Do Marco Comemorativo – Estação Poligonal DF1 ao IBGE-PPP
* Por P. R. Alonso
Eng. Cartógrafo – IBGE/DGC/CGED/SIGPS/VEG
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Como diz a escritora Suzana Vargas “Escrever é falar sem ser interrompido”. O título acima é sugestivo e ainda mais devido ao tempo
que se passou, são 45 anos desde a inauguração desta primeira turma da Escola do Roncador, advinda do 2o DL (Distrito de Levantamento da Divisão de Geodésia e Topografia), então fica aqui a pergunta:
- O que eles poderiam dizer agora sobre esta transformação de metodologia, deixando para trás o método tradicional e adotando esta
nova técnica?
A recuperação da “História da Geodésia no Brasil”, representada na foto abaixo de setembro de 1965, é um grande fato. A placa deste
marco foi feita com uma frigideira com os seguintes dizeres : “ 09/1965 O 2o DL sente-se honrado em ser a Primeira Turma da Escola
do Roncador”. O 2o DL (Distrito de Levantamento da Divisão de Geodésia e Topografia), ficava situado na Rua São José – Fonseca em
Niterói, cujo Gerente na época era o Eng. José Roberto Duque Novaes. Com a inauguração da Nova Capital – Brasília, o IBGE, então,
transferiu este Distrito de Levantamento para o Distrito Federal, num lugar chamado Roncador, afastado do Plano Piloto de alguns
quilômetros, sendo que a Direção ficou no Plano Piloto.
O Roncador “Reserva Ecológica do IBGE” concentra, a GEC - Gerência do Centro de Estudos Ambientais do Cerrado. A GEC está ramificada em GGC-DF (Gerência de Geodésia e Cartografia do Distrito Federal) e GRN (Gerência de Recursos Naturais). Existe também
o Arquivo Documental do IBGE (Arquivo Morto) e mais ainda Oficinas, Garagens e Restaurante.
Foto 01 - Estação Poligonal DF1. Este marco foi usado somente para Treinamento da Turma.
Fonte : IBGE/DGC/CGED
Neste resgate da foto histórica da primeira turma da Escola do Roncador – Brasília – DF – 1965, conforme abaixo, com seus mestres
Dr. Dalmy Rodrigues de Souza, Dr. Lysandro Vianna e os Técnicos Sênior, Raul, Durval Muniz Aragão com aulas práticas e teóricas,
tornaram-se uma realidade, os frutos desta fértil semeadura, disseminaram com a produção dos trabalhos descritos nos projetos da
Superintendência de Geodésia, atual Coordenação de Geodesia, por todo o Brasil.
O Curso desta primeira turma constava inicialmente de Teoria Básica sobre a Geodésia compreendendo as definições básicas, revisão
dos conceitos, a critica das medições registradas em cadernetas, e demonstração com diversos aparelhos e finalmente cálculo. Após
esta Introdução Teórica, a turma foi direto para a prática, no manuseio com os aparelhos como: Teodolito T3, Telurômetro, Geodímetro e
Teodolito T4 para Astronomia de Campo (Latitude e Longitude astronômicas). Esta prática era para que cada um se familiarizasse com
o aparelho e treinasse para adquirir uma certa velocidade e rapidez nas operações noturnas de campo.
Para os Teodolitos T-3 era necessário treinar medições Horizontais e Verticais, para a Triangulação, Poligonal e Nivelamento Trigonométrico e ainda, anotação em caderneta e cálculo. Agora só faltava o treinamento com azimute astronômico utilizando a estrela 
octantis.
Com os Telurômetros e Geodímetros o treinamento visava a medição de distância, anotação em caderneta e cálculo.
Com o Teodolito T-4, era necessário montar um planejamento com estrelas, retiradas do Apparent Place ou Anuário Astronômico do
Observatório Nacional (ON), para latitude e longitude e a noite operar com T-4, conforme o planejamento. Nos outros dias eram feitos
os cálculos da latitude, longitude e azimute astronômico. Em média levava um mês.
Para a Triangulação e Poligonação os levantamentos de campo eram calculados assim: na Triangulação o fechamento dos triângulos
formando os quadriláteros e o cálculo do rodapé apresentado no formulário, tudo seguindo as prescrições. Um trabalho árduo e penoso.
Para a Poligonal, o fechamento angular obedecendo as prescrições. O cálculo dos lados e as reduções. O transporte de coordenadas
eram feitos no Setor de Cálculo na Sede. Portanto, como vimos o trabalho era duro, imagine que no cálculo da Triangulação usava-se
a tábua de logaritmo.
Se esta turma pudesse hoje visualizar uma Estação Total ou um receptor GPS ou GLONASS ou ainda utilizar dados de uma estação
da RBMC - Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo, cujo Centro de Controle Engenheira Kátia Duarte Pereira, situado no Rio de
Janeiro. Como se sentiriam, como facilitaria seu processo de trabalho e o tempo gasto para executar uma tarefa? Mas não é só isto, o
deslocamento com as novas viaturas modernas e confortáveis, as comunicações com celular, as novas estradas e rodovias, acesso a
alimentação e pousadas. No passado dormiam em barracas, ou em currais abandonados, galpões, as estradas de terra, as viaturas não
eram tão confortáveis e o desempenho nem se fala e ainda as comunicações através de rádio transceptor Telefunken SSB, com antenas estendidas leste oeste usando a frequência de 9000 e 13000. Até o código Morse foi usado em operações noturnas da triangulação
para receber e enviar valores angulares. Portanto, o objetivo é mostrar através das fotos, todas as dificuldades que a época oferecia,
somente com muita força de vontade e luta os obstáculos seriam vencidos, como o foram.
Foto 02 - Primeira Turma da Escola do Roncador – setembro de 1965 com o mestre.
Era usado na época, as barracas para acomodação e pousada. Fonte: IBGE/DGC/CGED.
Foto 03 - Movimentação da turma descarregando o equipamento do caminhão. Demais viaturas para a realização dos trabalhos de campo. Alunos e
mestres. No centro o marco de poligonal para treinamento. Fonte: IBGE/
DGC/CGED
Neste intervalo de tempo entre 1965 a 2010 houve a pesquisa e o
desenvolvimento de metodologias e o treinamento do pessoal da
Geodesia, tanto no Brasil como no Exterior, surgindo vários procedimentos e lançamento de produtos no mercado. Assim, pode-se
enumerar a implantação de novas Gerências e alguns acontecimentos de desenvolvimento na Geodésia e os lançamentos atuais, como seguem:
- Tabelas para Cálculos no Sistema de Projeção Universal Transverso de Mercator Elipsóide Internacional de 1967 (Biblioteca da
DGC – Rio – Parada de Lucas) – Trabalho desenvolvido por Luís
Paulo S. Fortes.
Foto 04 - Prática com Telurômetro. Alunos sendo orientados e observados
pelo mestre. Fonte: IBGE/DGC/CGED
- Processamento de toda a Rede Fundamental Brasileira, constando de VT, EP, SAT Döppler, Pontos Astronômicos, Bases, Azimutes com a utilização do programa (software) GHOST (Geodetic adjustament using Helmert blocking Of Space and Terrestrial
Date), Trabalho desenvolvido por Sônia Maria Alves Costa.
- Mudança de Tecnologia Tradicional por GPS
Foto 05 - Viaturas, barracas e o barracão de madeira usado para cozinha,
sala de aula e banheiros. Nota-se que a vegetação é típica de cerrado
(árvores tortas e mirradas). Fonte: IBGE/DGC/CGED.
- Projeto Mudança de Referencial Geodésico - promover e adotar no Brasil, um novo sistema geodésico de referência, unificado,
moderno e de concepção geocêntrica, de modo a compatibilizá-lo
às tecnologias atuais de posicionamento.
- Lançamento do Programa Mapgeo MAPGEO92, substituído pelo
MAPGEO2004 que agora foi substituído pelo MAPGEO2010.
- PROGRID – aplicativo desktop que trabalha em ambiente Microsoft Windows. Permite transformar coordenadas entre sistemas
como: Córrego Alegre, SAD69 e SIRGAS2000, substitui o TCGEO.
- Implantação das primeiras Estações da RBMC - Rede Brasileira
de Monitoramento Contínuo.
- SIGPS – Projeto Sistema GPS – Implantar estações e manter a
estrutura geodésica plani-altimétrica nacional existente e compatível com o nível de precisão estabelecida pelas tecnologias atuais,
conforme Decreto-Lei 243.
- DALTI – estabelecimento, calculo, ajustamento da Rede Altimétrica do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB) e promover sua
manutenção, treinamento com novas técnicas de nivelamento geométrico digital.
Fotos 06 e 07 - Alunos em sala de aula realizando o cálculo dos dados de
campo realizado na noite anterior. Nota-se que o local “Roncador”, não
existia energia elétrica. Observe um lampião a querosene dependurado ao
fundo. Fonte: IBGE/DGC/CGED
- RMPG - Rede Maregráfica Permanente para Geodésia - concebida em 1997 pelo Departamento de Geodésia do IBGE com a
finalidade de determinar e acompanhar a evolução dos data altimétricos do Sistema Geodésico Brasileiro.
- Centro de Análise SIRGAS – com atividades estabelecidas em
2008, porém com resultados do processamento dos dados GNSS
coletados desde 2003.
Atualmente as técnicas espaciais de posicionamento de alta precisão como VLBI, SLR, GPS e GLONASS, em pouco tempo tem-se
as três componentes definidoras de um ponto no terreno com mais
- VRF - Verificação da Realidade Física dos Marcos do Sistema
Geodésico Brasileiro – SGB – objetivando a conservação e manutenção das estações que integram o SBG.
- VEG – Atividade de Visita às Estações Geodésicas – com a finalidade de manter atualizado o BDG – Banco de dados Geodésicos
do IBGE, disponível na Internet.
- Lançamento do IBGE-PPP (Posicionamento por Ponto Preciso)
– aplicativo de processamento CSRS-PPP desenvolvido pelo Geodetic Survey Division of Natural Resources of Canada.
- Lançamento do Ntrip - serviço para posicionamento em temporeal a partir da RBMC, para usuários que fazem uso da técnica
RTK (relativo cinemático em tempo real) ou DGPS (GPS diferencial) nos seus levantamentos.
- BDSGB – Banco de Dados Sistema Geodésico Brasileiro – Criado para disponibilizar on-line, o conjunto de dados e informações
de estações geodésicas do Sistema Geodésico Brasileiro – SGB,
estações estas que são determinadas por procedimentos operacionais e de cálculo, segundo modelos geodésicos de precisão
compatíveis com as finalidades a que se destinam.
- Lançamento de Manuais para utilização das novas tecnologias
Portanto, são inúmeras as mudanças efetivamente registradas ao
longo deste período e se pensasse em descrever cada uma delas
estenderia em muito este trabalho.
CONCLUSÃO
Se traçar uma linha comparando os métodos utilizados no passado com os atuais para estabelecer estruturas geodésicas, pode-se
chegar a conclusão que na época era muito difícil e trabalhoso,
devido as condições oferecidas, exigindo muito dos técnicos e
dos engenheiros na execução dos projetos. Nesse sentido é bom
avaliar que o Brasil é um pais continental, e a Rede Fundamental
Brasileira é uma das maiores do mundo.
uma componente de definição temporal com referência a época
das observações (deslocamento do ponto, ou seja, a placa tectônica) e ainda uma precisão refinada, claro que usando programa
(software) científico compatível, como por exemplo Bernese.
Desde 2009 o IBGE disponibilizou em sua página na Internet o
IBGE-PPP, que é um serviço em rede (on-line) para o pós-processamento de dados GPS (Global Positioning System). Permite aos
usuários de GPS, obter as três componentes (latitude, longitude
e altitude) de boa precisão no Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS2000) e no International Terrestrial
Reference Frame (ITRF). Ainda existe a vantagem de processar
os dados de qualquer receptor, com os dados em qualquer taxa,
realizando resultados no modo estático ou cinemático. Estas são
as facilidades que o avanço e o desenvolvimento aliados com a
tecnologia e a pesquisa, vão a cada momento, melhorando a precisão e diminuindo o tempo empregado para obter resultados e
economizando gastos. Esta é a evolução natural envolvendo cada
vez mais a pesquisa e a tecnologia de ponta.
Uma observação a ser tomada a curto prazo pelas Prefeitura: “As
Prefeituras deveriam através de suas Secretarias de Obras, solicitar ao IBGE, os Descritivos dos Marcos Geodésicos, ou seja, os
Relatórios de Estação Geodésica do seu Município, tanto referente a Planimetria como também da Altimetria e de posse deles e
com verbas municipais efetivar a VRF (Verificação da Realidade
Física dos Marcos do Sistema Geodésico Brasileiro) com limpeza
e pintura e divulgar através da imprensa, rádio, televisão ou palestra de sua importância para o município, diminuindo o índice
de destruição, que atualmente é alto. Além desta prática, informar
ao IBGE/DGC/CGED dos trabalhos realizados enviando as fotos
panorâmicas dos Marcos Geodésicos”.
Portanto, estão tecidos alguns dos registros da evolução dos trabalhos empregados na Geodésia, durante os 45 anos que fazem
desde o lançamento da primeira Turma de Treinamento do Roncador e a eles o eterno agradecimento que ficou marcado pela
História da Geodésia.
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