Fazenda produz 70 mil litros de leite por dia com sistema de carrossel Alta tecnologia permite extrair o leite de 72 vacas em menos de 15 minutos. Globo Rural visitou uma das maiores produtoras de leite tipo A do Brasil. Ivaci MatiasDo Globo Rural Hoje em dia, muitas granjas leiteiras são tão tecnificadas que acabam parecendo uma fábrica de leite. Esse é o caso da Fazenda Colorado uma das maiores produtoras de leite tipo A do Brasil. Localizada próximo à cidade de Araras, a 180 quilômetros da cidade de São Paulo, ela possui 1.700 vacas em lactação, que produzem média de 41 litros de leite por vaca por dia. A história da Colorado começou há 50 anos, quando o empresário Lair Antônio de Souza comprou a fazenda Bom Jesus, tradicional produtora de café e leite dessa região. O filho dele, Carlos Alberto de Souza, diz que a família faz questão de preservar o antigo estábulo construído em 1923. Hoje a Colorado conseguiu reunir um rebanho de 3.700 animais, puros de origem da raça holandesa, preta e branca. As novilhas são mantidas em semiconfinamento, mas depois da primeira cria são transferidas para o barracão do confinamento, onde vivem as vacas em lactação. O médico veterinário Sérgio Soriano, diz que o desafio é diminuir a temperatura do ambiente, que no verão pode alcançar até picos de 38 graus. “A grande diferença para a vaca é que ela gasta muita da energia que ela consome para se manter viva. Então, em um ambiente estressante, com calor, mosca, ela acaba perdendo a capacidade de produzir leite para se manter”, explica. A técnica usada por eles para diminuir a temperatura se chama ventilação cruzada. O ar entra através de uma cortina de água e é sugado por exaustores gigantes que ficam na outra extremidade do barracão. Isso mantém a temperatura ao redor dos 22 graus e renova o ar constantemente. Mas além do conforto é preciso também caprichar na comida. A dieta delas tem feno de capim, silagem de milho, melaço de cana, farelo de trigo, soja, e um concentrado com vários outros nutrientes. Parte da comida é produzida na própria fazenda: são 570 hectares de milho e 60 hectares de capim da variedade tifton 85. O esterco produzido no barracão passa pelos biodigestores e se transforma no bioferlizante que irriga o capim. Bem adubado o tifton permite três cortes anuais, com uma produção de onze toneladas por corte, por hectare. Depois do corte o material é pré secado com duas horas de sol e já pode ser armazenado. A máquina produz as bolotas de feno e em questão de segundos embala o material com lona plástica. Soriano explica um dos segredos de conservação do capim no silo utilizado. “Um dos aspectos que a gente sempre lembra e faz questão de orientar, é a capacidade que o plástico tem de vedar esse material depois de compactado, porque se tiver entrada de oxigênio, vai ter crescimento de fungo, bactéria e ele vai se deteriorar. Porém, se conseguir com duas ou três camadas, que é o que a gente faz aqui, manter isso hermeticamente fechado, tranquilamente dura um ano”, afirma. A tarefa de misturar a silagem, o feno e todos os ingredientes do concentrado é executada por outra máquina, que funciona como se fosse uma fábrica de ração ambulante. Foi importada da Alemanha e custou 700 mil reais. Carregada com o volumoso, depois a máquina recebe os outros elementos que integram a dieta dos animais. Ela faz o balanceamento e mistura tudo na temperatura recomendada. Depois entra no confinamento para distribuir a ração no cocho. Mas existem muitos outros manejos da fazenda que ainda dependem só do olho apurado do homem. Um deles é a identificação das vacas que estão no cio. Na fazenda eles usam bastões coloridos para marcar o dorso delas perto do rabo. A manifestação mais clara do cio é o movimento que as vacas fazem subindo umas nas outras. Nesse contato acabam apagando a marca da tinta. Aí é o sinal que estão prontas para receber a inseminação, mas mesmo depois de inseminadas é bom repetir a marca, como explica, o veterinário Alex Sica. “Com este trabalho, nós temos certeza que o animal que manifesta o cio, perde a tinta e esse animal é reinseminado. Então, a grande vantagem é realmente em reinseminar os animais e aumentar a nossa taxa de serviço, e consequentemente aumentando a nossa taxa de prenhez”. Quando nascem, as bezerrinhas recebem o carinho da mãe e depois são colocados nessas baias de aquecimento. Enquanto isso, a vaca é ordenhada para a retirada do colostro, primeiro leite depois parto. A veterinária Natália Sobreira é a encarregada de acompanhar os recém nascidos. “O colostro assegura que ele recebeu a imunidade, porque a vaca não transmite pela placenta os anticorpos. Assim, ele será um animal sadio e terá uma vida produtiva boa. Se o animal não mama, a gente passa a sonda para assegurar que ele realmente mamou o colostro”, explica Depois do segundo dia de vida elas são transferidas para o bezerreiro, onde recebem sete litros de leite pasteurizado por dia e um pouco de concentrado. “Na última semana de aleitamento, a gente diminui a quantidade de leite gradativamente, enquanto ele vai comendo mais concentrado. Desta forma, nos últimos dias ele já está ingerindo por volta de 1,5 quilo de concentrado, que é suficiente para manter ele hidratado”, explica médico veterinário Sérgio Soriano. A desmama acontece ao 82 de vida, quando as bezerras são transferidas para o semi confinamento. Nas novilhas a fazenda só usa sêmen sexado, isto é, material manipulado em laboratório, onde um programa de computador que garante maior percentagem de nascimento de fêmeas ao invés de machos. Já que em uma fazenda de leite, o que interessa é ter vacas e não bois. O material é comprado de empresas especializadas, que possuem um computador preparado para separar os espermatozóides mais pesados, que são justamente aqueles que vão produzir animais do sexo feminino. O veterinário ressalta a contribuição do uso do sêmen sexado no crescimento do rebanho. “Isso garante que 80% das novilhas que parem na Colorado pela primeira vez, elas vão parir uma bezerra fêmea e isso contribui demais para o crescimento do rebanho, já que quase 35% dos partos de uma fazenda de leite eles vêm de animais da primeira cria, então com isso a gente consegue rapidamente aumentar o rebanho e melhorar os índices de descarte, facilitando assim a melhora genética do rebanho”, diz. Outra técnica que tem ajudado muito a aumentar o rebanho da fazenda é a coleta e transferência de embriões. Nos últimos dez anos, a fazenda passou de mil para 1.700 vacas em lactação. Com um rebanho desse tamanho, eles tiveram que modernizar a sala de ordenha. O equipamento importado dos Estados Unidos funciona como um carrossel. O sistema ordenha 72 vacas em menos de 15 minutos. Com ele, a fazenda está extraindo 70 mil litros de leite por dia. As vacas não recebem ração na ordenha. Caminham sozinhas para o carrossel quando sentem necessidade de aliviar o leite do úbere. São necessárias apenas de três a quatro pessoas para manejar os animais na hora da ordenha. As tetas são higienização com um desinfetante a base de iodo. O teste de mastite é feito no piso escuro do carrossel. Depois as tetas são enxugadas com papel toalha e estão prontas para receber as teteiras. Todas as vacas têm um aparelho preso na pata traseira, que emite um sinal para o computador, que identifica o animal e monitora seu desempenho. Enquanto o carrossel gira, o leite vai sendo sugado e canalizado diretamente para o laticínio que fina ao lado do carrossel. Lá o produto é pasteurizado, homogeneizado e envasado, como leite tipo A. A fazenda se encarrega da comercialização em padarias e supermercados. Quando a vaca chega perto do final do giro do carrossel, o computador registra sua produção e libera a teteira automaticamente. Esse é o primeiro sinal de que sua jornada está terminando. O segundo é a aproximação de um tambor de plástico. Ao encostar a cabeça nele, é o sinal de que é hora de sair e dar lugar para outro animal da fila. O investimento no barracão e na ordenhadeira foi de 17 milhões de reais. “Nós pegamos financiamento através do BNDES, com juros adequados para a agricultura. A ideia é pagar em cinco anos”, conta o fazendeiro Carlos Alberto de Souza. Uma boa parte dos funcionários vive na colônia da fazenda. A sucessão familiar é uma tradição. Pedro Ernandes, por exemplo, herdou o emprego do pai dele, que hoje está aposentado. “Minha mãe nasceu aqui na fazenda. Nós nascemos aqui, estudamos juntos, casamos e trabalhamos aqui”, conta Pedro Ernandes, trabalhador rural. Ricardo, o filho mais novo de Pedro é operador de máquinas e Rodrigo pilota os computadores da fazenda. Isso mostra que uma fazenda leiteira, por mais tecnificada que seja, vai depender sempre da dedicação do homem para funcionar. Ao todo, a Colorado emprega 270 funcionários fixos que se revezam em três turnos para fazer funcionar essa fábrica de leite. Fonte: Globo Rural