Diário Catarinense Reflexo da derrota na economia 08/07/2014 | 22h24 "Acabou a aspirina do brasileiro", afirma especialista em investimentos Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da gestora Fundamenta, avalia impactos no mercado brasileiro Valter Bianchi Filho analisa impactos na economia Foto: Lucas Uebel/ Divulgação/Fundamenta / Agência RBS Hyury Potter [email protected] A Copa do Mundo não influencia diretamente na economia, mas pode retardar os efeitos sentidos pela população. Essa é a análise de Valter Bianchi Filho, sócio-fundador da empresa gestora de investimentos Fundamenta, que atua na região Sul. Para o especialista, mesmo que o Brasil vencesse o principal torneio de futebol do planeta, o brasileiro ainda teria que pagar suas contas no final do mês. Com o resultado desastroso do já inesquecível 8 de julho, a única diferença que ele terá que fazer isso sem o hexa. Diário Catarinense — Qual a influência da derrota para a economia brasileira? Valter Bianchi — Não existe estudo que comprove que a Copa do Mundo possa influenciar na economia e nem na política. Por exemplo, em 2002, o Brasil ganhou a Copa, mas o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) não elegeu seu candidato. Por outro lado, Luís Inácio Lula da Silva (PT) se reelegeu e elegeu sua candidata em anos que a seleção perdeu. O que normalmente acontece é a situação econômica do país influenciar na campanha. A má gestão econômica faz com que as pesquisas mostrem que pelo menos 3/4 da população queriam algum tipo de mudança na política. DC — Antes do início da Copa, havia um temor no mercado e na indústria com os reflexos na produtividade e caos de infraestrutura. Essa expectativa negativa se consolidou? Bianchi — Muitos esperavam que a Copa seria um fiasco por conta das manifestações ou outros problemas que não apareceram. Isso não ocorreu e governo conseguiu melhorar um pouco a sua aprovação. Mas isso é passageiro. Na prática, o estrago na Copa já foi feito. Esta semana, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostrou que houve uma queda na produção de automóveis de 20% a 30% no mês de junho deste ano em comparação com o mesmo período em 2013. DC — E os reflexos para o comércio, por conta dos jogos? Bianchi — Alguns setores conseguiram se beneficiar um pouco, mas no geral houve um arrefecimento nas atividades do comércio, principalmente varejo. O motivo é o excesso de paralisações por causa dos jogos. Agora não é possível ver isso claramente, mas deve refletir diretamente no PIB do segundo trimestre. DC — Teria sido diferente se o Brasil tivesse vencido o jogo contra a Alemanha? Bianchi — Vejo isso como uma espécie de política de pão e circo que o governo apostou. Mas isso funciona por pouco tempo. O Brasil poderia ter vencido por goleada, a sensação de que está tudo bem duraria apenas alguns dias a mais. A Copa tinha um efeito de aspirina no povo, mas isso não é solução. Quando o brasileiro chegar em casa, ele vai continuar tendo que pagar suas contas. E mais, uma derrota tão grande como a de ontem pode reavivar esse sentimento. Acabou o circo, é hora de encarar a realidade. DC — O investidor estrangeiro pode se afastar do país por conta do vexame em campo? Quais serão os reflexos da imagem internacional do Brasil no mercado financeiro? Bianchi — Adoraria que um resultado positivo do Brasil se refletisse no ânimo dos investidores, mas isso não acontece. Nós continuamos construindo menos, produzindo menos e tendo uma logística cada vez mais cara. Além disso, há a política cambial do governo fora de uma realidade. Para melhorarmos a competitividade no mercado, o dólar deveria estar a pelo menos R$2,50, não girando em torno dos R$2,20 que o governo mantém. A única forma de capitalizar isso seria politicamente, não economicamente. Repito, a política de pão e circo não fará o povo esquecer as mazelas.