BIOLOGIA CARDIOVASCULAR CÉLULA ALTERADA NA HIPERTROFIA Receptor Camada dupla de lipídios Canal para cálcio tipo L MEMBRANA EXTERNA Canal para cálcio tipo T Figura 4. Na hipertrofia cardíaca patológica, certas proteínas induzem, no núcleo da célula, a expressão de genes associados à síntese de ‘portões’ de cálcio diferentes, que normalmente só existem durante o desenvolvimento fetal. Os mensageiros que entram por esses portões alteram o metabolismo das células cardíacas, levando ao crescimento anormal do coração. Entender em detalhe esse processo pode levar a formas de combater essa doença Cálcio CITOPLASMA Mensageiros ligados à hipertrofia cardíaca citados anteriormente), mas são essenciais para o correto desenvolvimento do corpo na fase fetal. A ausência desses Retículo canais no feto leva a malformações e até sarcoplasmático ao aborto. Já que as necessidades metabólicas de um feto são diferentes das de Mitocôndria um indivíduo adulto, podemos compreender que há portões específicos para Os novos portões são sintetizados no retículo endoplasmático cada estágio de desenvolvimento, e que possivelmente os íons cálcio que fluem por portões no feto e por portões em um adulto tenham papéis diferenciados e, portanto, não carreguem as mesmas informações. NÚCLEO Genes transcritos CELULAR Nosso desafio, agora, é descobrir quais estímulos desencadeiam, em animais adultos, a produção de canais para DNA cálcio que deveriam ser exclusivos de Ativação de genes fetais que determinam a síntese de portões (canais) de cálcio do tipo T estágios fetais, e como os íons que fluem por esses portões determinam o crescimento patológico do coração. Quando o qual a hipertrofia patológica não ocorreria. Estudos respondermos a essas perguntas, estaremos mais próxirecentes indicam que o passo fundamental no meca- mos de produzir novos fármacos, de elaborar tratamennismo da doença seria a translocação, para o interior tos efetivos contra a hipertrofia cardíaca patológica e de do núcleo, de algumas proteínas que comandariam a propor métodos de prevenção que ajudem a reduzir o leitura de genes essenciais no desenvolvimento da número de mortes por doenças cardiovasculares. hipertrofia patológica (figura 4). Na hipertrofia patológica, uma importante região ativada determina a leitura de genes que controlam a síntese de mais canais iônicos para cálcio. Poderíamos imaginar que o aumento no número de portões para esse Sugestões para leitura elemento (que resulta no aumento no número de ‘mo BATLOUNI, M. ‘Hipertrofia cardíaca. Fatores determinantes e mecanismos toboys’ intracelulares) levaria a uma enorme ampliação moleculares’, em Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 65(6), p. 533, 1995. na quantidade de mensagens transportadas, provocando FRANCHINI, K. G. ‘Hipertrofia cardíaca: mecanismos moleculares’, o caos no interior da célula. Mas isso não acontece, porem Revista Brasileira de Hipertensão, v. 8, p. 125, 2001. que o tipo de canal produzido nesse processo tem freMARCOLINI, B. Causa genética para disfunção cardíaca (disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/genetica/ quência de abertura menor e permite a passagem de causa-genetica-para-disfuncao-cardiaca/). uma quantidade de íons também reduzida. ROMAN-CAMPOS, D.; CAMPOS, A. C.; GIODA, C. R.; CAMPOS, P. P.; Sabe-se que os portões para íons cálcio produzidos MEDEIROS, M. A. e CRUZ, J. S. ‘Cardiac structural changes and electrical sob essas circunstâncias não são encontrados em aniremodeling in a thiamine-deficiency model in rats’, em Life Sciences, mais adultos saudáveis, nem em animais submetidos a v. 84(23-24), p. 817, 2009. treinamento físico (que seriam equivalentes aos atletas Novo portão de cálcio sendo transportado para a membrana 288 | DEZEMBRO 2011 | CIÊNCIAHOJE | 37