Anexo III da Resolução no 1 da Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima
CONTRIBUIÇÃO DO PROJETO DE MITIGAÇÃO DE EMISSÕES DE METANO
NA PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL DA PLANTAR
Fevereiro 2007
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Introdução
O objetivo deste documento é atender à Resolução no 1, de 11 de setembro de 2003,
da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima no que diz respeito ao seu
Anexo III que trata da contribuição da atividade de um projeto de Mecanismos de
Desenvolvimento Limpo (MDL) para o desenvolvimento sustentável.
A atividade do Projeto de Mitigação de Emissões de Metano na Produção de Carvão
Vegetal da Plantar tem como objetivo, através do aprimoramento dos fornos existentes
juntamente com uma melhoria técnica do processo de produção, minimizar emissões
de um dos gases causadores do efeito estufa, o metano (CH4), durante o processo de
carbonização da madeira. Como conseqüência, o projeto proporciona não só um
benefício climático para a atmosfera, mas também práticas mais limpas e sustentáveis
de fácil replicação para todo setor de produção de carvão vegetal no Brasil, assim
como em regiões produtoras na África e Ásia.
Para melhor entendimento, é importante ressaltar que o Projeto de Mitigação de
Emissões de Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar está diretamente
ligado a outros dois projetos de MDL da empresa PLANTAR. O primeiro projeto,
Reflorestamento como Fonte Renovável de Suprimentos de Madeira para o Uso
Industrial no Brasil, visa o plantio de florestas de eucalipto como fonte de energia
renovável para a indústria de ferro gusa no Estado de Minas Gerais. O segundo
projeto, trata da mitigação de emissões de CO2 no processo de produção do ferro gusa,
através do uso do carvão vegetal renovável (carbon-neutro) como fonte de energia
termo - redutora.
Em suma, os três projetos objetivam reduzir as emissões de gases do efeito estufa por
meio do estabelecimento de plantios sustentáveis de florestas energéticas de eucalipto
para suprir o uso de carvão vegetal na produção de ferro primário, ao invés de coque
de carvão mineral ou da biomassa não-renovável, ambos intensivos em emissões de
CO2. Desta forma, promovendo o uso de uma fonte renovável de energia, as atividades
do projeto reduzem as emissões de gases causadores do efeito estufa.
Buscando atender os requisitos deste Anexo para demonstrar a contribuição do Projeto
de Mitigação de Emissões de Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar para
o desenvolvimento sustentável, e considerando sua forte ligação com os outros dois
projetos mencionados anteriormente, são desenvolvidos a seguir os cinco aspectos
requeridos pela Resolução no 1 no que se diz respeito às contribuições do mesmo para:
(a) a sustentabilidade local, (b) o desenvolvimento das condições de trabalho e geração
líquida de empregos, (c) a distribuição de renda, (d) a capacitação e desenvolvimento
tecnológico, e (e) a integração regional e a articulação com outros setores.
a) Contribuição para a Sustentabilidade Ambiental Local
Avalia a mitigação dos impactos ambientais locais (resíduos sólidos, efluentes líquidos,
poluentes atmosféricos, dentre outros) propiciada pelo projeto em comparação com os
impactos ambientais locais estimados para o cenário de referência.
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As atividades de projeto estão localizadas nos municípios de Curvelo, Felixlândia e
Morada Nova1, todos em Minas Gerais, Estado onde parte significativa da economia
gira em torno das indústrias siderúrgicas.
Em panorama geral o setor siderúrgico é bastante intensivo nas emissões de gases de
efeito estufa, possuindo basicamente três fontes termo-redutoras para a produção de
ferro e aço: o coque de carvão mineral, o carvão vegetal de matas nativas e o carvão
vegetal renovável de plantios florestais. A vasta maioria da produção nacional é
originada do uso do coque de carvão mineral, que é um combustível fóssil e importado.
Uma parcela menor das indústrias siderúrgicas, especialmente aquelas de pequeno
porte (independentes) produtoras de ferro primário (ferro gusa) utilizam também o
carvão vegetal como fonte de energia para suas usinas.
Devido à escassez de florestas plantadas para fins energéticos, a maior parte destes
produtores utiliza carvão vegetal proveniente de matas nativas ou simplesmente o
mineral, ambos grandes emissores de gases do efeito estufa.
O cenário de referência, ou linha de base, da atividade do Projeto de Mitigação de
Emissões de Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar, se constitui do setor
de produção de carvão vegetal no Estado de Minas Gerais, que é bastante rudimentar,
com produção em fornos de alvenaria que emitem altos níveis de metano.
Em geral, a produção de carvão vegetal no cenário de referência é realizada por
habitantes rurais, normalmente sob forma de empreitada, muitas vezes em situação
precária de salubridade, sem o devido equipamento de proteção e os devidos cuidados
com sustentabilidade ambiental local e a legislação trabalhista vigente. Neste modelo, o
desmate da vegetação nativa (fonte não-renovável) ocorre para suprir a produção de
carvão, causando assim um enorme impacto ambiental. O modelo de desmatamento
empregado é normalmente o de corte raso, reduzindo drasticamente a biodiversidade
vegetal e de espécies de animais endêmicos, raros e ameaçados de extinção.
Por conseguinte, os cursos d’água são afetados de maneira atroz por este modelo
insustentável de extração do carvão nativo por meio da degradação das matas ciliares,
das áreas de preservação permanente como encostas e topos de morros,.
Cenário de Referência
do Setor
Cenário de Referência do Setor
Cenário de Referência
1
- Como apresentado no DCP, no cenário do projeto são identificadas unidades de carbonização nos
municípios de Juramento, Grão Mogol, Francisco Sá e Itacambira (Unidade MG-15), região localizada a cerca
de 450 km de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais. Entretanto, a partir da adoção das condições
de aplicabilidade da metodologia AM0041, limitando as emissões do projeto aos níveis de capacidade de
produção no cenário de pré-projeto, as reduções de emissões realizadas nas unidades de carbonização desta
região não serão contabilizadas nesta atividade de projeto de MDL.
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A atividade de Projeto de Mitigação de Emissões de Metano na Produção de Carvão
Vegetal da Plantar contribui para mitigação das emissões de gases do efeito estufa por
meio da capacitação dos operadores de carbonização, e do aprimoramento do
desenho dos fornos existentes, juntamente com uma melhoria técnica do processo de
produção, conforme mencionado no item de Introdução deste documento e mais
especificamente no item (d) adiante.
No processo de carbonização da madeira para fabricação do carvão vegetal são
produzidos principalmente os gases oxigênio, monóxido de carbono e hidrogênio, além
dos gases de efeito estufa regulados pelo Protocolo de Quioto, o dióxido de carbono
(CO2) e o metano (CH4). Comparando-se o cenário de referência com o cenário do
projeto, nota-se uma significativa redução do gás metano (redução superior a 50% e
objetivo central deste), além da melhoria substancial dos aspectos ambientais e sociais
desta atividade.
O impacto positivo da atividade do projeto em termos de montante reduzido de
emissões de metano (em toneladas equivalentes de dióxido de carbono), bem como o
cálculo detalhado deste montante, é apresentado no Documento de Concepção do
Projeto (DCP, Janeiro de 2006).
O Brasil tem experimentado déficits históricos de florestas plantadas e, por
conseguinte, de carvão vegetal renovável para o uso no processo siderúrgico. Devido a
uma série de barreiras, como a falta de financiamento adequado para uma atividade de
tão longo prazo (3 ciclos de 7 anos), os limites de aplicabilidade efetiva da legislação
florestal e a atratividade natural de insumos substitutos com menor prazo para
maturação e, sobretudo, menor risco (i.e. coque ou carvão vegetal não-renovável), a
siderurgia a carvão vegetal brasileira enfrenta dois desafios frente a escassez histórica
e projetada de florestas plantadas: a absorção progressiva de sua fatia de mercado
pelo coque de carvão mineral e o uso contínuo de carvão vegetal não-renovável
proveniente de florestas nativas.
Os projetos da PLANTAR, que se baseiam na produção do carvão vegetal
exclusivamente de florestas plantadas, resultam em vários benefícios sociais e
ambientais, sendo o mais importante deles a substituição do uso de fontes de energia
emissoras de gases do efeito estufa por uma fonte limpa e sustentável que é o carvão
vegetal proveniente de florestas plantadas.
Adicionalmente, ao garantir suprimento renovável proveniente de plantios florestais, as
emissões de CO2 ocorridas nas atividades de carbonização podem ser consideradas
climaticamente neutras, uma vez que o montante equivalente de carbono liberado para
a atmosfera é neutralizado pelos estoques de carbono presentes nos plantios florestais.
Analisando os resíduos sólidos no processo de manufatura do carvão vegetal,
encontramos basicamente matéria orgânica proveniente da retirada das cascas da
madeira produzida nos eucaliptais. Esta matéria orgânica, baseada nas cascas e
galhagem das árvores de eucalipto, é utilizada no processo de ciclagem dos nutrientes
dos plantios florestais. Em outras palavras, boa parte dos nutrientes absorvidos pelos
plantios retornam ao solo através do manejo adequado dos resíduos sólidos
provenientes do processo de carbonização.
Devido à qualidade e natureza da atividade de carbonização, consideram-se
inexistentes os riscos e/ou impactos significativos em relação à produção de efluentes
líquidos.
É importante mencionar que a entidade do projeto, a PLANTAR, tem a preocupação
com o meio ambiente enraizada nas políticas de gestão da empresa. A PLANTAR
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reconhece a sua responsabilidade frente ao meio ambiente, e utiliza métodos e
técnicas consolidadas cientificamente para reduzir os danos causados ao meio
ambiente, para melhor proteger a natureza e promover o desenvolvimento sustentável.
Como exemplo, as áreas das fazendas da empresa que possuem vegetação nativa
representativas do ecossistema Cerrado são preservadas pela empresa
independentemente das atividades de projeto, interligando as reservas naturais e
favorecendo o trânsito de animais silvestres. Mapas das propriedades indicando as
áreas de produção e as de preservação estão disponíveis nos escritórios das fazendas.
Suportado por um forte plano de monitoramento, vários indicadores de fauna, flora,
recursos hídricos e aspectos sociais são rigorosamente monitorados nas áreas das
atividades de projeto (veja lista completa dos indicadores no Plano de Monitoramento).
A entidade do projeto realiza estudos de impacto sócio-ambiental apropriados à
magnitude das áreas onde as florestas serão implantadas e em consonância com a
legislação aplicada a cada situação. As espécies raras, ameaçadas ou em perigo de
extinção, são identificadas e programas específicos para preservação das mesmas são
elaborados e implementados. Critérios de sustentabilidade são utilizados para o
alcance de múltiplos objetivos na produção de biomassa renovável (matéria-prima da
produção do carvão vegetal), conservação da biodiversidade, e outros benefícios
sociais e ambientais advindos do projeto.
Áreas de Reserva
Corredor ecológico em
fase de regeneração
Áreas de produção de biomassa
utilizada no projeto
A entidade de projeto, a PLANTAR, possui as seguintes licenças ambientais para as
áreas onde as atividades do Projeto de Mitigação de Emissões de Metano na Produção
de Carvão Vegetal da Plantar ocorrem:
I. Autorização Ambiental de Funcionamento (No 458211/2006) – emitida em 23
Áreas de efetivo plantio que fornecem biomassa
de agosto de 2006 pelo Conselho Estadual
de Política Ambiental (COPAM)
renovável a atividade de projeto
por meio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) autorizando a Plantar
Energética Ltda a exercer atividades de produção de carvão vegetal de
origem plantada, localizadas no Município de Felixlândia (Unidade MG-03),
Minas Gerais. Esta autorização é válida por 4 anos.
II. Licença Ambiental (Certificado LO no 198) – emitida em 03 de outubro de
2005 pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) concedendo à
Plantar S/A – Planejamento, Técnica e Administração de Reflorestamentos
uma Licença de Operação para execução das atividades de silvicultura e de
produção de carvão vegetal de origem plantada na Fazenda Buenos Aires
(Unidade MG-02), localizada no município de Curvelo, Minas Gerais. Esta
licença é válida por 6 anos.
III. Licença Ambiental (Certificado LO no 199) – emitida em 03 de outubro de
2005 pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) concedendo à
Plantar S/A – Planejamento, Técnica e Administração de Reflorestamentos
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uma Licença de Operação para execução das atividades de silvicultura2 na
Fazenda Buriti Grande (Unidade MG-04), localizada no município de Morada
Nova, Minas Gerais. Esta licença é válida por 6 anos.
IV. Licença Ambiental (em processo, registro no 552966/2006) – pedido de
requerimento de licenciamento de operação para a produção de carvão
vegetal oriunda de florestas plantadas para as atividades da empresa nas
Fazendas Tamanduá, Poções, e outras localizadas no município de
Itacambira (Unidade MG-15), Minas Gerais. Requisição feita em 20 de outubro
de 2006.
As cópias das licenças ambientais citadas acima e do pedido de requerimento
encontram-se anexadas à Declaração de Conformidade do Projeto com a Legislação
Ambiental requerida pela Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima. Tais
documentos comprovam o atendimento do Projeto de Mitigação de Emissões de
Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar à legislação ambiental em vigor.
b) Contribuição para o desenvolvimento das condições de trabalho e a geração
líquida de empregos
Avalia o compromisso do projeto com responsabilidades sociais e trabalhistas,
programas de saúde e educação e defesa dos direitos civis. Avalia, também, o
incremento no nível qualitativo e quantitativo de empregos (diretos e indiretos)
comparando-se o cenário do projeto com o cenário de referência.
O cenário de referência do setor de produção de carvão vegetal no Estado de Minas
Gerais conta com uma mão-de-obra informal, que, geralmente, produz e vende o
carvão vegetal de nativa como forma de subsistência. Devido às condições e
precariedade desta atividade, estes produtores não possuem qualquer tipo de benefício
social e/ou trabalhista.
Condições Tradicionais de Trabalho no Cenário de referência do setor
Além dos benefícios climáticos, uma das principais contribuições do projeto para o
desenvolvimento sustentável está na sua capacidade de proporcionar uma alta
empregabilidade para regiões rurais do Estado de Minas Gerais. O Projeto Plantar gera
uma média anual de aproximadamente 1.000 empregos (média ao longo dos 28 anos
do projeto), distribuídos entre as atividades de silvicultura e produção de carvão
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As atividades de produção de carvão vegetal de origem plantada nesta Unidade estão programadas para
serem iniciadas em 2009. Portanto, a licença para tal atividade será requerida em um futuro próximo.
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vegetal. Além disso, o projeto gera outros 200 empregos anuais, em média, na
atividade de projeto de produção de ferro gusa.
Adicionalmente, o processo de carbonização da empresa é realizado nas Unidades de
Carbonização (UC), que contam com uma completa infra-estrutura de apoio, composta
por: escritório, almoxarifado, depósito de ferramentas, banheiros, vestiários, refeitório e
cozinha simples. Além disso, toda UC tem rádio portátil/fixo, balança de pesagem,
acertador de carga e caixa d’água exclusiva para consumo doméstico, propiciando
inclusive água quente para higiene dos empregados.
Unidades de Carbonização
do projeto
Colaboradores do Projeto
em treinamento
Os colaboradores da empresa que atuam nas atividades do Projeto de Mitigação de
Emissões de Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar, possuem os
seguintes benefícios:
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•
•
•
•
•
•
Plano de Cargos e Remuneração;
Plano de Saúde Médico, Hospitalar, Odontológico;
Convênios com Farmácias locais;
Gestão de Saúde, Segurança e Medicina do Trabalho;
Alimentação e transporte gratuito fornecido pela empresa;
1 cesta básica por mês por colaborador (conforme regulamentação da
empresa);
Programa Bolsa de Estudo, que cobre 50% das despesas com cursos do ensino
fundamental e superior;
Incentivo à prática de atividades esportivas através de convênio com o Clube do
SESI.
A entidade do projeto, a PLANTAR, valoriza seus colaboradores, oferecendo novas
oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, com projetos de treinamento,
qualificação, de educação e promoção do bem estar.
Com relação às comunidades, a empresa desenvolve e apóia uma série de ações na
área social nas regiões de atuação das atividades do projeto. Dentre as quais, as mais
representativas para os colaboradores diretos do Projeto de Mitigação de Emissões de
Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar, são:
•
Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho – palestras sobre
segurança, saúde, planejamento familiar, DST’s, direção defensiva, educação
postural e motivação. Além das palestras são promovidos gincanas, concursos
e festas para os colaboradores.
7
•
Semana do Meio Ambiente – atividades visando promover a formação da
responsabilidade ambiental através de peças teatrais, apresentação de vídeos
educativos e demais atividades.
•
Feira de Produtos Rurais – os pequenos produtores rurais, vizinhos às áreas
dos projetos, produzem alimentos como queijos, bolos, pães e doces e utilizam
um espaço cedido pela Plantar nas fazendas para venderem seus produtos
para os funcionários da empresa. Durante a feira são realizadas atividades de
lazer e educação que visam a interação dos funcionários com a comunidade
vizinha.
c) Contribuição para a distribuição de renda
Avalia os efeitos diretos e indiretos sobre a qualidade de vida das populações de baixa
renda, observando os benefícios socioeconômicos propiciados pelo projeto em relação
ao cenário de referência.
O cenário de base onde o projeto atua, municípios da região centro-norte de Minas
Gerais, são regiões onde são encontradas uma combinação de características
climáticas e de solo, que dificultam o cultivo de culturas agrícolas de ciclo curto, em
especial de produção de alimentos. Portanto, a precipitação concentrada em poucos
meses do ano e a existência de solos ácidos com baixa fertilidade, caracteriza
tradicionalmente estas regiões do projeto como áreas de predomínio da pecuária
extensiva, do extrativismo de frutas do sertão e da exploração das matas nativas para
produção de carvão vegetal. Devido a estas características, associadas à falta de
acesso ao crédito e à baixa atividade econômica regional, as populações destas
cidades convivem com baixos índices de renda per capita.
Entretanto, as condições destas regiões são propícias às atividades de florestas
plantadas, com investimentos de longo prazo, devido à natureza e ciclo de maturação
das atividades florestais, o que propicia a manutenção do emprego com baixa
rotatividade do pessoal.
A produção de carvão vegetal realizada no projeto está essencialmente ligada às
atividades de estabelecimento de plantios florestais como fontes renováveis de energia
térmica à produção de ferro e aço. O estabelecimento de plantios sustentáveis de
eucaliptos e o estabelecimento das Unidades de Carbonização são distribuídos de
maneira descentralizada nas regiões do projeto. Sendo assim, a indústria de carvão
vegetal renovável pode ser considerada como um setor essencialmente
descentralizado, sendo que no caso desta atividade de projeto conta-se com 24 UC’s
(Unidades de Carbonização) distribuídas nos vários municípios da atividade do projeto.
A implementação do Projeto possibilitou a criação de postos de trabalho diretos,
conforme os números mencionados no item anterior, e também postos de trabalho
indiretos. Fornecedores locais possuem preferência no fornecimento de materiais, de
produtos e serviços às Unidades de Carbonização, conforme política institucional que
contribui para uma melhor distribuição de renda na região.
O Projeto de Mitigação de Emissões de Metano na Produção de Carvão Vegetal da
Plantar contribui para a distribuição de renda na região proporcionando empregos para
a população local, aumentando a renda e, assim, a qualidade de vida de várias famílias
residentes na região do projeto, uma vez que praticamente toda a equipe de
carbonização é composta por habitantes das cidades contempladas pelo projeto.
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d) Contribuição para capacitação e desenvolvimento tecnológico
Avalia o grau de inovação tecnológica do projeto em relação ao cenário de referência e
às tecnologias empregadas em atividades passíveis de comparação com as previstas
no projeto. Avalia também a possibilidade de reprodução da tecnologia empregada,
observando o seu efeito demonstrativo, avaliando, ainda, a origem dos equipamentos,
a existência de royalties e de licenças tecnológicas e a necessidade de assistência
técnica internacional.
A indústria de carvão vegetal no Brasil é tradicional e não tem tendências para
inovação e adoção de novas tecnologias no processo de carbonização, fato que
contribui para constituição das maiores barreiras na produção tradicional de carvão
vegetal. O processo tradicional em fornos chamados de “rabo-quente” (forno de tijolo,
com várias “baianas” e sem chaminé) historicamente tem um baixo, ou quase nenhum,
controle sobre o processo de carbonização. Isto ocorre devido a dois fatores: (a) fato de
que a prática tradicional visa um maior volume de produção não se importando com as
emissões de gases durante a produção; e (b) fato de que a legislação local não requer
o controle de emissões de metano na produção de carvão vegetal. Sendo assim, a
emissão de metano, dentre outros gases, é altíssima no processo tradicional de
carbonização.
Cenário de Referência do Setor
Processo tradicional de
Carbonização
A tecnologia desenvolvida pela Plantar se baseia no aprimoramento dos fornos
existentes juntamente com uma melhoria técnica do processo de produção, o que não
resulta em desativação do equipamento anterior, facilitando assim a sua replicação
para a maior parte da indústria a carvão vegetal que utiliza práticas tradicionais na
América Latina, África, e Ásia. Esta nova tecnologia ocorre com o aperfeiçoamento dos
fornos tradicionais de tijolos, introduzindo um “tatu mecânico” para controle da entrada
de oxigênio no forno, a limitação a somente uma “baiana” para controle da temperatura
do forno, uma melhora do design dos fornos, a introdução de um processo de produção
padrão, o treinamento de pessoal e com a adoção de instrumentos de medida e
monitoramento da temperatura e das emissões.
O desenvolvimento desta nova tecnologia ocorreu através de uma extensa pesquisa
científica feita por pesquisadores e consultores externos durante um período de dois
anos. Esta pesquisa provou a existência de uma relação linear negativa entre as
emissões de metano e o rendimento gravimétrico no processo de produção de carvão
vegetal, o que significa que quanto maior o rendimento gravimétrico menor a emissão
de metano.
Para isso, o rendimento gravimétrico foi medido antes da implementação do projeto e
foi aplicado à equação de regressão usada para estimar as emissões iniciais. Concluiu-
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se então que as melhorias no processo de carbonização resultaram em um maior
rendimento gravimétrico, que consequentemente contribuíram para a redução das
emissões de metano.
O processo de pesquisa envolveu metodologia científica rigorosa que avaliou as
emissões de gases sob diversos padrões de carbonização, e validação estatística da
amostragem estudada por especialistas independentes e pesquisadores da
Universidade Federal de Minas Gerais (o resultado e os relatórios completos destes
estudos podem ser encontrados nos Anexos 5A, 5B, 6A e 6B do DCP).
A seguir ilustramos parte dos equipamentos utilizados na realização desta pesquisa,
em especial para coleta dos gases. Tais amostras foram minuciosamente descritas
pelo método de análise de cromatografia gasosa por um laboratório independente do
que realizou a pesquisa.
Condensador de
tubo de cobre
Gasômetro 38
litros em alumínio
Frasco borbulhamento e
coleta de condensado
A figura acima apresenta a base experimental construída na PLANTAR, no
município de Curvelo, na fase de 2ª CURA, compreendendo 2 fornos de
carbonização com 2,5 metros de diâmetro. O forno da esquerda foi instalado em
plataforma sobre balança e acoplado à 1ª montagem de amostragem de gás para
obter maior precisão de resultado sobre a relação peso, temperatura e emissões de
gases ao longo do processo de carbonização.
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Condensador
em vidro
Multicanal
acoplado a
termopares
Gasômetros 100
litros em tambores
de aço
Frasco coletor
condensado com
escala
A figura anterior apresenta a base experimental na fase de 4ª CURA. Ambos os
fornos acoplados à 2ª montagem de amostragem de gás. Condensadores de vidro e
gasômetros em aço com capacidade de 100 litros (útil 80 litros). Ao fundo acoplado
a termopares, observa-se um multicanal que estava inicialmente entre os fornos.
Sua posição foi alterada com o objetivo de evitar o aquecimento
Baseado no conhecimento desenvolvido e nos resultados identificados na pesquisa,
apresentamos a seguir um quadro resumido do processo completo de carbonização
da PLANTAR aplicando as modificações nos procedimentos de operação dos
fornos e adoção das atividades de redução de emissões dos gases.
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FLUXO DO PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO DA PLANTAR
1. Transporte da madeira da floresta
para a unidade de carbonização
2. Pesagem da madeira
na entrada da UC
3. Medição da umidade
da madeira
4. Carregamento do forno
5. Processo de carbonização
aprimorado
6. Descarregamento do forno
7. Medição da umidade do carvão e pesagem
8. Transporte para o consumidor final
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Além do benefício da redução de emissões de metano permitido por esta nova
tecnologia, a empresa ganha uma prática mais limpa, sustentável e eficiente da
produção de carvão vegetal. Ao mesmo tempo, adota-se uma maneira mais precisa de
controle de produção a partir do peso (não mais utilizando o volume como medida de
controle), aumentando a eficiência do processo produtivo e reduzindo a demanda por
madeira para produzir o montante equivalente de carvão vegetal.
Entretanto, é fundamental ressaltar que a realização desta pesquisa, aplicação dos
resultados e o conseqüente desenvolvimento de novas tecnologias de processo
aplicados à produção de carvão vegetal, foram calcados na obtenção dos incentivos
gerados pelo MDL. Os desdobramentos gerados pela redução de emissões de metano
possibilitaram, desta forma, o desenvolvimento de novas tecnologias de baixo impacto
ao meio ambiente como um todo, beneficiando diretamente as comunidades vizinhas.
e) Contribuição para a integração regional e a articulação com outros setores
A contribuição para o desenvolvimento regional pode ser medida a partir da integração
do projeto com outras atividades socioeconômicas na região de sua implantação.
Segundo, o Balanço Energético 2005 do Estado de Minas Gerais publicado pela
CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais), a lenha e os seus derivados
correspondem a 32,9% da matriz energética do Estado. Este relatório indica que estes
correspondem às maiores fontes de energia utilizadas no Estado, superando o
petróleo, o gás natural e derivados, que somam 31,1% da matriz energética, e a
energia hidráulica com 13,3% deste total. Desta forma, a indústria de produção de
carvão vegetal pode ser considerada como o elo de suprimento energético na conexão
entre os setores urbano-industriais (base consumidora) e os setores da produção de
florestas energéticas no ambiente rural-agrícola do Estado (base produtora deste
importante biocombustível sólido).
A atividade do projeto de produção de carvão vegetal sustentável e com reduzida
emissão de metano, estimula a criação e a manutenção de empregos rurais na
produção de florestas plantadas nas regiões centro-norte do Estado. Por outro lado,
esta atividade de projeto fornece matéria-prima essencial para produção de ferro gusa,
gerando uma importante soma de empregos urbano-industriais no entorno da região
metropolitana de Belo Horizonte, que, por conseguinte, fornece ferro primário para
indústrias de aço e autopeças do sudeste brasileiro e de vários países da Ásia, América
do Norte e Europa.
Portanto, na escala macro-regional, esta atividade de projeto está inserida em um
importante contexto de fornecimento de energia renovável e limpa para a manutenção
de um setor de amplo impacto socioeconômico.
Na escala micro-regional, esta atividade beneficia, através da política da empresa de
descentralização de compras, o comércio local dos municípios das fazendas. Um
exemplo é o fornecimento de refeições para os trabalhadores que é feito por empresas
dos municípios próximos às unidades de carbonização.
Além disso, ainda na micro escala de influência do empreendimento, prestadores de
serviços locais atuam em boa parte da cadeia produtiva do carvão vegetal. Em especial
no setor de transporte da madeira do campo para as Unidades de Carbonização
através da contratação de caminhoneiros independentes e/ou micro e pequenas
empresas de transporte. O transporte diário de pessoal exclusivo das Unidades de
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Carbonização para as cidades e vilas vizinhas aos empreendimentos dos projetos,
também realizado por empresas parceiras. Outra atividade que envolve a contratação
de empreendedores locais é a remoção das toras de madeira da carroceria dos
caminhões para os boxes de carvão localizados na praça de carbonização utilizando
pá-carregadeiras, gruas, etc.
Devido às características especificadas na gestão dos resíduos da colheita de madeira
(como apresentado na seção A acima), o projeto também proporciona renda adicional
para os pequenos proprietários rurais, que utilizam seus animais (burros, jumentos, etc)
para coletar e transportar os resíduos florestais (cascas de eucalipto) que serão
utilizados como adubo no campo.
Portanto, pode-se concluir que a atividade de projeto promove a articulação e
integração socioeconômica com setores rurais e urbanos, proporcionando
desenvolvimento regional e geração de empregos diretos e indiretos nos setores
agrícola, industrial e de serviços.
Empreendedor local com equipamento
de carregamento de madeira
Estímulo ao
comércio local
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Bibliografia
1) DCP – Documento de Concepção do Projeto de Mitigação de Emissões de
Metano na Produção de Carvão Vegetal da Plantar, Brasil. Versão no 5, Janeiro
de 2007.
2) Análise Estatística do Modelo de Regressão da Emissão de Metano sobre o
Rendimento de Carbonização: Planejamento Amostral para Estimação do
Rendimento de Carbonização na Plantar, IPEAD-UFMG, Setembro de 2003.
3) Relatório Complementar da Análise Estatística do Modelo de Regressão da
Emissão de Metano sobre Rendimento de Carbonização. Ráris Treinamento
Estatístico, Dezembro de 2006.
4) Emissões na Etapa de Carbonização - Relatório Final- Plantar Project. RS
Consultants, Julho de 2003.
5) Complementary Report of Emissions at the Carbonization Stage - Plantar
Project. RS Consultants, Dezembro de 2006.
6) Plano de Manejo Florestal da Plantar S/A – Revisão 04-2006.
7) 20º Balanço Energético do Estado de Minas Gerais – BEEMG 2005, CEMIG,
2005.
Links de interesse:
1) Grupo Plantar – www.plantar.com.br
2) Metodologia AM0041 (Methane mitigation) no site da UNFCCC http://cdm.unfccc.int/methodologies/PAmethodologies/approved.html
3) Metodologia ARNM0015 (A/R) no site da UNFCCC –
http://cdm.unfccc.int/methodologies/DB/VWIKKVSEHOX1DEGW30NJO6XM6UEOP
7/view.html
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Anexo III da Resolução no 1 da Comissão Interministerial de