OCORRÊNCIA DE HISTERESE EM GOTEJADORES UTILIZADOS EM IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO SUBSUPERFICIAL P. H. P. Ribeiro1; N. F. Silva2; N. L. N. Silva3; M. B. Teixeira4; H. R. Gheyi5; J. Dantas Neto6 RESUMO: Neste trabalho foi avaliada a suscetibilidade de um modelo de tubo gotejador quanto à ocorrência de histerese. O experimento foi desenvolvido na área experimental do Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí. Utilizou-se conjunto moto-bomba, sistema de filtragem e três linhas laterais com 3,0 m de comprimento. Foram avaliados dez gotejadores subsuperficial em cada linha, com pressões de 50, 100, 150, 200 e 250 kPa, com um tempo de cinco minutos de avaliação por gotejador. Posteriormente efetuaram-se os cálculos de vazão média, coeficiente de variação de vazão e uniformidade de distribuição de água. O modelo analisado foi sensível a ocorrência de histerese para valores de pressão superior a 200 kPa. PALAVRAS-CHAVE: coeficiente de variação de vazão; vazão média; irrigação localizada. OCCURRENCE OF HYSTERESIS IN EMITTERS USED IN SUBSURFACE DRIP IRRIGATION SUMMARY: In this study, we evaluated the susceptibility of a dripper on the occurrence of hysteresis. The experiment was conducted in the experimental area of Instituto Federal Goiano Campus Urutaí. We used a motor-pump, filtration system and lateral line with dimensions: 3.0 m long. We evaluated ten emitters subsurface emitters in each of the three lateral lines, used under pressures of 50, 100, 150, 200 and 250 kPa, with a evaluation time of five minutes evaluation by drip. Subsequently, we carried out the calculations of average flow rate, flow variation coefficient and uniformity of water distribution. The drippers analyzed were sensitive to the occurrence of hysteresis for pressure values greater than 200 kPa. KEYWORDS: flow rate variation coefficient; flow rate; microirrigation. 1 Tecnólogo em Irrigação e Drenagem, Mestrando em Engenharia Agrícola, UFCG/CTRN, Campina Grande – Pb. CEP. 58429-015. Fone: 083-99850319. Email: [email protected] 2 Bolsista Iniciação Cientifica, CNPq – IF Goiano Campus Rio Verde. 3 Bolsista Voluntária, UFCG/CTRN, Campina Grande – PB. 4 Prof. Doutor, Agronomia, IF Goiano, Campus Rio Verde. 5 Prof. Visitante Doutor, UFRB 6 Prof. Doutor, Depto. Engenharia Agrícola, UFCG/CTRN; P. H. P. Ribeiro et al. INTRODUÇÃO A importância da minimização da quantidade de água aplicada na agricultura pela irrigação intensificou o uso de métodos de aplicação localizada. A irrigação por gotejamento possibilita manter a umidade do solo na zona radicular, próximo da capacidade de campo, com o uso de pequenas vazões e elevada frequência, ou seja, para baixas pressões, a aplicação de fertilizantes via água de irrigação se torna um processo mais eficiente, geralmente superior a 90%, possibilitando um bom controle da lâmina de irrigação (BERNARDO, 2006; LEITE, 1995; RESENDE, 1999). O sistema de irrigação localizada por gotejamento subsuperficial (IGS) aplicação da água diretamente na raiz da planta com pequenos volumes aplicados a alta frequência e com auxílio das forças capilares (TESTEZLAF, 2002) - representa significativa evolução no processo da aplicação de água às culturas. Esse método é uma resposta para a necessidade de se procurar novos sistemas de irrigação que sejam mais eficientes, que reduzam o consumo dos recursos hídricos, assim como, seu custo de instalação e, sobretudo, que minimizem os problemas de escassez de água. PHENE et al. (1987) comparando o sistema de gotejamento superficial com o subsuperficial, apresentaram cinco vantagens para o IGS: i) aumento da vida útil do sistema junto com uma menor mão de obra anualmente empregada; ii) como a superfície do solo fica geralmente seca, ocorre a redução de doenças bem como no controle da infestação de ervasdaninhas; iii) com o solo seco entre as linhas de cultivo, aumenta a trafegabilidade e reduz a compactação do solo; iv) água e nutrientes são usados com mais eficiência; e v) há uma significativa melhora nos rendimentos, bem como em algumas qualidades na produção. A uniformidade de emissão de água pelos gotejadores é fator fundamental ao sucesso do empreendimento. Para a realização de um eficiente manejo de água e fertirrigação, é necessário que a uniformidade de aplicação de água pelos emissores seja a maior possível, pois, com a prática sucessiva da fertirrigação, algumas plantas podem estar recebendo quantidade menor de fertilizantes que outras e respondendo diferentemente em produção. Os fatores que afetam a uniformidade de aplicação de água seguem a seguinte ordem: obstruções, coeficiente de variação de fabricação, expoente de descarga do emissor, sensibilidade do emissor à temperatura e variações de pressão, entre outros (SOLOMON, 1985). Os problemas de desuniformidade de vazão também estão associados à diminuição da vazão nominal do gotejador, devido às obstruções provocadas pela precipitação de CaCO3 nos reduzidos diâmetros dos condutos e bocais dos emissores e pela lenta velocidade de escoamento, ou pelo aumento da vazão nominal do gotejador, devido à deposição de materiais na membrana flexível dos gotejadores autocompensantes, assim como pela deterioração da mesma (GILBERT e FORD, 1986). MATERIAL E MÉTODOS A primeira parte do projeto foi desenvolvida no Laboratório de Irrigação do Departamento de Engenharia de Biosistemas - ESALQ – USP para caracterizar diferentes modelos de tubos gotejadores comercializados no país. Nessa primeira etapa avaliaram-se as características hidráulicas de quatro modelos de tubos gotejadores autocompensantes. Foram analisadas as variáveis: vazão média, coeficiente de variação de fabricação e uniformidade de distribuição de água sob pressão constante de 150 kPa. As vazões dos emissores foram determinadas coletando- P. H. P. Ribeiro et al. se os volumes de água, durante 10 min, sendo avaliados 10 emissores por linha. A segunda parte do projeto foi desenvolvida no Instituto Federal Goiano - Campus Urutaí. Foi utilizada uma bancada de madeira com as seguintes dimensões: 3,0 m de comprimento por 1,0 m de largura e 1,60 m de altura para a realização dos ensaios de caracterização hidráulica de tubos gotejadores em condições subsuperficiais, os tubos foram conectados a um conjunto moto-bomba e um sistema de filtragem de forma a fornecer a pressurização exigida no experimento e água de qualidade. Foram avaliados em três linhas laterais dez gotejadores que foram selecionados aleatoriamente. Para a construção da curva de vazão versus pressão utilizou-se as pressões de 50, 100, 150, 200 e 250 kPa, foram construídas tanto em sentido crescente (aumento de pressão) quanto em sentido decrescente (decréscimo de pressão) com o intuito de verificar a ocorrência de histerese. O sistema de pressurização utilizado no experimento foi composto por duas motobombas centrífugas da marca KSB, modelo KSB Hydrobloc C750, sendo cada conjunto motobomba específico para a aplicação de uma determinada qualidade de água. Para evitar a entrada de partículas em suspensão no sistema com tamanho superior ao diâmetro dos emissores, foi utilizado um filtro de disco de 120 mesh/Amiad com capacidade para 15 m3 h-1 de vazão. Na entrada de cada nível, instalou-se uma tomada de pressão, permitindo o ajuste da pressão de serviço no início de cada tubo gotejador durante os ensaios de vazão. Para a medição e monitoramento da pressão de serviço, foi utilizado um manômetro com faixa de leitura de 0 - 700 kPa. O procedimento para a realização da leitura de vazão consistiu na pressurização do sistema, estabilização da pressão em 150 kPa (+/- 5 kPa) no início da linha, posicionamento dos coletores sob os respectivos gotejadores, com 3 segundos de defasagem, e retirada dos coletores com a mesma sequência e defasagem de tempo, após 5 minutos de coleta. Posteriormente, tabularam-se os dados e efetuaram-se os cálculos da vazão, do coeficiente de variação de vazão e uniformidade de distribuição pelas equações 1 a 3. q= P 60 1000 t (eq. 1) CV q = s 100 q (eq. 2) UD = q 25 100 q (eq. 3) em que: P – peso da água coletada, g; t – tempo de coleta, min; q – vazão do gotejador usado, L h-1; CVq – coeficiente de variação de vazão, %; s – desvio padrão da vazão dos gotejadores, L h-1; UD – uniformidade de distribuição de água, %; q 25 – vazão média de ¼ dos menores valores, L h-1. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 mostra os valores de vazão média (L h-1), coeficiente de variação de fabricação (CVf, %) e uniformidade de distribuição de água para gotejadores novos (UD, %). Segundo a classificação do Projeto de Normas 12: 02-08-02 da ABNT (1986), os valores de coeficiente de variação de fabricação medidos, enquadram-se como bons para todos os modelos de gotejadores avaliados. A Figura 1 mostra as curvas de vazão em função da pressão para os gotejadores ensaiados em condições de irrigação por gotejamento superficial com orifícios dos gotejadores posicionados para baixo. Os resultados mostraram a ocorrência de histerese para valores de pressão superiores a 200 kPa. Tabela 1. Valores de vazão média (VM) em L h-1, coeficiente de variação de fabricação (CVf) em %, e uniformidade de distribuição de água (UDnovo) em %, quantificados pela medição individual da vazão dos gotejadores novos Modelo Vazão VM CVf UDnovo P. H. P. Ribeiro et al. (L h-1) (L h-1) NAAN PC 2,1 2,09 RAM 2,3 2,34 HYDRO PC 2,0 2,13 DRIPNET 1,6 1,57 (%) 5,74 2,73 3,49 2,83 (%) 97,80 97,20 96,24 96,83 Figura 1. Curvas – Superficial – (gotejadores posicionados para baixo). A Figura 2 mostra as curvas de vazão em função da pressão para os gotejadores ensaiados em condições de irrigação por gotejamento superficial com os orifícios dos gotejadores posicionados para cima. Figura 2. Curvas – Superficial – (gotejadores posicionados para cima). Conforme os dados mostrados na Figura 2, ocorreu histerese para valores de pressão superiores a 250 kPa. A Figura 3 mostra as curvas de vazão em função da pressão para os gotejadores ensaiados em condições de gotejo subsuperficial com os orifícios dos gotejadores posicionados para cima. Figura 3. Curvas – Subsuperficial – (gotejadores posicionados para cima). Conforme os dados mostrados na Figura 3, ocorreu histerese para os valores de vazão coletados utilizando-se as pressões igual a 50, 100 e 150 kPa. A Figura 4 mostra as curvas de vazão em função da pressão para os gotejadores ensaiados em condições de gotejo subsuperficial com os orifícios dos gotejadores posicionados para baixo. Conforme os dados mostrados na Figura 4 ocorreu histerese para os valores de vazão coletados utilizando-se as pressões igual a 50 e 150 kPa. P. H. P. Ribeiro et al. Figura 4. Curvas – Subsuperficial – (gotejadores posicionados para baixo). CONCLUSÕES Os modelos de gotejadores ensaiados na primeira parte do trabalho mostraram excelente coeficiente de variação de fabricação e uniformidade de distribuição de água. Já o modelo de tubo gotejador analisado na segunda parte do ensaio mostrou ser sensível a ocorrência de histerese para valores de pressão superiores a 200 kPa, mas com início da ocorrência de histerese a utilizando-se 150 kPa tanto para pressão crescente, quanto para pressão decrescente. Dessa forma, verificou-se que a uniformidade de distribuição de água para o ensaio com pressão em sentido decrescente foi superior aos ensaios com pressão crescente. REFERÊNCIAS BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 8. ed. Viçosa: UFV. 2006, 625p. GILBERT, R. G.; FORD, H. W. Operational principles / emitter clogging. In: NAKAYAMA, F. S.; BUCKS, D. A. Trickle irrigation for crop production - design, operation and management. Amsterdam: Elsevier, 1986. p. 142-163. LEITE, J. A. O. Avaliação da susceptibilidade de tubogotejadores ao entupimento por precipitados químicos de carbonato de cálcio. 1995. 64 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de Lavras, Lavras, 1995. RESENDE, R. S. Suscetibilidade de gotejadores ao entupimento de causa biológica e avaliação do desentupimento via cloração da água de irrigação, 1999. 77p. Dissertação (Mestrado em Irrigação e Drenagem) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1999. PHENE, C. J.; DAVIS, K. R.; HUTMACHER, R. B.; McCORMICK, R. L. Advantages of subsurface irrigation for processing tomatoes. In: INTERNACIONAL SYPOSIUM ON INTEGRATED MANAGEMENT PRATICES FOR TOMATO AND PEPPER PRODUCTION IN THE TROPICS, 1987, Shanhua, Taiwan. Proceedings… Shanhua: [s.n.], 1987. p. 325-338. SOLOMON, K. H. Global uniformity of trickle irrigation systems. Transactions of the ASAE, St. Joseph, v.28, n.4, p.1151-1158, 1985.