PARTIDA DE UM REATOR DE MANTO DE LODO EM ESCALA PILOTO, SEM INÓCULO (1) Henio Normando de Souza Melo Patrícia Guimarães Cícero Onofre de Andrade Neto (1) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química-PPGEQ. Núcleo Tecnológico - Campus Universitário - 59072-970. E-mail: [email protected]. Fax.: 55.84.215-3770 PALAVRAS-CHAVE Tratamento de esgotos, Reator de Manto de Lodo. PARTIDA DE UM REATOR DE MANTO DE LODO EM ESCALA PILOTO, SEM INÓCULO RESUMO No presente trabalho, foi realizada uma tentativa de se dar partida em um Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente Através de Leito de Lodo, sem introdução de inóculo. Trata-se de uma unidade em escala piloto, construída em resina de poliéster estruturada com fibra de vidro, denominado comercialmente de BIOFIBER. O reator foi alimentado com esgotos sanitários proveniente das residências, pouso, restaurante e ginásio universitários do Campus da UFRN, com as seguintes características: DQO total 225 mg/l, DQO solúvel 65 mg/l, Sólidos Suspensos Totais (SST) 118 mg/l, Sólidos Suspensos Voláteis (SSV) 107 mg/l, Carbono Orgânico Total (COT) 17 mg/l, pH 7,2 e 3 Temperatura de 29,8 ºC. O período de operação foi de 16 semanas com vazão constante de 10m /dia e TDH de 8h. A freqüência de amostragem foi de 3 vezes por semana tendo sido determinados os seguintes parâmetros: Sólidos Suspensos Totais e Voláteis, pH, Temperatura, DQO Total e Solúvel, Carbono Orgânico Total (COT), Ácidos Graxos Voláteis (AGV), Alcalinidade e relação de Alcalinidade. Os resultados obtidos mostraram uma remoção média de DQO total de 56% e baixa quanto a DQO solúvel (21%). Os resultados de sólidos Suspensos associados aos de DQO e AGV nos indicam que embora se tenha constatado que o reator iniciou o processo de partida, retendo sólidos, entretanto, o tempo de operação do mesmo, alimentado com um substrato de baixo teor de matéria orgânica, não foi suficiente para o pleno desenvolvimento da biomassa e para formar o leito de lodo, mesmo que as condições regionais de temperatura fossem favoráveis. PALAVRAS-CHAVE Tratamento de esgotos, Reator de Manto de Lodo. INTRODUÇÃO O Brasil, devido às suas dimensões continentais, apresenta grandes problemas de saneamento básico. Diante deste fato, se faz necessário o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, que apresentem viabilidade econômico - financeira, mas também eficiência técnica, simplicidade operacional e compatibilidade com as realidades regionais. Diversas tecnologias tem sido desenvolvidas ou adaptadas com esta finalidade, e muitos esforços têm sido dirigidos ao tratamento de esgotos sanitários, dentre as quais destacam-se os processos anaeróbios. A digestão anaeróbia, consiste em um processo fermentativo, que por ser anaeróbio, obviamente ocorre em ausência de oxigênio dissolvido, onde bactérias acidogênicas e metanogênicas ao degradarem a matéria orgânica, produzem gás carbônico e metano, com baixa síntese de material celular. Diversos sistemas de tratamento anaeróbio já foram desenvolvidos contudo, mais recentemente, na década de setenta, foi desenvolvido na Holanda um novo modelo de reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo, conhecido como reator UASB (Uperflow Anaerobic Sludge Blanket). Inicialmente a aplicação foi para o tratamento de efluentes industriais e posteriormente para esgotos sanitários. O reator de manto de lodo, de acordo com Andrade Neto (1997), consiste basicamente em um tanque no qual os esgotos são introduzidos na parte inferior, com saída na parte superior, estabelecendo-se desta forma, um fluxo ascendente. A versão mais moderna, apresenta um sistema de distribuição do afluente em vários pontos na parte inferior do reator, de forma a produzir um fluxo mais uniforme, separadores de fases mediante decantador e defletor de gases, localizados na parte superior. Dificuldades de projeto, construção e operação, inerentes ao processo tem sido encontradas, principalmente quando aplicado ao tratamento de esgotos domésticos. Os principais problemas estão relacionados com as grandes variações de carga orgânica e hidráulica, sobretudo durante períodos de alta precipitação pluviométrica. Diante deste fato, cuidados devem ser tomados com a remoção prévia de areia e uma atenção especial deve ser dada a possibilidade de ocorrência eventual de substâncias tóxicas. Muito embora os reatores de manto de lodo não removam de forma satisfatória microorganismos patogênicos e nutrientes eutrofizantes, eles apresentam diversas vantagens a saber: •Não consomem energia, por dispensarem equipamentos eletromecânicos, •Dispensam enchimentos para fixação de biomassa, •Apresentam baixa produção de lodo, sendo estes já estabilizados, •Oferecem boa remoção de matéria orgânica, •Operam com baixo tempo de detenção hidráulica, resultando conseqüentemente em volumes reduzidos, •Os custos se mostram competitivos em relação a outros sistemas de tratamento biológico de esgotos. A experiência brasileira com reatores manto de lodo teve início na década de oitenta. Novas aplicações em diversos locais do Brasil, vem ampliando a capacidade de entender e adequar tecnologicamente este tipo de reator em função das realidades intrínsecas às diversas regiões brasileiras. Vale salientar que o Brasil é reconhecido como um dos países onde este tipo de reator mais tem sido aplicado e evoluído. No Rio Grande do Norte, uma empresa local produz e comercializa reatores de manto de lodo, construído em resina de poliéster estruturada com fibra de vidro, com denominação comercial de BIOFIBER. O sistema é inovador, pois dispõe de caixa de areia interna. Uma unidade em escala piloto instalada na ETE do Campus da UFRN constitui o objeto deste trabalho. METODOLOGIA Descrição do Reator Trata-se de uma unidade piloto, de forma cilíndrica, com diâmetro de 1m e altura de 4,3 m, 3 perfazendo um volume de 3,43 m , dotado dos seguintes dispositivos (Figuras 1 e 2): • Tanque de tratamento que constitui o corpo do reator onde localiza-se a biomassa, • Sistema de distribuição do afluente bruto, através de caixa divisora de vazão, •Separador gás - líquido e coletor de gases, •Sistemas de coleta de amostra, descarte de lodo e de escuma O afluente bruto é admitido no interior do reator através de uma coluna central, em cujo topo o encontra-se a caixa divisora de vazão, dotada de dois vertedores triangulares de 90 onde cada um alimenta diretamente uma canalização condutora dos esgotos até a parte inferior do reator. Assim o afluente é distribuído de forma que ocorra o contato adequado entre microorganismos e substrato, conforme preconiza o princípio de Contato - Estabilização. A homogeneização do meio, é promovida pela agitação decorrente do escoamento do líquido, bem como pelo movimento no sentido ascendente das bolhas de gás formado. O efluente tratado é coletado através de tubos perfurados submersos, na parte superior do reator, sendo em seguida conduzido para uma caixa coletora e posteriormente para a tubulação de saída da unidade. O excesso de lodo produzido, é descartado por meio de uma válvula de descarga localizada a 2,25m da base do reator. Existem dois registros situados na parte inferior que também descartam lodo, permitindo assim uma maior autonomia de operação. De acordo com Haandel & Lettinga (1994), a qualidade do efluente melhora a medida que a massa de lodo aumenta no reator. Entretanto, a capacidade de retenção de sólidos é limitada e quando ela se esgota, qualquer quantidade de lodo produzido a mais, será fatalmente descarregada junto com o efluente. A presença deste excesso de lodo tende a causar um efluente de qualidade relativamente baixa pois, a presença de partículas de lodo, resulta em altas concentrações de DBO, DQO e SST. Por esta razão, o lodo pode ser descarregado periodicamente quando a biomassa atingir um valor prefixado. Este procedimento torna-se particularmente recomendável quando não há pós tratamento e a qualidade do efluente deve ser a melhor possível. Figura 1: Perfil do reator BIOFIBER Figura 2: Desenho esquemático do reator BIOFIBER Quando da admissão do afluente bruto na coluna central do reator, ocorre uma sedimentação rápida de sólidos em suspensão. Para tanto, logo abaixo da canalização de entrada existe um dispositivo em forma de tronco de cone invertido, para efetuar a remoção de areia sedimentada onde será expurgada por uma tubulação com registro situada na superfície lateral da unidade acima da base. Na região superior, localizam-se calhas coletoras de gases as quais mantêm nessa região uma baixa turbulência, favorecendo a decantação para remoção de sólidos suspensos, que voltam a integrar o manto de lodo. Os gases gerados, são coletados na parte superior por um sistema de campânula e defletor que promovem a separação gás - sólido e gás - líquido. O controle da pressão no interior da campânula é feito mediante a variação do nível de água no dispositivo de coleta de gás, na lateral do reator, ao nível do solo. Na parte superior da campânula, encontra-se instalado um manifold de extração de gases, com saída para o exterior do reator. Condições Operacionais O esgoto bruto é admitido na unidade, com as seguintes características expresso em valores médios: DQO total .......................................................................... DQO solúvel .................................................................... Sólidos Suspensos Totais (SST)....................................... Sólidos Suspensos Voláteis (SSV).................................... Carbono Orgânico Total (COT)......................................... pH...................................................................................... 225 mg/l 65 mg/l 118 mg/l 107 mg/l 17 mg/l 7,2 Temperatura...................................................................... Vazão................................................................................ TDH................................................................................... Alcalinidade total............................................................... Alcalinidade Bicarbonatos................................... ............. Relação de alcalinidade.................................................... 29,8ºC 3 10m /dia 8 horas 113 mg/l 77 mg/l 0,68 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO Os Resultados obtidos de DQO, tiveram uma amplitude de variação entre a entrada e a saída de 126 mg/l para DQO total e de 13 mg/l para DQO solúvel (Figuras 3 e 4), acarretando um percentual de remoção de 56% e 21% respectivamente (Tabela 1). Esta remoção pode ser considerada como de um desempenho mediano quanto a DQO total e baixo no que se refere a DQO solúvel, se comparado por exemplo com os dados de Maragno & Campos (1991). Por outro lado, segundo Andrade Neto (1997), em função das condições hidráulicas impostas, os sólidos suspensos são em grande parte retidos no reator. Os microorganismos formam flocos (lodo floculento) ou grânulos (lodo granulado), que ao sedimentarem, dão lugar a uma camada espessa de lodo, que por sua vez funciona como meio filtrante (leito de lodo filtrante), aumentando a eficiência de remoção de sólidos , os quais ali são biodegradados. A retenção de sólidos é auxiliada pela filtração no próprio leito de lodo, moderadamente expandido. Como o fluxo se dá através do leito de lodo, a matéria orgânica solúvel sofre também a ação dos microorganismos presentes. Ocorre portanto, a retenção de sólidos e eficiente remoção de matéria orgânica. Assim sendo, de acordo com Haandel (1993), a elevada taxa de remoção de matéria orgânica não se deve a uma alta atividade do lodo, mas a grande massa de lodo retida no reator. Ou seja, o desempenho do reator, no tratamento de esgotos, se deve mais à possibilidade de retenção de uma grande quantidade de lodo do que a atividade metanogênica específica do mesmo, que é relativamente baixa. DQO TOTAL ENT. TOT 500 SAÍ. TOT 450 DQO T (mg/l) 400 350 300 250 200 150 100 50 28/Jan 23/Jan 09/Jan 05/Jan 10/Dez 03/Dez 28/Nov 24/Nov 14/Nov 10/Nov 03/Nov 29/Out 24/Out 20/Out 0 DATA Figura 3: Variação da concentração de DQO Total no Afluente e no Efluente do BIOFIBER. DQO SOLÚVEL ENT. SOL 140 SAÍ. SOL 120 DQO S (mg/l) 100 80 60 40 20 28/Jan 23/Jan 09/Jan 05/Jan 10/Dez DATA 03/Dez 28/Nov 24/Nov 14/Nov 10/Nov 03/Nov 29/Out 24/Out 20/Out 0 Figura 4: Variação da concentração de DQO Solúvel no Afluente e no Efluente do BIOFIBER. Tabela 1: Valores Médios de DQO e de Eficiência de Remoção no BIOFIBER ENTRADA SAÍDA Total Solúvel Total Média (mg/l) 225 65 99 Remoção 56% Solúvel 52 21% Vale no entanto salientar que o esgoto bruto do Campus UFRN pode ser classificado como fraco, apresentando uma DQO média de 225 mg/l. Essa característica dos esgotos do Campus UFRN sofre um reflexo direto do período letivo, quando durante as férias o Restaurante Universitário tem suas atividades suspensas e a população flutuante diminui sensivelmente. Não obstante estes fatos, a remoção de DQO total nos níveis observados constitui, provavelmente, um indicativo de remoção de DQO por sedimentação da fração particulada. Entretanto, isto não parece ter sido bastante para se obter uma densidade de lodo suficiente para promover a formação do leito. Esta acertiva pode ser reforçada, tendo em vista a remoção de DQO solúvel não ter sido significativa, justamente pela provável ausência de biomassa ativa. Para uma melhor interpretação do problema, é necessário lembrar que a partida do reator foi efetuada sem inóculo, pois esta é a situação que realmente ocorre na prática, principalmente em se considerando as realidades regionais. Os valores médios no afluente, de Sólidos Suspensos Totais 118mg/l (Figura 5), e Sólidos Suspensos Voláteis 107mg/l (Figura 6), são baixos em relação aos teores médios característicos de esgotos domésticos. Isto nos leva a crer que a concentração de microorganismos é por conseguinte baixa, o que se pode confirmar ao se observar os valores de 55 mg/l de SST e 53 mg/l de SSV, na descarga de lodo, mesmo considerando que o ponto de amostragem de descarga de lodo localiza-se a 2,25m da base do reator. SÓLIDOS SUSPENSOS 350 300 SS (mg/l) 250 200 E S 150 100 50 26/Jan 14/Jan 05/Jan 10/Dez 28/Nov 17/Nov 10/Nov 03/Nov 27/Out 20/Out 0 DATA Figura 5: Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais no Afluente e no Efluente do BIOFIBER SÓLIDOS SUSPENSOS VOLÁTEIS 300 E S SSV (mg/l) 250 200 150 100 50 26/Jan 14/Jan 05/Jan 10/Dez 28/Nov 17/Nov 10/Nov 03/Nov 27/Out 20/Out 0 DATA Figura 6: Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais no Afluente e no Efluente do BIOFIBER A tabela 2 mostra que houve uma remoção de 73% em SST e 72% em SSV. Assim sendo, nota-se que os dados obtidos nas amostras de descarga é baixo, como já era de se esperar. Isto pode ser interpretado como se o tempo de operação não tenha sido suficiente para formar o leito de lodo com partida sem inóculo. Certamente isto poderá ter ocorrido, devido às características do afluente. Apesar da temperatura favorável (média de 29,3ºC para o ar e 29,6ºC no afluente) ter sido considerado como um fator que iria compensar a baixa concentração de matéria orgânica do substrato - uma vez que se aproxima bastante da temperatura ótima de proliferação de microorganismos anaeróbios - não foram suficiente para permitir a formação do lodo. Tabela 2: Valores Médios de Sólidos e de Eficiência de Remoção no BIOFIBER. SÓLIDOS PONTOS REMOÇÃO (mg/l) ENTRADA SAÍDA ST 312 214 32% STV 178 89 50% STF 135 125 7% SS 118 32 73% SSV 107 30 72% SSF 11 1 89% SD 195 182 6% SDV 71 58 18% SDF 124 124 0 Para que haja um bom funcionamento da digestão anaeróbia, os ácidos graxos voláteis existentes no afluente, devem ser consumidos no interior do reator, para que ocorra um equilíbrio entre as populações acidogênicas e metanogênicas. Os resultados obtidos mostram uma remoção baixa 18% (tabela 3) com diferença média entre a entrada e a saída de 28 mg/l. Isto poderia confirmar mais uma vez que a biomassa ainda não foi formada. AGV 70 Entrada 60 SAÍDA AGV (mg/l) 50 40 30 20 10 DATA 30/Jan 23/Jan 16/Jan 09/Jan 22/Dez 10/Dez 01/Dez 24/Nov 12/Nov 03/Nov 27/Out 20/Out 0 Figura 7: Variação da concentração de Ácidos Graxos Voláteis no Afluente e no Efluente do BIOFIBER Não obstante essas observações, pode-se verificar através da Figura 7 que em certos pontos houve algum acréscimo de AGV. Segundo Haandel & Lettinga (1994), isto seria um indicativo de que pelo menos nesses momentos houve uma predominância da fase acidogênica sobre a metanogênica, caracterizando-se o início do referido equilíbrio. Dessa forma, caso as condições operacionais − principalmente no que concerne à qualidade do substrato − fossem mantidas, haveria a expectativa de consumo mais acentuado de AGV, e conseqüentemente a formação de biomassa com equilíbrio entre as populações acidogênicas e metanogênicas. De acordo com as afirmações de Noyola (1997), Uma relação de alcalinidade superior a 0,5 constitui um indicativo de que o sistema é capaz de suportar um aumento de carga orgânica. Os dados obtidos de relação de alcalinidade (Figura 8), com valor médio de 0,7, mostram que se houvesse biomassa formada o reator suportaria cargas maiores. RELAÇÃO DE ALCALINIDADE 0,90 0,80 0,70 REL. ALC. 0,60 0,50 0,40 0,30 ENTRADA 0,20 SAÍDA 0,10 09/Jan 05/Jan 12/Dez 05/Dez 01/Dez 26/Nov 17/Nov 12/Nov 07/Nov 03/Nov 29/Out 24/Out 20/Out 0,00 DATA Figura 8: Variação da relação de alcalinidade no Afluente e no Efluente do BIOFIBER ALCALINIDADE TOTAL 140 120 ALC. TOT. (mg/l) 100 80 60 40 ENTRADA SAÍDA 09/Jan 05/Jan 12/Dez 05/Dez DATA 01/Dez 26/Nov 17/Nov 12/Nov 07/Nov 03/Nov 29/Out 20/Out 0 24/Out 20 Figura 9: Variação da concentração de Alcalinidade Total no Afluente e no Efluente do BIOFIBER ALCALINIDADE BICARBONATO 120 ALC. BIC. (mg/l) 100 80 60 40 ENTRADA SAÍDA 20 09/Jan 05/Jan 12/Dez 05/Dez DATA 01/Dez 26/Nov 17/Nov 12/Nov 07/Nov 03/Nov 29/Out 24/Out 20/Out 0 Figura 10: Variação da concentração de Alcalinidade Total no Afluente e no Efluente do BIOFIBER Os valores de pH, no reator, mantiveram-se dentro da faixa ótima de crescimento das bactérias produtoras de metano (Chernicharo,1997) e examinando-se a Figura 11 observa-se que não houve nenhum choque deste parâmetro. Vale salientar que considerando também os dados de alcalinidade (Figuras 8, 9 e 10) não ocorreu o fenômeno de azedamento no reator. Tabela 3: Valores Médios de pH, AGV, Alcalinidade e Relação de Alcalinidade no BIOFOBER. ENTRADA SAÍDA pH 7,2 7,1 Ácidos Voláteis (mg/l) 32 28 Alcalinidade Total (mg/l) 113 104 Alcalinidade de Bicarbonato (mg/l) 77 72 Relação de Alcalinidade 0,68 0,70 pH 7,6 7,4 pH 7,2 7 6,8 6,6 Entrada SAÍDA 6,4 28/Jan 21/Jan 14/Jan 07/Jan DATA 19/Dez 05/Dez 28/Nov 19/Nov 12/Nov 03/Nov 27/Out 20/Out 6,2 Figura11: Variação do pH no Afluente e no Efluente do BIOFIBER Neste contexto, pretende-se contornar o problema realizando o que poderíamos denominar de uma “Partida Induzida”, com o auxílio de um agente floculante, o Cloreto Férrico por exemplo, com o intuito de aumentar a densidade do lodo e concentrá-lo na parte inferior do reator, entretanto, mantendo o potencial de óxido-redução adequado para o crescimento das bactérias anaeróbias. Esta premissa foi postulada com base nos resultados obtidos, onde se pode observar que houve retenção de SST porém não na velocidade suficiente para a formação do leito a curto prazo. Vale salientar que não se verificou risco de azedamento, a remoção de DQO total foi razoável, todavia a parcela solúvel da DQO não foi significativamente removida. Isto nos leva a crer que o uso de um floculante seria suficiente para a formação de um leito com maior densidade de lodo mais rapidamente, evitando assim o uso de inóculo. Uma vez introduzido o agente floculante para a partida induzida, imagina-se ser oportuno ajustar as condições hidráulicas do reator, para o menor tempo de detenção possível, de tal forma que o aumento da velocidade ascensional, provocado por sua vez pelo aumento da vazão, não acarrete uma remoção da biomassa (lavagem do lodo). Dessa forma estaríamos nos aproximando da fase exponencial de crescimento (fase log.), o que poderia acelerar a formação do leito de lodo. Na verdade, sabe-se que na fase exponencial de crescimento, praticamente não ocorre remoção de matéria orgânica devido ao baixo TDH, todavia, a permanência do reator durante um certo período nesta fase, teria como compensação uma maior velocidade de crescimento bacteriano, e por conseguinte, maior rapidez na formação do Leito de Lodo devido a uma alta concentração de substrato em torno das células bacterianas. As bactérias, por sua vez, constituem o grupo de microorganismos mais importante no processo de tratamento biológico de esgotos, devido sua alta taxa de crescimento em relação a fungos, protozoários e rotíferos, entre outros. Dentro desta premissa, considerando que as bactérias não dispõe de mecanismo de mobilidade, é fundamental para seu crescimento que a concentração de substrato não seja um fator limitante. CONCLUSÕES O reator deu início a partida, com retenção de sólidos e remoção de DQO total porém, o tempo de funcionamento, associado à variação de cargas orgânica e hidráulica, não foi suficiente para promover o crescimento da biomassa, com densidade de lodo bastante para a formação do leito. O funcionamento do reator foi normal, não havendo choque de pH nem riscos de azedamento, como indicam inclusive os resultados de alcalinidade e AGV As condições operacionais concernentes a concentração de matéria orgânica expressa como DQO no substrato, consistiu no fator preponderante para o não crescimento da biomassa. A Influência da temperatura ambiente, próximo à faixa ótima da crescimento de bactérias anaeróbias, não foi suficiente para compensar os baixos teores de matéria orgânica no substrato. Constatou-se que há retenção de sólidos, que no entanto ocorre lentamente não propiciando um leito filtrante a curto prazo, que a remoção da DQO, inclusive solúvel, embora modesta indica não haver dificuldades biológicas devidas a qualidade do substrato, e que, mesmo com baixa alcalinidade, não ocorreram choques de pH nem riscos de azedamento. Neste contexto, conclui-se que o uso de um coagulante (Cloreto Férrico, por exemplo) seria suficiente para acelerar a formação de um leito de lodo de maior densidade, a curto prazo, dispensando o uso de inóculo na partida de reatores semelhantes, alimentados com esgotos essencialmente domésticos. Esgotos domésticos não apresentam carência de população biológica diversificada nem, por sua natureza, carência de oligoelementos e, em contrapartida dispõe de boa capacidade de tamponamento. Dessa forma, dar partida no reator com inoculação teria como objetivo precípuo tão somente dispor de um leito filtrante desde a partida. Espera-se conseguir efeito semelhante através de um floculante, porém com menores custos e maior facilidade. Integrantes da Equipe do PROSAB/UFRN Professores: Henio Normando de Souza Melo (Coordenador); Cícero Onofre de Andrade Neto; Manoel Lucas Filho; Dinarte Aeda da Silva; Josette Lourdes de Sousa Melo; Nadja Maria Nobre de Farias; Luiz Pereira de Brito (Jan/98). Bolsistas: (DCR): Maria Gorete Pereira, Patrícia Guimarães; (AT-NM): Ana Cristina da Costa Januário, Wíldima Ferreira de Mendonça; (AT-NS): Emília Margareth de Melo Silva (Out/96-Dez/97); (AP): Ana Cláudia Gondim Filgueira, Ana Lúcia Silva de Sousa Dantas, Sandra Cristina de Santana; Helio Rodrigues dos Santos (Out/96- Fev/98); George Guilherme Santiago da Costa (Jan/98); (IC): Diana Sampaio da Costa (Out/96-Dez/97); Kátia Bakker Batista (Out/96-Ago/97); Magna Angélica dos Santos Bezerra (Set/97). BIBLIOGRAFIA Andrade Neto, C. O. de (1997). Sistemas Simples para Tratamento de Esgotos Sanitários experiência brasileira . ABES, Rio de Janeiro/RJ Brasil 301p. Chernicharo, C. A. L. (1997). Reatores Anaeróbios. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental - DESA/Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Belo Horizonte/MG-Brasil, 245p. Haandel, A. C. van et all, (1993). Influência do tempo de Permanência Sobre o Desempenho de o Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente. Anais do 17 Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, ABES Vol. 2 Tomo I Natal/RN Brasil. Haandel, A. C. van, e Letinga, G. (1994). Tratamento Anaeróbio de Esgotos - um manual para regiões de clima quente. Edição Independente, Campina Grande/PB Brasil, 240p. Maragno, A. L. F. C. e Campos, J. R. (1991). Treatment of Wastewater with Low Concentration of Organics Using Anaerobic Fluidized Bed Reactor. Sixty International Symposium on Anaerobic Digestion. São Paulo/SP Brasil. Noyola, A. R. (1997). Tratamento Anaeróbio de Águas Residuárias. Curso Internacional de Extensão, UFRN Natal/RN Brasil, 131p.