11.° CONEX – Apresentação Oral – Resumo Expandido 1 ÁREA TEMÁTICA: ( ) (X) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) COMUNICAÇÃO CULTURA DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA EDUCAÇÃO MEIO AMBIENTE SAÚDE TRABALHO TECNOLOGIA SESSÃO BIANCHI APRESENTA: O CINEMA CRÍTICO-SOCIAL DE SERGIO BIANCHI, POÉTICAS E POSSIBILIDADES 1 DIAS, Maria Andréia 2 SILVA JUNIOR, Nelson RESUMO – O projeto de extensão “O cinema de Sergio Bianchi: poéticas e possibilidades”, aplicado na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), busca, a partir do cinema do diretor pontagrossense Sergio Bianchi, evidenciar as particularidades que fazem com que este diretor tenha um dos trabalhos mais singulares dentro do cinema crítico-social brasileiro. As obras cinematográficas de Bianchi têm como característica principal colocar em voga as mazelas humanas e sociais apostando, especialmente, em temas como: as diferenças de classes, a exploração social das minorias e as contradições existentes na sociedade brasileira contemporânea, sem deixar de lado a dubialidade do caráter humano. E é nesse meio que Sergio Bianchi desenvolve sua linguagem estética ímpar para o cinema nacional. O projeto consiste na apresentação dos 6 (seis) filmes (longametragem) e 4 (quatro) curtas (curta-metragem) sob a direção de Sergio Bianchi, chamada “Sessão Bianchi”. Após as exibições, acontece um debate entre os presentes, o qual se alicerça em aspectos sobre o filme, tais como: o tema, contexto histórico e social da obra e do filme, a direção, aspectos visuais, entre outros. Com isso pretende-se encontrar nas obras de Sergio Bianchi uma identidade visual própria desse cineasta, o que aqui, denominamos, de poética visual, fundamentada no conceito de poética aplicada às Artes Visuais. PALAVRAS CHAVE – Cinema. Poéticas Visuais. Sergio Bianchi. 1 Acadêmica do curso de Licenciatura em Artes Visuais, Bolsista do Programa de Iniciação Cientifica. mariaganas@hotmail. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG) e doutorando em Comunicação e Linguagens, linha de Cinema (UTP), professor Assistente, Chefe Departamento de Artes da UEPG. [email protected]. 2 11.° CONEX – Apresentação Oral – Resumo Expandido 2 Introdução O projeto de Extensão “O Cinema de Sergio Bianchi: poéticas e possibilidades” tem como proposta rever as concepções de poéticas visuais nas artes plásticas e os possíveis diálogos destas com a linguagem cinematográfica, em especial com a obra do diretor pontagrossense Sergio Bianchi, o qual construiu uma poética própria dentro de sua cinematografia crítico-social. A escolha pelo tema em questão se fez a partir do interesse de buscar na arte cinematográfica de Sergio Bianchi os fundamentos e preceitos que possam revelar a existência de uma poética visual própria, fundamentada no conceito de poética aplicada às Artes Visuais. A partir de Longhi (2005) pode-se iniciar um diálogo com as poéticas visuais no cinema, pois assim como o pintor “sente” o que vê e o retrata na tela, o cineasta transpõe para a película o seu lirismo visual, a partir das delimitações impostas quadro a quadro, no universo fílmico. Para Martins (1998) as produções artísticas são criadas a partir dos sentidos, da imaginação, da percepção, do sentimento, do pensamento e da memória simbólica do homem. Quando o homem confronta seus universos, interior e exterior, cria uma fusão entre aquilo que os antigos filósofos gregos chamavam de techné, a capacidade de operar os meios com sabedoria e a poiesis, a capacidade de criação. Essa fusão revela verdades presentes na natureza e na vida que ficariam ocultas sem sua presentificação. “Desse modo, o ser humano poetiza sua relação com o mundo” (MARTINS, 1998, p.57). A construção da Poética Visual de Bianchi em seu cinema crítico-social se dá a partir de uma leitura crítica da realidade social brasileira, para a qual o cineasta vai buscar em outras fases do cinema nacional, como o Cinema Novo, bases metodológicas para a consolidação deste referencial. Dessa forma, este estudo orienta-se em torno da problemática de como se dá a construção de uma poética visual nas obras do cineasta. A partir de uma concepção de Poética Visual nas Artes Plásticas, é que se concretiza o entendimento de uma Poética Visual no cinema de Bianchi, que constrói em seu conjunto de obras uma linguagem visual característica da realidade social brasileira. Este estudo tem um caráter interdisciplinar ao propor um diálogo entre as Artes Visuais e o Cinema, num conjunto de obras cinematográficas, configurando-se assim num estudo relevante e original para ambas as áreas do conhecimento. Sergio Bianchi nasceu em Ponta Grossa (PR) em 1945. A herança artística e o gosto pela visualidade, deixados por seu avô e seu pai – fotógrafos respeitados na cidade, responsáveis, por um dos maiores acervos fotográficos do Paraná – manifestam-se em seu fazer cinematográfico. Em 1968 ingressou na Escola de Comunicação e Artes da USP – São Paulo, momento em que o Brasil vivenciava o Cinema Novo. Antes de tomar as rédeas de seus próprios filmes, Bianchi trabalhou como assistente de direção, assistente de produção, fotógrafo e publicitário. Foi também coordenador do setor de cinema do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura do Estado do Paraná. Seu primeiro trabalho cinematográfico aconteceu em 1972, com o curta metragem Omnibus, baseado em um dos contos de Bestiário de Julio Cortázar. O cinema de Sergio Bianchi é o que se pode chamar de perturbador e irreverente ao mesmo tempo, pois trás consigo a representação do limite humano e da mesquinhez do homem em sociedade e em suas particularidades. O desenvolvimento de sua poética visual e a temática que permeia seus trabalhos está no cotidiano do povo brasileiro, seus sistemas burocráticos e suas questões morais de convívio social e particular. É através desses pormenores da vida humana que Bianchi busca sua inspiração e a traz para a tela de forma visceral e intensa. Segundo Fischer e Silva Junior (2013), Sergio Bianchi (1945) é um cineasta brasileiro cujo conjunto de obras explora diversas facetas da sociedade brasileira contemporânea. Desenvolve uma linguagem provocante e polemica, fazendo uso hábil de uma narrativa centrada naquilo que de caótico se pode observar no cotidiano do país. (...) O cinema de Bianchi está estruturado em uma narrativa que trata, em especial, das desigualdades que pontuam o tecido social de um mundo predominantemente degradado e decadente, povoado por personagens encurraladas em cotidianos claustrofóbicos. (2013, p.114) Observa-se que Bianchi produz um cinema que, apesar de explorar temas que não são inéditos na filmografia brasileira, tais como, a desigualdade econômica e social, instituiu uma forma ímpar em sua narrativa, intenção e poética. Isso leva Oliveira (2006), a afirmar que, Por conta de seus filmes, muitos são os adjetivos que já lhe foram atribuídos por seus críticos e admiradores. A reputação de rebelde, maldito, radical, autoritário é tão alardeada quanto à de talentoso, ousado, criativo e visceral. Seu cinema tem a pretensão de provocar, transgredir, desconcertar e assumir riscos, tendo como alvo principal o retrato impiedoso de ações, 11.° CONEX – Apresentação Oral – Resumo Expandido 3 comportamentos e sentimentos que espelham uma representação da realidade brasileira. (2006, p.17) Oliveira aponta o que esperar frente a um filme de Sergio Bianchi, no que tange a atmosfera dominante em suas obras. Araujo (2007), que escreve sobre o cinema e dedica uma especial atenção à obra de Sergio Bianchi, nos diz: Oferecendo um contracampo às imagens ilusórias na cinematografia nacional, onde o personagem é muitas vezes hegeliano, livre, absoluto, Bianchi segue mais uma linha brechtiana, onde o personagem é determinado por sua situação social e econômica e reage no contexto limitado que lhe é conferido. (2007, p.146) O cinema de Bianchi traga, envolve e mais, causa as mais diferentes sensações diante da tela. Sua filmografia como diretor, modesta quantitativamente, se compõe de 6 longas metragens: Maldita Coincidência (1979), Romance (1988), A Causa Secreta (1994), Cronicamente Inviável (2000), Quanto Vale ou é Por Quilo? (2005) e Os Inquilinos (2009), um documentário curtametragem, Mato Eles? (1982) e quatro curtas. Bianchi teve duas incursões nas telas como ator: em 1968, no filme Lance Maior, dirigido pelo também paranaense Sylvio Back e em 1979, no filme Maldita Coincidência, dirigido por ele mesmo. Objetivos O projeto tem como objetivo estabelecer a apreciação e o debate sobre os filmes do cineasta Sergio Bianchi, atentando para a poética visual em suas obras. O diagnóstico e a discussão se dão a partir de elementos como a análise semiológica da construção fílmica e a discussão críticosocial, contidos no enredo dos filmes. Procuramos com isso: - Promover o debate em torno da estrutura apresentada sobre as relações sociais estabelecidas nos filmes; - Analisar a identidade artística singular de Sergio Bianchi em suas obras; - Aprofundar o conhecimento sobre o diálogo existente entre as Artes Visuais e o Cinema, em especial, o Cinema Nacional. Metodologia Esquadrinha na arte cinematográfica de Sergio Bianchi os fundamentos e preceitos que possam revelar a existência de uma poética visual própria, fundamentada no conceito de poética aplicada às Artes Visuais. Atenta-se para seu trabalho singular dentro da temática crítico-social, onde se desenvolve uma linguagem estética ímpar no cinema nacional. A construção dessa poética está na leitura crítica da realidade social brasileira, para a qual o cineasta vai buscar em outras fases do cinema nacional, como o Cinema Novo, bases metodológicas para a consolidação deste referencial. Dessa forma, a proposta de projeto consiste na apresentação dos 6 filmes (longametragem) e 4 curtas (curta-metragem) dirigidos por Sergio Bianchi, intitulada de Sessão Bianchi. Após a exibição, ocorre um debate entre os presentes. Todas as exibições ocorrem no Anfiteatro dos cursos de Artes Visuais e Música, tendo como dinâmica, uma breve introdução sobre o filme, a exibição propriamente dita e ao final uma discussão sobre os diferentes aspectos da produção, tais como: a obra fílmica, o tema, contexto histórico e social da obra e do filme, a direção, aspectos visuais, entre outros. Com a observação e análise de toda a filmografia de Sergio Bianchi e o intento de coletar dados acerca da especificidade de cada filme, fazendo uma relação com a cinematografia nacional, com o contexto histórico e social da obra e do enredo de cada uma, este projeto se fez relevante para as artes visuais, a comunidade acadêmica e comunidade em geral. Também busca-se analisar cada obra fílmica sob as características visuais e pictóricas de uma obra de arte. A sessão ocorre com a exibição de um filme por sessão e os curtas-metragens foram exibidos em uma única sessão. Os debates após a exibição procuram promover uma reflexão sobre a obra assistida e suas relações com as Artes Plásticas, a História, a Sociologia e o próprio Cinema Nacional em si. Resultados 11.° CONEX – Apresentação Oral – Resumo Expandido 4 Os resultados deste trabalho estão ampliando a leitura, dos participantes, sobre o Cinema, não somente enquanto uma linguagem, mas também enquanto Arte e enquanto produto da Indústria Cultural, pois o projeto se propõe a investigar o cinema de Bianchi a partir de seus componentes estruturais e temáticos que determinam a composição de uma poética visual fílmica característica na obra do cineasta, investigando seu processo produtivo e a evolução histórica e sociocultural do cinema brasileiro, que tem em Bianchi um dos seus protagonistas mais crítico e polêmico. Conclusões O cinema de Sergio Bianchi, como já citado, é um cinema crítico, visceral, que trata as questões políticas e sociais de forma irônica e realista ao mesmo tempo, propondo, desta forma, um discurso pungente e singular na cinematografia nacional. Por ser um cinema tão forte e contundente, as obras de Sergio Bianchi, geralmente, são veiculadas fora do circuito dito comercial, muitas vezes ficando a margem. A partir deste projeto, se está familiarizando o meio acadêmico e também não acadêmico, com a obra de Bianchi. As discussões estabelecidas têm possibilitado uma ampliação no conceito de Poética Visual e o diálogo entre as Artes Visuais e o Cinema. Trazer a discussão sobre o cinema de Bianchi, na Universidade Estadual de Ponta Grossa, é também render ao mesmo o reconhecimento do seu trabalho, que teve, ainda em Ponta Grossa, as primeiras manifestações fotográficas, que iriam contribuir na constituição de sua obra cinematográfica, até hoje, voltada para o caos cotidiano brasileiro. Referencias ARAUJO. D. C. Imagens Revisitadas: ensaios sobre a estética da hipervenção. Porto Alegre: Sulina, 2007. LONGHI, Roberto. Breve Mas Verídica História da Pintura Italiana. Trad. Denise Bottmann. São Paulo: Cosac Naify, 2005. MARTINS, M. C., PICOSQUE, G.; GUERRA, M.T.T.. Didática do Ensino de Arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. OLIVEIRA, N. H.C. O cinema autoral de Sérgio Bianchi: uma visão crítica e irônica da realidade brasileira. 2006. 213f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicação e Artes de São Paulo, São Paulo. 2006. SILVA JUNIOR, N. e FISCHER, S. O Caos nosso de cada dia: a poética visual no cinema de Sergio Bianchi. In: VI World Congresso n Communication and Arts, 2013, Geelong, Austrália. Anais... Geelong, Austrália: COPEC, 2013, p. 114.