Anais do X Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
COMPREENDENDO IDENTIDADE NACIONAL E IDENTIDADE CULTURAL
ATRAVÉS DE MACUNAÍMA E IRACEMA
Caroline Soares Nogueira
Daiane Machado
Daniela de Campos Reis
Franciele Vilela Souza
(G-CLCA-UENP/CJ)
Adenize Aparecida Franco
(Orientadora-CLCA-UENP/CJ)
Introdução
Após estudos realizados durante o início do ano de 2013, decidiu-se
elaborar um relato de experiência para expor alguns fatores com relação à identidade nacional
e cultural no Brasil, demonstrando como se deu de maneira interessante e misturada a
formação de nossa cultura e nosso povo.
Existem algumas definições do que vem a ser Identidade, uma delas pode
ser definida como sendo a qualidade de idêntico, ou seja, o reconhecimento de que o
indivíduo é próprio com um conjunto de caracteres particulares que identificam uma pessoa.
Outra forma para conceituá-la consiste na soma de um aglomerado de referências e
influências que definem o entendimento relacional de determinada entidade, percebida por
contraste, isto é, pela diferença ante as outras, por si ou por outrem. Portanto, ela está sempre
relacionada à idéia de alteridade tendo a necessidade de existir o outro e suas características
para definir por comparação e conseqüentemente as diferenças pelos quais algo ou alguém se
identifique.
A partir desses conceitos e estudos a respeito da formação das Identidades
Nacional e Cultural do povo brasileiro, temos como objetivos primordiais analisar os
personagens de Iracema de José de Alencar e Macunaíma de Mário de Andrade, como
também apresentar a experiência que se adquiriu por meio de um relato para indicar os
resultados obtidos.
Iracema, de José de Alencar
O romance Iracema, publicado em 1865,pelo escritor cearense José de
Alencar foi escrito em prosa poética, misturando aspectos mitológicos da cultura indígena
com a colonização do Brasil. A personagem-título desta obra é uma heroína idealizada, que
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representa a natureza e a perfeição. Ela descrita como a virgem dos lábios de mel que traz
consigo o segredo da Jurema e de acordo com sua religião não deveria pertencer a nenhum
homem. Dessa maneira a mulher por ser uma índia e virgem representa os primeiros
habitantes do Brasil, um povo indígena que tinha as suas tradições.
Após a chegada de Martim, o europeu, a virgem se encanta, ele se apaixona
por ela e ela o corresponde, se entregando mesmo sabendo que sofreria as consequências.
Essa parte da obra se torna uma grande crítica social a respeito do abuso e a exploração que os
índios sofreram por parte dos europeus que queriam seu bem mais precioso: o ouro.
Com o ato consumado, o europeu começa a perder o encantamento por
aquela jovem e a abandona até que, de tanto desgosto por ter sido deixada Iracema vem a
falecer. O filho, que é fruto dessa relação, dá origem a uma nova raça: a brasileira, ou seja, é a
formação da identidade nacional.
Após a morte da saudosa Iracema, temos um exemplo da implantação da
cultura europeia no Brasil, quando Martim retorna para este trazendo sua religião, a cristã:
“Muitos guerreiros de sua raça acompanharam o chefe branco, para fundar com ele a mairi
dos cristãos. Veio também um sacerdote de sua religião, de negras vestes, para plantar a cruz
na terra selvagem.” (ALENCAR, 2002. p.121)
Macunaíma, de Mário de Andrade
Macunaíma, de Mario de Andrade, foi considerado um dos grandes
romances modernistas do Brasil publicado em 1928, em uma época na qual os escritores
tentavam descobrir a Identidade Nacional do povo brasileiro e do nosso país, sendo, portanto,
uma tentativa de construção da Identidade do povo brasileiro por sua relação com o nosso
folclore, linguagens, crenças e mitos. Composta completamente de folclore e crenças
indígenas, pode-se citar como exemplo, o fato de que quando alguém desejava morrer, era
somente necessário dar um jeito de subir ao céu e se tornar uma estrela ou algo semelhante. A
obra demonstra também alguns traços da cultura africana que veio para o Brasil por meio de
navios, juntamente com os escravos no episódio em que Macunaíma tenta se vingar de
Vesceslau fazendo uma “macumba” para ele. O livro Macunaíma traz como personagem
principal um representante de nossa nação, personagem esse capaz de se metamorfosear em
determinadas circunstâncias, sendo no inicio do enredo, uma criança feia que se transformava
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em príncipe para brincar na floresta com sua cunhada, passando ao meio da história a ser um
jovem branco após encontrar uma poça embranquecedora, lembrando ainda sua passagem
como mulher, quando tenta enganar Veceslau Pietro Pietra, que era um grande colecionador
de pedras preciosas e possuidor atual do tesouro de Macunaíma o Muiraquitã, pedra cujo
havia ganhado de seu único amor, e perdera no decorrer da história. Macunaíma era ainda
extremamente apaixonado pelas invenções que encontrara na cidade as máquinas.
Macunaíma é, assim, um retrato do homem brasileiro, o qual possui uma
linguagem utilizada pela personagem que faz imitar o português falado no Brasil, como por
exemplo, as substituições da partícula “se” por “si”, de “cuspe” por “guspe” entre outras
palavras. Macunaíma intitulado como herói sem nenhum caráter, pelos fatores acima citados,
podemos fazer uma ligação e entender que foi assim tachado por representar um povo
desprovido de cultura, caráter social, histórico e ético definidos, suas metamorfoses
representam ainda a miscigenação das raças do povo brasileiro, cujo ocorreu devido aos
primeiros contatos com europeus, com a chegada da mão de obra africana, com a imigração
de japoneses, italianos, alemães, espanhóis, etc.
A identidade nacional e cultural brasileira e o relato de experiência
Identidade Nacional é um conceito que surge na Europa a partir do século
XVIII, mas adquire maior força no século XIX, que mais tarde apresenta-se com uma vertente
chamada Nacionalismo, define-se por um sentimento de pertencimento a um país, partilhado
por um grupo de pessoas. Ela se constitui através de alguns pontos simbólicos fundamentais e
para ser construída é necessário que a nação possua um estado, uma língua e uma cultura.
“A construção de uma identidade nacional passa, assim, por uma série de mediações
que permitem a invenção do que é comumente chamado de “alma nacional”, ou seja,
parâmetros simbólicos que funcionam como “provas” da existência desse Estado, e
que determinam sua originalidade: uma língua comum, uma história cujas raízes
sejam as mais longínquas possíveis, um panteão de heróis que encarnem as virtudes
nacionais, um folclore, uma natureza particular, uma bandeira e outros símbolos
oficiais ou populares. Os integrantes de cada comunidade são convidados a neles se
reconhecer e a eles aderir. (FIGUEIREDO, Eurídice & NORONHA, Jovita M. G.,
2005, p. 192)”
A identidade nacional está assim, vinculada à idéia de reconhecimento de
um conjunto de características de uma nação, que é uma forma de interagir com a cultura de
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vários membros da sociedade. Através das tradições, da cultura, da religião, da música, da
culinária, do modo de vestir, de falar, entre outros, que representam os hábitos de uma nação.
Tudo o que se vê hoje culturalmente nas regiões brasileiras é resultado da
união de povos que, direta ou indiretamente, transmitiram suas características culturais e
formaram o que hoje é o Brasil: uma miscigenaçãode povos, culturas, crenças. Atualmente o
Brasil constitui uma nação de traços singulares, que formam uma identidade nacional marcada
por uma autodescrição da cultura brasileira.
No livro Macunaíma, a identidade nacional é espelhada na luta entre
colonizador e o colonizado, em que o índio é o colonizado e o colonizador é o antagonista.
Remetendo dessa forma a nossa cultura, que se afastou da sua origem, e com isso, o
modernista aparece para tentar conscientizar as pessoas para voltar às origens e o amor a terra,
já no livro Iracema, as origens indígenas do Brasil são mostradas através de aspectos culturais
e nacionais, visando uma realidade nunca vista por europeus. No romance,o amor de uma
jovem índia com Martim, gera um fruto, que dá origem então a identidade nacional brasileira.
Embora, o autor coloque o colonizador “Martim” como responsável pela desconstrução de
uma nação de povos, com a morte de “Iracema” e seguido dos demais índios destruídos
através dos combates entre as tribos Tabajaras e Pitaguaras.
O livro também expõe um sentimento íntimo pela nacionalidade, como
reflexo da sensibilidade e do caráter de ser brasileiro, o que valoriza a nacionalidade de um
povo, usando a personagem Iracema como heroína da natureza define assim a identidade
cultural do Brasil.
Com base no estudo dos livros citados anteriormente e nas reflexões sobre
identidade nacional e cultural brasileira, decidimos relatar um trabalho realizado em sala de
aula na disciplina de Literatura Brasileira que visava apresentar um projeto de aula expositiva
para possibilitar que os alunos compreendessem como deu-se a formação de nossa cultura e
identidade.
Nosso planejamento se deu por meio de uma apresentação sobre o tema,
uma justificativa, um pressuposto teórico e a metodologia e os procedimentos.Vejamos
abaixo para facilitar a compreensão:
-Apresentação- Justificativa- Pressuposto Teórico- MetodologiaProcedimentos.
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Os procedimentos, ou seja, as aulas foramdivididas da seguinte maneira:
Aula 1:
- O professor deverá entregar um texto com a bibliografia do autor José
de Alencar;
- A leitura será feita em grupo, e cada aluno lerá uma frase da
bibliografia.
Aula 2:
- Os alunos deverão, a pedido do professor, se dispor em círculo;
- Cada aluno deverá contar uma parte do livro Iracema, até chegarmos ao
fim;
- Individualmente cada um deverá dizer o que mais gostou na história.
Aula 3:
- Será entregue uma folha com questões de vestibular para que os alunos
respondam em sala de aula questões sobre Iracema, valendo nota.
Aula 4:
-Serão apresentados dois vídeos sobre a bibliografia de Mario de Andrade,
e entregue um texto com sua bibliografia para leitura em casa.
http://www.youtube.com/watch?v=2sBwKqY5cIE
http://www.youtube.com/watch?v=eNgy77bDi94
Aula 5:
-Comparação entre os personagens das obras de José de Alencar e Mario
de Andrade.
Aula 6:
-A professora deverá distribuir e ler o texto: 15 cenas do descobrimento do
Brasil.
Aula 7:
- Os alunos deverão dispor-se em circulo;
- Será feito uma discussão embasada nos dois livros e no texto aplicado na
aula anterior com o tema: Com quantos índios (ou não) se faz um Brasil.
Aula 8:
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- Os alunos deverão produzir um texto crítico em sala de aula com o tema
da aula passada, expressando sua percepção de como se deu a construção da identidade
nacional brasileira a partir de textos literários.
Os resultados foram melhores do que esperávamos. A questão da
identidade nacional e cultural de nosso país ainda é vista de maneira complexa pela maioria
das pessoas, alguns alunos nem haviam pensado a respeito do tema da aula e com o texto
crítico de apoio do autor Fernando Bonassi “15 cenas do descobrimento do Brasil” foi
possível traçar uma marca entre o surgimento da nação brasileira até os dias atuais,
mostrando a eles como deu se a luta pela sobrevivência enfrentada pelos índios, como a
cultura dos nativos foi modificada com a chegada dos missionários, que influenciaram até
mesmo nas suas vestimentas.
Notamos, também, na segunda cena, que as índias entregavam-se aos
colonizadores facilmente, causando assim um confronto entre romantismo de Alencar e
modernismo de Bonassi, pois em Iracema a índia era caracterizada como singela, pura e
heroína de sua tribo. Em comparação podemos dizer que as índias retratadas por Bonassi
eram oposto de Iracema. Vemos ainda que as mesmas eram aliciadas por suas próprias
famílias, em uma percepção realista, vemos as índias tratadas como pragas, vendidas como
mercadorias e máquina de fazer dinheiro para sustentar vícios de seus próximos.
É possível ainda traçar um paralelo entre Macunaíma e uma das cenas por
Bonassi citadas, em que o índio é visto como ingênuo, mas aproveitador, sem caráter e
desorganizado culturalmente, devido suas várias metamorfoseações. Por fim, as últimas
cenas mostram a influência recebida pelas culturas que participaram também da colonização
de nosso país e contribuíram assim para formação da cultura e identidade brasileira.
Com essas aulas, observamos que os alunos tiveram uma amplificação de
seu conhecimento sobre a identidade cultural de seu próprio país. Com base nos livros
expostos os alunos tiveram um interesse maior sobre a história indígena e todas as
civilizações que ajudaram a formar a cultura brasileira, a leitura dos livros nos remete ao
Brasil colonial, mostrando seus vários conflitos e crenças da época.Sendo assim, pode-se
concluir que o conhecimento adquirido no decorrer das aulas é de total importância para a
formação de cidadãos capazes de contribuir para que essa cultura seja cada vez mais
diversificada e rica no país. As aulas permitiram ainda que os alunos saibam suas origens e
entendam como ela se deu, munindo os de conhecimento a respeito do tema para que sempre
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possam debater e provar concretamente que o Brasil possui sim cultura e identidade
diferentemente do que muitos afirmam.
Considerações Finais
Percebeu-se no decorrer do artigo que a nossa cultura não é fruto
exclusivo de nosso país, existe conforme afirma Machado de Assis todo um intercâmbio de
identidades para se formar uma nova.
A identidade nacional brasileira é composta não só por uma cultura, mas
por várias, o povo brasileiro é uma mistura de crenças, conflitos, etnias, sendo assim cada
um tem a sua própria identidade e capacidade de contribuir para diversidade cultural
brasileira.
Com isso, conclui-se com os estudos realizados e o trabalho executado
que o Brasil, como qualquer outro país não é feito por si só, mas sim por outras
colonizações, habitações, enfim, por intervenções externas.
Referências
ALENCAR, José Martiniano de. Iracema. Porto Alegre: L&PM, 2002.
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Editoras Reunidas Limitada, 1993.
ASSIS, Machado de. Crítica Literária: Instinto de Nacionalidade. São Paulo: M.M. Jackson,
1970.
ASSIS, Machado de.Crítica, notícia da atual literatura brasileira. Instinto de nacionalidade.
São Paulo: Agir, 1959 (1ª ed. 1873).
FIGUEIREDO, Eurídice & NORONHA, Jovitã M. C. Conceitos de Literatura e Cultura. Juiz
de Fora: UFJF/ EdUFF, 2005
FIORIN, José Luiz. A construção da identidade nacional brasileira.
<http://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3002>. Acesso em: 27 ago.
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ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso Fundador: a formação do país e a construção da
identidade nacional. 3ª edição – Campinas, São Paulo: Pontes, 2003.
SANTOS, Hosana; NUNES, Joseane; SOUZA, Rubenalva. Os silenciamentos em 15 cenas do
descobrimento do Brasil. Disponível em:
<http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2436106>. Acesso em: 22 set. 2013.
SOUSA, Carlos Eduardo de; BEZERRA, Daniella de Souza. MACUNAÍMA: A
CONFIGURAÇÃO E A REPRESENTAÇÃO DIALÉTICA DO MITO
BRASILEIRO. Disponível em:
<http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao05/ensaio_ed05_sousace_bezerrads.php>.
Acesso em: 22 set. 2013.
TAYLOR, Charles. Multiculturalisme. Différenceetdémocratie. Paris: Flammarion, 1994.
Para citar este artigo:
NOGUEIRA, Caroline Soares et al. Compreendendo identidade nacional e identidade
cultural através de Macunaíma e Iracema. In: X SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2013. Anais... UENP –
Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes.
Jacarezinho, 2013. ISSN – 18089216. p. 154 – 161.
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Caroline Soares Nogueira