Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA RELAÇÃO ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO: ARTICULANDO CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA PÚBLICA Alessandra Gonçalves Soares (Instituto de Biologia, UFRJ – Bolsista PIBEX) Débora Lopes Salles(Instituto de Biologia, UFRJ – Bolsista PIBEX) Maira Rocha Figueira (Instituto de Biologia, UFRJ – Bolsista PIBEX) Thaís Lourenço Assumpção (Instituto de Biologia, UFRJ – Bolsista PIBEX) Maria Jacqueline G. S. de Lima (Faculdade de Educação, UFRJ) Financiamento: Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) RESUMO Neste trabalho, apresentamos algumas atividades e resultados do projeto “Relação Universidade-Escola: ampliando abordagens no Ensino de Ciências a partir da Educação Ambiental”, integrando ações de ensino, extensão e pesquisa na parceria universidade (UFRJ) e escola. São destacadas as práticas de formação continuada realizadas no laboratório de Ciências da Escola Municipal Orlando Villas Boas (Rio de Janeiro), transformado em sala ambiente de Educação Ambiental e Ciências. Nosso objetivo foi criar subsídios para a diversificação de estratégias de Ensino de Ciências e Educação Ambiental e suas interfaces, voltadas para professores do ensino regular e do Programa de Educação de Jovens e Adultos. Os recursos para a compra de materiais foram provenientes da FAPERJ. Palavras - chave: Educação Ambiental, Ensino de Ciências, Formação continuada, Parceria público-público. INTRODUÇÃO A gravidade da problemática socioambiental tem sido o mote de um sem número de projetos de Educação Ambiental (EA) nos contextos escolares e acadêmicos, públicos e privados. Frequentemente afastados de seu potencial crítico, estes projetos tendem a tratar a multifacetada questão de forma aligeirada, baseando ações e discussões no pragmatismo ambiental (LAYRARGUES e LIMA, 2011). Para estes autores, essa Educação Ambiental não privilegia reflexões e intervenções sobre as 148 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 origens e causas da crise ambiental, buscando apenas combater suas manifestações mais visíveis e diretas. De acordo com levantamento realizado em Anais de congressos de extensão e a partir de pesquisas sobre a Educação Ambiental escolar (CAVALARI, SANTANA E CARVALHO, 2006; LIMA, 2007; LIMA & VASCONCELLOS, 2007 e outros), argumentamos que tais projetos tem se mostrado pouco eficientes no que tange à superação dos problemas socioambientais das comunidades a que se destinam. Aliado a esse fato e relacionado ao caráter “agregador de valor” às empresas ditas “sustentáveis”, multiplicam-se os projetos empresariais de educação ambiental nas escolas e redes públicas de ensino (LAMOSA, 2010; LOUREIRO e LIMA, 2012), recebendo isenção de impostos e/ou fazendo propaganda de seu negócio dentro dessas instituições. Nesse contexto, é um desafio para secretarias de educação, universidades e instituições de fomento definir critérios para avaliar a relevância acadêmica e o caráter crítico e transformador desses projetos e pesquisas. Como coordenadora e bolsistas de um projeto de extensão e de pesquisa em Educação Ambiental da Faculdade de Educação da UFRJ, consideramos que, além da clara definição dos objetivos, referenciais teóricos, metodologia e fontes de financiamento, é fundamental que seja apreciado o potencial de articular ensino, pesquisa e extensão dos projetos ligados à universidade. Esse critério pode ser um divisor de águas para a avaliação da relevância social de projetos ou pesquisas que solicitam recursos públicos, sejam eles financeiros, estruturais ou humanos. A partir destes pressupostos se originou, em 2010, o projeto “Educação Ambiental para Professores da Educação Básica: perspectivas teóricas e práticas”, subprojeto do Projeto Fundão Biologia (Faculdade de Educação, Colégio de Aplicação e Instituto de Biologia da UFRJ). O mesmo está articulado à nossa pesquisa sobre Educação Ambiental nos contextos formais e não formais de ensino no Laboratório de Investigações em Educação, Ambiente e Sociedade (LIEAS/UFRJ), bem como à formação inicial e continuada de professores na Faculdade de Educação da UFRJ. Adotamos a perspectiva da Educação ambiental crítica: (...) que tem seu ponto de partida na teoria crítica marxista e neomarxista de interpretação da realidade social. Associa também discussões trazidas pela ecologia política que insere a dimensão social nas questões ambientais, passando essas a serem trabalhadas como questões socioambientais (DIAS, B. C, 2014). 149 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 A metodologia de nossas ações tem sua fundamentação no entendimento que a extensão deve estar relacionada aos contextos sociais dos sujeitos atingidos e à busca de meios para sua compreensão e superação na perspectiva da práxis, ou seja, da unidade entre teoria e prática. Buscamos estabelecer entre os participantes, bolsistas e coordenadora, uma interação na qual conhecimentos e experiências estabeleçam conexões entre a (s) realidade (s) escolares (s) e universitárias em questão. Estabelecemos parcerias com as Secretarias Municipais de Educação do Rio de Janeiro e de Maricá, com o Museu da Vida (Fiocruz), com o Núcleo de Educação Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (NEA/JBRJ) e, mais recentemente, com a Escola Municipal Orlando Villas Boas (RJ), com o objetivo de compartilhar subsídios teóricometodológicos para práticas escolares de Educação Ambiental a partir da elaboração de oficinas pedagógicas, materiais didáticos, palestras e minicursos. Por não se tratar de temática restrita ao ensino de disciplinas escolares específicas, o projeto destina suas atividades a professores em formação e/ou atuantes em qualquer disciplina e segmento de ensino. Nosso objetivo é discutir e problematizar temas polêmicos relacionados à Educação, ao ensino de Ciências/Biologia e à Educação Ambiental. Hoje, temos cerca de dez oficinas aplicadas nos mais diferentes contextos. Além das oficinas, produzimos materiais didáticos para a Educação Ambiental crítica, articulados ao ensino de Ecologia e de outras temáticas. Em seu quarto ano de existência e já com uma considerável lista de atividades, parcerias e desdobramentos, estamos escrevendo nossa história, revendo nossos objetivos, referenciais teóricos e perspectivas futuras, num exercício circular de relatos, observações e reflexões que nos possibilitem vislumbrar o passado e traçar linhas e ações futuras. Nesse movimento, nos damos conta que o mais diversificado e frutífero é o projeto “Relação Universidade-Escola: ampliando abordagens no Ensino de Ciências a partir da Educação Ambiental”, junto à Escola Municipal Orlando Villas Boas. Nesse artigo, descrevemos algumas das atividades realizadas e seus impactos na formação de professores de Ciências e Biologia, com os quais dialogamos mais de perto, mas também de outras disciplinas e do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) desta escola. O projeto “Relação Universidade-Escola: ampliando abordagens no Ensino de Ciências a partir da Educação Ambiental” 150 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 O projeto “Relação Universidade-Escola: ampliando abordagens no Ensino de Ciências a partir da Educação Ambiental” integra atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas na Faculdade de Educação e no Projeto Fundão Biologia. Realizamos ações de formação continuada voltadas para a ampliação das atividades desenvolvidas no Laboratório de Ciências da Escola Municipal Orlando Villas Boas (Rio de Janeiro, RJ), criando subsídios para a diversificação de estratégias de Ensino de Ciências e de Educação Ambiental. Nosso intuito foi ampliar e dinamizar a utilização do laboratório da escola, transformado em sala ambiente para o ensino de Ciências e outras disciplinas articuladas à Educação Ambiental, por meio da aquisição/produção de materiais e equipamentos de laboratório/horta escolar, modelos didáticos, equipamentos eletrônicos e outros que, potencializados pelas oficinas e atividades oferecidas pelo Projeto Fundão Biologia, contribuíram para a construção de novas formas de articular a Educação Ambiental aos currículos escolares. As atividades foram desenvolvidas no laboratório da escola e os equipamentos e materiais foram adquiridos com recursos provenientes do edital de Apoio às Escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). A FAPERJ também disponibilizou duas bolsas de Iniciação Científica e duas bolsas de Treinamento e Capacitação Técnica, estas últimas destinadas a professores da escola atingida. O projeto foi desenvolvido no ano de 2013, ao longo do qual, além dos resultados que relatamos a seguir - e como consequência deles - importantes vínculos foram construídos entre as bolsistas de iniciação científica (IC), professores da UFRJ (coordenadora e associados), coordenadores e professores da Escola Municipal Orlando Villas Boas, em torno do enfrentamento dos desafios de valorização da educação pública. Seus objetivos foram: 1) Aprofundar a relação Universidade-Escola por meio das atividades de extensão desenvolvidas e das relações estabelecidas com as instituições parceiras; 2) Contribuir para a formação continuada e inicial dos sujeitos envolvidos nas atividades realizadas; 3) Produzir um conjunto de metodologias e materiais didáticos voltados para a reflexão sobre o ensino de Ciências, a Educação Ambiental e a interface entre ambos; 4) Contribuir para a pesquisa sobre a Educação Ambiental nos contextos escolares, a partir da realização e avaliação das atividades previstas. 151 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Partindo do pressuposto que as atividades de extensão devem estar articuladas ao ensino e à pesquisa, nossa inserção na escola privilegiou a observação de estratégias e mediações didáticas criadas pelos professores em suas aulas, bem como a inserção curricular da Educação Ambiental nas disciplinas escolares, tema de nossa pesquisa. Nesse sentido, nos afastamos de visões sobre extensão e formação continuada como uma “doação” ou “transferência” de conhecimentos da universidade para a escola. Além de participarem de todas as etapas das ações de extensão ao longo de 2013, as bolsistas de iniciação científica acompanharam o trabalho das bolsistas de treinamento e capacitação técnica, desenvolvendo, coletivamente, atividades de laboratório relacionadas ao projeto e realizando observações e registros que, posteriormente, foram debatidos no grupo. Esse trabalho teve grande potencial formativo para as bolsistas de IC, que puderam observar duas professoras em ação, colaborando e participando ativamente de suas aulas; observamos, também, os impactos das oficinas no trabalho das professoras, consolidando vínculos pedagógicos e acadêmicos e ampliando nossos horizontes de ensino, pesquisa e extensão. Na próxima seção, apresentamos um resumo das oficinas e atividades do projeto. Todas as atividades realizadas contaram com instrumentos avaliativos, os quais, junto às observações das bolsistas, compõe o corpo empírico do trabalho que desenvolvemos. Oficinas para professores do ensino regular Oficina 1 - “Modelos didáticos: conceitos, potencialidades e usos através do terrário” A primeira oficina, intitulada “Modelos didáticos: conceitos, potencialidades e usos através do terrário” foi ministrada no dia 13 de março de 2013 pela doutora Mariana Cassab, colaboradora do projeto. Participaram 11 professores das disciplinas Geografia, Ciências, Matemática e Inglês. Foi realizada uma discussão teórica sobre modelos didáticos no ensino de Ciências e dois terrários foram montados– um representando o ecossistema Mata Atlântica, outro representando um ecossistema árido -, com a participação dos cursistas. Nesse momento, entregamos aos professores um DVD com a “Apostila de Modelos Socioambientais”, produzida em parceria pelas equipes dos projetos “Educação Ambiental para professores da educação básica: perspectivas teóricas e práticas”, e “Modelos no Ensino de Ciências e Biologia: 152 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 materiais didáticos e oficinas pedagógicas para professores da Escola Básica”, coordenado pela professora Mariana Cassab. O DVD continha, também uma apostila sobre terrário, produzida pela professora Mariana Cassab e seus bolsistas. Ressalta-se que, ao longo do ano letivo, os terrários foram aproveitados pelos professores de Ciências em diversas atividades, acompanhadas pelas bolsistas de Iniciação Científica e relatadas pelas bolsistas do projeto. Ao final da oficina, distribuímos uma avaliação para os professores cursistas, na qual indagamos a respeito dos objetivos, metodologia, conteúdos, aplicabilidade na prática docente e potencial formativo. Os professores, de forma geral, consideraram que a atividade foi produtiva, que os objetivos e metodologia estavam claros e que a mesma propicia a diversificação de conhecimentos e atividades nas aulas de Ciências. Também consideraram que a mesma está relacionada às suas práticas docentes nas disciplinas de Ciências e matemática e que propicia a interdisciplinaridade. Um professor mencionou a falta de estímulo para o desenvolvimento de atividades como essa, pois a mesma requer tempo e que a grande quantidade de conteúdos e a indisciplina dos alunos, são obstáculos difíceis de serem transpostos. Oficina 2 – “Educação Ambiental escolar e sustentabilidade: desafio para práticas e pesquisas” Esta oficina foi oferecida pela coordenadora do projeto no dia 17 de abril de 2013, sobre a temática Educação Ambiental e sustentabilidade. Contamos com 17 professores das disciplinas Língua Portuguesa, Ciências, História e Matemática. Inicialmente, foi prevista a sua apresentação nos dois turnos, mas, devido a reuniões pedagógicas marcadas para o mesmo dia que ultrapassaram o horário previsto, a mesma aconteceu apenas no turno da tarde, e em tempo reduzido. Nosso planejamento era abordar as noções de Educação Ambiental e sustentabilidade em sua polissemia para, em seguida, apresentar algumas questões da Educação Ambiental escolar e finalizar com dois pequenos vídeos sobre consumo. Não foi possível aprofundar os temas devido à falta de tempo. Recebemos apenas seis avaliações, com respostas às perguntas sobre conhecimento e identificação com as diferentes concepções de EA, trabalhos de Educação Ambiental desenvolvidos em suas disciplinas, contribuições da oficina para sua prática docente e para a ideia de sustentabilidade. A maioria afirmou que se 153 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 identificou com a Educação Ambiental crítica. Em relação às contribuições da oficina sobre a concepção de sustentabilidade, obtivemos as seguintes respostas: Trouxe a ideia de possibilidade do debate dobre sustentabilidade com análise crítica de esquemas e propagandas que estão relacionadas com o dia a dia do cidadão. A possibilidade de trabalhar a questão da transformação ambiental em cada período histórico. Oficina 3 – “Experimentos Didáticos de Ciências” Em 26 de junho recebemos a professora da Faculdade de Educação Maria Margarida Gomes, colaboradora do projeto, que ofereceu a oficina “Experimentos Didáticos de Ciências” para a equipe de Ciências da escola. Foi abordada a questão da elaboração de roteiros para a construção de aulas práticas, e a professora convidada, juntamente com seus estagiários, mostrou diversas maneiras de criar experimentos didáticos para promover o ensino de Ciências de forma lúdica, utilizando materiais de baixo custo e discutindo a importância e a história da experimentação no ensino de ciências. A oficina de experimentos didáticos foi muito produtiva, pois o grupo de professores relatou ter dificuldade em realizar experimentos didáticos com seus alunos, por falta de tempo, estrutura e de materiais adequados. Oficinas para professores do programa de educação de jovens e adultos (PEJA) Oficina 1 – “Arroz, Feijão, Saúde e Educação”. A coordenadora do PEJA se mostrou muito receptiva ao nosso trabalho e nos apresentou algumas particularidades dos professores e alunos do programa, que, no turno da noite, atende a alunos do ensino fundamental I (séries iniciais). A primeira oficina, intitulada “Arroz, Feijão, Saúde e Educação”, foi realizada no dia 24 de maio de 2013. Seu objetivo foi discutir questões relacionadas à alimentação, qualidade de vida e uso de agrotóxicos, na perspectiva da Educação Ambiental crítica, focalizando o caráter político, social e ambiental da problemática. Passamos uma versão (editada pelo grupo) do documentário “O veneno está na mesa”, de Silvio Tendler, complementado com informações e imagens selecionadas do acervo do projeto a respeito do consumo de agrotóxicos no Brasil e no mundo. Em seguida, pedimos que os professores elaborassem um projeto pedagógico para trabalhar 154 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 o tema com seus alunos. Esse projeto foi enviado para nós algumas semanas depois. O debate foi bastante produtivo: em vários momentos os professores comentaram que muitos alunos, devido à sua origem em áreas rurais do nordeste ou do estado do Rio, tem conhecimentos sobre uso medicinal e/ou culinário de ervas e temperos. Nesse sentido, o tema foi muito enriquecedor para os professores, com interessantes desdobramentos em suas práticas pedagógicas. Esse contato, para nós, foi um desafio e um prazer, pois temos pouca experiência com a Educação de Jovens e Adultos, e as questões e desafios relatados pelos professores nos estimularam a nos dedicar, futuramente, a esse segmento. Das avaliações recebidas, surpreendeu o fato de poucos professores conhecerem os malefícios dos agrotóxicos, bem como a Monsanto, corporação que produz defensivos agrícolas e espécies transgênicas. Uma das professoras nos relatou sua satisfação ao passar por uma manifestação no centro contra a Monsanto e, depois de ter tomado conhecimento das atividades dessa empresa por intermédio da oficina, pode compreender melhor o teor da manifestação. Após a oficina, o grupo produziu um projeto de trabalho, apresentado após o resultado das avaliações. As atividades com o grupo de professores do PEJA diurno foram desenvolvidas pela bolsista de treinamento e capacitação técnica Tatiana Abreu. Oficina 2- “Experimentos Didáticos de Ciências” Em 8 de novembro recebemos mais uma vez a professora Maria Margarida Gomes, que ofereceu a oficina “Experimentos Didáticos de Ciências”. A professora convidada, juntamente com seus estagiários, mostrou diversas maneiras de criar experimentos didáticos para promover o ensino de Ciências de forma lúdica, utilizando materiais de baixo custo e discutindo a importância e a história da experimentação no ensino da disciplina. A oficina foi muito produtiva, pois o grupo de professores relatou ter dificuldade em trabalhar Ciências com seus alunos, e consideraram que a realização de experimentos didáticos utilizando materiais de baixo custo pode ser bastante motivadora para o grupo. Oficina 3 – “Educação Ambiental e sociedade: consumo e alimentação” Em 29 de novembro de 2013, a coordenadora do projeto e as bolsistas de IC ofereceram a oficina “Educação Ambiental e sociedade: consumo e alimentação” para os professores do PEJA noturno. Retomamos a discussão sobre alimentação iniciada na 155 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 primeira oficina, focalizando, mais especificamente, os alimentos industrializados e as substâncias tóxicas neles inseridas, relacionado esses fatos ao modelo agrário e ao sistema socioeconômico vigente no país. Trabalhamos também com análise de rótulos de alimentos a partir do texto “Não deixe o supermercado te enganar” (disponível em http://revistagotas.com.br/nao-deixe-o-supermercado-te-enganar/). também, um fragmento do documentário Foi “Brasil utilizado, orgânico” (http://www.youtube.com/watch?v=vuDa_NuLkT8), de Kátia Klock e Lícia Brancher, produzido em 2013. Nesse vídeo, são abordados os riscos dos agrotóxicos e o desenvolvimento da agroecologia e da agricultura orgânica. Os professores foram estimulados a buscar, nos rótulos, os aditivos presentes em quantidade e qualidade, e pesquisar seus efeitos nocivos nas informações do texto. Mais uma vez, nos deparamos com o desconhecimento do grupo sobre o assunto, reflexo da falta de esclarecimento a respeito do que ingerimos nos alimentos industrializados. Esse fato aponta para a relevância de atividades como essas serem desenvolvidas com professores e alunos, cumprindo uma das funções primordiais da escola, qual seja, a de informar e desenvolver, nos alunos, uma visão crítica a respeito da sociedade. Finalizamos com uma discussão sobre a necessidade e os possíveis caminhos para se buscar uma alimentação saudável, baseada em produtos naturais e, preferencialmente, orgânicos. Atividades voltadas à comunidade escolar: Horta Escolar A oficina aconteceu em 27 de novembro e estiveram presentes os professores de Ciências, uma professora do PEJA, alunos do PEJA e as bolsistas do projeto. O paisagista ensinou algumas técnicas de jardinagem e de horta escolar, uma das demandas principais dos professores de Ciências. A maior participação foi dos alunos do PEJA, que tiveram a oportunidade de compartilhar saberes adquiridos em suas vivências. Aproveitando a presença do paisagista e dos alunos, foi montada uma pequena jardineira e os alunos sentiram-se à vontade para manusear a terra e todos os outros recursos da horta, além de tirar dúvidas referentes a esse assunto. A equipe docente optou por iniciar o projeto da horta em 2014, já que os professores estavam em período de reposição de aulas e que, em seguida, viria o recesso escolar, impossibilitando o cultivo e a manutenção das hortaliças. 156 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Inauguração da Sala Ambiente de Educação Ambiental e Ciências A última atividade realizada na escola foi a Inauguração da Sala Ambiente de Educação Ambiental e Ciências da E.M. Orlando Villas Boas, que aconteceu nos dias 12 e 13 de dezembro. As atividades ocorreram durante dois dias inteiros e tiveram como público alvo os alunos do ensino fundamental regular nos turnos manhã e tarde, bem como os professores. Nossos objetivos foram: • Apresentar aos alunos e professores a nova Sala Ambiente; • Dar maior visibilidade ao Projeto; • Trabalhar temáticas da Educação Ambiental; • Mostrar aos professores diferentes formas de trabalhar a Educação Ambiental em diferentes disciplinas. • Introduzir a temática socioambiental junto ao corpo discente. Para as turmas do 6º e 7º anos, foi apresentado o documentário “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado (1988). Em seguida, distribuímos o texto “Meus 11 anos de lixão”, produzido pelas bolsistas de IC e extensão, que foi lido coletivamente. Solicitamos aos alunos do 7º ano que escrevessem um final para o texto, enquanto os do 6º deveriam fazer um desenho de um objeto qualquer, mostrando o caminho percorrido da produção ao descarte final. Da leitura e tabulação dos textos recebidos, percebemos que 51% criaram finais positivos ou esperançosos para a família que vivia no lixão: destes, 12 (19%) foram associados à escola/universidade ou ao trabalho, apontando para uma valorização dos estudos e do trabalho por parte do grupo de estudantes da escola. Com o 8º e 9º anos, fizemos uma discussão sobre consumo, com base nos vídeos “Volkswagen: perfeito para a sua vida” (http://www.youtube.com/watch?v=2rnpIEcjWhk) e “Necessário para a sua vida?” (http://www.youtube.com/watch?v=9iIEn4XkKkk), uma problematização ao primeiro. Em seguida, distribuímos e lemos o texto “A roupa da vez”, produzido pelas bolsistas de IC e extensão. A partir dos vídeos e do texto, fizemos um debate sobre consumo e consumismo, mediado pelas bolsistas. Foi interessante notar que há uma dificuldade em identificar ou distinguir um “sonho de consumo” de “um sonho que não envolve consumo”. Isso se deve, talvez, ao fato de que, na sociedade atual, poucas coisas podem ser adquiridas ou conquistadas, direta ou indiretamente, sem dinheiro. No entanto, algumas respostas se repetiram, como, por exemplo: “felicidade”, “saúde”, “unir, ajudar ou manter uma família”, 157 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 “viajar”, “ter um bom trabalho”, “construir um mundo melhor (sem violência, poluição ou doenças)” e “fazer faculdade”, no quesito “sonho que não envolve consumo”. Isso pode ser um indicativo que, apesar dos apelos da sociedade de consumo sobre os adolescentes, seus maiores reféns, uma boa formação, trabalho, família e felicidade são valores/objetivos almejados por eles. CONSIDERAÇÕES FINAIS Acreditamos que a experiência obtida ao longo do ano de 2013 foi positiva para conhecermos a dinâmica da escola, seus desafios e potencialidades. Tivemos a oportunidade de interagir com professores, alunos e funcionários, alcançando, assim, uma relação satisfatória entre Universidade e Escola. Encontramos dificuldades de diversas naturezas, como uma greve que nos afastou fisicamente da escola por dois meses e a resistência de alguns membros da escola. Ao longo do tempo em que estivemos na escola, também fomos testemunhas das dificuldades encontradas pelos professores para desenvolverem um trabalho crítico e reflexivo num contexto político e educacional marcado pelo controle das atividades, do currículo, do tempo e dos materiais didáticos utilizado pelos professores; percebemos, também, seus movimentos de resistência, personificados nos esforços para introduzir, na escola, questões sociais e ambientais, a partir da produção e seleção de materiais didáticos mais próximos das necessidades e demandas do corpo de alunos. As dificuldades encontradas para reunir os professores e desenvolver as atividades do projeto estão, em grande parte, relacionadas às inúmeras demandas da Secretaria Municipal de Educação e da própria escola, que praticamente esgotam as possibilidades do corpo docente participar de atividades de formação continuada. Ainda assim, as avaliações dos professores, que se mostraram muito interessados e participaram ativamente das oficinas, apontaram para a produtividade e a necessidade de investirmos em projetos como o que realizamos. Ressaltamos a importância de parcerias “público-público”como essa, pois, num contexto de abertura das escolas para projetos empresarias e/ou de parcerias público privadas, é fundamental que os setores públicos reúnam forças e saberes em prol da superação das dificuldades vividas por seus atores sociais. Finalizamos com um comentário de uma professora de Ciências sobre o projeto: “Obrigada pelo apoio e pelas oficinas, foi muito bom o convívio com vocês; e de oportunizarem um laboratório mais digno para o nosso trabalho e aprendizado do aluno. Beijo”. 158 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Referências bibliográficas DIAS, B.C.O que é a EA Crítica?In Blog Educação Ambiental Crítica [online]. Disponível em http://eacritica.wordpress.com. Acessado em abril de 2014. CAVALARI, Rosa Maria F.; SANTANA, Luiz Carlos & CARVALHO, Luiz Marcelo. Concepções de educação e educação ambiental nos trabalhos do I EPEA. In: Pesquisa em Educação Ambiental: abordagens epistemológicas e metodológicas. vol. 1, n.1 – pp. 141-173, 2006. LAMOSA, Rodrigo de Azevedo Cruz. A Educação Ambiental e o novo padrão de sociabilidade do capital: um estudo nas escolas de Teresópolis (RJ). 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