Jornal Valor --- Página 6 da edição "29/12/2014 1a CAD B" ---- Impressa por rcalheiros às 28/12/2014@19:43:41 Jornal Valor Econômico - CAD B - EMPRESAS - 29/12/2014 (19:43) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Enxerto B6 | Valor | Sábado, domingo e segunda-feira, 27, 28 e 29 de dezembro de 2014 Empresas | Serviços&Tecnologia Anatel pode elevar dose de ‘remédio regulatório’ De São Paulo “O mercado ainda está em transformação. Encolher, concentrar não é bom para o órgão regulador”, diz o presidente da Anatel, João Rezende. “Com menos empresas, o ‘remédio’ regulatório é mais pesado.” O ‘remédio’ são as exigências para que as empresas reduzam o poder de mercado significativo e atendam aos pedidos de concorrentes para venda de serviços e infraestrutura no atacado por preços considerados justos. Rezende garantiu que “a agência não ficará inerte caso a concentração aconteça.” O presidente da Anatel diz não acreditar que um consórcio liderado pela Oi compre a TIM. Ele lembra que o assunto vem sendo discutido há quase dois anos, mas nada aconteceu até agora. Garante que não houve nenhum comunicado oficial à agência por parte do grupo italiano ou da Oi, e opina que “há muitos interesses de investidores por trás dos rumores”. “A Anatel não vai propor nenhum tipo de ação para reduzir o número de competidores. É um problema do mercado. Se nos procurarem vamos analisar”, afirmou. Para Rezende, há boa competição no serviço móvel, com as empresas buscando produtos diversificados, com banda larga fixa e móvel, e TV paga. Ele reconhece que negociar o preço de conteúdo de TV é uma barreira para novatos, mesmo que sejam grandes empresas, mas considera atraente o potencial de 20 milhões de domicílios a serem atendidos. (IS) As empresas-espelho Vésper São Paulo, da Telefônica, e Vésper S.A., da Telemar (Oi), foram compradas pela Embratel. As espelhinhos, pequenas operadoras competitivas em telefonia fixa, idealizadas para prover o serviço por localidade, também ruíram. O modelo foi um fiasco desde o início, já que os pequenos empreendedores compravam as licenças mas não conseguiam garantias financeiras para a construção das redes. Os fabricantes, que durante anos financiaram grandes operadoras, puseram fim à linha de “vendor financing” e também não quiseram se arriscar com os pequenos projetos embrionários. Há mudanças relevantes previstas para 2015 que envolvem quase todas as operadoras. De concreto até o momento, a Telefônica Vivo ganha força com a integração da GVT, prevista para o primeiro semestre. TIM e Oi tentam se manter no mercado, mas uma delas pode desaparecer. A Oi contratou o banco BTG Pactual, em agosto, para estruturar uma oferta pela subsidiária da Telecom Italia em parceria com a Vivo e a Claro. O objetivo é dividir a TIM entre os concorrentes. O grupo italiano revidou e estuda se faz uma proposta de aquisição ou fusão com a Oi. Segundo fontes que acompanham as empresas, trata-se de uma ação defensiva, e não de oportunidade de negócio, devido às dívidas e outros problemas estruturais da Oi. A Nextel, da americana NII Holdings, em recuperação judicial, também poderá ser vendida em médio prazo, apesar dos esforços da Anatel para que se tornasse um quinto competidor forte. Só com a integração da GVT, a Telefônica já altera o ranking de banda larga e telefonia fixa. A Vivo sai do terceiro lugar como prestadora de acesso em banda larga fixa para segundo, com 7.117 conexões, desbancando a Oi e se apro- 150 120 90 77 60 30 31 44 1972 O governo criou a Telecomunicações Brasileiras S/A (Telebras), holding que incorporou as 1,2 mil companhias telefônicas locais e formou 27 operadoras estaduais e uma de longa distância, a Embratel, e o CPqD Novembro/1995 Ministério das Comunicações/Telebras lançam o Programa de Recuperação e Ampliação do Sistema de Telecomunicações e do Sistema Postal (Paste), com as tendências tecnológicas do setor de comunicações e projeções e metas para as áreas de telecomunicações e postal até 2003. Houve descompasso entre as metas e os planos concretizados Julho/1996 Promulgada a Lei 9.295, conhecida como Lei Mínima, que permitiu a Abril/1997 Licitação da banda B, com a arrecadação de R$ 7,613 bilhões na venda das licenças Julho/1997 Criada a Lei Geral de Telecomunicações (LGT), que estabeleceu um marco legal para o setor e criou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Outubro/1997 Entra em funcionamento a Anatel, que criou um conjunto de regras para o setor e desenhou a privatização do Sistema Telebras Dezembro/1997 Publicado o primeiro documento em consulta pública do Plano Geral de Outorgas (PGO), que define os territórios de prestação de serviços. São definidos também o Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU), Plano Geral de Metas de Qualidade 120 90 1,6 60 0 0,4 0,6 2,4 3,5 0,9 0 2011 2012 2013 2014 VARIAÇÃO 2015 2016 2011 255% 2012 VARIAÇÃO 2013 2014 2015 2016 733% Concentração Recém-chegadas ao Brasil, operadoras vão às compras 2002 Portugal Telecom e Telefónica formam uma joint venture e criam a Vivo 2006 Telefônica compra a TVA Oi compra a WayTV Net compra a Vivax 2010 Telefónica compra o controle da Portugal Telecom na Vivo Portugal Telecom adquire uma participação na Oi 2003 Embratel adquire a Vesper e entra no mercado de telefonia local 2007 Oi compra a Amazônia Celular Vivo compra a Telemig Celular 2011 Telesp incorpora a Vivo TIM adquire AES Atimus, de fibras ópticas 2004 Telmex, do grupo América Móvil, dona da Claro, adquire Embratel e Net 2008 Oi adquire a Brasil Telecom e se torna a primeira operadora a oferecer telefonia fixa em duas regiões 2012 Embratel assume o controle da Net 2009 Vivendi adquire a GVT TIM compra a Intelig 2014 Telefônica adquire a GVT Claro integra Embratel e Net 2000-2005 Claro inicia operação por meio da aquisição e várias operadoras móveis Jaime Pardo (à esq.), diretor-geral da Telmex, e o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, conversam sobre a compra da Embratel 2013 Portugal Telecom inicia processo de fusão com a Oi João de Deus (à esq.), diretor da Oi, Luiz Eduardo Falco, presidente da Oi, e deputado Walter Pinheiro debatem na Câmara a compra da Brasil Telecom Fontes: Cisco VNI Global Forecast, 2011-2016 e Maksen/FGV 1 exabyte = 1 bilhão de gigabytes ximando da América Móvil, com 7.389. Em telefonia fixa, a Vivo também ganha uma posição e chega à vice-liderança, com 15.266 linhas, destituindo a Embratel e encostando na Oi, no topo com 16,7 mil linhas. Em TV paga, Vivo e GVT somadas têm só 1.603 assinaturas, o que não fortalece a Vivo para que se desloque do terceiro lugar. Em banda larga, o país continua atrasado na comparação mundial, com baixa penetração do serviço e preço elevado ao consumidor. A dimensão geográfica do Brasil e o alto custo para investimentos des- (PGMQ) e regulamentos de criação de tarifas de uso geral de rede Julho/1998 Realizado leilão para privatização da Telebras. Foram arrecadados R$ 22,058 bilhões pelos 20% de ações que pertenciam ao governo Julho/1999 Começa a competição no Serviço de Telefonia Fixa Comutada (STFC) - a tecnologia tradicional de voz e de outros sinais Março/2001 Leilões das bandas C, D e E da telefonia móvel Julho/2005 Lançamento do serviço móvel com tecnologia de terceira de terceira geração (3G) Abril/2013 Lançamento do serviço móvel com tecnologia de quarta geração (4G) 2015 Revisão dos contratos de concessão Renato Guerreiro, primeiro presidente da Anatel, até 2002, faleceu em 2011 Wilma Motta, viúva do ex-ministro Sérgio Motta; presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, após o leilão da Telebrás Fonte: Pesquisa do Valor 110 30 As iniciativas governamentais para estimular o setor de telecomunicações brasileiro licitação da banda B de telefonia celular – faixa integrada pelas empresas que vieram para competir com as operadoras que sucederam o Sistema Telebras, ou banda A 94 59 Linha do tempo 1965 O governo criou a Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A (Embratel) para implantar o serviço de longa distância no país. Na ocasião existiam cerca de 1,2 mil empresas de telefonia locais Evolução do tráfego de dados no Brasil (exabytes) 150 RUY BARON/VALOR DF O Ano Novo começa com promessas de mudanças profundas no setor de telecomunicações brasileiro. Embora o ponto central seja a concentração do mercado, cada operadora luta por um objetivo diferente em defesa dos seus negócios. As iniciativas que começaram a amadurecer em 2013 mostram que a partir de 2015 o Brasil poderá ter um setor de telecomunicações bem diferente do que o Ministério das Comunicações e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) desenharam há quase duas décadas na época da privatização das empresas. A estratégia e as regras do setor foram criadas para um mercado então centrado em telefonia fixa, com a internet embrionária no país e o serviço celular planejado para que cinco operadoras nacionais e duas regionais competissem com relativo equilíbrio. Mas os fatos mostram que os planos saíram de controle. A telefonia fixa entrou em declínio, sufocada pela móvel, que colocou um celular nas mãos de cada consumidor. Com o aumento da velocidade da internet em banda larga o tráfego de dados cresceu verticalmente. Surgiram empresas que fornecem serviços sobre essas redes, mesmo sem parceria comercial com as teles, como Facebook, Google e Netflix, e a banda larga virou prioridade para os internautas, exigindo investimento em infraestrutura. Os serviços que foram planejados para serem divididos entre telefonia celular, fixa, internet e TV por assinatura, prestados por empresas diferentes, foram aglutinados sob uma só operadora. Muitas empresas desapareceram, vendidas ou integradas por outras. O processo de encolhimento continua, o que é surpreendente para um país que já teve cerca de 1,2 mil empresas de telefonia que atuavam por localidade na fase “jurássica” da telefonia, muito antes da privatização do setor. Hoje, restam Telefônica, que opera com a marca Vivo e acaba de comprar a GVT; América Móvil, que colocou Embratel e Net sob a Claro; TIM, que adquiriu a Intelig, espelho da Embratel na longa distância e AES Atimus, de fibras ópticas; Oi, em processo de fusão com a Portugal Telecom, que dará origem à CorpCo; e Nextel, além das regionais Algar Telecom e Sercomtel. Com exceção de TIM e Nextel, focadas em serviços móveis, as demais atuam com multisserviços. A tentativa da Anatel de promover a competição no serviço móvel por meio de operadoras sem rede, que alugassem infraestrutura de concorrentes para atuar em nichos, por enquanto fracassou. Depois de fazer “road shows” internacionais para divulgar o projeto das operadoras móveis de rede virtual (MVNOs), a agência esperava vender uma centena de licenças. Mas, desde 2012, menos de meia dúzia de novos investidores se arriscaram. Entre eles, apenas Porto Seguro e Terapar entraram em operação, com 0,09% de participação de mercado. Para 2015 espera-se o lançamento da Virgin Mobile, do grupo Altice, de Luxemburgo, o mesmo que acaba de comprar os ativos da Oi em Portugal. Mesmo assim, a Anatel já estuda expandir o modelo de MVNOs para outros serviços, como banda larga fixa e via satélite, e TV por assinatura. A competição em telefonia fixa mal saiu dos planos originais. O mapa nacional da competição previa apenas três operadoras para o serviço: BrT, Telefônica e Oi. A BrT foi comprada pela Oi, e a GVT vai sair de cena, após a conclusão de sua venda pela francesa Vivendi para a Telefônica. Com isso, foram eliminadas uma concessionária (BrT) e sua espelho (GVT), um raro caso que deu certo nesse modelo. Evolução do tráfego de dados no mundo (exabytes) SÉRGIO LIMA/FOLHAPRESS Ivone Santana De São Paulo Atrasado, Brasil começa a crescer aceleradamente RUY BARON/ VALOR Ano começa com menos competidores Tráfego de dados RUY BARON/ VALOR Telecomunicações Concentração do mercado atinge grandes operadoras e reduz opções do consumidor favorecem a expansão do serviço. “O desafio é a universalização no país, diz Sergio Lee, sócio da consultoria Maksen no Brasil. Em parceria com a FGV, a empresa fez uma pesquisa sobre banda larga em março, concluída em agosto, envolvendo 19 países, inclusive o Brasil. “Falta muito investimento no país. Em locais de baixa densidade e menos renda, o risco é alto para as empresas, e não há incentivo econômico.” Entre as saídas indicadas por Lee estão o uso dos fundos de telecomunicações, que desde a criação servem para fazer superavit primário e revertem pouco ao setor; financiamento ou redução da carga tributária em telecomunicações. Com as operadoras endividadas e dificuldades de caixa, e sem incentivo do governo vai demorar para universalizar, diz ele. Para Lee, banda larga é a tecnologia com maior impacto no desenvolvimento da economia. Uma expansão de 10% na taxa de penetração do serviço gera um aumento estimado de 1,38% no PIB, informa o estudo da Maksen/FGV. Tesouro retém mais de R$ 70 bi Ivone Santana e Heloisa Magalhães De São Paulo e do Rio Governo, Anatel e empresas que investiram no país dizem não ter dúvidas de que a privatização e o modelo de competição no Brasil tiveram êxito. O que não deu certo no modelo foi a criação, por lei, dos fundos para telecomunicações: o Funttel, de desenvolvimento tecnológico; o Fistel, de fiscalização; e o Fust, de universalização dos serviços. Esses fundos recolheram R$ 74,8 bilhões desde 2001, mas só 6% da arrecadação foi aplicado no setor, o resto serviu para fazer superávit primário. “Há um custo para esses fundos, alguém paga, recolhe ao Tesouro, mas o dinheiro não retorna”, diz Eduardo Levy, presidente do SindiTelebrasil, organização que representa as operadoras. As empresas contribuem automaticamente para os fundos, por meio dos serviços cobrados dos consumidores. O setor de telecomunicações arrecada anualmente R$ 35 bilhões de ICMS, R$ 4,9 bilhões de Fistel, R$ 5,7 bilhões de Fust e R$ 500 milhões Funttel, segundo cálculos de Juarez Quadros, sócio da Orion Consultores e ex-ministro das Comunicações. “Livramos as amarras, acabamos com a existência de uma só empresa para prestar serviços, incentivamos o investimento, a competição, atribuímos metas de universalização e qualidade da telefonia fixa através da Anatel. Em infraestrutura, o país é outro de 1998 para cá”, diz Levy, ao destacar o restante da reforma do setor, que conhece bem. Em 1975 o executivo trabalhava na Telerj, a estatal de telefonia do Rio de Janeiro. De lá se- guiu para a Telebras e depois para a Embratel, para ajudar a montar o plano de privatização. Levy rebate os críticos da privatização e lembra que o governo vendeu as ações que possuía da Telebras [20%], equivalentes a 50,1% das ações com direito a voto. Portanto, considera que o leilão foi um sucesso, ao arrecadar R$ 22 bilhões. “Foi o projeto mais importante da minha vida”, diz o presidente da Telefônica Brasil, Antonio Carlos Valente. O executivo foi assessor especial do então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, e vicepresidente da Anatel até 2004. Participou de todas as etapas da reforma das telecomunicações até a privatização do setor e depois se desligou da agência. Valente diz que o setor investiu R$ 327 bilhões desde a privatização, incluindo R$ 38,4 bilhões em outorgas até o terceiro trimestre de 2014, algo que seria impensável na fase da Telebras. O país está entre os cinco maiores do mundo em infraestrutura de telecomunicações, segundo Levy, e emprega 500 mil pessoas na área de call center para o setor. O número de linhas em telefonia fixa passou de 20 milhões para 45,7 milhões; na móvel, de 4,7 milhões para 280 milhões; em TV por assinatura, de 2,5 milhões para quase 20 milhões de domicílios; e na banda larga fixa, o serviço saiu do zero para 25 milhões de conexões; na móvel, quase 150 milhões. Em 2015 será discutida a renovação dos contratos de concessão de telefonia fixa, o que ocorre a cada cinco anos. Para Valente, não faz mais sentido manter o plano de universalização (PGMU), função que passou a ser cumprida pelo serviço móvel.