Integração ou Inclusão? Conceitos básicos para usar este manual1 Cláudia Werneck No dicionário, os verbos “incluir” e “integrar” têm um significado muito parecido: “ser inserido”, “incorporar-se” ou “fazer parte”. Entretanto, quando representam movimentos internacionais, inclusão e integração são palavras que representam crenças totalmente distintas, embora encerrem a mesma idéia, ou seja, a inserção de pessoas com deficiência na sociedade. Os mal-entendidos na abordagem da mídia sobre o tema começam justamente aí. A maioria das matérias usa o termo inclusão, mas fala de integração. As considerações dos universitários, no próximo capítulo, apontam a distância que existe entre essas duas concepções. Para se beneficiar deste manual será preciso entender a diferença entre inclusão e integração, conceitos amplamente estudados durante o 1º Encontro da Mídia Legal – Universitários pela Inclusão. Algumas dúvidas certamente surgirão, mas serão melhor esclarecidas no decorrer do manual que traz muitos exemplos. 1 WERNECK, Cláudia. Integração ou Inclusão? Conceitos básicos para usar este manual. Em: Manual da mídia legal 1: jornalistas e publicitários mais qualificados para abordar o tema inclusão de pessoas com deficiência na sociedade. – Rio de Janeiro: WVA, 2002, páginas 16 a 17. PRINCIPAIS DIFERENÇAS: INCLUSÃO INTEGRAÇÃO Inserção total e incondicional Inserção parcial e condicional (crianças “se (crianças com deficiência não preparam” em escolas ou classes especiais precisam “se preparar” para ir à para estar em escolas ou classes regulares). escola regular). Exige rupturas nos sistemas Pede concessões aos sistemas. Mudanças que beneficiam toda e Mudanças visando prioritariamente a pessoas qualquer pessoa (não se sabe com deficiência (consolida a idéia de que elas quem “ganha” mais; TODAS “ganham” mais). ganham). Exige transformações profundas. Contenta-se com transformações superficiais. Sociedade se adapta para atender Pessoas com deficiência se adaptam às às necessidades das pessoas com necessidades dos modelos que já existem na deficiência e, com isso, se torna sociedade, que faz apenas ajustes. mais atenta às necessidades de TODOS. Defende o direito de TODAS as Defende o direito de pessoas com deficiência. pessoas, com e sem deficiência. Traz para dentro dos sistemas os Insere nos sistemas os grupos de “excluídos grupos de “excluídos” e, que provarem estar aptos” (sob este aspecto, paralelamente, transforma esses as cotas podem ser questionadas como sistemas para que se tornem de promotoras da inclusão). qualidade para TODOS. O adjetivo inclusivo é usado O adjetivo integrador é usado quando se busca quando se busca qualidade para qualidade nas estruturas que atendem apenas TODAS as pessoas com e sem as pessoas com deficiência consideradas aptas deficiência (escola inclusiva, (escola integradora, empresa integradora etc). trabalho inclusivo, lazer inclusivo etc). Valoriza a individualidade de Como reflexo de um pensamento integrador pessoas com deficiência (pessoas podemos citar a tendência a tratar pessoas com deficiência podem ou não ser com deficiência como um bloco homogêneo bons funcionários; podem ou não (ex: surdos se concentram melhor; cegos são ser carinhosos etc). excelentes massagistas). Não quer disfarçar as limitações, Tende a disfarçar as limitações para aumentar porque elas são reais. a possibilidade de inserção. Não se caracteriza apenas pela A presença de pessoas com e sem deficiência presença de pessoas com e sem no mesmo ambiente tende a ser suficiente deficiência em um mesmo para o uso do adjetivo integrador. ambiente. A partir da certeza de que TODOS Incentiva pessoas com deficiência a seguir somos diferentes, não existem “os modelos, não valorizando, por exemplo, outras especiais”, “os normais”, “os formas de comunicação como a Libras. excepcionais”, o que existe são Seríamos um bloco majoritário e homogêneo pessoas com deficiência. de pessoas sem deficiência rodeado pelas que apresentam diferenças.