Relato de aplicação de PBL em turma de pós-graduação Disciplina Inteligência Competitiva Prof. Alexandre Salvador 1º Semestre 2015 A. Contexto e motivação Em 2014 me juntei à ESPM para lecionar a disciplina de Inteligência Competitiva. Nessa ocasião tive a oportunidade de acompanhar as aulas dos Professores Paulo Freitas e Rafael Mônaco que foram extremamente generosos em compartilhar suas práticas em sala nessa disciplina. Trabalhei com duas turmas de Inteligência Competitiva com aulas desenvolvidas com base no material dos professores Rafael e Paulo e obtive boas avaliações dos alunos. No começo de 2015, a Academia de Professores enfatizou muito a importância do uso de metodologias ativas. Reduzi a parte expositiva das aulas em minha primeira turma de 2015 e aumentei o tempo em sala para exercícios em grupo e discussões. Minha sensação foi que a turma se envolveu mais com a disciplina. Para mim, as aulas ficaram mais interessantes (maior troca e mais diversão). No final de abril participei do treinamento de PBL (problem based learning) com a professora Ana Fleck e entendi melhor a metodologia do PBL: uma forma mais estruturada de conduzir as discussões e fazer os conceitos emergirem dos alunos. Nas semanas seguintes iniciei mais três turmas de Inteligência Competitiva, já pensando em desenvolver alguma aula com PBL - uma turma de manhã na Vila Olímpia com nove alunos, uma turma com 18 alunos aos sábados e uma turma à noite com 25 alunos. Conversei com meu coordenador, pedi ajuda ao Danilo (NPP) e realizei testes nessas três turmas. A disciplina de Inteligência Competitiva é composta por três módulos: inteligência competitiva e formulação da estratégia/informação para tomada de decisão em marketing (SIM)/definição dos indicadores para implantação da estratégia e monitoramento. B. A aplicação Foram desenvolvidos dois exercícios para aplicação do PBL, um para o primeiro módulo (segunda aula) e um para o segundo módulo (terceira aula). O primeiro envolvia a integração das ferramentas de formulação da estratégia e o segundo envolvia a estruturação de um sistema de inteligência de marketing (anexos 1 e 2). Ao início da aula, o PBL foi apresentado (vendido) como uma metodologia ativa com o objetivo de aumentar o aprendizado e deixar a aula mais interessante. Foi dado aos alunos a opção de seguir com a aula tradicional ou fazer “algo diferente e inovador”. Em todas as turmas os alunos aceitaram seguir o “teste” da nova metodologia. A aplicação do exercício iniciou-se em seguida, antes de qualquer exposição de conteúdo. Os alunos trabalharam em grupos de quatro ou seis alunos e foram separados em dois, quatro ou cinco grupos em função do tamanho da turma. Antes da discussão em grupo eles leram o exercício e trabalharam por 10 minutos individualmente. Eles arrumaram as cadeiras (unidade JT) e mesas (unidade VO) para o trabalho em grupo e discutiram por mais 15 a 20 minutos. Ao final da parte em grupo, foi solicitado aos alunos que abrissem a roda de discussão. No exercício de formulação da estratégia cada grupo recebeu algumas folhas de flip chart com os modelos para organização das discussões. Ao final das discussões em grupo, cada grupo apresentou para a sala a sua solução do problema e os demais alunos questionaram os apresentadores sobre as diferenças de entendimento entre os grupos. Nos exercícios de sistema de informação de marketing, após a discussão em grupo, os alunos individualmente falavam sobre o exercício. Quando eles falavam sobre alguma forma de obtenção de informação desconhecida pela classe, tinham a oportunidade de apresentar a sua vivencia no tema. O papel do professor na plenária foi o de facilitador da discussão, anotando no quadro os comentários dos alunos de forma estruturada para o fechamento da discussão. Ao final da discussão o professor apresentou o conceito da aula com base nas colaborações dos alunos. Os exercícios completos, com discussão, foram até o intervalo. Após o intervalo foi feita a parte expositiva da disciplina com a amarração com os principais pontos discutidos durante a plenária. C. Benefícios A parte individual do exercício proporcionou a oportunidade para que os alunos enfrentassem a dificuldade na análise e, assim, despertasse o interesse pelo assunto. A discussão em grupo serviu como forma de ampliação do conhecimento e compartilhamento das dúvidas. Na plenária os alunos tiveram a oportunidade de apresentar suas dúvidas e demonstrar seus conhecimentos. A discussão entre pares também tornou o ambiente mais receptivo à demonstração de dúvidas e o debate entre os alunos foi riquíssimo ao colocá-los em papel de protagonistas. As aulas com PBL ficaram mais dinâmicas. A parte expositiva ficou mais viva, fazendo uso dos comentários e exemplos apresentados pelos alunos na primeira metade da aula. Os alunos se demonstraram envolvidos durante o exercício e mais interessados na apresentação do conceito. D. Aprendizados e Comentários: 1 - Funciona - a discussão final é muito rica e aparentemente os conceitos são mais facilmente assimilados na hora da parte expositiva. 2 - Causa desconforto inicialmente - principalmente o exercício individual causa desconforto. Os alunos se sentem fragilizados por não saberem o que responder. O malestar reduziu quando expliquei que o sentimento era normal e parte do processo de aprendizado: pedi para confiarem em mim e seguirem mesmo com dúvida e depois da discussão em plenária falaríamos mais sobre o processo. Vejo aqui uma oportunidade para vender melhor/explicar melhor o método (não vai tirar o mal-estar, mas vai ajudálos a aceitar a dúvida). 3 - É produtivo - os comentários na plenária foram muito ricos. Como grupo, eles têm muita experiência. As experiências somadas são muito ricas. A organização do quadro de acordo com os conceitos dá uma sensação de recompensa ao final - eles ficam com a expressão de "nós fizemos isso" em seus rostos. 4 - Precisa de disciplina - é desafiador para o professor/facilitador. Cansa mais que aula expositiva (física e mentalmente). Exige pulso e ordem. Para mim, funcionou bem alinhando disciplina e informalidade, mas acredito que varie de professor para professor. Seja qual for o estilo, tem que ter disciplina. 5 – Funciona para diferentes turmas - apliquei com uma turma de nove e com turma de mais de 20. Funcionou bem às 7h30 da manhã, às 7h30 da noite e às 8h40 da manhã no sábado. De acordo com a turma é necessário um esforço inicial para aquecer a discussão em grupo, mas depois de embalado, vai muito bem. 6 - Monitores podem mais - os monitores ajudaram muito. E acho que gostaram bastante de se envolver e fazer mais pela turma. Eles participaram com apoio logístico (distribuir material), preparação do material de apoio (desenhar modelos nas folhas de flip chart) e fotos. Acredito que poderiam também anotar participação (caso o professor pretenda usar a participação para nota). 7 – A vontade vence as barreiras – mesmo que a infraestrutura possa não ser ideal (como ter cadeira de braço para escrever em folhas de flip chart), ao aprovarem a ideia, os alunos arrumam uma solução e se soltam para o exercício. Naturalmente os alunos afastaram as cadeiras e se sentaram no chão (meninos e meninas) para preencher as folhas. 8 - Nem tudo são flores - na turma de quinta à noite, algumas pessoas mantiveram conversas paralelas e smartphones ativos. Queria dizer que foi tudo lindo, mas tivemos essas exceções. Fechada a disciplina ficou claro que o grupo que menos se envolveu no exercício também foi o que apresentou pior desempenho nas demais atividades em grupo da disciplina e na prova. E. Ajustes para próximas aplicações Para as próximas turmas de Inteligência Competitiva manterei os dois exercícios, mas tomarei o cuidado de vender melhor/valorizar o método no início da disciplina e no início da aula. Falar sobre andragogia e a forma que adultos aprendem, destacar a experiência positiva anterior, valorizar que é uma coisa nova e que eles farão parte de um pequeno grupo que está sendo exposto a essa metodologia. Alertar sobre o desconforto inicial e pedir que confiem no método. Fotografar e pedir o direito de uso de imagem – eles gostaram disso. Ao meu ver, a experiência foi muito positiva e pretendo replicá-la em novas turmas. Após realizar o treinamento de PBL, desenhar o exercício levou menos tempo do que imaginava anteriormente. Contar com o suporte do Núcleo de Práticas Pedagógicas (Danilo Torini) e da Coordenação (Júlio Figueiredo) foi fundamental para o sucesso da experiência. Fotos da aplicação dos exercícios Turma durante exercício individual Monitor e Professor trabalhando nos templates durante exercício individual Trabalho em grupo Trabalho em grupo Apresentação dos grupos/Discussão Plenária Preparação do quadro ao longo das discussões PBL 1 – Bolo de vó Numa terça-feira chuvosa, às 23h45 você olha cansado para a tela de seu computador pensando na apresentação do projeto que fará no dia seguinte às 7h30 da manhã para o “gringo”. Enquanto você mastiga mais um pedaço de pizza (já fria) você pensa: “preciso mudar de vida”. Quarta-feira, 9h45: a apresentação foi boa. No final do dia ainda chovia quando você voltou para casa. Uma vizinha comentou contigo no elevador “com um tempo desses, sinto falta de um bolinho de vó”. Essa frase ativou suas sinapses e você teve um insight: franquia de bolos caseiros! Pesquisando na internet você achou algumas reportagens sobre o crescimento desse negócio. Você dividiu a ideia com alguns colegas da ESPM e na próxima semana vocês se reunirão para discuti-la com base em análises estruturadas. Exercício Individual (15 minutos) a. Usando a análise PEST, avalie o macro ambiente. Liste pelo menos 4 fatores que poderiam impactar o setor em análise. b. Como você avalia as 5 forças competitivas de Porter para seu negócio? o Ameaça de novos entrantes o Ameaça de substitutos o Poder de barganha dos fornecedores o Poder de barganha dos compradores o Rivalidade do setor Exercício em grupo (30 minutos) c. Discutam e consolidem a lista de fatores do macro ambiente que afetam seu negócio (PEST). d. Discutam as 5 forças e façam uma análise do grupo. e. Pensando no produto e no segmento, como a proposta se enquadra dentro dos possíveis posicionamentos estratégicos de Porter? f. Com base nas discussões, quais as competências essenciais em sua cadeia de valor (Porter)? Explique. g. Faça uma análise de seus pontos fortes e fracos, cenários favoráveis e desfavoráveis, oportunidades e ameaças. PBL – Novos desafios Parabéns! Você entrou em uma grande empresa varejista que está começando operação no Brasil. Na sua primeira semana de trabalho o vice-presidente de marketing chamou todo o time e deu uma tarefa: organizar o processo de monitoramento de mercado e pesquisas. A reunião com o time começará em poucas horas e você ainda tem um tempo para organizar suas ideias. Atividade Individual (10 minutos): A - Liste todas as formas monitoramento de mercado (formais e informais) e pesquisa que você conhece. B - Defina um critério para agrupar os diferentes tipos de informação em 3 ou 4 grupos. Atividade em grupo (25 minutos): C - Façam uma lista única e mais completa com todas as formas de monitoramento de mercado e pesquisa. D - Discutam e definam o critério de agrupamento e classifiquem os diferentes tipos de informação de acordo com o critério. E - Listem as principais decisões que podem ser tomadas pelo departamento de marketing com base nessas informações.