28 0 A Santa Casa da Misericórdia de Vila Real A fachada lateral do novo corpo apresenta nos dois pisos seis vãos, três janelas de peitoril e, superiormente, duas de peitoril enquadrando uma janela de sacada (no projecto tinha uma porta no piso inferior ladeada por duas janelas de peitoril). A fachada posterior, segundo o projecto, tinha no piso inferior uma porta ladeada por duas janelas de peitoril de cada lado (hoje tem duas portas laterais que ladeiam três janelas de peitoril) e no andar superior cinco janelas de peitoril, que ainda mantém. Tanto do lado da rua como do actual pátio de entrada este corpo é rematado por uma mansarda. 9.4.2. A Capela de Santa Ana em Vila Real A Capela de Santa Ana246 assim como a Colegiada nela instituída, foram fundadas no século XVIII, em Vila Real, por vontade do doutor Jerónimo Botelho Correia Guedes do Amaral, expressa no seu testamento feito na cidade da Paraíba do Norte (actual João Pessoa, capital da Paraíba do Norte), em 10 de Dezembro de 1738. Jerónimo Botelho Correia Guedes do Amaral, nasceu em 1668, na Casa dos Morgados de Vila Cova. Filho de António Botelho Correia Guedes do Amaral, morgado de Vila Cova, e de Maria do Amaral, era neto paterno de António Botelho Guedes do Amaral, morgado de Vila Cova, e de Filipa Botelho da Cunha, e materno de Jerónimo Correia Pinto do Amaral e de D. Catarina Dias Ferreira. Segundo refere Júlio Teixeira, os morgados de Vila Cova “eram senhores de grandes bens em Vila Cova, em Favaios, em Nogueira, em Tanha, em Alijó, e noutras terras”, tendo a sua residência em Vila Real, localizada na rua do Jazigo, fazendo esquina com a rua da Amoreira. Segundo as informações fornecidas pelo autor de Fidalgos e Morgados de Vila Real e seu Termo, Jerónimo Botelho Correia Guedes do Amaral frequentou a Universidade de Coimbra, onde se bacharelou em Direito Civil e Canónico. Terminada a sua formação académica, solicitou a João V (1689-1750/1706-1750) para servir nos territórios ultramarinos, sendo nomeado ouvidor geral do Rio das Mortes (São João d’El Rei) e mais tarde transferido, com o mesmo cargo, para a Paraíba Norte, onde veio a ser proprietário de uma casa de sobrado na rua Direita. Viria a morrer na “Cidade de Nossa Senhora das Neves de Parahiba do Norte”, em 22 de Dezembro de 1738, onde foi sepultado na Capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, deixando em testamento que as suas ossadas fossem trasladadas para Portugal, seis anos depois da sua morte, e depositadas na capela da colegiada que mandara fundar em Vila Real. Além da casa referida, possuía, na Paraíba, o engenho de Gargaú, em Santa Rita, fundado por António Fernandes Brandão, em 1614. Com a produção de açúcar do engenho, Jerónimo Botelho Correia Guedes do Amaral fez fortuna, da qual beneficiariam os seus herdeiros (morgados de Vila Cova) e que iria permitir fundar, como veremos no testamento, uma capela, com colegiada, em Vila Real. No testamento de Jerónimo Correia Guedes do Amaral, feito na Paraíba do Norte, em 9/10 de Dezembro de 1738, e publicado, infelizmente com algumas lacunas, pelo doutor Júlio António Teixeira, encontramos referências importantes para o conhecimento da Capela e da Colegiada por ele fundadas em Vila Real. No testamento, referido o lugar, como vimos, onde provisoriamente ficaria sepultado, deixadas quantias para serem rezadas missas nas três igrejas conventuais da actual cidade de João Pessoa (conventos de Nossa Senhora do Carmo, São Francisco e São Bento) e uma esmola à Casa de São Gonçalo, da Companhia de Jesus, da mesma cidade, todo o seu teor, não tendo herdeiros forçados, está directamente relacionado com os bens que possuía e o destino que pretendia dar-lhes. O ouvidor geral da Paraíba do Norte possuía uma casa na rua Direita, daquela cidade; o engenho Gargaú; trinta e nove caixas de açúcar branco (“que foram na frota passada remetidas a Bento de Bessa Barbosa”); mais cinco caixas, no engenho; dez mil cruzados, no Reino, remetidos ao irmão beneficiado João Botelho do Amaral, para dar princípio a uma quinta “na borda do Douro”; dois mil cruzados, “que se deram por mão” a Jerónimo da Silva Guimarães, por empréstimo; além de outros bens. Segundo a vontade do testador da venda “das trinta e nove caixas de açúcar” que tinha mandado ao irmão, depois de “pago aquilo que lhe avisava”, com o remanescente se daria princípio à erecção de uma capela, “que há tempo determinava erigir” e que teria de ser da invocação da “Senhora Santa Ana”. O irmão tinha que mandar fazer logo a Capela, “em forma como lhe avisei”, para poder servir de colegiada, “como em uma carta sua me insinuou”, depreendendo-se que a ideia da fundação de uma colegiada foi-lhe dada pelo irmão, o beneficiado João Botelho do Amaral (não referido na lista dos irmãos por Júlio Teixeira), ou então por um dos outros dois irmãos, Matias Pinto do Amaral ou José Botelho Correia Guedes do Amaral, que foram seus testamenteiros.