Notas de Aula de ENT 110 – Sericicultura
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SERICICULTURA
1. INTRODUÇÃO À SERICICULTURA
A sericicultura é uma das atividades agroindustriais mais antigas de
que se tem notícia na humanidade. Compreende a cultura da amoreira, a
criação do bicho-da-seda e a produção dos fios de seda para a indústria têxtil,
ou seja, a sericicultura é a arte de produzir seda.
Seda é um produto filamentoso de origem protéica, produzida pelas
glândulas sericígenas das lagartas do bicho-da-seda, principalmente Bombyx
mori Linnaeus 1758 (Lepidoptera: Bombycidae), que produz mais de 95% da
seda produzida no mundo.
Dos mais de 50 países produtores de seda no mundo, o Brasil
destaca-se em quinto lugar na produção mundial, porém ocupa uma das
primeiras posições no quesito qualidade, devido ao sistema integrado de
produção, que padroniza todas as operações e insumos ao longo da cadeia
produtiva, diferentemente de outros países produtores, que utilizam grande
número de variedades de amoreira e de bicho-da-seda.
1.1. HISTÓRICO
A sericicultura teve origem na China por volta de 4500 a.C., quando a
Imperatriz Hsi-Ling-Chi, esposa do Imperador Hwang-Te, propiciou aos sábios
da época condições de estudar e controlar o ciclo
do bicho-da-seda
alimentando-o com folhas de amoreira-branca e matando os adultos antes de
emergirem, além de conhecer as técnicas do bobinamento dos filamentos,
tecendo-os em fios resistentes que, posteriormente, eram usados para a
confecção de tecidos.
Os chineses dominaram o segredo de produção da seda por mais de
3000 anos, impondo severos castigos, como a pena de morte, àqueles que
contrabandeavam os ovos do bicho-da-seda ou as sementes de amoreira para
fora do seu território.
Com o reatamento das relações comerciais da China com outros
países e com a imigração dos chineses, a sericicultura chegou à Coréia por
volta do ano 1000 a.C. Daí, atingiu o Japão (≅ 337 a.C.), a Índia (≅ 400 a.C.) e
o Tibet (≅ 140 a.C.). Por volta de 550 d.C., a sericicultura foi introduzida em
Constantinopla (Istambul), difundindo-se mais tarde para a Itália, França,
Espanha e outros países.
No Brasil, a sericicultura foi introduzida por Moreira Azevedo, após a
vinda de D. João VI. Entretanto, somente no século XIX alcançou maior
desenvolvimento com a fundação da Companhia Seropédica Fluminense, em
Itaguaí (RJ), por José Pereira Tavares.Em 1848, D. Pedro II, sócio majoritário
da Companhia, passou a denominá-la de Imperial Companhia Seropédica
Fluminense.
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Em 1850 foi introduzida, em Sorocaba (SP), a primeira máquina de
desenrolar fios de seda. Em 1912, o Governo Federal criou a primeira Estação
Experimental de Sericicultura, em Barbacena (MG). Em 1921 foi criada a
Indústria de Seda Nacional S.A, implantada por Francisco Matarazzo,
Campinas (SP), estimulando o desenvolvimento da sericicultura, através da
formação de técnicos de campo, além da produção de mudas de amoreiras e
ovos de bicho-da-seda.
a
No ano de 1935, o governo de São Paulo criou a 3 Seção de
Sericicultura com a finalidade de produzir ovos do bicho-da-seda e de prestar
assistência técnica aos produtores. Em 1941, ela passou a se chamar Serviço
de Sericicultura do Estado de São Paulo. Após a Segunda Guerra Mundial, a
sericicultura se expandiu muito, principalmente nos Estados de São Paulo,
Paraná e Mato Grosso do Sul.
1.2. SITUAÇÃO ATUAL DA SERICICULTURA
A sericicultura é explorada em mais de 50 países em todo o mundo. A
produção mundial de fios de seda gira em torno de 95 mil toneladas
anualmente, sendo que a China contribui com 69,0% e a Índia, com 16,0%,
sendo os maiores produtores.
O Brasil situa-se em quinto lugar com 2,7% da produção mundial,
2500 toneladas, em 1995. As exportações correspondem a 95% da produção
nacional, sendo o Japão o maior importador da seda brasileira com
participação de mais de 60%.
Os Estados brasileiros com a maior produção de casulos verdes são
Paraná, com 80%, São Paulo, 13%, e Mato Grosso do Sul, 3%. Em Minas
Gerais, a sericicultura concentra-se no sul e sudeste do Estado, no entanto a
produção é pouco significativa no contexto nacional, apesar do clima favorável
e da proximidade com as indústrias beneficiadoras de casulos.
1.3. SISTEMA INTEGRADO DE PRODUÇÃO
O sistema de produção de fios de seda no Brasil é dito integrado,
envolvendo principalmente empresas e produtores, além do governo em
alguns Estados. O sistema funciona através de uma empresa que decide
explorar uma determinada região e procura os produtores locais para
formarem uma parceria. A empresa se compromete a distribuir as estacas de
amoreira, produzir e distribuir as lagartas de terceira idade para os produtores
conveniados e garantir a compra dos casulos a preço de mercado. Os
produtores, conveniados à empresa, se comprometem a comprar as lagartas e
produzir os casulos, que são vendidos para a empresa produtora de fios de
seda conveniada. Para os produtores poderem iniciar o negócio, o governo
cria programas de crédito para a sericicultura, em que os produtores adquirem
empréstimos em um banco oficial (público) e saldam suas dívidas com a
venda dos casulos à empresa conveniada.
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Em alguns Estados, não existem programas de crédito para a
sericicultura e os produtores iniciam o negócio com capital próprio ou tomam
empréstimo normal, com pagamento não vinculado à produção de casulos.
A maioria dos créditos agrícolas à sericicultura estabelece um prazo
de amortização de dois a cinco anos, com uma carência de dois anos. Os
financiamentos são destinados para todas as etapas.
1.4. ASSISTÊNCIA TÉCNICA
A assistência técnica para os sericicultores é prestada geralmente
pelas empresas produtoras de fios de seda, mas também por alguns órgãos
públicos de assistência técnica dos Estados.
1.5. IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA
- Cultura alternativa: a sericicultura vem oferecendo uma alternativa
promissora nas atividades agro-zootécnicas por constituir uma exploração de
pequeno risco, que necessita de pequena área, pequeno capital de giro,
utilização de mão-de-obra familiar e produção para o mercado externo.
- Produto de exportação: atualmente, cerca de 95% da produção nacional é
exportada. O fio de seda tem um mercado externo promissor, pois a China, o
maior produtor, está reduzindo sua produção pela mudança na economia do
país. No Japão, grande produtor e importador mundial de fios de seda, o
consumo vem aumentando muito, o país não possui área disponível para o
cultivo da amoreira e, por isso, está preferindo importar fios semibeneficiados
para sua indústria de tecidos. Além disso, o preço do produto é determinado
pelo mercado internacional em dólares, reduzindo sua desvalorização em
relação ao real.
- Fixação do homem no campo: a sericicultura fixa o homem no campo, pois é
uma atividade que pode ser desenvolvida paralelamente a outras culturas,
como o café, milho e pecuária leiteira, etc., empregando a mão-de-obra o ano
todo, propiciando estabilidade no emprego. Além disso, tem baixo custo em
insumos, retorno rápido do capital investido e garantia da venda de toda a
produção.
- Pouca dependência climática: por ser uma planta rústica, a amoreira, único
alimento do bicho-da-seda, depende pouco das precipitações pluviométricas,
possibilitando sua produção em praticamente todo país.
- Pequeno custo de produção: como o alimento do bicho-da-seda consiste
unicamente de folhas de amoreira, essa pode ser produzida a um baixo custo,
diminuindo os custos de produção. Os custos iniciais consistem na formação
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do amoreiral, construção da sirgaria e depósitos de folhas, que exigem baixas
quantidades de recursos investidos.
- Racionalização da mão-de-obra: pelo fato de as atividades de manejo na
criação exigirem pouco esforço físico e serem realizadas dentro das sirgarias e
próximos à residência, elas apresentam a possibilidade de serem realizadas
por mulheres, idosos, adolescentes, ocupando a mão-de-obra geralmente
ociosa do campo.
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