Sampa, Te vivi intensamente, por todos esses anos... Já te vi acesa nas madrugadas afora dos workaholics e insones de plantão. Já te vi apagada no apagão. Já te vi linda, decorada, povoada, musicada, encantada aos natais. Já te vi dormindo, já te vi acordada, pilhada, apressada, cansada... Já te vi com fogos de artifício, sendo palco de cenas inúmeras de comerciais, entrevistas. Suas esquinas e avenidas, palcos de passeatas, de mudanças, revoluções, concretizam sua história. Quem mandou ser um cartão postal? Já te vi parada, já te vi vazia sendo pista para Ferraris enjauladas em suas garagens tirando o atraso semanal. Já te vi na parada gay, te vejo sempre na bicicletada. Já te vi livre, já te vi engarrafada. Já te vi correndo, já te vi sentada. É palco de esquisitices, de apaixonados, drogados, revoltados, trabalhadores, de artistas, de engravatados, de assaltos e de mendigos também. É vitrine de tendências. Te vejo palco de skatistas, patinadores, e de muitos acidentes também. Pedestres, carros, ônibus e libertários que morrem atropelados em suas esquinas. Por conta de tantas obras, já te vi trocando de roupa, sendo repaginada. Já te vi cheia de esperança na queima dos fogos de ano novo. Guarda tantos segredos, becos, surpresas. Quantas galerias, shoppings, comércios informais, mercado negro. Tem pra todos os gostos. É um lugar que ninguém se sente desamparado, tem pra todos! Te acho linda, mas imagino que na sua juventude foste mais. Menos concreta, mais subjetiva. Com menos prédios, talvez fosse possível ver melhor sua beleza. Mas de qualquer forma, você me inspira, me abriga, me encoraja, me deprime, e de certa forma, me encanta. E pra não dizer que só falei de flores, o assalto a mão armada, o trânsito, as filas, intermináveis, pra tudo, as chuvas torrenciais que te inundam de mau humor e desesperança, a pobreza latente envolta na riqueza excludente; os ônibus lotados, o sufocamento a 7 palmos embaixo da terra em metrôs lotados, parados, quando algum suicida de plantão resolve se jogar na linha do trem, bem na hora do rush. Os banhos de água suja dos ônibus apressados, os táxis desesperados, os motoqueiros atormentados... Você, Sampa, é daquele tipo de lugar que não passa batido, que não deixa barato, que encanta e desencanta, que marca. Sampa, tu é meio bossa nova, meio rock n´roll; meia muçarela, meia calabresa; meia Carandiru, meia Liberdade; meia 25 de Março, meia Daslu; meia conformada, meia revoltada; meia populosa, meia solidão... Não existe uma palavra para te definir, mas te aceito assim, do jeito sincero e indecifrável que você se apresentou pra mim.