Evolução dos Celulares Este tutorial apresenta a evolução dos celulares em oito áreas básicas: dispositivo de entrada, interface aérea, memória, processador, fonte de energia, sistema operacional, display e interface de extensão. Desta forma, o leitor poderá identificar o caminho esperado pelos serviços móveis e como as operadoras poderão reter seus principais clientes nos próximos anos. Luciana Bianchini de Oliveira Analista de Marketing Sênior da Siemens para região Mercosul, desde 2003, trabalhando com Planejamento Estratégico e Inteligência Competitiva nos mercados de telefonia móvel. É economista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em Inteligência Competitiva pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing ) e Economia Aplicada a Administração de empresas e Finanças pela FGV EASP. Antes de trabalhar na Siemens foi responsável pelo desenvolvimento de ferramentas e práticas de monitoramento da concorrência no mercado de biotecnologia e químicos na Monsanto do Brasil. Marilson Duarte Soares Engenheiro de Telecomunicações com onze anos de experiência na área de rádio e sistemas móveis celulares. 1 Michelle Poliana Fernandes Coordenadora de Recursos e Informação para região Mercosul, desde 2003, tendo estagiado na Siemens na área de Estratégias Tecnológicas em 2002. Formada em Administração de Empresas com habilitação em Empreendedorismo e Negócios pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) em 2002. Categoria: Telefonia Celular Nível: Introdutório Enfoque: Técnico Duração: 20 minutos Publicado em: 08/03/2004 2 Terminais Celulares: Introdução Ao olharmos para nosso telefone celular, pensamos em modernidade ou em algo extremamente recente, mas a essência de tais aparelhinhos é oriunda de um passado bem antigo, com seus primeiros passos tecnológicos datados a mais de um século, sem falar na necessidade de comunicação que se confunde com o aparecimento do homem na terra. A primeira tentativa de comunicação com terminais sem fio foi em junho de 1880, quando Alexandre Grahan Bell conseguiu transmitir a voz utilizando-se da luz com um aparelho batizado de "photophone". Em linhas gerais, a voz projetava-se através de um tubo para um espelho fino que vibrava e agia como um transmissor, a luz era então direcionada para outro espelho que fazia o processo inverso atuando como receptor. Figura 1: "Photophone" de 1880. Embora não relacionado à telefonia móvel que conhecemos atualmente, a experiência de Grahan Bell pode ser considerada como a primeira tentativa de transmissão da voz sem fio. Diversos experimentos na área de microondas e rádio apareceram no início do século passado relacionados com os serviços militares, emergência e polícia. Todos abriram caminhos para os avanços nas comunicações móveis impulsionando a idéia de um terminal pequeno, seguro e confiável, criando a necessidade de desenvolvimento de pequenos aparelhos inteligentes e com tamanhos reduzidos. As oito áreas básicas de um celular O homem observou que deveria trabalhar com um terminal que pudesse evoluir com o tempo em diversas áreas, como apresentado na figura 2, para então poder não somente reduzir o tamanho e o peso dos aparelhos, mas também disponibilizar novos serviços que pudessem agregar valor, gerando um interesse em um público cada dia maior, objetivando aumentar a receita das operadoras e a escala de produção dos fabricantes. 3 Figura 2: As oito áreas de evolução dos terminais. Tecnologias com grandes escalas de produção possuem uma maior vantagem competitiva, pois podem manter um desenvolvimento constante em cada uma das áreas, ou seja, os fabricantes devem procurar garantir um padrão tecnológico para diluir custos de fabricação. Os serviços que vão trabalhar sobre esses terminais também devem seguir uma linha de padronização global, porém determinadas características das aplicações vão ser customizadas levando em consideração as culturas locais. Figura 3: Terminais agregando valores aos usuários. 4 Terminais Celulares: Avanços Tecnológicos A microeletrônica no mundo móvel Os avanços da microeletrônica, com a pastilha de silício possibilitaram a partir da década de 60 e começo da década de 70, uma redução nos aparelhos móveis com a introdução de diversas facilidades de sinalização e comutação que permitiram um imenso salto tecnológico, dando início aos verdadeiros sistemas móveis celulares e não mais sistemas de rádio bidirecionais de uma única célula. Inúmeros sistemas analógicos apareceram em todas as partes do globo, atingido o ponto máximo no final da década de 80, com os conhecidos AMPS, Aurora 400, TACS e NMT. Todos trabalhavam com modulação FM e operavam nas faixas de UHF (450MHz, 800MHz e 900MHz). Pode-se observar uma miniaturização dos aparelhos móveis, centrada nos avanços da microeletrônica com escalas de integração de milhões de componentes em uma simples pastilha de silício (ver figura 4), através dos processos VLSI "Very Large Scale Integration" e o ULSI "Ultra Large Scale Integration" possibilitando chips funcionando com 3 volts ou 1,8 volts e uma corrente várias vezes menor que a consumida nas décadas anteriores. Figura 4: A evolução dos terminais e redes móveis com base na integração do silício. Os terminais móveis precisam possuir cada vez mais inteligência, sendo um grande diferencial em relação aos terminais "burros" encontrados na rede fixa onde o trabalho pesado é realizado na central. O celular foi idealizado para ter uma boa capacidade de processamento e memória, impulsionado pela 5 própria característica de mobilidade. As fontes de energia dos celulares Os sistemas digitais, na década de 90, ampliaram ainda mais o conceito de inteligência no terminal móvel, criando um ambiente favorável para a ampliação dos serviços oferecidos para os clientes que passaram a contar com um dispositivo leve e robusto. Esse passo também foi alcançado com a evolução dos sistemas de energia que saltou de baterias com chumbo ácido das décadas de 40 até 80, para baterias mais avançadas, podendo citar entre elas: NiCd, NiMH e as atuais Li-Ion. Com as baterias de Li-Ion os aparelhos puderam alcançar tempo médio de conversação de 5 horas e 10 dias em "standby", os aparelhos aumentaram suas taxas de dados e inseriram dispositivos como câmeras fotográficas com "flash", interfaces como o "bluetooth" e IRDA. Todo esse avanço não vai parar e nos próximos anos estaremos usando aparelhos com células de combustível que garantirão maior tempo de operação e facilitarão o processo de recarga. 6 Terminais Celulares: Interfaces As interfaces aéreas A interface aérea está evoluindo gradualmente suas taxas de dados, possibilitando aos poucos a inserção de serviços mais avançados, visando não apenas criar sistemas tecnológicos que não se pagam por não termos uma massa crítica suficiente para absorver tais facilidades, afinal, em questões como essa não podemos pensar como engenheiros ou cientistas, pois a sociedade só paga quando a percepção de valor é nítida. O futuro será um terminal totalmente conectado ao mundo Internet e com acesso a inúmeras interfaces, sendo todos os serviços baseados em IP, onde o "IP Multmedia Service" -IMS facilitará toda essa integração. Figura 5: Interfaces aéreas e seus serviços. As interfaces de extensão A necessidade de conectar os terminais móveis com outros dispositivos passou a ser uma realidade, desta forma, essa área passou a ter uma grande importância no mundo móvel. Em algumas aplicações poderemos ver o uso do bluetooth disponibilizando um canal de voz entre o celular e um acessório liberando as mãos do usuário para outros fins, também podemos ver a transmissão de dados através da interface IRDA interligando um computador ao celular, etc.. O sistema operacional com ponto chave para os serviços Os sistemas operacionais dos terminais deverão seguir uma linha de padrão aberto, facilitando o desenvolvimento de novas aplicações e serviços, nessa área atualmente já podemos identificar o "Symbian 7 Operating System". Claro que outras empresas desenvolvedoras de software também não ficarão fora desse mercado, pois nos próximos 5 anos teremos mais de 1,6 bilhões de terminais móveis com acesso a softwares e Internet, onde boa parte serão pequenos computadores pessoais (PDA ou "Smartphone"), capazes de transmitir voz e dados, abrindo um universo de oportunidades para operadoras, fabricantes e integradores. Todos juntos passam a desenvolver um modelo de negócios que abrange o entretenimento através de jogos, músicas, "trailers" de filmes, "ringtones", serviços de segurança com transmissão de imagens e localização, comércio usando comunicação entre máquinas, propaganda com SMS ou MMS e TV digital. 8 Terminais Celulares: Displays O mundo dos displays Toda evolução nos serviços móveis foi possível com a introdução do LCD "Liquid Crystal Display" como padrão nos terminais, substituindo o terminal com LED que imperou nos sistemas analógicos até o início da década de 90. As questões técnicas básicas que influenciam a evolução do display estão relacionadas com o brilho, contraste, luminosidade, ângulo de visão, resolução, espaço, peso, robustez e especialmente com uma maior eficiência no consumo de energia, porém todas elas devem ser combinadas com questões econômicas e de produção. Apesar do avanço alcançado pelas tecnologias STN "Super Twisted nematic", TFD "Thin Film Diode"e TFT "Thin Film Transistor", o mundo do display precisa evoluir mais alguns passos, pois o consumo de energia ainda é muito grande e em alguns casos o brilho, a luminosidade e a robustez dos atuais dispositivos acabam dificultando a criação de novos "design" para o mercado. Desta forma, nos próximos anos até o final da década teremos uma nova onda de soluções técnicas que irão revolucionar os conceitos atuais, sendo algumas citadas abaixo: Display flexível e papel eletrônico = Este componente é composto por um filme fino de plástico que visa aumentar a portabilidade. Recentes protótipos deste tipo de LCD mostraram-se tão finos e leves que os usuários puderam enrolá-los como uma folha de papel para armazenagem ou transporte; Display OLEDs - "Organic Light-Emitting Diodes" = Esse componente possui uma camada de material orgânico emissor de luz (polímeros ou Light-Emitting Polymers) colocado entre um catodo e um anodo. Aplicando uma voltagem através do catodo e anodo causa o brilho do material orgânico. A composição química do polímero usada afeta a freqüência da luz emitida, determinando as cores emitidas. A quantidade de corrente aplicada determina o brilho do componente. O display com tecnologia OLED pode entregar imagens muito brilhantes eliminando a necessidade do "backlighting", criando dispositivos com menor consumo de energia, mais finos e com maior ângulo de visão que os atuais LCDs. Esses dispositivos prometem ocupar 40% do mercado mundial de displays para inúmeras aplicações do dia a dia das pessoas até 2010, mas até o momento apenas alguns modelos de rádios de carro e uma câmera digital com display colorido, lançada em março de 2003, apresentaram comercialmente esta tecnologia. Na realidade, alguns problemas devem ser solucionados, entre eles podemos citar: o tempo médio de vida dos dispositivos que gira em torno de 10.000 horas enquanto os LCDs atuais possuem um tempo de 20.000 horas. 9 Tabela 1: Estágios para evolução do display OLED. Propriedade Unidade Primeiro estágio Segundo estágio Terceiro estágio Data Ano 2004 2007 2010 Eficiência do sistema de energia % 1 2,5 5 Saturação do azul CIE (x+y) < 0,33 < 0,25 < 0,22 Saturação do verde CIE y > 0,6 > 0,7 > 0,75 Saturação do vermelho CIE x > 0,65 > 0,67 > 0,7 Tempo de vida Horas 10.000 20.000 40.000 1.000.000 5.000.000 10.000.000 Máximo número de "pixel" Densidade máxima de "pixel" Ppi 100 200 300 Contraste @500 lux VESA 2.0 50 100 100 Tamanho máximo da diagonal Cm 50 100 150 Espessura do painel Mm 2 1 0,5 Máxima voltagem V 8 5 3 Peso do painel gm/cm 2 0,5 0,25 0,1 Custo de produção U$/cm 2 0,8 0,2 0,08 Outros avanços ainda são esperados para o final dessa década, como displays formados a partir de projeções e a holografia, possibilitando que serviços como localização possam no futuro ser usado por um motorista dirigindo e ao mesmo tempo observando um mapa no pára-brisa. Os dispositivos de entrada Para os dispositivos de entrada, podemos dizer que diversas sofisticações ocorreram na mecânica dos teclados, mas este elemento ainda limita uma maior redução dos aparelhos móveis. Portanto, esperamos para os próximos anos um avanço em tecnologias para essa área, e quem sabe se no futuro não teremos evoluções no mapeamento cerebral que poderá criar terminais ativados com as ondas cerebrais do homem. Aparentemente o mundo também esta correndo para substituir o teclado com tecnologias de projeções, usando laser para projetar uma imagem completa de um teclado sobre uma superfície plana no qual o usuário pode digitar. 10 Figura 6: Teclado virtual (VKB Inc). 11 Terminais Celulares: Considerações Finais Este tutorial apresentou a evolução dos terminais móveis e algumas previsões de futuro que vão estar relacionadas com a capacidade de uma sociedade absorver o avanço tecnológico nos próximos anos. Não podemos esquecer que uma sociedade precisa evoluir digitalmente para não ficar de fora desse universo. Portanto, até o final dessa década veremos evoluções que reduzirão o tamanho do celular e criarão novos "designs" até então nunca imaginados. Todos impulsionados por avanços tecnológicos nas oito áreas citadas nesse trabalho. Estes novos terminais disponibilizarão maiores atrativos para criar o desejo de troca em uma sociedade com um grande grau de penetração de tais dispositivos, garantindo assim as vendas da indústria nas regiões com maior poder aquisitivo no primeiro momento. Os serviços e os terminais devem ser padronizados, pois os custos por traz dessa evolução são caros e somente tecnologias com imensas escalas de produção vão poder manter o usuário atualizado e as operadoras com um retorno de investimento assegurado. Não podemos deixar de esquecer que apesar da padronização dos serviços, será sempre necessária uma adaptação ou customização local para minimizar os efeitos de diferenças culturais. Referências 3GPP Responsável pela padronização da evolução do GSM para 3G. ETSI Desenvolveu as normas para o GSM. É possível fazer download gratuito das normas. GSM WORLD Site da associação GSM. GSA Site da Associação dos fabricantes mundiais de GSM - (Global Mobile Supplier Association). Siemens Um dos principais fabricantes de redes móveis e terminais no padrão GSM / GPRS / EDGE /UMTS. Wireless BR Seção com vários artigos sobre tecnologias móveis. 12 Terminais Celulares: Teste seu Entendimento 1. Quais as oito áreas básicas identificadas no tutorial para um celular? Antena, design, memória, processador, bateria, interface aérea, cores e sistema operacional. Memória, processador, energia, sistema operacional, display, interface de extensão, dispositivo de entrada e interface aérea. Memória, processador, energia, sistema operacional, antena, display, dispositivo de entrada e interface aérea. Acessórios, memória, processador, sistema operacional, display, antena, interface aérea e bateria. Interface aérea, energia, display, antena, design, acessórios, processador e memória. 2. Qual será a próxima tecnologia usada para armazenar energia nos celulares? Chumbo ácido Chumbo ácido com NiCd. NiMH com Li-Ion. Células de combustível. NiCd com NiMH. 3. Qual tecnologia deverá ocupar 40% do mercado de display em 2010? STN "Super Twisted Nematic". TFD "Thin Film Diode". TFT "Thin Film Transistor". Display flexível e papel eletrônico. Display OLEDs - "Organic Light-Emitting Diodes". 4. Como deverão ser os terminais e serviços do futuro? Os serviços e os terminais devem ser padronizados, com adaptações ou customizações locais para minimizar os efeitos de diferenças culturais. Os serviços e os terminais devem ser padronizados mundialmente, evitando custos locais. Os terminais devem ser globais e os serviços locais. Os terminais devem ser locais e os serviços globais. Nenhuma das anteriores. 13