Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 OS FALSOS AMIGOS DO ESPANHOL Érica Naiara Aparecida da Silva Luana Cristina Pires Costa Lyncoln Dias Machado Cabral (G – CLCA – UENP/CJ) Nerynei Meira Carneiro Bellini (Orientadora – CLCA – UENP/CJ) “Falsos amigos são palavras que soletram semelhança fônica e parecem à primeira vista ser facilmente compreendidas, traduzidas ou interpretadas, mas na verdade significa esconder armadilhas perigosas para o leitor incauto ou tradutor.” (Ângela Bono) RESUMO “Ayer pasé largo rato en la cola del banco y me quedé muy enojado”, como se traduz essa frase para o português? Caso se faça uma tradução literal, por conta das palavras semelhantes, os sentidos não serão os mesmos propostos em espanhol. Embora ambas as línguas derivem do latim e, por isso, possuam palavras idênticas ou semelhantes na grafia, têm significados diferentes. Estas palavras são chamadas de heterossemânticos ou “falsos amigos”, como são popularmente conhecidas, e podem ter um ou vários significados. Como, por exemplo, a palavra rojo (espanhol) = vermelho (português). Já, o vocábulo araña (inseto) tem significado de aranha em português, mas é um falso cognato quando significa “lustre” em espanhol, assim: “Todas las arañas del palacio son de cristal”. Este trabalho tem por objetivo mostrar algumas expressões constituídas por vocábulos heterossemânticos e suas implicações no processo comunicativo as quais, muitas vezes, resultam em impropriedades e inadequações semânticas. Considerações Iniciais O presente trabalho é fruto de estudos realizados na disciplina Língua Espanhola II, ministrada pela Profª Dra. Nerynei Meira Carneiro Bellini, no Curso de Letras da UENP/CJ e apresentado no IX Sóletras: Iniciação Científica, Estudos Linguísticos e Literários, sob a orientação da mesma. Tem por objetivo mostrar os diferentes significados da língua espanhola e da portuguesa, pois ambas, derivadas do latim, possuem palavras idênticas ou semelhantes na forma gráfica ou fonética que podem provocar interferências na comunicação. Portanto, são palavras semelhantes na grafia, mas de significados diferentes. 741 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Estas palavras, chamadas de heterossemânticos ou “falsos amigos” (como são popularmente conhecidas), podem ter uma única acepção, como: rojo (espanhol) = vermelho (português). Porém existem casos que o termo em espanhol pode ter várias acepções, por exemplo: araña (inseto) que tem significado de aranha em português, mas é um falso cognato quando significa “lustre” em espanhol, por exemplo: “Todas las arañas del palacio son de cristal”. Em suma, sem o conhecimento destas palavras como um falante brasileiro traduziria esta frase: “Ayer pasé largo rato en la cola del banco y me quedé muy enojado”? Independente da interpretação, a tradução correta é: “Ontem eu passei um longo tempo na fila do banco e eu estava muito irritado”, portanto, o espanhol não é fácil só pelo fato de ser parecido com o português, pois pode ter significados traiçoeiros para o falante dessas línguas. Heterossemânticos Quando aprendemos uma língua estrangeira precisamos tomar um cuidado muito especial com as palavras que se assemelham às de nosso próprio idioma. Muitas vezes a semelhança da forma é acompanhada por uma grande diferença de conteúdo. A esse fenômeno linguístico dá-se o nome de heterossemânticos ou falsos cognatos. Os heterossemânticos (hetero= distinto; semântico= significado) ou “falsos amigos” são palavras de outros idiomas semelhantes a certos vocabulários da língua portuguesa, mas com uma carga semântica distinta, por isso devemos ter o máximo de cuidado possível com tais palavras, pois elas podem nos confundir em diversas situações. Segundo Almeida Filho (apud FIALHO, 2005): “o léxico entre as duas línguas é constituído por 60% de cognatos idênticos e 30% de cognatos falsos”. Observa-se, portanto, que, durante o estudo da língua espanhola, o aprendiz irá deparar-se com uma infinidade de vocábulos que são “verdadeiros” cognatos, e o estudo dos heterossemânticos tem como objetivo prepará-lo para não tomar o falso por verdadeiro; melhorando, dessa forma, a sua capacidade comunicativa. Para estudo dos falsos cognatos, parte-se do princípio de que se sabe, mas como na verdade não se sabe, os equívocos são inevitáveis. Se um brasileiro receber em casa um casal de falantes natos do espanhol, e o homem, feliz da vida, comentar em bom portunhol: "Mia mujer está embarazada", causará equívocos no interlocutor. O brasileiro, que não sabe que 742 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 esta palavra possui um significado distinto em espanhol, mas acredita que conhece seu significado, por ser semelhante ao vocábulo português, irá se preocupar com o excesso de timidez da mulher. Por isso, se esforçará ao máximo para ser mais atencioso, fazendo de tudo para tentar deixá-la o mais à vontade possível, mas nunca lhe passará pela cabeça dar os parabéns pelo fato. Por sua vez, o estrangeiro ficará esperando alguma manifestação de alegria por parte do seu anfitrião, pois tudo que estava querendo dizer era que sua mulher estava grávida. Situações deste tipo podem acontecer porque existe uma série de palavras que são iguais em espanhol e português e, no entanto, significam coisas bastante diferentes. Os estudos de Andrade Neta (2006) apontam uma divisão na classificação dos heterossemânticos, proposta por Fernandez Bechara e Gustavo Moure. Assim, podem-se dividir os heterossemânticos em: A- Formas semelhantes com significados completamente distintos: diz respeito aos vocábulos que apresentam formas semelhantes ou idênticas em ambos os idiomas e que, porém, diferem totalmente quanto ao significado empregado em ambas as línguas. Assim, não oferecem nenhum significado comum nas línguas confrontadas, como, por exemplo: ambos os idiomas possuem a palavra “BERRO”. Porém, o que se passa é que essa palavra em português significa soltar um grito, enquanto que em espanhol descreve uma hortaliça que tem como vocábulo equivalente em português o nome: agrião. B- Formas semelhantes com um ou mais de um significado semelhante, ainda, um ou vários outros distintos: os vocábulos pertencentes a esse grupo possuem um ou mais equivalentes, porém apresentam outros distintos, ou seja, sem correspondência no português e no espanhol. O vocábulo “ACORDAR”, por exemplo, em ambas as línguas, apresenta o sentido de “estar de acordo”. No entanto, esta palavra tem significados muito diferentes em ambas as línguas, uma vez que em português também é sinônimo de “DESPERTAR-SE”, enquanto que em espanhol é sinônimo dos vocábulos “DECIDIR, ACORDARSE”. Este último, em português, significa “LEMBRAR-SE”. C- Formas semelhantes com significados distintos no uso atual: tratam-se dos vocábulos que possuem uma origem comum e que já chegaram a compartilhar, em fases anteriores, o mesmo significado nas duas línguas. Cita-se, por exemplo, a palavra latir originada do latim. Essa palavra significava “pulsar, latir” o coração e ao mesmo tempo descrevia o “ladrar” do 743 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 cachorro. Deu-se, porém, que a língua portuguesa manteve para esse vocábulo apenas o sentido de “ladrar”, que é o latir do cachorro, enquanto que em espanhol apenas se manteve o sentido de “latir, pulsar” que é o “bater” do coração. Alguns exemplos de frases contendo falsos cognatos A. Esta camisa está muy larga. • Interpretação de uma pessoa que desconheça os falsos cognatos: Esta camisa está muito larga, é preciso apertá-la. • Interpretação correta: Esta camisa está muito comprida, é preciso encurtá-la Larga = comprida B. ¡No te vayas! ¡Estaré allí en un rato! • Interpretação de uma pessoa que desconheça os falsos cognatos: Ele virá montado em um rato! • Interpretação correta: Ele chegará logo! Rato = Momento C. ¿Cuál es el apellido del mayor jugador de fútbol del Brasil? • Resposta de uma pessoa que desconheça os falsos cognatos: O apelido dele é Pelé. • Resposta correta: O sobrenome dele é Arantes do Nascimento. Apellido = Sobrenome D. Estoy enojado. • Interpretação de uma pessoa que desconheça os falsos cognatos: Ele está enjoado, e pode vomitar. • Interpretação correta: Ele está aborrecido. 744 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Enojado = aborrecido E. Soy zurdo. • Interpretação de uma pessoa que desconheça os falsos cognatos: Ele é surdo / possui problemas de audição. • Interpretação correta: Ele é canhoto. Zurdo = canhoto F. Si me das una escoba te ayudo a barrer el patio. • Interpretação de uma pessoa que desconheça os falsos cognatos: Ele está pedindo que lhe dêem uma escova para ajudar a varrer o pátio/quintal. • Interpretação correta: Ele está pedindo que lhe dêem uma vassoura para ajudar a varrer o pátio/quintal. Tabela com alguns falsos cognatos Existem 4.225 falsos amigos entre português e espanhol, vejamos alguns exemplos na tabela abaixo: ESPANHOL PORTUGUÊS Agasajar Presentear, Fazer favores, acolher bem Almohada Travesseiro Apellido Sobrenome Abono Adubo Acordarse Lembrar-se Berro Agrião Billón Trilhão Bolsillo Bolso Borracha Bêbada Borrar Apagar 745 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Carpa Barraca de Camping Cena Janta Desquitarse Vingar-se Escoba Vassoura Escritorio Escrivaninha Estofado Ensopado, Cozido Exquisita Deliciosa, Gostosa Largo Comprido Latir Bater, Pulsar Oficina Escritório Oso Urso Pelado Careca, Calvo Pelo Cabelo Rojos Vermelhos Rubio (a) Loiro (a) Saco Paletó Salada Salgada Salsa Molho Sitio Lugar Vaso Copo Zorro Raposa Zurdo Canhoto Considerações Finais Diante de tudo o que foi exposto, pode-se verificar que o estudo dos heterossemânticos, no início do processo ensino-aprendizagem, pode colaborar de maneira substancial com o aprendiz a fim de fazê-lo evitar equívocos de interpretação e, consequentemente, facilitar-lhe a capacidade de compreensão comunicativa. 746 Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216 Referências ANDRADE NETA, Nair Floresta. 2006. 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