Exame Nacional de 2013 (1.a fase)
Prova Escrita de Português
12.o Ano de Escolaridade
Prova 639/Versões 1 e 2
GRUPO I
A
1. O primeiro verso remete para a ideia de que tudo na vida ocorre no contexto que o seu curso natural proporciona.
Ao constante dos versos dois a quatro cabe a sustentação / a corroboração desta ideia por meio da apresentação
de exemplos concretos do quotidiano, sobretudo das estações do ano. Assim, no inverno, há frio e neve a cobrir
os campos, ao passo que, na primavera, florescem «os arvoredos».
2. Os versos cinco a vinte e quatro apresentam várias ideias e conselhos típicos do estoicismo de Ricardo Reis.
A saber:
– não devemos desassossegar-nos com «ardor» (entusiasmo, demasiada energia) quando chega a noite com sua
calma e pacatez, e tal atitude deve ser transposta para a vida, pois que, não sabendo o que sucederá no amanhã, vivamo-la com tranquilidade («Com mais sossego amemos / A nossa incerta vida.»);
– procuremos evitar todo o esforço inútil, quando o tempo é de descanso («Não puxemos a voz / Acima de um
segredo»);
– recordemos o nosso passado sem ânsias ou algum tipo de pressão contínua, antes o lembremos com breves,
«casuais, interrompidas» «palavras de reminiscência»;
– aproveitemos do passado apenas aquilo que tenha sido vivido e experimentado na infância, essencialmente
positivo («Histórias, que nos falem / Das flores que na nossa infância ida / com outra consciência colhíamos»).
3. Pela leitura transversal do poema percebemos facilmente que a recordação do passado tem lugar num ambiente
específico: é de noite (note-se o uso do presente do indicativo na forma verbal sublinhada em «À noite, que
entra») e noite de inverno (dado o uso do nome «lareira»), logo um tempo e um espaço confortáveis e seguros,
propícios à reflexão e recolhimento que motivam a recordação de tempos idos. Tal cenário é confirmado pela
caracterização da «hora» como sendo a «dos cansaços», o que ajuda ao diálogo calmo e a rememorações. Note-se que a noite de inverno simboliza metaforicamente a velhice, pois que é nesta fase da vida que se explica a prudência, a tranquilidade e o saber do sujeito poético, espelhados nos seus conselhos.
4. As duas últimas estrofes do poema assumem-se conclusão das ideias apresentadas até então, sintetizando-as.
Remetem, portanto, para a ideia de que o sujeito poético e Lídia estão já na fase mais avançada da vida, pois «o
descanso / Nos traz às vidas quando só pensamos / Naquilo que já fomos, / e há só noite lá fora» (note-se a retoma do lexema «noite»).
Mais: chegados a esta faixa etária, o sujeito apela a que os dois sejam como «deuses lares, ali na eternidade»,
adotando uma postura serena quer para com o passado, quer para com o presente e ainda o futuro.
B
É na Natureza que Caeiro deambula («Tenho o costume de andar pelas estradas») e capta sensações, em grau
zero de interpretação («Creio no Mundo como num malmequer, / Porque o vejo. Mas não penso nele.»).
Mais: o poeta reconhece-a como a um deus (paganismo e panteísmo), afirmando «Mas se Deus é as flores e as
árvores / E os montes e o sol e o luar, / Então acredito nele / E a minha vida é uma oração e uma missa. / E uma
comunhão com os olhos e pelos ouvidos».
Em suma, não se pode dissociar a Natureza da poesia deste heterónimo.
 Texto
GRUPO II
VERSÃO 1
VERSÃO 2
1.1 (C)
1.2 (B)
1.3 (C)
1.4 (C)
1.5 (D)
1.6 (D)
1.7 (A)
1.1 (B)
1.2 (C)
1.3 (A)
1.4 (D)
1.5 (C)
1.6 (A)
1.7 (D)
2.
2.1 A oração subordinada presente (e sublinhada) na sequência «Não sei se vou fazê-lo» é substantiva completiva.
Tal justifica-se por estar a ser selecionada por um verbo declarativo («saber»), aqui conjugado no Pretérito Perfeito simples do Indicativo. Note-se que a conjunção que frequentemente introduz estas orações é a subordinativa «que», sendo este um caso em que se utiliza «se» (assim como quando se trata, por exemplo, de verbos
interrogativos, do tipo «perguntar», como se pode verificar no seguinte contexto: «El-rei D. João V perguntou
se o dia do seu quadragésimo primeiro aniversário calhava num domingo.»
2.2 A sequência em análise é «O que tenho a dizer escrevi-o». O que se pretende saber é o antecedente do pronome sublinhado, antecedente esse que está contido na referida sequência, ou seja, «o que tenho a dizer». Se
nos indagarmos sobre aquilo que o cronista escreveu (aqui pronominalizado e hifenizado com a forma verbal
«escrevi»), facilmente perceberemos que se está a referir ao que imediatamente antes tinha verbalizado, isto é,
«o que tenho a dizer». Assim, o pronome retoma essa sequência sem a repetir integralmente.
2.3 A função sintática desempenhada pela expressão «secreta e insolúvel» é a de predicativo do sujeito, isto porque está a ser selecionada por um verbo copulativo, no caso «permanecer», conjugado no Futuro simples do
Indicativo: «Permanecerá para sempre secreta e insolúvel.»
GRUPO III
Numa época contemporânea tão vergastada pela crise económico-financeira, o pessimismo e a descrença num
futuro melhor apoderam-se da mente do Ser Humano em geral. Todavia, os jovens são aqueles em quem a esperança
e a vontade de mudança mais se verifica.
Em primeiro lugar, é na fase da juventude que todos temos planos e sonhos para pôr em prática ao longo da
vida. Preocupados com a finalização do décimo segundo ano ou com a obtenção de qualificações de nível universitário, os jovens combatem a apatia e o pessimismo dos mais velhos, abrindo-se a oportunidades de trabalho amplas
e que lhes permitam obter a tão desejada autonomia.
Em segundo lugar, e apesar de muitos se deixarem iludir pela (aparente) crise de valores de hoje, em oposição
aos «bons velhos tempos» ou ao «antigamente», a verdade é que os jovens estão bem mais abertos à consecução
de atitudes nobres de abertura, entreajuda e amor pelo próximo.
Temos, em Portugal (assim como no mundo) dois casos que ilustram bem cada um dos anteriores argumentos.
A saber: por um lado, a imprensa e as estatísticas mostram a emergente emigração de jovens licenciados para países
onde as suas competências lhes sejam rentáveis, levando o nome do nosso país cada vez mais longe e mais alto; e,
por outro lado, é igualmente visível ao mundo a participação de um número crescente de jovens em organizações
não-governamentais que apoiam a construção de um planeta onde a igualdade e o humanitarismo prevalecerão,
como é o caso dos «Jovens Sem Fronteiras» ou da «Aventura Solidária», iniciativa da AMI.
Em suma, as pessoas mais velhas teriam porventura comportamentos mais esperançosos e positivos, se o tempo
lhes permitisse recuperarem a sua juventude. Não sendo tal possível, cabem aos jovens essas grandes qualidades.
Naturalmente.
FIM
 Texto
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