Professor Marcelo Rosenthal – Língua Portuguesa
Recurso para os itens 12 e 13.
Embora eu tenha dado o gabarito correto para o item 12 (Gabarito: ERRADO),
considero que a anulação seria o mais justo pelos motivos que exponho a
seguir:
Item 12 – Em situações de paralelismo que envolvem preposição e artigo, há
algumas construções possíveis. Pela resposta concedida pelo CESPE-UnB,
depreende-se que a construção compreendendo preposição e artigo anterior
apenas ao primeiro substantivo do paralelismo é considerada inadequada.
Esse entendimento também se evidencia pelo gabarito de um item do
concurso para Analista do Ministério de Comunicações realizado em 2013 que
ora transcrevo: Os serviços públicos de radiodifusão sempre tiveram papel crucial na
sociedade democrática ao oferecerem acesso a informação, diversidade e identidade
cultural e mecanismos que colaborem com a participação dos cidadãos no debate
público.
- A correção gramatical do texto seria mantida se, em “acesso a informação”, fosse
empregado o acento indicativo de crase: acesso à informação.
O CESPE-UnB deu como gabarito ERRADO.
No entanto, avaliando outras questões:
PRF- 2002 - sendo o infrator sujeito às penalidades e medidas
administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas no
Capítulo XIX.
– A coerência do texto e as regras gramaticais seriam respeitadas, caso se
inserisse às imediatamente antes de “medidas” .
O CESPE propõe a inserção de preposição e artigo antes dos dois elementos
do paralelismo. O texto original do CONTRAN só vinha com preposição e artigo
antes do primeiro elemento, sem que houvesse qualquer crítica feita pela
banca.
Já no concurso para o IRBr de 2008, houve a seguinte questão:
4 - O fragmento “Diante da premência da fome, frio e desabrigo” pode, sem que se
contrarie a prescrição gramatical, ser reescrito da seguinte forma: Diante da premência
da fome, do frio e do desabrigo.
O item foi considerado correto. E esse item é mais significativo, quando se diz “pode
ser reescrito”. Ou seja, não se diz “é necessária a sua reescritura da seguinte
formapara que se estabeleça a correção gramatical”. Sendo assim, depreendo que o
texto original estava correto, com preposição e artigo somente antes do primeiro
termo.
Por fim, o gramático Celso Ferreira da Cunha, no seu livro “Gramática da Língua
Portuguesa”, aduz que a alternância de sequências com artigo e sem ele pode, em
certos casos, apresentar efeitos estilísticos apreciáveis. (página 239)
E na página 240, informa inclusive que “Não se repete, porém, o artigo
b) quando, no pensamento, os substantivos se representam como um todo
estreitamente unido.”
A seguir foi concedido o seguinte exemplo:
“O estudo (do folclore) era necessitado pela existência das histórias, contos de
fadas, fábulas, apólogos, superstições, provérbios, poesias e mitos recolhidos da
tradição oral.” (J. Ribeiro, FL, 6)
Seguindo a mesma linha de raciocínio do professor Celso Cunha, podemos
considerar que no fragmento “ligados a computação, informática, TI e análise
de sistemas”, os substantivos se representam como um todo estreitamente
unido.
Destarte, pelos motivos expostos, solicito à banca que anule o item.
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Quanto ao item 13, cabem algumas considerações:
Quando da correção, eu mesmo chamei atenção para o fato de que era
provável o CESPE indicar como gabarito ERRADO, pela não percepção de um
detalhe: o verbo no infinitivo. No entanto, há necessidade de se alterar o
gabarito pelos motivos que exponho a seguir:
A análise do item versa sobre a proposta de substituição de um verbo
impessoal – que não aceita a flexão no plural – por um verbo pessoal, que
comumente seria obrigado a concordar com o sujeito, que, no caso, estava no
plural, o que levaria, por consequência, a forma verbal para o plural. Tal
medida – a flexão no plural – realmente seria obrigatória, se não houvesse um
pormenor: as formas verbais presentes no texto estavam no infinitivo. E,
especificamente, no caso do verbo EXISTIR, o sujeito acabaria posposto, o que
nos abre a possibilidade de realizar duas construções: uma com o verbo no
infinitivo pessoal (flexionado na terceira pessoa do plural – EXISTIREM) ou no
infinitivo impessoal (sem flexão – EXISTIR).
Esse entendimento é corroborado pelo professor Celso Ferreira da Cunha
quando assevera, na página 458, do livro Gramática da Língua Portuguesa,
que “O emprego das formas flexionadas e não flexionadas do infinitivo é uma
das questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa.” No fim da mesma
página, aduz: “Por tudo isso, parece-nos mais acertado falar não de regras,
mas de tendências que se observam no emprego de uma e de outra forma do
infinitivo.”
Na página 459, é oferecido o seguinte exemplo: “Deixas correr os dias como as
águas do Paraíba?” (M. de Assis, OC, II, 119)
Analisando esse período, observamos que o termo “os dias” funciona como
sujeito de “correr”. E esse verbo no infinitivo não está flexionado, estando o seu
sujeito posposto. É justamente a mesma situação ocorrente no item em voga.
Já o professor Evanildo Bechara, na página 285 da obra
Moderna Gramática Portuguesa, esclarece que “Fora da locução verbal, “a
escolha da forma infinitiva depende de cogitarmos somente da ação verbal ou
do intuito de pormos em evidência o agente do verbo.”.
E vêm os seguintes exemplos:
“Estudamos para vencer na vida.”
“Estudamos para vencermos na vida.”
Por todo o exposto, solicito que o gabarito desse item seja alterado para
CERTO.
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