INFLUÊNCIA DE PRODUTOS QUÍMICOS E DE MATERIAIS NA QUALIDADE DA
ÁGUA DE CONSUMO HUMANO
- TESTES REALIZADOS NA EPALMaria João G. BENOLIEL1
RESUMO
Nas últimas décadas tem havido uma crescente preocupação respeitante os efeitos que
os produtos químicos e materiais usados no sistema de abastecimento de água podem ter na
qualidade da água, através da produção de sabores, cor, turvação, do crescimento de bactérias
ou libertação de substâncias perigosas. A garantia da sua adequabilidade a sistemas de
abastecimento de água é obtida com recurso a ensaios. Na presente comunicação apresenta-se
a metodologia seguida pela EPAL, para garantir a qualidade dos produtos químicos e
materiais a aplicar, de modo a não haver alterações na qualidade da água distribuída e
salvaguardar a saúde do consumidor.
Palavras-Chave : Abastecimento de água, materiais, produtos químicos, qualidade da água,
Normas Europeias
1
Engª Química, Chefe do Sector de Apoio Técnico e Qualidade, da Divisão de Laboratórios, Empresa
Portuguesa das Águas Livres, S.A., Lisboa, Portugal
Representante de Portugal no CEN/TC 164/WG3
1
1 - INTRODUÇÃO
Na gestão da qualidade da água em sistemas de abastecimento, tem necessariamente que
se ter em linha de conta de que estamos perante um reactor complexo, onde se estabelecem
trocas entre o meio e os materiais presentes (ferro, aço, cimento, plásticos, etc), originando
alterações derivadas de mecanismos electroquímicos, fenómenos biológicos, oxidação,
corrosão, etc.
Os produtos químicos e materiais usados em sistemas de abastecimento de água, desde
o tratamento, o transporte, a armazenagem até à distribuição, podem interferir na qualidade
da água de formas diferentes:
-
Alteração das características físicas e organolépticas da água, p.ex. cor, sabor e turvação;
-
Alteração nas características químicas da água;
-
Desenvolvimento bacteriológico/actividade microbiológica;
-
Migração de substâncias tóxicas a partir de materiais orgânicos, como p. ex. revestimentos
e tubagens plásticas;
-
Migração de substâncias tóxicas a partir de materiais não orgânicos, tais como
cimentíceos e metálicos.
De modo a avaliar o nível ou grau de alterações na qualidade da água, tem de se recorrer
a métodos adequados nos quais devem ser contemplados factores que permitam estabelecer à
escala laboratorial um sistema tão próximo quanto possível do real. Entre outros são de
particular importância a razão superfície do produto/volume de água do ensaio, as
características da água usada no ensaio (p.ex. o pH da água tem um papel dominante na
dissolução de metais tais como chumbo e latão) e o tempo de duração dos ensaios..
A EPAL, numa atitude de preocupação e responsabilidade quanto à qualidade de
serviço e por conseguinte qualidade da água, realiza acções de prevenção da contaminação da
água com origem nos equipamentos e materiais utilizados nas redes adutoras e de distribuição
e dos reagentes utilizados no tratamento. Par este efeito procede-se ao controlo sistemático de
produtos químicos usados no tratamento e de revestimentos aplicados nos reservatórios e está
a ser implementado a metodologia adequada aos ensaios a tubagens e componentes, para
avaliar a sua influência na qualidade da água abastecida.
2 - LEGISLAÇÃO E NORMALIZAÇÃO NACIONAL E EUROPEIA
PRODUTOS E MATERIAIS EM CONTACTO COM A ÁGUA
RELATIVA A
2.1 - Legislação nacional e Directivas Comunitárias
Em Portugal não existe enquadramento legal que estabeleça critérios de aceitação de
materiais em contacto com a água, no que respeita efeitos na qualidade da água. A
preocupação relativa a este assunto está no entanto expressa, no Decreto Lei 74/90 relativo a
água para consumo humano e no Decreto Regulamentar 23/95.
2
O Decreto-Lei 74/90 estabelece, no artº 20- Materiais e processos de tratamento, pontos
1 e 2, o seguinte:
“- Os materiais em contacto com a água nos sistemas de abastecimento que estejam
em contacto com a água para consumo humano não podem provocar alterações na
qualidade e têm de corresponder às especificações definidas por portaria conjunta dos
Ministros responsáveis pelas áreas do Ambiente, de Obras Públicas, Transportes e
Comunicações e da Saúde.
- Os compostos e produtos químicos destinados ao tratamento de água para consumo
humano serão regulamentados por portaria conjunta dos Ministros responsáveis pelas
áreas do Ambiente e Saúde.”
O Projecto de revisão do Decreto-Lei 74/90 (Versão Out 97), relativo à qualidade das
águas, além de contemplar as disposições acima referidas, inclui no artº 25, um ponto
suplementar:
“Compete ao IPQ, consultada a DGS, promover as acções necessárias para a
certificação da qualidade dos materiais, substâncias e produtos químicos utilizados no
tratamento de água e nos sistemas de abastecimento, garantindo a sua adequação para
o fim em vista, nomeadamente no que diz respeito à protecção da saúde pública.”
O Decreto Regulamentar nº 23/95, de 23 de Agosto, actualiza a legislação existente em
matéria de sistemas públicos e prediais de distribuição de água, aprovando os princípios
gerais a que devem obedecer a respectiva concepção, construção e exploração. Relativamente
à natureza de materiais, inclui as seguintes disposições:
• Rede de distribuição
Artº 30, ponto 1 - “As condutas de distribuição de água podem ser de fibrocimento,
PVC, betão armado, polietileno de média ou alta densidade, poliéster reforçado com
fibra de vidro, ferro fundido, aço ou outros materiais que reunam as necessárias
condições de utilização”
Artº 31
“1- Sempre que o material das condutas seja susceptível de ataque interno ou externo
deve prever-se a sua conveniente protecção de acordo com a natureza do agente
agressivo.
2- No caso de protecção interna devem ser usados produtos que não afectem a
potabilidade da água.”
• Ramais de ligação:
Artº 28- “Os ramais de ligação podem ser de PVC, de polietileno de média ou alta
densidade, de ferro fundido dúctil ou de outros materiais que reunam as necessárias
condições de utilização”
3
• Instalações complementares- Reservatórios
Artº 72º alínea d)- “Utilizar materiais não poluentes ou tóxicos em contacto
permanente ou eventual com a água”
• Sistemas de distribuição predial- rede predial de água fria e água quente
Artº 99
“1- As tubagens e acessórios que constituem as redes interiores podem, entre outros, ser
de cobre, aço inoxidável, aço galvanizado ou PVC rígido, este último no caso de
canalizações de água fria não afectas a sistemas de combate a incêndios.
2- Nas redes exteriores de água fria, as tubagens e acessórios podem ser de ferro
fundido, fibrocimento, polietileno ou PVC rígido.”
A Directiva nº 80/778/CEE relativa à Qualidade das Águas destinadas ao Consumo
Humano e a proposta de revisão (J.O. nº C131 de 30.05.95, p.5), estabelecem por seu lado
que:
“Os Estados-membros adoptarão todas as medidas necessárias para garantir que
quaisquer substâncias utilizadas no tratamento de água destinada a consumo humano e
quaisquer impurezas associadas a estas substâncias não permaneçam na água em
concentrações superiores às necessárias para os fins a que se destinam e não reduzam,
directa ou indirectamente o nível de protecção da saúde humana previsto no âmbito da
directiva.”
2.2 - Normalização
Portugal não dispõe de Normas relativas a produtos químicos consumidos em estações
de tratamento de água, assim como sobre a influência de materiais em contacto com a água de
consumo humano, pelo que, no contexto de normalização a nível Europeu, a Entidade
Coordenadora do Sistema Nacional de Gestão de Qualidade (Instituto Português de
Qualidade), procede à adopção das Normas Europeias como Normas Portuguesas.
O Comité Europeu de Normalização (CEN) tem vindo a preparar Normas Europeias
(EN’s) no domínio do saneamento básico, sendo a actividade relativa ao abastecimento de
água desenvolvida pela Comissão Técnica Europeia de Normalização - CEN/TC 164. O
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), na qualidade de Organismo Sectorial em
Saneamento Básico, tem promovido a representação portuguesa nesta Comissão Técnica
assim como em diversos grupos de trabalho.
Nos últimos anos têm sido elaboradas normas CEN em que estabelecem os requisitos de
materiais para abastecimento de água potável, nomeadamente de ferro fundido dúctil,
fibrocimento e betão (NP EN 545, EN 639, EN 640, EN 641, EN 642 e EN 512). No entanto,
não são contemplados os ensaios a executar para avaliar os efeitos na qualidade da água
(ROCHA et al, 1997).
As actividades normativas respeitantes os Efeitos dos Materiais e Produtos em contacto
com a água potável é feita no âmbito dos seguintes Grupos de Trabalho, da CEN/TC164:
4
GT 3- Efeitos dos Materiais em contacto com água potável
GT 9- Tratamento de água potável
De acordo com o relatório do secretariado do CEN/TC 164/DOC N 813 de Novembro
1997, estão a ser preparadas ou já disponíveis algumas Normas:
• Relativas a produtos químicos usados no tratamento de água potável:
•
•
Normas publicadas por CEN/TC 164: 24
Documentos em fase de revisão ou em inquérito no âmbito da CEN ou do
TC/164: 68
• Documentos em preparação pelo GT 9: 9
• Relativas a efeitos de materiais em contacto com a água
•
Documentos em fase de revisão ou inquérito no âmbito da CEN ou da
TC 164: 3
• Documentos em preparação pelo GT 3: 9
• Documentos que aguardam Investigação pré-normativa: 6
3 - PRODUTOS E MATERIAIS USADOS NO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE
ÁGUA DA EPAL
O sistema de abastecimento da EPAL assenta em duas captações superficiais (Albufeira
de Castelo de Bode e Valada/Rio Tejo), numa nascente (Olhos de Água no rio Alviela) e em
12 captações subterrâneas utilizadas de forma descontínua.
A água proveniente das captações superficiais é tratada em duas estações de tratamento
instaladas na Asseiceira e em Vale da Pedra, projectadas de acordo com a qualidade da água
bruta. Na ETA da Asseiceira a linha de tratamento inicia-se com pré-oxidação, utilizando
cloro, seguindo-se remineralização com hidróxido de cálcio e anidrido carbónico, coagulação
utilizando sulfato de alumínio, fitração dupla camada com areia e antracite, correcção de
agressividade com hidróxido de cálcio e desinfecção final com cloro para garantir um residual
adequado durante a adução. A linha de tratamento de Vale da Pedra inclui uma grelha fixa e
macrotamização, pré-oxidação, utilizando cloro, coagulação, com utilização de sulfato de
alumínio, floculação, decantação e filtração com areia. Sempre que se verifica agravamento
da qualidade de água bruta, pode ser adicionado carvão activado em pó. Na secagem de lamas
é utilizado polielectrólito.
A água proveniente das captações subterrâneas é sujeita a desinfecção por cloro ou por
hipoclorito de sódio, antes de serem introduzidas no sistema de adução. Em alguns pontos da
rede de distribuição estão instalados postos de cloragem, para garantir o residual de cloro.
A adução compreende 346 km de condutas distribuídas por 3 subsistemas:
-
Aqueduto Alviela: Transporta água de 114 km a partir da captação de Olhos de Água
Aqueduto Tejo: com 42 km de extensão
Aqueduto de Castelo de Bode: Com um percurso de 92 km desde a ETA da Asseiceira
a Vila Franca de Xira.
5
O sistema de distribuição no Concelho de Lisboa tem uma extensão de cerca de 1 300
km incluindo 84 000 ramais e 17 reservatórios.
Os materiais usados no sistema de distribuição da EPAL são o betão armado,
fibrocimento, aço, ferro fundido dúctil, ferro fundido cinzento, aço galvanizado, polietileno de
alta densidade, poliéster reforçado a fibra de vidro e outros (p.ex chumbo). No sistema de
adução os materiais usados são o betão armado e o ferro fundido. No Quadro 1 apresentam-se
os diferentes materiais usados na rede de distribuição de Lisboa, assim como o comprimento
de tubagem, de acordo com dados fornecidos pelo Sistema de cadastro da EPAL.
Quadro 1
Materiais aplicados na rede de distribuição a Lisboa
Materiais
Fibrocimento
Betão armado
Ferro fundido dúctil
Ferro fundido cinzento
Aço galvanizado
Aço
Polietileno alta densidade
Poliester reforçado a fibra de vidro
Outros (chumbo, latão, bronze,etc)
ZB
(m)
91 807
15 062
31 514
104 569
88
-718
2 808
1 936
ZM
(m)
107 501
13 192
15 138
83 289
56
629
684
--849
ZA
ZS
(m)
(m)
338 761 102 931
53 983 15 483
70 810 19 167
190 505 26 409
270
37
561
76
3 019
1 874
--38
3 086
411
4 – ENSAIOS EXECUTADOS PARA A AVALIAR A INFLUÊNCIA NA QUALIDADE
DA ÁGUA
4.1 - Produtos químicos usados no tratamento
Conforme anteriormente referido os produtos químicos usados pela EPAL, nas linhas de
tratamento são: Hidróxido de cálcio, Sulfato de alumínio líquido, Cloro líquido, Hipoclorito
de sódio, Dióxido de carbono, Polielectrólito de acrilamida, Ácido sulfúrico e Carvão
activado
A qualidade dos produtos a usar no tratamento de água tem de estar de acordo com as
exigências das normas portuguesas ou europeias em vigor, de modo a garantir a ausência de
substâncias tóxicas na água ou que estejam presentes em concentrações inferiores aos valores
máximos exigidos por lei (Dec-Lei 74/90).
O Caderno de Encargos constitui uma peça fundamental na pré-selecção dos produtos a
adquirir, sendo desde logo exigidos, pela EPAL, os requisitos técnicos considerados
convenientes, sendo de destacar os seguintes:
• Certificado Internacional de aprovação do produto para uso no tratamento de água
destinada ao consumo humano, emitido por entidade idónea na área da saúde pública;
6
• Certificado de análise do produto para os parâmetros exigidos no CE;
• Especificação dos valores máximos admissíveis para as características do produto
exigidos no CE;
• Certificado de Análise a apresentar trimestralmente contada a partir do início de
fornecimento nos quais constarão os resultados médios das análises efectuadas durante
o período considerado.
• Durante a vigência do contrato de fornecimento a EPAL reserva-se o direito de
proceder ao número de amostragens que entender necessárias à confirmação da
qualidade do produto.
Na preparação do Caderno de Encargos tem-se em consideração as recomendações
constantes no documento elaborado pelo Comité Técnico de Normalização CEN/TC 164,
“Draft Guidelines for the Purchase of Water Treatment Chemicals” (DOC CEN/TC164/WG9
N220).
Indicam-se nos Quadros 2 e 3 as Normas Europeias ou Projectos de Normas
disponíveis para os produtos aplicados nas linhas de tratamento da EPAL, assim como os
valores máximos admissíveis para substâncias tóxicas, tal como definidas na Directiva
80/778/EEC. Os teores em pesticidas, hidrocarbonetos aromáticos polinucleares e cianetos
não são relevantes para estes produtos, pelo que não são estabelecidos concentrações máximas
admissíveis. A proposta de Norma relativa ao uso de dióxido de carbono não estabelece
valores máximos para substâncias tóxicas
Sempre que não existem valores normativos, a EPAL segue o princípio de que as
substâncias tóxicas, presentes em produtos químicos usados no tratamento de água, tendo em
consideração a taxa de tratamento, não podem dar origem a um aumento da sua concentração
na água, superior a 10% do VMA estabelecido no Dec-Lei 74/90.
Quadro 2
Normas Europeias ou Projectos de Normas relativas a produtos químicos usados no
tratamento de água da EPAL
Produto
Hidróxido de cálcio
Sulfato de alumínio líquido
Hipoclorito de sódio
Cloro líquido
Dióxido de carbono
Ácido sulfúrico
Carvão Activado em pó
Normas
PrEN 12518
EN 878
pr EN 901
Pr EN 937
pr EN 936
EN 899
Pr EN 12903
Polímero de acrilamida
Pr EN 1407
Substâncias Tóxicas
Pb, As, Se, Sb, Cd, Cr e Ni
Pb, As, Hg, Se, Sb, Cd, Cr e Ni
Pb, As, Hg, Se, Sb, Cd, Cr e Ni
Hg
Pb, As, Hg, Se, Sb, Cd, Cr e Ni
Pb, As, Hg, Se, Sb, Cd, Cr e Ni
Pb, As, Hg, Se, Sb, Cd, Cr, Ni,
cianetos e PAH’s
monómero de acrilamida
7
Quadro 3
Concentrações máximas para substâncias tóxicas presentes em produtos usados no tratamento
de água
Parâmetros
Antimónio
Arsénio
Cádmio
Chumbo
Crómio
Mercúrio
Níquel
Selénio
Cianetos
PAHs(3)
Acrilamida
Hidróxido
Cálcio
mg/kg
(tipo A/B)
4/4
5/20
2/2
25/50
20/20
0.3/0.5
20/20
4/4
-------
Sulfato
Alumínio
mg/kg Al
(Tipo 1/2/3)
20/40/120
14/40/100
3/50/100
40/200/800
30/700/1000
4/10/20
20/700/1000
20/40/120
-------
Hipoclorito
de sódio
mg/Kg de
Cl disp.(1)
25
5
5
15
5
5
10
25
-------
Cloro
líquido
mg/kg(2)
(tipo 1/2)
----------0.1/1
-----------
Ácido
sulfúrico
mg/kg
Carvão
act. Pó
mg/kg
1.0
0.4
0.1
4.0
4.0
0.1
0.1
1.0
-------
10
50
5
50
50
1
50
10
50
0.2
---
Polímero
de
acrilamida
mg/g
--------------------0.250*
(1) De acordo com uma taxa de tratamento de 15 mg cloro disponível por litro de água
(2) De acordo com uma taxa de tratamento de 0.4 mg/l
(3) Soma de fluoranteno, benzo(b)fluoranteno, benzo(k)fluoranteno, benzo(a)pireno, benzo(ghi)perileno,
indeno(1,2,3-cd)pireno
Nos últimos anos os laboratórios da EPAL têm procedido ao controlo sistemático de
substâncias tóxicas em hidróxido de cálcio, sulfato de alumínio e hipoclorito de sódio.
Durante 1998 está a ser implementada a análise de substâncias tóxicas em cloro líquido,
carvão activado em pó, polielectrólito e ácido sulfúrico.
Os métodos de ensaio utilizados na determinação dos parâmetros acima referidos,
seguem, sempre que tecnicamente possível, Normas portuguesas e/ou europeias, com recurso
aos seguintes métodos instrumentais:
- Cádmio, chumbo, crómio, níquel: espectrometria de absorção atómica com forno de
grafite, na presença de modificador de matriz
- Antimónio, arsénio e selénio: espectrometria de absorção atómica com formação de
hidretos
- Mercúrio: espectrometria de absorção atómica sem chama-vapor frio
- Cianetos: espectrometria de absorção molecular
- PAHs: Extracção e quantificação por cromatografia líquida de alta resolução
- Pesticidas: extracção e quantificação por cromatografia gasosa
- Acrilamida: Cromatografia líquida de alta resolução
4.3. Materiais usados no revestimento de reservatórios
Os materiais usados no revestimento dos reservatórios são, desde há alguns anos,
sujeitos a critérios de selecção que inclui a avaliação do seu efeito nas características
8
organolépticas, microbiológicas e químicas da água abastecida. De um modo geral, nas
operações de reparação de reservatórios antigos utilizam-se argamassas e acabamentos
cimentíceos, enquanto que nos reservatórios mais recentes procedeu-se à aplicação de tintas
epóxidas em cima de betão.
Numa primeira avaliação da adequabilidade dos revestimentos que se pretendem aplicar
em contacto com a água potável, é solicitado aos fornecedores a composição química do
produto, certificado emitido por organismo oficial, de aprovação do seu uso em sistemas de
abastecimento de água e certificados de análises de testes de influência na qualidade da água
incluindo de toxicidade.
Uma vez analisados os documentos acima mencionados, os Laboratórios da EPAL
procedem a ensaios de influência na qualidade da água, seguindo o método da Norma
Britânica BS 6920, que se descreve sucintamente:
As amostras do produto a submeter a ensaio são aplicadas em placas de material inerte
ou em suporte cimentíceo, sendo a razão entre a superfície a entrar em contacto com a água
do ensaio e o volume da água do ensaio da ordem de 1.5 dm-1 (15 000 mm2/1Litro). As
amostras são lavadas em água corrente durante cerca de 1 hora, lavadas com água de ensaio e
imersas em água destilada ou desionizada por um período de 24 horas. As mesmas amostras
são de seguida imersas em água para mais seis períodos sequenciais de extracção incluindo
um período de 72 horas e concluindo com um período de 24 horas. As análises são efectuadas
na amostra correspondente ao último extracto. Sempre que o suporte dos provetes seja
material cimentíceo procede-se a um pré-tratamento das amostras até o pH estabilizar.
Os parâmetros a analisar na água em contacto com o material, dependem da constituição
do produto a analisar, no entanto os seguintes parâmetros são, regra geral, analisados: sabor,
cor, turvação, crescimento microbiológico, pH, alumínio, antimónio, arsénio, bário, cádmio,
crómio, ferro, chumbo, manganês, mercúrio, níquel, selénio e carbono orgânico total.
O material é aceite sempre que os resultados obtidos sejam inferiores aos valores
máximos estabelecidos na Norma BS 6920-Parte 1 (1996).
No âmbito da Grupo de Trabalho CEN/TC 164/WG3 foi preparado um projecto de
Norma Europeia que contempla ensaios para avaliar a influência de materiais por migração
(EN 12873-1), pelo que a EPAL vai proceder no corrente ano, à realização dos testes de
acordo com a metodologia proposta.
4.2. Materiais usados nas tubagens
Os materiais usados em sistemas de abastecimento de água, são fundamentalmente:
• betão e argamassas de ligantes hidráulicos e seus componentes (cimentos, inertes,
água, adições, adjuvantes e fibras)
• plásticos, compósitos de matriz polimérica e elastómeros;
• metais, especialmente aços para armaduras passivas e de pré-esforço, ferro fundido e
aço não-ligado.
Com estes materiais fabricam-se os produtos- tubos, uniões, acessórios- constituintes
9
das tubagens ou condutas as quais com elementos especiais (caixas de visita, válvulas)
integram os sistemas de abastecimento de água (FERREIRA, 1997).
Como referido anteriormente, os materiais mais usados no sistema de abastecimento da
EPAL são, pelo facto de ser uma rede antiga, o betão, o fibrocimento, o ferro fundido
cinzento e o ferro fundido dúctil com argamassa de cimento. No entanto, a aplicação de novos
tipos de tubagem de materiais plásticos e de materiais para reabilitação de condutas, tem
suscitado a preocupação de garantir que não influenciem a qualidade da água distribuída.
Os materiais tradicionais tais como o betão, o ferro fundido dúctil revestido a argamassa
de cimento e o fibrocimento são utilizados desde há décadas no fabrico de canalizações
destinadas ao transporte de água potável. No entanto, por não representarem perigo para a
saúde do consumidor, não foi até à data desenvolvido um protocolo de ensaios para testar o
seu efeito na qualidade da água. O aparecimento de novas ligas metálicas ou a utilização de
novos produtos no fabrico de cimento conduziu à necessidade de investigação nesta área, a
qual está a ser realizada através de projectos co-normativos desenvolvidos no âmbito de
Grupo CEN/TC 164/WG3.
No respeitante ensaios para avaliar a influência de materiais orgânicos na qualidade da
água, existem referenciais normativos de outros países, normas AFNOR, BS, DIN, citando
apenas as mais importantes a nível europeu. No âmbito das actividades do CEN/TC
164/WG3, foram preparadas dois projectos de normas, estando a decorrer a sua aprovação (pr
EN 1420-1; pr EN 13052-1).
Os Laboratórios da EPAL não dispõem ainda de métodos desenvolvidos para estudar a
adequabilidade de novos materiais a sistemas de abastecimento de água, numa perspectiva de
influência na qualidade da água, no entanto têm-se baseado em critérios de selecção
regulamentados em outros países da Europa, que a seguir se apresentam:
•
Apreciação de certificados de adequabilidade para uso em contacto com a água potável,
com referência a normas e metodologia seguida, apresentados pelos fornecedores do
material, incluindo boletins de ensaio de testes de influência na qualidade da água;
•
Apreciação de certificado de testes de toxicidade;
•
Solicitação ao fabricante/fornecedor da composição detalhada das matérias primas e
produto final assim como processo de fabrico. Verificação da conformidade com base em
listas de substâncias autorizadas em países europeus “positive lists”;
•
Identificação e apreciação de Normas e Regulamentos existentes em países europeus, para
os materiais em estudo;
•
Execução de ensaios de avaliação do efeito na qualidade da água, de acordo com Normas
CEN ou de Normas de países europeus, recorrendo, a laboratórios europeus certificados
para o efeito (p.ex. CRECEP, KIWA, WRC). Os parâmetros de qualidade da água a
analisar, tendo em atenção com a composição do material a ensaiar, são:
• Parâmetros organolépticos e físicos- Cor, sabor e turvação
• Parâmetros mibrobiológicos
10
•
Migração de substâncias tóxicas- metais e compostos orgânicos
• Execução de ensaios de toxicidade, se considerado necessário, recorrendo a laboratórios
europeus certificados para o efeito.
5. CONCLUSÕES
Os testes de influência de produtos químicos e de materiais na qualidade da água, já
realizados na EPAL comprovam a importância desta medida, como meio de suporte técnico na
selecção dos produtos que correspondem às especificações exigidas por Lei e proceder à sua
aquisição numa perspectiva custo-qualidade.
Esta matéria, em virtude das implicações que pode ter na qualidade da água distribuída e
por conseguinte na saúde do consumidor, deve ser objecto de diplomas legais, harmonizados
com os outros países da Europa, que estabeleçam as disposições específicas a que devem
obedecer os materiais e objectos utilizados em instalações de distribuição de água,
nomeadamente:
- Lista de substâncias cuja utilização é autorizada no fabrico;
- Limites específicos de migração de certos constituintes;
Considera-se fundamental que as entidades distribuidoras de água, para efeitos de
adjudicação de produtos e materiais em contacto com a água, estabeleçam critérios de
qualidade que contemplem os efeitos na qualidade da água. Esta medida conduzirá também a
que os fornecedores/produtores tenham preocupações sobre esta matéria, nomeadamente a
origem do produto a fornecer, qualidade das matérias primas e processos de fabrico. Alguns
dos aspectos mais relevantes a ter em conta, são:
• Os cadernos de encargos, destinados à adjudicação de produtos e materiais para uso em
sistemas de abastecimento de água, devem contemplar a conformidade do produto com
Normas Europeias ou com normas de outros países europeus;
• Ο fornecedor/fabricante deve fornecer boletins de ensaio relativos a análises resultantes de
testes de influência na qualidade da água, efectuados por instituições, nacionais ou
europeias, certificadas para o efeito;
• Α qualidade dos reagentes deve ser verificada, sempre que possível, antes da adjudicação e
durante o fornecimento.
BIBLIOGRAFIA
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human consumption with regard to their effect on the quality of the water”.
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Water intended for Human consumption.
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EN 899:1996- Chemicals used for treatment of water intended for human consumptionsulfuric acid.
11
FERREIRA, M.J.E. - “Instalações laboratoriais para verificação da qualidade dos materiais e
produtos”, in Anais do Seminário sobre Qualidade de Sistemas de Abastecimento de Água,
Lisboa (Portugal), 24-26 Nov.1997, pp. 10-1-10.8.
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Influência de produtos químicos e de materiais na qualidade da