28 PLANEJAMENTO E GESTÃO DE EVENTOS: um estudo de caso em eventos de natureza religiosa André Luis Centofante Alves (UNESP) Francisco Sobreira Netto (UNESP) 1 Introdução Atualmente, para que qualquer ramo de atividade alcance a qualidade no seu resultado final, seja uma indústria, um comércio ou prestação de serviço, faz-se necessário a execução de um planejamento eficaz. A promoção de eventos segue a mesma linha: deve haver um planejamento de todas as ações a serem realizadas, a fim de alcançar os objetivos estabelecidos. Neste caso, a abordagem efetuada foca os Encontros de Jovens, um tipo de evento de natureza religiosa que, como o de outras naturezas, exige a aplicação de uma metodologia de planejamento e organização para tal especificidade. Muito embora alguns autores já tenham tratado do assunto, há uma lacuna bibliográfica considerável, motivo pelo qual o presente trabalho se faz importante. Para tanto, o presente artigo visa apresentar uma nova abordagem acerca do planejamento e organização de Encontros de Jovens, buscando obter a eficácia nos resultados finais dos mesmos, por meio de fundamentação teórica específica, análise dos resultados da pesquisa, bem como da bibliografia disponível para o assunto. 2 Metodologia O tema “Planejamento de Encontro de Jovens” foi delimitado em planejamento, desenvolvimento, controle, organização e avaliação de Encontros para o crescimento espiritual dos jovens da Igreja Católica, na realidade brasileira, no novo milênio. O seu objetivo é apresentar um novo método de abordagem sobre aspectos básicos e essenciais do planejamento e organização de Encontros, visando a eficácia dos resultados, ou seja, o encontro pessoal do jovem com Jesus Cristo, Filho de Deus, Luz do mundo e Salvador do mundo. 29 A justificativa do trabalho ora apresentado fundamenta-se nas histórias de sucessos e fracassos colhidas nas entrevistas e na primeira missão que os cristãos receberam de Jesus, de levar o desenvolvimento espiritual do ser humano em todos os seus aspectos e em todos os lugares. O problema encontrado foi como planejar e organizar um Encontro de Jovens, desde a inspiração inicial (divina, individual ou comunitária), ao discernimento correto para a escolha das funções, passando pelo seu desenvolvimento e controle e, finalmente, abordar o pós-encontro. A hipótese constatada é de que o planejamento proposto deve estar embasado em duas grandes vertentes: a espiritual e a organizacional. A primeira, relativa à fé, discernimento e providência divina, e a segunda, dedicada ao estudo e o conhecimento de aspectos referentes ao planejamento, desenvolvimento, controle e avaliação. Ressalta-se que no presente trabalho será desenvolvido apenas a segunda vertente. Para isso, foram efetuadas pesquisas através de entrevistas semiestruturadas, objetivando agrupar informações por meio de estudos de casos. Todas elas foram realizadas apenas com pessoas diretamente ligadas à organização e com grande experiência em Encontros de Jovens, como exemplo, Frades Franciscanos, Padres Diocesanos, líderes paroquiais ou de movimentos diversos, jovens e adultos, dentre outros. 3 Fundamentação Teórica 3.1 Planejamento Planejamento é uma técnica ou função da administração utilizada para trabalhar com o futuro. Apesar de não se poder controlar o futuro, o planejamento identifica as ações presentes e os resultados que podem influenciar o futuro. Dentre algumas definições de planejamento, Maximiano (2000, p. 175) apresenta uma adequada para o estudo: O processo de planejamento é a ferramenta que as pessoas e organizações usam para administrar suas relações com o futuro. É uma aplicação específica do processo decisório. As decisões que procuram, de alguma forma, influenciar o futuro, ou que serão colocadas em prática no futuro, são decisões de planejamento. Com 30 base nesse conceito básico, o processo de planejamento pode ser definido de várias maneiras: Planejar é definir objetivos ou resultados a serem alcançados; É definir os meios para possibilitar a realização de resultados; É interferir na realidade, para passar de uma situação conhecida à outra situação desejada, dentro de um intervalo definido de tempo; É tomar, no presente, decisões que afetem o futuro para reduzir sua incerteza. Segundo Megginson et al (1986, p. 105), “planejamento é escolher um curso de ação e decidir adiantadamente o que deve ser feito, em que seqüência, quando e como.” O mesmo autor ainda menciona algumas vantagens do planejamento (MEGGINSON et al, 1986, p. 106): 1) Ajuda a organização a adaptar-se e ajustar-se às mudanças no ambiente; 2) Auxilia na cristalização de acordos sobre assuntos de importância; 3) Capacita os administradores a verem o quadro operativo inteiro com maior clareza; 4) Ajuda a estabelecer mais precisamente a responsabilidade; 5) Proporciona um sentido de ordem às operações; 6) Ajuda a fazer a coordenação entre as várias partes da organização; 7) Tende a tornar os objetivos mais específicos e mais bem conhecidos; 8) Minimiza a adivinhação; 9) Poupa tempo, esforço e dinheiro. E para que o planejamento seja eficaz, pode-se utilizar a técnica denominada 5W2H em qualquer momento da sua elaboração. Tal técnica baseia-se em sete perguntas cujas respostas resultam no processo de planejamento. São elas: 1. (what) o quê tem que ser feito? 2. (where) onde será feito? 3. (when) quando será feito? 4. (why) por quê será feito? 5. (who) quem o fará? 6. (how) como será feito? 7. (how much) quanto irá custar? Além disso, para um entendimento mais aprofundado da função planejamento, faz-se necessário ter em mente alguns conceitos conhecidos da administração: 31 3.1.1 Missão A definição da missão é importantíssima para a organização, pois serve como orientação para as pessoas envolvidas e esclarece para a sociedade o propósito da mesma. Em seguida, são definidos os objetivos propriamente ditos, aos quais são conhecidos como “objetivos secundários”. A Missão, geralmente, é estabelecida no início da existência da organização. De acordo com Maximiano (2000, p. 186): A missão é um tipo particular de objetivo, normalmente definida como objetivo geral. A missão indica o papel ou função que a organização pretende cumprir na sociedade e o tipo de negócio no qual pretende concentrar-se. Há organizações que têm mais facilidade em apresentar um negócio do que uma missão, enquanto outras estão na situação inversa. A definição de um negócio ou missão procura fornecer orientação para funcionários e esclarecer para a sociedade qual o propósito da organização. 3.1.2 Objetivo e Meta Se a missão pode ser entendida como sendo a razão de ser da organização, o objetivo, por outro lado, é simplesmente o alvo a ser alcançado. Megginson et al (1986, p. 135) menciona que “objetivo é um resultado final, o ponto final, ou alguma coisa que você tem por alvo e procura alcançar”. A sua definição é essencial a toda organização. Trata-se, sem dúvida alguma, da parte mais importante do planejamento. Para Maximiano (2000, p. 184): Planejar, essencialmente, é definir os objetivos e as formas de realizá-los. Objetivos são os resultados finais em direção aos quais a atividade é orientada. São os fins que uma pessoa ou organização procura realizar, por meio de suas atividades, operações e aplicação de recursos. Os objetivos deverão ser estabelecidos a partir de informações claras e seguras, provenientes das pessoas envolvidas na organização ou de uma base de informações concreta. Frisa-se que a missão é o seu ponto de partida. E qual a diferença entre objetivo e meta? Os objetivos são mais amplos, enquanto as metas são mais específicas. Megginson et al (1986, p. 135), esclarece que “a natureza dos objetivos é geral, ao passo que as metas conotam maiores 32 graus de especificidade e, consequentemente, são mais operativas nas atividades cotidianas, incluindo a tomada de decisão”. 3.1.3 Processo de planejamento “O processo de planejamento consiste em definir planos. Em essência, um plano contém objetivos e as formas de realizá-los. Planejar é um processo; os resultados são os planos” (MAXIMIANO, 2000, p. 190). É importante citar que o processo de planejamento engloba três fases, a qual se busca definir em primeiro lugar os objetivos e, posteriormente, os meios de execução, bem como os meios de controle. 3.1.4 Plano “Um plano é um resultado do processo de planejamento” (MAXIMIANO, 2000, p. 192). Ainda segundo o mesmo autor: Alguns planos são informais ou implícitos e não chegam a ser registrados no papel. Em sua maioria, os planos das organizações precisam ser explicitados, formalizados e escritos, para documentação, comunicação, definição de responsabilidades, atendimento de exigências legais e aprovação, ou por outros motivos. Por atender uma grande variedade de necessidades nas organizações, os planos podem ser classificados em: permanentes (a missão); singulares (são finitos perdem a razão de ser uma vez alcançado o objetivo); temporais (planos de curto, médio e longo prazo); abrangentes (podem abranger a organização toda ou partes isoladas); freqüência de revisão (devem ser revistos para se ajustarem às novas circunstâncias); e formais (segundo seu grau de formalidade). De acordo com Briner (1997, p. 13), “sem um plano, você apenas reagirá em face das circunstâncias. Um plano faz com que você assuma o controle sobre suas energias e atividades. Você se torna pró-ativo e não reativo”. 3.1.5 Planejamento eficaz 33 Toda organização almeja possuir um planejamento eficaz que lhe mostre o caminho correto para realizar suas ações e tomar suas decisões. Há que se ressaltar que um planejamento mal elaborado pode se transformar em um erro tão grande quanto não planejar. Para que isso não ocorra no final – e o seu planejamento seja eficaz – ele deve atender a quatro condições essenciais quando da elaboração dos seus planos: base sólida de informações, definição precisa dos objetivos, previsão de alternativas e predominância de ação. 3.2 Planejamento de Eventos O planejamento dentro da administração é uma matéria com uma variedade enorme de conceitos, definições e aplicações, sendo que, o pouco que foi mostrado é aquilo que se entende ser o essencial para a elaboração de qualquer processo de planejamento para um Encontro de Jovens, ou ainda para qualquer área ou atividade religiosa. Além da fundamentação citada anteriormente, frisa-se que vários autores também trataram do assunto em questão, principalmente no que diz respeito ao planejamento de eventos de outras naturezas, principalmente eventos sociais, culturais e esportivos. Segundo Meireles (1999, p. 71), “o planejamento é fator fundamental ao desenvolvimento de qualquer atividade e, de modo especial, para a organização de eventos, permitindo a racionalização das atividades e o gerenciamento dos recursos disponíveis”. Sendo o planejamento fundamental para o desenvolvimento de um evento, constata-se que tal planejamento deverá ser detalhado e completo e, assim, produtivo. Onishi (2005, p. 6), assinala que A organização de eventos é trabalhosa e de grande responsabilidade, pois acontece ‘ao vivo’, e qualquer falha comprometerá a imagem da organização para qual o evento é realizado e, também, do seu organizador. Para tanto, é essencial que se faça um criterioso planejamento apresentando todos os detalhes que facilitem a visualização dos objetivos que a empresa deseja alcançar. 34 A mesma autora prossegue dizendo que o projeto deve apresentar fatores, tais como: objetivos, público, estratégias, recursos, implantação, fatores condicionantes, acompanhamento e controle, orçamento previsto e avaliação. Com relação ao planejamento de Feiras, evento de outra natureza, Maria Cecília Giacaglia sugere alguns passos para a sua elaboração, iniciando definindo os objetivos do evento e, em seguida, verificando e analisando o orçamento disponível para a sua realização. Para a autora “devido ao aumento nas proporções e à ampliação nas finalidades dos eventos de negócios, sua organização e implementação torna-se uma tarefa trabalhosa, especializada e de grande responsabilidade” (GIACAGLIA, 2002, p. XIV). 4 O que é um Encontro de Jovens? Quem vai a um encontro quase sempre busca “encontrar alguém”. No caso de um evento religioso, o encontro especial acontece com o próprio Jesus Cristo. É o jovem realizando seu “encontro pessoal com Jesus”. Um encontro pode ser entendido como o local em que Deus manifestará seu imenso amor por cada um de seus filhos. A união dessa manifestação com a expectativa de um jovem ir a um encontro é que origina o “encontro pessoal com Jesus”. O Encontro de Jovens é o lugar propício para se despertar o dom da fé. É demonstrar que serão mais felizes – que viverão uma felicidade verdadeira e não passageira – experimentando a dimensão espiritual. A juventude é a fase em que as dimensões física e intelectual são conhecidas de forma mais intensa, e é exatamente nessa fase que a dimensão espiritual deve ser despertada. A partir das entrevistas, verificou-se que existem quatro tipos de Encontros: O primeiro é aquele que é muito bem planejado e administrado estruturalmente, porém o fator espiritual é deixado um pouco de lado, e não prioritário. Inverso ao primeiro caso, o segundo tipo é o que não é bem organizado, porém o componente espiritual é muito forte. Esse tipo de Encontro pode até gerar um resultado positivo, mas a resposta do grupo de encontristas ou quantos frutos ele produzirá, somente será visto depois de determinado tempo, justamente porque ele 35 é desorganizado. Um dos motivos que faz com que muitos jovens não participem do pós-encontro é a desorganização estrutural do encontro. Já o terceiro caso – menos freqüente – é o Encontro desorganizado e não espiritualizado. Embora existam poucos, vale ressaltar que este caso deve ser totalmente evitado. O Encontro se realiza de maneira desorganizada e não produz fruto algum. Encerra-se no final dele mesmo, não existe uma continuação. Não acontece o pós-encontro. Por fim, o último tipo é aquele que é bem organizado e muito espiritualizado. O modelo de Encontro de Jovens ideal é aquele que possui um equilíbrio qualitativo entre a espiritualidade e a organização. 5 O modelo de Encontro de Jovens A proposta de modelo de planejamento de Encontro de Jovens apresentada neste trabalho, quer dizer, a seqüência dos itens estudados e as nomenclaturas utilizadas, foram elaboradas a partir dos dados colhidos em entrevistas diversas e na experiência dos autores. Tal proposta tem o intuito de realizar o último tipo de Encontro anteriormente mencionado. Isso não significa que este modelo seja completo ou pronto, ou ainda que seja obrigatória a sua aplicação formal. Ao contrário, é passível de correções e acréscimos e é perfeitamente flexível e adaptável à sua realidade. Outro ponto a ser observado é a questão regional. É importante lembrar que vivemos afetos a várias culturas locais e que, em cada cidade, estado ou região, existem características, expressões e costumes que podem e devem ser conservados, exemplo: as nomenclaturas de cada função, o horário estabelecido, a seqüência das atividades, o tipo de alimentação, dentre outras. O que importa mesmo é que as funções e as tarefas sejam planejadas e executadas com qualidade. Os responsáveis pela organização de um Encontro de Jovens devem iniciar o seu planejamento com base na missão da organização que o promove e no objetivo estabelecido. A definição do objetivo, bem como a motivação para alcançá-lo é fundamental para seu Encontro gerar resultados com qualidade e atender as demandas da comunidade. Após a missão e o objetivo, devem ser definidos as 36 metas e os métodos com o auxílio das técnicas de planejamento, destacando o 5W2H, anteriormente explicados. Com o modelo proposto, somado à espiritualidade, experiência e regionalidade, bem como a aplicação das técnicas de planejamento, pode-se chegar a um plano de ação que, certamente, facilitará a gestão de um Encontro de Jovens. 6 Resultados da Pesquisa Foram realizadas aproximadamente 50 entrevistas semi-estruturadas, com o uso do método do estudo de casos, tendo como resultado a necessidade de desenvolver e equacionar questões relativas a mais de 40 itens, tais como: equipe, coordenação, acolhida, pregação, intercessão, música, cozinha, recreação, financeiro, externa, apoio, limpeza, montagem, manutenção, desmontagem, secretaria, comunicação, discernimento, liturgia, assessor adulto e Diretor Espiritual. Também se faz necessário a definição do tema do Encontro e, conseqüentemente, das missas, orações, confissão, palestras e dinâmicas. Ainda deve ser definido o local do evento, a qual deverá contar com uma capela, sala palestras, dormitórios, cozinha, banheiros, espaços alternativos, secretaria e refeitório. Outros assuntos também deverão ser observados, como a divulgação, a formação do grupo de encontristas, o transporte, o horário, os recursos tecnológicos que serão utilizados, a segurança e a saúde. O primeiro requisito apurado na pesquisa é a necessidade de todo Encontro de Jovens possuir uma equipe para atingir seus objetivos. Ninguém pode e nem deve realizar um Encontro sozinho. Por meio das entrevistas, também se verificou a necessidade de dividir a equipe para executar as funções acima citadas. Para executar tais funções, constatou-se por meio da bibliografia referenciada, bem como dos dados colhidos nas entrevistas, que o membro da equipe deve possuir várias das características a seguir: Primeiramente, já deve ter participado de um Encontro de Jovens e vivido o “encontro pessoal com Jesus”. Também é necessário conhecer a missão e o objetivo do Encontro, ser humilde, saber ouvir, saber trabalhar de forma harmoniosa, ser obediente à Deus e à hierarquia da organização, e comprometer-se totalmente com o seu trabalho. 37 Há que se dizer também que tais funções devem ter como base as lições e ensinamentos transmitidos por outras equipes montadas e organizadas por Deus, conforme disposto na Bíblia Sagrada, e mencionadas abaixo: - A equipe de Moisés: Deus apareceu a Moisés em meio às chamas que saíam de uma sarça e deu-lhe uma missão que pode ser definida em poucas palavras: retirar os israelitas do Egito, conduzindo-os pelo deserto até encontrar terra fértil que emana leite e mel. Não obstante ter sido um grande líder, Moisés montou uma equipe a fim de ajudá-lo a executar a missão que o Senhor Deus o confiou. Flores (1999, p.131), cita que “Moisés não trabalhava só. Tinha uma equipe de colaboradores que o ajudava e compartilhava os encargos do povo”. Veja alguns dos principais: Aarão: sua boca (Ex 4, 10 – 16); Hobab: seus olhos (Nm 10, 29 – 31); Aarão e Hur: seu respaldo na vitória contra Amalec (Ex 17, 8 – 16); Josué: seu ajudante desde sua juventude (Nm 11, 28) e sucessor (Jos 1); Jetro: seu conselheiro (Ex 18, 1 – 27); Os chefes de grupos (Ex 18, 21); Os setenta anciãos (Nm 11, 24 – 25). - A equipe de Jesus: “Naqueles dias, Jesus retirou-se a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos...” (Luc 6, 12 – 13). Neste momento, Jesus formava a equipe que o auxiliaria a cumprir com a sua missão: levar a salvação de Deus a toda criatura. Marques (2001, p. 46), acerca da equipe de Jesus, menciona: Os doze apóstolos formavam um grupo heterogêneo: pescadores, cobradores de impostos, cultura mediana, uns mais crentes, outros menos crentes, alguns destemidos, outros medrosos, uns verdadeiros, outros falsos, uns pretendiam o poder, outros eram mais humildes e amorosos, mas todos estavam motivados para a missão libertadora, mesmo não conhecendo perfeitamente essa missão e não sabendo como implementá-la. [...] Alguma coisa, contudo, os conservava motivados e entusiasmados com as idéias do líder, Jesus. Abandonaram tudo para seguir as pegadas do Mestre. [...] Ressalte-se que a beleza do colégio apostólico estava na diversidade de carismas de seus integrantes, em que a diferença, longe de os separar os unia, pois a meta, ainda que não lhes estivesse totalmente clara, era algo incomum: trabalhar pelo Reino de Deus. Além da definição da equipe, apurou-se que os Encontros de Jovens seguem uma linha espiritual, de acordo com a herança deixada por Jesus Cristo. Porém, todo 38 Encontro segue também o carisma da organização promotora, quer dizer, diocese, paróquias, movimentos, entre outros. Sendo assim, toda essa espiritualidade – missas, orações, confissões, palestras, dinâmicas, etc. – devem seguir uma linha, visando uma coerência espiritual que chegará a um resultado melhor. Com relação à Infra-estrutura do Encontro, constatou-se que se faz-se necessário um mínimo para a realização do mesmo. A escolha do local no qual será realizado o Encontro está ligada ao seu objetivo e deve atender às necessidades dos jovens que dele participarão. A escolha, portanto, deve estar em acordo com as exigências e necessidades do momento. O Encontro poderá ser realizado em paróquias, escolas, prédios públicos, mosteiros, conventos, sítios, fazendas, etc. Também há que se dizer que, segundo os entrevistados, o local do Encontro deverá possuir, no mínimo, uma estrutura que possua o seguinte: uma Capela, uma sala de palestras, dormitórios, cozinha, banheiros, espaços alternativos, uma secretaria e um refeitório. Relativo ao marketing do Encontro, todos os entrevistados foram unânimes ao afirmar que um Encontro de Jovens deve ser muito bem divulgado. Portanto, também deve haver um planejamento para esta área. Antes, porém, é necessário compreender qual o seu significado. São várias as definições para a palavra marketing. Kater Filho (1999, p. 21 apud Kotler, 1981, p. 33) a define como “a atividade humana dirigida para a satisfação das necessidades e desejos, através dos processos de trocas”. Significa, então, que será oferecido algo (um produto) a alguém (o público-alvo). Esse alguém trocará o algo por outra coisa (pagamento, pois o produto tem seu preço). Kotler (1994, p. 48), menciona que “marketing é um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e desejam através da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros”. Atualmente, há disponível uma imensa quantidade de informações sobre marketing, tanto na área acadêmica, quanto na Igreja Católica. Essas informações devem ser utilizadas a fim de bem divulgar um Encontro. Uma das ferramentas que o marketing oferece e que é possível aplicar no planejamento do Encontro, de maneira prática, é o chamado “composto de marketing”, ou marketing mix: 4 Ps = produto, preço, praça e promoção. 39 Além do marketing, também se faz necessário um mínimo de estrutura logística para a realização de um Encontro de Jovens ser eficaz, por exemplo: Caso o Encontro se realize em um local acessível aos jovens e que não haja a necessidade deles chegarem juntos, eles podem se dirigir para lá pessoalmente, bastando, apenas, a obrigatoriedade do cumprimento do horário. Na hipótese do Encontro acontecer em lugares distantes, como sítios, fazendas, mosteiros, conventos, dentre outros, a equipe deverá providenciar o transporte necessário à locomoção dos jovens, atendendo a quesitos de segurança, praticidade, cumprimento do horário, etc. Pertinente à programação dos Encontros de Jovens, apurou-se que a grande maioria se realiza nos finais de semana. Geralmente iniciando-se na sexta-feira à noite e terminando no domingo à tarde. A realização de Encontros, nestes dias, tornou-se um hábito diante do fato de que tanto os encontristas, quanto os membros da equipe, trabalham ou estudam durante a semana. Para o correto cumprimento do horário, fato que certamente influenciará no resultado final do Encontro, deve-se haver uma programação, planejada e eficiente, com previsões em casos de atraso ou até de sobra de tempo. Ainda há que se dizer que é muito importante a utilização dos recursos que a tecnologia moderna dispõe. Tal tecnologia visa à obtenção da qualidade em todas as atividades do Encontro. Caso Jesus estivesse evangelizando hoje, pessoalmente, ele empregaria algum equipamento? Quando Jesus pregou o Sermão da Montanha, ele o fez na parte da manhã, horário em que as palavras são ouvidas com mais nitidez. Essa pregação foi feita sobre um monte, e não foi por acaso, pois falando do cume daquela elevação, o som da voz de Jesus se propagava em forma de cone, gerando círculos excêntricos, aumentando ainda mais sua abrangência. Tal fato certamente o auxiliou a atingir uma multidão. Isto posto, sugere-se alguns recursos aos quais podem ser utilizados: - aparelhagem de som completa: suficiente para uma banda; microfones para os pregadores; caixas de som que proporcionem com que a assembléia ouça com clareza e nitidez; - proporcionar ao coordenador, aos pregadores e outras pessoas que falem com a assembléia, de simples telas – quadros, lousa, giz e apagador – a recursos audiovisuais como: projetor de slides, T.V. com vídeo-cassete ou DVD, Flip-Chart, 40 projetor de transparências, computador com multimída, canhão de projeção, páginas escolhidas da Internet. Além da proteção espiritual que é oferecida aos jovens em um Encontro, é valioso que eles se sintam também protegidos estrutural e materialmente. Então, é necessário alguém que zele pelo local, assim como pelos bens materiais dos jovens. Essa segurança poderá ser feita tanto por um membro da equipe, quanto alguém designado para exercer tal função. Porém, o mais importante é que ele cuide da segurança geral a fim de transmitir tranqüilidade para o grupo. E para eventualidades que possam ocorrer com os encontristas e a equipe, faz-se necessário um Encontro possuir medicamentos. Para isso, deve haver pessoas preparadas (médicos, enfermeiros, etc) para fazer uso dos mesmos em caso de necessidade. 7 Conclusão Uma constatação importante realizada pelo pesquisador foi quanto ao feedback dos entrevistados, com relação aos resultados obtidos. Todos mencionaram que nenhum deles, mesmo tendo participado há anos de eventos desta natureza, nunca se deram conta da gama de itens a ser contemplados num processo de planejamento de Encontros de Jovens. Esta reação só veio corroborar a expectativa inicial do pesquisador de que poucas pessoas possuem a dimensão da complexidade e do rol de aspectos que envolvem a realização a contento de uma iniciativa dessas. O presente trabalho não possui a pretensão de esgotar o assunto. Contudo, pode fornecer subsídios para novas pesquisas e estudos de casos. Conforme já relatado, ele vem preencher uma lacuna de relatos de experiências específicas sobre o planejamento e organização de eventos de natureza religiosa. Na revisão bibliográfica, que antecedeu ao trabalho de entrevistas semi-estruturadas com coordenadores e líderes, responsáveis pela organização e realização destes eventos, foram encontrados poucos trabalhos sobre organização de feiras, simpósios, congressos e similares, de natureza cultural, social ou para lazer. E em número menor, e de caráter informativos, os eventos religiosos. Ou seja, na prática, são sempre efetuadas customizações para o planejamento destes eventos, mas nada que guardasse a especificidade do tema. 41 Ainda assim, foi realizada uma proposta de abordagem a fim de que os gestores destes eventos possam ter em mãos um material a ser experimentado, e os pesquisadores da área acadêmica possam procurar validá-lo, como por exemplo, com a aplicação de pesquisas quantitativas e o uso de técnicas estatísticas pertinentes. Finalmente, há que se frisar que o objetivo deste trabalho é justamente fornecer as ferramentas necessárias para se alcançar este equilíbrio qualitativo entre a organização e a espiritualidade. Pode-se ainda dizer que é o trabalho incentivado por Santo Agostinho, quando diz: “as boas obras não se definem pela quantidade, mas pela qualidade. Não por seu peso, mas por sua delicadeza. Não por si mesmas, mas por suas motivações” (AQUINO, 2002, p. 37). Referências AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Na escola dos santos doutores. 4 ed. Lorena: Cléofas, 2002. BÍBLIA SAGRADA (cd-rom). Petrópolis: Vozes, 1996. BÍBLIA SAGRADA. São Paulo: Sivadi, 1979. BÍBLIA SAGRADA. 78 ed. São Paulo: Ave Maria, 1991. BRINER, Bob. Os métodos de administração de Jesus. São Paulo: Mundo Cristão, 1997. FLORES, José H. Prado. Para além do deserto. 4 ed. São Paulo: Loyola, 1999. GIACAGLIA, Maria Cecília. Organização de Eventos: teoria e prática. São Paulo: Thomson Pioneira, 2002. KATER FILHO, Antonio Miguel. O Marketing aplicado à Igreja Católica. 3 ed. São Paulo: Loyola, 1999. KOTLER, Philip. Administração de Marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 4 ed. São Paulo: Atlas: 1994. MARQUES, José dos Santos. Bíblia e Qualidade Total. São Paulo: Nobel, 2001. MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Introdução à Administração. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2000. 42 MEGGINSON, Leon C; MOSLEY, Donald C; PIETRI JR., Paul H. Administração: conceitos e aplicações. São Paulo: Harbra, 1986. MEIRELLES, G.F. Tudo sobre eventos. São Paulo: STS Publicações e Serviços Ltda, 1999. ONISHI, Kelly Miyuki. O profissional de secretariado executivo como organizador de eventos empresariais. Curitiba: Editora PUCPR, 2005.