Envelhecimento da população brasileira e a crise do cuidado ! Autor: Maria Teresa Costa Paiva ! Objetivo: O principal objetivo é provocar a reflexão sobre o envelhecimento da população brasileira e possibilitar a conscientização dos aspectos sombrios envolvidos no processo de envelhecer e amadurecer.Chamar a atenção para os desafios do cuidado e sustento do idoso brasileiro. ! Justificativa: O rápido envelhecimento da população brasileira está sendo considerado uma revolução da longevidade, com repercussões em toda a sociedade, carecendo de urgente estudo sobre as mudanças necessárias a serem tomadas em nosso país. ! Resumo: O rápido envelhecimento do povo brasileiro e suas conseqüências em vários níveis da sociedade nos instiga a questionar sobre a sustentabilidade desta população num futuro próximo,principalmente quando identificamos aspectos negativos do arquétipo puer em nossa sombra como uma ameaça a nossa própria sobrevivência.Analisando este processo chegamos ao complexo afetivo da nossa história de escravidão e nossa dificuldade de ativação do herói , encontrando como possibilidade de saída a elaboração deste trauma e a integração de aspectos dissociados da psique coletiva. ! ! No cotidiano do atendimento de um plano de saúde do RJ, que trabalha com a lógica da Atenção Primária a Saúde e tem metade de sua população cadastrada composta por idosos, comecei a me deparar com as dificuldades que as famílias encontram para cuidar de seu idoso. Seguindo o conceito do cuidado integral a saúde e do acompanhamento longitudinal tive a oportunidade de acompanhar famílias ao longo deste tempo e uma característica que sempre chamou nossa atenção era a imaturidade dos filhos e a dificuldade dos pais em emancipá-los, sendo estas as famílias mais adoecidas, que mais demandavam cuidados.A geração que já deveria estar desempenhando papel de cuidar ainda ocupava o lugar de ser cuidado e sustentado.Um forte aspecto puer e devorador na sombra destas famílias. As famílias bem sucedidas nesta função de educar tinham filhos bem sucedidos que nem chegávamos a conhecer. !1 A outra ponta na qual havia necessidade constante de investimento no cuidado de forma ampla eram os idosos , em especial o idoso dependente, por necessitar de mais cuidados e recursos. Apesar de se tratar de um plano de saúde de auto-gestão que cria políticas internas de promoção e prevenção a saúde,as dificuldades ainda são preponderantes, pois os desafios são da ordem do coletivo.Lidamos com uma amostragem da população que apresenta um perfil econômico mais elevado que a população mais pobre, mas os problemas são semelhantes, e esbarramos no mesmo ponto: a necessidade urgente de mudanças sociais, econômicas, de investimento na criação de políticas públicas para o idoso. As recentes pesquisas mostram que baixamos nossa taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição e aceleramos o envelhecimento da população A princípio os dados são alarmantes, pois a questão que primeiro nos ocorre é quem vai sustentar tantos idosos dependentes. Diante deste cenário fica claro que quem vai cuidar e sustentar os idosos deste futuro próximo são os jovens de hoje. Proponho então a reflexão: Estamos preparando bem nossos jovens para o enfrentamento desta tarefa : prover e cuidar? Estamos preparados para nosso envelhecimento? .O tema emerge da sombra e nos pressiona ao debate, ao confronto , buscando tomada de consciência e integração da realidade do nosso envelhecimento. Conquistamos a longevidade pelos avanços do nosso desenvolvimento e vivemos a contradição de buscar meios de prolongar a vida, sem aceitar o envelhecer.Se ficarmos agarrados ao culto da juventude apenas, negando o envelhecimento, caímos na polaridade do puer em contraponto ao senix e não possibilitamos que a ativação deste eixo crie nossas próprias saídas. “E levados pela sensação de juventude conservada …por longo, longo tempo, no estado sonhador das recordações…se esquecermos que a roda gira, então os cabelos grisalhos, o enrugamento da pele e do rosto anunciam impiedosamente que, mesmo protegendo o corpo ao máximo contra as forças destruidoras da vida, o veneno da serpente do tempo se insinua e age secretamente em nosso corpo.A fuga da vida não nos liberta da lei do envelhecimento e da morte…..Se negarmos à libido uma vida que avança num fluxo constante,…então ela tomará outro rumo e descerá para as próprias profundezas…” (Jung.Símbolos da Transformação,art.617). Pesquisando sobre o tema encontrei uma análise sobre as questões do Brasil no que diz respeito aos desafios e necessidades de mudança em relação ao novo cenário demográfico, que mais parece um chamado: “…isto representa uma enorme oportunidade para impulsionar o crescimento e o desenvolvimento social e econômico do país.O Brasil passa por um curto período, o chamado “bônus demográfico”, único na historia de cada nação, quando a força de trabalho é muito maior do que a população dependente. Este é um ponto de inflexão que no Brasil deve durar !2 apenas até 2020, mas cujos impactos durarão indefinidamente.Assim, é impossível exagerar a importância do momento. As escolhas do País em termos de educação, saúde e previdência nesta fase determinarão a capacidade do País para investir adequadamente nos seus jovens, dar uma vida digna e longa aos seus idosos, e continuar crescendo, oferecendo serviços de qualidade à população, e competindo internacionalmente – em suma, assumindo cada vez mais a condição de país desenvolvido.”Diop, Makhtar. Envelhecendo em um Brasil mais Velho. Pensando sobre esta perspectiva, de ativação do herói, começo a pesquisar sobre a população economicamente ativa com o objetivo de verificar se estamos neste processo e novamente me deparo com os sinais de um comportamento puer do brasileiro no seu aspecto negativo, quando usa o auxílio desemprego,o bolsa família e outros recursos para não trabalhar. Se estamos num momento crucial de possibilidade de crescimento ou não, com impactos preponderantes no nosso futuro, considero preocupante o aspecto puer em sua manifestação negativa, sem comprometimento com a realidade, tão presente em nossa sociedade. Por outro lado, há um crescente movimento social que denuncia a corrupção e exige justiça, que chama a atenção para a história dos políticos, que cria e divulga campanhas de inclusão e diminuição do preconceito com contingentes da população que só habitavam a sombra. Cito o idoso, o negro,o índio, o pobre, o homossexual, o deficiente mental, o doente mental,…Os recentes movimentos sociais de Junho de 2014, que levaram às ruas principalmente jovens e adultos em passeatas reivindicando e pressionando a mudanças do que está estabelecido, um senex voraz, (pontualmente exemplificado pelo aumento das passagens, sem condições adequadas de transporte) em muito me alegrou, pois me fez ver a atuação do puer em seu aspecto positivo, comprometido com a realidade, confrontando e possibilitando o surgimento de uma nova ordem.Trouxe a reflexão de que há um processo de transformação desta energia que estava mais inconsciente, sendo liberada para o surgimento do herói, necessário a nossa individuação. Na verdade dentro deste eixo relacional puer-senex ficamos por muito tempo na interação dos aspectos negativos de cada um, vivendo de certa forma a unilateralidade destes arquétipos : senex representando o aspecto voraz, competitivo, e puer inconsciente de sua função,fixado a infância, a fantasia, sem comprometimento com a realidade…). Por outro, a realidade mostra que ainda temos muito trabalho pela frente.Em relação ao idoso independente, este parece estar mais integrado a nossa sociedade.Participa de atividades de lazer, viagens, atividades físicas, talvez por ter se apossado do direito de desfrutar, de se renovar, de ser ativo e também por representar um nicho a ser explorado no mercado de consumo, mas o idoso dependente ainda representa muita a nossa sombra.As mudanças necessárias em relação ao idoso dependente são muitas e identifico que entre os principais problemas estão os recursos financeiros para custear medicação, cuidadores, profissionais para atendimento domiciliar, entre outros, como a estrutura familiar que muitas vezes não tem os recursos humanos, psíquicos e emocionais necessários para cuidar adequadamente do idoso dependente. !3 Os filhos com pais idosos que conseguiram se emancipar vivem um cenário de muita luta, pois, trabalham, estudam para crescer profissionalmente, cuidam de filhos, muitas vezes do casamento anterior e do atual, e encontram muita dificuldade para manter os cuidados com sua rotina mais o tempo necessário para administrar a vida do genitor idoso e dependente. Apresentam um elevado nível de estresse, principalmente com a rotatividade de cuidadores que iniciam o trabalho e interrompem pelos mais diversos motivos.Depois de um período de luta na busca de estabilizar esta estrutura de cuidados, alguns começam a pensar na possibilidade do asilo. Há situações em que o cenário é mais difícil, pois o único familiar é outro idoso,com limitações físicas e cognitivas,ou o único ente que o idoso conta é um filho (a) portador de transtorno mental, que necessita também de cuidados. Nesta situação, se o filho(a) conseguiu sair da instituição psiquiátrica com ajuda dos dispositivos criados a partir da reforma psiquiátrica, agora, volta a ser institucionalizado por falta de suporte familiar e de residências assistidas. Há casos em que ambos estão morando em instituições diferentes, tendo como interlocutor apenas os profissionais de saúde.A pensão de ambos não é suficiente para custear cuidadores, medicação, alimentação,e um responsável pela administração da vida de ambos.Os curadores públicos, nomeados pelos juízes são responsáveis por um número tão elevado de pessoas que não conseguem exercer este papel, restando como opção os asilos, as clinicas psiquiátricas, os hospitais de baixa complexidade. Além dos casos de filhos com transtornos psiquiátricos, é crescente o número de filhos em idade produtiva que não trabalham,estão meio perdidos em relação ao futuro, ou são dependentes de álcool e outras drogas e trazem ao idoso um elevado custo financeiro, físico e emocional. Há períodos em que temos fila de espera para internação de tratamento especializado em dependência química e o plano vem ampliando sua rede credenciada de profissionais e clinicas nesta especialidade por identificar aumento da demanda por estes serviços. Já nos deparamos com situações em que os pais já idosos abrem processo judicial contra o plano alegando que foi negada internação para tratamento,mas na verdade querem uma moradia assistida por não se sentirem mais em condições de ter em casa o filho dependente de drogas, que no lugar de dar, ocupa o lugar de devorar. Os idosos que tem recursos financeiros são alvo fácil de pessoas que se aproximam para “cuidar”mas devoram seus recursos,negligenciam seu cuidado, cometem maus tratos físicos e psicológicos.Essas pessoas são os filhos, cuidadores,e até profissionais de saúde, infelizmente.Já encontramos idosos em condições sub-humanas, moradores da zona sul do RJ, com elevado grau de escolaridade e renda familiar. No cotidiano deste trabalho experimento uma tensão constante com as famílias, os profissionais de saúde e comigo mesma diante da tarefa de prevenir que pacientes em situação de internação psiquiátrica se tornem moradores. Me vejo autorizando prorrogação de internação psiquiátrica não mais pelo quadro psíquico,pois o tratamento já poderia !4 acontecer em ambulatório, mas por questões sociais, e percebo uma tendência a aumentar o número de casos como os já citados. A complexidade destes problemas sociais me chama atenção por apontarem para o hospital como saída , especialmente quando isto recai sobre o plano de saúde, que passa a ser o cuidador integral destas pessoas. De quem é a responsabilidade do cuidado, do sustento…? Recente pesquisa aponta para a necessidade de criação de um modelo que integre família, Estado e mercado privado como responsáveis pela divisão do cuidado. (Camarano.Cuidados de Longa Duração). Há uma forte tendência em nossa sociedade de passar a responsabilidade para o outro, uma dificuldade de comprometimento . Passamos para escola a responsabilidade de educar sem a percepção de que é uma função compartilhada.O mesmo acontece com a saúde, há sempre uma tensão nesta parceria família- hospital gerando muitas vezes processos judiciais com acusações de negligência de toda ordem(técnica, econômica,social). Um ponto positivo, no sentido de ser um movimento de integração, é o investimento que o Brasil vem fazendo desde 2012 como projeto-piloto, em parceria com países como Espanha e Portugal ,é o projeto de Cuidados Continuados Integrais, que integra ESF, ao atendimento pós-alta de hospitais de alta e média complexidade, aos centros de referência em reabilitação física, impedindo que os pacientes crônicos ficassem numa prisão assistencial. Quando atuamos na lógica da prevenção em saúde e propomos ao participante a coresponsabilidade com sua saúde no que diz respeito a realização das orientações a serem seguidas, percebemos grande dificuldade do comprometimento deles com seu próprio autocuidado. Ainda estamos na transição do paradigma curativo para o preventivo, que implica em passar de uma posição passiva, mais infantil para uma posição atuante, de coresponsabilidade, de aprendizagem,do construir junto. Ainda é muito forte a escolha pelo caminho mais fácil e imediato,como solicitar um remédio para baixar as taxas do colesterol, da glicose,da pressão arterial,sem fazer a dieta indicada e a atividade física.A pressão para fazer cirurgia de redução de estômago, sem antes cumprir com as exigências para tal, sem o envolvimento com sua vida de forma plena. Aproveito para citar Von Franz quando fala do puer aeternus que nunca entrou no mundo dos adultos, que acredita que a infância é a vida verdadeira e vê no mundo dos adultos o vazio, a frieza e falta de sentido.Como se fosse a persona vazia correndo atrás de dinheiro, prestígio e perdendo sua verdadeira natureza. “ É assim que ele vê a vida adulta, pois não encontrou a ponte através da qual ele poderia conquistar o que chamamos vida verdadeira na vida adulta. … Esse é o grande problema, eu acho, contido na casca de noz,quer dizer, como abandonar essa vida de fantasia da infância e juventude sem que a vida perca seu valor? Como alguém pode crescer sem perder sua sensação de totalidade, de criatividade, de sentir-se realmente vivo,…”( Franz, Von.1922: 22,23) !5 Talvez a ponte, pensando neste segmento da saúde, seja o cuidado integral, que pressupõe :busca ativa,construção de vínculo, acolhimento, comprometimento, co responsabilidade,… O herói precisa deste vaso alquímico para se transformar, como se as equipes de saúde da família funcionassem como este vaso, e trazendo aspectos positivos do senex, que traz a história do indivíduo, da família, da comunidade, favorecendo a reflexão, a capacidade de discriminar, o desenvolvimento da sabedoria.Nas atividades coletivas usamos a metodologia de participação ativa, onde o participante constrói o encontro em conjunto com os demais e com o facilitador. Não são palestras onde o profissional passa aos outros o seu saber, mas encontros que criam as condições mínimas para o surgimento do novo, e a transformação de ambos. Ao longo dos anos, ficou evidente que nos tornamos referência para eta população, que um bom percentual desta população acompanhada conseguiu gradativamente aderir a proposta e se beneficiar de forma ampla, aprendendo na relação com a equipe a implementar seu autocuidado, a ver as relações familiares de forma mais madura, a fazer sua parte no sentido de um uso mais consciente dos recursos de seu plano. Agradecem,relatam a importância de uma referência a quem procurar, de não ficarem perdidos na rede credenciada.Da mesma forma, nos trazem informação sobre suas experiências e a equipe aprende constantemente com os feedbacks, solicitações e novas propostas. Penso a partir disto que falta cuidado à população brasileira, falta um olhar integral, que possibilite a compreensão da nossa história, de nossos mitos,de nosso caminho de individuação.Falta talvez um olhar mais acolhedor, de reconhecimento de nossas potencialidades,.Temos sempre falas críticas e jocosas sobre nós mesmos.Temos carência de cuidado através da aprendizagem que possibilita o empoderamento, a aquisição de condições para assunção de responsabilidade. Importante citar que neste projeto muitos participantes não aderiram a proposta, optaram por uma posição mais alienada sobre sua saúde, sua responsabilidade com os custos de seu plano, que é uma auto-gestão, portanto, consumindo indiscriminadamente recursos desnecessários da coletividade e de sua própria saúde e assim por diante.Para estas pessoas o limite é o cancelamento de sua participação no projeto.Não podem mais ser atendidas neste lugar, nem se beneficiar das facilidades dos que permaneceram no projeto.Este é outro ponto fundamental para nosso povo, o limite ponderado, que possibilita a estruturação. As equipes também sofrem com situações que em muito representam a voracidade dos gestores por poder, competição, situações pouco éticas, interesses políticos, entre tantas questões que representam o senex negativo, pesado, rígido, tão presente em nossa sociedade. ! Refletindo sobre a relação do brasileiro com o trabalho e a produtividade me deparei com um complexo afetivo ligado a história da nossa colonização em que a relação com o trabalho se estabeleceu através da escravidão.Nos sentimos escravos quando somos assalariados e fantasiamos um dia ter o próprio negócio, quando temos o próprio negócio também nos sentimos escravos dizendo que não temos férias, e outros benefícios da lei trabalhista. Alguns !6 alcançam o objetivo de ser autônomos e voltam a ser assalariados por opção, outros desistem de tudo isso dizendo que não são escravos do dinheiro, vão morar mais no interior, buscando maior contato com a natureza, com suas raízes.Ao conquistar a aposentadoria muitos buscam voltar o contato com a mãe terra, morar no interior.Repetimos o sentimento de estarmos escravos em inúmeras situações e sofremos com isto. Recente pesquisa divulgada pelo Fantástico ,em 27/07/2014 mostrou que ao tentar encontrar nossos talentos entre os jovens encontraram uma geração nomeada “Nem,Nem” que significa:nem estudam ,nem trabalham e representam 20% dos jovens entre 15 e 29 anos.Apesar de estar mais identificado na população mais pobre eu sempre vi este fenômeno nos jovens da zona sul, classe media-alta Pesquisando o assunto encontrei uma matéria que chama atenção para um movimento de pessoas em idade produtiva se retirando do mercado de trabalho por opção.Os fatores pareciam se relacionar ao seguro-desemprego, bolsa família,filhos da classe média alta, ou serem pessoas indolentes.Este era um adjetivo usado em relação ao índio brasileiro, novamente sinais do nosso complexo cultural.Os filhos de classe media alta não deixam de ser “Nem,Nem” (nem trabalham,nem desejam trabalhar). O que se passa com nossos jovens?O que nos falta para ativação do herói ? Será apenas falta de limite, como tanto se fala? Parece que tentamos voltar a grande mãe, como se fosse uma necessidade de reparação , de elaboração de um trauma.Segundo conceito dos autores Tomas Singer e Samuel Kimbles isto representa um complexo cultural emergindo do inconsciente coletivo do povo brasileiro, ligado às vivências traumáticas da nossa colonização. Parece que estamos ainda elaborando o trauma da escravidão, marcado por inúmeros símbolos e representações afetivas como a violência, submissão, perda da criatividade, da liberdade, do poder nas mãos do estrangeiro invasor, dominador, corrupto,… A terra Brasil como representante da grande mãe sendo penetrada pelo estrangeiro colonizador, representante do pai que a pretexto de catequizar e instruir, … explora, trai, violenta,aprisiona, devora,… Talvez esta seja a maior ferida a ser elaborada! Passamos tanto tempo vivenciado predominantemente a polaridade negativa dos arquétipos tanto puer quanto senix porque possivelmente este trauma causou uma dissociação, encapsulando o espírito como forma de preservação da semente, e permanecemos repetindo este padrão neurótico de devoramento e poder, infantilidade, ingenuidade, submissão. Hillman traz uma visão um pouco mais complexa sobre a dinâmica puer-senix, quando traz a questão do espirito como algo que nasce da matéria, como algo que é complementar ao material e corpóreo e ao mesmo tempo constituem-se num poderoso par de opostos.Separa a dimensão material filho-herói na luta com o dragão como parte da realização egóica .O puer está em negociação com o pai-senex para viver o mundo como valor e renovar os valores ultrapassados.Outra forma interessante e complementar de pensarmos este par. !7 Meu objetivo maior com este trabalho é fomentar a reflexão e não finalizar com conclusões fechadas, até mesmo porque estamos falando de arquétipos e Jung pontua o risco de tentarmos reduzi-los a fórmulas, ou de compreendermos a realidade com conceitos fechados. “…Toda tentativa de apreensão mais aguda pune-se imediatamente pelo fato de apagar a luminosidade do núcleo inapreensível de significado.”( Jung, 1951: 179) Em minha percepção a saída para nossas principais feridas está na questão da necessidade de cuidado no sentido mais amplo da palavra, e o veículo para nossa transformação pode ser a pisco - educação. ! !8