POLÍTICA DE EXTENSÃO UNIVERSIVERSITÁRIA E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA: ENTRE A AUTONOMIA DOCENTE E O DESCASSO INSTITUCIONAL1 Sidnei Lopes Dos Santos Junior2 Hugo Norberto Krug3 Resumo: O objetivo deste artigo é propor uma discussão sobre política de extensão e formação inicial de professores de Educação Física na ambição de identificar os prejuízos que uma indefinição prática da política de extensão acarreta para a efetivação de uma extensão universitária intimamente atrelada a formação inicial de professores de Educação Física, a pesquisa e em contato com a comunidade escolar. Relatamos que a extensão enfrenta problemas como: a valorização excessiva á pesquisa o que inibe a participação docente e discente na extensão, a política de extensão é meramente documental, ocasionado desequilíbrios de ações na extensão e o isolamento social da universidade e o princípio legal da indissociabilidade existe apenas enquanto discurso e em documentos oficiais. Em seguida, propomos a superação dessa concepção fragmentada de formação por meio da adoção de uma concepção crítica de universidade onde a extensão estaria intrinsecamente ligada ao ensino e a pesquisa, constituiria na sua característica básica. A extensão passaria a ser entendida como tema curricular se transformando em ensino e pesquisa, exigindo o comprometimento destes com a realidade, onde o conhecimento produzido e transmitido seja inserido e contextualizado nesta realidade. Palavras-chave: Educação Física, Formação de Professores e Extensão Universitária Para a maioria dos professores de Educação Física, a formação profissional começa com o ingresso no curso de formação inicial compreendendo atividades de ensino, pesquisa e extensão. De acordo com Nascimento (1998, p. 49) formação inicial “(...) é a denominação ”freqüentemente atribuída àquela etapa de preparação voltada ao exercício ou qualificação inicial da profissão”. Já para Carreiro da Costa (1994, p. 27), a formação inicial dos professores é entendida como “o período durante o qual o futuro professor adquire os conhecimentos científicos pedagógicos e as competências necessárias para enfrentar adequadamente a carreira docente”. Este período é importante na formação de professores, pois é a partir dele que os futuros docentes irão adquirir os conhecimentos indispensáveis para a sua atuação. É a partir da formação inicial que serão desenvolvidas as atitudes, ações, o projeto político-pedagógico do professor (FARIAS, SHIGUNOV, NASCIMENTO, 2001). 1Este estudo é parte integrante da Monografia de Especialização apresentada ao PPGCMH do CEFD/UFSM em janeiro 2006. 2Autor, professor de Educação Física, especialista em Ciência do Movimento Humano, sub-area Pedagogia do Movimento Humano e Mestrando em Educação PPGE/CE/UFSM. e-mail: [email protected] 3Orientador, Prof. Dr. do MEN/CE/PPGE/UFSM. 2 Na tentativa de avançar nesta discussão, em recente estudo de caso de Santos Junior (2006) acerca da extensão universitária do CEFD/UFSM e suas implicações na formação inicial for de professores de Educação Física trouxe à discussão acadêmica a política de extensão universitária, principalmente porque grande parte dos docentes envoltos em projetos de extensão afirmaram através de entrevistas que existem sérias lacunas na política de extensão universitária a nível federal, de universidade, de Centro e até mesmo departamental que inibem uma ação formativa concreta via extensão. Assim, tem-se abaixo o relato do professor G. A uma falta, necessidade de o CEFD e a própria universidade embora tenha, mas ainda não é clara, não é transparente, não é divulgada (...) é uma política de extensão clara, uma política de gestão, bom, o CEFD vai ter uma política e dentro desta política nós vamos considerar que isso é importante, que isso é relevante, que isso é prioridade e não trabalhar de forma acidental, o que a gente vê hoje são professores, em função de sua especialização, da sua vontade, de seu interesse, fazem seus guetos, fazem seus grupos e desenvolvem seus trabalhos, sem saber se aquilo é importante, é relevante ou tá dentro de uma política de extensão da instituição ou do curso ou do Centro ou da área. Nesse sentido, o presente estudo procura tecer uma interface entre política de extensão e formação inicial de professores de Educação Física na ambição de identificar os prejuízos causados a por esta inexistência de uma política de extensão tem ocasionado para a efetivação de uma extensão universitária intimamente atrelada a prática pedagógica crítica, a pesquisa e em contato com a comunidade e em especial a escolar. Retomando a discussão anterior, na tentativa de construir a atual conjuntura da extensão do CEFD nos remetemos novamente ao estudo de caso de Santos Junior (2006) na qual o mesmo identificou a inadequação da extensão diante da sociedade atual e das exigências formativas impostas pela LDB e pelo próprio mercado de trabalho quanto ao papel do professor de Educação Física. Para Santos junior (2006), a não definição e principalmente efetivação de uma política de extensão tem ocasionado alguns desequilíbrio das ações extensionistas, acarretando prejuízos a formação inicial de professores, elecando os seguintes aspectos: tem-se que 73%, ou seja, 24 dos 34 projetos de extensão do Centro de Educação Física e Desportos se desenvolviam na própria universidade, e contando com apenas 1 projeto de extensão na escola, o que gera muitas preocupações, na medida em que a universidade afasta-se da realidade da comunidade e no caso de uma licenciatura, afasta-se da escola, seu principal objeto de estudo e mercado de trabalho. Quando foi enfocado o público participante dos projetos, verificou-se uma situação similar, na medida em que grande parte dos projetos estavam voltados principalmente para as populações de idosos e a população geral, 3 englobando 89% do total de participantes. A concepção de ensino da Educação Física predominante na extensão foi biológica-funcional, algo que também gerou preocupações formativas, causada pelas sua característica de valorizar apenas os aspectos extritamente biológicos do movimento humano, negando toda a cultura corporal que os perpassa. Para Kunz (1994, p. 106) esta concepção de ensino valoriza essencialmente, como atividade de ensino, o exercício físico. A Educação Física tem como função, o condicionamento físico dos alunos. Prescreve-se, assim, atividades físicas - inclusive o esporte - de forma sistemática, metódica, e diferenciada para diferentes grupos de acordo com a idade e o sexo. O interesse dos profissionais que adotam esta concepção e a transmissão da quantidade e da qualidade de exercícios físicos em um nível ótimo de acordo com a idade e o sexo, com o sentido de promover a saúde dos atingidos. Mesmo o esporte, anteriormente já referido, entra enquanto atividade física especialmente para a melhoria do sistema cardio-pulmonar e não como atividade de lazer ou competição. Os conhecimentos mais trabalhados via extensão seguiram esta concepção que valoriza apenas os aspectos biológicos do movimento humano, inviabilizando transformações sociais e paedagógica mais densas, assim temos: ginásticas de toda ordem, musculação, caminha e corrida entre outros. A respeito da participação docente na extensão constatou-se que apenas 11 de um universo de cerca de 24 docente estavam coordenando um ou mais projetos de extensão, fato que também nos preocupa, na medida que o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão fica comprometido, impossibilitando a trafegabilidade do saber em diferentes perspectivas formativas. Quanto a interdisciplinaridade, identificou-se que apenas 8 projetos de extensão de um universo de 32 eram interdisciplinares, ou seja, se relacionavam com outros centros da UFSM, denotando também uma carência de que segundo Baggio (2000) prejudica a articulação entre os conhecimentos refere-se à capacidade de perceber os fenômenos culturais, de modo especial o processo pedagógico da Educação Física, numa perspectiva integrada, buscando superar a fragmentação dos saberes e compreender a sua inserção num contexto maior. Embora se reconheça as eventuais contribuições para a formação inicial de professores de Educação Física desta conjuntura, percebe-se que a mesma se direciona de maneira não planejada e até mesmo acidental à caminhos formativos diversos e inadequados aos interesses políticos e formativos da própria universidade, da LDB e do mercado de trabalho, na medida que a extensão se desvincula da pesquisa e do ensino, pela reduzida participação de docentes efetivos na extensão, pelas grandes dificuldades de se envolver nas comunidades a sua volta, por outro lado, a clientela atendida pelas ações de extensão tende a estar também concentrada em grande parte no próprio setor universitário, composta por discentes da UFSM, 4 funcionários técnico-administrativos docentes da UFSM, que passam de agentes deste processo para publico - alvo da extensão como já constatou Hunger (1998). Isto segundo Tavares (apud HUNGER, 1998) se denomina “extensão para dentro”, já detectada pôr esta autora que parece se desenvolver de forma assistencialista, como prestação de serviços. Contrastando com isso, tem-se a política de extensão equivocada do governo federal com a reedição do projeto Rondon, criado inicialmente na década de 70 no regime militar e que tinha a seguinte justificativa: aqueles que estão nos grandes centros têm condições de ter uma formação razoável; então eles, pelo menos em certos períodos do ano, devem ir a regiões menos desenvolvidas e prestar serviços (SAVIANI, 1984, p. 53). Esta concepção segundo Saviani (1984) também contém uma visão assistencialista de extensão uma vez que aqueles que tem, que sabem, prestam assistência àqueles que não tem, que não sabem e acaba por afastar o acadêmico dos reais problemas sociais regionais, e á um custo oneroso aos cofres públicos. O projeto Rondon é esporádico, mas a atividade de extensão é uma função que a universidade deveria desenvolver permanentemente em relação á própria região em que está inserida. Sant'anna (1992) é de opinião que o trabalho de extensão representa o único caminho para a recuperação da função social da Universidade e restauração da sua credibilidade, na medida em que sensibiliza a comunidade, dando respostas concretas aos seus problemas. Nos remetendo novamente a LDB, Gallardo (2000) afirma que com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, em dezembro de 1996, delineiase novas perspectivas para a Educação Física, que em seu art. 26, apresenta o seguinte: “§ 3° A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos”. Esse parágrafo tem provocado intensos movimentos e discussões entre profissionais da área, porque possibilita inúmeras interpretações, mas o certo é que a Educação Física é obrigatória na Educação Básica e que, portanto a universidade como formadora de professores de professores de Educação Física, deve garantir uma formação adequada a este mercado de trabalho, que de acordo com o estudo de Delgado (1998) realizado na cidade paulista de Campinas absorve cerca de 56% dos profissionais de Educação Física com até 3 anos de formados. Como podemos perceber a relação extensionista entre universidade – escola não está ocorrendo e como afirmam Negrine (2002) e Krug (2001) as licenciaturas em Educação Física apresentam uma formação inicial limitada, com poucas práticas pedagógicas em contato direto com a realidade educacional e com práticas de ensino apenas nos finais dos cursos e 5 não durante os cursos de licenciatura, onde a extensão surge como uma importante ferramenta institucional com a finalidade de complementar o currículo, de dar-lhe uma conotação pragmática, como afirmam Farias, Shigunov e Nascimento (2001, p. 27). Durante o período de formação inicial, torna-se importante que o aluno tenha o contato com a realidade em que futuramente irá atuar, de modo a amenizar o impacto com a realidade, principalmente para aqueles que irão desempenhar as suas funções docentes em escolas públicas. Deve-se observar que subjas a esta argumentação a sinalização de começar a pensar e efetivar uma nova concepção de extensão e portanto de universidade diversa da vigente, calcada tão somente na autonomia docente e no assistencialismo como afirma Professor L e D respectivamente. A coisa não é uma tomada política, e muito mais no pessoal, na vontade própria, e isso nos temos questionado bastante, eu pessoalmente tenho colocado isso no departamento que faltam metas e ações, e quando se fala em metas e ações, a questão e a seguinte, o departamento tem que chega e olha aqui o, tu não vai mais fazer isso, há, mas eu quero fazer, então tudo bem, mas então tu tem que me garantir esta produção, esta formação, isto é o que a universidade precisa, o Centro precisa, o departamento precisa, aqui é um erro, acho que nesse aspecto tá fraco, esta intervenção política em termos de orientação (...). (...) vai na autonomia do professor (...) na verdade existem algumas linhas que a gente deve se encaixar, mas o que acontece é o contrário, o indivíduo cria o seu projeto e depois vê onde ele se encaixa, deveria ser ao contrário ( PROFESSOR D). Não obstante, Baggio (2000) constatou que este problema encontrado na extensão universitária, ou seja, a quase inexistência de uma política de extensão, não se restringe apenas a esta função, mas também ao ensino e possivelmente a pesquisa, pois segundo suas palavras não existe um perfil claro e definido de profissional formado pelo CEFD/UFSM. As abordagens são amplas, refletindo ambigüidades, onde cada aluno se direciona para onde ele deseja. Porém, os alunos afirmam que tem de contemplar a sua formação e buscar o conhecimento por conta própria, pois se sentem despreparados para enfrentar a realidade, principalmente em relação à área escolar. Entretanto, para Santin (1988) ao nível do ensino e da pesquisa, a situação se mostra tranqüila se comparada há extensão. Esta área aparece como algo indefinido, uma atividade secundária, que se for feita ou não, aparentemente não se muda nada. Denotando uma clara desvalorização da extensão diante do ensino e principalmente da pesquisa. 6 Esta situação contrasta negativamente com o objetivo geral da extensão da UFSM válidos até o ano de 2001, mas que não foram encontrados subsequentes que versa o seguinte que versa sobre a equidade de forças entre pesquisas, ensino e extensão aprofundar os vínculos existentes entre a UFSM e a sociedade, com o propósito de alcançar novas alternativas de transformação da realidade, na qual, mediante ações extensionistas, se reafirme o ideal de construção e fortalecimento da cidadania, num contexto político democrático e de justiça social. (UFSM, 1998, p. 16) E também com o próprio conceito de extensão elaborado Através do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das universidades públicas brasileiras. Assim, consta nesse mesmo documento publicado pela UFSM a definição do que seja extensão universitária: A extensão Universitária é um processo educativo, social, cultural e científico que deve articular o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabilizar a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A extensão é uma via de mão dupla, com transito assegurado à comunidade acadêmica que encontrará, na sociedade, a oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No seu retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento científico. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como conseqüência: a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, e a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade. Além de instrumentalizadora desse processo dialético de teoria/prática, a extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social (UFSM, 1998, p. 11). Em suma, tem-se um conjunto de objetivos e conceitos de larga data mas sem aplicabilidade prática, o que os tornam como meros documentos decorativos que atendem a exigências legais. Pois observa-se que o compromisso social da universidade via extensão esta comprometido, bem como sua capacidade formativa pela adoção de uma concepção tradicional ou funcionalista de universidade, onde a extensão é entendida segundo Silva (2000) como uma função específica, autônoma, sendo a desarticulação com o ensino e a pesquisa praticada e considerada natural, se baseando numa perspectiva a-política e assistencialista, com um discurso inflamado que coloca a extensão na condição de representar a saída para a universidade no sentido de desenvolver o vínculo com a sociedade, mas contraditoriamente, na prática, ela acaba de reduzir-se à ações esporádicas, eventuais e secundárias. Hunger (1998) por outro lado levanta a problemática da hipertrofia da pesquisa ante as atividades de ensino e extensão que começou a se consolidar a partir da segunda metade da década de 60, com a reforma Universitária (lei n.º 5.540/68) evidenciou-se uma inversão da 7 tendência tradicional da universidade publica brasileira que até então se caracterizava como uma instituição de ensino, pois estava presente prioritariamente na prática das universidades o ato de ensinar, identificado pela transmissão e apropriação do conhecimento acumulado. A sala de aula, a relação professor e aluno era o espaço por excelência dessa atividade acadêmica. A partir desta referida lei a pesquisa passou a ser a sua atividade principal. O corpo docente deveria exercer atividades inerentes ao sistema, articulando de maneira indissociável o ensino à pesquisa e esta a pós – graduação. Adotou-se, como regime preferencial de trabalho, a dedicação integral à docência e à pesquisa. Para Marques (2001) em nosso século o desenvolvimento da função da pesquisa se faz num ritmo mais rápido do que a função do ensino no seio das universidades. Não obstante, a universidade contemporânea, com imensas responsabilidades sociais que segundo este autor não poderá atender senão na unidade de sua atuação, indecomponível das dimensões da extensão4, da pesquisa e do ensino. Hunger (1998) constatou ainda que em legislação paralela que modificou o estatuto do magistério das instituições federais de ensino superior (lei n. º 5.539/68), a progressão na carreira docente foi estabelecida de acordo com os graus acadêmicos de mestre e doutor. Assim, o trabalho em tempo integral e de dedicação exclusiva recebeu incentivos eficazes para fixar os professores/pesquisadores na Universidade. Como conseqüência destas leis, a hierarquia de valores acadêmicos há tempo vem favorecendo um destaque maior para a função da pesquisa ante ao ensino e principalmente a extensão. De acordo com a observação de Anastasiou (1998, p. 156), (...) institucionalmente, ocorre “uma soltura, um desconhecimento deliberado” quanto à questão ensino e “um controle, uma normatização e uma meritocrática”, quanto à questão pesquisa (...). Com relação ao interesse institucional, o número de professores em especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado faz parte dos itens de valorização dos cursos, derivando daí resultados de avaliação nacional das instituições de ensino superior, autorização para a implementação de cursos de pósgraduação, etc. No entanto, o número de alunos atendidos, coletiva ou individualmente, no trabalho docente de cada professor e a qualidade do processo de ensino-aprendizagem no mesmo não recebem equivalente peso avaliativo. Entretanto, de acordo com o artigo 207 da Constituição de 1988 “as universidades gozam de autonomia didática-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, ou seja, o tripé constitui o eixo fundamental da universidade brasileira e não pode ser compartimetado e 4A extensão é entendida por Marques (2001) com o sentido da inserção da universidade e da permanente atenção ao contexto, na busca, pela reflexão crítica e prática teórica, de maior amplitude de visão apropriada às situações particulares concretas. 8 devem ser equivalentes e merecer igualdade em tratamento por parte da instituição de ensino, pois do contrário estarão violando esse preceito constitucional. Alternativas para mudar este quadro que se encontra a extensão e o princípio da indissociabilidade existem e não são poucas. A mudança mais drástica seria a adoção de uma concepção crítica de universidade, com uma nova leitura da extensão radicalmente diferente da anterior. Silva (2000) afirma que nela a extensão estaria intrinsecamente ligada ao ensino e a pesquisa, constituiria portanto na sua essência, sua característica básica. A extensão pasaria a ser entendida como matéria curricular se transformando em ensino e pesquisa, exigindo o comprometimento destes com a realidade, onde o conhecimento produzido e transmitido seja inserido e contextualizado nesta realidade. Outra medida necessária para a valorização da extensão e também adotar um sistema avaliativo da mesma. Silva Filho (1994) é de opinião de uma das razoes para a existência deste tratamento privilegiado dado a pesquisa é que nela os critérios de avaliação são mais bem estabelecidos, embora questione a objetividade absoluta destes critérios. Critérios semelhantes ainda não estão consolidados na área de extensão, constituindo-se como um forte obstáculo para que a real valorização ocorra de nas carreiras docentes. Estas questões levantadas aqui precisam ser refletidas não penas na extensão, mas como vimos na universidade como um todo, a fim de ao menos justificar o tratamento dado a atividade de extensão, bem como a própria universidade deve passar por uma reflexão semelhante, a fim de estabelecer-se objetivos e metas periodicamente assumindo juntamente com a comunidade acadêmica e da região adequados as exigências e dispositivos legais e formativos. No entanto, é inoportuno pensar que a extensão universitária em Educação Física estará possibilitando significativas transformações sociais, diante do isolamento social do ensino e da pesquisa na formação do graduando e na relação universidade e sociedade. De acordo com Hunger (1998) quando muito, poderá ela propiciar que alguns docentes vislumbrem a possibilidade da relação entre a teoria e a prática na formação profissional e que se sintam mais aliviados pelos seus atos assistências a uma comunidade carente. Contudo falar em transformações sociais e em indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão parece um tanto quanto utópico se considerarmos que tanto a universidade pública brasileira encontra-se em crise de identidade como a própria Educação Física. Ambas padecem de debates e definições políticas, sociais, científicas e educacionais há anos, sem as quais fica inócua qualquer perspectiva de mudança nos rumos da formação profissional em Educação Física, considerando-se também que sequer sabemos que profissional tanto a 9 universidade como o CEFD pretende formar para enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exploratório e onde a severidade da síndrome do Burnout5 entre os profissionais de ensino já é, atualmente, superior à dos profissionais de saúde, o que coloca o magistério como uma das profissões de alto risco. E por fim, a extensão em meio a este cenário tem sofrido com a negligência e descaso de ambas as partes, tanto governamental, como da própria universidade ficando seus rumos escorados nas costas de alguns poucos docentes, que por vontade própria, persuasão, dedicação e principalmente por acreditarem na extensão não apenas como um veículo de formação profissional, mas como um meio de se relacionar reciprocamente com a sociedade. Referências bibliográficas ANASTASIOU, L. das G. C. Metodologia do Ensino Superior: da prática docente a uma possível teoria pedagógica. Curitiba: IBPEX Autores Associados, 1998. BAGGIO, I. C. A Prática Curricular do CEFD/UFSM e o Desenvolvimento das Competências Necessárias aos Futuros Professores de Educação Física para a Promoção da Autonomia em suas Práticas Pedagógicas. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, 2000. BRASIL. República Federativa do, Constituição Federal de 1988. CARREIRO DA COSTA, F. 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