Encher o tanque em municípios goianos se tornou mais econômico Um grupo de amigos de Taguatinga organiza boicote aos revendedores locais e promete intensificar a campanha com cartazes, folders e adesivos. Moradores do Distrito Federal decidiram se unir em favor de um combustível mais barato. Há menos de um mês, um grupo de amigos de Taguatinga deu início a uma campanha para mobilizar a população. Por iniciativa própria, cerca de 40 pessoas mandaram fazer adesivos, banners, camisetas e folders em tom de protesto aos preços cobrados nos postos do DF. Aos domingos, organizam carreatas até a divisa com Goiás, onde o litro do álcool e da gasolina custa, em média, R$ 0,40 e R$ 0,25 mais barato, respectivamente. As ações serão intensificadas nas próximas semanas. Sem apoio financeiro nem vínculos políticos, o grupo se reúne para definir estratégias de atuação. O site oficial que os organizadores batizaram de Movimento contra a Cartelização dos Combustíveis no DF será lançado em breve. Por enquanto, o convite para boicotar postos do DF(1) é espalhado por celular e pela internet. Cerca de 100 camisetas e mais de 2 mil adesivos de carro foram distribuídos em Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Águas Claras e Vicente Pires. Banners e folders devem ganhar as ruas ainda esta semana. Até aqui, o grupo gastou quase R$ 6 mil. Os amigos querem que o movimento seja capaz de baixar os preços no DF e prometem não descansar enquanto isso não ocorrer. Eles garantem que os donos de postos sabem que há muita “gordura” nos valores cobrados, apesar de a carga tributária em Brasília ser mais alta do que em Goiás. “Não somos contra o lucro, mas não aceitamos abuso. Nossa indignação se transformou em reação. Decidimos parar de murmurar e reagir”, comenta o porta-voz do grupo, Charles Guerreiro, 40 anos, que tenta marcar um debate público com a presença de empresários do setor. Tudo igual Em todo o DF, de Planaltina ao Gama, os preços são praticamente os mesmos: R$ 2,74 pelo litro da gasolina e R$ 1,99 pelo litro do álcool. No posto BR de Engenho das Lajes, em Goiás, a cerca de 38km da saída de Taguatinga, esses valores caem para R$ 2,49 e R$ 1,59. O gerente do estabelecimento confirma que o movimento aumentou no último mês e que 70% da clientela é formada por gente como o policial militar Luciano Ferreira, 31, que atravessa a divisa para economizar R$ 25. “Vale a pena pela economia, por menor que seja, mas, principalmente, pelo protesto”, diz. Um posto Shell, do lado do DF, resolveu praticar o mesmo preço do concorrente goiano nos fins de semana. O dono baixou o valor do litro da gasolina de R$ 2,64 para R$ 2,49. Os amigos do movimento em prol do combustível baixo acreditam que isso já é reflexo da mobilização. “Chegou a hora de a gente fazer alguma coisa. Eu vou distribuir adesivos para todo mundo”, compromete-se o estudante Diego de Almeida, 19, que aderiu ao movimento e todo domingo segue o comboio rumo à divisa. “Não dá para continuar pagando R$ 400, R$ 500 por mês com gasolina”, completa. Adesões Os preços semelhantes nos postos do DF revoltam a professora Ana Paula Gouveia, 35. Quando soube da campanha, não titubeou em fazer parte dela. “Eles querem enganar a quem com esse cartel? É absurdo não termos opção de preço. Eles cobram o que querem e a gente vai continuar pagando?”, provoca. No adesivo do movimento, aparece a imagem de um motorista com as mãos para cima, como se estivesse sendo assaltado pela bomba de combustível. “Vamos parar com essa conversa fiada de que todo mundo em Brasília pode pagar R$ 2,74 pelo litro da gasolina”, acrescenta o porta-voz do grupo. Sempre que passa pela BR-060 — rodovia que liga Brasília a Goiânia —, o caminhoneiro Wellington Marques, 27, não só completa o tanque como enche um galão de 30l, o que é proibido. “Sei que não posso, mas fazer o quê? Tenho consciência de que me arrisco, mas é brincadeira abastecer no DF”, diz. Na semana passada, o sindicato que representa o setor anunciou que as distribuidoras de combustíveis aumentaram o valor do litro do álcool e da gasolina. Em nota, deram a entender que o novo reajuste chegaria às bombas. Até ontem, porém, os preços para o consumidor não tinham sido alterados. A rede De acordo com informações do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Automotivos e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sinpetro-DF), há 308 postos no Distrito Federal. Desses 90, pertencem à Rede Gasol — quase um terço do total. Em relação às bandeiras, 154 são BR — exatamente a metade. Fonte: Correio Braziliense