PARTIDA DE UM REATOR DE MANTO DE LODO EM ESCALA
PILOTO, SEM INÓCULO
(1)
Henio Normando de Souza Melo
Patrícia Guimarães
Cícero Onofre de Andrade Neto
(1)
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química-PPGEQ.
Núcleo Tecnológico - Campus Universitário - 59072-970.
E-mail: [email protected]. Fax.: 55.84.215-3770
PALAVRAS-CHAVE
Tratamento de esgotos, Reator de Manto de Lodo.
PARTIDA DE UM REATOR DE MANTO DE LODO EM ESCALA PILOTO, SEM INÓCULO
RESUMO
No presente trabalho, foi realizada uma tentativa de se dar partida em um Reator Anaeróbio de Fluxo
Ascendente Através de Leito de Lodo, sem introdução de inóculo. Trata-se de uma unidade em
escala piloto, construída em resina de poliéster estruturada com fibra de vidro, denominado
comercialmente de BIOFIBER. O reator foi alimentado com esgotos sanitários proveniente das
residências, pouso, restaurante e ginásio universitários do Campus da UFRN, com as seguintes
características: DQO total 225 mg/l, DQO solúvel 65 mg/l, Sólidos Suspensos Totais (SST) 118 mg/l,
Sólidos Suspensos Voláteis (SSV) 107 mg/l, Carbono Orgânico Total (COT) 17 mg/l, pH 7,2 e
3
Temperatura de 29,8 ºC. O período de operação foi de 16 semanas com vazão constante de 10m /dia
e TDH de 8h. A freqüência de amostragem foi de 3 vezes por semana tendo sido determinados os
seguintes parâmetros: Sólidos Suspensos Totais e Voláteis, pH, Temperatura, DQO Total e Solúvel,
Carbono Orgânico Total (COT), Ácidos Graxos Voláteis (AGV), Alcalinidade e relação de Alcalinidade.
Os resultados obtidos mostraram uma remoção média de DQO total de 56% e baixa quanto a DQO
solúvel (21%). Os resultados de sólidos Suspensos associados aos de DQO e AGV nos indicam que
embora se tenha constatado que o reator iniciou o processo de partida, retendo sólidos, entretanto, o
tempo de operação do mesmo, alimentado com um substrato de baixo teor de matéria orgânica, não
foi suficiente para o pleno desenvolvimento da biomassa e para formar o leito de lodo, mesmo que as
condições regionais de temperatura fossem favoráveis.
PALAVRAS-CHAVE
Tratamento de esgotos, Reator de Manto de Lodo.
INTRODUÇÃO
O Brasil, devido às suas dimensões continentais, apresenta grandes problemas de saneamento
básico. Diante deste fato, se faz necessário o desenvolvimento de tecnologias apropriadas, que
apresentem viabilidade econômico - financeira, mas também eficiência técnica, simplicidade
operacional e compatibilidade com as realidades regionais.
Diversas tecnologias tem sido desenvolvidas ou adaptadas com esta finalidade, e muitos esforços
têm sido dirigidos ao tratamento de esgotos sanitários, dentre as quais destacam-se os processos
anaeróbios.
A digestão anaeróbia, consiste em um processo fermentativo, que por ser anaeróbio, obviamente
ocorre em ausência de oxigênio dissolvido, onde bactérias acidogênicas e metanogênicas ao
degradarem a matéria orgânica, produzem gás carbônico e metano, com baixa síntese de material
celular.
Diversos sistemas de tratamento anaeróbio já foram desenvolvidos contudo, mais recentemente, na
década de setenta, foi desenvolvido na Holanda um novo modelo de reator anaeróbio de fluxo
ascendente e manta de lodo, conhecido como reator UASB (Uperflow Anaerobic Sludge Blanket).
Inicialmente a aplicação foi para o tratamento de efluentes industriais e posteriormente para esgotos
sanitários.
O reator de manto de lodo, de acordo com Andrade Neto (1997), consiste basicamente em um tanque
no qual os esgotos são introduzidos na parte inferior, com saída na parte superior, estabelecendo-se
desta forma, um fluxo ascendente. A versão mais moderna, apresenta um sistema de distribuição do
afluente em vários pontos na parte inferior do reator, de forma a produzir um fluxo mais uniforme,
separadores de fases mediante decantador e defletor de gases, localizados na parte superior.
Dificuldades de projeto, construção e operação, inerentes ao processo tem sido encontradas,
principalmente quando aplicado ao tratamento de esgotos domésticos. Os principais problemas estão
relacionados com as grandes variações de carga orgânica e hidráulica, sobretudo durante períodos
de alta precipitação pluviométrica. Diante deste fato, cuidados devem ser tomados com a remoção
prévia de areia e uma atenção especial deve ser dada a possibilidade de ocorrência eventual de
substâncias tóxicas.
Muito embora os reatores de manto de lodo não removam de forma satisfatória microorganismos
patogênicos e nutrientes eutrofizantes, eles apresentam diversas vantagens a saber:
•Não consomem energia, por dispensarem equipamentos eletromecânicos,
•Dispensam enchimentos para fixação de biomassa,
•Apresentam baixa produção de lodo, sendo estes já estabilizados,
•Oferecem boa remoção de matéria orgânica,
•Operam com baixo tempo de detenção hidráulica, resultando conseqüentemente em
volumes reduzidos,
•Os custos se mostram competitivos em relação a outros sistemas de tratamento
biológico de esgotos.
A experiência brasileira com reatores manto de lodo teve início na década de oitenta. Novas
aplicações em diversos locais do Brasil, vem ampliando a capacidade de entender e adequar
tecnologicamente este tipo de reator em função das realidades intrínsecas às diversas regiões
brasileiras. Vale salientar que o Brasil é reconhecido como um dos países onde este tipo de reator
mais tem sido aplicado e evoluído. No Rio Grande do Norte, uma empresa local produz e
comercializa reatores de manto de lodo, construído em resina de poliéster estruturada com fibra de
vidro, com denominação comercial de BIOFIBER. O sistema é inovador, pois dispõe de caixa de
areia interna. Uma unidade em escala piloto instalada na ETE do Campus da UFRN constitui o objeto
deste trabalho.
METODOLOGIA
Descrição do Reator
Trata-se de uma unidade piloto, de forma cilíndrica, com diâmetro de 1m e altura de 4,3 m,
3
perfazendo um volume de 3,43 m , dotado dos seguintes dispositivos (Figuras 1 e 2):
• Tanque de tratamento que constitui o corpo do reator onde localiza-se a biomassa,
• Sistema de distribuição do afluente bruto, através de caixa divisora de vazão,
•Separador gás - líquido e coletor de gases,
•Sistemas de coleta de amostra, descarte de lodo e de escuma
O afluente bruto é admitido no interior do reator através de uma coluna central, em cujo topo
o
encontra-se a caixa divisora de vazão, dotada de dois vertedores triangulares de 90 onde cada um
alimenta diretamente uma canalização condutora dos esgotos até a parte inferior do reator. Assim o
afluente é distribuído de forma que ocorra o contato adequado entre microorganismos e substrato,
conforme preconiza o princípio de Contato - Estabilização.
A homogeneização do meio, é promovida pela agitação decorrente do escoamento do líquido, bem
como pelo movimento no sentido ascendente das bolhas de gás formado.
O efluente tratado é coletado através de tubos perfurados submersos, na parte superior do reator,
sendo em seguida conduzido para uma caixa coletora e posteriormente para a tubulação de saída da
unidade.
O excesso de lodo produzido, é descartado por meio de uma válvula de descarga localizada a 2,25m
da base do reator. Existem dois registros situados na parte inferior que também descartam lodo,
permitindo assim uma maior autonomia de operação.
De acordo com Haandel & Lettinga (1994), a qualidade do efluente melhora a medida que a massa
de lodo aumenta no reator. Entretanto, a capacidade de retenção de sólidos é limitada e quando ela
se esgota, qualquer quantidade de lodo produzido a mais, será fatalmente descarregada junto com o
efluente. A presença deste excesso de lodo tende a causar um efluente de qualidade relativamente
baixa pois, a presença de partículas de lodo, resulta em altas concentrações de DBO, DQO e SST.
Por esta razão, o lodo pode ser descarregado periodicamente quando a biomassa atingir um valor
prefixado. Este procedimento torna-se particularmente recomendável quando não há pós tratamento
e a qualidade do efluente deve ser a melhor possível.
Figura 1: Perfil do reator BIOFIBER
Figura 2: Desenho esquemático do reator BIOFIBER
Quando da admissão do afluente bruto na coluna central do reator, ocorre uma sedimentação rápida
de sólidos em suspensão. Para tanto, logo abaixo da canalização de entrada existe um dispositivo em
forma de tronco de cone invertido, para efetuar a remoção de areia sedimentada onde será
expurgada por uma tubulação com registro situada na superfície lateral da unidade acima da base.
Na região superior, localizam-se calhas coletoras de gases as quais mantêm nessa região uma baixa
turbulência, favorecendo a decantação para remoção de sólidos suspensos, que voltam a integrar o
manto de lodo.
Os gases gerados, são coletados na parte superior por um sistema de campânula e defletor que
promovem a separação gás - sólido e gás - líquido. O controle da pressão no interior da campânula é
feito mediante a variação do nível de água no dispositivo de coleta de gás, na lateral do reator, ao
nível do solo. Na parte superior da campânula, encontra-se instalado um manifold de extração de
gases, com saída para o exterior do reator.
Condições Operacionais
O esgoto bruto é admitido na unidade, com as seguintes características expresso em valores médios:
DQO total ..........................................................................
DQO solúvel ....................................................................
Sólidos Suspensos Totais (SST).......................................
Sólidos Suspensos Voláteis (SSV)....................................
Carbono Orgânico Total (COT).........................................
pH......................................................................................
225 mg/l
65 mg/l
118 mg/l
107 mg/l
17 mg/l
7,2
Temperatura......................................................................
Vazão................................................................................
TDH...................................................................................
Alcalinidade total...............................................................
Alcalinidade Bicarbonatos................................... .............
Relação de alcalinidade....................................................
29,8ºC
3
10m /dia
8 horas
113 mg/l
77 mg/l
0,68
ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os Resultados obtidos de DQO, tiveram uma amplitude de variação entre a entrada e a saída de 126
mg/l para DQO total e de 13 mg/l para DQO solúvel (Figuras 3 e 4), acarretando um percentual de
remoção de 56% e 21% respectivamente (Tabela 1). Esta remoção pode ser considerada como de
um desempenho mediano quanto a DQO total e baixo no que se refere a DQO solúvel, se comparado
por exemplo com os dados de Maragno & Campos (1991).
Por outro lado, segundo Andrade Neto (1997), em função das condições hidráulicas impostas, os
sólidos suspensos são em grande parte retidos no reator. Os microorganismos formam flocos (lodo
floculento) ou grânulos (lodo granulado), que ao sedimentarem, dão lugar a uma camada espessa de
lodo, que por sua vez funciona como meio filtrante (leito de lodo filtrante), aumentando a eficiência de
remoção de sólidos , os quais ali são biodegradados. A retenção de sólidos é auxiliada pela filtração
no próprio leito de lodo, moderadamente expandido. Como o fluxo se dá através do leito de lodo, a
matéria orgânica solúvel sofre também a ação dos microorganismos presentes. Ocorre portanto, a
retenção de sólidos e eficiente remoção de matéria orgânica.
Assim sendo, de acordo com Haandel (1993), a elevada taxa de remoção de matéria orgânica não se
deve a uma alta atividade do lodo, mas a grande massa de lodo retida no reator. Ou seja, o
desempenho do reator, no tratamento de esgotos, se deve mais à possibilidade de retenção de uma
grande quantidade de lodo do que a atividade metanogênica específica do mesmo, que é
relativamente baixa.
DQO TOTAL
ENT. TOT
500
SAÍ. TOT
450
DQO T (mg/l)
400
350
300
250
200
150
100
50
28/Jan
23/Jan
09/Jan
05/Jan
10/Dez
03/Dez
28/Nov
24/Nov
14/Nov
10/Nov
03/Nov
29/Out
24/Out
20/Out
0
DATA
Figura 3: Variação da concentração de DQO Total no Afluente e no Efluente do
BIOFIBER.
DQO SOLÚVEL
ENT. SOL
140
SAÍ. SOL
120
DQO S (mg/l)
100
80
60
40
20
28/Jan
23/Jan
09/Jan
05/Jan
10/Dez
DATA
03/Dez
28/Nov
24/Nov
14/Nov
10/Nov
03/Nov
29/Out
24/Out
20/Out
0
Figura 4: Variação da concentração de DQO Solúvel no Afluente e no Efluente do BIOFIBER.
Tabela 1: Valores Médios de DQO e de Eficiência de Remoção no BIOFIBER
ENTRADA
SAÍDA
Total
Solúvel
Total
Média (mg/l)
225
65
99
Remoção
56%
Solúvel
52
21%
Vale no entanto salientar que o esgoto bruto do Campus UFRN pode ser classificado como fraco,
apresentando uma DQO média de 225 mg/l. Essa característica dos esgotos do Campus UFRN sofre
um reflexo direto do período letivo, quando durante as férias o Restaurante Universitário tem suas
atividades suspensas e a população flutuante diminui sensivelmente. Não obstante estes fatos, a
remoção de DQO total nos níveis observados constitui, provavelmente, um indicativo de remoção de
DQO por sedimentação da fração particulada. Entretanto, isto não parece ter sido bastante para se
obter uma densidade de lodo suficiente para promover a formação do leito. Esta acertiva pode ser
reforçada, tendo em vista a remoção de DQO solúvel não ter sido significativa, justamente pela
provável ausência de biomassa ativa.
Para uma melhor interpretação do problema, é necessário lembrar que a partida do reator foi
efetuada sem inóculo, pois esta é a situação que realmente ocorre na prática, principalmente em se
considerando as realidades regionais.
Os valores médios no afluente, de Sólidos Suspensos Totais 118mg/l (Figura 5), e Sólidos Suspensos
Voláteis 107mg/l (Figura 6), são baixos em relação aos teores médios característicos de esgotos
domésticos. Isto nos leva a crer que a concentração de microorganismos é por conseguinte baixa, o
que se pode confirmar ao se observar os valores de 55 mg/l de SST e 53 mg/l de SSV, na descarga
de lodo, mesmo considerando que o ponto de amostragem de descarga de lodo localiza-se a 2,25m
da base do reator.
SÓLIDOS SUSPENSOS
350
300
SS (mg/l)
250
200
E
S
150
100
50
26/Jan
14/Jan
05/Jan
10/Dez
28/Nov
17/Nov
10/Nov
03/Nov
27/Out
20/Out
0
DATA
Figura 5: Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais no Afluente e no Efluente do
BIOFIBER
SÓLIDOS SUSPENSOS VOLÁTEIS
300
E
S
SSV (mg/l)
250
200
150
100
50
26/Jan
14/Jan
05/Jan
10/Dez
28/Nov
17/Nov
10/Nov
03/Nov
27/Out
20/Out
0
DATA
Figura 6: Variação da concentração de Sólidos Suspensos Totais no Afluente e no Efluente do
BIOFIBER
A tabela 2 mostra que houve uma remoção de 73% em SST e 72% em SSV. Assim sendo, nota-se
que os dados obtidos nas amostras de descarga é baixo, como já era de se esperar. Isto pode ser
interpretado como se o tempo de operação não tenha sido suficiente para formar o leito de lodo com
partida sem inóculo. Certamente isto poderá ter ocorrido, devido às características do afluente.
Apesar da temperatura favorável (média de 29,3ºC para o ar e 29,6ºC no afluente) ter sido
considerado como um fator que iria compensar a baixa concentração de matéria orgânica do
substrato - uma vez que se aproxima bastante da temperatura ótima de proliferação de
microorganismos anaeróbios - não foram suficiente para permitir a formação do lodo.
Tabela 2: Valores Médios de Sólidos e de Eficiência de Remoção no BIOFIBER.
SÓLIDOS
PONTOS
REMOÇÃO
(mg/l)
ENTRADA
SAÍDA
ST
312
214
32%
STV
178
89
50%
STF
135
125
7%
SS
118
32
73%
SSV
107
30
72%
SSF
11
1
89%
SD
195
182
6%
SDV
71
58
18%
SDF
124
124
0
Para que haja um bom funcionamento da digestão anaeróbia, os ácidos graxos voláteis existentes no
afluente, devem ser consumidos no interior do reator, para que ocorra um equilíbrio entre as
populações acidogênicas e metanogênicas. Os resultados obtidos mostram uma remoção baixa 18%
(tabela 3) com diferença média entre a entrada e a saída de 28 mg/l. Isto poderia confirmar mais uma
vez que a biomassa ainda não foi formada.
AGV
70
Entrada
60
SAÍDA
AGV (mg/l)
50
40
30
20
10
DATA
30/Jan
23/Jan
16/Jan
09/Jan
22/Dez
10/Dez
01/Dez
24/Nov
12/Nov
03/Nov
27/Out
20/Out
0
Figura 7: Variação da concentração de Ácidos Graxos Voláteis no Afluente e no Efluente do
BIOFIBER
Não obstante essas observações, pode-se verificar através da Figura 7 que em certos pontos houve
algum acréscimo de AGV. Segundo Haandel & Lettinga (1994), isto seria um indicativo de que pelo
menos nesses momentos houve uma predominância da fase acidogênica sobre a metanogênica,
caracterizando-se o início do referido equilíbrio.
Dessa forma, caso as condições operacionais − principalmente no que concerne à qualidade do
substrato − fossem mantidas, haveria a expectativa de consumo mais acentuado de AGV, e
conseqüentemente a formação de biomassa com equilíbrio entre as populações acidogênicas e
metanogênicas.
De acordo com as afirmações de Noyola (1997), Uma relação de alcalinidade superior a 0,5 constitui
um indicativo de que o sistema é capaz de suportar um aumento de carga orgânica. Os dados obtidos
de relação de alcalinidade (Figura 8), com valor médio de 0,7, mostram que se houvesse biomassa
formada o reator suportaria cargas maiores.
RELAÇÃO DE ALCALINIDADE
0,90
0,80
0,70
REL. ALC.
0,60
0,50
0,40
0,30
ENTRADA
0,20
SAÍDA
0,10
09/Jan
05/Jan
12/Dez
05/Dez
01/Dez
26/Nov
17/Nov
12/Nov
07/Nov
03/Nov
29/Out
24/Out
20/Out
0,00
DATA
Figura 8: Variação da relação de alcalinidade no Afluente e no Efluente do BIOFIBER
ALCALINIDADE TOTAL
140
120
ALC. TOT. (mg/l)
100
80
60
40
ENTRADA
SAÍDA
09/Jan
05/Jan
12/Dez
05/Dez
DATA
01/Dez
26/Nov
17/Nov
12/Nov
07/Nov
03/Nov
29/Out
20/Out
0
24/Out
20
Figura 9: Variação da concentração de Alcalinidade Total no Afluente e no Efluente do BIOFIBER
ALCALINIDADE BICARBONATO
120
ALC. BIC. (mg/l)
100
80
60
40
ENTRADA
SAÍDA
20
09/Jan
05/Jan
12/Dez
05/Dez
DATA
01/Dez
26/Nov
17/Nov
12/Nov
07/Nov
03/Nov
29/Out
24/Out
20/Out
0
Figura 10: Variação da concentração de Alcalinidade Total no Afluente e no Efluente do BIOFIBER
Os valores de pH, no reator, mantiveram-se dentro da faixa ótima de crescimento das bactérias
produtoras de metano (Chernicharo,1997) e examinando-se a Figura 11 observa-se que não houve
nenhum choque deste parâmetro. Vale salientar que considerando também os dados de alcalinidade
(Figuras 8, 9 e 10) não ocorreu o fenômeno de azedamento no reator.
Tabela 3: Valores Médios de pH, AGV, Alcalinidade e Relação de Alcalinidade no BIOFOBER.
ENTRADA
SAÍDA
pH
7,2
7,1
Ácidos Voláteis (mg/l)
32
28
Alcalinidade Total (mg/l)
113
104
Alcalinidade de Bicarbonato (mg/l)
77
72
Relação de Alcalinidade
0,68
0,70
pH
7,6
7,4
pH
7,2
7
6,8
6,6
Entrada
SAÍDA
6,4
28/Jan
21/Jan
14/Jan
07/Jan
DATA
19/Dez
05/Dez
28/Nov
19/Nov
12/Nov
03/Nov
27/Out
20/Out
6,2
Figura11: Variação do pH no Afluente e no Efluente do BIOFIBER
Neste contexto, pretende-se contornar o problema realizando o que poderíamos denominar de uma
“Partida Induzida”, com o auxílio de um agente floculante, o Cloreto Férrico por exemplo, com o intuito
de aumentar a densidade do lodo e concentrá-lo na parte inferior do reator, entretanto, mantendo o
potencial de óxido-redução adequado para o crescimento das bactérias anaeróbias.
Esta premissa foi postulada com base nos resultados obtidos, onde se pode observar que houve
retenção de SST porém não na velocidade suficiente para a formação do leito a curto prazo. Vale
salientar que não se verificou risco de azedamento, a remoção de DQO total foi razoável, todavia a
parcela solúvel da DQO não foi significativamente removida. Isto nos leva a crer que o uso de um
floculante seria suficiente para a formação de um leito com maior densidade de lodo mais
rapidamente, evitando assim o uso de inóculo.
Uma vez introduzido o agente floculante para a partida induzida, imagina-se ser oportuno ajustar as
condições hidráulicas do reator, para o menor tempo de detenção possível, de tal forma que o
aumento da velocidade ascensional, provocado por sua vez pelo aumento da vazão, não acarrete
uma remoção da biomassa (lavagem do lodo). Dessa forma estaríamos nos aproximando da fase
exponencial de crescimento (fase log.), o que poderia acelerar a formação do leito de lodo.
Na verdade, sabe-se que na fase exponencial de crescimento, praticamente não ocorre remoção de
matéria orgânica devido ao baixo TDH, todavia, a permanência do reator durante um certo período
nesta fase, teria como compensação uma maior velocidade de crescimento bacteriano, e por
conseguinte, maior rapidez na formação do Leito de Lodo devido a uma alta concentração de
substrato em torno das células bacterianas.
As bactérias, por sua vez, constituem o grupo de microorganismos mais importante no processo de
tratamento biológico de esgotos, devido sua alta taxa de crescimento em relação a fungos,
protozoários e rotíferos, entre outros. Dentro desta premissa, considerando que as bactérias não
dispõe de mecanismo de mobilidade, é fundamental para seu crescimento que a concentração de
substrato não seja um fator limitante.
CONCLUSÕES
O reator deu início a partida, com retenção de sólidos e remoção de DQO total porém, o tempo de
funcionamento, associado à variação de cargas orgânica e hidráulica, não foi suficiente para
promover o crescimento da biomassa, com densidade de lodo bastante para a formação do leito.
O funcionamento do reator foi normal, não havendo choque de pH nem riscos de azedamento, como
indicam inclusive os resultados de alcalinidade e AGV
As condições operacionais concernentes a concentração de matéria orgânica expressa como DQO
no substrato, consistiu no fator preponderante para o não crescimento da biomassa.
A Influência da temperatura ambiente, próximo à faixa ótima da crescimento de bactérias anaeróbias,
não foi suficiente para compensar os baixos teores de matéria orgânica no substrato.
Constatou-se que há retenção de sólidos, que no entanto ocorre lentamente não propiciando um leito
filtrante a curto prazo, que a remoção da DQO, inclusive solúvel, embora modesta indica não haver
dificuldades biológicas devidas a qualidade do substrato, e que, mesmo com baixa alcalinidade, não
ocorreram choques de pH nem riscos de azedamento. Neste contexto, conclui-se que o uso de um
coagulante (Cloreto Férrico, por exemplo) seria suficiente para acelerar a formação de um leito de
lodo de maior densidade, a curto prazo, dispensando o uso de inóculo na partida de reatores
semelhantes, alimentados com esgotos essencialmente domésticos.
Esgotos domésticos não apresentam carência de população biológica diversificada nem, por sua
natureza, carência de oligoelementos e, em contrapartida dispõe de boa capacidade de
tamponamento. Dessa forma, dar partida no reator com inoculação teria como objetivo precípuo tão
somente dispor de um leito filtrante desde a partida. Espera-se conseguir efeito semelhante através
de um floculante, porém com menores custos e maior facilidade.
Integrantes da Equipe do PROSAB/UFRN
Professores: Henio Normando de Souza Melo (Coordenador); Cícero Onofre de Andrade Neto;
Manoel Lucas Filho; Dinarte Aeda da Silva; Josette Lourdes de Sousa Melo; Nadja Maria Nobre de
Farias; Luiz Pereira de Brito (Jan/98).
Bolsistas: (DCR): Maria Gorete Pereira, Patrícia Guimarães; (AT-NM): Ana Cristina da Costa
Januário, Wíldima Ferreira de Mendonça; (AT-NS): Emília Margareth de Melo Silva (Out/96-Dez/97);
(AP): Ana Cláudia Gondim Filgueira, Ana Lúcia Silva de Sousa Dantas, Sandra Cristina de Santana;
Helio Rodrigues dos Santos (Out/96- Fev/98); George Guilherme Santiago da Costa (Jan/98); (IC):
Diana Sampaio da Costa (Out/96-Dez/97); Kátia Bakker Batista (Out/96-Ago/97); Magna Angélica dos
Santos Bezerra (Set/97).
BIBLIOGRAFIA
Andrade Neto, C. O. de (1997). Sistemas Simples para Tratamento de Esgotos Sanitários experiência brasileira . ABES, Rio de Janeiro/RJ Brasil 301p.
Chernicharo, C. A. L. (1997). Reatores Anaeróbios. Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental - DESA/Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Belo Horizonte/MG-Brasil,
245p.
Haandel, A. C. van et all, (1993). Influência do tempo de Permanência Sobre o Desempenho de
o
Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente. Anais do 17 Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental, ABES Vol. 2 Tomo I Natal/RN Brasil.
Haandel, A. C. van, e Letinga, G. (1994). Tratamento Anaeróbio de Esgotos - um manual para
regiões de clima quente. Edição Independente, Campina Grande/PB Brasil, 240p.
Maragno, A. L. F. C. e Campos, J. R. (1991). Treatment of Wastewater with Low Concentration of
Organics Using Anaerobic Fluidized Bed Reactor. Sixty International Symposium on
Anaerobic Digestion. São Paulo/SP Brasil.
Noyola, A. R. (1997). Tratamento Anaeróbio de Águas Residuárias. Curso Internacional de
Extensão, UFRN Natal/RN Brasil, 131p.
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partida de um reator de manto de lodo em escala piloto