Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI Instituto de Engenharia Mecânica – IEM Núcleo de Excelência em Geração Térmica e Distribuída – NEST Avaliação da Eco-Eficiência Ambiental da Vinhaça para diferentes formas de disposição aplicando ACV Mateus Henrique Rocha II WORKSHOP DE GESTÃO DE ENERGIA E RESÍDUOS NA AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA PIRASSUNUNGA, BRASIL 12 de Junho de 2007 1. Setor de Álcool no Brasil Fonte: Souto, J. J. N. (2007) Fonte: Souto, J. J. N. (2007) 1.1 Cenários futuros para produção de etanol Fonte: Rodrigues, R. (2007) • Grande quantidade de terra agricultável • Características adequadas do solo • Condições climáticas favoráveis • Balanço energético do álcool de milho 1:1,5 • Balanço energético do álcool de cana 1:8 Fonte: Hennings O., Zeddies J. (2003) 1.2 Expansão do Setor Sucroalcooleiro Fonte: Unicamp, CGEE/MCT (2006) Região Centro-Sul Fonte: Parra, J. R. P. (2005) 1.3 Evolução do consumo no mercado interno Fonte: Anfavea (2006) Incremento da produção • Previsão de 30 bilhões de litros de etanol produzidos em 2010. • Instalação e/ou reativação de 73 destilarias para atendimento da demanda total. • São estimados 8,5 milhões automóveis flex em 2020. • Em 2010 o total de vinhaça produzida será de 360 milhões de m³. Fonte: Unica (2006) de 2. Produção e características da vinhaça • Vinhaça é um resíduo obtido na destilação alcoólica a 105 ºC, possui uma coloração cor marrom escuro, de natureza ácida e com cheiro bastante peculiar. • A vinhaça é classificada como resíduo sólido classe II, ou seja, não inerte e não perigoso com base nas suas características físico-químicas. • A vinhaça corresponde, em média, a 52% em peso de todos os resíduos sólidos produzidos pelas destilarias. • A composição química da vinhaça é variável e depende do tipo de vinho usado na destilação. • A vinhaça pode ser caracterizada como fator de poluição dos cursos d´ água. • Para cada litro de etanol produzido são gerados em média 13 litros de vinhaça. 2.1 Composição química média da vinhaça Fonte: Cortez, L. A. B. (2000) Fonte: Briceño, C. O. (2005) Fonte: Theodoro, J. M. P. (2005) 3. Formas de disposição da vinhaça • Retorno à plantação, para substituição total ou parcial dos fertilizantes, constituindo o processo chamado de fertirrigação. • Fermentação aeróbica, por meio de bactérias ou fungos, objetivando a obtenção de proteína unicelular. • Fermentação anaeróbica utilizando bactérias metanogênicas, para produção de biogás, constituindo o processo denominado biodigestão anaeróbica. • Concentração por meio de evaporação para obtenção de ração animal. • Processo de evaporação e concentração da vinhaça para posterior combustão, visando o aproveitamento de energia e recuperação de potássio. 3.1 Fertirrigação • Efeitos da vinhaça sobre o solo: elevação do pH, redução do alumínio trocável, aumento da matéria-orgânica, micronutrientes e porcentagem de saturação das bases. • Efeitos da vinhaça sobre a fisiologia da cana: aumento do teor de umidade, redução dos teores de lignina, aumento do fator de acamamento, dos teores de potássio e da vegetação e redução dos níveis de sacarose quando esses são excessivos. • Pode ser processada por inundação, por sulcos de infiltração, por aspersão com equipamento semifixo e por aspersão através de canhão hidráulico. • Segundo Gonzalo et. al. (2006), Longo (1994) e Ludovice (1997) amostras do lençol freático submetidas a longos períodos de aplicação apresentaram teores de N, K e condutividade elétrica acima do estabelecido. Fonte: Lora, E. E. S. (2006) Fonte: Luz, P. H. C., 2006. Fonte: Luz, P. H. C. (2006) Fonte: Lora, E. E. S. (2006) Sistema de transporte e distribuição de vinhaça por caminhão tanque Fonte: Lora, E. E. S. (2006) Fonte: Theodoro, J. M. P. (2005) Fonte: Luz, P. H. C. (2006) 3.2 Biodigestão Anaeróbica • A biodigestão anaeróbica é um processo de degradação da matéria orgânica por microorganismos, resultando na produção de biogás. • Biogás: 55 a 70% de CH4 e 25 a 45% de CO2 além de outros gases. • O processo de formação do metano é estritamente anaeróbico, mas o processo global é divido em três fases: acidogênese, intermediário e metanogênico. • Usos do biogás: produção de frio, calor, potência, automotivo, secagem de leveduras, etc. 3.2 Biodigestão Anaeróbica • Tipos de biodigestores: Chinês, Indiano, Fluxo de Pistão ou horizontal, UASB, Filtro anaeróbico de fluxo ascendente e Bifásico. • Reator UASB: possui altos índices de remoção e velocidades volumétricas além de baixos conteúdo de sólidos em suspensão e tempo de retenção hidráulico. • Vantagens da biodigestão: a energia produzida pelo biogás é maior que o consumo requerido pelo sistema, aceita grandes taxas de substâncias orgânicas e o efluente resultante pode ser usado como fertilizante. • Desvantagens da biodigestão: é um processo lento, possui um longo período para início da operação e o custo de implantação é elevado. Esquema do processo global de metanogênese Esquema de um biodigestor UASB Fonte: Valdes, A. (2006) Instalação típica de dois biodigestores UASB Q = 5.000 m³ Diâmetro = 26,0 m Altura = 4,75 m Fonte: Granato, E. F. (2003) Instalação de geração de energia • Principais fabricantes: Caterpillar, Wakesha, Duetz, Wartsila, Cooper e Jenbacher. Fonte: GE Jenbacher Engine Gensets (2007) Concentração da vinhaça Fonte: Germek e Feigl (1987) Fonte: Katz G. M. (1979) 3.3 Concentração e combustão da vinhaça • Na concentração retira-se água da vinhaça sem perda de sólido, com redução do volume. • A evaporação da água utilizando-se evaporadores de múltiplo efeito é a tecnologia mais difundida e utilizada para concentração do açúcar. • As primeiras unidades de concentração de vinhaça foram instaladas na Áustria em 1942 pela VOLGELBUSCH. • A concentração da vinhaça é uma forma de reduzir os custos com transporte em caminhões-tanque aumentando o raio econômico de aplicação. • Segundo Katz (1979): consumo de vapor 0,27 kg/L, eletricidade 0,0134 kW/L, água de refrigeração 0,013 m³/Lágua evaporada e a vazão de entrada é função do Brix da saída. Fonte: Dedini (2006) Fonte: Dedini (2006) 3.4 Combustão da vinhaça • A idéia de se queimar a vinhaça em caldeira está relacionada com a queima do licor negro na indústria de papel e celulose. • Vantagens: é a única tecnologia que permite eliminar o potencial poluidor da vinhaça; com recuperação econômica do potássio; aproveitamento do potencial energético. • Desvantagens: balanço energético negativo, impacto da combustão sobre as tubulações e refratários e altos índices de emissões de poluentes atmosféricos como material particulado, NOx, SOx e CO. • Para tentar minimizar as incrustações a Praj desenvolveu um novo evaporador denominado Flubex. Evaporador Flubex Fonte: Briceño, C. O. (2005) Vinhaça concentrada (55º Brix) Fonte: Briceño, C. O. (2005) Fonte: Dedini (2005) Fonte: Avram, P., et. al. (2006) 4. Introdução • Variável ambiental: atribuída a qualquer grandeza física, química ou biológica, determinada de forma direta ou indireta e que possui a finalidade de caracterizar o impacto ambiental. • Indicador Ambiental: grandeza derivada de uma variável ambiental, visando a quantificação de uma intervenção ambiental específica. • Índice Ambiental: refere-se à agregação de mais de um indicador ambiental com o objetivo de transformar uma grande quantidade de dados em uma forma mais simples, retendo o significado essencial da informação no uso pretendido deste índice. • Sistemas Ecológicos: degradação de sistemas ecológicos ecotoxicidade terrestre, ecotoxicidade aquática (marinha e água doce) e biodiversidade. • Impactos de caráter local, regional ou global: efeito estufa, depleção da camada de ozônio, eutrofização, acidificação, etc. • Efeitos econômicos e sociais: aspectos visuais, recreacionais, arquitetônicos e históricos e índices de crescimento econômico como taxa de desemprego, PIB, etc. • Difícil associação com o processo e suscetíveis a decisões baseadas em juízo de valores. 4.1 Elaboração do Índice de Impacto Ambiental de um processo Fonte: Bauer, P. E. (2003) • Os indicadores ambientais estão associados às intervenções ambientais dos processos: recursos naturais, saúde humana, sistemas ecológicos e efeitos econômicos e sociais. • Cada um desses grupos é representado por uma categoria de impacto ambiental, sendo cada categoria de impacto associada a, pelo menos, um indicador ambiental. • Recursos Naturais: recursos renováveis/não-renováveis ou recursos bióticos/abióticos. • Saúde Humana: Categorias associadas a efeitos deletérios (mutagênicos, carcinogênicos e teratogênicos). 4.2 Elaboração de um índice de Impacto Ambiental de um processo Fonte: Bauer, P. E. (2003) 5. Análise do Ciclo de Vida • Idealizada para quantificação de impactos ambientais associados à produtos ou funções de uso direto pelo ser humano. • Atualmente esta metodologia tem sido usada para processos produtivos diversos. • Metodologia ACV é científica, precisa e específica. • Os métodos derivados da Produção Sustentável e do Desempenho Ambiental são genéricos, aproximados e gerenciais. 5.1 Principais fases associadas ao ciclo de vida de um produto Fonte: Ferrão, P. C. (1998) 5.2 Histórico da ACV • 1969 – Coca-Cola: comparação de materiais para embalagens, consumo de recursos e geração de emissões. • 1972 – Ian Boustead: desenvolveu um modelo para determinar os consumos de energia relacionados às embalagens de alumínio, vidro e plástico. • 1973 – 1º crise do petróleo: busca de fontes alternativas de energia. • 1985 – diretiva da União Européia sobre controle de embalagens de alimentos. • 1990 a 1996 – crescimento e difusão no meio acadêmico. • 1997 – possibilidade de utilização da ACV para desenvolvimento de novos produtos e definição de políticas públicas. • ISO 14.040 – Análise do Ciclo de Vida – Princípios e Estrutura. • ISO 14.041 – Análise do Ciclo de Vida – Definição de objetivo e escopo e análise do inventário. • ISO 14.042 – Análise do Ciclo de Vida – Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida. • ISO 14.043 – Análise do Ciclo de Vida – Interpretação do Ciclo de Vida. Iniciativas de ACV UNEP/SETAC 5.3 Como a ACV pode agregar valor ao produto Série ISO 14040 Avaliação do Ciclo de Vida Descrição do desempenho ambiental de produtos Aspectos ambientais prioritários Informação de aspectos ambientais em projeto e desenvolvimento Série ISO 14020 Rótulos e declarações ambientais Act Plan Check Do Comunicação do desempenho ambiental Monitorar o desempenho ambiental Monitorar o desempenho do sistema Melhoria do desempenho ambiental de produtos ISO 14062 Projeto para o Meio Ambiente ISO 14063 Comunicação ambiental Série 14030 Avaliação do desempenho ambiental Informação sobre os aspectos ambientais de produtos Comunicação do desempenho ambiental Descrição do desempenho ambiental de organizações Informação sobre ISO 19011 Auditoria de sistemas o desempenho do sistema de de gestão ambiental gestão ambiental Fonte: Ugaya, C. M. L. (2006) • ISO 14.025 – Rotulagem e declarações ambientais Fonte: Coltro, L. (2007) 5.4 Etapas de uma ACV Aplicações diretas: • Desenvolvimento e melhoria do produto • Planejamento estratégico • Elaboração de políticas Públicas • Marketing Fonte: NBR-ISO 14040 5.5 Definição do Objetivo e do Escopo do Estudo A definição do objetivo e do escopo consiste no estabelecimento dos limites do estudo de ACV. Definição do objetivo Análise do Inventário Avaliação do Impacto Fonte: NBR-ISO 14040 Interpretação e do escopo 5.6 Análise do Inventário A análise do inventário envolve a coleta de dados e procedimentos de cálculo para quantificar as entradas e saídas de um sistema. Definição do objetivo Análise do Inventário Avaliação do Impacto Fonte: NBR-ISO 14040 Interpretação e escopo 5.7 Avaliação do impacto Definição do objetivo Análise do inventário Avaliação do impacto Fonte: NBR-ISO 14041 Interpretação e escopo Caracterização Fonte: Ferrão, P. C. (1998) Eco-Indicadores e suas considerações Categorias de Impacto Mudança Climática Destruição da camada de ozônio Acidificação Eutrofização Ecotoxicidade Ecotoxidade águas doces Ecotoxidade marinha Ecotoxidade terrestre Toxicidade humana Cancerígenos Não cancerígenos Respirações orgânicos Respirações inorgânicos Uso do solo Minerais Combustíveis fósseis Exaustão abiótica Uso de recursos Smog fotoquímico Água doce Água marinha Radiação Resíduos sólidos Resíduos perigosos Resíduos radioativos Escória / cinzas Ecoindicador 99 x x x x x CML 2000 x x x x EDIP x x x x x x x x x x x x x TRACI x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x Fonte: Ugaya, C. M. L (2006) x Normalização Mudanças Climáticas 0,05% Acidificação 0,02% Normalização: contribuição para o impacto total Ponderação • Deve ser dada importância para cada impacto ambiental • Caráter subjetivo • Não pode ser usado sem um exame detalhado em relatórios 5.8 Interpretação Análise de sensibilidade Avaliação de itens importantes: Seleção de materiais Gestão da cadeia de suprimento Estabelecimento da infra-estrutura para reciclagem Definição de objetivo e escopo Análise do Inventário Avaliação do Impacto Interpretação • • 1) 2) 3) 5.9 Iniciativas atuais em ACV no Brasil • Institutos de Pesquisa: USP, UNICAMP, UNB, UFSC, UFBA, UFMG, CEFET-PR, IBICT, ITAL, CETEA, Instituto EKOS e UNIFEI. 6. Análise da Eco-Eficiência Ambiental da vinhaça aplicando ACV • Número de Destilarias: 7 • Área plantada: 31.472 ha • Produção de cana: 2.796.876 t • Produção de álcool: 504.468 m³ • Produção de energia: 95.538 kW Fonte: UNICA (2007) 6.1 Fronteira do Sistema Fonte: Rocha, (2007) 6.1 Suposições admitidas • Unidade funcional: 1 m³ vinhaça disposta. • Este estudo não vai possuir alocação de dados. • Tipos de impacto selecionados: EDIP e Ecoindicador 99. • Categorização dos dados: tempo, área geográfica, tecnologias, representatividade, consistência e incertezas. • Suposições e limitações: biodigestão e combustão não foram incluídas nesta análise preliminar por falta de dados consistentes, modelo de solo, precipitação. • Software SimaPro 7.0 banco de dados europeu. 6.2 Descrição da Usina Padrão Fonte: Rocha, (2007) 6.3 Cenário para transporte da vinhaça por canais Fonte: Rocha, (2007) 6.4 Cenário para transporte da vinhaça por caminhões Fonte: Rocha, (2007) Fertirrigação por canais EDIP/Caracterização EDIP/Pontuação única Ecoindicador 99/Caracterização Ecoindicador 99/Pontuação única Fertirrigação por caminhões EDIP/Caracterização EDIP/Pontuação única Ecoindicador 99/Caracterização Ecoindicador 99/Pontuação única Comparação entre os dois sistemas EDIP/Caracterização Fonte: Rocha, (2007) Comparação entre os dois sistemas EDIP/Normalização Fonte: Rocha, (2007) Comparação entre os dois sistemas EDIP/Pontuação Única Fonte: Rocha, (2007) Comparação entre os dois sistemas Ecoindicador 99/Caracterização Fonte: Rocha, (2007) Comparação entre os dois sistemas Ecoindicador 99/Pontuação Única Fonte: Rocha, (2007) Conclusões • A ACV é uma ferramenta muito importante para avaliação de impactos ambientais, tanto de produtos quanto de processos produtivos, desde que usada corretamente. • Para fertirrigação com transporte por canais tanto o EDIP quanto o Ecoindicador 99 registraram um alto índice de ecotoxicidade, o que sugere que a fertirrigação a longo prazo pode provocar danos ao solo e ao lençol freático. • Para a fertirrigação com transporte por caminhões dois itens apresentaram índices elevados tanto no EDIP quanto no Ecoindicador 99 a acidificação e a mudança climática provocada pelo uso de combustíveis fósseis. CONTATOS: Eng. Mateus Henrique Rocha [email protected] (35) 3629-1466 Universidade Federal de Itajubá Instituto de Engenharia Mecânica Av. BPS 1303 – C.P. 50 – CEP: 37500-930 Itajubá-MG – Brasil www.nest.unifei.edu.br Obrigado pela atenção!