XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE
AVALIAÇÃO OS TEORES DE ÍONS DE FLUORETO PRESENTE NAS
ÁGUAS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO DOS MUNICÍPIOS
ALAGOANOS NOS ANOS 2012 E 2013
Guacyra Machado Lisboa1; Edna Maria da Silveira Monteiro2; Alcides José Ramos Sales3, Taynah
Rabelo4
RESUMO - A fluoretação consiste em agregar, de forma controlada, um composto de flúor à água
a fim de aumentar a concentração existente a um teor ideal para atuar na prevenção da cárie dental.
Para que a ação preventiva seja efetiva, esta adição deve ser feita de forma contínua e observando
os teores adequados de fluoreto para cada lugar. Devido a esta particularidade, torna-se
imprescindível um controle rigoroso. Com a entrada em vigor da Portaria 2.914 do Ministério da
Saúde, passou a não ser mais necessário para empresa responsável pela fluoretação, realizar análises
dos íons de fluoreto na rede de distribuição, tornando as ações realizadas pelas vigilâncias
ambientais uma ferramenta valiosa, senão a única, para assegurar a qualidade da água fornecida ao
consumidor. O objetivo deste estudo foi de avaliar os teores de íons de fluoreto presente nas águas
de abastecimento público dos municípios alagoanos no período de 2012 a 2013. Foi analisado um
total de 1.970 laudos emitidos no período pelo Laboratório Central de Saúde Pública de Alagoas
(LACEN-AL). Os resultados mostraram uma grande variação dos teores de fluoreto, o que pode ter
propiciado a ineficácia da medida de prevenção da cárie dental na população usuária.
ABSTRACT- Fluoridation consists in adding, in a controlled manner, a fluorine compound to the
water in order to increase the existing concentration to an optimal level to act in the prevention of
dental caries. To make that preventive action effective, this addition must be done continuously and
also observing the appropriate fluoride levels for each place. Due to this peculiarity, it is essential a
strict control. With the implementation of Ordinance 2914 of the Ministry of Health it has become
no longer necessary for the company responsible for fluoridation to perform analysis of fluoride
ions in the distribution system, making the actions taken by environmental surveillances a valuable
tool, or the only, to ensure the quality of water supplied to consumers. The aim of this study was to
assess the levels of fluoride ions present in public water supplies of municipalities in Alagoas from
2012 to 2013. A total of 1970 reports issued in the period by the Central Public Health Laboratory
of Alagoas (LACEN -AL) was analyzed. The results showed a wide variation in the levels of
fluoride, which may have provided the ineffectiveness of the proceeding of dental caries prevention
in the user population.
Palavras-chave - fluoretação; cárie dental; qualidade da água.
1) Msc em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Aristeu Lopes (LACEN-AL),
Rua Dr. Ernesto Gomes Maranhão, 1773, Jatiúca- CEP 57036- 860 , Tel: (82) 3315-2731- Maceió-AL. [email protected].
2) Msc.em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro/LABEAD/IESC, Cidade
Universitária , Ilha do Fundão- CEP 21941-598, Tel: (21) 3938-9288 – Rio de Janeiro-RJ. [email protected]
3) Especialista em Qualidade de Alimento, Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Aristeu Lopes (LACEN-AL), Rua Dr. Ernesto Gomes
Maranhão, 1773, Jatiúca- CEP 57036- 860 Tel: (82) 3315-2724- Maceió-AL. [email protected].
3 )Graduanda em Engenharia Cívil, Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Campus A. C. Simões - Av. Lourival Melo Mota, s/n, Cidade
Universitária- CEP:57072-900, Tel: (82) 3223- 5080- Maceió-AL. [email protected].
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XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
1- INTRODUÇÃO
O estado de Alagoas está localizado a leste da região nordeste do Brasil, com uma população
residente estimada em 3.120.922 habitantes e uma densidade demográfica de 112,33 habitantes por
quilômetro quadrado (IBGE, 2010). De acordo com Atlas do Desenvolvimento Humano Brasil
2013 (PNUD, 2013), Alagoas ocupa o último lugar no ranking nacional com um Índice de
desenvolvimento Humano (IDH) de 0,631. Maceió é uma das poucas capitais brasileiras que não
realiza a fluoretação das águas de abastecimentos públicos, e dentre os 102 municípios alagoanos,
apenas onze fluoretam suas águas.
A fluoretação das águas de abastecimentos públicos consiste em agregar, de forma
controlada, um composto de flúor à água com a finalidade de aumentar a concentração de flúor
existente nesta água até atingir um teor ideal para atuar na prevenção da cárie dental. (RAMIRES&
BUZALAF, 2007).
Para que a ação preventiva seja efetiva, esta adição deve ser feita de forma contínua e
observando os teores adequados de fluoreto para cada lugar. (ELY, et al, 2002; RAMIRES&
BUZALAF, 2007, SILVA et al, 2011).
Devido a esta particularidade, torna-se imprescindível um controle rigoroso. Assim, os
responsáveis pelo fornecimento da água têm a responsabilidade de manter um controle operacional
preventivo e permanente, da potabilidade desta água, que deve ser feito desde a sua saída da
Estação de Tratamento de Água (ETA) até a sua entrada nas ligações domiciliares. (MEDRI et al,
2012).
Na área da vigilância, é necessário fazer o heterocontrole, que consiste na realização de ações
de controle e vigilância por um órgão diferente daquele responsável pela execução do abastecimento, visando à manutenção do padrão de qualidade (ELY, et al, 2002).
A concentração de íons de fluoreto considerado ótimo depende de alguns fatores, dentre eles,
o clima. A temperatura é um importante fator ambiental que deve ser considerado ao calcular o teor
de fluoreto necessário na água de abastecimento de uma localidade, pois está diretamente ligado ao
consumo de água. (MORAES et al, 2009; SANTOS & SANTOS, 2011)
O consumo continuado de fluoreto em níveis acima do recomendado pode ocasionar o
aparecimento de uma doença crônica, a fluorose dental (MORAES et al, 2009; FUJIBAYASH et al,
2011).
No Brasil o padrão de potabilidade da água de consumo humano é estabelecido pelo
Ministério da Saúde (MS). Com a entrada em vigor da Portaria 2.914 do MS, passou a não ser
necessário para empresa responsável pela fluoretação, realizar a análise dos teores fluoreto na rede
de distribuição, tornando as ações realizadas pelas Vigilâncias em Saúde Ambiental (VISAs) uma
ferramenta valiosa, senão a única, para assegurar a qualidade da água fornecida ao consumidor.
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XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
Nesse contexto, avaliar os teores dos íons de fluoreto presente nas águas de abastecimento
público dos municípios alagoanos é de suma importância para conhecer melhor o cenário atual da
fluoretação em Alagoas.
2- OBJETIVOS
2.1- Objetivo Geral
Avaliação os teores de íons de fluoreto presente nas águas de abastecimento público dos
municípios alagoanos nos anos 2012 e 2013.
2.2- Objetivos específicos
- Quantificar o número de amostras solicitadas pelas Vigilâncias em Saúde Ambiental
municipais ao Laboratório Central de Saúde Pública de Alagoas (LACEN-AL) para a análise dos
teores dos íons de fluoreto anos 2012 e 2013.
- Analisar os teores de íons de fluoreto encontrados nos laudos emitidos pelo LACEN-AL nos
anos 2012 e 2013, para as amostras de água coletadas nos municípios alagoanos que fluoretam as
águas de abastecimento público.
3- METODOLOGIA
Foram analisados todos os laudos emitidos pelo LACEN-AL, relativos às amostras enviadas
para a análise da qualidade da água para consumo humano. As amostras foram coletadas pela
Vigilância em Saúde Ambiental (VISA) das Secretarias de Saúde dos municípios alagoanos que
adicionam flúor à água de abastecimento público nos anos de 2012 e 2013.
Estes laudos encontram-se arquivados em um banco de dados do LACEN-AL. A permissão
para realização desta pesquisa foi concedida através de autorização do Setor de Análise de Projetos
do LACEN-AL.
Foram considerados como abaixo do recomendável os teores dentro do intervalo de 0,0 a 0,5
mgF/L, como satisfatórios os teores dentro do intervalo 0,6 a 0,8 mgF/L e acima do recomendável
qualquer valor acima de 0,8 mgF/L.
Para a quantificação do fluoreto existente nas amostras de água, foi utilizado o método
colorimétrico SPADNS, o qual é baseado na reação entre o fluoreto com o corante vermelho de
zircônio, formando um complexo aniônico incolor, o hexafluorozirconato (ZrF62-). É um método de
leitura rápida e de boa resolução (MORAES et al., 2009; MOTTER et al, 2011).
3.1- Coleta das amostras
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XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
Amostras de água foram coletadas em sacos de coleta Whirl-Pak (Nasco, USA) estéreis, com
tarja de identificação e arame de fechamento, distribuído pelo LACEN-AL.
A responsabilidade de coletar, enviar e solicitar a análise dos íons fluoreto nas amostras de
água ao LACEN-AL é da VISA municipal.
4- RESULTADOS
Foi enviado pelas VISAs
municipais dos onze municípios que fluoretam as água de
abastecimento público em Alagoas, um total de 1970 amostras para análise da qualidade da água
para consumo humano, sendo 1022 amostras no ano de 2012 e 948 amostras no ano de 2013. Deste
total, em 188 amostras (18,3%), foi solicitada a análise dos teores de íons de fluoreto no ano 2012 e
em 149 amostras (15,7%) no ano de 2013 (Tabela 1).
Três municípios (Boca da Mata, São José da Laje e Viçosa) não solicitaram a análise dos
teores de íons de fluoreto no ano de 2013 e o município de Pão de Açúcar não fez solicitação nos
dois anos do estudo (Tabela1).
TABELA 1- Número total de amostras solicitadas ao LACEN-AL pelas VISA municipais para a
análise dos íons de fluoreto nas águas coletadas nos municípios alagoanos que adicionam flúor a
água de abastecimento público nos anos de 2012 e 2013.
MUNICÍPIO
2012
2013
ATALAIA
06
15
BARRA DE SANTO ANTÔNIO
61
38
BOCA DA MATA
05
0
CAJUEIRO
50
52
MARECHAL DEODORO
16
01
PÃO DE AÇUCAR
0
0
PENEDO
20
12
SÃO MIGUEL DOS CAMPOS
06
10
SÃO JOSÉ DA LAJE
03
0
UNIÃO DOS PALMARES
6
21
VIÇOSA
15
0
TOTAL
188
149
A maior variação encontrada foi 0,0 a 2,2 mgF/L no município de Barra de Santo Antônio e
de 0,0 a 2,0 no município de Cajueiro ambas no ano de 2012. Os municípios de Penedo e União dos
Palmares mantiveram constante a variação dos teores de fluoreto no período estudado (Tabela 2).
4
XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
TABELA 2. Teores de fluoreto encontrados nas amostras solicitadas para análise de íons de fluoreto nas águas coletada
pelas VISA municipais na rede de distribuição dos municípios alagoanos que fluoretam suas águas de abastecimento
público nos anos 2012 e 2013.
ANO
2012
2013
TEORES DO
FLUORETO
0,0 a 0,5
mgF/L
0,6 a 0,8
mgF/L
< 0,8
mgF/L
VARIAÇÃO
DOS
TEORES DE
FLUORETO
0,0 a 0,5
mgF/L
0,6 a 0,8
mgF/L
< 0,8
mgF/L
VARIAÇÃO
DOS
TEORES DE
FLUORETO
ATALAIA
6
0
0
0,0-0,3
15
0
0
0,0-0,5
BARRA DE
STO
ANTÔNIO
47
7
7
0,0-2,2
31
3
4
0,0-1,5
BOCA DA
MATA
5
0
0
0,1-0,5
0
0
0
NA
CAJUEIRO
48
0
2
0,0-2,0
52
0
0
0,2-0,5
MARECHAL
DEODORO
16
0
0
0,0-0,5
1
0
0
NA
PÃO DE
AÇÚCAR
0
0
0
NA
0
0
0
NA
PENEDO
9
6
5
0,0-1,2
8
2
2
0,0-1,2
6
0
0
0,0-0,3
10
1
0
0,0-0,2
SÃO JOSE
DA LAJE
2
1
0
0,7-0,9
0
0
0
NA
UNIÃO DOS
PALMARES
5
1
0
0,1-0,7
15
6
0
0,1-0,7
VIÇOSA
14
1
0
0,1-0,6
0
0
0
NA
TOTAL
158
16
14
132
11
6
MUNICÍPIO
SÃO
MIGUEL
DOS
CAMPOS
NA= NÃO SE APLICA
5- DISCUSSÃO
A diretriz nacional do plano de amostragem da vigilância ambiental em saúde relacionada à
qualidade da água para consumo humano estabeleceu que o número mínimo de amostras a serem
coletadas para implementação do plano de amostragem para a vigilância da qualidade da água para
consumo humano, deveria ser calculado de acordo com a população total do município, incluindo
os diversos tipos de abastecimento de água (BRASIL, 2005).
5
XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
Os municípios de Penedo, São Miguel dos Campos e União dos Palmares possuem população
de 60.389, 54.591 e 62.401 habitantes respectivamente (IBGE, 2010), estando situados na faixa
populacional entre 50.000 a 100.000 habitantes, que de acordo com a diretriz acima citada,
deveriam realizar o mínimo de 10 amostras mensais para a análise dos teores dos íons de fluoreto.
Já os demais municípios estudados, possuem uma população menor que 50.000 habitantes e
deveriam realizar o mínimo de 5 amostras por mês (BRASIL, 2005). Na tabela 1 é possível
observar que no ano de 2012 apenas o município de Barra de Santo Antônio, efetuou a quantidade
mínima exigida de amostras para a realização do plano de amostragem e no ano de 2013 nenhum
município atingiu a quantidade mínima de amostras estabelecida.
De acordo com a Portaria 2.914 do MS a concentração de íon de fluoreto deve seguir o
recomendado na Portaria nº 635/GM/MS, de 30 de janeiro de 1976, que estabelece a concentração
de fluoreto em função da média das temperaturas máximas diárias. (BRAZIL, 2011).
Segundo Akpata et al (2009), para países tropicais com temperaturas máximas superiores a
27°C, o mais adequado seria utilizar concentrações de fluoreto entre 0,6-0,7 mgF/L.
No presente estudo, um quantitativo pequeno de 16 amostras no ano de 2012 e 11amostras no
ano de 2013 estavam dentro do intervalo considerado satisfatório (0,6-08 mgF/L), contudo, o maior
o percentual (84% no ano de 2012 e de 88,5%, no ano de 2013), foi encontrado no intervalo de 0,00,5 mgF/L, considerado abaixo do recomendável (Tabela 2). Estes dados são compatíveis com o
resultado encontrado por Silva et al (2007), onde 95,7% das amostras apresentaram concentrações
inadequadas para íons de fluoreto.
Houve uma grande variação da concentração dos íons de fluoreto nas amostras analisadas,
sendo o maior intervalo registrado de 0,0 a 2,2 mgF/L, no município de Barra de Santo Antônio no
ano de 2012 (Tabela 2). Panizzi & Peres (2008) em seu estudo realizado no município de Chapecó,
Santa Catarina, encontram o intervalo máximo de variação de 0,0 a 2,0 mgF/L. Por outro lado
Leivas et al (2010) relataram que a maior variação da concentração encontrada no município de
Canoas, Rio Grande do Sul, ficou dentro do intervalo de 0,1 a 1,6 mgF/L.
Para ser efetiva na prevenção da cárie dental, a fluoretação das águas de abastecimento
público, deve ser permanentemente controlada de forma a manter em patamares ideais a
concentração de fluoreto na água (FUJIBAYASHI et al, 2011).
Vinte amostras, sendo 14 no ano de 2012 e 6 no ano de 2013 apresentaram teores acima de
0,8 mgF/L (Tabela 2), dentre estas, foram encontradas 4 amostras no ano de 2012 com teores acima
de 1,5 mgF/L, em desacordo com a legislação vigente, que determina o Valor Máximo Permitido
(VMP) de 1,5 mgF/L (BRASIL, 2011). Foram também observados teores de 1,2 e 1,4 mgF/L
considerados altos para região.
6
XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste
6- CONCLUSÃO
O pequeno quantitativo de amostras solicitadas para análise dos íons de fluoreto pelas VISAs
municipais ao LACEN-AL, mostraram a necessidade de um fortalecimento das ações de vigilância
em relação à fluoretação das águas de abastecimento público nos municípios alagoanos.
A grande variação dos teores de fluoreto pode ter propiciado a ineficácia da medida de
prevenção da cárie dental na população usuária.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem a Dra Telma Pinheiro por sua preciosa ajuda na realização desde trabalho.
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