alta menor maior maior 46,50 43,84 55,10 *Março/2005 Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 36 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR 5. MÉTODOS DE APLICAÇÃO DA VINHAÇA A aplicação de vinhaça a campo pode ser feita através de métodos de irrigação, lembrando segundo Matioli e Menezes (1984) que todos os sistemas de aplicação apresentam certas limitações que resultam em desperdício de vinhaça e prejuízos no custo global de produção do açúcar e álcool. Os autores destacam que o sistema de aplicação de vinhaça in natura através de sulcos de infiltração, embora se caracterize por uma certa facilidade operacional, exige uma rigorosa sistematização do terreno além de extensas áreas para sua aplicação racional, e grande dificuldade de controle das lâminas de irrigação aplicadas. Desta forma é um sistema que não se ajusta as necessidades atuais dos projetos de fertirrigação com vinhaça. Devido às dificuldades em utilizar o sistema de irrigação por sulco de infiltração, associada à baixa eficiência do uso da água, o método de aspersão foi à alternativa que mais evoluiu para aplicação da vinhaça em cana, uma vez que possibilitou a racionalização do manejo permitindo a distribuição em maior área agrícola das Usinas, evitando o tráfego de caminhões nos talhões de cana, e mais recentemente o bom controle das lâminas aplicadas ao solo visando às exigências da legislação. 5.1 5.1.1 Aspersão Convencional Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 37 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR O uso do método de aspersão no sistema convencional, ou seja aquele composto por conjunto motobomba, linha principal com as válvulas de linha e as linhas laterais contendo os aspersores, para aplicação de vinhaça implica em alguns problemas de operação e vida útil dos equipamentos, uma vez que a vinhaça apresenta efeitos corrosivos e abrasivos significativos. Nesse sentido, sistemas de transporte que evitassem o uso de tubulações e equipamentos com componentes metálicos seria interessante. Nesse sentido Matioli et al. (1988) comentam que o sistema de aplicação de vinhaça através de irrigação por aspersão através do sistema convencional, ou seja, succionando-a de canais que margeiam os talhões, com o auxílio de uma motobomba, e distribuindo-a através de aspersores convencionais, se por um lado permite melhor controle da quantidade de efluente líquido aplicado (vinhaça diluída ou não em água residuais) e maior uniformidade de aplicação, por outro lado abrevia a vida dos aspersores e das tubulações de aço zincado ou alumínio devido ao elevado poder corrosivo da vinhaça. 5.1.2 Mecanizada a) Montagem Direta O uso da aspersão como um método interessante para aplicação de vinhaça já havia sido enfatizado por Leme et al. (1979) citando a aspersão com canhão hidráulico através do sistema de “montagem direta”, (Figura 10) comentando as seguintes vantagens: Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 38 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - não há necessidade de sistematização do terreno ou sulcação em desnível; - pode ser usado em áreas com declive acentuado e operado em qualquer tipo de solo; - poder ser usado em todos os ciclos e fases da cultura; - permite perfeito controle de quantidade de vinhaça aplicada, irrigando extensas áreas por unidade de tempo; - apresenta baixo custo operacional e economia de mão-de-obra. Por outro lado, apresenta, também, as seguintes desvantagens: - desuniformidade de chuva em conseqüência da variações instantâneas da direção do vento; - exige um sistema de distribuição da vinhaça por canais adequados; - requer alta pressão de serviço; - necessita de mão-de-obra operacional adequada. Figura 10. Sistema de Montagem Direta para fertirrigação com vinhaça. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 39 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR De acordo com Rosenfeld (2003) tanto para aplicação de efluentes quanto para as águas residuárias, o equipamento mais usado é o convencional com canhão de 4 “, e os carretéis, também operando com canhões de 4”. As principais características deste sistema são a grande versatilidade, necessária para acompanhar a colheita de cana, a alta pressão, necessária para acionar os canhões de 4 “, e a baixa eficiência e uniformidade de aplicação. O sistema montagem direta, que compreende um conjunto motobomba acoplado a um aspersor tipo canhão hidráulico, montado em chassi com rodas, é a melhor alternativa para o sistema de aplicação de vinhaça por aspersão. Todavia, este sistema exige a construção de canais com carreadores laterais para a locação dos equipamentos de aplicação, além de uma reformulação do formato dos talhões. O sistema apresenta vantagens como o maior controle da quantidade de vinhaça aplicada, a possibilidade de realizar várias aplicações durante a mesma safra, dispensa grandes sistematização do terreno e irriga, em cada posição, uma área de aproximadamente 1,0 hectare. Alguns anos mais tarde, Leme (1987) propôs um sistema otimizado de operação do equipamento montagem direta para fertilização das soqueiras de cana-de-açúcar que, segundo ele, resulta em economia de combustível, redução da pressão de operação, aumento da vida útil dos equipamentos e maior eficiência operacional. Muito embora este sistema otimizado tenha proporcionado maior eficiência operacional em função da redução das posições de estabelecimento do equipamento ou redução da área perdida com canais, por outro lado ele também deu origem a alguns problemas de Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 40 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR ordem técnico-operacional, tais como a variabilidade da distribuição de pressão, a maior necessidade de mão-de-obra para transporte da tubulação componentes da extensão e a dificuldade de operar o sistema no período noturno. b) Carretel Enrolador Assim como a introdução da aspersão com canhão hidráulico foi uma evolução sobre a aplicação por sulcos de infiltração, segundo Rosenfeld (2003) a introdução do carretel enrolador também foi uma evolução dentro do sistema de aspersão, uma vez que todo equipamento móvel tem eficiência e uniformidade maiores que o equipamento estacionário. Ainda segundo Rosenfeld (2003) se admite o uso de canhões para aplicação de efluentes pela rusticidade e possibilidade de aplicar efluentes com grande quantidade de material em suspensão, mas para já é freqüente a demanda por equipamento com baixa pressão, alta eficiência de irrigação, e alta uniformidade. Esta demanda tem como causa o custo da energia e a falta generalizada de água para irrigação. Esta necessidade de redução de perdas de efluentes e água também vem alterando a infra-estrutura de distribuição de água e efluentes. Como evolução do sistema de montagem direta, Leme et al. (1987) também apresentaram como alternativa para aplicação de vinhaça por aspersão através de equipamentos autopropelido com tubulação de polietileno de média densidade, denominado de “carretel Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 41 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR enrolador” (Figura 11). Em relação ao sistema montagem direta, relacionaram as seguintes vantagens da nova alternativa de aplicação: - redução da mão-de-obra necessária; - maior automatização operacional de todo o sistema; - possibilidade de aplicação de vinhaça no período noturno; - menor perda de área com canais para transporte de vinhaça; - maior rendimento operacional; - menor número de mudanças e transporte dos equipamentos; - menor quantidade de tubulação de alumínio e acessórios; - possibilidade de aplicação da vinhaça com uma distribuição de pressão de aspersão mais equilibrada; - grande flexibilidade de trabalho. Figura 11. Sistema de Carretel Enrolador para aplicação de vinhaça. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 42 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Como desvantagens, os autores citaram: - maior pressão requerida na entrada da máquina; - maior consumo de combustível (óleo diesel); - necessidade de transporte da máquina e do conjunto motobomba por ocasião da mudança de posição de estacionamento da motobomba; - equipamento mais pesado que o de montagem direta. b.2) Barra irrigadora Impulsionada pela experiência adquirida pelo setor sucroalcooleiro na aplicação de vinhaça, as inovações tecnológicas estão ocorrendo no sentido de reduzir a pressão de serviço, e com isso diminuir o consumo de energia, minimizar a necessidade de mão de obra, aumentar a uniformidade de irrigação, e principalmente aumentar a eficiência quer do uso da vinhaça e principalmente da água. Neste sentido foram introduzidos equipamentos como a barra irrigadora, conforme Figura 12, cujas principais características estão colocadas a seguir: - barra irrigadora com carro irrigador em aço zincado, filtro, giro da parte superior; - largura regulável de 36 a 54 m - altura regulável, com mínimo de 1,0 m de altura até 2,7m; -sistema de compensação de altura através de rodas telescópicas; - treliças em aço zincado, para irrigação com água; ou em aço inox para fertirrigação com vinhaça; - aspersores spray em plástico com reguladores de pressão, ou em latão, para vazões de 25 a 150 m³/h; Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 43 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR - giro das 4 rodas opcional, para facilitar o deslocamento da barra. Fonte Metal Lavras Figura 12. Equipamento “barra irrigadora” para acoplamneto em mangueira de carretel enrolador. A barra irrigadora é adaptada na extremidade da mangueira do carretel enrolador, permitindo a redução da pressão de serviço de 5 kg/cm², para 1,5 a 3,5 Kg/cm², aumentando a uniformidade de aplicação de água e vinhaça (Figura 13), e principalmente a eficiência de irrigação com água. Além disso, apresenta como característica a flexibilidade de uso e transporte. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 44 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR Cabe comentar que por se tratar de um equipamento mais recente, ainda se dispõe de poucos dados acerca do uso da barra irrigadora na aplicação de vinhaça. Fonte: Irrigabrasil Figura 13. Equipamento “barra irrigadora” com aspersores tipo “spray” com regulador de pressão. b.3) Pivô rebocável Outro equipamento para aplicação de água e também vinhaça que está sendo utilizado dentro dos objetivos colocados acima, é o sistema de pivot central rebocável (Rosenfeld 2003), conforme Figura 14, que aumentou a versatilidade do pivot central convencional, mantendo características como a baixa pressão de serviço, alta uniformidade de aplicação de água e alta eficiência de irrigação. Este equipamento é menos Luz, Pedro Henrique de Cerqueira versátil que os carretéis, mas reduz 09 e 10 de Junho de 2005 45 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR significamente a mão-de-obra, e já está sendo usado para aplicação de efluentes, mas o uso para irrigação com água é mais significativo. Fonte: Irrigabras Figura 14. Sistema de irrigação por aspersão tipo “Pivo Rebocável” As principais características desse equipamento são: - tubulação de aço galvanizado (D = 6” e 8”) e aço inox para vinhaça (D= 6” e 8”) sendo ambos com estrutura de aço galvanizado; - lances de 41,7 a 53,3 m; - altura livre de 2,8 a 3,8 m - centros com 2 ou 4 rodas de aro 24” Para o manejo do equipamento no campo a irrigação pode ser feita em círculos ou em faixas, sendo que o desempenho estará Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 46 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR associado principalmente com as características de relevo do canavial, traçado e tamanho dos talhões e sistema viário. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 15. Sistemas de manejo do pivô rebocável no campo. Luz, Pedro Henrique de Cerqueira 09 e 10 de Junho de 2005 47 II SIMPÓSIO DE TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR O setor sucroalcooleiro juntamente com as instituições de pesquisa e universidades acumulou um volume significativo de informações técnicas sobre a aplicação de vinhaça como fertirrigação da cana-de-açúcar, que possibilitou a elaboração e homologação de norma técnica regida por agência ambiental, orientando os critérios para utilização da vinhaça no sistema solo x planta considerando as questões ambientais. A experiência do setor sucroalcooleiro também tem influenciado os fabricantes de equipamentos de irrigação, que estão apresentando novos equipamentos e tecnologias, tais como a rede adutora móvel, a barra irrigadora, o pivô central rebocável, e mais recentemente as empresas ligadas à tecnologia de impermeabilização de canais e reservatórios, Com a recente implantação da legislação ambiental para utilização da vinhaça, certamente haverá o incremento da demanda por novas tecnologias e equipamentos no sentido de otimizar a aplicação de vinhaça dentro de um contexto técnico econômico respeitando o meio ambiente. 7. BIBLIOGRAFIA CITADA CETESB. Vinhaça – Critérios e Procedimentos para Aplicação no Solo Agrícola. São Paulo, Norma Técnica P4.231; 2005, 12p. COPERSUCAR. Aplicação de vinhaça à soqueira da cana-de-açúcar em três anos consecutivos. Boletim Técnico Copersucar, n.12, p.2-5, 1980. 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