DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE LONGITUDINAL EM ESTRUTURAS ... 217 DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE LONGITUDINAL EM ESTRUTURAS PLANAS DE MADEIRA DO TIPO TRELIÇA André Luis Christoforo Francisco Antonio Rocco Lahr Departamento de Engenharia de Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, e-mails: [email protected]; [email protected] Resumo Atualmente, os softwares comerciais desenvolvidos para a análise do comportamento mecânico de estruturas são elaborados de maneira que o usuário tenha de informar os seus dados físicos e geométricos pertinentes. Como respostas, obtêm-se os valores de variáveis como deslocamentos, deformações, tensões e esforços atuantes em cada um dos elementos da estrutura. O objetivo deste trabalho é elaborar um programa para a determinação do módulo de elasticidade longitudinal ótimo em estruturas planas de madeira do tipo treliça, por intermédio de uma técnica de otimização aliada ao Método dos Elementos Finitos. Uma simulação numérica foi realizada com o intuito de ilustrar a aplicação do programa. Palavras-chave: madeira, estruturas treliçadas planas, método dos elementos finitos. Introdução Diversas circunstâncias têm contribuído para o incremento do emprego da madeira como material estrutural no Brasil, nos últimos anos. Dentre eles, cabe citar: a disseminação do documento normativo NBR 7190 (Projeto de Estruturas de Madeira), adequadamente fundamentado no Método dos Estados Limites; o aumento da disponibilidade de estruturas préfabricadas; a possibilidade de utilização de espécies de reflorestamento em substituição às nativas tropicais, de uso consagrado mas de custo muito elevado; e a maior oferta de profissionais da engenharia voltados para a otimização do projeto e da construção das estruturas de madeira. A madeira, como material estrutural, tem sido usada em pontes, passarelas, fôrmas e cimbramentos para edifícios de concreto armado e protendido, bem como em componentes da edificação. Dentre os últimos, as estruturas de cobertura vêm ganhando cada vez mais espaço no cenário nacional da construção civil. Usualmente, o dimensionamento de estruturas de cobertura do tipo treliça é realizado em função do conhecimento de variáveis como: vinculação, dimensões e formas dos seus elementos componentes, magnitude e posição das forças aplicadas nos nós, propriedades de resistência e de rigidez das espécies a utilizar na obra. Os softwares de análise estrutural, assim como os de dimensionamento de estruturas existentes no mercado, são desenvolvidos com o intuito de determinar os deslocamentos nodais da estrutura e, como conseqüência, os esforços, tensões e deformações correspondentes. Neste contexto, e tendo em vista possibilitar aos projetistas de estruturas de madeira o acesso a interessante ferramenta de análise, o presente trabalho tem por objetivo a determinação do valor do módulo de elasticidade para as estruturas treliçadas planas, de maneira a facilitar a escolha da espécie, ou das espécies, mais adequada para as estruturas projetadas, seja no caso de construção artesanal, seja nas situações em que se opta pela pré-fabricação. Método dos Elementos Finitos O Método dos Elementos Finitos (MEF) mostra-se uma excelente ferramenta para a análise do comportamento dos materiais empregados em projetos estruturais, assim como na avaliação do desempenho mecânico dessas estruturas. Historicamente, o MEF surgiu em 1955, como evolução da análise matricial de modelos reticulados, motivado pelo advento do computador e elaborado com o intuito de projetar estruturas de modelos contínuos. O MEF é tido como uma técnica de gerar funções de aproximação que podem ser utilizadas para interpolar deslocamentos, esforços, tensões e deformações ao longo do domínio do elemento. Para a resolução de problemas estruturais segundo o MEF, as funções de forma podem ser aplicadas diretamente à sua equação diferencial (Resíduos Ponderados) ou a princípios energéticos, tais como o Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV). O deslocamento, em problemas estruturais elásticos, é considerado como incógnita fundamental e é obtido por intermédio da resolução de um sistema de equações Minerva, 4(2): 217-224 218 CHRISTOFORO & LAHR x ∈ R n, em que V é a função residual. Como exemplo, vale mencionar que a função objetivo utilizada para o cálculo do valor ótimo da área das seções transversais para os elementos estruturais está fundamentada no Método dos Mínimos Quadrados. lineares, assim como expressa a Equação (1). A montagem do referido sistema se dá em função da disposição da malha e, conseqüentemente, dos nós dos elementos finitos na estrutura, como pode ser visto na Figura 1. (1) [K]{U}={F} em que: Método de Newton [K] – matriz de rigidez da estrutura; {U} – vetor dos deslocamentos nodais da estrutura; {F} – vetor das forças equivalentes nodais da estrutura. A busca pelo valor ótimo da função objetivo (minimização) é realizada mediante a aplicação do Método de Newton, que está fundamentado no desenvolvimento da função f em série de Taylor em torno de um ponto xk. O Método de Newton apresenta várias versões, diferentes entre si no tocante à forma de aproximação da função em torno de um ponto, sendo a linear a mais utilizada. Neste trabalho, optou-se por utilizar o Método de Newton com aproximação quadrática q (desenvolvimento da série de Taylor truncada em seu terceiro termo) na busca pela solução ótima do problema, em virtude de a função objetivo estar fundamentada no Método dos Mínimos Quadrados. Assim, a convergência para a solução ótima do problema é obtida em uma única iteração. A Figura 2 ilustra uma aproximação quadrática para a função g no caso de x ser uma variável real. Com relação à aplicação de técnicas de otimização e ao emprego do MEF na análise de estruturas, alguns trabalhos podem ser citados, como o de Mascia (1991), Alvarenga & Antunes (1994), Soares & El Debs (1997), Rigo (1999), Perrine et al. (2002), Cheung (2003), Góes (2004), entre outros. Método dos Mínimos Quadrados Entre outras aplicações, o Método dos Mínimos Quadrados é empregado para minimizar uma função f, denominada função objetivo, dada por f(x) = V(x) , 6 7 8 4 5 3 4 5 6 3 1 1 1 2 2 2 1 K U = Figura 1 Exemplo de discretização de uma malha de elementos finitos em uma treliça. g(x) q(x) (1) x x Figura 2 Aproximação quadrática pelo Método de Newton. Minerva, 4(2): 217-224 F DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE LONGITUDINAL EM ESTRUTURAS ... A aproximação de Taylor para uma função quadrática é expressa por: f(x) ≈ f(x k )+ ∇ f(x k )(x − x k )+ (2) 1 + (x − x k )t ∇2 f(x k)(x − x k )= q(x) 2 em que f tem derivadas parciais de segunda ordem contínuas com ∇f ( x k ) ≠ 0. O ponto xk+1 é determinado pelo mínimo de q. Determina-se primeiramente o gradiente da função q: ∇q(x)= ∇f(xk )+ ∇2 f(xk )(x − xk ) (3) em que ∇ 2 f(x k ) é o hessiano de f Igualando-se o gradiente da função a zero, tem-se: ∇q(x)= 0 ⇔ ∇ 2 f(x k )(x − x k )= −∇f(x k ) (4) -1 Multiplicando-se a Equação (4) por ∇ 2 f(x K ) , tem-se: x − x = − ∇ f(x ) k 2 k −1 diferenciais oriundas dos problemas de barras de treliça torna-se desnecessário. Considerando o que se apresenta na Figura 3, o PTV pode ser expresso como: Äv .F + ∫ Äv .b(x).dV + ∫ Äv .P(S).dA = V = ∫ å(x)v .ó(x).dV S −1 (9) V Na Equação (9), tem-se: dV dS P(S) F b(x) ∆v ε(x)v σ(x) – volume do elemento de dimensões infinitesimais; – superfícies das faces do elemento de dimensões infinitesimais; – força de superfície; – força pontual; – força por unidade de volume; – deslocamento virtual; – deformação virtual; – tensões. y k ∇f(x ) (5) z Na qual a solução de ∇ q(x)= 0 é dada por: x − x k = − ∇ 2 f(x k ) 219 dx dy ∇f(x k ) x dz (6) b(x) A Equação (6) pode ser escrita como: x k+1 = x k + d k em que d k = − ∇ 2 f(x k ) −1 ∇f(x k ) (7) F Na prática faz-se: x k+1 = x k + ák .d k P(S) (8) em que o passo é determinado de maneira a satisfazer f(x − xk ) < f(xk ). Formulação do Elemento Finito Segundo o Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV) Neste trabalho, a formulação do elemento finito é desenvolvida segundo a aplicação do MEF no PTV. De acordo com esta metodologia, o conhecimento das equações Figura 3 Barra de treliça no espaço. O primeiro membro da Equação (9) contabiliza o trabalho das forças externas atuantes no elemento estrutural e o segundo contabiliza o trabalho dos esforços internos ou a energia de deformação interna do corpo. Para a aplicação do PTV ao elemento de barra, o conhecimento das hipóteses geométricas responsáveis por descrever o seu campo de deformações torna-se necessário. A deformação para um elemento de barra solicitado na direção do seu eixo principal é ilustrada pela Figura 4 e expressa pela Equação (10). Minerva, 4(2): 217-224 220 CHRISTOFORO & LAHR y U(x) b z A função de forma adotada para o problema é um polinômio do primeiro grau. Este polinômio possui dois coeficientes, representando os graus de liberdade para o elemento finito. O polinômio é expresso por: b a a x a b dx ∆dx L ö(x)= ax + b O objetivo desta função é interpolar o campo de deslocamentos no interior do elemento finito, em função dos seus deslocamentos nodais. Como o elemento finito apresenta dois graus de liberdade, a função de aproximação do campo de deslocamentos ao longo do seu domínio é constituída de duas parcelas, expressas pela Equação (13). L + ∆L ∆L F u(x)= U i ö1(x)+U j ö2 (x) L>>a L>>b F Figura 4 Deformação em uma barra por solicitação normal. åx = Ädx d = (U(x))= U ' (x) dx dx (10) Na Equação (10), tem-se: εx U(x) ∆dx dx – – – – deformação na direção “x”; função dos deslocamentos da barra; variação do comprimento do elemento infinitesimal; comprimento original do elemento infinitesimal. A tensão normal com a direção do eixo principal para um elemento reticulado (barra de treliça) é determinada de acordo com a Equação (11). ó = Då ⇒ ó x = Eå x σx σ ε D E (11) Na Equação (11), tem-se: – tensão normal na direção do eixo “x” do elemento; – tensor das tensões; – tensor das deformações; – tensor constitutivo de rigidez; – módulo de elasticidade longitudinal. O elemento finito utilizado no cálculo da área das seções transversais para os elementos estruturais possui dois nós, sendo composto por um grau de liberdade por nó (deslocamentos), como ilustra a Figura 5. Ui i j Uj he Figura 5 Elemento finito (barra de treliça). Minerva, 4(2): 217-224 (12) (13) Os coeficientes para as duas funções de forma, contidas na função aproximativa do campo de deslocamentos, são determinados mediante a aplicação da técnica de elementos finitos, que consiste em atribuir um “deslocamento unitário” a um dos graus de liberdade do elemento mantendo-se os demais nulos, repetindo-se este processo para todos os demais graus de liberdade do elemento. A função aproximativa dos deslocamentos, segundo a técnica de elementos finitos, é ilustrada pela Figura 6. φ1(x) 1 Ui 1 φ2(x) i j Uj he Figura 6 Funções de forma segundo o MEF para o elemento de barra. As duas funções de forma determinadas mediante a técnica de elementos finitos são expressas pelas Equações (14) e (15). ö (0)= 1 para : 1 ö1(he )= 0 ö1(x)= − ö (0)= 0 para : 1 ö1(he )= 1 ö1(x)= 1 x +1 he 1 x he (14) (15) Como visto anteriormente, a deformação para o elemento de treliça é calculada mediante a primeira derivada da sua função de deslocamentos. Sendo assim, o campo DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE LONGITUDINAL EM ESTRUTURAS ... de deformações ao longo do elemento finito é determinado calculando-se a primeira derivada de sua função aproximativa de deslocamentos, expressa pela Equação (16). å(x)= U i ö1' (x)+U j ö2' (x) foram desenvolvidos no “sistema de coordenadas locais”, que tem por objetivo determinar as deformações, tensões e esforços atuantes em cada elemento finito. Porém, para determinar os deslocamentos da estrutura, torna-se necessário o conhecimento de suas coordenadas nodais no “sistema de coordenadas globais”, expresso por intermédio da Equação (19), como ilustrado na Figura 7. (16) A matriz de rigidez e o vetor das forças equivalentes nodais (desconsiderando-se as forças de superfície e volume) para o elemento finito são determinados substituindo-se as Equações (11) e (16) na Equação (9), assim como expressam, respectivamente, as Equações (17) e (18). [Ke ] = {Feq } ES 1 −1 L −1 1 221 xi 0 0 xi cos(è) sen(è) y i − sen(è) cos(è) 0 0 yi = (19) 0 cos(è) sen(è) x j x j 0 y 0 0 − sen(è) cos(è) y j """""" """"""! j (17) [T ] Fi = F j (18) A matriz [T] é chamada de matriz de transformação de coordenadas. A matriz de rigidez para o elemento finito no sistema de coordenadas globais é expressa pela Equação (20): Até o presente momento, a matriz de rigidez e o vetor de forças equivalentes nodais para a barra de treliça [Ke ]g = [T ]T [Ke ]l [T ] cos 2 (è) −cos 2 (è) −cos(è)sen(è) cos(è)sen(è) −cos(è)sen(è) − sen 2 (è) sen 2 (è) ES cos(è)sen(è) g [Ke ] = L −cos 2 (è) −cos(è)sen(è) cos 2 (è) cos(è)sen(è) − sen 2 (è) cos(è)sen(è) sen 2 (è) −cos(è)sen(è) yj yj j xj yj (20) yi xj θ yi yi xi θ θ i xi j θ xj i xi Figura 7 Transformação de coordenadas. Minerva, 4(2): 217-224 222 CHRISTOFORO & LAHR ao longo do seu domínio é realizada por intermédio de uma função polinomial do primeiro grau. Para a determinação do E ótimo via programa EOTM, o usuário deve aferir, em seu arquivo de entrada de dados, informações como: número e disposição dos nós na estrutura, número de elementos estruturais, propriedades geométricas de cada elemento, nós da estrutura que se encontram carregados, assim como magnitude e direção das forças. Com tais informações, o programa EOTM constrói um vetor de forças nodais {F*}, que têm como variável livre o módulo de elasticidade de cada elemento estrutural, expresso por: Na equação (20), tem-se: g [Ke ] – matriz de rigidez do elemento no sistema de coordenadas globais; [Ke ]l – matriz de rigidez do elemento no sistema de coordenadas locais. O vetor de forças equivalentes nodais para o sistema de coordenadas globais é expresso pela Equação (21). {Feq } Fi 0 = Fj 0 (21) {U est } ⇒ {F *} = E[ K * ]{U est } Na Equação 22 tem-se: * {F } – vetor das forças nodais, que têm como variável Hipóteses de Cálculo independente o módulo de elasticidade longitudinal; Para a consecução deste trabalho, considera-se que as tensões atuantes nos elementos estruturais de madeira não ultrapassam o regime elástico linear e que a estrutura é restrita a pequenos deslocamentos (teoria de primeira ordem). O cálculo do módulo de elasticidade longitudinal ótimo pra estruturas planas de madeira do tipo treliça é efetuado por intermédio do programa computacional EOTM, desenvolvido a partir dos fundamentos do Método dos Elementos Finitos (MEF), segundo a aplicação do modelo cinemático de deformação específica, ou deformação de engenharia no Princípio dos Trabalhos Virtuais (PTV), desconsiderando-se, nesses cálculos, as forças por unidade de volume (peso próprio). Para o caso específico das estruturas de madeira, tal aproximação não acarreta erros significativos, pois a madeira é um material que apresenta resistência e rigidez elevadas para sua massa específica, de acordo com o que registram Dias et al (2003). O elemento finito (barra de treliça), no seu sistema de coordenadas locais, apresenta um grau de liberdade por nó, duas translações na direção do eixo da barra. A interpolação do campo dos deslocamentos [ K est ] – matriz de rigidez da estrutura; {U est } – vetor dos deslocamentos nodais da estrutura; [ K * ] – matriz composta pelo comprimento e área da seção transversal de cada elemento finito. Em função das forças aplicadas aos nós, definidas no arquivo de entrada de dados, o programa EOTM cria um vetor de forças nodais da estrutura {Fest}. Em seguida, uma função é construída, fundamentada no Método dos Mínimos Quadrados, com o objetivo de determinar o valor do módulo de elasticidade longitudinal para que o resíduo gerado por ambos os vetores, {F*} e {Fest}, seja mínimo. Na continuação, o módulo de elasticidade é obtido mediante a minimização da Equação (23) pelo Método de Newton. f (E) = 1 n ({Festi } − {Fi*})2 ∑ 2 i =1 {Fest} f(E) = 1 n ∑ ({F } – {Fi*})2 2 i=1 esti f(E) {F*} Eotm Figura 8 Determinação do melhor valor de E. Minerva, 4(2): 217-224 (22) E (23) DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE ELASTICIDADE LONGITUDINAL EM ESTRUTURAS ... Barras 2-3; 4-5; 8-5; 10-7: duas peças de (3 cm × 12 cm) – 223,6 cm de comprimento. A Figura 8 ilustra a forma como o módulo de elasticidade ótimo (Eotm) é determinado. Logo após a determinação do módulo de elasticidade, o programa EOTM determina os deslocamentos nodais da estrutura, as forças nas barras e as respectivas deformações e tensões atuantes. O programa EOTM determina o módulo de elasticidade para estruturas planas treliçadas de madeira constituídas por espécies que apresentem módulos de elasticidades equivalentes. Assim, o conceito de Classes de Resistência, estabelecido na NBR 7190, ganha ainda mais relevância, possibilitando o emprego de espécies menos difundidas (entre elas as oriundas de áreas de reflorestamento), mas com potencial de rigidez e resistência equivalente ao de essências de emprego já consagrado. Com isto, pode ser reduzido o custo da estrutura, sem qualquer redução dos níveis de segurança adotados em projeto. Análise e Conclusão Aplicando-se o programa EOTM para as condições do exemplo apresentado no item anterior, são obtidos os valores de deslocamentos nodais, forças normais e deformações nas barras da treliça, conforme o que consta na Tabela 1. O valor do módulo de elasticidade longitudinal efetivo (E c0,ef), para atender aos requisitos normativos de deslocamentos máximos no exemplo apresentado, é 1.557 kN/cm2. Nestas condições, a partir da tabela de Classes de Resistência da NBR 7190, pode-se estabelecer o conjunto de espécies com as quais é possível construir a estrutura em questão. Admitindo-se como hipóteses de projeto: madeira classificada, carregamento de média duração e estrutura a ser construída em local com classe de umidade (2), determina-se que as espécies de utilização possível seriam as enquadradas na Classe C40 (Dicotiledôneas) do mencionado documento normativo. Dentre tais espécies podem ser citadas: Eucalipto Citriodora (Corymbia citriodora); Eucalipto Paniculata (Eucalyptus paniculata); Eucalipto Propinqua (Eucalyptus propinqua); Angelim Vermelho (Dinizia excelsa); Garapa (Apuleia leiocarpa); e Itaúba (Mezilaurus itauba). Assim sendo, no caso de estruturas treliçadas de madeira, em particular para coberturas, a metodologia utilizada para a determinação do módulo de elasticidade longitudinal neste trabalho mostra-se como providência muito interessante para facilitar a escolha da melhor espécie (ou conjunto de espécies) a ser empregada nos projetos e nas correspondentes obras. Exemplo de Aplicação A Figura 9 ilustra uma estrutura plana treliçada de madeira para a qual se deseja determinar o valor do módulo de elasticidade da madeira com a qual será construída a estrutura, de modo a não ultrapassar os valores de deslocamento estabelecidos na NBR 7190. Para a estrutura em questão, adotam-se os seguintes parâmetros: l l Forças verticais (valores de cálculo, incluindo ação permanente e vento de pressão): Nós 2 e 10: 1 kN; nós 4, 6 e 8: 2 kN. Seções transversais: Barras 1-3; 3-5; 5-7; 7-9; 2-4; 4-6; 6-8; 8-10: duas peças de (3 cm × 16 cm) – 200 cm de comprimento; Barras 1-2; 3-4; 5-6; 7-8; 9-10: uma peça de (3 cm × 12 cm) – 100 cm de comprimento; 2 1 223 4 6 8 3 5 7 10 9 Figura 9 Exemplo de estrutura treliçada. Minerva, 4(2): 217-224 224 CHRISTOFORO & LAHR Tabela 1 Deslocamentos nodais, forças normais e deformações nos elementos da estrutura. Deslocamentos (cm) Elemento Força normal (kN) Deformação específica Tensão (kN/cm2) Nó Direção “x” Direção “y” 1 0,00000 0,00000000 0,00000000 1 0,00000000 0,00000000 2 0,00000 0,00000000 0,00000000 2 –0,06950821 –0,00706513 3 –12,0000 –0,00007948 –0,12500000 3 0,00000000 –0,79911629 4 0,00000 0,00000000 0,00000000 4 –0,09335301 –0,79911629 5 –4,00000 –0,00007065 –0,11111111 5 0,00000000 –0,59266265 6 18,2482 0,00016116 0,25344844 6 –0,11189896 –0,59619521 7 0,00000 0,00000000 0,00000000 7 –0,01589653 –0,28167987 8 –4,47213 –0,00003950 –0,06211300 8 –0,13044492 –0,29227756 9 –2,00000 –0,00003533 –0.05555556 9 –0,01589653 0,00000000 10 8,94427 0,00007899 0,12422600 10 –0,13839318 –0,00706513 11 –6,00000 –0,00010598 –0,16666667 12 6,70820 0,00005924 0,09316950 13 –4,00000 –0,00007065 –0,11111111 14 –18,0000 –0,00011922 –0,18750000 15 –14,0000 –0,00009273 –0,14583333 16 –14,0000 –0,00009273 –0,14583333 17 –6,00000 –0,00003974 –0,06250000 Referências Bibliográficas ALVARENGA, R. C. S. 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