Percepção Dos Atores Quanto Às Práticas De Cooperação Existentes No Contexto De
Um APL De TI
Autoria: Cecilia Alves da Silva Antero, Bruno Tavares, Afonso Augusto Teixeira de Freitas de Carvalho Lima,
João Paulo de Oliveira Louzano, Carla Cristina da Silva
RESUMO
O presente trabalho analisou as práticas de cooperação existentes no APL de TI de Juiz de
Fora – MG, por meio da percepção de seus atores e com base nos critérios de concessão de
benefícios definidos pela Política Estadual de Apoio aos APLs. Os dados foram coletados por
meio de entrevista estruturada e analisados com suporte do software NVIVO®, utilizando-se
da técnica de análise de conteúdo. A pesquisa mostrou que a cooperação no referido APL é
classificada como incipiente, pois ocorre de forma desarticulada e frágil, em ações pontuais
relacionadas a recursos humanos e networking.
Palavras chave: Ação conjunta, Ação voluntária e consciente, Compartilhando de recursos,
Objetivos comuns, Sinergia.
1 1. INTRODUÇÃO
Ao desenvolver suas atividades os atores de um arranjo produtivo local (APL)
estabelecem formas de contato e interação. Destes contatos se originam distintas formas de
relacionamento que podem ser constituídos por interesses, objetivos, afinidades, e
complementaridade (CASSIOLATO; LASTRES, 2001).
Estes atores buscam essencialmente a interdependência, as articulações e os vínculos
consistentes para proporcionar maior interação, cooperação e aprendizagem possibilitando
inovações de produtos, processos e formatos organizacionais para o aumento da
competitividade (ALMEIDA; ALBINO, 2011; CASSIOLATTO; SZAPIRO, 2002).
O relacionamento entre atores de um APL consiste numa construção social específica
(CAMPOS et al., 2009) cujas características manifestam-se via articulações formais e
informais (SUZIGAN et al., 2004) sendo condicionado por uma série de fatores inerentes ao
APL.
Dentre os fatores condicionantes do relacionamento destaca-se a cooperação, uma
troca formal e informal de informações (ALMEIDA; ALBINO, 2011) implementada com
objetivo de obter melhor desempenho. A cooperação tem como foco a competitividade do
APL, dado seu importante papel na promoção de vantagens competitivas (SANTOS el al.,
2004).
Apesar das contribuições e vantagens possíveis de serem obtidas por meio da
cooperação, a mesma ainda tem se mostrado incipiente em alguns APLs (MAIA, 2011)
demonstrando a necessidade de mecanismos e políticas que a promovam (RAMIREZRANGEL, 2001).
Acredita-se que, no estado de Minas Gerais, esta incipiência pode ser minimizada pela
política de apoio aos APLs, pois a mesma apresenta em um de seus objetivos a intenção de
consolidar a atuação das pequenas e médias empresas locais mediante a cooperação mútua e
com instituições públicas de pesquisa. Destaca-se entretanto, que tal política ainda não
comtempla todos os APLs mineiros, sendo necessários critérios para a definição de possíveis
beneficiários. A identificação de governanças mais sólidas por meio do nível de cooperação
no APL consiste em um dos critérios de concessão de benefícios desta política. Neste
contexto pretende-se analisar as práticas de cooperação existentes no APL de tecnologia da
informação (TI) de Juiz de Fora - MG por meio da percepção de seus atores e com base nos
critérios de concessão de benefícios definidos pela Política Estadual de Apoio aos APLs; de
forma especifica: i) apresentar a Política Estadual de Apoio aos APLs e seus critérios de
concessão de benefícios; ii) identificar dentre os atores do APL de TI de Juiz de Fora – MG
práticas que contribuem para o desenvolvimento da cooperação; e iii) analisar o nível de
cooperação a partir da percepção dos atores do APL.
Além desta seção, este estudo compreende mais quatro seções. Na segunda seção
serão apresentadas as fundamentações teóricas que possibilitaram a compreensão de APL e
Cooperação. Os procedimentos metodológicos que determinaram os caminhos seguidos para
a realização do estudo serão expostos na terceira seção. Em seguida na quarta seção serão
apresentados, analisados e interpretados os dados obtidos na pesquisa; cujas considerações
finais comporão a quinta seção.
2. COOPERAÇÃO EM APL
Muitos estudos já foram desenvolvidos com objetivo de compreender as aglomerações
de empresas (MARSHALL, 1982; SCHMITZ, 1997; PORTER, 1998). A importância da
aglomeração centra-se na possibilidade de crescimento, desenvolvimento regional e
2 empresarial a partir de ganhos provenientes da concentração espacial e setorial e pela ação
conjunta (PEREIRA et al., 2011).
Na literatura diferentes denominações são identificadas quanto à aglomeração de
empresas. Dentre as mais comuns destacam-se: i) distrito industrial: uma proposição de
Marshall (1982) que enfatiza a possibilidade de obtenção de ganhos pelos produtores; ii)
cluster: termo utilizado Schmitz (1997) e Porter (1998) que evidenciam além das empresas, a
presença de clientes e fornecedores e concorrentes; iii) milieux innovateur: nomenclatura
proposta pelo Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateur (GREMI) que se
dedica a investigar as externalidade tecnológicas; e APL: uma proposição de Lastres e
Cassiolato (2003) que enfatizam o compartilhamento de objetivos entre atores econômicos,
políticos e sociais e a manutenção de vínculos.
Acredita-se, a exemplo de Hasenclever e Zissimos (2006), que as diferentes formas de
nomear uma aglomeração de empresas são reflexo de questões que envolvem o entendimento
do autor, a época e o contexto estudado. Entende-se que são utilizados termos diferentes para
falar de um mesmo assumo. Adota-se a nomenclatura de APL para designar a aglomeração de
empresas aqui investigada.
Dentre os conceitos existentes, considerando a citação por autores (ALMEIDA;
ALBINO,2011; AZEVEDO FILHO; RIBEIRO, 2011; SANTOS; CANDIDO, 2013), destacase a proposição de Lastres e Cassiolato (2003, p. 3) que compreendem APL por
“aglomerações territoriais de atores econômicos, políticos e sociais com foco em um conjunto
específico de atividades econômicas que apresentam vínculos mesmo que incipientes”. Neste
estudo, a caracterização de um APL se baseia na identificação de quatro fatores: concentração
espacial e setorial, a existência de entidades de apoio, a obtenção de benefícios e
relacionamento entre atores.
A proposição de território apresentada por Lastres e Cassiolato (2003) no qual
expõem-no como um espaço para realização de atividades comerciais, financeiras, produtivas
e correlatas permite a compreensão do APL com base nas questões espacial e setorial. A
concentração espacial implica na presença de empresas em um mesmo espaço, e a setorial
permite identificar o tipo de atividade desempenhada pelas empresas em que se destacam
atividades diferentes porém correlatas e complementares.
As entidades de apoio são compreendidas por organizações públicas, privadas e não
governamentais comprometidas com o desenvolvimento de ações em prol do APL em que
destacam-se: governos, associações empresariais, instituições financeiras, instituições de
ensino e pesquisa (IEPs), instituições de suporte, instituições de serviços, instituições de
fomento, empresas de consultoria e de assistência técnica, órgãos públicos, organização
privadas e não governamentais, etc. (VILLELA; PINTO, 2009; AZEVEDO FILHO;
RIBEIRO, 2011; TAVARES, 2011).
A presença das empresas em um APL proporciona benefícios que podem ser obtidos
de forma passiva ou ativa. Os benefícios adquiridos de maneira passiva são um subproduto
incidental e não intencional de uma atividade (MARSHALL, 1982), ocorrem pela presença da
empresa no APL. São exemplos destes benefícios: especialização, maior dinamismo nos
mercados, geração de conhecimento, vínculos de interação, cooperação e aprendizagem
(CASSIOLATO; LASTRES, 2001; VALE, 2007; ALMEIDA; ALBINO, 2011).
Os benefícios adquiridos de maneira ativa representam a vantagem competitiva
derivada da ação conjunta (SCHMITZ, 1997), requerem ações propositais, exigindo um
esforço por parte dos membros do APL para fomentar seu desenvolvimento. Citam-se como
exemplos: promoção de capacitação e formação, criação de consórcios de exportação e de
centros tecnológicos, aumento da capacidade de inovação local (CASSIOLATO; LASTRES,
2001; SUZIGAN et al., 2003; CAMPOS et al., 2009).
3 O relacionamento entre atores é caracterizado pela existência ou não vínculos de
cooperação, interação e articulação; consistindo numa construção social específica (CAMPOS
et al., 2009) que ocorre via relacionamentos formais e informais (SUZIGAN et al., 2004)
condicionados por uma série de características inerentes ao APL e também pela participação e
a interação de empresas, entidades de apoio, clientes, fornecedores e concorrentes
(LASTRES; CASSIOLATO, 2003).
Merece destaque a cooperação entre atores como um dos principais
objetivos/benefícios do APL, por proporcionar competitividade, a geração de novos
empregos, o aumento na qualidade dos produtos e serviços e a consequente ampliação da
produtividade e da lucratividade das empresas, incentivando a atuação coletiva
(ZAMBANINI et al., 2012).
A cooperação é um conjunto de relações simétricas de poder entre empresas
(VERSCHOORE; BALESTRIN, 2008 apud WEGNER; PADULA, 2013) que emana da
necessidade da administração de recursos e informações (PIORE, 2001 apud MAIA, 2011).
Especificamente, em empresas de pequeno porte a cooperação tem importante papel de
assegurar sobrevivência e desenvolvimento equilibrado (MAIA, 2011).
A cooperação consiste no ato de realizar ações em conjunto em prol de objetivos
comuns. Os atores que cooperam realizam projetos ou tarefas em conjunto compartilhando
recursos (tecnológicos, materiais, financeiros, mercadológicos, dentre outros), bem como
esforços, informações e conhecimentos (GOBB, 2010).
A cooperação é reconhecida como uma estratégia ou ação de colaboração voluntária e
consciente desempenhada para ampliar capacidades, enfrentar concorrentes maiores e melhor
estruturados, e obter vantagens competitivas (CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001; MAIA,
2011); podendo também ser interpretada como a chave para a geração da sinergias por meio
de um objetivo comum compartilhado entre os atores que a executam; as quais fortalecem as
chances de sobrevivência, de crescimento e de competitividade no mercado (VENTURINI et
al., 2009; GOBB, 2010; AZEVEDO; RIBEIRO FILHO, 2011).
Na literatura a cooperação pode ser utilizada de diferentes formas, muitas vezes
apresenta-se como sinônimo de colaboração, parceria, aliança, cooperativismo, sendo
identificada pela existência de iniciativas, ações, atividades e projetos realizados em conjunto
entre as empresas, entre empresas e instituições, além de outras possíveis combinações entre
os atores presentes no APL (SEBRAE, 2003).
Mozzato (2010) destaca a existência de duas formas de cooperação: vertical e
horizontal. A vertical ocorre em segmentos produtivos diferenciados ao longo da cadeia
produtiva. Já a horizontal acontece em aglomerado espacial ou setorial num mesmo segmento
produtivo.
Segundo Roese e Gitahy (2003) em APLs a possibilidade da existência de cooperação
é ampliada devido à proximidade geográfica entre as organizações e à similaridade de
desafios e problemas enfrentados. Estes autores destacam que tal situação faz com que os
membros do APLs tenham maior interesse em desenvolver atividades de forma conjunta.
Apesar de todas as contribuições e vantagens apresentadas, a cooperação ainda tem se
mostrado incipiente em alguns APLs, este fato ocorre principalmente pela cultura de
competição existente entre as empresas que concorrem entre si na venda de produtos e
serviços similares (MAIA, 2011). Ramirez-Rangel (2001) enfatiza que esta cooperação
incipiente enseja uma maior participação do governo de modo a criar mecanismos e políticas
que promovam a cooperação entre os atores do APL.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4 Esta pesquisa se enquadra na abordagem qualitativa (COLLIS; HUSSEY 2005). Para
compreensão do tema central e alcance de objetivos, foram realizadas pesquisa bibliográfica,
por meio de artigos, para embasar teoricamente sobre APL e Cooperação, pesquisa descritiva
para descrever o fenômeno em estudo e possíveis relações entre os elementos que o compõe e
pesquisa documental para obtenção, compreensão e análise de documentos de fontes diversas
(GIL, 2002).
A coleta de dados qualitativos primários foi realizada, no APL de TI da cidade de Juiz
de Fora – MG, nos meses de junho a setembro de 2013, por meio de entrevista estruturada,
gravada e posteriormente transcrita para programa de editor de texto (RICHARDSON, 1999).
Os dados secundários qualitativos como leis, decretos e outros documentos relacionados a
instituição da política pública de apoio aos APLs foram coletados por meio da pesquisa
documental no site do governo de Minas Gerais.
A escolha da localidade fundamenta-se na análise dos dados da distribuição de
estabelecimentos e emprego na indústria, segundo a Relação Anual de Informações Sociais
(RAIS) ano base 2009.
Foram identificados 29 atores, no APL de TI da cidade de Juiz de Fora – MG, no
entendo foram entrevistados dez, tendo como justificativa de escolha a concordância dos
mesmos em participar da pesquisa. Dentre os atores do APL foram entrevistados as empresas
e as entidades de apoio. A importância das atores entrevistados é confirmada com base nos
dados expostos no quadro a seguir, que apresenta o cargo dos entrevistados e a atividade
principal desenvolvida pelo ator. Tratam-se de pessoas com posição estratégica e capacidade
de opinar sobre as práticas de cooperação implementadas no APL. Também nota-se que a
atividade do ator está diretamente relacionada ao APL investigado, sendo participante ativo,
interessado e envolvido com as questões que foram abordadas nesta pesquisa.
Código
Ator 1
Ator 2
Ator 3
Ator 4
Ator 5
Ator 6
Ator 7
Ator 8
Ator 9
Cargo
Diretor
Sócio diretor
Gerente de marketing
Sócio diretor
Diretor executivo
Coordenador da equipe de Juiz de Fora
Diretor
Responsável pelo setor de TI
Gestora de TI
Atividade do Ator
Desenvolvimento de software
Desenvolvimento de software
Desenvolvimento de software
Desenvolvimento de software
Desenvolvimento de software
Desenvolvimento de software
Desenvolvimento de software
Núcleo de informação tecnológica
Atendimento das micro e pequenas empresas
direcionados para inovação, empreendedorismo,
mercado e expansão de negócio.
Ator 10 Analista técnico
Desenvolvimento das pequenas empresas.
Quadro 1: Cargo dos participantes da entrevista e atividade dos atores pesquisados.
Fonte: Elaborado pelos autores para fins deste estudo.
O número de atores entrevistados não compromete o resultado deste estudo, pois
Bardin (2009) afirma que em pesquisas qualitativas o tamanho da amostra não é fator
determinante de confiabilidade, desde que sejam adotados critérios que confiram rigor
científico à mesma e que a amostragem seja justificada.
A análise de conteúdo foi a técnica de análise de dados utilizada, sendo efetivada com
suporte do software NVivo® em que foram implementadas as etapas de pré-análise,
codificação e inferência (BARDIN, 2009). A fase de interpretação foi realizada com base nos
preceitos de Laville e Dionne (1999). Neste estudo foi procedida a análise temática das
categorias de análise, com grade fechada, por meio da estratégias de análise e de interpretação
qualitativas de emparelhamento tendo a frase como categoria de análise e a palavra como
unidade de recorte de conteúdo.
5 Para analisar as práticas de cooperação existentes no APL de TI de Juiz de Fora - MG
por meio da percepção de seus atores e com base nos critérios de concessão de
benefícios definidos pela política estadual de apoio aos APLs foi determinada a categoria
Cooperação que permitiu identificar e selecionar nas falas dos entrevistados ponderações que
melhor contribuíram para realizar a fase de análise e interpretação, cujos resultados serão
apresentados na próxima seção.
4. APRESENTAÇÃO, ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
4.1. Critérios de concessão de benefícios definidos pela política estadual de apoio aos
APLs
Em relação ao apoio dispensado aos APLs no âmbito nacional destaca-se a Portaria
Interministerial nº 200 de 02/08/2004 que institui o Grupo de Trabalho Permanente para
Arranjos Produtivos Locais (GTP APL), com objetivo de elaborar e propor diretrizes gerais
para a atuação coordenada do governo no apoio aos APLs em todo o território nacional. O
GTP APL envolve 23 instituições governamentais e não-governamentais, é coordenado pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, por meio da CoordenaçãoGeral de Arranjos Produtivos Locais, órgão do Departamento de Competitividade Industrial
deste Ministério. Esta portaria fez com que os estados se mobilizassem para atender suas
determinações, principalmente quanto à criação de políticas públicas de apoio aos APLs.
No estado de Minas Gerais foram criadas leis e decretos, dentre os quais destacam-se:
Lei 16.296/2006, Decretos 44.359/2006, 44.757/2008, 44.972/2008, e 44.418/2006 lançado
oficialmente em 26/03/2008; em consonância com o Plano Mineiro de Desenvolvimento
Integrado (PMDI) 2007-2023 – projeto estruturador “Inovação, Tecnologia e Qualidade”;
Política de Fortalecimento Competitivo da Estrutura Produtiva de Minas Gerais, cujas
diretrizes atendem aos Planos Plurianuais de Ação Governamental (PPAG 2004-2007 e
PPAG 2008-2011), como um dos projetos estruturadores no capítulo “Fomento inovador ao
desenvolvimento econômico”.
A política pública de apoio aos APLs do estado de Minas Gerais, ratificada pela Lei
16.296/2006, foi criada para fortalecer as economias regionais por meio da integração e da
complementaridade das cadeias produtivas locais e da geração de processos permanentes de
cooperação, difusão e inovação.
As ações voltadas para os APLs estão concentradas na Superintendência de Arranjos
Produtivos Locais submetida à Subsecretaria de Indústria, Comércio e Serviços da Secretaria
de Estado de Desenvolvimento Econômico. Esta superintendência tem por finalidade elaborar
e supervisionar a execução de políticas de desenvolvimento da economia mineira, sendo
responsável pela identificação de APLs beneficiados pela política. São critérios de concessão
de benefícios adotados pela superintendência:
 a relevância da base empresarial, considerando número de empresas e de pessoas
empregadas;
 a participação do APL na economia da região;
 o nível de cooperação e colaboração entre as empresas do APL;
 perspectivas para o APL e as empresas da região;
 perspectivas de geração de empregos e empregos de qualidade.
Dentre os critérios acima expostos destaca-se a observação do nível de cooperação
existente entre os atores do APL, que determina como ocorre a governança nos mesmos por
acreditar que governanças mais sólidas com instituições convergentes potencializam os
6 resultados dos projetos. Este critério consiste no escopo de estudo deste trabalho cuja análise
será exposta a seguir.
4.2. Cooperação no APL de TI de Juiz de Fora - MG
Para conhecer a percepção dos atores do APL de TI de Juiz de Fora – MG foram
observadas as ponderações quanto à cooperação existente entre os mesmos. Dentre os atores
presentes no APL, neste estudo, foram entrevistadas as empresas e as entidades de apoio. Para
manter sigilo quanto às fontes de informação os participantes da pesquisa foram identificados
como: Ator 1, Ator 2, Ator 3, Ator 4, Ator 5, e Ator 6, Ator 7, Ator 8, Ator 9, e Ator 10.
Foram identificadas três subcategorias: cooperação entre as empresas; cooperação das
empresas com as IEPs; e Gestão compartilhada de negócios. A interpretação e análise das
ponderações dos atores entrevistados foram realizadas utilizando como referência fatores
identificados a partir do referencial teórico como importantes para a existência da cooperação.
Destacam-se cinco fatores: ação conjunta, ação voluntária e consciente, compartilhando
recursos, objetivos comuns, e sinergia. O nível da cooperação no APL, incipiente, moderada
ou consolidada, foi determinado a partir das ponderações dos atores entrevistados quanto aos
fatores mencionados anteriormente, conforme quadro a seguir.
Categoria
Análise da Categoria
Cooperação
Ação conjunta
Ação voluntária e consciente
Compartilhando recursos
Objetivos comuns
Sinergia
Avaliação da
Categoria
Sub Categorias
Cooperação entre as empresas
Cooperação das empresas com as
IEPs
Gestão compartilhada de negócios
Incipiente
Moderada
Consolidada
Quadro 2 – Análise de conteúdo das entrevistas realizadas no APL de TI de Juiz de Fora - MG
Fonte: Elaborado pelos autores para fins deste estudo.
Especificamente, na análise e interpretação buscou-se identificar o posicionamento dos
entrevistados quanto às ações relacionadas à cooperação as quais determinaram em que nível
a mesma se encontra, conforme esquema proposto na figura a seguir:
- COOPERAÇÃO +
Incipiente
Moderada
Consolidada
Figura 1 – Níveis de Cooperação em APL
Fonte: Elaborada pelos autores para fins deste estudo com base em Queiroz(2013)
Na análise da subcategoria cooperação entre as empresas foram identificadas as
seguintes ponderações: Ator 1 comenta: “Não, cooperação não... cada um realmente está
preocupado com seus problemas, e poucos tem uma visão um pouco maior...”; Ator 2: “Eu,
pessoalmente hoje eu não tenho muito contato com as outras empresas... muito pouco.”;
7 A gente acaba tendo pouco contato com outras empresas de software
porque o nosso mercado é muito diferente...na realidade eu acho que
cada empresa procura sobreviver por si própria e não existe uma
coerência não existe um comando central que coordena essas ações e
as empresas. (Ator 4)
Da minha parte não, eu não me relaciono com nenhuma outra empresa
aqui em Juiz de Fora. É inexistente. (Ator 6)
O relacionamento é primário, eu acho que ele não existe ...falta você
fazer o link... falta um maestro..( Ator 7)
Muito superficial, eu acho que existe, mas ainda, na minha opinião,
muito superficial, tem muito a evoluir. (Ator 10 )
Nesta subcategoria foi possível identificar considerações relacionadas aos fatores ação
conjunta e objetivo comum. No APL de TI de Juiz de Fora – MG, quando considerada a
cooperação entre empresas, percebe-se a inexistência de ações conjuntas e compartilhamento
de objetivos, visto que as ações implementadas pelas empresas são realizadas de forma
isolada visando apenas atender interesses próprios. A inexistência de comentários quanto à
ação voluntária e consciente, ao compartilhando recursos e à sinergia pode ser entendida
como consequência das ponderações negativas quanto aos fatores citados.
Ressalta-se que algumas ações isoladas, permitem considerar a existência de uma
cooperação mesmo que incipiente, conforme pode ser observado: o Ator 1 destaca que os
contatos que ocorrem entre empresas são pontuais “com objetivo de qualificação e de
geração de networking”.
Primeiro a gente trabalha com bodyshop, a gente empresta
funcionários nossos para outras empresas de TI, eles tem um bom
relacionamento, então até trocam algumas “figurinhas” ... então existe
uma conversa informal, não existe um procedimento.( Ator 3)
Nestas ações pontuais percebe-se o compartilhamento de recursos que pode levar a obtenção
de sinergias. Entretanto, a não continuidade destas ações compromete a consolidação da
cooperação entre empresas, tornando-a frágil.
Quando perguntados sobre a cooperação das empresas com as IEPs são identificadas
opiniões negativas como por exemplo: Ator 1: “...algumas entidades ajudam, outras não, é
muito difícil conseguir estagiário... eles tentam ajudar, mas no final estão criando muita
burocracia e estão atrapalhando...”; Ator 4: “instituições de ensino e pesquisa estão
completamente desfocadas do mercado, a gente não consegue achar apoio...a universidade
participando ativamente do desenvolvimento tecnológico não existe.”;
Ator 5: “a
universidade não, a universidade eu não acho não. “. Também são identificadas ponderações
que demonstram um certo distanciamento conforme destacam: Ator 6: “...o que acaba
acontecendo é a gente ter que ir até eles.” e Ator 10 “não pode ter uma distância muito
grande entre o nível de informação que o mercado pede com o das instituições “, e falta de
articulação: Ator 9 “as instituições de ensino, elas precisam ser melhor articuladas para o
meio empresarial...distância entre a universidade e a geração de negócios ...tem que criar
melhor essa ponte “.
Entretanto há também registro de opiniões favoráveis que reconhecem a importância
das IEPs para o APL: Ator 8: “Mas eu acho que é um relacionamento bom, está incipiente,
8 até mesmo porque não está organizado ainda, na, mas a tendência é que a coisa se
organize.”; Ator 3: “parceria que é muito boa, é uma coisa inovadora e vai ajudar a gente a
ser um diferencial” e Ator 7: “Muita, a influência é muita, porque existe uma relação de
dependência das empresas de TI com as instituições de ensino, fomentar a minha reposição
de pessoas..”
Conforme destacaram os atores há divergências quanto a existência de cooperação
com as IEPs, sendo importante observar que a necessidade de mão de obra qualificada e
tecnologia voltada para a inovação são os principais pontos de atuação das mesmas, motivo de
reconhecimento da sua influência para o APL, mesmo entendendo que tal atuação dista muito
de uma atuação considerada satisfatória. Destaca-se a necessidade de compartilhamento de
recursos, a exemplo da qualificação da mão de obra; também a existência de ações conjuntas
que permitam alinhar objetivos de ambas.
A gestão compartilhada de negócios é um elemento importante para o APL, entretanto
o que pode ser percebido é que há um distanciamento entre as empresas, que em sua maioria
desenvolvem as atividades de forma isolada: Ator 6, 4, 9 e 10 “ Eu não fico sabendo muito
das outras empresas e também creio que eles não ficam sabendo da gente. “; “são pessoas do
setor de software...a gente acaba tendo uma pequena consciência disso, mas a ação efetiva de
juntar todo... acaba não sendo eficiente.“; “Então é um setor novo que está aprendendo a
trabalhar de forma coletiva” , “Pode acontecer por questão cultural, não sei, o
empreendedor, as vezes, ele fica muito focado em desenvolver o próprio negócio, quando a
gente fala de ter um olhar mais coletivo... “. Percebe-se também que há desconhecimento da
importância da pertinência ao APL: Ator 1: “eu acho que grande parte das empresas, até
mesmo as que estão associadas a essas entidades, mal sabem o que é o APL.”.
Apesar dos pontos negativos também podem ser observadas em algumas falas a
preocupação em manter um bom relacionamento: o Ator 3 destaca um pacto quanto à mão de
obra quando fala: “só não vamos roubar ninguém um do outro... “. A falta da gestão
compartilhada, questão importante para o APL, é retratada na fala do Ator 9: “Eu acho que o
nível é baixo de sinergia, de cooperativismo”.
Apesar de não identificar ponderações positivas quanto existência dos fatores
determinantes da cooperação, percebe-se na fala de alguns atores o entendimento da
necessidade de implementar ações comprometidas com a promoção da cooperação no APL.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho objetivou analisar práticas de cooperação existentes no APL de TI de
Juiz de Fora - MG por meio da percepção de seus atores e com base no critérios de concessão
de benefícios definidos pela política estadual de apoio aos APLs, definindo como categoria de
análise o critério do nível de cooperação. Destaca-se que a literatura utilizada como base
proporcionou a compressão necessária sobre os temas centrais abordados. Considerando a
natureza do objeto de estudo, os caminhos traçados por meio dos procedimentos
metodológicos foram eficazes para a realização do estudo.
Percebe-se a importância deste estudo ao considerar a posição de destaque do setor de
tecnologia de informação no estado de Minas Gerais, pela importância do APL para o
desenvolvimento da cidade de Juiz de Fora –MG e também pela ênfase dada às ações
desempenhadas pelo poder público em prol do mesmo. Quanto à política é possível ainda
destacar que o resultado obtido neste estudo reforça a eficácia das ações por ela
implementadas.
A cooperação entre as empresas no APL quando ocorre se dá de forma desarticulada e
frágil visando atender ações pontuais como as relacionadas à recursos humanos e networking.
9 Entretanto, são identificados alguns relatos que demonstram o reconhecimento da importância
da cooperação para as empresas. Nas ponderações dos atores quanto às práticas de cooperação
entre empresas e IEPS foram identificados depoimentos divergentes enfatizando a existência
de ações isoladas e sem propósito. A gestão compartilhada de negócios é um elemento
importante para o APL, entretanto o que pode ser percebido é que há um distanciamento entre
os atores do mesmo.
Ao analisar APL de TI de Juiz de Fora - MG conclui -se que a cooperação existente
entre seus atores é incipiente, uma vez que a maioria dos relatos dos atores demonstram
existir ações isoladas e pontuais em detrimento das coletivas e constantes. Verifica-se que há
necessidade de implementar de ações comprometidas como a criação de uma visão pautada na
cooperação entre os atores do referido APL; que reforce o entendimento de práticas
comprometidas com está visão e como os benefícios proporcionados podem contribuir para
tornar o APL mais competitivo, tal como é proposto na política mineira de apoio aos APLs.
A pesquisa permitiu identificar lacunas possíveis de serem exploradas a exemplo da
confusão quanto aos termos competição e cooperação, pois percebe-se uma visão errônea
sobre os termos que os considera como paradoxos no contexto do APL.
Sabe-se que a competição e a cooperação podem e devem ocorrer, desde que ocorra de
forma equilibrada. Neste contexto, a governança assume o papel de proporcionar tal
equilíbrio. Este entendimento permite identificar possibilidades de novos estudos, que
investiguem: Como a governança pode coordenar as ações dos atores do APL e proporcionar
equilíbrio entre cooperação e competição?; Qual a percepção dos atores do APL quanto aos
demais membros, existe uma visão conjunta? Os atores do APL acreditam que a cooperação
pode torná-los mais competitivos? Qual a influência da confiança entre atores na consolidação
da cooperação e também da governança? Há outros mecanismos e critérios que permitam
classificar e validar um modelo de avaliação da cooperação em APL?
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Percepção Dos Atores Quanto Às Práticas De Cooperação