PARÂMETROS DE CONTROLE DE QUALIDADE DE ÁGUA DE CHUVA –
REVISÃO PARA USO EM EDIFICAÇÕES
Karine Bassanesi – [email protected]
Universidade Federal de São Carlos
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil
Rod. Washington Luís, km 235
13.565-905 – São Carlos – São Paulo
Douglas Barreto – [email protected]
Universidade Federal de São Carlos
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil
Rod. Washington Luís, km 235
13.565-905 – São Carlos – São Paulo
Resumo: Esse artigo aborda o tema de qualidade de água de chuva em edificações, com dados retirados de pesquisa
bibliográfica de estudos anteriores sobre captação pluvial, nacionais e internacionais, que abordaram sistemas de captação
distintos entre si em escala real. O presente artigo consiste em um estudo sobre a análise da qualidade de água de chuva em
diferentes pontos do sistema de captação, em alguns casos antes mesmo de entrar em contato com a superfície que irá
canalizar a água. O objetivo geral desse trabalho é propor parâmetros de qualidade de água de chuva com seus respectivos
valores de aceitação para alguns usos dentro da edificação.
Palavras-chave: aproveitamento pluvial, qualidade da água, edificações.
PARAMETERS OF QUALITY CONTROL OF RAINWATER - REVIEW FOR USE IN BUILDINGS
This abstract addresses the issue of quality of rainwater in buildings, with data taken from literature survey of previous
studies on rain, national and international fundraising that addressed funding disparate systems together in real scale. This
paper presents a study on the analysis of the quality of rainwater at different points of the feedback system, in some cases
even before contact with the surface which will channel water. The general objective of this work is to propose parameters of
quality of rainwater with their respective values of acceptance for some uses within the building.
Keywords: rainwater use, water quality buildings.
1. INTRODUÇÃO
A conservação da água consiste em estabelecer ações para aperfeiçoamento do consumo de água e consequentemente a
redução do volume a partir do conceito do uso racional.
Em 1958, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, estabeleceu uma política de gestão
para áreas carentes de recursos hídricos, que suporta este conceito: “a não ser que exista grande
disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram águas de
qualidade inferior”. (Conservação e Reuso da água em Edificações, 2005).
O mesmo conceito pode ser transportado para as edificações como princípio para gestão da conservação da água,
considerando que para cada uso é possível utilizar águas com qualidades distintas. Utilizando assim fontes alternativas, como
reuso poços artesianos, captação pluvial para obter águas com qualidades diferentes da potável.
Segundo Tomaz (2003) alguns estudos conduzidos no país identificam reduções consideráveis do consumo de água potável
através de fontes alternativas. É possível estimar uma economia de 30% da água pública com a utilização de água da chuva.
Por sua vez, a detenção, tratamento e retenção da água pluvial com o posterior aproveitamento também contribuem
para a redução do consumo de água potável, além de constituir uma medida para o controle de inundações, devido à redução
do escoamento superficial.
Nesse contexto, um ponto importante no aproveitamento da água da chuva é a qualidade captada e tratada. Para
REBELLO (2004), alguns fatores locais podem alterar essa água como o grau de poluição atmosférica e o tipo de material
utilizado para captação assim como a manutenção do sistema de aproveitamento de água da chuva. Neste caso se faz
necessário à definição do uso desta água assim como o seu tratamento após captação.
2. OBJETIVO E METODOLOGIA DO ARTIGO
O objetivo principal desse artigo é apresentar uma comparação dos parâmetros físicos, químicos e biológicos da água
proveniente de precipitação a partir de uma pesquisa bibliográfica em fontes de referência, identificando os parâmetros que
devem ser atendidos para permitir o uso de água de chuva dentro das edificações, tais como rega de jardins, descargas,
lavagens de pátios e de veículos, sem que prejudiquem os usuários assim como os equipamentos utilizados durante o
processo.
A metodologia deste trabalho consiste na abordagem teórica sobre a captação de água de chuva de maneira qualitativa,
através de fontes de referência de dissertações, teses e artigos de outros autores envolvidos no assunto.
Neste contexto a pesquisa bibliográfica teve como foco trabalhos anteriores que envolviam a qualidade da água
pluvial, assim como legislações, guias e normas nacionais e estrangeiras com a intenção de identificar quais parâmetros
podem ser adotados para o uso seguro da água da chuva dentro das edificações.
Para cada artigo ou dissertação/tese foi analisado o objetivo da pesquisa, assim como os parâmetros analisados, incluindo o
método de análise e a metodologia adotada na pesquisa. Além dos parâmetros foram pesquisados os tipos de tratamento
aplicados para a água de chuva. Posteriormente foi feita uma classificação dos resultados obtidos permitindo a comparação
dos índices utilizados para diagnosticar se a qualidade da água de chuva atende o uso para o qual se destina.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O gerenciamento do uso da água e a procura por novas alternativas de abastecimento como o aproveitamento de águas
pluviais, a dessalinização da água do mar, a reposição das águas subterrâneas e o reuso da água estão inseridos no contexto
do desenvolvimento sustentável, o qual propõe o uso dos recursos naturais de maneira equilibrada e sem prejuízos para as
futuras gerações (AGENDA 21, 2001).
3.1. Aproveitamento de água de chuva
O aproveitamento de águas pluviais em edificações não é um conceito recente. No Brasil, ele foi introduzido pelos norte –
americanos, 1943, com a construção de um sistema de captação na Ilha de Fernando de Noronha. (MAY, 2004).
Tabela 1. Sistema de Aproveitamento das águas de chuva para fins não potáveis.
Tipo de Edificação
Custo de Implantação
Economia de água
Condomínio Vertical
Baixo
Menor
Condomínios Horizontais e Residências Menor se projetado antes da
Depende do tamanho do reservatório
Unifamiliares
construção
Galpões e Armazéns
Retorno aceitável
Depende da intensidade de uso
Loteamentos indústrias e residências e Relativamente baixo
Boa
aeroportos
Fonte: SICKERMANN (2002)
SICHERMANN (2002) afirma de maneira qualitativa que um sistema de captação é instalado é possível balizar o custo de
implantação e a economia gerada conforme o tipo de edificação escolhido para a implantação. Ele ressalta que cada caso é
único, mas podem-se definir algumas regras gerais, como na Tabela 1.
Outra visão de uma metodologia básica para projeto de sistemas de coleta, tratamento e uso de água de chuva pode ser
encontrado no manual da ANA/FIESP & SindusCon - SP (2005), que envolvem as seguintes etapas: Determinação da
precipitação média local (mm/mês); Determinação da área de coleta; Determinação do coeficiente de escoamento; Projeto
dos sistemas complementares (grades, filtros, tubulações, etc.); Projeto do reservatório de descarte; Escolha do sistema de
tratamento necessário; Projeto da cisterna; Caracterização da qualidade da água pluvial; Identificação dos usos da água
(demanda e qualidade). Para melhor visualização das etapas de envolvem o sistema de captação pluvial, é possível
esquematizar através de um fluxograma os componentes como mostra a Figura1.
Figura 1. Esquema do sistema de captação pluvial. Fonte: Adaptado de ANA, 2005.
Depois de definir o tipo de sistema de captação utilizado é imprescindível determinar a qualidade da água para os usos
pretendidos. Segundo a Agência Nacional de Águas – ANA, a qualidade da água de chuva é influenciada por:
• Localização, regime de chuvas, condições climáticas da região, zona urbana ou rural;
• Características da bacia, densidade demográfica, área impermeabilizada, declividade, tipo de solo, área recoberta
por vegetação e seu tipo;
• Tipo e intensidade de tráfego;
• Superfície drenada e tipo de material constituinte: concreto, asfalto, grama, etc;
• Lavagem da superfície drenada, frequência e qualidade da água de lavagem;
Os exemplos de perfis já estabelecidos (THACKRAY et al. 1978; DeOREO, 2006) mostram que eles são bastante
dependentes de fatores culturais que se refletem da forma de construir o edifício e os sistemas de abastecimento ao
comportamento pessoal ditado por hábitos, tradições e religião, entre outras características. Para a realização de estudos
visando à determinação do perfil do consumo considera-se, em caráter preliminar, que os seguintes fatores devem ser levados
em conta:
• numero de habitantes da residência e tempo de permanência durante os dias da semana;
• área construída e número de aparelhos sanitários disponíveis;
• características técnicas do serviço público e predial de abastecimento com especial atenção para as diferenças entre
abastecimento direto e indireto;
• clima da região;
• características culturais da comunidade;
• perdas e desperdícios nas instalações prediais e nos usos;
• renda familiar;
• valor da tarifa de água;
• estrutura e forma de gerenciamento do sistema de abastecimento.
3.2. Consumo de água nos diferentes pontos de consumo
O conhecimento do consumo total de água, desagregado segundo os diversos pontos de utilização em uma residência é de
fundamental importância para conhecimento das priorizações da conservação da água em edificações. O consumo de água
analisado separadamente denomina-se perfil de consumo residencial de água. Esses usos têm sido denominados também usos
finais (DEOREO, 2000) para enfatizar que se trata da utilização no ponto de uso interno a residência como, por exemplo,
água usada para tomar banho de chuveiro, água usada para lavagem de roupas em tanques e água para preparação de
alimentos. (Alves, W.C. et. al, 2009 - PROSAB).
Para determinação do sistema é preciso conhecer a demanda para utilização de água de chuva em alguns pontos da
edificação, em uma das publicações do PROSAB (Programa de Pesquisa e Saneamento Básico), Uso da água e da Energia –
Volume 5, a definição de demanda é exemplificada como consumo efetivo. Que é a quantidade de água utilizada na
consecução de determinado uso, frequentemente expressa em termos de volume ou vazão. No consumo efetivo somente se
quantifica o volume necessário para perfazer o uso considerando as condições ditadas pelas circunstancias do momento ou
período do uso. Entre essas circunstancias destacam-se o tipo e condições das tecnologias disponíveis associados ao uso em
questão, bem como as condições culturais relativas ao usuário. (Alves, W.C. et. al, 2009).
Para May (2009) consumo de água residencial constitui mais da metade do consumo total de água nas áreas urbanas.
Segundo Rodrigues (2005), na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o consumo residencial de água corresponde
a 84,4% do consumo total urbano (incluindo o consumo em pequenas indústrias).
O consumo de água residencial inclui tanto o uso interno quanto o uso externo nas residências.
Para Terpstra (1999), esse consumo pode ser classificado em quatro categorias:
• higiene pessoal;
• descarga de banheiros;
• ingestão;
• limpeza.
Segundo Alves (2009) as atividades de limpeza e higiene são as principais responsáveis pelo consumo interno,
enquanto que o externo deve-se a irrigação de jardins, lavagem de áreas externas, lavagem de veículos, piscinas, entre outros.
De acordo com essa classificação, a água destinada ao consumo humano pode ter dividida em:
• potável – higiene pessoal, ingestão e preparação de alimentos (usos de água com rigoroso padrão de potabilidade, conforme
estabelecido na legislação aplicável);
• não potável – lavagem de roupas, carros, calcadas, irrigação de jardins, descarga de vasos sanitários, piscinas, entre outros.
Da mesma publicação realizada pelo PROSAB, foram apresentados alguns dados de consumo efetivo, que podem ser uma
orientação no cálculo da demanda para utilização de água de chuva dentro das edificações:
• 6,8 L por descarga de uma bacia sanitária disponível no mercado brasileiro, sob diversos modelos e marcas e que
observe a norma brasileira NBR 15.097/2004;
• 30 L.pessoa.dia para o banho em chuveiro elétrico com duração de 10 minutos a vazão de 0,05 L.s;
• 0,3 L.m2.dia para rega de plantas de um jardim. Trata-se da quantidade necessária e aproveitada pelas plantas em
condições especificas de ocupação do solo pelos vegetais e em condições climáticas determinadas. O consumo
efetivo não considera a permeação pelo solo que não e utilizada pelas raízes e a evaporação direta da superfície do
solo;
• 110 L.hab.dia de água potável em usos diversos em uma residência. O número corresponde à soma dos consumos
efetivos desses usos, em termos médios, por pessoa ao longo do tempo. Não estão computadas as perdas por
vazamento no sistema predial, por evaporação evitável ou desperdícios associados a negligencia ou deficiência de
conhecimento e formação;
Outra fonte para determinação dos valores de consumo médio é a norma técnica da Sabesp NST 181 contém alguns dados
que contribuem para a caracterização do consumo de água em edifícios, identificados na Tabela 2. Esses dados são
importantes para referenciar que tipo de edificação esta em análise.
Tabela 2. Estimativa de Consumo Predial Médio Diário.
Edificação
Apartamentos
Garagens
Jardins
Lavanderias
Fonte: Norma Técnica NST 181
Consumo (L/dia)
200 per capita
50 por automóvel
1,5 por m²
30 por kg de roupas
3.3. Legislação, normas e guias sobre aproveitamento pluvial e qualidade da água
Existem algumas legislações nacionais que podem auxiliar na tomada de decisão e nas diretrizes que precisam ser
consideradas para o aproveitamento pluvial nas edificações. Este tópico discorrerá sobre esse assunto. Algumas delas ainda
são generalistas e não proporcionam uma base sólida no que se refere à qualidade da água pluvial. Neste contexto serão
apresentadas algumas legislações, normas e guias internacionais que podem auxiliar como base de dados para escolha dos
parâmetros e índices de qualidade da água pluvial abordados nos próximos capítulos. No Brasil, até o momento existe
somente uma norma que aborda aspectos da qualidade da água pluvial, a NBR 15.527/2007 (Aproveitamento de coberturas
em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos).
3.3.1. Legislação Municipal
Em Curitiba com a criação em 2003 da n° Lei 10.785, de 18 de setembro, que regulamenta o Programa de
Conservação e Uso Racional de Águas em Edificações, institui medidas de conservação de água, do uso racional de água e da
utilização de fontes alternativas para a captação de água em novas edificações. O programa tem como objetivo a
conscientização dos usuários sobre a importância do uso racional da água potável.
No Art. 7°, exemplifica que a captação pluvial deve ser coletada da cobertura das edificações e encaminhada a uma
cisterna ou tanque, para serem utilizadas em atividades que não requerem o uso de águas não tratadas, provenientes da Rede
Pública de Abastecimento, como:
1. Rega de jardins e hortas;
2. Lavagem de roupas;
3. Lavagem de veículos;
4. Lavagem de vidros, calçadas e pisos.
Nesse contexto pode se ressaltar que o uso de águas pluviais para fins não potáveis reduzindo o desperdício de água
potável nos casos onde ela não é necessária, como na limpeza de jardins, gramados, descargas, lavagens de carros, sem que
prejudique o usuário.
No ano de 2007 em São Paulo, foi aprovada a lei de número 12.526 que torna obrigatório a implantação de sistema
para captação e retenção de águas pluviais coletadas por telhados, coberturas, terraços e pavimentos descobertos, em lotes
edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m² no Estado de São Paulo. (Artigo 1º da Lei nº
12.526). Os objetivos principais da lei são:
 Reduzir a velocidade de escoamento de águas pluviais para as bacias hidrográficas em áreas urbanas com alto
coeficiente de impermeabilização do solo e dificuldade de drenagem;
 Controlar a ocorrência de inundações, amortecer e minimizar os problemas das vazões de cheias e,
consequentemente, a extensão dos prejuízos;
 Contribuir para a redução do consumo e o uso adequado da água potável tratada.
E ressalta também quais as finalidades principais da contida presente no reservatório após o evento pluviométrico:
infiltrar-se no solo, preferencialmente; ser despejada na rede pública de drenagem, após uma hora de chuva; ser utilizada em
finalidades não potáveis, caso as edificações tenham reservatório específico para essa finalidade.
Projeto de Lei 129/2007 cria o sistema de reuso de água de chuva no município de Campinas/SP, para utilização não
potável em condomínios, clubes, entidades, conjuntos habitacionais e demais edificações. O ponto importante desta lei é
conceder incentivo fiscal aos proprietários dos imóveis que optarem pela utilização do programa.
Na cidade de São José do Rio Preto, São Paulo, no ano de 2008 é criado o Programa Permanente de Gestão das
Águas Superficiais da Bacia Hidrográfica do Rio Preto (Lei 10.290). No artigo segundo a lei cita os objetivos do programa,
para o interesse do trabalho em questão é o terceiro objetivo que visa viabilizar a realização das melhoras de interesse da
sociedade, visando o controle das cheias, de modo a minimizar situações de riscos ambientais, econômicos, sociais e
humanos delas decorrentes, em função da situação atual e da tendência futura da ocupação do solo da bacia do Rio Preto.
No quinto artigo desta mesma lei, complementa que toda edificação cuja superfície impermeável resulte em área
superior a 100 m² deverá contemplar em seu projeto a construção de dispositivos de retenção/detenção das águas pluviais que
retardem o escoamento para a rede publica de drenagem.
Quando houver a intenção do reuso da água pluvial para fins não potáveis, mesmo na lavagem de veículos ou áreas
externas, deverão ser atendidas as normas sanitárias vigentes e as condições técnicas especificam estabelecias pelo órgão
municipal responsável pela vigilância sanitária, como relata o artigo 11, visando:
 Evitar o consumo indevido, definindo sinalização de alerta padronizada a ser colocada em local visível junto ao
ponto de água não potável e determinando os tipos de utilização admitidos para água não potável;
 Garantir padrões de qualidade da água apropriadas ao tipo de utilização previsto, definindo os dispositivos, processos
e tratamentos necessários para a manutenção desta qualidade;
 Impedir a contaminação do sistema predial destinado a água potável proveniente da rede publica, sendo
terminantemente vedada qualquer comunicação entre este sistema e o sistema predial destinado a água não potável.
Em Sorocaba foi aprovado um projeto de lei que institui o “IPTU Ecológico”, Lei nº 9571, incentivando o uso de
políticas sustentáveis em edificações residenciais. Podem ser adotadas algumas medidas como:
 Sistema de captação da água da chuva;
 Sistema de reuso de água;
 Sistema de aquecimento hidráulico solar;
 Sistema de aquecimento elétrico solar;
 Construções com material sustentável, em caso da utilização de madeira esta deverá ter sua origem comprovada;
 Calçadas verdes e plantadas espécies arbóreas nativas com no mínimo 2 metros de altura e diâmetro do caule a um
metro e trinta do solo de no mínimo cinco centímetros.
Neste caso como relata o artigo quinto da lei:
“A título de incentivo será concedido o desconto de 10% no Imposto Predial e Territorial Urbano
(IPTU) aos novos imóveis, que adotarem as medidas previstas.”.
2.1.1.
Legislação Federal
Ainda existem poucos documentos legais para utilizar como base para conhecimentos da qualidade da água
necessária nos diversos usos do aproveitamento pluvial. Além da NBR 15527/2007 que regulamenta os parâmetros de
qualidade da água para usos não potáveis a legislação brasileira também estabelece os procedimentos e responsabilidades
relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras
providências, através da Portaria nº 518/04 do Ministério da Saúde (MS). Existe também outro instrumento legal que pode
servir de base para esta avaliação, a Resolução do CONAMA nº 274/00, que define os padrões de balneabilidade.
2.1.2. Normas
Atualmente, somente a NBR 15527 (ABNT, 2007) fornece requisitos para o aproveitamento pluvial em áreas urbanas,
como parâmetros de qualidade (Tabela 3) assim como algumas diretrizes que podem ser seguidas quando se pretende utilizar
esse tipo de sistema:
 Os padrões de qualidade devem ser definidos pelo projetista de acordo com a utilização prevista;
 Para desinfecção, a critério do projetista, pode-se utilizar derivado clorado, raios ultravioleta, ozônio e outros. Em
aplicações onde é necessário um residual desinfetante, deve ser usado derivado clorado.
 Quando utilizado o cloro residual livre, deve estar entre 0,5 mg/L e 3,0 mg/L.
A norma recomenda ainda que as tubulações e demais componentes sejam claramente diferenciados das tubulações
de água potável como a utilização de duas cores distintas para as tubulações. Que o sistema de distribuição de água de chuva
seja independente do sistema de água potável, não permitindo a conexão cruzada de acordo com NBR 5626/1998 (Instalação
predial de água fria). Assim como os pontos de consumo, como, por exemplo, uma torneira de jardim seja de uso restrito e
identificado com placa de advertência com a seguinte inscrição "água não potável" e identificação gráfica. E também que os
reservatórios de água de distribuição de água potável e de água de chuva sejam separados.
A Portaria 518/2004 – estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos à qualidade da água para consumo
humano, assim como seu padrão de portabilidade. Considerando a possibilidade do uso potável para a água da chuva, pode-se
considerar como parâmetros de qualidade necessários os valores dos Quadros 5 e 6. A portaria não foi elaborada
especificamente para o aproveitamento pluvial nas edificações, mas considerando que para presente trabalho umas das
possibilidades de uso da água da chuva seria para fins potáveis, uma base possível para a análise da qualidade da água e os
riscos para o usuário é a Portaria 518.
Tabela 4. Padrões microbiológicos de Potabilidade para consumo humano.
Parâmetros
Valores
Escherichia coli ou Coliformes Termotolerantes (NMP/100 ml)
Ausência
Coliformes Totais
Ausência
Fonte: Portaria MS Nº 518/2004
A portaria subdivide em para os padrões de potabilidade em três fases, a água para consumo, a água na saída do
tratamento e a água tratada no sistema de distribuição (reservatórios e rede) e em todos os casos os coliformes
termotolerantes em 100 ml precisam estar ausentes nas amostras analisadas. Recomenda ainda que para os coliformes totais
no caso da análise do sistema com 40 amostras ou mais por mês, pode apresentar 95% de ausência em 100 ml, já no caso se o
sistema analisa menos de 40 amostras por mês apenas uma amostra poderá apresentar resultado positivo em 100 ml.
O capitulo IV da portaria refere-se aos padrões de potabilidade necessários para consumo humano, recomenda que
em 20% das amostras mensais para análise de coliformes totais, deve ser efetuada a contagem de bactérias heterotróficas e
uma vez excedida 500 unidades formadores de colônia (UFC), deve ser feita nova análise e inspeção do local. Assim como
os organismos patogênicos que devem ter o mesmo caráter de ausência em 100 ml, como Enterovírus, cistos de Giárdia spp.
e oocistos de Cyptosporidium sp.
Recomenda também que para garantia da qualidade microbiológica da água seja considerado valores de turbidez em três
estágios de tratamento, desinfecção (1,0 UT em 95% das amostras), filtração rápida (tratamento completo ou filtração – 1,0
UT) e filtração lenta (2,0 UT em 95% das amostras). Assim como, recomenda que após desinfecção a água contenha um teor
mínimo de cloro residual de 0,5 mg/L e obrigatoriamente uma manutenção de 0,2 mg/L em qualquer ponto de distribuição. A
aplicação deve ser realizada com um pH inferior a 8,0 e com tempo de contato mínimo de 30 minutos.
A Resolução CONAMA Nº 274/00 define os critérios de balneabilidade das águas brasileiras. Segundo a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) a balneabilidade é a qualidade das águas destinadas à recreação de contato
primário, sendo este entendido como um contato direto e prolongado com a água (natação, mergulho, esqui-aquático e outros
usos), onde a possibilidade de ingerir quantidades consideráveis de água é elevada.
Tabela 6. Padrões de Balneabilidade.
Parâmetros
Qualidade da água
Águas Excelentes
Coliformes
Termotolerantes
Águas Muito Boas
(NMP/100 ml) (1)
Águas Satisfatórias
Águas Excelentes
Escherichia coli (NMP/100 ml) (1)
Águas Muito Boas
Águas Satisfatórias
pH
6a9
Fonte: Portaria MS Nº 274/2000
Valores
250
500
1000
200
400
800
A resolução considera necessária a criação de instrumentos que avaliem a evolução da qualidade das águas, em
relação aos níveis estabelecidos para a balneabilidade, de forma a assegurar as condições necessárias à recreação de contato
primário. Para isso estipula alguns parâmetros e valores para garantia da qualidade dessa água. (Quadro 8).
3.4. Legislações e Guias Internacionais
As legislações e guias de boas práticas internacionais também estabelecem parâmetros qualitativos para água da chuva, a
maioria dos documentos apresentado a seguir são relativos a aproveitamento pluvial. Durante a etapa de pesquisa e busca dos
dados para revisão bibliográfica encontrou-se normas e guias em alguns países que propunham parâmetros mínimos
necessários para garantia da qualidade da água em diversos usos, potáveis e não potáveis. Neste caso cada país possui
parâmetros relativos à realidade de sua população e consideram o aproveitamento pluvial como uma forma alternativa de
abastecimento de água tanto para usos menos nobres, assim como para a potabilidade. Nesse contexto, serão expostos alguns
guias de países que possuem através de normas ou guias parâmetros da qualidade da água pluvial para diversos usos.
Entende-se por boas práticas as medidas de controle que possibilitem a eficácia de cada uma das barreiras, com o
objetivo de prevenir risco. São procedimentos adotados nas fases de concepção, projeto, construção e, sobretudo, na operação
e manutenção de um sistema ou solução alternativa de abastecimento de água, que minimizem os riscos à saúde humana
(BASTOS et al., 2006).
O guia do Estado do Texas escabele medidas mínimas de qualidade que devem ser levadas em consideração. Umas
das primeiras afirmações é que “embora a água da chuva seja uma das formas mais puras de água, ainda assim é necessário
estabelecer diretrizes mínimas de qualidade da água para o seu uso”, porque a água pode tornar-se contaminada durante o
processo de captação (Quadro 9). Nesse contexto adotam-se parâmetros mínimos tanto para qualidade da água pluvial
potável como para uso não potável.
Tabela 7. Rainwater Harvesting potential and Guidelines for Texas - Parâmetros
Categoria de Uso
Qualidade da água pluvial para uso não potável
Periodicidade de teste
Coliformes Totais <500 CFU/100 ml
Famílias Unifamiliares
Anual
Coliformes Fecais <100 CFU/100 ml
*Orientações mínimas de água de qualidade para uso interno da água da chuva. Fonte: Rainwater Harvesting potencial and
Guidelines for Texas – 2006
Somente como curiosidade limita-se alguns parâmetros de que devem ser atendidos assim como tratamentos como
índices de Turbidez de no máximo 1 NTU; assim como a utilização de filtros; água segura para componentes químicos e
microbiológicos; Livre de vírus e protozoários (como Giardia lamblia e Cryptosporidium); E monitoramento trimestral para
alguns parâmetros.
Tabela 8. BS 8215 - Rainwater Harvesting Systems - Code of Practice - 2009 (Reino Unido) – parâmetros químicos e
físicos.
Parâmetros
Valores de uso
Tipos de sistema
> 10% de saturação ou > 1,0 mg/L O2 para todos os
OD no reservatório
Todos os sistemas
usos
Visualmente clara e livre de detritos flutuantes para
Sólidos Suspensos
Todos os sistemas
todos os usos
Cor
Não desagradável para todos os usos
Todos os sistemas
< 10 NTU para todos os usos e < 1 NTU para
Turbidez
Todos os sistemas
desinfecção com UV
pH
5,0 a 9,0 para todos os usos
Local único e sistema doméstico
< 0,50 mg/L para rega de jardins
Cloro residual
Todos os sistemas
< 2,00 mg/L para demais usos
Bromo residual
< 2,00 mg/L para todos os usos
Todos os sistemas
Fonte: BS 8215/2009
Tabela 9. BS 8215 - Rainwater Harvesting Systems - Code of Practice - 2009 (Reino Unido) – parâmetros biológicos.
Parâmetros
Valores de uso
Tipos de Sistema
Sprinkles
Rega de
Descargas
Jardins
e
Escherichia Coli em 100 ml
1
250
Local único e sistema doméstico
Intestinal enterocacci em 100 ml
1
100
Legionella por Litro
100
-
Local único e sistema doméstico
Análise necessária quando indicada ver
capitulo 8
Local único e sistema doméstico
Coliformes Totais em 100 ml
10
1000
Fonte: BS 8215/2009
O Código de boas práticas do Reino Unido destaca alguns pontos importantes sobre o aproveitamento pluvial como,
os sistemas de captação que devem ser projetados de uma maneira que assegure aptidão da água produzida e que não causem
qualquer risco indevido para saúde. Assim como ressalta que a frequência das amostras de água não são necessárias, no
entanto, as observações para a qualidade da água devem ser feitas durante as visitas de manutenção para verificar o
desempenho do sistema. E que os testes devem ser realizados para investigar a causa de qualquer sistema que não funcione
de forma satisfatória ou qualquer queixa de doença associada ao uso de água do sistema. A amostragem para os testes devem
ser realizados em conformidade com alguns pontos.
De modo a testar a qualidade da água, uma amostra de deve ser coletada a partir do tanque ou cisterna de acordo com
BS7592. Quando mais de um tanque ou cisterna é utilizado no sistema, as amostras devem ser tomadas a partir de:
 O depósito de armazenamento mais a montante, para testar a qualidade da água pluvial coletada;
 Qualquer reservatório posterior / cisternas se a água da chuva armazenada é provável que for ou afetados por
variações de temperatura (por exemplo, em um loft) ou misturado com a água a partir do fornecimento auxiliar.
Tabela 10. RAIN Water Quality Guidelines - Guidelines and practical tools on rainwater quality (Países Baixos) – 2009.
Parâmetros
Valores
Amônia
< 1,5 mg/L
Alumínio
Sem relevância
Cloro
> 0,20 a 0,50 e <5 mg/L
E. Coli
< 10 cfu/100 ml
pH
6,5 – 8,5
Nitrato e Nitrito
50,00
Turbidez
< 5,00
Fonte: RAIN Water Quality Guidelines/2009
As amostras só devem ser tomadas a partir de pontos de uso, ou seja, acessórios terminais alimentado com água a
partir do sistema de recolha de água da chuva, se rotina amostragem ou observações indicam um problema.
Neste caso, os parâmetros do quadro cinco devem ser analisados conforme manutenção.
Tabela 11. E 2727/2010 - Standard Practice for Assessment of Rainwater Quality (Estados Unidos da América)
Parâmetros
Valores
Coliforme Fecal
Ausência em 100 mL
Cloro
Ausência em 100 mL
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
≥10 mg/L
Enterovírus
Ausência em 100 mL
pH
6.0 – 7.0
Sódio
Ausência em 100 mL
Unidade de Turbidez Nefelometria
≥2 UTN
Fonte: E 2727/2010
Um fator interessante na norma para qualidade pluvial (E2727/2010) é consideração de alguns fatores antes da escolha
do uso do aproveitamento pluvial. Assim como a consideração da água da chuva como não contaminada até que entre em
contado com alguma superfície de captação e considera que o usuário utilizara um sistema pronto e neste caso a manutenção
dependerá das recomendações do fabricante. E uma restrição da norma é que o sistema deve conter uma telha para não
contaminação do sistema de 8 mm com folhas e outra de 1mm para insetos, assim como um filtro para eliminação dos
primeiros milímetros de chuva. E também os parâmetros mínimos que devem ser atendidos como mostra a tabela 11.
O guia australiano sobre aproveitamento de água pluvial (Guidance on use Rainwater tanks – 2010) não relata os índices
de qualidade pluvial necessários para o uso seguro, mas mostra algumas diretrizes que podem contribuir para um bom
funcionamento do sistema.
Segundo este guia testes de qualidade da água tanto químico como microbiológico nos reservatórios de água pluvial não
são necessários para uso residencial, mas a água da chuva usada para qualquer fim comercial ou para fins de abastecimento
comunitário necessitará de analise de amostras. E neste caso, quando forem realizados os testes o guia indica que sejam
comparados com o Guia: Australian Drinking Water Guidelines (ADWG).
O guia de ADWG é organizado em possíveis fontes de água para uso potável e quando se refere à água pluvial considera
como pequenos sistemas de abastecimento. E consideram os sistemas de descartam os primeiros milímetros de chuva
seguros, quando usados para água não potável.
“Os sistemas de água da chuva, particularmente aqueles que envolvem o armazenamento em tanques acima do solo, em
geral, proporcionam uma fonte segura de água. As principais fontes de contaminação são aves, pequenos animais e detritos
recolhidos em telhados. O impacto destas fontes pode ser minimizado por algumas medidas simples: limpeza regular das
calhas, retirada de galhos, uso de peneiras na tubulação e na entrada dos tanques. Assim como descartar o primeiros 20-25
litros de precipitação.”
Outro ponto interessante deste guia sobre a qualidade pluvial, ele indica que não se utilize a água bruta, pois não atende
as condições mínimas de uso seguro, e como alternativa, uma família em particular, deve considerar que a água deve ser
testada para quaisquer características essenciais de saúde identificados como sendo de interesse local. E indica que se utilize
um dispositivo nos pontos de consumo. E sugere que por fim utilize os parâmetros e índices do Water Quality Research
Australia (Tabela 17).
Tabela 16. S.I. nº 278 – Statutory Instruments – European Communities (drinking water) nº2 – Regulations 2007 (União
Européia)
PARÂMETROS
Valores
Amônia
0,28 mg/L
Cádmio Total
50 μg/L
Cálcio
Ausente
Chumbo Total
10 μg/L **
Cloro
250 mg/L
Ferro Total
200 μg/L
Nitrato
50 mg/L
Nitrito
0,50 mg/L
pH
6,5 – 9,5
Sódio
200 mg/L
Sulfato
250 mg/ L
Turbidez
NAC & ATC *
Fonte: S.I. 278/2007
Tabela 17. Australian Drinking Water Guidelines (WQRA – Water Quality research Australia).
PARÂMETROS
Valores
pH
6,5 – 8,5
STD (Sólidos Totais Dissolvidos)
500/1000 mg/L e 1800 mg/L(1)
Turbidez
1 NTU
Cloro
0,50 a 2,00 mg/L
Dureza
60 mg/L a 200 mg/L
Fluoreto
0,7 a 1,0 mg/L
Arsênico
Chumbo
Urânio
Ferro
< 0,007 mg/L
< 0,005 mg/L a 0,01 mg/L
< 0,02 mg/L
< 0,3 mg/L
Nitrato
Escherichia Coli (E. Coli)
Fonte: WQDA / 2011
50 mg/L a 100 mg/L(2)
Não detectável em 100 ml
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos dessa pesquisa mostram os dados referentes a dados coletados de referencias bibliográficos
encontrados e uma comparação dos parâmetros encontrados nas diferentes análises desses mesmos trabalhos, que se
diferenciam pelos pontos onde foram coletas essas amostras e sobre quais legislações foram usados para comparar os dados
obtidos com os limites propostos por essas mesmas legislações.
1.1. Trabalhos Estudados
Foram estudados dois trabalhos internacionais sobre qualidade da água pluvial. O objetivo foi selecionar artigos que
analisassem a qualidade da água em pontos diferentes da captação, mas em um dos trabalhos em que isso seria possível, por
alguma razão os autores não analisaram a qualidade nos pontos de uso, o que seria um resultado interessante, pois após
captação foram usados dois tratamentos. Os estudos avaliados foram:
Pilot Rainwater Harvesting Study Ireland (Liam McCarton, Sean O'Hogain, Anna Reid, Niamh McIntyre e Jenny Pender) –
2009;
Water quality monitoring and hydraulic evaluation of a household roof runoff harvesting system in France (C. Vialle & C.
Sablayrolles & M. Lovera & M.-C. Huau &S. Jacob & M. Montrejaud-Vignoles) – 2012.
No quadro abaixo caracterizasse os pontos mais importantes sobre cada artigo.
Tipo de Captação
Parâmetros
método de análise
frequência
de tratamento
após
análise
captação
1
Captação modelo um Físico, químico e INAB (2)
Mensal
Tratamento um (3)
(1)
biológico.
2
Captação modelo dois Físico, químico e VWR (5)
Semanal
Tratamento dois (6)
(4)
biológico.
Notas:
(1) Telha de barro vitrificada (área de captação 75m²), calhas de plástico, sem descarte da primeira água, filtro subterrâneo e reservatório
de concreto pré-moldado de 9 m³.
(2) Irish National Accreditation Body (laboratório)
(3) Filtro junto com a bomba para água fria e um tratamento experimental para tratamento dos agentes microbiológicos com aquecimento
da água, para testar a possibilidade da água da chuva para as instalações de água quente.
(4) Área de captação de telhas (204 m²) sistema comercial, calhas de zinco, filtro, reservatório subterrâneo (5m³),filtro de 25μm, filtro de
carvão ativado e tratamento de água com radiação UV, dados de qualidade sem tratamento.
(5) Standard solutions CertiPUR.
(6) Filtro de carvão ativado e tratamento com radiação UV.
Foram estudados também cinco trabalhos nacionais sobre qualidade da água pluvial. O objetivo foi selecionar
artigos/dissertações/teses que analisassem a qualidade da água em pontos diferentes da captação, desde os diferentes tipos de
telhados até tratamentos da água, análise nos pontos de consumo. Os estudos avaliados foram:
1. Qualidade da água proveniente da chuva coletada em diferentes tipos de telhados (Zerbinatti, Oberdan
Everton et. al.) – 2011.
2. Diretrizes para o gerenciamento da água pluvial nas edificações escolares municipais da cidade de
Ribeirão Preto (André Teixeira Hernandes) – 2006.
3. Avaliação da qualidade de água da chuva e da viabilidade de sua captação e uso (Sabrina Elicker
Hagemann) – 2009.
4. Caracterização, tratamento e reuso de águas cinzas e aproveitamento de águas pluviais em edificações
(Simone May) – 2009
5. Avaliação do aproveitamento de água pluvial em complexos aeroportuários (Ronan Fernandes Moreira) –
2011.
No quadro abaixo caracterizasse os pontos mais importantes sobre cada trabalho.
MÉTODO
FREQUÊNCIA DE TRATAMENTO
TIPO DE CAPTAÇÃO PARÂMETROS
DE
ANÁLISE
APÓS CAPTAÇÃO
ANÁLISE
Diferentes tipos de telhas
1 (1)
Físico e químico
Um evento
2
3
4
1
Protótipo (2)
Físico, químico
biológico.
Dois pontos de coleta
Físico, químico
com três tipos de
biológico.
captação (3)
Físico, químico
Modelo um (4)
biológico.
Físico, químico
Modelo dois (6)
biológico.
e
-
e Vários
USEPA (7)
e
e
Quinzenal
-
+ Ocorrência
precipitação
de
-
Ocorrência
precipitação
de
Tratamento 1 (5)
USEPA (7)
9 amostras em um ano
Tratamento 2 (8)
-
(1)
Telha de barro nova, telha de barro velha, telha de fibrocimento e água captada direto da chuva.
(2)
Dispositivo de descarte, cisterna e ponto de consumo (sem tratamento) e também água precipitada.
(3)
Ponto 1 (Rodovia RST 287): captação com reservatório de fibrocimento e captação através de telhas de fibrocimento, calhas de
zinco e cinco reservatórios de concreto de 80 litros cada.
Ponto 2 captação com telhado de cimento amianto e reservatórios de fibras de vidro (cinco com 88 litros cada.
(4)
Sistema de captação: telhado de 82 m² peneira, tanque de armazenamento (2 de 500 litros) de polietileno e amortecedor de
ondulações.
(5)
Filtro de areia rápido de pressão com escoamento ascendente e desinfecção com hipoclorito de sódio.
(6)
UPC (Unidade Piloto de Caracterização) captação através de telhado (150 m² - não descrito o material), com dois reservatórios
de 500 litros, um de descarte e outro de armazenamento.
(7)
Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater.
(8)
UPT (Unidade Piloto de Tratamento), captação com 150 m² (telhado – não descrito o material da cobertura), dois reservatórios
de 3.000 litros (R1 e R2), dois filtros lentos (F1 e F2), uma unidade de desinfecção, um reservatório de armazenamento de 1.000 litros
(R3) e dois reservatórios de distribuição de 5.000 litros (R4 e R5).
Os quadros em anexo apresentam alguns indicadores, parâmetros físicos, químicos e biológicos, de estudos sobre
qualidade ida água e seus respectivos valores. Assim como para comparação os índices permitidos por algumas normas e
guias internacionais. O que pode se notar é a diferença da qualidade dependendo do local, ponto do sistema em que a água foi
coletada.
Como foram coletados dados de algumas dissertações e teses e como em cada um contém análise da
qualidade da água da chuva em várias etapas do processo de captação, a comparação dos parâmetros será feita através dos
quadros em anexo. No item 3.5 - Marcos legais sobre aproveitamento pluvial e qualidade da água foram apontados algumas
referências internacionais de normas sobre aproveitamento de água da chuva, somente algumas possuem índices de qualidade
da água para uso não potáveis. Nesse contexto, através dos trabalhos estudados, primeiramente os parâmetros serão
comparados com as normas que atribuem índices para usos não potáveis e posteriormente para as que atribuem à água pluvial
para usos potáveis, no caso de dos trabalhos que utilizaram tratamento após a captação.
Outra característica é a presença de E. coli na água antes de entrar em contato com alguma superfície. Apesar de
algumas normas serem um pouco mais restritivas sobre este parâmetro, ela atenderia a BS 8215 em relação ao uso em de
descargas e irrigação de jardins com mangueiras, se fosse possível à água não entrar em contato com nenhuma superfície
contaminada.
O trabalho de Hagemann objetivava o estudo da água bruta sem passar por nenhum tipo de tratamento para avaliar a
qualidade inicial da água pluvial. E para todos os parâmetros analisados no trabalho dela, nenhum atendeu os índices
recomendados por norma ou mesmo pelos guias de boas práticas. O que confirma a impossibilidade do uso da água pluvial
sem qualquer tipo de intervenção, pois poderá causar tanto risco para saúde dos usuários como degradação de algumas partes
do sistema de aproveitamento ao longo do período de uso.
Um parâmetro interessante que se pode observar é a turbidez da tabela 16 que representa o grau de alteração à
passagem da luz através da água. Os sólidos suspensos são os principais responsáveis pela turbidez causando difusão e a
absorção da luz. Valores elevados podem reduzir a ação do cloro em processos de desinfecção e servir de abrigo para
microrganismos. Neste caso, se a intenção é o uso seguro da água pluvial, assim como a não deterioração dos equipamentos,
faz-se necessário a instalação de algum tipo de tratamento. Como foi relatado no Capítulo 3, subitem 3.5 através do guia
produzido pela Texas Water Development Board (Rainwater Harvesting potencial and Guidelines for Texas, 2006), que
alguns dispositivos são indispensáveis, como grelhas, filtros, descarte da primeira chuva, etc.
Outra característica importante que pode se perceber de um dos componentes do sistema de aproveitamento é a
superfície de captação, que pode alterar os valores dos parâmetros de qualidade da água, no estudo de Zerbinatti, que
comparou três superfícies de captação distintas, telhas de barro novo, telhas de barro antigas e telhas de fibrocimento. Nos
parâmetros de condutividade, pH, OD e turbidez os índices das telhas de barro antigas apontaram os maiores valores, 49,37
μS/cm, 6,0, 9,92 mg O2/L e 41,97 NTU (ultrapassa significativamente os valores estipulados por norma), respectivamente.
Neste estudo (Zerbinatti) foram descartados os primeiros dez minutos de precipitação, o que ocasionou uma redução dos
sólidos totais comparados com o trabalho de Hagemann que não descartou os primeiros milímetros de chuva. Em Zerbinatti,
para as coberturas de barro novo, barro antigo e fibrocimento o valores de sólidos totais foram de respectivamente, 14 mg/L,
26,40 mg/L e 27,48 mg/L. Já na dissertação da Hagermann, foram coletadas amostras em dois pontos distintos em Santa
Maria, um perto da rodovia (VCF - escola) e outro dentro do campus da Universidade (UFSM), os valores de sólidos totais
obtidos foram 89,25 mg/L e 82,40 mg/L, respectivamente. Infelizmente, só foi citado no presente trabalho índice de sólidos
totais para água potável, mas mesmo assim é possível perceber a importância do descarte da primeira chuva. Como relata a
própria autora os sólidos são todas as impurezas presentes na água.
Destacando através desses dados que a escolha dos elementos do sistema de aproveitamento são necessários, como a
superfície de captação, assim como um dispositivo que descarte os primeiros milímetros de chuva. Outro parâmetro que pode
comprovar esta afirmação é a condutividade (capacidade da água de transmitir corrente elétrica, os sólidos dissolvidos são os
constituintes responsáveis). No trabalho da Hagemann, os valores são de 105,30 μS/cm e 80,40 μS/cm para VCF e UFSM,
bem acima dos apresentados por Zerbinatti.
Em outro ponto do sistema, o reservatório de acumulação, há vários estudos citados na tabela dos ANEXOS 05 e 06,
somente sobre análise da qualidade da água neste ponto do sistema. Através deles podemos observar que mesmo o
reservatório de acumulação sendo considerado uma parte do tratamento, devido sua função de sedimentação, alguns trabalhos
apontam que alguns índices não foram atingidos, como cor Aparente, 3,13 uH (André), 25,20 uH (May), 8,70 uH (Adhtiyan)
e 37,10 uH (Philippi), sendo o valor máximo para cor aparente é de 15 uH, das normas consultadas.
Outro parâmetro que isso pode ser observado pH, como citado no trabalho de Hagemann representa a concentração
de íons hidrogênio H+ (em escala antilogarítmica). Os sólidos dissolvidos e gases dissolvidos são os principais constituintes
que alteram o pH. Sua faixa de variação é de 0 a 14. O valor do pH indica a condição de acidez ou alcalinidade da água.
Valores baixos de pH (menores que 7) no pH indicam potencial corrosividade e agressividade da água, o que pode levar à
deterioração das tubulações e peças por onde essa água passa. Valores elevados de pH podem levar ao surgimento de
incrustações em tubulações. Os parâmetros encontrados foram 7,78 (André), 6,70 (May), 4,50 (Paiva), 5,20 (Rocha), 4,7
(Rocha), 4,1 (Adhityan), 4,1 (Appan), 7,7 (Fonini) e 7,9 (Philippi), sendo que os valores minimios e máximos variam entre
5,0 a 9,0 (BS8215).
Já a turbidez para os trabalhos descritos na tabela tiveram valores satisfatórios comprovando a eficiência do
reservatório de acumulação na sedimentação dos sólidos suspensos.
O que não ocorreu para coliformes termotolerantes em alguns estudos que este parâmetro foi medido no reservatório
de acumulação, segundo a NBR 15527 e E 2727, em cada 100 ml analisados não pode se encontrar nenhum núcleo do
microrganismo, o que não ocorreu em alguns trabalhos, como May que encontrou a presença de coliformes termotolerantes,
217 NMP/100 ml (C. Vialle), 96 NMP/100 ml (McCarton), 92 NMP/100 ml (Adhityan), 7,80 NMP/100 ml (Appan) e 23,90
NMP/100 ml (Philippi).
Como ultima parte do sistema de aproveitamento pluvial se constatou que para os dois trabalhos que realizaram
tratamento após o reservatório de acumulação, May e Ronan, todos os parâmetros comparados com as normas e guias
existentes foram satisfatórios.
Através de todos os parâmetros encontrados em normas e com a comparação entre todos esses estudos sobre qualidade da
água pluvial apresentados neste trabalho, provou-se que com a instalação de certo tipo de sistema é possível ter uma água de
qualidade para usos não potáveis, no uso descargas sanitárias, irrigação de jardins e lavagem de automóveis. Acredito com os
parâmetros descritos abaixo, assim como a periodicidade e manutenção adequada se pode utilizar a água da chuva para fins
menos nobres e gerar uma economia da água potável.
Parâmetros
Valores
Valores
Análise
Amônia
Rega de Jardins e Carros
Descargas
Semestral
Bromo residual
< 2,00 mg/L
< 2,00 mg/L
Semestral
Col. termotolerantes
Ausência em 100 ml
Ausência em 100 ml
Semestral
Coliformes totais
Ausência em 100 ml
10 NFU/100 ml
Semestral
Cloro residual livre
< 0,50 mg/
< 2,00 mg/L
Anual
Cor Aparente
< 15,00 uH
< 15,00 uH
Anual
DBO
≥10 mg/L
≥10 mg/L
Semestral
Enterovírus
Ausência em 100 mL
Ausência em 100 mL
Semestral
E. coli
1 NFU/100 ml
250 NFU/100 ml
Semestral
OD no reservatório
> 1,0 mg/L O2
> 1,0 mg/L O2
Semestral
pH
6,00 a 9,00
6,00 a 9,00
Anual
Sódio
Ausência em 100 mL
Ausência em 100 mL
Semestral
Sólidos Suspensos
Visualmente clara
Visualmente clara
Semestral
Turbidez
<5,0 NTU*
<2,0 NTU*
Anual
*Para desinfecção com cloro, < 1 NTU para desinfecção com UV.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio dos estudos dos artigos, dissertações e teses estudados neste trabalho, foram identificados vários
pontos do sistema de aproveitamento pluvial para análise dos parâmetros que qualidade da água. Considerando alguns
parâmetros em comum citados na revisão, os únicos trabalhos que atenderam tanto a NBR 15527 assim como E 2727 e os
guias BS 8215 e RWQG (Rain Water Quality Guidelines) foram o que usaram filtros para retirada de materiais grosseiros,
filtro para materiais finos, descarte da primeira água da chuva, reservatório de acumulação e filtro de areia e desinfecção com
cloro, mostrando que é possível a utilização do sistema de aproveitamento pluvial dentro da edificação para fins menos
nobres que não o uso potável se tomarmos como referência os parâmetros prescritos das normas e legislações aplicáveis.
Agradecimentos
Agradeço a Capes, ao PPEGCVI, do DECIV do UFSCar pelo apoio.
6. REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
BORGES, JOSÉ ALEXANDRE; PINHEIRO, ADILSON e FERRARI ADILVO. Captação e avaliação da água de chuva
para uso industrial. Disponível em: http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rea/article/view/726. Acesso em: 27 de setembro de
2012.
C. Vialle et. al. Water quality monitoring and hydraulic evaluation of a household roof runoff harvesting system in France.
Disponível em: http://rd.springer.com/article/10.1007/s11269-012-0012-6/fulltext.html. Acesso em: 02 de dezembro de 2012.
Hagemann, Sabrina Elicker. Avaliação da qualidade de água da chuva e da viabilidade de sua captação e uso. Disponível em:
http://w3.ufsm.br/ppgec/wp-content/uploads/Sabrina_Elicker_Hagemann_Disserta%C3%A7%C3%A3o_de_Mestrado.pdf.
Acesso em: 02 de dezembro de 2012.
Hernandes, André Teixeira. Diretrizes para o gerenciamento da água pluvial nas edificações escolares municipais da cidade
de Ribeirão Preto. Fonte:
May, SIMONE. Caracterização, tratamento e reuso de águas cinzas e aproveitamento de águas pluviais em edificações.
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3147/tde-17082009-082126/pt-br.php. Acesso em: 02 de
dezembro de 2012.
McCarton, Liam et. al. Pilot Rainwater Harvesting Study Ireland. Disponível em: http://arrow.dit.ie/engschcivcon/27/.
Acesso em: 02 de dezembro de 2012.
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