Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 EFEITOS SEMÂNTICOS DA ADIÇÃO DE PARTÍCULAS ASPECTUAIS A VERBOS EM LÍNGUA INGLESA Lívia Bisch ENDRES1 RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar as consequências semânticas decorrentes da adição de uma partícula aspectual a um verbo na língua inglesa. Além da tradicional classificação de phrasal verbs como literais (sit down, stand up) ou idiomáticos (freak out, do away), podemos destacar a presença do uso de partículas como marcadores de aspecto e Aktionsart em exemplos como drink up, burn down e talk on. Jackendoff (2002) discute que a combinação entre verbos em seu uso comum e partículas aspectuais é produtiva em inglês, de acordo com o significado aspectual que cada uma delas pode adicionar ao sentido original do verbo. Neste trabalho, através da análise de exemplos, observaremos os significados aspectuais que podem ser denotados pelas partículas, além de outros efeitos semânticos que poderão ou não ocorrer como resultado da sua adição aos verbos. Como conclusões preliminares, podemos observar que as partículas aspectuais em língua inglesa se dividem, de maneira geral, em dois grupos: o das télicas, ou seja, que adicionam ao verbo um ponto final definido, e o daquelas que marcam aspecto continuativo, uma subdivisão de Brinton (2009) do aspecto imperfectivo. Ao primeiro grupo pertencem up, down, off, out, through, over, e, em alguns casos, away. Como pertencentes ao segundo grupo, temos on, along e away. PALAVRAS-CHAVE: Partículas aspectuais; Aspecto; Aktionsart. ABSTRACT: This paper aims to analyze the semantic consequences resulting from the addition of an aspectual particle to a verb in the English language. Besides the usual classification of phrasal verbs as literal (sit down, stand up) or idiomatic (freak out, do away), we can also notice the presence of a third use of post-verbal particles, namely, as markers of aspect and Aktionsart in examples such as drink up, burn down, and talk on. Jackendoff (2002) discusses that the combination of verbs with their usual meaning plus aspectual particles is productive in English, in accordance to the aspectual meaning each particle can add to the original sense of the verb. In this paper, by analyzing examples, we will be able to observe the aspectual meanings that can be denoted by particles, as well as other semantic effects that may or may not occur as a result of such a combination with verbs. As preliminary conclusions, we can point out that the aspectual particles can be generally divided into two groups: the one of telic particles, that is, the ones which add to the verb a meaning of defined endpoint, and the one with particles which are markers of continuative aspect, a subdivision of imperfective aspect that belongs to Brinton (2009). Belonging to the first group, we have up, down, off, out, through, over, and, in some cases, away. As for the second group, we can point out on, along and away as belonging to it. KEYWORDS: Post-verbal particles; Aspect; Aktionsart. 1 Mestranda em Teoria e Análise Linguística na PUCRS. [email protected] 1 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 1 Introdução Partículas pós-verbais são muito comuns na língua inglesa, e esta combinação de verbo e partícula é geralmente conhecida como phrasal verb; estes verbos são, em geral, classificados de acordo com seu significado como literais (aqueles em que o verbo mantém seu sentido original, bem como a partícula, que em geral adiciona um sentido direcional originalmente associado à preposição ou advérbio a que se assemelha) ou idiomáticos (as combinações em que os sentidos originais do verbo e da partícula não contribuem para sua interpretação, ou seja, temos um novo significado). Existe, porém, um terceiro tipo de phrasal verb: aquele em que a combinação da partícula com o verbo atribui a ele algum tipo de significado aspectual. O aspecto verbal pode ser dividido em gramatical (comumente chamado apenas de aspecto) e lexical (conhecido também como Aktionsart). O primeiro tipo é aquele que geralmente é compreendido através da flexão verbal, mas o valor aspectual também pode ser influenciado por outros verbos, funcionando como auxiliares aspectuais, ou por outros elementos dentro da sentença. O aspecto gramatical é como uma espécie ponto de vista temporal através do qual o falante descreve a situação sobre a qual fala, para que seu interlocutor receba informações tais como se a situação se completou ou foi interrompida. Quanto ao aspecto lexical, ou Aktionsart, trata-se do significado temporal inerente às situações que, portanto, não varia com diferentes flexões verbais, por exemplo. Este significado está presente no sentido lexical dos verbos e de outras palavras que se unem a eles para descrever as situações, e diz respeito a características intrínsecas destas, como, por exemplo, se é um estado ou evento, se perdura no tempo ou é pontual, se possui ou não um ponto final definido. Como dito, muitos elementos além dos verbos são relevantes para a interpretação do aspecto e do Aktionsart de uma situação, entre eles partículas pós-verbais aspectuais, quando presentes. Estas partículas constituem o objeto de estudo do presente trabalho, que tem por objetivo investigar os significados aspectuais que podem ser atribuídos aos verbos pelas partículas aspectuais, bem como outros significados que podem estar associados a elas, modificando de certa forma o resultado final da combinação. Seguindo a análise de Brinton (2009), podemos afirmar que são basicamente dois os tipos de significados aspectuais que podem ser atribuídos aos verbos pelas partículas: continuatividade e telicidade. As partículas que adicionam aos verbos o significado de continuatividade são on, along e away. Já aquelas que atribuem um significado de telicidade são up, down, off, out, through, over and away. Nas duas seções seguintes discutiremos, respectivamente, as partículas continuativas e as partículas télicas, analisando exemplos. 2 Partículas continuativas Perfectivo e imperfectivo são as duas categorias de aspecto gramatical que costumam estar unanimemente presentes nos estudos aspectuais, e são a base de classificação da maioria deles, inclusive em Comrie (1976), Dahl (1985), Smith (1997) e Brinton (2009). Em geral, o aspecto perfectivo aparece definido como aquele que mostra uma situação como inteira, completa, não necessariamente no sentido de concluída, mas no sentido de que não é dada ênfase a estágios internos, enquanto o imperfectivo seria o contrário disso, frequentemente mostrando algum estágio interno da situação, onde ela foi, por exemplo, interrompida por outra situação. Os autores costumam discordar, porém, a respeito de subcategorias dentro destas classes maiores. Brinton (2009) sugere que o aspecto imperfectivo poderia ser dividido em 2 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 duas categorias menores: progressivo, que também consta em outras análises, e continuativo, subcategoria sugerida pela autora. O aspecto continuativo seria aquele que mostra uma situação como continuando ao invés de terminar. Ou seja, uma situação sendo demonstrada a partir de um estágio interno, algum momento contido entre o início e o fim da situação, demonstrando que ela continuou. Em 1 temos alguns exemplos de aspecto continuativo: 1 a) John continuou dormindo. b) John continued sleeping. c) Mary went on sleeping. Como podemos observar nos exemplos, continuar, em português, poderia ser considerado como um auxiliar aspectual que atribui o aspecto continuativo à situação de dormir. O mesmo se aplica para os verbos continue e go on, na língua inglesa. Como dito na introdução do trabalho, partículas pós-verbais também podem ser marcadores deste tipo de aspecto. São elas on, away e along. Observando, além de go on, outro auxiliar aspectual muito comum em inglês, keep on, já podemos desconfiar que on seja a mais comum dentre as partículas continuativas. Além de ser a partícula pós-verbal nestes dois phrasal verbs que servem como auxiliares aspectuais, a partícula também pode ser associada a outros verbos, atribuindo o valor aspectual continuativo a eles, como podemos observar nos exemplos em 2: 2 a) b) c) d) Brandon talked on (and on) about what happened. Daniel lived on after his disease was cured. Mike fell, but he stood up again and walked on. Josh is working on on his paper which is due tomorrow. Em 2-a, podemos entender que Brandon continuou falando a respeito do que aconteceu; outra interpretação possível, especialmente se adicionamos and on, é que o tempo que ele levou falando a respeito do que aconteceu foi maior que o esperado. Quanto a 2-b, podemos interpretar que a doença foi uma interrupção na vida de Daniel, que continuou vivendo depois de curado, não apenas no sentido de não ter sucumbido à doença, mas também no sentido de retornar à vida normal depois de algo tão difícil. Se compararmos com uma versão desta sentença em que não há a presença da partícula, a interpretação seria que Daniel sobreviveu à doença. Em 2-c, a queda também é uma interrupção à ação de caminhar, porém, depois de levantar, Mike continuou caminhando. Por fim, em 2-d, há uma certa quebra em nossa expectativa, pois poderíamos esperar que os falantes evitassem a combinação de on como partícula continuativa em uma sentença em que estivesse presente uma preposição on. Esta preposição é muito comumente usada com work, para demonstrar no que alguém está trabalhando. Poderíamos esperar que os falantes evitassem o uso da partícula aspectual aqui, dando preferência a algum outro recurso, alguma outra maneira de demonstrar o significado continuativo, evitando assim que as duas palavras homófonas se seguissem. Porém, é uma combinação bastante comum, com a partícula não apenas demonstrando que Josh continuou trabalhando, provavelmente por um período de tempo prolongado, mas também que ele o fez sem muitas interrupções. Como afirmamos acima, on é a partícula continuativa mais comumente encontrada em combinação com verbos simples, em exemplos como os que acabamos de analisar. Porém, away também é bastante comum como partícula continuativa. Em 3 temos exemplos: 3 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 3 a) Lily dreams away about her trip. b) Anna is working away on that project. c) John and Mary just danced away. Nos três exemplos, temos a ideia de aspecto continuativo sendo adicionada pela partícula, e podemos interpretar que Lily continuou (por um tempo prolongado) sonhando com sua viagem, em 3-a, bem como que, em 3-b, Anna dedicou muito tempo ao seu trabalho no projeto, e que, em 3-c, John e Mary dançaram por muito tempo. Sem a partícula, não teríamos a ideia de período de tempo prolongado. No caso de 3-c, por exemplo, poderíamos entender que John e Mary dançaram apenas uma música, enquanto a partícula nos dá a ideia de que dançaram por muito tempo, possivelmente a festa inteira. O uso de away ainda parece conferir um sentido de perder a noção do tempo; em exemplos com esta partícula, temos a impressão de que o sujeito da sentença não percebeu a passagem de um grande período de tempo enquanto sua ação perdurava. Along parece ser a partícula continuativa menos comum na língua inglesa; seu significado não parece ser distinto, porém, ela parece restringir-se a exemplos contendo verbos de movimento, como os que aparecem em 4: 4 a) The sun went down as Ivy drove along. b) Mike rode his bike along, just enjoying his surroundings. Os dois exemplos dão a impressão de que não houve uma interrupção; apenas está sendo dito que as ações continuaram, que tiveram maior duração, talvez, que o esperado. Os dois exemplos poderiam conter on e away, que não parecem ter restrições deste tipo, embora a interpretação de away nestes exemplos pudesse ser confundida com a interpretação de seu sentido original, como, por exemplo, “dirigir para longe”, se tivermos drive away. Nesta seção, analisamos exemplos contendo as partículas continuativas, e concluímos que on e away são as partículas mais produtivas, ou seja, aquelas que aparecem em um maior número de combinações com verbos simples, atribuindo a eles o significado de aspecto continuativo. Também pudemos observar que along é uma partícula continuativa menos comum, tendo sua combinação mais restrita. Na próxima seção analisaremos exemplos de partículas télicas. 3 Partículas télicas Telicidade, termo que se origina de telos, em grego “fim” ou “meta”, “objetivo”, refere-se à propriedade intrínseca de uma situação de ter um ponto final definido, necessário. Sem que este ponto final seja alcançado, não é possível dizer que a ação foi concluída, diferentemente de uma situação atélica, que não possui um ponto final necessário, sendo que, se tal situação for interrompida, ainda terá ocorrido. Em 5 temos alguns exemplos de situações télicas: 5 a) Lily correu um quilômetro. b) Annie is drawing a circle. c) I’ve started reading this book. 4 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 Em 5-a, correr um quilômetro, ou qualquer distância definida, é diferente de simplesmente correr; só é possível dizer que alguém correu um quilômetro quando esta distância específica tiver sido percorrida; sendo assim, uma ação de correr um quilômetro, dividida em estágios, não possuiria estágios uniformes, em que cada um correspondesse a uma instanciação da ação de correr um quilômetro, instanciação que só ocorrerá no final da ação, diferentemente de uma ação de correr, que terá estágios uniformes, em que cada um corresponderá a uma instanciação da ação de correr, e, quando a ação parar, independente do tempo que terá passado e da distância percorrida, será possível dizer que alguém correu. Da mesma maneira, em 5-b, a ação de desenhar um círculo termina somente quando um círculo tiver sido desenhado, e, em 5-c, ler um livro é uma ação com ponto final definido também, pois ler um livro acarreta lê-lo todo, do início ao fim, e, portanto, só será possível dizer que um livro foi lido quando tiver sido lido por inteiro. Levando em consideração as categorias de Aktionsart de Vendler (1957), correr constituiria uma activity, ou seja, um evento atélico, enquanto correr um quilômetro seria classificado como um accomplishment, ou seja, um evento télico. Desenhar um círculo e ler um livro também são exemplos de accomplishments. Podemos dizer que as partículas pós-verbais que adicionam um significado télico aos verbos funcionam da seguinte maneira: uma partícula télica se associa a um verbo cujo significado original seria atélico, ou seja, constituiria, por exemplo, uma activity, adicionando a ela um ponto final definido. Esta combinação origina uma situação télica, ou seja, um accomplishment. Sendo assim, drink, que em geral designa uma ação atélica, quando acompanhado da partícula télica up ganha um ponto final definido, ou seja, não mais passa a representar a ação de beber, mas sim de beber todo o conteúdo (de um copo ou uma garrafa, por exemplo). Up é a partícula télica mais comum na língua inglesa, e podemos dizer que é aquela que tem o significado mais “puro” de telicidade, por assim dizer. Denison (1985) chama up de “completive up”, pois a adição da partícula resultaria em um significado semelhante à adição do AP completely. Em 6 temos alguns exemplos com up funcionando como partícula télica. 6 a) b) c) d) The store has closed up. We used up the paper. The clothes are outside drying up. It’s going to take a lot of water to fill up the tank. Em 6-a, o significado muda completamente quando temos a adição de up; sem a partícula, poderíamos compreender que a loja fechou, talvez porque o horário comercial já terminou, ou porque é feriado, mas entendemos que ela abrirá novamente no dia seguinte, ou na segunda-feira. Com a adição da partícula, interpretamos que a loja fechou e não abrirá suas portas novamente. Da mesma maneira, em 6-b, sem a partícula, poderíamos ou não entender que (todo) o papel acabou; ao dizer que usamos o papel, podemos nos referir simplesmente a uma certa quantidade de papel armazenada em algum lugar, porém, com a partícula, entendemos que todo o papel que havia foi utilizado. Já em 6-c, os significados do verbo com e sem a partícula ao seu lado não são tão diferentes; em ambos os casos, entendemos que as roupas estão penduradas lá fora com o objetivo de secarem. Ou seja, secar já poderia em si ser considerado um evento télico, porém, pragmaticamente, seu telos pode ser cancelado em alguns casos, enquanto a presença da 5 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 partícula enfatiza o telos. Podemos observar muitos exemplos na língua que contenham as partículas télicas, up especialmente, enfatizando um telos já existente. Em 6-d, fill não implica encher completamente um recipiente, a não ser que outros elementos especifiquem um telos, como uma partícula télica. Up então, ao se associar ao verbo, adiciona a ele um ponto final definido, e a única interpretação possível é a de que a ação de encher implica “encher completamente”. Up é a partícula télica mais produtiva; é a que aparece mais comumente em combinação com verbos simples para adicionar pontos finais necessários a eles, ou para enfatizar pontos finais que já existem. Porém, down, off e out também são bastante comuns. Diferentemente de up, porém, seu significado não corresponde apenas ao de um AP como completely, ou seja, não é um significado tão puramente télico como o de up. Down parece muito comum em combinação com verbos que descrevam destruição; seu significado direcional parece influir, dando um sentido, como Brinton (2009) salienta, de down to the ground, ou seja, não apenas algo foi destruído, mas foi ao chão. Podemos perceber a diferença se olharmos os exemplos em 7 e compararmos os efeitos da adição de up e down. 7 a) The house burned up. b) The house burned down. Em ambos os exemplos, compreendemos que a casa foi completamente destruída pelo fogo. Porém, diferentemente do exemplo com up, o exemplo com down parece enfatizar a destruição, dando a entender que não apenas a casa queimou e foi completamente destruída, mas também ela agora encontra-se no chão, sem nenhuma parede em pé, totalmente arrasada. Em 8 temos mais exemplos do uso de down como partícula télica. 8 a) b) c) d) e) The cops found that the door had been broken down by the thieves. The ecosystem is threatened with all forests being cut down like this. You have to cut down the sugar from your diet. Ted was knocked down by Barney. I feel really beat down after a semester of such hard work. Em 8-a, existe uma grande diferença entre dizer que uma porta foi broken ou broken down; no primeiro caso, o uso do verbo pode implicar apenas que a porta foi danificada e não funciona mais, enquanto, no segundo caso, entendemos que os ladrões derrubaram a porta, que agora está no chão, quebrada. De maneira semelhante, em 8-b cut down faz com que venha à mente a imagem de árvores cortadas, caídas no chão. O uso da partícula nos faz entender que as florestas referidas provavelmente já nem são mais florestas, devido ao dano causado. Em 8-c, temos a mesma combinação, porém com um significado de certa forma figurativo. Cut aqui pode ser compreendido como diminuir, e down adiciona o ponto final; com o significado de down to the ground, podemos compreender que, figurativamente, seria algo como diminuir a quantidade de açúcar “até o chão”, ou seja, até zero. Quanto a 8-d, não apenas Ted foi derrotado, mas também, depois de atingido, ficou no chão, incapaz de levantar novamente. No caso de 8-e, o significado é mais figurado; estar beat down seria estar derrotado, estar “no chão” de tão cansado após um semestre de muito trabalho. 6 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 Já o significado de off parece estar ligado a coisas que foram finished completely, ou completamente acabadas, e, portanto, parece ser mais comum em exemplos que implicam alguma coisa ou quantidade que terminou, como nos exemplos em 9: 9 a) b) c) d) The movie ended because they had killed off the characters. Have the survivors of that disaster in the 20’s died off yet? Alison is relieved because she has paid off her credit card bill. The party only ended when the beer was finished off. Em 9-a, entendemos que todos os personagens, ou pelo menos todos os principais, morreram. Sem a partícula, entenderíamos que alguns personagens haviam morrido, mas não todos, que é o que a partícula adiciona ao sentido do verbo. Da mesma forma, em 9-b a pergunta é se todos os sobreviventes já morreram; sem a partícula, seria possível fazer a mesma interpretação, já que compreendemos que o número de sobreviventes é limitado. Porém, o uso da partícula não deixa dúvidas, enfatizando o telos. Em 9-c, o uso da partícula dá a entender que todo o valor da conta do cartão de crédito foi pago; sem ela, poderíamos entender que um valor foi pago, mas não todo, mas off aqui demonstra que Alison não deve mais, que pagou tudo o que devia. Por fim, em 9-d, já que finish está associado ao significado de off enquanto partícula télica, é esperado ver o verbo e a partícula associados em alguns exemplos. Neste caso, poderíamos compreender que a ação tem um ponto final definido mesmo sem a partícula, porém, ela adiciona ênfase. Quanto a out, podemos encontrar esta partícula em alguns exemplos com um significado puramente télico, simplesmente adicionando um ponto final, como é o caso do exemplo em 10-a, ou com o sentido de “desaparecer completamente”, como temos nos exemplos 10-b e 10-c. Já o exemplo 10-d parece estar em algum lugar entre estes dois significados: 10 a) b) c) d) Please, I’m begging you to just hear me out. Is it true that panda bears are in danger of dying out? When Teresa got home, sunshine was already fading out. Unfortunately, I have to throw away my favorite jeans because it’s worn out. Em 10-a, o falante suplica ao interlocutor que deixe que ele fale tudo o que tem para dizer; pede a ele que o escute do início ao fim. Esta combinação é muito usada na língua, e é importante enfatizar que o verbo simples provavelmente não seria usado neste contexto, podendo muito provavelmente ser substituído por listen, que tem um sentido de “escutar prestando atenção”, enquanto hear geralmente está mais ligado à habilidade de escutar. Em 10-b, não temos apenas a adição do telos, no sentido de enfatizar a morte de todos os membros do grupo, neste caso, os ursos panda existentes no planeta, mas também há um sentido de que, uma vez que todos tenham morrido, a espécie terá desaparecido completamente. O sentido de “desaparecer completamente” também está presente em 10-c; fade out aparece muito comumente em exemplos relacionados com luzes desaparecendo. O uso do verbo simples aqui indicaria o desaparecimento da luz, neste caso luz do sol, mas não necessariamente seu desaparecimento por completo. Como sabemos que o sol se põe e, após algum tempo, sua luz não é mais visível, poderíamos interpretar um telos, porém, se nos referíssemos a outro tipo de luz, não obrigatoriamente fade nos indicaria que ficou completamente escuro após algum tempo, que é o que out faz ao se juntar ao verbo. 7 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 Quanto ao exemplo em 10-d, o significado de “desaparecer” está relacionado, pois, se pensamos em uma roupa muito usada, suas cores ou dizeres começam a desaparecer. Porém, não necessariamente interpretamos o telos como sendo o momento em que a cor da roupa, nesse caso uma calça jeans, desapareceu por completo; parece mais natural entender que o telos aqui é o momento em que a pessoa julga que a roupa está velha demais para continuar sendo usada. Up, down, off e out são as partículas télicas mais comuns. Temos ainda through, over e away, que também funcionam adicionando um telos ao verbo simples, mas que se combinam a um número muito menor de exemplos. Through, enquanto partícula télica, tem um significado de “do início ao fim”, incluindo um ponto final necessário e adicionando-o aos verbos a que se associa, como podemos ver nos exemplos em 11: 11 a) Sydney read through the long list, but didn’t find her name on it. b) The plan had really been thought through. c) We have to follow through the instructions, otherwise it won’t work. Em 11-a, portanto, entendemos que toda a lista foi lida, do início ao fim, sem deixar escapar um nome. O uso do verbo simples poderia incluir um telos neste caso, já que uma lista é algo que tem um final e, portanto, a ação de lê-la também tem um ponto final definido. Porém, o significado de “do início ao fim” não necessariamente estaria presente. Em 11-b, o significado de “do início ao fim” está no fato de todos os detalhes do plano terem sido considerados durante o planejamento. Em 11-c, a interpretação do verbo sem a partícula não seria tão diferente, porém, o telos poderia ou não ser compreendido. Ao utilizar a partícula, há uma ênfase em seguir todas as instruções, do início ao fim do processo. Over costuma apresentar um sentido de “analisar todos os detalhes ou possibilidades”, para, por exemplo, encontrar uma solução para um problema. Temos dois exemplos em 12: 12 a) Don’t leave, let’s talk this over. b) We’ve been over this more than once… not a detail was overlooked. Em 12-a, o falante pede ao interlocutor que não vá embora, para que eles possam resolver o problema (aquele que faria o interlocutor sair, provavelmente), através de uma conversa. Aqui a partícula adiciona à ação de conversar a ideia de conversar até que o problema esteja resolvido. Em 12-b, temos uma construção diferente das que temos discutido até aqui, no sentido de que be provavelmente não seria usado sem a partícula, formando com ela aqui um uso mais idiomático do que os outros exemplos discutidos. Porém, ainda podemos observar o comportamento télico da partícula, no sentido de analisar algo minuciosamente. Away é a única partícula que aparece em exemplos funcionando tanto como partícula continuativa quanto como partícula télica. Como télica, não se encontra entre as mais produtivas, e seu significado está geralmente ligado à ideia de “desaparecer”, que tem relação com seu significado literal. Em 13 temos exemplos: 13 a) When I looked again, those weird lights in the sky had faded away. b) The conversation slowly died away. 8 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 c) His ex-wife has spent his money away. Em 13-a, temos um exemplo parecido com aquele que discutimos em 10-c, que também continha o verbo fade, lá associado à partícula out, que também está ligada à ideia de “desaparecer”. Como naquele exemplo, aqui a partícula adiciona um telos, e compreendemos que as luzes estranhas haviam desaparecido completamente, o que não estaria necessariamente presente em uma sentença sem a partícula. Já em 13-b, temos die em um sentido não muito literal e, acompanhado de away, entendemos que a conversa aos poucos parou, até dar lugar ao silêncio total, telos adicionado pela partícula. Em 13-c, o verbo simples não implicaria que todo o dinheiro foi gasto, mas o uso da partícula o faz, e entendemos que todo o dinheiro “desapareceu”. Além de constar em exemplos como estes, away também faz parte de uma construção télica bastante produtiva na língua, à qual Jackendoff (1997) dá o nome de time-away construction. Esta combinação consiste de uma “expressão de tempo livre”, como, por exemplo, o NP the afternoon, e da partícula away, como nos exemplos reproduzidos em 14. 14 a) Bill slept the afternoon away. b) We’re twistin’ the night away. (JACKENDOFF, 1997, p. 534) Nestas construções, o NP de tempo ocupa a posição de argumento do verbo, mesmo que seja um verbo originalmente intransitivo. Para verbos transitivos, outros tipos de complemento são bloqueados, como por exemplo *drink beer the night away. Além disso, o sujeito precisa ser agentivo, e o verbo não pode se referir a um estado, precisa se referir a um evento, que seja durativo e não possua um telos, que será adicionado pelo NP. Embora away não seja o elemento principal ou responsável pelo telos na time-away construction, ele é necessário para que ela se constitua, já que não encontramos exemplos tais quais *Peter drank the night. Na verdade, poderíamos até discutir que o uso de away, aqui, se assemelha mais a seu uso continuativo, ligado à perda de noção do tempo, do que a seu uso télico, embora o resultado final seja um evento télico. Discutimos, nesta seção, as partículas télicas, sendo que up é a mais comum entre elas, que possuem ainda um segundo grupo, formado por partículas comuns, mas não tanto quanto up, que são down, off e out, e um terceiro grupo, formado por partículas bem menos comuns que as anteriormente citadas, sendo estas through, over e away, sendo que esta última ainda participa de uma construção télica interessante, apontada por Jackendoff (1997), a time-away construction. 4 Considerações finais Além das conclusões a que chegamos ao longo deste trabalho, podemos ainda citar algumas questões interessantes que poderiam ser levantadas a respeito das partículas pósverbais aspectuais. Primeiramente, percebemos um número bem maior de partículas télicas do que de partículas continuativas. Além disso, outra questão interessante é o fato de que o significado aspectual de algumas partículas parece estar, de certa forma, ligado ao seu sentido original, como é o caso de down, com seu sentido de “down to the ground”, e também de away, com um significado ligado a “desaparecer”. Isto poderia ser uma explicação para o fato de mais partículas terem se desenvolvido como marcadores de telicidade do que de continuatividade, ou seja, poderíamos formar uma hipótese de que os sentidos originais das 9 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 partículas já estavam mais conectados a idéias télicas do que continuativas. Porém, nem todos os significados parecem ter relação com o significado da partícula enquanto não marcadora de aspecto ou Aktionsart, o que não contribui para uma hipótese como esta. Outra questão importante a respeito das partículas pós-verbais, tanto aspectuais quanto aquelas que participam em combinações literais e idiomáticas, e que Jackendoff (2002) busca responder, diz respeito à produtividade. Ao longo deste trabalho, este termo foi citado algumas vezes, concordando com afirmações que Jackendoff (2002) faz a este respeito. Primeiramente, o autor discute que, de maneira geral, phrasal verbs literais são combinações produtivas, enquanto os idiomáticos não o são e, consequentemente, precisam estar listados no léxico. A questão, portanto, seria onde as partículas aspectuais se encaixam. As afirmações de Jackendoff (2002) a este respeito estão de acordo com conclusões que poderíamos alcançar intuitivamente ao analisar os exemplos citados ao longo deste artigo: para o autor, up parece ser a partícula aspectual mais produtiva de todas, e por isso pode aparecer listada como um item lexical independente (JACKENDOFF, 2002, p. 76). Porém, up não se diferencia muito das outras partículas em termos sintáticos. On e away também parecem ser bastante produtivas, porém, apresentam propriedades sintáticas distintas, como o fato de impedir o verbo de licenciar um objeto direto (p. 77). Mesmo assim, o autor sugere que estas três partículas poderiam ser consideradas como itens lexicais independentes, sem que suas combinações aos verbos simples precisem estar listadas no léxico, enquanto as outras partículas analisadas por ele parecem ser mais limitadas quanto à sua capacidade de se combinarem livremente, constituindo, portanto, combinações semiprodutivas. A conclusão a que o autor chega é que as partículas aspectuais formam uma “mistura complexa” de combinações produtivas e semi-produtivas (JACKENDOFF, 2002, p. 80). Jackendoff (2002), porém, não discute todas as partículas presentes neste artigo. Poderíamos questionar, portanto, se down, off e out fariam parte do grupo de partículas produtivas ou semi-produtivas, pergunta que poderá vir a ser respondida com uma análise ainda mais minuciosa de exemplos como os que apresentamos aqui. Não tentaremos, neste momento, responder a esta questão, já que ela envolve muitos outros critérios que não foram discutidos aqui. São, portanto, muitas as questões que ainda precisam ser respondidas a respeito das partículas aspectuais. O objetivo deste artigo foi discutir seus significados, não apenas especificamente aspectuais, mas também outros significados associados a elas e que podem surgir em nossa interpretação de exemplos como os que foram aqui discutidos. Quanto ao fato de que as combinações entre verbos e partículas pós-verbais aspectuais são cada vez mais comuns, portanto, não há dúvida. Podemos, assim, afirmar que as partículas aspectuais fazem parte, e como itens cada vez mais importantes, do inventário de marcadores aspectuais da língua inglesa. Referências BRINTON, Laurel J. The development of English aspectual systems: aspectualizers and postverbal particles. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. COMRIE, Bernard. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems. (Cambridge Textbooks in Linguistics, 2.) Cambridge: Cambridge University Press, 1976. DAHL, Östen. Tense and aspect systems. Oxford: Blackwell, 1985. DENISON, David. The Origins of Completive ‘up’ in English. Neurophilologische Mitteilungen, [S.l.], n. 86, 37-61, 1985. 10 Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751 JACKENDOFF, R. Twistin’ the night away. Language, [S.l.], n. 73, 543-559, 1997. JACKENDOFF, R. 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