ATLETISMO
09/03/2014 07h30 - Atualizado em 09/03/2014 09h59
Das lesões ao ouro: os cinco passos
de Duda na conquista do bi
mundial
Determinado a chegar entre os primeiros em Sopot, saltador passou por via
crúcis nos últimos três meses, quando chegou a perder festas de fim de ano
por causa de lesão
Por Flávio DilascioDireto de Sopot, Polônia
O bicampeonato mundial de atletismo em pista coberta não veio por acaso. Desde o
ano passado, Mauro Vinícius da Silva, o Duda, vinha se preparando para estar em
condições de brigar pelo lugar mais alto do pódio da prova do salto em distância em
Sopot, na Polônia. Neste sábado, a consagração veio com um salto de 8,28m na última
tentativa. A marca garantiu o histórico título brasileiro e coroou uma via crúcis, que se
arrastava por mais de três meses. Do controle do técnico Aristides Junqueira, ao
sacrifício de deixar de participar de festividades de fim de ano, Duda teve a
recompensa com a medalha mais valiosa do esporte.
- Cheguei na Polônia saltando não tão bem. Na final, acreditei até o último momento.
A única coisa que eu mudei no último salto foi tentar subir um pouco mais. Agora
tenho mais um compromisso que são os Jogos Sul-Americanos do Chile. Como o
atletismo é ano após ano, ainda está cedo para começar a trabalhar para os Jogos
Olímpicos. O que podemos fazer é continuar lutando para manter essa eficiência até lá
– disse Duda, demonstrando a habitual humildade.
Duda
comemora o bimundial em pista coberta abraçado à bandeira do Brasil (Foto: Reuters)
01 SEM RECESSO E FESTAS DE FIM DE ANO
A saga do saltador começou em dezembro do ano passado. Após sofrer lesão no pé, o
atleta ficou 10 dias afastado dos treinamentos. A única opção para estar apto a realizar
todo o cronograma planejado até o Mundial de Sopot era intensificar o tratamento nas
semanas finais de dezembro. Com isso Duda, teve de sacrificar as festas de fim de ano.
Exceção feita ao dia 1º de janeiro, quando teve folga, o bicampeão mundial trabalhou
todo o período de festividades, no qual a maioria dos atletas costuma ter um recesso
para ficar com a família. Mauro Vinicius se tratou no Centro Esportivo Eldorado, em
São José do Rio Preto (SP).
02 MARCAÇÃO CERRADA DO TREINADOR
Terminado o período de tratamento de lesão e fisioterapia, Duda passou a receber
“marcação cerrada” do seu treinador. Exigente e perfeccionista, Aristides Junqueira, o
Tide, acompanhou o atleta em quase todos os seus momentos nos últimos dois meses.
Zeloso pelos cuidados físicos de Duda, Tide fez de tudo para que o saltador não se
desgastasse em viagens e nos poucos eventos sociais que participou no período. Na
véspera da abertura do Mundial de Sopot, Tide chegou a pedir para Duda ficar sentado
em um dos cantos da Ergo Arena, enquanto a maioria dos atletas caminhava pela
pista, fazendo um reconhecimento do local onde iriam competir.
- Ele já salta amanhã. Não pode se desgastar – explicou Tide, na última sexta-feira.
Após o título, o atleta reconheceu a importância do treinador na trajetória rumo ao
segundo título mundial.
- Ele é a pessoa que me prepara, então, se não fosse ele, eu não teria ganho. Como eu
fiz a minha parte, é 50% para cada um, mas ele é muito importante – afirmou Mauro
Vinicius da Silva, na coletiva de imprensa após a final do salto em distância.
Duda (D) ao lado do supervisor de alto rendimento da CBAt, Mauro e Antônio Carlos Gomes (Foto: Flávio Dilascio)
03 COMPETIÇÕES PARA READQUIRIR A FORMA
Duda está fora do Brasil desde o início de fevereiro, quando viajou para Portugal para
realizar período de treinamentos no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Lisboa.
De lá, ele foi para Birmingam, no Reino Unido, onde disputou o GP local, um dos mais
prestigiados pela Federação Internacional de Atletismo (IAAF). Em seguida, Mauro
voltou para Portugal para saltar no Nacional de Clubes, em Pombal. As marcas obtidas
nos dois eventos foram baixas (7.89m e 7,98m) se comparadas ao seus melhores
números. Contudo, o objetivo maior da comissão técnica do saltador era que ele
usasse os dois eventos para readquirir sua melhor forma física ou aproximar-se dela.
- No fim do ano passado e início desse ano, perdi treinos de musculação e velocidade.
Tudo isso foi somando para que eu voltasse abaixo da minha forma ideal. Corri atrás
nessas competições na Inglaterra e em Portugal e vim para a Polônia praticamente na
minha forma ideal – contou Duda, antes do Mundial.
04 RECUPERAÇÃO DA CONFIANÇA
Uma das metas traçadas por Mauro e sua comissão técnica foi recuperar a confiança
para saltar bem no Mundial. O atleta sabia que não vivia um bom momento e que a
pressão por bons resultados em Sopot era enorme. Para resgatar a autoestima, Duda
convenceu-se que era necessário voltar a saltar acima de 8,00m para mostrar que o
campeão mundial de 2012 estava mais vivo do que nunca. O salto que resgatou a
confiança aconteceu na sua última tentativa na fase eliminatória do Mundial. Com um
8,02m, Duda se credenciava para chegar forte na disputa pelo título, neste sábado.
- A confiança é tudo. É incrível como um atleta confiante adquire uma força
imaginável. A técnica aparece, a dor não aparece. Isso é o máximo em provas como a
minha – destacou o bicampeão mundial.
Duda consegue seu maior salto na última tentativa da final (Foto: Reuters)
05 RESPEITO
A comissão técnica de Duda sempre trabalhou o atleta como possível ganhador de
títulos expressivos no atletismo. Mesmo havendo desconfiança por parte da crítica
especializada pelo fato de o título mundial de 2012, em Istambul, ter sido conquistado
sem a presença de alguns dos maiores nomes do salto em distância, Duda recebeu
toda a preparação digna de um campeão. O saltador foi o primeiro atleta a chegar a
Sopot. Na cidade polonesa, treinou forte quase todos os dias, utilizando a estrutura da
Universidade AWK, em Gdansk, próximo ao hotel onde ficou concentrada a delegação
brasileira. Todo o planejamento traçado acabou levando o atleta a desenvolver o seu
máximo potencial na final.
- Não sei o que muda na minha vida com o bicampeonato. Só sei que tenho que focar
em novas preparações para me manter bem. Agora eu posso ser pelo menos mais um
pouco respeitado pelos atletas e pessoas que acompanham o atletismo – comentou
Duda.
Duda voa e garante o bicampeonato mundial em pista coberta em Sopot, na Polônia (Foto: AFP)
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