O PASSAPORTE COMO INSTRUMENTO DA INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ESPANHOL E GEOGRAFIA Leonardo Terra Messias1 Caroline Gonçalves Feijó 2 Jonas dos Santos3 Mara Belém da Silva4 Cristina Pureza Duarte Boéssio 5 Resumo: O presente trabalho objetiva apresentar reflexões sobre uma prática que está sendo desenvolvida com uma turma de nono ano, noturno, neste ano de 2014, de uma escola municipal, localizada na cidade de Jaguarão/RS. Na perspectiva de que o professor pode proporcionar atividades interdisciplinares para fazer com que o processo de aprendizagem seja significativo para os alunos, criamos um projeto para trabalhar a língua espanhola junto aos conteúdos trabalhados na disciplina de geografia. Para que houvesse esse diálogo entre as disciplinas foram feitas reuniões entre a professora titular da turma e três bolsistas ID do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, com o subprojeto de Letras vinculado à Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – Campus Jaguarão. Quando as atividades iniciaram, percebemos que necessitávamos trazer um instrumento que atuasse como fio condutor no desenvolvimento das atividades. Optamos pela produção de um passaporte, que foi a ponte que interligou as disciplinas – espanhol e geografia – e que também, possibilitou que eles, os alunos, fizessem “viagens” entre os países que estão estudando. A professora de geografia ministrou os conteúdos que a disciplina exigiu, e como complemento, trabalhamos a linguagem através de questões culturais e costumes dos países hispano falantes. Entregamos um passaporte para cada aluno e a partir de um original começamos a preencher juntos. Como em espanhol há uma diferença entre as nomenclaturas para os dados de identificação aproveitamos para começar a trabalhar aspectos de semelhança e diferença entre as palavras nos dois idiomas – português e espanhol – também o utilizamos para suporte de estudos, pois eles tiveram a oportunidade de utilizar o passaporte para as duas disciplinas. Por fim, acreditamos que o desenvolvimento de atividades como essa ajuda aos alunos a aprenderem a língua espanhola através do lúdico e de propostas interdisciplinares, o que proporciona uma maior aquisição do léxico da língua alvo, assim como os conteúdos da geografia. Concluímos que há a possibilidade de fazer um trabalho interdisciplinar e oferecer um ensino mais “prazeroso” da língua espanhola e da geografia. Palavras-Chave: Ensino de espanhol, ensino de geografia, atividade integrada. 1 Acadêmico no curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pampa e bolsista ID do subprojeto PIBID Letras, financiado pela CAPES, campus Jaguarão, RS, Brasil. ([email protected]). 2 Acadêmica no curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pampa e bolsista ID do subprojeto PIBID Letras, financiado pela CAPES, campus Jaguarão, RS, Brasil. ([email protected]). 3 Acadêmico no curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pampa e bolsista ID do subprojeto PIBID Letras, financiado pela CAPES, campus Jaguarão, RS, Brasil. ([email protected]). 4 Professora da Escola de Municipal de Ensino Fundamental Padre Pagliani e supervisora no subprojeto PIBID Letras, financiado pela CAPES, campus Jaguarão, RS, Brasil. ([email protected]). 5 Professora Adjunta no curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Pampa e coordenadora do subprojeto PIBID Letras, financiado pela CAPES, campus Jaguarão, RS, Brasil. ([email protected]). 1. APRESENTAÇÃO Tendo a oportunidade de estarmos inseridos no ambiente escolar através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, com o subprojeto de Letras vinculado à Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA – Campus Jaguarão e podendo colocar em prática os conhecimentos adquiridos no ambiente acadêmico durante nossa formação docente, aproveitamos esses espaços em que há o diálogo entre a escola e a universidade para fazermos uma reflexão entre a teoria e prática. O subprojeto tem como foco proporcionar um aprendizado docente de maneira contextualizada e assim qualificar as práticas pedagógicas do futuro professor. Esse movimento que se dá entre as instituições é de fundamental valor, pois além de contribuir para os acadêmicos, também proporciona ao professor, que está vinculado à rede básica de ensino, uma formação continuada. Na perspectiva de que o professor pode proporcionar atividades integradas para fazer com que o processo de aprendizagem seja significativo para os alunos, criamos o projeto “Uma viagem pelos países europeus” para trabalhar a língua espanhola junto aos conteúdos desenvolvidos na disciplina de Geografia. A ideia da proposta foi propiciar um ambiente motivador para o desenvolvimento de uma aprendizagem mais prazerosa e contextualizada de ambas as disciplinas. Ressaltamos também a importância de propor ações que trabalhem a subcompetencia sociolingüística (GARGALLO, 1999), pois ao ensinar uma língua temos que pensar que ela faz parte de uma cultura e de uma sociedade. A partir disso, o aluno compreenderá e respeitará a sua cultura e a do outro, portanto o objetivo deste relato é relatar uma atividade integrada em que o instrumento que uniu as duas disciplinas (Geografia e Espanhol) foi um passaporte fictício, sendo assim os alunos puderam fazer uma “viagem” em que conheceram alguns aspectos culturais dos países europeus. 2. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E DA TURMA A Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Pagliani, na qual aconteceu o desenvolvimento do projeto é uma das que está inserida no PIBID, está localizada no centro do município de Jaguarão/RS, cidade essa que fica ao extremo sul do país e faz fronteira com a cidade de Rio Branco/Uruguai. A escola atende nos três períodos: matutino, vespertino e noturno, pela manhã no horário das 8h às 12h; à tarde das 13h30m às 17h30m e à noite funciona a Educação de Jovens e Adultos - EJA, das 19h às 22h. Nesses períodos oferece os seguintes níveis, Educação Infantil e Ensino Fundamental; há, em média, 278 alunos, comportando, também em média, 18 alunos por sala. A proposta foi desenvolvida em uma turma de 9º ano noturno, em que há, em média, 20 alunos, jovens e adultos de classe média e classe média baixa. A maioria dos participantes que integram o grupo trabalha durante o dia e tem apenas a noite para estudar, então nos deparamos com pessoas que estão em uma instituição com a vontade de aprender, embora às vezes chegassem cansados. Partindo deste contexto fomos desafiados a propor atividades que primam por motivar os alunos ao interesse por aprender uma língua estrangeira, no caso o espanhol, e que possibilitassem a realização de uma das principais atribuições que uma escola possui: ensinar. 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Acreditamos que o responsável a gerar o input aos alunos é o professor. Entretanto, para isso ocorrer, o educador deve proporcionar um espaço atraente, no qual os alunos se sentirão seguros para adquirir uma língua estrangeira. Além disso, é de suma importância que os materiais utilizados pelo professor estejam suprindo as necessidades de seus educandos, bem como possa também estimular os interesses dos alunos pelo idioma. Nesta atividade, além de fornecer conhecimento na disciplina de Geografia, fizemos uma explicação das matérias abordadas, a fim de induzir os alunos ao que Baralo (2004) refere sobre o input quando “requiere que para se produzca verdaderamente adquisición, los datos a los que está expuesto el aprendiente deben ser sólo un poco más difíciles o desconocidos que el nivel de la competencia real del sujeto.” (BARALO, 2004, p. 61). Assim, ao trabalhar duas disciplinas concomitantemente podemos apresentar as informações referentes aos aspectos geográficos em sua língua vernácula, já que a disciplina de Geografia ocorre em português, e discutir outros aspectos, no caso cultural e linguístico, utilizando a língua alvo, ou seja, o espanhol. Ao que tange o aspecto motivacional em nossa intervenção, propusemos aos nossos alunos uma metodologia diferenciada, traçando uma correlação entre as disciplinas e disponibilizando outra ótica ao ensino, porque conforme Brophy, apud Bzuneck (2000) a motivação do aluno, portanto, está relacionada com trabalho mental situado no contexto específico das salas de aula. Surge daí a conclusão de que seu estudo não pode restringir-se à aplicação direta dos princípios gerais da motivação humana, mas deve contemplar e integrar os componentes próprios de seu contexto (BROPHY, 1983 apud BZUNECK, 2000, p. 11) Sendo assim, ao levar para a sala de aula um instrumento que os alunos conseguiram fazer uma ligação entre os conteúdos, proporcionando a motivação necessária para a aprendizagem significativa em ambas as áreas. 4. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES Para que houvesse esse diálogo entre as disciplinas foram feitas reuniões entre a professora titular da turma e três bolsistas ID do PIBID. Quando as atividades iniciaram, percebemos que necessitávamos trazer um instrumento que atuasse como fio condutor no desenvolvimento da proposta. Desse modo, optamos pela produção de um passaporte, que foi a ponte que interligou as disciplinas – Espanhol e Geografia – e que também, possibilitou os alunos fazerem “viagens” entre os países que estão estudando. A professora de Geografia ministrou os conteúdos que a disciplina exigiu, e como complemento, trabalhamos a linguagem através de questões culturais e costumes dos países hispano falantes. Entregamos um passaporte para cada aluno e a partir de um original começamos a preencher juntos. Como em espanhol há uma diferença entre as nomenclaturas para os dados de identificação aproveitamos para começar a trabalhar aspectos de semelhança e diferença entre as palavras nos dois idiomas – português e espanhol – também o utilizamos para suporte de estudos, pois eles tiveram a oportunidade de utilizar o passaporte para as duas disciplinas. A motivação estava presente entre os alunos porque foi perceptível a ansiedade e os questionamentos sobre qual seria o primeiro destino da nossa tão esperada viagem, podemos afirmar esse sentimento devido aos constantes encontros que tivemos entre uma oficina e outra e também com as perguntas feitas nos corredores da escola. Ficamos surpreendidos com o envolvimento que os alunos tiveram frente às atividades ao ponto de quererem que essa disciplina interligada ocorresse mais de uma vez por semana. Nesta parte do relato descreveremos uma dessas atividades interligadas que foi a apresentação do documentário, Origen de la lengua española, que fala sobre a origem da língua castelhana. Primeiro, foi passado o vídeo, que está com o áudio e legendas em língua espanhola, o que auxiliou no desenvolvimento de, pelo menos, duas habilidades: leitora e auditiva. O vídeo foi visto três vezes, na primeira foi feito um levantamento do que eles haviam entendido, o que nos possibilitou identificar a capacidade de compreensão auditiva e de entendimento da matéria, pois como eles já haviam trabalhado aspectos desse conteúdo na disciplina de Geografia, já deveriam possuir algum conhecimento prévio. A partir do vídeo pudemos fazer uma conexão entre as matérias, pois o fato de estar em uma aula de língua nos possibilitou fazer uma ligação entre os aspectos linguísticos da língua espanhola e a historicidade do processo de constituição dessa língua, através de explicações da divisão política do continente. Na segunda parte da atividade fomos levantando hipóteses sobre o que foi visto no vídeo e instigando os alunos a fazer apontamentos no passaporte acerca dos aspectos que interligaram a origem da língua e as divisões do continente, proporcionando assim a atividade integrada de linguística e geografia. Nessa parte, houve a participação dos bolsistas ao explicar sobre a origem da língua e da professora titular que contribuía com informações acerca do surgimento das fronteiras políticas existentes até hoje. Por fim, percebemos que o passaporte serviu como um instrumento que possibilitou a motivação dos alunos por ser um material real em que pudessem fazer a ligação entre aspectos geográficos e linguísticos, bem como culturais. A escrita, no passaporte, foi feita em língua espanhola e auxiliando os alunos a adquirirem um maior léxico, também conhecer um pouco mais sobre a história de Portugal e Espanha, e a origem do castelhano que é uma das vertentes do latim, assim como o português, justificando suas semelhanças. 5. AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES Essa prática se demonstrou produtiva quando pudemos perceber que eles haviam feito inferências do que já tinham trabalhado na disciplina de Geografia para justificar o processo de constituição da linguagem abordado na disciplina de Espanhol. O passaporte foi o instrumento que possibilitou a materialização dessas inferências, sendo o pretexto inicial que fez com que os alunos percebessem a união entre as disciplinas. Ao que tange sobre a aprendizagem, notamos que o processo foi significativo para os alunos, porque foram motivados e assim baixando seu filtro afectivo (BARALO, 2004, p. 61) estando mais dispostos à aquisição de outra língua, e para nós, professores em formação, pois possibilitou a prática docente e o amadurecimento teórico, e para a professora titular, foi capaz de proporcionar uma formação continuada em que ela pode modificar sua abordagem de ensino. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim, acreditamos que o desenvolvimento de práticas como essa ajudam os alunos a aprenderem a língua espanhola através do lúdico e de propostas integradas entre disciplinas, visando uma abordagem interdisciplinar, o que proporciona uma maior aquisição do léxico da língua alvo, assim como os conteúdos da Geografia. Sendo assim, com o diálogo entre a professora titular e os bolsistas, pode haver uma ligação entre disciplinas e, assim, aproximando-se e fazendo com que os alunos sejam os que mais tenham proveitos com essa experiência. Concluímos que há a possibilidade de realizar atividades que unam os conteúdos de duas disciplinas que possuem objetivos distintos, e que através dessa união, os professores podem oferecer aos alunos um ensino mais “prazeroso”, neste caso da língua Espanhola e da Geografia. Também pudemos refletir acerca da teoria aprendida no projeto PIBID, bem como na licenciatura. Já que o nosso curso é voltado ao ensino, logo sairemos licenciados, a maneira de como ensinar é um de seus focos principais, imbricado a isso está a teoria, que é de grande valia para nosso processo de formação, porém se não tivermos um espaço para praticá-la, ela se torna nula, e sendo assim o PIBID nos proporciona tal inserção no âmbito escolar. 7. REFERÊNCIAS BARALO, M. La adquisición del español como lengua extranjera. 2. ed. Madrid: Arco Libros. 2004. BZUNECK, J. A. As crenças de auto-eficácia dos professores. In: SISTO, F.; OLIVEIRA, G. C.; FINI, L.D. (Orgs.). Leituras de psicologia para formação de professores. Petrópolis: Vozes, 2000. GARGALLO, Isabel Santos. Lingüística aplicada a la enseñanza–aprendizaje del español como lengua extranjera. Madrid: Arco Libros. 1999. ORIGEN de la lengua española. Produção: Alfredo Platero Bolaños. Documentário, 04’09”. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=WPLhpVc7KFk>. Acesso em 19 de março de 2014.