Realidade Brasileira___________________________________________________________Capítulo 12 CAPÍTULO 12 Brasília e as rodovias O projeto, segundo Lúcio Costa, “nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”. Procurou-se em seguida uma adaptação à topografia local, ao escoamento das águas, à melhor orientação. Houve uma clara preocupação de aplicar ao urbanismo os princípios considerados mais avançados na técnica rodoviária. Foram eliminados os cruzamentos através de retornos em desnível. No box do capítulo anterior você entrou em contato com uma idéia importante: na metade do século XX, mais exatamente no final da década de 1950, o Brasil estava na moda e os brasileiros estavam tomados de bastante otimismo. Por isso, faz alguns anos, a Rede Globo, para falar daquela época, produziu uma minissérie estrelada por Malu Mader, chamada Anos Dourados. Compare com a situação de hoje. Os jornais e a televisão falam, atualmente, do crescimento da Rússia, da Índia e, principalmente, da China: ano que vem, com olimpíadas em Pequim, a China estará em destaque na economia, na cultura, nos esportes. Assim era com o Brasil: destaque nos esportes, na cultura, na economia. O que se passava na economia? Apesar do esforço industrialista de Vargas, Juscelino Kubitschek recebia um país cujas exportações, em 85%, se resumiam a café, açúcar, algodão e cacau. A pouca Brasília e as rodovias 1 Realidade Brasileira___________________________________________________________Capítulo 12 indústria que o Brasil possuía era praticamente toda para o mercado interno. Se o país não se industrializasse mais, viria o estrangulamento. Por que usamos a palavra estrangulamento? Porque as exportações, fracas, conseguiam os dólares necessários, mas escassos, com os quais o Brasil importava as máquinas usadas na nossa incipiente indústria. Nossa indústria era de tecidos, calçados, bebidas, alimentação, um pouco de metalurgia e siderurgia; e tudo isso exige máquinas vindas de fora: máquinas que não sabíamos fabricar. Juscelino considerou ter duas idéias brilhantes. Seu estilo de administrar pedia projetos estruturantes ou metas-síntese, que são a mesma coisa: um objetivo que, para sua execução, viabiliza ou facilita a execução de outros objetivos. Para dar otimismo ao país, o lema 50 anos em 5 do Plano de Metas atingia o imaginário da população num tempo em que não havia os marqueteiros de hoje. Para servir de meta-síntese geral do governo, a Construção de Brasília; como meta-síntese particular para um novo salto industrial, a instalação da indústria automobilística. Construir uma nova capital implicava milhares e milhares de empregos diretos, pois havia um mundo de prédios a levantar, ruas a abrir, terrenos a terraplanar. Mais tantos empregos na indústria para fabricar o material de construção, as máquinas para as obras. Uma capital no Planalto Central significava muitos milhares de quilômetros de estradas federais a rasgar e pavimentar. A isso chamaremos de efeito-multiplicador. Para inaugurar Brasília, era preciso construir a São Paulo-Brasília; a Belo Horizonte -Brasília; a Belém-Brasília; a Goiânia-Brasília. No caso da indústria automobilística algo semelhante estava presente, em matéria de efeito-multiplicador. As empresas destinadas a produzir o automóvel, pensava Juscelino, seriam inelutavelmente estrangeiras: os americanos, ingleses, alemães e franceses fabricavam automóveis fazia muito tempo, logo detinham um know-how que não podíamos alcançar: por isso foi criticado como entreguista, ou seja, como aquele que estava compactuado com capitais estrangeiros. Brasília e as rodovias 2 Realidade Brasileira___________________________________________________________Capítulo 12 No entanto, um automóvel é um bem industrial muito complexo, em que vários componentes, bastante diferenciados entre si, tendem a ser fabricados por indústrias nacionais, de capital nacional: faróis, vidros, componentes de borracha, fluidos, óleos combustíveis etc. Sem falar das encomendas de matérias-primas já manufaturadas, como o aço. Esse grande setor de autopeças é a expressão do efeito-multiplicador que Juscelino tinha em mente. De fato, em torno principalmente do cinturão industrial que se desenvolveu no ABCD paulista (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema) surgiram empresas nacionais na sombra das montadoras multinacionais. Agora podemos avançar no raciocínio e perceber a combinação das duas metas-síntese do governo: tanto a construção de Brasília quanto a atração da indústria automobilística internacional vão demandar o desenvolvimento de uma grande malha rodoviária. Estávamos diante do falecimento do transporte ferroviário como líder do transporte de cargas. O ABC paulista construirá não apenas carros de passeio, mas também caminhões Ford, Mercedes, Chevrolet e Scania. É a hegemonia da malha rodoviária para o transporte de passageiros e de cargas no país continental. Brasília e as rodovias 3 Realidade Brasileira___________________________________________________________Capítulo 12 O PAÍS DO AUTOMÓVEL ? Com certeza o país do automóvel são os Estados Unidos. São eles que possuem a capital mundial do automóvel, Detroit. Mas na década de 1970 o Brasil já era um mercado muito significativo para empresas como a GM, a Ford, a FIAT e, especialmente, a Volkswagen. A mecânica econômica e resistente do fusca tornou-o uma preferência nacional, tanto nas cidades como no mundo rural das estradas esburacadas: até hoje, em pequenas propriedades rurais, encontramos o fusca de 1600 cc como o carro utilitário do sitiante. O transporte rodoviário e o amor do brasileiro pelo automóvel virou apelo de publicidade na televisão e o mito cresceu quando nos tornamos especialistas em campeões de Fórmula 1. Não, não estamos falando da geração Schumacher e Barrichello. Falamos de antes, quando produzimos Emerson Fittipaldi e seu irmão, Wilson; José Carlos Pace; e os dois tri-campeões, Nelson Piquet e Ayrton Sena. Quem, na Europa, conseguia explicar o porquê do país do futebol ser tão talentoso com o volante na mão? Você Sabia... ...que a palavra “automóvel” surgiu na França em 1875 e vem do grego autos, que significa “por si só” e do latim mobilis que quer dizer “móvel” e ainda, que o primeiro automóvel a circular no Brasil foi em 1893 guiado por Henrique Santos Dumont, (isso mesmo, irmão de Alberto, o inventor do avião). Brasília e as rodovias 4 Realidade Brasileira___________________________________________________________Capítulo 12 TESTE SEUS CONHECIMENTOS 1. Em resumo, como Juscelino pretendia administrar o Brasil, para impulsionar seu crescimento? ____________________________________________________ ____________________________________________________ Brasília e as rodovias 5