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Carlos Rubini
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Beatriz
Weeks
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Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal
do Paraná. Psicólogo pela Universidade Santa
Úrsula - RJ. Mestre em Psicologia pela Pontifícia
Universidade Católica - RJ. Professor/Supervisor de
Psicodrama pela Federação Brasileira de Psicodrama
Psicóloga pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Mestre em Psicologia pela Fundação
Getúlio Vargas - RJ. Professora/Supervisora de
Psicodrama Federação Brasileira de Psicodrama.
IMAGINAÇÃO E PSICODRAMA*
“É espantoso que a imaginação do ser humano singular,
da psique ou da alma, descoberta e discutida pela
primeira vez há vinte séculos por Aristóteles, jamais
adquiriu o lugar central que é o seu na filosofia da
subjetividade”. (Castoriadis) (3)
RESUMO
O presente texto ressalta a importância da imaginação na formação do psiquismo humano,
procurando colocá-la na sua merecida posição de destaque que lhe tem sido negada pelo
racionalismo. Relaciona a imaginação com a teoria e a prática psicodramática, enfatizando a
necessidade de maior investigação sobre este tema.
ABSTRACT
The present article emphasizes the relevance of the imagination to the formation of human
psyche, trying to place it on a deserved prominent position which has been so far denied by
rationalism. It also connects imagination with the psychodramatical theory and practice
emphasizing the need of further investigation on this subject.
DESCRITORES
Imaginação. Imaginação criativa. Psicodrama. Dramatização
INDEX TERMS
Imagination. Creative imagination. Psychodrama. Dramatization.
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* Texto publicado na Revista Brasileira de Psicodrama, vol. 14. N. 1 . ano 2006 - (edição bilíngue)
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Introdução
Este texto apresenta um estudo cujo objeto é a imaginação como uma força formadora do
psiquismo humano. Busca atribuir à ela o lugar que lhe pertence na constituição do sujeito,
caracterizando-a como função que faz a intermediação da relação homem – mundo, fundamental
no desenvolvimento psicológico e emocional do indivíduo.
Há, na nossa cultura, uma sutil desvalorização da imaginação em comparação a outras
funções do psiquismo humano, tais como inteligência, pensamento, percepção e memória. Durand
(4) justifica esta posição em conseqüência do cientificismo e do método da verdade oriundo do
socratismo e baseado na lógica binária (com dois valores – um falso e outro verdadeiro), tornandose desde Sócrates, Platão e Aristóteles, como o único acesso à verdade. A imaginação é suspeita de
ser “amante do erro e da falsidade”.
Segundo Durand, Galileu e Descartes consideraram a razão como o único meio legítimo de
se chegar à verdade. A partir do século XVII, o imaginário passa a ser excluído dos processos
intelectuais. Hume e Newton permaneceram atrelados ao empirismo e o imaginário confundido
com o delírio, o fantasma do sonho e do irracional.
Esta desvalorização encontra-se tão impregnada em nossos valores que, neste sentido, os
artistas são mal vistos e as crianças repreendidas quando explicitam seu mundo imaginário,
apresentando os amigos não reais ou tomando os papéis dos super-heróis.
Apesar da força do cientificismo, os valores do imaginário foram resguardados no
romantismo, simbolismo e surrealismo.
Na psicologia, Freud valoriza o papel decisivo das imagens como mensagens do
inconsciente, tornando-as intermediárias para o consciente. Entretanto, como assinala Castoriadis,
para ele, o fantasma – phantasie – e o fantasmar – phantasieren – são derivados de coisas escutadas
e posteriormente compreendidas. Não há nada na phantasie, no fantasma, que o sujeito não tenha,
anteriormente, percebido. O fantasma é reprodução.
Vê-se aqui a concepção da imaginação na psicologia como pura combinação de elementos
fornecidos à psique, ignorando o fundamental que é a criação. Há um paradoxo não restrito a Freud.
De um lado, a imaginação está desprovida de estatuto psíquico, mas sua obra só trata da
imaginação.
A obra de Moreno, também, está impregnada da função da imaginação, desde sua origem
(teatro espontâneo), na sua teoria (espontaneidade, papéis) e nas técnicas. O Psicodrama, em sua
prática, tanto psico quanto sociodramática, no acontecer do contexto dramático (“como se”), só é
possível porque está totalmente calcado na riqueza da dimensão imaginária do psiquismo humano.
Em contrapartida, a mesma riqueza não é encontrada no campo da teorização e da pesquisa
psicodramáticas.
Imaginação
Numa conceituação abrangente, a imaginação é apresentada como a faculdade que tem a
mente humana de representar imagens. Japiassú e Marcondes, no dicionário de filosofia, a definem
como “a faculdade criativa do pensamento em que este produz representações (imagens) de objetos
inexistentes, não tendo, portanto, função cognitiva.” (6). Percebe-se, nesta definição, resquícios da
herança desvalorativa da imaginação, restringindo-a a um processo do pensamento, não do
psiquismo e negando-lhe função cognitiva. Aristóteles, entretanto, já incluía a imaginação como
uma das formas de conhecimento junto com a sensação, percepção, memória, raciocínio e intuição.
Tradicionalmente, distingue-se dois tipos de imaginação: a reprodutiva e a criadora. A
primeira refere-se à capacidade de evocar imagens de objetos ou daquilo que já foi percebido; é
ligada à memória. A segunda, é a imaginação como capacidade de formar e produzir imagens de
objetos que não foram percebidos ou de objetos inexistentes, bem como de realizar novas
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combinações de imagens. Constitui-se, portanto, em uma faculdade criativa da mente humana em
que esta produz representações (imagens) de objetos inexistentes, possuindo, assim, o sentido e a
função de criação e invenção.
Quer como reprodutiva ou criativa, a imaginação é caracterizada como um processo de
representação, modificação e encadeamento de imagens, sendo este expressão da realidade interna
do sujeito, não se subordinando ao controle da realidade externa.
Castoriadis (1922-1997) considera que a história da imaginação como função do psiquismo
ainda está por ser feita. Ela inicia com Aristóteles, em De Anima, onde o termo phantasia abrange
tanto a imaginação imitativa, reprodutiva ou combinatória, quanto uma phantasia diferente, sem a
qual não pode haver pensamento e que antecede a qualquer pensamento. É a capacidade de fazer
aparecer, como imagem, alguma coisa que não é. À essa Castoriadis denomina primeira e a
compara com seu conceito de imaginação radical.(3, p.243).
Sócrates afirma que a imaginação é o poder de se representar o que não é. Kant, em Crítica
da Razão Pura, define “imaginação como a capacidade de representar um objeto na intuição,
mesmo sem sua presença”, ou “capacidade de fazer aparecer representações, procedam ou não
de uma incitação externa”, ou seja, a imaginação é o poder de fazer-se o que, de realidade, não é.
(3, p.247)
Sartre, através de suas obras A Imaginação (1936) e O Imaginário (1940), realiza um
estudo sistemático da função imaginativa apresentando a imaginação como uma forma de
consciência. Imagem e consciência vêm junto. Imagem é “um certo modo que a consciência tem de
se dar um objeto” (9, p.19) e“o objeto da imagem é apenas consciência que temos dele.” (9, p.23)
Uma consciência imaginante (contrária à perceptiva) se dá como uma espontaneidade que produz e
conserva o objeto como imagem. Ela é espontânea e criadora ao manter, através de uma criação
contínua, as qualidades sensíveis de seu objeto.
Sartre atribui ao ato de imaginar algo de mágico, fascinante e poderoso, pois, vê nele a
capacidade que tem a consciência de modificar o real, de desligar-se da plenitude do dado e romper
com o mundo. “O ato de imaginação é um ato mágico. É um encantamento destinado a fazer
aparecer o objeto no qual pensamos, a coisa que desejamos, de modo que dele possamos tomar
posse. Nesse ato, há sempre algo de imperioso e infantil, uma recusa de dar conta da distância, das
dificuldades. Dessa forma a criança, em seu berço, age sobre o mundo com ordens e preces. A
essas ordens da consciência os objetos obedecem: aparecem.” (9, p.165)
Bachelard, na introdução de seu livro O Ar e os Sonhos (1943), se contrapõe à visão da
imaginação em sua característica de formar imagens. Afirma que a imaginação é antes a “faculdade
de deformar as imagens fornecidas pela senso-percepção. É a faculdade que nos liberta das
imagens primeiras, que muda as imagens. Se não há imagens, união inesperada de imagens, não há
imaginação, não há ação imaginante.” (1, p.1). Assim, para que haja imaginação, é necessário que
a presença de uma imagem suscite outras ausentes, que uma imagem ocasional determine uma
prodigalidade de imagens diferentes, uma explosão de imagens. Caso contrário, há apenas
percepção, lembrança, memória familiar, hábito das cores e formas.
Bachelard afirma, ainda, que o vocábulo que corresponde à imaginação não é o de imagem,
mas o de imaginário. Graças ao imaginário, a imaginação é essencialmente aberta. É ela, no
psiquismo humano, a própria experiência da abertura, a própria experiência da novidade. Mais do
que outro poder, ela especifica o psiquismo humano. Citando Blake, proclama: “a imaginação não
é um estado, é a própria existência humana.” (1, p.1)
Castoriadis define a imaginação como “a capacidade de fazer surgir o que não é “real”.”
Chama esta de imaginação radical, em oposição à imaginação somente reprodutiva e/ou
combinatória, e anterior à distinção entre o “real” e o “imaginário” ou “fictício”. Dizendo de outra
forma: “é porque há imaginação radical e imaginário instituinte que há para nós “realidade” e
esta realidade.” (3, p.242).
Castoriadis (2) utiliza o termo imaginário não no sentido de “especular,” que é apenas
imagem de e imagem refletida, ou seja, reflexo. Imaginário é “criação incessante e essencialmente
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indeterminada (social, histórica e psíquica) de figuras/formas/imagens, a partir das quais é possível
falar-se de “alguma coisa”. Aquilo que denominamos “realidade” e “racionalidade” são seus
produtos.”
O imaginário radical é, por um lado, a parte fundamental, o âmago do ser e do modo de ser
da psique do ser humano singular e do social-histórico, de outro. Temos, assim, o imaginário radical
individual e o social. A imaginação radical do sujeito humano singular e o imaginário social
instituinte criam e criam do nada, possibilitando a todo ser humano criar para si um mundo próprio
“no” qual se estabelece, também, a si próprio.
O ser humano, ao nascer, é um indivíduo por-vir-a-ser, uma vez que não nasce pronto. É
apenas possibilidade. E como irá se constituir? Para Castoriadis, nesse vir-a-ser emerge o
imaginário como força fundante e instituinte, por isso radical. Para ele, a imaginação é a faculdade
que funda o humano, que permite ao ser significar, a seu modo, as experiências, criando imagens na
relação com o mundo, fazendo história, sociedade, tecnologia, arte e a si próprio.
Através das diferentes dimensões da imaginação aqui apresentadas, percebe-se que ela pode
ser vista como uma força que rompe com os tradicionais paradigmas da lógica e da coerência
psicológica, tão valorizadas pela cultura preocupada com o logos e o nomos, com a realidade,
causalidade e determinação das coisas e dos seres e menos com a indeterminação e fluidez da
imaginação.
Essa imaginação, como força criadora, tem sido reconhecida e valorizada nas diferentes
manifestações artísticas. Necessita, entretanto, ser mais entendida como uma força fundamental do
psiquismo humano, imprescindível para o desenvolvimento psicológico, emocional, social do
indivíduo que se constitui, também, através de sua ação imaginante, indo além e transcendendo a
concretude da realidade e dos fatos. Ou seja, a imaginação precisa ser mais pesquisada e estudada
pela ciência da Psicologia.
A Imaginação e o Psicodrama – as interconexões na teoria e na prática
Garrido–Martin, ao analisar a obra de Moreno, vê a espontaneidade como o núcleo da sua
antropologia. A antropologia de um autor diz respeito à sua concepção de homem e, se terapeuta,
sua explicação de saúde e doença. O conceito de espontaneidade está vinculado ao de criatividade –
“ao fazer da espontaneidade o eixo de sua teoria e de sua terapia, nosso autor pressupunha que o
mundo deve estar aberto à criatividade constante e que o homem deve ser um criador, um gênio.
Todo aquele que se oponha a esses dois princípios, será anátema para Jacob Levy Moreno.” (5, p.
125).
A concepção do homem como ser espontâneo e criativo e, como resultante, a busca desta
“espontaneidade perdida” através da dramatização, pressupõe a importância da função da
imaginação. Criar implica na construção do novo que pode conter elementos antigos, novas
combinações, ou construção de algo inexistente, que se torna real porque antes existiu como
imagem, como sonho.
Na teoria da matriz de identidade, em seus diferentes elementos constitutivos e em suas
etapas, todo esse conjunto encontra-se impregnado pela concepção de imaginação. No primeiro
universo, a criança não distingue os objetos da realidade e os objetos da fantasia. Experiencia tudo
como sendo real. Esta etapa vivenciada por todos humanos, mostra o início da produção
imaginativa que possibilita a construção gradativa de um mundo próprio e de si mesmo, através da
experimentação com os objetos reais e os objetos criados. Esta relação mobiliza emoções que, ao
mesmo tempo, mostram os limites do humano e os expande. A criança teme as figuras do mal (lobo
mau, bruxas), incorpora as qualidades e as características das figuras do bem e de força como, por
exemplo, super-heróis. Dialeticamente, ela aprende os limites do humano e aprende, também, a
transcendê-los através desse inter-jogo realidade/fantasia.
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No segundo universo, quando há a ruptura entre fantasia e realidade, Moreno pressupõe a
existência de dois mundos (real e imaginário) que acompanham o homem em toda a sua existência.
Porém, não se preocupou em aprofundar a questão. Este momento é fundamental para a
constituição do ser na sua dimensão social, pois, a criança se introduz na cultura quando se torna
capaz de tomar os papéis sociais. Moreno sinaliza estas fundamentais etapas do desenvolvimento,
mas não investiga ou mostra o processo, ou a faculdade humana que possibilita este salto. Com a
imaginação o homem se faz “homo sapiens.” Ele cria a cultura.
Correlacionando, ainda, a teoria moreniana e a capacidade de imaginação, é importante
considerar a teoria dos papéis. Os papéis são classificados em três grupos – os psicossomáticos, os
psicodramáticos e os sociais. Destes, apenas os psicossomáticos não pressupõem a capacidade de
imaginar, pois são instintivos (come-se, bebe-se, dorme-se, etc.) em todo o reino animal. Os outros
dois psicodramáticos e sociais, são característicos dos humanos, dos que criam o social, daqueles
que mudam, transformam, dão sentido, modificam indefinidamente todas suas vinculações,
percepções e seu estar no mundo. E, para isto, é necessária a ação imaginante.
Os papéis psicodramáticos, muitas vezes citados como papéis de fantasia, acompanham e
são necessários ao ser humano em toda sua vida. Manifestam-se em cada etapa, antecipando
situações novas, acrescentando possibilidades para manutenção do homem na realidade, bem como
para transcendência dessa realidade através não só da criação artística (artes plásticas, artes visuais,
literatura, etc.), como criando religiões. Estes papéis explicitam a dimensão imaginária do ser
humano.
Os papéis sociais, também, só existem pela capacidade imaginativa do homem. O exercício
dos papéis sociais só se torna possível pela capacidade humana de “tomar os papéis”. Ela está
ligada à possibilidade de criar imagens e representar no mundo psíquico aquilo que é percebido no
mundo social. Por exemplo, a criança observa a função materna, cria uma representação dessa
função, acrescentando elementos próprios e a exerce no mundo real. Este processo está baseado na
capacidade imaginativa do ser.
Na conferência A Descoberta do Homem Espontâneo, com especial ênfase na técnica de
inversão de papéis, falando de um cliente psicodramático que se move, gesticula, sendo convidado
a ser na cena psicodramática, Moreno diz: “o âmbito do seu ser pode, às vezes, estar tão rígido em
termos de estruturas como estão as realidades sociais à sua volta; em outros momentos, este
âmbito poderá conter a irrealidade de um sonho ou o caráter alucinatório de um mundo lunático.
Algumas vezes, poderá ser um lugar para a lógica brutal da realidade, outras, o lugar para a
lógica interior da fantasia e, finalmente, um lugar para experiências oriundas da terra da
“alógica” e da “inexistência.” (7, p.151)
A cena psicodramática é sempre uma criação, não real, sendo lócus do mundo imaginário,
povoada por seres, objetos, fatos e histórias fantasiadas. Sua função é sempre de significação, de dar
sentido à existência. Dá e cria novos sentidos à história individual.
Nesta rica conferência de Moreno, fica clara a forma que a criança apreende o mundo. Ela
vê o cachorro, por exemplo, e toma seu papel. Late, anda de quatro, morde a cadeira como o
cachorro. Este processo de tomada de papéis e, também, o da posterior troca de papéis, implica na
criação de imagens no cérebro e, ao imitá-lo, ela se imagina um cachorro, se imagina um bombeiro,
uma mãe e, ao fazer isto, ela não apenas imita. Ela acrescenta sua representação individual
daqueles seres e coisas, significando-os de forma particular e única. Este processo cria pessoas com
um mundo próprio e, ao mesmo tempo, as capacita para exercer as funções exigidas pela cultura.
Conclui-se que, não só os pressupostos teóricos do psicodrama estão impregnados da faculdade
imaginativa, como também, suas técnicas.
Considerando, ainda, a cena dramática, Moreno, na conferência citada, fala sobre a
irreversibildade da existência. “ ...a pessoa está atada a si mesma, com este corpo e esta mente,
inexoravelmente condenada a ser sempre a mesma. Em resumo, em conseqüência deste fato, a
existência humana não é reversível: a irreversibilidade é uma qualidade existencial… (7, p. 152)
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De fato, no plano da realidade, regidos pela temporalidade, somos irreversíveis, mas na
cena dramática a imaginação nos permite a reversibilidade: ela quebra a temporalidade – não há
passado, nem futuro, só momento. Na cena dramática e na imaginação pode-se tudo. É pura
criação.
A faculdade imaginativa torna possível o psicodrama. Ela possibilita ao homem sua
existência criativa, seus avanços, sua transcendência. Possibilita correr na linha do tempo
quebrando as amarras temporais, físicas, existenciais, históricas e sociais.
Considerações finais
O papel da função da imaginação, tanto na constituição do psiquismo, quanto na formação
do ser social, ainda precisa ser muito investigado. Os intrincados mistérios da mente humana não
podem ser atribuídos apenas à razão, ao racional, prescindindo de outras dimensões como a
imaginação.
O Psicodrama, desde sua origem (teatro da espontaneidade), tem como pressuposto a
imaginação. A dimensão da imaginação apresenta-se e atua através de seu corpo teórico, de seu
método e de sua prática na busca e recuperação da espontaneidade e criatividade humana.
Conceitos de imaginação criativa, consciência imaginante, imaginário radical e instituinte
possuem muitos pontos em comum com a visão moreniana de espontaneidade/criatividade. Todos
dão ênfase ao poder criador da imaginação que leva o homem a conceber imagens, signos,
representações, transcendência, libertando-o e indo além do aprisionamento da objetividade e
concretude da realidade. Encontra-se aí um sentido de ação que liberta e cria.
Portanto, se faz necessário que psicodramatistas e estudiosos da teoria moreniana se
interessem pela investigação deste tema, aprofundando e ampliando a dimensão da imaginação
como geradora do desenvolvimento das potencialidades do humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Durand, G. - O Imaginário. Difel, RJ. 1998.
Garrido, E. - J.L. Moreno: Psicologia do Encontro. Duas Cidades, SP. 1978.
Japiassú, H. e Marcondes, D. - Dicionário Básico de Filosofia. J. Zahar Editora, RJ. 1993.
Moreno, J.L. - Fundamentos do Psicodrama. Summus Editorial, SP. 1984
Sartre, J.P. - A Imaginação. Difusão Européia do Livro, SP. 1973
________. - O Imaginário. Ática, SP. 1996.
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