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Pesquisa com fungos da Antártica pode abrir rotas para o
desenvolvimento de terapias contra doenças negligenciadas
Mais de cinco mil linhagens já foram obtidas
O combate à dengue, à leishmaniose e à doença de
Chagas pode ganhar importantes aliados nos próximos
anos, graças ao trabalho coordenado pelo professor Luiz
Henrique Rosa, do ICB, e pelo pesquisador Carlos Leomar
Zani, do Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR/
Fiocruz), no Proantar. Fungos encontrados na Antártica que
apresentaram reação aos agentes causadores dessas doenças demonstram uma possibilidade de desenvolvimento de
remédios para seu tratamento.
A viagem à Antártica, neste ano, é a sétima do professor
Luiz Rosa, a primeira como coordenador do MycoAntar: diversidade e bioprospecção de fungos da Antártica. Durante
a expedição, a equipe dará continuidade à coleta de amostras para o estudo de fungos do continente.
O processo começa com o isolamento dos fungos, seguido pela taxonomia, processo que consiste na identificação, caracterização e classificação desses micro-organismos que serão utilizados como fonte das substâncias com
atividade biológica.
As origens do MycoAntar remontam a 2005, quando o
professor foi convidado pela professora Vivian Pellizari, da
USP, para formar grupo de microbiologia com o objetivo
de estudar os micro-organismos da região antártica. Com
a parceria, os fungos passaram a ser objeto de estudo do
grupo de pesquisa em Biodiversidade e bioprospecção dos
fungos do ICB.
A primeira viagem à Antártica foi em 2006. A equipe,
formada pelo professor Luiz Rosa, por Cristina Nakayama,
atualmente professora da Unifesp, e pela hoje doutora Lia
Rocha, foi responsável pelo primeiro trabalho de coleta de
amostras. “O início do processamento do material ocorreu
ainda na Estação Antártica Comandante Ferraz. Trouxemos
várias amostras para o Brasil e começamos a encontrar resultados muito interessantes”, conta Luiz Rosa.
Linhagens identificadas - Desde então, mais cinco mil
linhagens foram obtidas. Com esses micro-organismos
está sendo montada uma coleção temática de fungos da
Antártica. Essas culturas vivas e congeladas foram incluídas
em coleção mantida pelo ICB. “Muitos desses fungos são
candidatos a espécies novas. Porém, ainda é necessário
mais estudo e pesquisa”, afirma Luiz Rosa.
Por meio da identificação e cultivo dessas linhagens, tem
sido possível verificar a capacidade de algumas substâncias produzidas pelos fungos de atuarem contra os agentes
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causadores da dengue, da leishmaniose, da doença de
Chagas e contra células tumorais humanas.
“Após observar as atividades, cultivamos os fungos em
larga escala, a fim de tentar isolar e purificar as substâncias bioativas, identificá-las e verificar seu potencial para a
obtenção de novo fármaco ou de um pesticida”, detalha o
professor do ICB.
Essa fase da pesquisa é realizada em parceria com o
CPqRR/Fiocruz, responsável pelo desenvolvimento em plataformas de ensaios biológicos. “Produzimos o extrato do
fungo na UFMG, e os pesquisadores do CPqRR realizam
testes para verificar a atividade em relação a essas doenças.
Quando há interação, o fungo passa a ser produzido em
maior escala”, explica o professor.
Entre as linhagens identificadas, o professor destaca
dois grupos: os fungos cosmopolitas, que podem ser encontrados em vários lugares do mundo, e os endêmicos,
observados apenas na região pesquisada. Por serem capazes de sobreviver em um ambiente como a Antártica, esses
fungos podem possuir vias metabólicas exclusivas e, por
isso, produzir substâncias bioativas únicas.
Além disso, o balanço entre a abundância de espécies
endêmicas e cosmopolitas pode representar um modelo
para o estudo das mudanças climáticas na região. “A diminuição de espécies endêmicas e o avanço das cosmopolitas podem ocorrer em razão das mudanças climáticas,
principalmente na Península Antártica, local extremamente
sensível”, detalha Luiz Rosa.
Visibilidade - Para registrar e tornar públicas as atividades do MycoAntar, foi lançada neste ano a iniciativa de
extensão MycoProjector: projetando a diversidade de fungos da Antártica, desenvolvida pelo Centro de Comunicação
(Cedecom). Além de criar uma plataforma de interação por
meio de um blog e a identidade visual para o projeto, uma
equipe do Cedecom vai acompanhar, entre novembro e fevereiro, pesquisadores durante a coleta de amostras.
Com a iniciativa, a equipe avança no seu objetivo de “desenvolver um projeto de comunicação científica que vai além
da divulgação”, afirma a coordenadora do MycoProjector,
Juliana Botelho. Ela acrescenta que o projeto vem-se
aproximando de laboratórios de ensino na área de comunicação. “Prova disso é a parceria firmada com a disciplina Laboratório de Comunicação, que será ministrada pelo
professor Nísio Teixeira, do Departamento de Comunicação
R evista A nalytica • Agosto/Setembro 2014 • nº 72
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