GERAL 16 n Sábado e domingo, 6 e 7 de abril de 2002 n JORNAL DO POVO t ESCÂNDALO DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA A outra versão para o caso da propina PATRÍCIA VARGAS A diretora do Fórum de Cachoeira do Sul, juíza Lílian Astrid Ritter, recebeu sextafeira do promotor público João Ricardo Tavares as denúncias contra três oficiais de Justiça das varas cíveis que teriam recebido propinas para agilizar o cumprimento de mandados de busca e apreensão de veículos e de reintegração de posse. A documentação foi distribuída para a Primeira Vara Crimi- nal, que tem como juíza titular Madgéli Frantz Machado. Esta foi a única informação oficial disponibilizada no Fórum, mas um oficial de Justiça resolveu abrir o jogo e dar uma nova versão para o caso, sob a condição de não ser identificado. Conforme a fonte, os depósitos do escritório M. L. Gomes Advogados Associados na conta dos oficiais de Justiça, comprovados pelo MP, não foram destinados como propina nem para agilização da execução dos mandados, como afirma a Promotoria Especial Criminal do Ministério Público do Estado. Segundo a fonte, a agilidade dada ao cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de reintegração de posse não é estabelecida Silêncio no Fórum As juízas Lílian Ritter, diretora do Fórum, e Madgéli Frantz Machado, titular da 1ª Vara Criminal, não estavam no Fórum na tarde de sexta-feira, quando o JP procurou informações sobre o caso da propina aos oficiais cachoeirenses. Madgéli estava em Porto Alegre e Lílian estava em Cachoeira do Sul, mas fora do Fórum. A reportagem chegou a tentar, através de servidores do gabinete da juíza e da direção do órgão, a intermediação de uma entrevista com a juíza. Ela mandou avisar, entretanto, que a reportagem deveria formalizar os questionamentos por escrito, remetendo ao Fórum para uma resposta nos próximos dias. Nos setores forenses, o clima era de tensão entre os funcionários, que não deram nenhum tipo de informação sobre os casos. Até mesmo os nomes dos oficiais da comarca foram omitidos. Até então não houve afastamento de oficiais. O JP apurou que, antes de acatar as denúncias do MP, levando os acusados a responder criminalmente, a juíza Madgéli terá que ouvir os envolvidos, já que eles são servidores públicos. Outra informação apurada foi que mais denúncias deverão chegar a qualquer momento na comarca. Na sede das investigações, o MP de Porto Alegre, também não foram dadas novas informações. Neste sábado, os oficiais estarão reunidos em Santa Maria para uma assembléia geral da sua associação estadual, que deverá definir um posicionamento sobre o caso e oficializar uma manifestação em resposta às acusações. pelos oficiais, mas sim por todos os setores do Fórum pelos quais passa a documentação antes de chegar às mãos do servidor. JUIZ - A mesma fonte explicou que, ao contrário de outros tipos de ações, os mandados de busca e apreensão de veículos percorrem a distribuição, são encaminhados para assinatura do juiz, retornam ao cartório e chegam às mãos do oficial para serem cumpridos em menos de um dia. Há uma urgência em todos os setores. Se uma busca chega no começo da tarde, no final da mesma tarde ela já está sendo executada. Um juiz assina mesmo estando em audiência e o oficial recebe uma ligação no telefone celular para buscar o mandado no mesmo dia. Se alguém ARQUIVO JP Há três cachoeirenses envolvidos na denúncia do Ministério Público PARA ENTENDER MELHOR O que mais revelou a fonte secreta ao JP n As quantias pequenas (entre R$ 50,00 e, no máximo, R$ 300,00) que entraram nas contas bancárias judiciais dos oficiais de Justiça e estão sendo classificadas como propina pelo MP, segundo a fonte, são gratificações enviadas pelo escritório M. L. Gomes Advogados Associados. A gratificação não é pedida pelos oficiais para executar o mandado de busca e apreensão ou de reintegração de posse, mas enviada sem prévia comunicação à conta dos servidores como uma espécie de ajuda de custo para pagar deslocamentos que não são passíveis de cobrança. PARA SABER MAIS A versão do MP para o esquema da propina Segundo o MP, após ser expedido mandado de busca e apreensão do carro, um funcionário do escritório faz contato com o oficial de Justiça responsável por cumprir o mandado e acerta a gratificação. Com o pagamento, os oficiais de Justiça dão prioridade à apreensão dos veículos em relação a outros mandados. Conforme o MP, as gratificações variam de R$ 50,00 a R$ 600,00. Alguns oficiais teriam recebido gratificações mais de uma vez. Até o momento, 352 oficiais de Justiça, entre eles três da comarca cachoeirense, que receberam depósitos em contas particulares de cheques nominais do escritório, foram denunciados pelo MP por corrupção passiva. DIRETORA LÍLIAN: sem entrevista sexta-feira INFORME PUBLICITÁRIO CORISCAL E EMBRAPA REALIZAM TARDE DE CAMPO No dia 2 de abril de 2002 foi realizada uma tarde de campo na propriedade do Sr. Alberto Milbradt, situada na localidade de São Nicolau, Cachoeira do Sul-RS, que contou com a presença de aproximadamente 40 (quarenta) pessoas, entre produtores e técnicos. Na ocasião, técnicos da Embrapa - CPACT de Pelotas/RS -, em parceria com o departamento técnico da Coriscal, demonstraram as novas variedades de arroz irrigado, criadas e desenvolvidas pela equipe de pesquisa e melhoramento da Embrapa. As novas variedades BRS Bojuru, BRS Firmeza e BRS Pelota foram apresentadas, com destaque especial para a variedade BRS Pelota, que em uma lavoura situada na localidade de Piquiri, Cachoeira do Sul-RS, obteve uma produtividade de 8.580 quilos por hectare, demonstrando assim a capacidade produtiva deste material, que é de grão tipo agulhinha e de alto rendimento industrial. O BRS Firmeza, este de ciclo precoce de bom potencial produtivo, baixa degranação natural e alto rendimento de indústria, podendo superar a 65% de grãos inteiros polidos, possui uma característica culinária interessante: mesmo depois de frio, pode ser reaquecido para o consumo. Outro material demonstrado foi a variedade BRS Bojuru, de grão curto (japônico) de alto potencial produtivo e rendimento de indústria podendo atingir 75% de grãos inteiros polidos. Este visa atender o nicho de mercado formado pelos consumidores orientais brasileiros e a culinária que exija esse tipo de produto. Os técnicos da Embrapa também enfatizaram técnicas de manejo na cultura do arroz irrigado para aumentar a produtividade e a qualidade na lavoura, considerando que todas as cultivares hoje no mercado têm bom potencial produtivo. A Coriscal, para a safra 2002/2003, terá à disposição dos associados uma quantidade limitada de sementes certificadas de BRS Pelota e BRS Bojuru para comercialização. DEPARTAMENTO TÉCNICO DA CORISCAL recebeu propina, a lista vai desde o pessoal da distribuição até o juiz, informou. Segundo a fonte, uma pessoa encaminhada pela financiadora do carro que será buscado e apreendido traz o mandado e espera para acompanhar o oficial de Justiça na execução, para levar o bem no mesmo momento, já que a Justiça não possui depósito próprio para veículos. Se houvesse propina, o próprio procurador que acompanha o oficial pagaria, o valor não seria depositado descaradamente com cheque nominal na conta judicial do servidor, que é aberta para qualquer um. Além disso, para que pagar propina ao oficial se o processo já corre rápido naturalmente?, questiona. PARA SABER MAIS Quem são os oficiais de Justiça de Cachoeira do Sul 1 2 3 4 5 6 7 8 Milton Sérgio Chaves Vara Cível Elner da Rosa Vara Cível Guarani de Azeredo Vara Cível Mônica Madalena Pedroso Vara Criminal Irineu Soares da Silva Vara Criminal Ivo Carlos Silveira Vara Cível Jane Sena Correa Vara Cível Jorge Nelson Castro Vara Cível n A fonte explicou que, num raio de três quilômetros de distância do Fórum, os oficiais não recebem dinheiro para ir executar mandados. Depois desta quilometragem, eles recebem valores fixados em uma tabela conforme a distância, que são acrescidos nas custas do processo e pagos pelo autor da ação ou, no caso de vir através do Juizado Especial Cível ou assistência judiciária gratuita, incluídos em cerca de R$ 400,00, que são repassados mensalmente pela Justiça nos contracheques dos oficiais para cobrir essa despesa, já que eles trabalham com carro próprio. n As gratificações eram encaminhadas quando, no raio de três quilômetros distantes do Fórum, os oficiais se deslocavam várias vezes para cumprir um mesmo mandado. Acontece que, normalmente, para buscar e apreender um carro, por exemplo, é preciso ir a vários locais. Dentro do raio de três quilômetros, um oficial pode se deslocar muitos quilômetros, sem receber nada por isso, até encontrar o veículo. Não há, porém, nenhuma cobrança por parte dos oficiais, informou. n A mesma fonte informou que os oficiais de Justiça não têm sequer como saber se entraram gratificações em suas contas e os valores, já que diariamente são depositados valores referentes a todo o tipo de mandados. Ela explicou que, na maioria dos mandados, o custo tabelado de deslocamento chega à conta antes da execução pelo oficial, pois o valor é recolhido quando acontece a distribuição do documento para uma vara forense, o primeiro passo de um mandado. Pode levar até mais de um mês, até que o juiz o assine e o oficial retire o mandado, para executá-lo. Somente quando o mandado chega às mãos do oficial ele recebe o comprovante do depósito que foi feito na época de distribuição. Como valores são depositados diariamente, os oficiais não têm controle sobre o que é valor regular e o que pode ter entrado como gratificação. n A fonte desconfia que os oficiais estejam sendo usados como bodes expiatórios de um esquema maior, já que, nos contratos da M. L. Gomes, são especificados prazos de 30 dias para busca e apreensão do veículo e 60 dias para a sentença do juiz. Como um escritório poderia garantir um prazo para que um juiz desse uma sentença? E por que esse tipo de ação é agilizado em todos os setores, em detrimento de outros?, questiona. n A mesma fonte acredita, ainda, que o promotor Mauro Rockenbach, que está conduzindo as investigações, esteja querendo se promover, já que não observou o detalhe dos prazos referentes aos juízes e só investigou os oficiais. O fato do promotor ter escancarado na imprensa nacional as investigações mesmo antes de haver indiciamentos ou sentença reforça a tese da fonte, segundo ela própria.