Pesquisa
Aids
Cuidados pela vida
Levantamento sobre práticas de prevenção nas fábricas mostra
caminho para impedir aumento de casos entre as mulheres
Prevenção:
educação para
evitar acidentes
e doenças
JOSÉ PAULO LACERDA
m maior número de trabalhadores na indústria está utilizando, cada vez mais, as
defesas contra o contágio pelo vírus HIV nos últimos dez anos, principalmente
com o aumento do uso de preservativo nas relações sexuais. Essa constatação
da pesquisa realizada pelo SESI em 2006, no entanto, não é a melhor notícia, já
que o Brasil tem sido pioneiro nas ações contra a epidemia da Aids.
A melhor notícia é que, com os resultados obtidos na pesquisa sobre comportamentos,
atitudes e práticas relativas à síndrome que surgiu no final do século passado, o SESI, por intermédio de sua Diretoria Nacional, vai coordenar uma ação para tornar mais eficiente a defesa
das mulheres contra a contaminação da Aids. “Vamos concentrar ações no desenvolvimento de
conteúdo para oferecer, principalmente às trabalhadoras na indústria, meios para que reduzam
as vulnerabilidades e, conseqüentemente, a feminilização da Aids no país”, aponta o gerenteexecutivo de Saúde do SESI Nacional, Fernando Coelho.
A pesquisa levantou as
práticas de 5.631 trabalhadores em 19 estados e deu
seqüência a um primeiro levantamento feito em 1996.
De lá para cá, subiu de 19,4%
para 30,4% o número dos
entrevistados que afirmavam
usar preservativos em todas
as relações sexuais. Por isso
mesmo foi reduzido de 47,1%
para 31% aqueles que nunca
usaram a camisinha.
Uma considerável proporção desse avanço pode ser
atribuída à atuação das empresas em seus ambientes de trabalho, aponta o coordenador
da Unidade de Prevenção do
Programa Nacional de DST/
Aids do Ministério da Saúde,
Ivo Brito. O levantamento confirma: quase metade dos participantes da pesquisa (47,1%)
disse ter participado, em 2005,
de atividade educativa dentro
da empresa.
Todos os olhares se voltam
agora para os problemas que as
industriárias vivem para se de-
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Coelho: programa
deverá atingir
30 milhões
de trabalhadores
da indústria
relações extraconjugais acontecem muitas
vezes após o horário de trabalho.”
Essa perspectiva foi apresentada ao Conselho Empresarial de Prevenção à DST/Aids
no Local de Trabalho. Coelho lançou, no dia
27 de fevereiro, o convite a cem empresas
para iniciar o Projeto Marketing Social do
Preservativo. A proposta é oferecer a camisinha a um preço de um quarto ou um quinto
do valor de mercado, estimulando a participação das empresas na redução dos custos e na distribuição em massa. Em 2008, o
programa será estendido a todo o país para
atingir os cerca de 30 milhões de trabalhadores da indústria.
MIGUEL ÂNGELO
Aids
Pesquisa
fender da contaminação com o vírus HIV. O
trabalhador da indústria alega diversos motivos para não usar o preservativo. O principal
deles é o argumento de que tem confiança no
parceiro, de acordo com 41,1% dos homens
e 35,1% das mulheres. A segunda razão mais
importante para não adotar o uso da camisinha é ter apenas um parceiro. É o caso de
37,7% dos homens e 35,1% das mulheres.
Nos dois casos, quem fica mais exposto
à possibilidade de contaminação é a mulher,
explica Coelho. “Isso deixa a mulher exposta,
principalmente ao homem com experiências
extraconjugais que leva o vírus para sua família”, alerta.
Os trabalhadores pesquisados apontaram
ao todo 20 motivos para não utilizar o preservativo. Todas essas alegações serão avaliadas pelo SESI para definir ações a serem
desenvolvidas nos próximos anos para tornar
o programa de prevenção mais eficiente dentro das empresas.
Entre essas medidas, o aumento do acesso ao preservativo estará no centro da estratégia. “A pesquisa mostra também que apenas
18,9% dos entrevistados tinham o preservativo à mão, durante a entrevista”, informa o
gerente-executivo do SESI. “Sabemos que as
EMPRESAS
Dentro das fábricas, começa a tornar-se
cotidiana a discussão sobre os problemas e
as soluções para uma vida sexual sadia. A
Sand Beach Indústria de Confecções Ltda., de
Fortaleza, com 500 funcionários, 90% deles
do sexo feminino, aumentou o atendimento
médico de casos ligados à sexualidade como
resultado da intensa campanha interna de
prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e contra o vírus HIV.
“Tem aumentado muito o interesse de todos os trabalhadores sobre o assunto e a prova disso é o significativo aumento da procura
em nosso serviço médico para assistência a
problemas sexuais”, aponta a encarregada do
Departamento de Pessoal e de Recursos Humanos, Áurea Lúcia Ferreira Pereira.
Em Belo Horizonte, a Cerâmica Saffran
SA. desenvolve todo o seu calendário anual
de atividades para transmitir práticas de prevenção contra a contaminação do vírus HIV,
também com o apoio do SESI mineiro. “Em
nossa programação, o tema da Aids já é uma
tradição”, explica a analista de Recursos Humanos da empresa de materiais refratários,
Rosae Aparecida.
Com 240 funcionários, apenas 12 são
mulheres. Ali também já se percebe um nítido amadurecimento nas discussões sobre as
doenças relacionadas com a vida sexual. “Os
funcionários agora fazem questão de saber
como aquele tema vai afetar o seu dia-a-dia.”
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