POSPOSIÇÃO DO SUJEITO NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL: UM ESTUDO CONTRASTIVO Por Rosa Lucia Rosa Gomes Departamento de lingüística Faculdade de Letras Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras/UFRJ Segundo período 2006 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. 2 POSPOSIÇÃO DO SUJEITO NO PORTUGUÊS E NO ESPANHOL: UM ESTUDO CONTRASTIVO por Rosa Lucia Rosa Gomes Tese de Doutorado apresentada à Coordenação de Pós-graduação em Lingüística como parte dos requisitos para o título de Doutor. Orientadora: Professora Doutora Vera Lúcia Paredes P. da Silva. Faculdade de Letras/UFRJ Segundo semestre 2006 3 Uma vez mais observei que debaixo do sol: A recompensa não é dos ligeiros, nem a batalha é dos fortes, nem tampouco o pão é para os sábios, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor; mas a oportunidade ocorre a (Eclesiastes 9, 11) todos. 4 A Ruy, Maria, R. Gomes, Patrícia e Jaque, dedico esta tese. 5 Defesa de tese GOMES, Rosa Lucia R.. Posposição do sujeito no Português e no Espanhol: um estudo contrastivo. Tese de doutorado. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ. 2006. Orientadora: Professora Doutora Vera Lúcia Paredes da Silva – Programa de PósGraduação em Lingüística — UFRJ Professora Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagório – Programa de PósGraduação em Letras Neolatinas – UFRJ Professora Doutora Ucy Soto — UNESP Professora Doutora Maria da Conceição A. de Paiva – Programa de Pós-Graduação em Lingüística — UFRJ Professor Doutor Mário Eduardo Martelotta – Programa de Pós-Graduação em Lingüística — UFRJ Professora Doutora Christina Abreu Gomes – Programa de Pós-Graduação em Lingüística — UFRJ (SUPLENTE) Professora Doutora Letícia Rebollo Couto – Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas — UFRJ (SUPLENTE) Defendida a Tese. Conceito: Em_____/______/2006. 6 Agradecimentos À Vera Paredes, orientadora amiga, cuja capacidade, dedicação, inteligência e conhecimento tornaram possível a realização deste trabalho. À Consuelo Alfaro, Co-orientadora amiga, sempre disponível, meus agradecimentos. À Conceição de Paiva, pelas valiosas sugestões na ocasião do meu exame de qualificação. À Jaqueline que fez a revisão final, meus sinceros agradecimentos. Aos professores que proporcionaram os meios e enriqueceram a minha formação, meus agradecimentos. À equipe da Secretaria da Pós-graduação da Faculdade de Letras pela atenção, meus agradecimentos. A minha família, que me incentivou, encorajou e criou as facilidades para que eu alcançasse meu objetivo, meu carinhoso obrigada. Ao CNPq, pelo apoio financeiro, meus agradecimentos. 7 Sinopse Análise da ordem no espanhol, Semelhanças do sujeito, no português e com base na teoria funcionalista. e diferenças entre os textos narra- tivos e artigos de opinião. Características semânticas e discursivas na escolha da ordem SV ou VS. Atuação do Princípio da informatividade na escolha de uma ou outra ordem. A noção de referenciação associada à continuidade ou descontinuidade do referente. 8 SUMÁRIO 1. Introdução 10 2. Estudos precursores 14 3. Pressupostos teórico-metodológicos 23 3.1. O funcionalismo americano 23 3.2. O variacionismo 30 3.3. A análise de gêneros 32 3.3.1. Os gêneros de discurso e os tipos de textos 32 3.3.2. Os gêneros notícias e artigos de opinião 37 3.3.3. Seqüências narrativas 39 3.3.4. Seqüências argumentativas 41 4. Análise dos dados 44 4.1. Status informacional do constituinte 44 4.2. A continuidade do SN 53 4.2.1. Retomadas de referentes próximos 57 4.2.2. Retomadas de referentes distantes 58 4.2.3. Menção única 60 4.2.4. Primeira menção 63 4.3. A extensão do sujeito 70 4.4. Tipo de determinante 75 4.5. Transitividade 82 4.5.1.Número de participantes da oração 82 4.5.2 Aspecto 87 4.5.3. Agentividade do sujeito 90 4.6. Vozes do verbo 4.7. Natureza semântica 94 100 5. Conclusões 115 6. Bibliografia 120 7. Anexos 128 9 Índice de tabelas Tabela 1 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos textos de notícias Tabela 2 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos artigos de opinião Tabela 3 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em textos de notícias Tabela 4 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em textos de opinião Tabela 5 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em textos de notícias Tabela 6 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em textos de opinião Tabela 7 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinante em textos de notícias Tabela 8 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinante em textos de opinião Tabela 9 – Freqüência da ordem VS segundo a transitividade em textos de notícias Tabela 10 – Freqüência da ordem VS segundo a transitividade nos artigos de opinião Tabela 11 – Freqüência da ordem VS segundo o aspecto em textos de notícias Tabela 12 – Freqüência da ordem VS segundo o aspecto em artigo de opinião Tabela 13 – Freqüência da ordem VS segundo agentividade do sujeito em textos de notícias Tabela 14 – Freqüência da ordem VS segundo agentividade do sujeito em artigos de opinião Tabela 15 – Freqüência da ordem VS segundo voz do verbo em textos de notícias Tabela 16 – Freqüência da ordem VS segundo voz do verbo em artigos de opinião Tabela 17 – Freqüência de ordem VS segundo o tipo semântico nos textos de notícias Tabela 18 – Freqüência de ordem VS segundo o tipo semântico nos textos de opinião 10 1. INTRODUÇÃO Tradicionalmente, o português e o espanhol são vistos como línguas de ordem variável, nas quais o sujeito pode estar anteposto ou posposto ao verbo. Assim, o português e o espanhol possuiriam uma ordem canônica, em que o sujeito deve estar em posição pré-verbal, e uma ordem invertida, em que o sujeito está na posição pós-verbal. Atualmente, os lingüistas questionam essa aparente liberdade de posição e mostram que cada possibilidade poderia ser explicada a partir de motivações estruturais e discursivas que estariam atuando na escolha de uma ou outra ordem. Um exemplo dessa mudança de conceito está no trabalho de Naro & Votre (1999). Os autores inicialmente associavam a alternância de ordem SV/VS como um fenômeno variável. Contudo, ao contrário do que indicavam suas hipóteses iniciais, a análise de dados de fala mostrou que a escolha entre a ordem SV e VS se define por razões de natureza comunicativa. Segundo eles, a ordem SV corresponde ao SN, centro da informação; a ordem VS representaria uma baixa no fluxo informacional, uma vez que o S ocuparia uma posição marginal, ou seja, não é o tópico da informação. Assim, iniciamos o presente trabalho, motivados por estudos como os de Naro e Votre. Tomamos como orientação, para o desenvolvimento da presente proposta, a teoria funcionalista na sua vertente representada por Givón (1983,1990,1995), Hopper e Thompson (1980), entre outros. Associamos à análise o instrumental teóricometodológico da Teoria da Variação laboviana, com o objetivo de comprovar estatisticamente nossas hipóteses. 11 Pretendemos, deste modo, realizar um estudo empírico comparativo1 do português brasileiro e do espanhol europeu em textos escritos que julgamos representar um padrão de uso atual. O corpus é composto de textos de dois gêneros diferentes: artigos de opinião e notícias. Os textos foram coletados de jornais brasileiros, que têm distribuição nacional, o Jornal do Brasil e O Globo, para o português. Para o espanhol foi coletado material obtido de periódico espanhol de circulação internacional, o jornal El Pais. A opção por desenvolver o trabalho com textos jornalísticos teve como fator motivador poder representar uma contribuição para o ensino do espanhol como L2, assim como para o ensino do português, uma vez que os gêneros artigo de opinião e notícias oferecem exemplos de seqüências narrativas e argumentativas, dois tipos muito explorados nas aulas de produção de texto. O objetivo geral do presente trabalho é demonstrar, através do arsenal teórico do funcionalismo, que a ordem pós-verbal e pré-verbal não é realizada arbitrariamente, mas que é motivada e pode ser correlacionada a um conjunto de fatores de diversas ordens que se associam às intenções do redator e à capacidade de processamento do leitor. A hipótese geral é a de que a escolha de uma ou outra ordem satisfaz às necessidades cognitivas e comunicativas e deve manter, na maior parte das vezes, uma relação icônica com a ordem em que os fatos e eventos ocorrem no mundo real. A hipótese prevê que a escolha da ordem SV/VS é decorrente das pressões do uso. Essas pressões levam a que a escolha de uma ordem ou outra seja decorrente de situações e propriedades discursivas particulares. 1 O termo contrastivo aqui não se refere ao estudo comparativo nos termos da Lingüística Aplicada dos anos 60. 12 Com base no exposto acima, apresento em forma de questionamento, as hipóteses que se espera comprovar, quanto ao uso de SV/VS. 1) Haveria semelhança entre os textos de notícias e as narrativas de fala analisadas em outros autores? 2) Teriam os artigos de opinião motivações distintas? No que diz respeito a regularidades específicas de cada língua, a nossa pesquisa dirigiu o olhar para os seguintes questionamentos: 3) Haveria diferenças de uso na construção VS do português e espanhol? 4) Haveria interferência de aspectos discursivos e semânticos nessa escolha? Este trabalho está organizado da seguinte forma: no capítulo 2 apresentamos uma revisão de trabalhos que abordam o problema da ordem do sujeito, no português e no espanhol, numa perspectiva também funcionalista, de uso da língua. No capítulo 3, estabelecemos as bases teórico-metodológicas que dão suporte ao trabalho. Nesse capítulo, apresentamos as diferentes características que se atribuem ao funcionalismo. Expomos os princípios funcionalistas aplicados e ainda a utilização do aparato variacionista no nosso trabalho, no sentido de poder comprovar estatisticamente nossas hipóteses. Dada a nossa escolha por analisar gêneros jornalísticos – dedicamos uma seção à conceituação de gêneros e tipos de texto e caracterizamos os gêneros escolhidos: artigos de opinião e notícias. No capítulo 4, apresentamos a análise dos fatores levantados como correlacionados à posposição do sujeito. Discutimos e relacionamos as semelhanças e diferenças depreendidas entre as duas línguas. 13 No capítulo 5, concluímos nosso trabalho, retomando os resultados e ressaltando os pontos em que eles correspondem às nossas expectativas, principalmente no que se refere à ocorrência da ordem marcada do sujeito no Português e no Espanhol. Após as conclusões, apresentamos as notas e referências bibliográficas e um anexo com alguns dos textos que utilizamos na análise. 14 2. ESTUDOS PRECURSORES Neste capítulo trato de trabalhos precursores que, adotando a linha funcionalista, trabalharam a ordem SV/VS, no português e no espanhol. Em Naro e Votre (1999), por exemplo, podemos encontrar a questão da ordem SV/VS dirigida para os fatores que o discurso impõe. Os autores utilizaram, para examinar a questão da ordem SV/VS, um corpus de fala de sessenta e quatro informantes coletado na década de 80 pelos integrantes do Projeto de Estudo sobre o Uso da Língua (PEUL) - UFRJ. A partir de uma abordagem funcionalista, os autores argumentam que a escolha entre SV e VS se define por razões de natureza comunicativa. Assim, enquanto a ordem SV corresponde ao SN, centro da informação, a ordem VS representaria uma baixa no fluxo informacional, uma vez que o S ocuparia uma posição marginal, ou seja, não é o centro da informação e por isso apresenta em sua maioria referentes não agentes2. A partir daí se pode chegar à noção de cadeia tópica, que reflete o grau de centralidade do sujeito no fluxo discursivo e estaria representada no número de vezes em que um referente é retomado. Esse referente central já conhecido, e portanto velho/evocado, servirá de base de sustentação para referentes novos, que não são tópicos e tendem a ocorrer em posição marginal. Contudo, segundo os autores, ocasionalmente referentes que são conhecidos, e portanto evocados, e que não são centrais, podem ocorrer em estruturas VS, quebrando a expectativa de SNs novos nessa posição. A centralidade e periferalidade, portanto, seriam a razão apontada pelos autores para a raridade de estruturas VS com referentes evocados (previamente mencionados). O falante raramente 2 É importante que se observe que nas análises de Naro & Votre os dados eram compostos de textos narrativos, daí a relevância dos agentes. 15 repete elementos periféricos, que não são o centro de atenção, mas que em ocasiões especiais são retomados e expressos preferencialmente pela ordem VS. Assim, de um modo geral, as estruturas VS desempenham seu papel de introduzir referentes novos mas, ocasionalmente, também poderão, em casos especiais, ocorrer SNs pospostos com referentes dados. Também numa abordagem funcionalista, Pezatti (1994) relaciona as duas ordens naturais de constituintes sentenciais no português falado a fatores pragmáticodiscursivos. A autora argumenta que a ordem SV/VS constitui um dos recursos gramaticais do português falado utilizado para indicar a relação figura-fundo no discurso. (cf. Hopper 1979) Nesse sentido, os usuários da língua construiriam as sentenças tendo em vista seus objetivos comunicativos e a sua percepção das necessidades do ouvinte. Assim, o que é mais relevante e merece destaque seria representado como a estrutura básica do texto e teria como função fazer o discurso progredir. Essa linha-mor da comunicação chama-se figura. Por outro lado, o que não contribui imediata e crucialmente para os objetivos do falante, ou seja, não é responsável pela progressão discursiva, mas apenas amplia o aspecto principal é chamado de fundo. Pezatti propõe quatro características que podem compor orações que representam porções figura. Na primeira característica das orações estaria a constituição da linha principal de progressão do discurso, que apresentaria uma ordem lógica, não necessariamente cronológica, como na narrativa. Na segunda, haveria conservação do mesmo sujeito, que introduziria material novo no predicado; na terceira haveria manutenção da continuidade de tópico; na quarta característica a oração mostraria dinamicidade. Contudo, embora a autora argumente que as características que propõe 16 não sejam com base nos textos de narrativa, alguns dos atributos propostos apresentam aspectos típicos de textos narrativos, tais como no segundo e no quarto. A conservação do mesmo sujeito, que propõe em dois, é uma característica típica das narrativas. Os artigos de opinião, como veremos mais adiante, não apresentam conservação do sujeito como os dos textos narrativos, talvez por possuírem referentes menos animados que os das narrativas. O mesmo aspecto pode ser encontrado na proposta de dinamicidade que, ao que parece, também é característica da narrativa, já que os textos de opinião também não apresentam o mesmo nível de dinamicidade. Berlinck (1997) estuda também a ordem SV/VS, no português escrito, correlacionando-a ao status informacional do referente, e mostra, assim como Naro e Votre (1999), que a correlação entre ordem do sujeito e categoria informacional do referente não é tão sistemática quanto se poderia esperar. Embora sujeitos pré-verbais normalmente sejam “dados” e sujeitos pós-verbais geralmente sejam “novos”, sujeitos informacionalmente dados também podem ser pospostos. Assim, argumenta que a noção de dado no discurso esconde uma gama heterogênea de graus de “antiguidade”. Para a autora um aspecto a ser considerado é a distância da menção. As diferentes distâncias possíveis entre a menção analisada e a menção anterior de um mesmo referente equivalem a SNs relativamente menos ou mais dados. Berlinck afirma que essas diferenças de grau têm correlação com a variação entre as configurações possíveis de posposição3 (VSX, VXS e VX#S). Conclui que os elementos que compõem o comentário obedecem a um princípio de equilíbrio da informação, em que o elemento mencionado no contexto mais próximamente da frase analisada seria o mais previsível; o mais distante, menos previsível e mais “pesado” do ponto de vista da informação. Seu argumento tem como base a análise de sentenças com comentários complexos (VSX, 17 VXS e VX#S) em que os dois argumentos, já dados, estariam pospostos ao verbo. A autora argumenta que não importa se o último elemento é um complemento ou um sujeito, o que importará será a distância entre a primeira e a última menção. Assim, se o complemento é dado textualmente e está relativamente mais próximo da menção anterior, ele será um referente mais previsível que o SN que pode ser textualmente dado mas se encontrar a uma distância relativamente grande de sua menção anterior, ou ainda ser um sujeito que não é textualmente dado, mas inferível. A ordem dos constituintes no espanhol é discutida em Bentivoglio e Braga (1988). As autoras também fazem um trabalho comparativo do português com o espanhol. Analisaram dados de fala de 11 habitantes de Caracas e do Rio de Janeiro. Argumentam, a partir da observação da colocação do objeto na sentença, que motivações estruturais e discursivas podem fazer que referentes que habitualmente ocupam a posição pós-verbal, por tenderem a introduzir elementos novos, desempenhem a função de referentes dados ou inferíveis no fluxo da informação. Bentivoglio e Braga argumentam que SNs objeto direto, ao se apresentarem na estrutura em posição pré-verbal, podem contribuir para a coesão discursiva e manter a continuidade da referência. Observaram nas duas línguas construções em que o sintagma nominal objeto (SNO) de um verbo transitivo (V) ocorre à esquerda. Mostram que tanto no português como no espanhol, as construções com objeto direto nominal anteposto ao verbo teriam como função chamar a atenção do ouvinte para um referente já conhecido, mas que é informação interessante. Alegam que esses SNOs são referentes facilmente identificáveis, quer por já terem sido referidos no discurso antecedente, com forma idêntica ou parecida, quer por estarem estreitamente 3 A variável X corresponde a um complemento actancial ou circunstancial. 18 relacionados ao exposto anteriormente, permitindo assim as inferências necessárias à sua identificação. As autoras propõem como fator de importância, na medição de referencialidade, graus de conectividade com o discurso prévio. Assim, a classificação de grau 1 de conectividade foi dada para reiteração de um item. Já os SNOs que introduzem entidades não mencionadas previamente, embora relacionadas ao tópico do trecho discursivo em questão, foram categorizadas como grau 2 de conectividade. As autoras concluem que as construções OV, em ambas as línguas são similares uma vez que apresentam graus de conectividade idênticos e ainda uma distribuição de SNOs genéricos e não-genéricos similar. Bentivoglio (1993) aborda a questão da posição dos constituintes na estrutura também justificando a escolha, anteposta ou posposta ao verbo, segundo uma preferência discursiva. A autora examina a distribuição de tipos de Ns e SNs na fala do espanhol e do francês. Utiliza para isso a hipótese da Estrutura Argumental Preferida desenvolvida por Du Bois (1984). Argumenta que a distribuição sintática de SNs nas línguas Românicas não é um acaso e que é semelhante à da língua sacapultec, uma língua ergativa maia estudada por Du Bois. Na classificação de Du Bois há uma distinção para sujeitos de verbos intransitivos e sujeitos de verbos transitivos. Assim, faz uma distinção de sujeitos em dois tipos: S (sujeitos de verbos de um argumento) e A (sujeitos de verbos de mais de um argumento). Nesse trabalho comparativo, Bentivoglio mostra que, como ocorre em sacapultec, o falante do francês e o do espanhol evitam codificar novos participantes na função de A (sujeito agente) e X (sujeito de copula), preferindo O (objeto) e S como posição para introduzir novos referentes. Esses novos participantes tendem a ser generalizadores e inanimados. 19 Morales (sd.) investiga a relação entre a ordem SV/VS e as categorias formais e informativas. O objetivo da autora é precisar em que consiste essa variação e até que ponto pressões pragmáticas estariam condicionando a posição do sujeito no espanhol. Segundo a autora, a análise de dados de norma culta do dialeto madrilenho, portenho e sanjuanero possibilitou que se confirmasse o postulado de que sujeitos conhecidos, por serem mais específicos e identificáveis, se distinguem de outras unidades da oração. Isso justificaria que entidades mais conhecidas sejam o ponto de partida do enunciado e que representem, na maioria das vezes, o tópico da oração. Ao examinar fatores semânticos relacionados com a classe de verbos, a autora testou verbos intransitivos que tinham complementos adverbiais antepostos e pospostos, frases preposicionais antepostas e verbos intransitivos sem complemento e ainda verbos transitivos. Os resultados indicaram que a transitividade e a intrasitividade verbal não são fatores decisivos na anteposição/posposição do sujeito, mas que é a ordem das unidades comunicativas o fator controlador. A distribuição percentual mostrou que um verbo intransitivo com complemento adverbial posposto tem comportamento similar ao dos verbos transitivos. Segundo a autora, essa distribuição se reflete também na distribuição dos SNs definidos e indefinidos. A presença de uma unidade à direita do verbo favorece a anteposição do sujeito, especialmente se o SN é indefinido. Esses sujeitos indefinidos antepostos não são focos, e também não têm a função de introduzir referentes novos com função de tópico. Os SNs indefinidos analisados pela autora são sujeitos “mais ligeiros” com relevância limitada no discurso e duração escassa. Ocampo (1995) trabalha com a variação das construções declarativas que contenham verbo e outro constituinte. O estudo tem por objetivo mostrar que existe uma 20 correlação entre a ordem dos constituintes, tipo de construção, status informacional do referente SN e função pragmática. O autor trabalha com dados de fala da Argentina. As construções consideradas pelo autor envolvem não só a ordem do sujeito (SV/VS), mas dos complementos (obj. VDO, DOV; VIO, IOV) e circunstanciais (VADV e ADVV). No que diz respeito ao status informacional da informação, o autor argumenta que o foco não necessariamente é uma informação nova no sentido de Prince. Segundo o autor, a definição de foco poderia ser dada através da noção subjetiva de importância, ou seja, a regra refletiria uma opinião subjetiva do falante que indica o que é mais importante através da colocação do SN. Ao ser introduzido no discurso pela primeira vez, o foco permite que se estabeleça uma relação entre ele e o resto da proposição. Ao levar em consideração o status informacional Novo/velho de um referente SN, revela que construções com verbos apresentativos como haber, estar e existir possuem SNs referentes novos, esse também é o caso de construções que tenham verbo e objeto direto. Nessas construções há uma correlação entre referentes SN e rígida posição pós-verbal. No caso de estruturas com verbo e sujeito, a maior parte dos referentes são dados e possuem uma rígida ordem SV. Por outro lado, construções com intransitivos possuem parte de seus referentes SN como informações novas e pospostas ao verbo, mas, se os referentes forem dados, a tendência é a de que estejam em posição pré-verbal. Com base nessa correlação, o autor argumenta que o espanhol segue um rígido padrão tema-rema e nesse caso a correlação entre fatores cognitivos e informacionais estaria motivando estruturações rígidas. Com base nessa noção, o autor postula que referentes SN novos motivam rígida posição pós-verbal e que referentes dados motivam 21 rígida posição pré-verbal. Nas construções em que se tem verbo e advérbio, o autor argumenta que há motivações cognitivas e informacionais para a posição pré-verbal dos advérbios. Um dos exemplos dados pelo autor é o caso de advérbios sentenciais em –mente (dificilmente, diretamente, simplemente, lamentablemente, realmente etc. que ocorrem preferentemente em posição inicial. Essas construções remetem a contextos anteriores, como as conjunções, ou seja, o fluxo informacional remeteria do que é conhecido para o que é desconhecido. Silva-Corvalán (1982) estuda a ausência/presença do sujeito nas sentenças e a ordem SV/VS caso o sujeito seja realizado. A autora trabalha com dados de fala de mexicanos e de falantes do espanhol que moram nos Estados Unidos. Argumenta que a dicotomia “velho”/“novo” não é suficiente para capturar a complexidade que compõe a linearidade dos constituintes. Segundo Corvalán, haveria graus de novidade que só podem ser percebidos quando se leva em consideração os outros constituintes da sentença. A autora sugere que se observem os contextos em que haja ambigüidade verbal e os em que não haja ambigüidade. A presença de clíticos reflexivos (ex. me lavaba), por exemplo, serviria como um mecanismo para desambiguizar a estrutura. A autora mostra que formas verbais não-ambíguas favorecem sujeitos pospostos. O número de argumentos é um dos fatores apontados pela autora. Esse grupo de fatores comprova que os verbos intransitivos são os que mais condicionam a posposição do sujeito. Os transitivos, em razão de fatores discursivos, prefeririam a ordem SVO. Segundo a autora, a distribuição ao redor do verbo seria uma forma de marcar informação nova e velha e distinguir o objeto do sujeito, esse é o caso das estruturas em que o objeto direto vem acompanhado da preposição a. 22 Outro fator apontado pela autora como condicionante da variação do sujeito é presença de um advérbio no início da sentença, no fim ou ainda a sua ausência na sentença. Segundo a autora, um advérbio no início da sentença pode aumentar as chances de posposição do sujeito na estrutura. Os percentuais de posposição podem diminuir caso o advérbio esteja posposto ou não esteja realizado na sentença. Como pudemos observar, todos os autores salientam a contribuição do status informacional para a mudança de ordem. Apontam também outras características do discurso como interferentes da ordem SV ou VS. A natureza do verbo e a presença de outros argumentos na oração são também frequentemente mencionados nos textos. Outro fato que vale mencionar é que a maioria dos autores trabalha com gêneros narrativos em seus estudos. Assim, caberia investigar se o comportamento observado nas narrativas estaria presente em outros gêneros. 23 3. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS 3.1) Funcionalismo americano As diferentes características que se atribuem ao “funcionalismo” podem culminar em duas perspectivas, a de um funcionalismo conservador, que tem como objetivo apontar a inadequação do formalismo ou do estruturalismo, sem propor análise alternativa da estrutura. E um funcionalismo moderado, que não apenas aponta essa inadequação, mas que propõe uma nova análise da estrutura. Na abordagem moderada se enfatizaria a importância da semântica e da pragmática para a análise da estrutura lingüística, sem contudo esquecer que a noção de estrutura é central para o entendimento das línguas naturais. (cf. Moura Neves, 1997) Neste trabalho adotamos como modelo teórico o Funcionalismo Lingüístico mais moderado desenvolvido por Givón (1983,1990, 1995), Thompson (1989) e Naro & Votre (1989, 1999), que entendem que a língua deve ser observada no seu nascedouro, ou seja, no discurso. Isso significa entender a língua como um recurso de organização mental e instrumento de comunicação. A estrutura é vista como derivada tanto das características e das limitações cognitivas como dos papéis que desempenha na comunicação humana. Assim, argumentam que “é do uso da língua — a comunicação, na situação social — que se origina a estrutura ou forma da língua, com as características que lhe são peculiares, inclusive, diferentes graus de instabilidade associados a diferentes subsistemas” (Naro & Votre 1999:170). Desse modo, os dados de discursos reais, sejam eles orais ou escritos, servem como suporte para a constatação de que nada na língua é produzido livremente, ou seja, 24 cada expressão formulada é depositária de um conjunto de características que fazem com que tal expressão dê conta de determinado conteúdo específico, e não de outros, e de determinadas qualidades bem definidas que o falante queira conferir ao conteúdo. Assim, a partir do pressuposto de que cada expressão aponta para determinado conteúdo, e de que não há dois modos distintos de dizer exatamente a mesma coisa, é possível concluir que o estudo da “codificação lingüística” deve ter como ponto de partida a função que tal codificação desempenha. Os diversos trabalhos funcionalistas têm contribuído para estabelecer a importância de alguns princípios funcionais, como os princípios da informatividade e o princípio da marcação, que se mostram relevantes para a explicação de diversos fenômenos lingüísticos, em especial, daqueles ligados à ordem dos constituintes na sentença. No princípio da informatividade se tem o fundamento de que nos comunicamos para informar nosso interlocutor sobre algo do mundo externo ou do nosso próprio mundo. Para tornar a informação mais acessível ao ouvinte, supõe-se que o falante tenta codificar coerentemente o seu discurso. Um discurso coerente implica, entre outros aspectos, recorrência de alguns elementos, de modo a garantir a continuidade referencial, temporal, locativa, e de ação-evento (cf. Givón 1990: 896-7). Vários autores têm criado classificações relativas ao estatuto informacional das entidades no discurso. Os lingüistas de Praga, por exemplo, foram os primeiros a chamar a atenção para a importância da “novidade” ou “velhice” da informação, trabalhando com o que chamavam de “Perspectiva Funcional da Sentença”, sugerido e elaborado por Mathesius (1939 apud Danes 1987). A base da Perspectiva Funcional da Sentença é a de que haveria uma divisão da expressão em duas porções, quais sejam: o 25 tema, informação conhecida que representa o ponto de partida da expressão (sobre o qual se está falando) e o rema, informação nova, desconhecida (o que se afirma sobre o tema). Prince (1979), em uma classificação com base em critérios de natureza textual, distingue as entidades presentes no discurso em termos de informação nova, evocada e inferível. A informação nova seria a informação introduzida pela primeira vez no discurso. Essas entidades são subcategorizadas em “brand-new” (totalmente novas) e “unused” (disponíveis). Uma entidade é considerada disponível quando se supõe que já é familiar ao ouvinte. Com o exemplo “Noam Chomsky went to Penn”, a autora mostra que mesmo sendo mencionado pela primeira vez, Noam Chomsky é uma entidade que está à disposição dos interlocutores. A entidade é considerada totalmente nova quando o falante precisa criá-la a partir do texto como em “I got on a bus and the driver was drunk” e “A guy I work with says he knows your sister”. As entidades totalmente novas podem ser ancoradas e não-ancoradas. A entidade é considerada ancorada se o SN que a representa está unido por meio de outro SN a alguma outra entidade. Assim, bus é totalmente novo não-ancorado, enquanto a guy I work with é totalmente novo ancorado. Segundo a autora, no exemplo o termo a guy pode ser ligado à entidade do falante. A autora subdivide as entidades evocadas em evocadas textualmente e evocadas situacionalmente. As entidades situacionalmente evocadas representam participantes do discurso e salientam aspectos do contexto extra-textuais. Desse modo, no exemplo “A guy I work with says he knows your sister” o pronome he é textualmente evocado, enquanto your é situacionalmente evocado. O terceiro, e segundo ela, o tipo mais complexo, é a entidade inferível. Uma entidade é considerada inferível se o falante assume que o ouvinte poderá inferi-la via 26 raciocínio lógico, relacionando-a a entidades já evocadas ou inferíveis. Assim, em “I got on a bus and the driver was drunk” o SN “the driver é inferível de bus. Essa inferência é possível a partir do conhecimento de que todo ônibus possui um motorista. Os inferíveis podem ser divididos em duas subclasses: os inferíveis não-incluidores e os inferíveis incluidores. O exemplo the driver é exemplo de inferível não incluidor. Em Hey, one of these eggs is broken! O SN one of these eggs é um exemplo de inferível incluidor. Na formulação de Chafe (1987), informatividade é uma propriedade associada às representações mentais de objetos, estados e eventos. Essas representações mentais se situam em diferentes estados de consciência, de acordo com a sua acessibilidade: ativo (informação velha), semi-ativo (informação acessível) ou não ativo (informação nova). O ato de comunicação constrói uma ponte entre as representações mentais do falante e do ouvinte. O falante organiza seu discurso em consonância com expectativas acerca das representações mentais já ativadas, não ativadas ou semi-ativadas na mente do ouvinte. As categorias de Chafe correspondem, grosso modo, às de Prince, embora sua perspectiva seja mais cognitiva do que textual. Estudos mais recentes envolvendo ordem de constituintes, como os de Votre & Naro (1999) e Berlinck (1997), utilizam categorias informacionais como: completamente novo, parcialmente novo, disponível e evocado para medir o nível de informatividade dos referentes nominais, mas acabam abandonando essa categorização em proveito de outra perspectiva (centralidade e periferalidade da informação). Um aspecto comum aos dois trabalhos estaria no fato de mostrarem que o status informacional dos constituintes da frase deve ser visto como parte da estratégia de organização discursiva. Os autores, em ambos os trabalhos, observam que os sujeitos 27 pospostos podem tanto referir-se a entidades novas quanto a entidades evocadas. Com isso, evidenciam que embora haja uma possível associação entre o status informacional do referente e a sua posição na frase, não há nisso uma determinação. A “novidade” ou “velhice” de um referente só pode ser avaliada como parte de uma estratégia discursiva.(cf. Berlinck 1999, p330) Contudo, apesar das várias propostas de categorização para o status informacional, todas de um modo geral mostram uma relação que se apresenta basicamente com informação velha precedendo informação nova no discurso. Mesmo Prince (1979), no texto em que propõe subclasses para referentes novos, evocados e inferíveis, reconhece, a partir da análise de texto narrativo, que a maioria dos sujeitos são evocados enquanto os SNs que desempenham outras funções tinham um maior percentual de novidade. Quanto aos inferíveis, havia um número similar de ocorrências entre os referentes sujeitos e não-sujeitos. O outro princípio funcional que é importante para o nosso trabalho é o princípio da marcação. Haveria no princípio da marcação, segundo Givón (1995), três critérios para estabelecer a distinção entre uma categoria marcada e uma não-marcada: complexidade estrutural, distribuição de freqüência e complexidade cognitiva. Para a complexidade estrutural, o autor prevê que o elemento marcado tende a ser mais complexo (ou mais longo), necessita de mais codificação lingüística que o correspondente não marcado. No que diz respeito à distribuição de freqüência, as cláusulas marcadas apresentarão baixa freqüência. Já as cláusulas não marcadas apresentarão alta freqüência. 28 Do ponto de vista da complexidade cognitiva, a categoria marcada tenderá a ser cognitivamente mais complexa – em termos de esforço mental, maior demanda de atenção ou tempo de processamento – que a não marcada. Outro princípio funcionalista também importante para o nosso estudo é o princípio da iconicidade. Segundo esse princípio, haveria uma relação motivada, simétrica, isomórfica de um para um entre expressão e conteúdo: a expressão tem a forma que tem por causa do conteúdo que veicula. Baseado nesse princípio, Givón (1983) postulou o domínio funcional da continuidade de referência. O autor argumenta que esse domínio funcional complexo pode ser identificado a partir de graus de acessibilidade tópica e para mostrar a correspondência entre esses graus de acessibilidade e a sua expressão lingüística estabelece um continuum que vai da continuidade máxima, expressa pela anáfora zero, à descontinuidade máxima, representada pelo SN indefinido, como se vê abaixo: (cf. Givón, 1983 p.17) Alta continuidade a. anáfora zero b. pronomes átonos ou concordância gramatical c. pronome tônicos d. Deslocamentos à direita do SN - DEF e. SN-DEF simples f. Deslocamentos a esquerda do SN-DEF g. Topicalização h. Construções clivadas i. SN indefinido Alta descontinuidade 29 Nossa proposta para este trabalho diz respeito a alguns dos itens dessa escala, a saber, pronomes tônicos, SNs simples definidos, SNs indefinidos. Mas não se restringe à visão de referência apresentada por Givón, já que a sua concepção parece ser a clássica, em que o referente — uma entidade do mundo previamente existente — permanece o mesmo, mudando apenas a forma de expressão. A visão mais atual da referência, que nos vem da lingüística textual, enfatiza a possibilidade de a construirmos no discurso, por isso, prefere a expressão “referenciação” (Koch e Marcuschi (2002), Cavalcante (2003) e Mondada (2003)), e daí decorre uma noção de continuidade em sentido mais amplo. A referenciação é vista como um processo discursivo criado na dinâmica interacional, de modo que os referentes são considerados como objetos-dediscurso, e não como objetos-de-mundo. Essa questão envolvendo a continuidade do referente e a noção de referenciação será retomada no capítulo 4.2. Uma propriedade particularmente importante para este trabalho é a da transitividade. Hopper & Thompson (1980) a consideram um universal lingüístico e sugerem uma escala de dez parâmetros que definem as diferentes intensidades com que as ações são transferidas de um participante para o outro, fugindo da classificação tradicional que centrava a questão no tipo de verbo. Para os autores, pode haver maior ou menor transitividade dependendo de uma série de parâmetros. Para quantificar essa gradação, os autores atribuem marcação positiva para cada parâmetro de transitividade mais alta. No caso de ausência daquele traço, a pontuação será ‘zero’, e portanto, marcaria também um grau mais baixo de transitividade. Os dez traços propostos pelos autores são: número de participantes, cinese, aspecto, punctualidade, volição, afirmação, modo, agentividade, afetamento do objeto, 30 individuação do objeto. Assim, seria + transitiva a oração em que um agente seja animado, individuado, tenha intencionalidade e cause uma mudança física no estado ou na localização de um objeto individuado. Contudo, neste estudo trabalharemos apenas com os traços número de participantes, agentividade e aspecto. (ver cap..4.5) 3.2 O variacionismo Utilizamos na nossa análise o instrumental teórico-metodológico da Teoria da Variação laboviana. Porém, o aparato variacionista é empregado aqui no sentido de confirmar numericamente as correlações entre a ordem marcada e não-marcada e fatores que propomos como contextos preferenciais das estruturas SV ou VS tanto no Português como no Espanhol. Com a utilização do aparato variacionista, nos beneficiaremos da Teoria, pois se poderá aferir com segurança o papel de traços e aspectos discursivos e pragmáticos na ordem. Contudo, não trabalhamos com um variacionismo no sentido clássico, ou seja, não se podem tomar as ordens SV e VS como as variantes de uma variável “ordem do sujeito”, não ocorrendo necessariamente nos mesmos contextos, mas sendo dependentes de necessidades discursivo-pragmáticas, como já mostraram estudos anteriores de Naro & Votre (1999), Berlinck (1997) e Pezatti (1994), para o português. Para melhor diagnosticar os contextos nos quais as ordens SV/VS podem ocorrer, postulamos grupos de fatores que permitiram submeter os arquivos de dados aos programas computacionais que compõem o pacote Varbrul. 31 Nosso cálculo estatístico se limitou à utilização do programa Makecell (Pintzuk 1988) cuja função é especificar a freqüência de uso das variantes que constituem a variável dependente, com relação aos grupos de fatores que contém as variáveis independentes. O modelo teórico com que trabalhamos, o funcionalismo, estabelece que a análise seja realizada a partir de dados do discurso real e, por isso, necessitávamos de um material de análise que representasse a língua em uso. A proposta inicial era trabalharmos com dados de fala, mas devido à dificuldade que tivemos em acessar dados de fala atual para o espanhol, resolvemos, então, buscar esse material na escrita, mais precisamente dentro do discurso jornalístico. Trabalhar com esse discurso nos possibilitou desenvolver a análise a partir de dois gêneros jornalísticos diferentes, quais sejam: os artigos de opinião e notícias. O gênero notícias foi escolhido por ser o gênero fundamental de um jornal, o primeiro ao qual se associa a existência de um jornal e seu papel informativo. Além disso, é um texto predominantemente narrativo, característica que tem sido objeto de inúmeros estudos e que também tem despertado o interesse das escolas, que utilizam esse gênero como material didático alternativo aos livros didáticos tradicionais. Os artigos de opinião também têm sua importância na composição de um jornal. São textos predominantemente argumentativos e que também costumam ser valorizados como material de estudo teórico e como recurso didático na formação de leitores e escritores críticos. Os textos foram coletados de jornais brasileiros, o Jornal do Brasil e O Globo, para o Português. Para o Espanhol foram coletados textos de jornal Espanhol de circulação internacional, jornal El Pais. Os dados somam um total de 22 textos para cada gênero, tanto para o Português como para o Espanhol. 32 Assim, após a delimitação do material que iria ser focalizado no estudo, iniciamos a seleção dos dados. O objetivo do trabalho, naturalmente, nos levou a excluir da análise estruturas com sujeito elíptico, indeterminado e sentenças com verbos impessoais como haver, fazer. Foram desconsideradas também estruturas com verbos dicendi. Esses verbos apresentam, tanto no português como no espanhol, uma estrutura cristalizada (1), pois em todos os casos examinados em que a estrutura estava no discurso direto não houve um exemplo sequer de SV. (1) a) Há alguns meses um rapaz foi arrastado do baile funk e levado para o “microondas”. Ele tinha uma dívida de droga – contou um morador da Vila Cruzeiro, pedindo anonimato. b) le han dado animos y yo no hago sino agradecer el apoyo que he recibido de Ia gente de Huesca", dice Sonia. 3.3 Análise dos gêneros 3.3.1. Os gêneros de discurso e os tipos de texto A necessidade de verificar em que momento os textos de notícias e artigos de opinião se distinguiriam em termos de utilização de SV/VS nos levou a observar, também, as especificidades desses textos. E essa busca por uma caracterização fez com que dirigíssemos nosso olhar para um aspecto teórico relevante, que vem ocupando um espaço cada vez maior nas análises lingüísticas, ou seja, o da categorização de gêneros e tipo de textos e também da distinção que se faz entre essas duas noções. Os estudos sobre gêneros e tipos de textos têm sido objeto de diversas 33 abordagens. Atualmente, a atividade de pesquisa aumentou nesse campo principalmente depois da proposta dos PCN’s de fundamentar o ensino de língua materna nos gêneros textuais. Com base nessas orientações, lingüistas, professores de português e de língua estrangeira dedicam-se cada vez mais a analisar a diversidade de situações comunicativas que contêm os diferentes gêneros. Antes de prosseguirmos, é necessário que se estabeleça o que se entende por gênero e tipo de texto. E, para isso, recorreremos às contribuições teóricas de alguns autores que têm se dedicado a esse assunto. O primeiro autor cuja menção se impõe ao falar de gênero é Bakhtin (2003)4. O autor postula sua visão de gênero a partir de uma visão interacional da linguagem, já que para ele o gênero se constrói no discurso, no enunciado. Segundo o autor “o discurso só pode existir de fato na forma de enunciações concretas de determinados falantes, sujeitos do discurso”. (cf. p274) Assim, o discurso sempre estará fundido na forma de enunciado pertencente a um determinado sujeito do discurso, uma vez que fora dessa forma não pode existir. Com base nessa noção, o autor argumenta que os gêneros são construídos a partir de situações comunicativas maleáveis e dinâmicas que surgem como decorrência da inesgotabilidade da atividade humana. O autor propõe que se organize essa heterogeneidade dos gêneros discursivos em: gêneros discursivos primários (simples) e gêneros discursivos secundários (complexos). Segundo o autor, os gêneros discursivos secundários, complexos se distribuiriam em romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os grandes gêneros publicísticos, etc. Os gêneros secundários, que segundo o autor são predominantemente escritos, surgiriam a partir do convívio cultural complexo e 34 relativamente desenvolvido e organizado. Já os gêneros discursivos primários se formariam nas condições da comunicação discursiva imediata, ou seja, seriam uma réplica do diálogo cotidiano, como cartas, diários, protocolos, etc. Em uma linha menos teórica, Biber (1988), trabalha com a questão de gêneros/tipos de textos tomando por base uma ampla análise de dados reais. O autor realiza um trabalho de análise empírica de vários gêneros, e, a partir do levantamento de um extenso conjunto de traços lingüísticos e do agrupamento desses traços, define dimensões através das quais os gêneros podem variar. Por exemplo envolvimento versus informatividade, referência explicita versus situacionalidade etc. O autor distingue gênero de tipo de texto segundo critérios externos relacionados ao propósito do falante e ao tópico. Gêneros são categorizados com base em critérios externos, enquanto tipos de textos representam grupos de textos que são semelhantes nas suas características formais. (cf. p.170) Marcuschi (2005) tem seu estudo de gênero relacionado aos usos da fala e da escrita. O autor também defende a idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. Essa visão, segundo o autor, privilegia a natureza funcional e interativa, e não o aspecto formal e estrutural da língua. Os gêneros textuais se constituiriam como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo. Marcuschi define gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que podem ser encontrados na vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilos e composição característica, como telefonema, sermão, reportagem jornalística, horóscopo, notícia jornalística, carta, piada, aulas etc. O autor esclarece que 4 A referência corresponde à data da tradução para o Português consultada. 35 atividades como discurso jornalístico, discurso jurídico ou discurso religioso não constituem um gênero em particular, mas que sevem como suporte para vários gêneros. Em relação ao tipo de texto, o autor o define como uma expressão para designar uma seqüência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição, quais sejam: aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas. Associa os tipos textuais à narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Também Paredes Silva (1997, 2005) associa os tipos textuais a seqüências disponíveis na língua com marcas lingüísticas específicas, tais como tempo/aspecto/modo do verbo, a pessoa do discurso predominante (1a, 2a, 3a), unidade semântica básica, a ordenação lógica ou cronológica, etc. Argumenta que os tipos textuais podem ser associados às estruturas narrativas, descritivas, expositivas, expressivas, procedurais e dialógicas. Os gêneros corresponderiam a uma atualização desses tipos em circunstâncias concretas de comunicação. A autora observa, assim como os outros autores, que é o caráter sócio-interacional do gênero, e a diversidade de situações comunicativas com que é possível se defrontar no dia-a-dia que gera a multiplicidade de gêneros que temos no discurso. Desse modo, podemos observar que a maioria dos autores trabalha com a noção de gênero discursivo ou gênero textual associada a situações sócio-comunicativas. Já tipos de texto têm uma definição mais formal, são ligados a modos de organização de informação. “Os tipos de textos constituem os elementos fundamentais da infra-estrutura geral dos textos” (cf. Bronckart 1999 pg. 217). Constituem “um nível de estruturas discursivas, entendidas também como modos de organização de informação, que 36 representariam as potencialidades da língua, as rotinas retóricas ou formas convencionais que o falante tem à sua disposição na língua quando quer organizar o discurso”. (Cf. Paredes Silva 1997 pg.89) Assim, para cada uma dessas estruturas haveria uma caracterização com base na natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, morfológicos e semânticos, etc.). (cf. Marcuschi 2005, Paredes Silva 1997). Tradicionalmente, os tipos ou seqüências textuais são, segundo Adam (1992 apud Bronckart (1999)), basicamente cinco: seqüências narrativas, descritivas, argumentativas, explicativas e dialogais. Não vamos, contudo, comentar todos os tipos aqui relacionados, detendo-nos na observação dos tipos textuais encontrados durante a análise dos textos em estudo. É importante comentar também que em nenhum dos textos analisados encontramos uma seqüência textual que se realize como um gênero em estado puro, ou seja, sem a coexistência de outras seqüências textuais no mesmo gênero. No caso dos textos de notícias, por exemplo, observamos basicamente seqüências narrativas, mas pudemos encontrar também outras seqüências, como a descritiva e a argumentativa. Os textos de opinião possuem base argumentativa, mas também foi possível encontrar neles seqüências descritivas. Definidas as características de gênero e tipo de texto, na literatura estudada para este trabalho, iniciamos uma tentativa de caracterizar as especificidades discursivas e formais que podemos esperar encontrar em cada um dos gêneros textuais em estudo – notícias e artigo de opinião. 37 3.3.2 - Os gêneros notícias e artigo de opinião Em uma tentativa de definição dos gêneros textuais que estamos estudando – notícias e artigos de opinião – valeria destacar como primeiro ponto o fato de pertencerem a gêneros redacionais distintos (cf. Adam e Broucker apud Carneiro da Cunha, 2005, pg.170). No caso de notícias, a organização geral estaria voltada para a informação, uma vez que há o interesse de fazer o leitor saber as novidades do momento. Já no caso dos artigos de opinião, a organização estaria centrada no comentário, por procurar fazer valer uma convicção, um julgamento, um sentimento. Segundo Van Dijk (1992), a organização diferente dos tópicos também faz parte das características redacionais das notícias. As estruturas temáticas no discurso noticioso obedecem, segundo o autor, na maior parte dos casos, a uma ordem de relevância. A informação seria organizada de maneira tal que indicaria ao leitor a informação ou o tópico mais importante e este por sua importância, ocuparia o nível superior, o primeiro lugar. Haveria, para facilitar a inferência da informação/tópico, segundo Van Dijk, a utilização de recursos especiais, tais como manchetes para caracterizar o tópico mais alto ou mais importante. E esse tópico é repetido e desenvolvido nas sentenças ou parágrafos iniciais do texto, nos quais estariam indicados, também, detalhes importantes a respeito de tempo, local, participantes, causas/razões ou conseqüências dos eventos principais. Desse modo, um dos tópicos seria expresso primeiramente na manchete do texto, como podemos perceber no título Tráfico ainda faz vítimas como Tim (cf. anexo 1), que se refere à ação do tráfico e à morte do jornalista Tim Lopes. O outro tópico importante, o SN polícia, é introduzido no corpo do texto. 38 Essa disposição seria, segundo o autor, apenas um aspecto da estrutura de relevância do texto de notícias, uma vez que o artigo noticioso pode atribuir, através de vários mecanismos, diferentes valores de relevância aos tópicos, por exemplo, por meio de lead ou ordem linear do texto. No caso do artigo de opinião, que é um gênero de enunciação subjetiva, as características informacionais são bem diferentes. Nesse gênero toda informação está voltada para expor o ponto de vista de um jornalista ou de um colaborador do jornal sobre um tema atual, que pode ser polêmico ou não. Ao expor o seu ponto de vista, o jornalista ou o colaborador do jornal faz uso de dêiticos e do presente do indicativo como tempo de base e dá sustentação aos argumentos muitas vezes comentando sobre algo já dito. É um gênero em que o dialogismo é raramente mostrado, ou seja, a explicitação de outros discursos não é tão evidente como nas notícias. (cf. Carneiro da Cunha 2005, p.170). Muitas vezes os artigos de opinião podem ter um aspecto mais informativo que polêmico (cf. anexo 2), isso talvez se deva ao emprego de seqüências descritivas que o autor pode utilizar para dar suporte ao seu comentário. Segundo Bronckart (1999), esse esquema ocorreria quando um objeto do discurso não é considerado contestável ou problemático. Nesse caso, segundo o autor, o objeto tenderá a apresentar-se como neutro ou neutralizado e o desenvolvimento de suas propriedades efetuar-se-á em um segmento de texto chamado de simplesmente informativo, ou ainda puramente expositivo. Já os artigos de opinião, com características polêmicas, podem trazer o tópico no título, como no texto “Ciência e consciência” (cf. anexo 3). Outro ponto que vale comentar é que, devido ao fato de notícias e artigos de opinião serem gêneros discursivos distintos, possibilitam a exploração de seqüências 39 estruturais/tipos textuais, também, distintos como a narrativa, dissertativa, descritiva e explicativa. Isso nos leva a deter-nos um pouco sobre os tipos predominantes no corpus. 3.3.3 – Seqüências narrativas De um modo geral, as seqüências narrativas são o modo que um falante/escritor tem para recapitular uma experiência passada. Esse é um princípio de base das narrativas que se sustenta tanto quando olhamos para uma narrativa inserida em uma conversa como para uma narrativa inserida no gênero notícias, embora o propósito comunicativo para cada uma das narrativas possa ser distinto. Segundo Labov (1972), a estrutura narrativa (de estória) seria composta de resumo, orientação, complicação da ação, resolução da ação, avaliação e coda. Bronckart (1999) propôs para as narrativas de textos escritos uma seqüência baseada na proposta de Labov e argumenta que as narrativas estão associadas a um processo cronológico de intriga. Esse processo, segundo Bronckart, consiste em relacionar e organizar os acontecimentos de modo a formar um todo, uma história ou ação completa, com cinco fases principais: a fase de situação inicial (de exposição, ou de orientação), na qual um “estado de coisas” é apresentado, estado esse que pode ser considerado “equilibrado”, não em si mesmo, mas na medida em que a seqüência da história vai nele introduzir uma perturbação; a fase de complicação (de desencadeamento, de transformação), que introduz exatamente essa perturbação e cria uma tensão; a fase de ações, que reúne os acontecimentos desencadeados por essa perturbação; a fase de resolução (de re-transformação), na qual se introduzem os 40 acontecimentos que levam a uma redução efetiva da tensão; a fase de situação final, que explicita o novo estado de equilíbrio obtido por essa resolução. Bronckart acrescenta a essas cinco fases principais a fase de avaliação, em que se explicita a significação global atribuída à história, aparecendo geralmente no início ou no fim da seqüência. Assim, não se poderia deixar de incluí-la também na análise dos textos de notícias, já que não se poderia deixar de admitir que há avaliação na utilização dos verbos dicendi dentro do texto jornalístico, recurso que pode ser explorado para transmitir distintas intenções comunicativas. É através da escolha dos verbos do discurso reportado que o jornalista pode mostrar ou não imparcialidade, o que vai depender da força do verbo utilizado. Em relação às características estruturais das narrativas, a expectativa é de que as seqüências contenham estruturas verbais no pretérito perfeito correspondentes a eventos sucessivos na linha do tempo; e que os eventos ocorram em terceira pessoa. Essa distribuição, responsável por definir os pontos principais da narrativa, é conhecida como foreground ( ou seja a figura, a linha principal dos eventos, a espinha dorsal da narrativa) (cf. Hopper & Thompson (1980)). Na seqüência narrativa pode ocorrer também um desvio da rota principal de eventos, que “paralelamente ao eixo estrutural, não se caracteriza como uma ocorrência isolada na narrativa” (cf. Silveira 1990, p.74). Essa sub-rota faz parte da seqüência descritiva; sua função, segundo Adam (apud Bronckart (1999, pg. 235)), é a de “fazer com que o destinatário veja em detalhes os elementos do objeto de discurso que não parecem absolutamente necessários à progressão do tema e guiar o olhar do destinatário de acordo com procedimentos espaciais, temporais ou hierárquicos. Devido a estarem sempre articuladas a outras seqüências (narrativa, explicativa, argumentativa etc), 41 apresentam-se como secundárias ou relacionadas às seqüências principais”. Esses elementos do discurso são conhecidos como background (Fundo) (cf. Hopper & Thompson (1980)). Segundo Adam (apud Bronckart (1999, pg. 235)) o desencadeamento de uma seqüência descritiva no co-texto de uma seqüência narrativa tem por objetivo situar ou fazer compreender melhor os elementos que estão em jogo nessa mesma narração, e é esse também o caso das descrições articuladas aos outros tipos de seqüência. Desse modo, segundo Bronckart (1999), é possível distinguir, na maior parte dos segmentos de narração, de um lado, frases que expressam a progressão cronológica dos acontecimentos e, de outro, frases que apresentam algumas características do quadro em que se inscreve essa progressão. Segundo Hopper (1979), um exemplo dessas seqüências secundárias ou relacionadas à seqüência narrativa estaria nas cláusulasfundo. Quanto às características estruturais, a descrição se apresentará com o verbo numa forma não perfectiva, num predicado estativo em torno de entidades, geralmente de terceira pessoa, sintaticamente centrada em estruturas nominais (cf. Paredes Silva 1997). 3.3.4 – Seqüências argumentativas Outro tipo de texto que faz parte dos nossos dados é o argumentativo. Segundo as abordagens desenvolvidas por Apothéloz et al. (1984), Borel (1981a), Grize (1974, 1981) e Toulmin (1958) (apud Bronckart (1999)), a argumentação apresenta, sob um ponto de vista das operações cognitivas de raciocínio, a existência de uma tese, supostamente admitida, a respeito de um dado tema. Sobre o pano de fundo dessa tese 42 anterior, são propostos dados novos, que são objeto de um processo de inferência, que orienta para uma conclusão ou nova tese. Ainda, segundo os autores, no quadro do processo de inferência, esse movimento argumentativo pode ser apoiado por algumas justificações ou suportes, mas pode também ser moderado ou freado por restrições. Desse modo, o peso dos suportes e das restrições influenciaria na força da conclusão. Bronckart (op.cit) argumenta que o protótipo da seqüência argumentativa pode ser apresentado em uma sucessão de quatro fases. Na primeira estaria a fase das premissas (ou dados), em que se tem a constatação de partida, na segunda, teríamos a apresentação dos elementos argumentativos que orientam para uma provável conclusão. Segundo o autor esses elementos podem ser apoiados por lugares comuns, regras gerais, exemplos, etc.. Na terceira fase, estariam os contra-argumentos, que têm a função de restringir a orientação argumentativa e que podem ser apoiados ou refutados por lugares comuns. Na última fase estaria a conclusão (ou nova tese). A conclusão tem a força de integrar os efeitos dos argumentos e contra-argumentos que foram expostos ao longo do texto. Segundo Bronckart, fazem parte, também, da argumentação seqüências explicativas. A seqüência explicativa, segundo o autor, ocorrerá no texto argumentativo como um recurso para esclarecer um item problemático que, embora seja incontestável, possa causar alguma dificuldade de compreensão ao destinatário. Contudo, se um aspecto do tema for contestável, o redator tenderá a organizar seu texto em uma seqüência argumentativa. No caso do discurso ser ao mesmo tempo problemático e contestável o produtor lançará mão de um segmento que combine as duas seqüências. Contudo, essa divisão entre seqüências explicativas e argumentativas é um tanto problemática uma vez que é difícil separar uma seqüência da outra. De fato, parece ser 43 indispensável que a argumentação seja construída por meio de explicações, exemplos, ilustrações etc., É difícil imaginar o desenvolvimento de uma argumentação sem a utilização desses recursos como evidência. Os próprios autores têm dificuldade em explicar essas diferenças. Ao fazer a distinção entre dissertação e argumentação, Othon Garcia (1992), por exemplo, defende a idéia de que, na dissertação, o propósito principal é expor, explicar ou interpretar idéias, já na argumentação o objetivo é o de convencer, persuadir ou influenciar o leitor. No entanto, o próprio autor reconhece que se podem encontrar traços de argumentação, mesmo em um texto de características mais explicativas, como a dissertação, principalmente, na maneira como o autor procura convencer o leitor, conduzindo sua opinião através da evidência dos fatos. Em relação aos aspectos estruturais da argumentação, Paredes Silva (1997) observa que a sua unidade semântica será a proposição, em construções sintáticas mais complexas (alta incidência de subordinação). Os verbos são usados em formas não perfectivas, havendo forte contingente de construções hipotéticas. 44 4. ANÁLISE DOS DADOS 4.1. Status informacional do constituinte Para o desenvolvimento deste trabalho levarei em conta as quatro categorias de conteúdo informacional propostas por Votre & Naro (1999) e Berlinck (1997), quais sejam, referentes novos, referentes disponíveis, referentes inferíveis, referentes evocados, que neste trabalho, só podem ser evocados textualmente. Assim, testarei as quatro categorias em textos jornalísticos (notícias e opinião) tentando, assim como os autores o fizeram nos textos narrativos de fala, verificar as correlações entre a posição do SN sujeito e seu status informacional. Antes de prosseguirmos nas análises, vale a pena comentarmos as noções que podemos esperar de cada categoria informacional. O primeiro grupo é de referentes novos, que são introduzidos pela primeira vez no contexto discursivo, como nos exemplos abaixo em (1) um rapaz e (2) tres hadas. 1. Segundo moradores, depois da prisão do traficante Elias Maluco, em 19 de setembro a polícia foi deixando as duas favelas e a vida voltou à anormalidade de sempre, com a lei do silêncio imperando. — Há alguns meses um rapaz foi arrastado do baile funk e levado para o “microondas”. Ele tinha uma dívida de droga – contou um morador da Vila Cruzeiro, pedindo anonimato. 5 (NOT.)5 Os símbolos “NOT.” e “OP.” referem-se aos gêneros notícias e artigo de opinião. 45 2. En los cuentos de nuestra infancia — que algunos nunca hemos renunciado a releer — siempre se inclinan por lo menos tres hadas sobre la cuna de los recién nacidos. (OP) Em (1), temos o fragmento de um texto em que o autor vinha falando do assassinato do repórter Tim Lopes e de todo o empenho da polícia para prender o responsável pelo crime. Ao finalizar o texto, a autora introduz depoimentos de moradores daquela comunidade para mostrar que, depois da prisão do criminoso, a situação voltou a ser como antes, e põe em discurso direto o depoimento que podemos ver em (1) sobre um rapaz que foi capturado pelos traficantes. O referente um rapaz é introduzido nesse momento no texto e encerra a reportagem, causando certo impacto. Em (2), temos um fragmento do espanhol retirado de um artigo de opinião. É a partir desse parágrafo que o autor desenvolve todo o texto, e por isso, o referente novo hadas (fadas) aparece nesse momento pela primeira vez no texto. O segundo grupo é constituído de referentes disponíveis, que podem ser representados por entidades familiares ao ouvinte. Esses referentes disponíveis pertencem a um grupo de indivíduos cujo nome é de domínio público, tais como políticos, celebridades, instituições etc. Nesse grupo estariam também referentes identificados pelo uso de nomes próprios. 3. Un total de 40 personas han perdido la vida en las carreteras españolas desde el inicio de las vacaciones de Semana Santa, cuya segunda fase de salida se inició ayer con más de 90 kilómetros de retenciones en las carreteras de Madrid. El Instituto Nacional de Meteorología (INM) preve que los viajeros encontrarán en su destino un tiempo sensiblemente peor al disfrutado los últimos días. Las temperaturas registrarán una ligera mejoría el domingo. (NOT.) 46 4. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio de Mello, ao comentar as propostas existentes para a instituição do chamado controle externo da magistratura, pôs em evidência a circunstância de que, ao criarmos um órgão controlador do Poder Judiciário, seríamos levados, talvez a curto prazo, a criar um outro órgão controlador e assim por diante, ad infinitum. (OP.) Nos exemplos acima temos referentes que são familiares ao leitor, pois podem ser facilmente relacionados a instituições, como em (3) ou, ainda, a um nome que faz parte de instituições, como em (4) o presidente do Supremo Tribunal Federal. O referente inferível é aquele que o redator supõe ser deduzível, pelo ouvinte, de outras entidades já evocadas ou inferíveis, via raciocínio lógico, como em (5) as questões e (6) la provocación. 5. As palavras de Bobbio resumen, de forma clara, o dilema atual da Humanidade. Para o direito, as questões daí decorrentes estão postas. Como definir e assegurar a observância de parâmetros éticos para as novas descobertas? (OP.) 6. Por otro lado, aunque los americanos nos hayan mostrado desde hace un año que siguen una política ciega y autista en Irak, pensar que la provocación contra Múqtada al Sáder y sus seguidores ha sido un error más que ha encendido la Intifada Chií, seria muy inocente por nuestra parte. (OP.) No fragmento (5), o referente as questões pode ser associado ao dilema atual que a humanidade vive para delimitar a aplicação dos avanços da ciência. A preocupação do autor é a de que essas novas descobertas não ameacem à vida humana e que as novas 47 descobertas sejam utilizadas com consciência. O referente as questões pode ser associado no texto com as idéias de ciência, liberdade, segurança, progresso técnico etc. expressas nos parágrafos precedentes (cf. anexo 3) Já em (6), o referente la provocación (cf. anexo 8) pode ser associado às várias medidas tomadas pelos americanos com o objetivo de controlar o Iraque. Para o autor, o controle de publicações do movimento chiíes, a prisão do seu porta-voz, Mustafá al Yaquí, e os disparos contra os manifestantes que reagiram contra essa medida são atitudes que devem ser encaradas pelos lideres iraquianos como provocações. Observe que, pelo fato de poder contar com as inferências do leitor, os produtores dos textos usam o artigo definido, embora os nomes não tenham sido introduzidos antes. E finalmente, as entidades evocadas são caracterizadas por retomarem referentes já mencionados no texto e portanto já conhecidos do leitor como em (7) esse órgão, (8) el director e el atracador. Como podemos perceber em todos esses exemplos o item é uma retomada de um termo já mencionado anteriormente. 7. E, realmente, assim, é. Se entendemos fundamental que tenhamos um órgão que controle e fiscalize o Poder Judiciário, esse órgão, ao se desviar de suas finalidades, estaria a requerer a existência de órgão que lhe seja superior. (OP.) 8. Antes, el ladrón fue liberando a los rehenes de manera escalonada y tras “arduas negociaciones mediante un psicólogo de la policía. Dos de los retenidos, el director de la sucursal y un cliente, permanecieron hasta 13 horas cautivos. “El director fue quien peor lo pasó. El atracador le 48 tomó con él. Le amenazó con volarle los sesos y le llegó a golpear en la cabeza con la culata de la pistola”, reveló ayer una de las rehenes. (NOT.)6 Como podemos ver nos exemplos acima, os nomes destacados em negrito remetem a referentes já mencionados antes no texto. Em (7) por exemplo, temos o referente esse órgão. Esse referente já havia sido mencionado três vezes há uns dez parágrafos atrás, reproduzimos aqui duas de suas antepenúltimas menções. O autor constrói toda a sua argumentação em cima desse tema, já que sua tese é provar a necessidade de se construir um órgão que controle e fiscalize o Poder Judiciário. Já no fragmento que retiramos do texto de notícias do espanhol, temos em um primeiro momento a ativação do referente el ladrón que é retomado mais adiante como el atracador. Observe-se que muda o item lexical usado na retomada, o que não interfere na caracterização da entidade como evocada. No mesmo exemplo temos el director que em sua primeira menção é ativado como um dos detidos pelo assaltante, logo a seguir, esse referente é retomado com destaque introduzindo um novo detalhe sobre o assalto. (cf. anexo 5) A partir das observações dessas categorias informacionais, procuramos identificar aquelas que favorecem a posposição do SN sujeito nas sentenças analisadas. Os resultados serão sempre apresentados em tabelas que expõem lado a 6 “Antes, o ladrão foi libertando os reféns aos poucos e após “árduas” negociações, mediante um psicólogo da polícia. Dois dos retidos, o diretor da sucursal e um cliente, permaneceram até 13 horas cativos. “O diretor foi quem esteve em pior situação. O assaltante cismou com ele. Ameaçou-o de estourar os miolos e chegou a golpeá-lo na cabeça com a pistola”, revelou ontem uma das reféns.” 49 lado os percentuais encontrados para o português e espanhol, em cada gênero estudado. Tabela 1 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos textos de notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. 11/89 = 12% 17/94 = 18% Referente disponível 0/29 = 0% 5/38 =13% Referente evocado 2/142 = 1% 3/89 = 3% Referente inferível 10/102 = 10% 16/102 = 16% 23/362 = 6% 41/323 =13% Referente novo Total Antes de mais nada, vale a pena comentar os totais encontrados nas duas línguas, no gênero notícias. Como podemos observar, o espanhol apresenta um percentual mais alto de sujeitos pospostos, (13%), em relação ao português (6%), uma diferença percentual não muito acentuada (de sete pontos), mas que, em alguns contextos, se torna significativa. A tabela dos textos de notícias mostra, também, que são os referentes novos e inferíveis os que mais caracterizam a posposição, tanto no português como no espanhol. A distribuição percentual da tabela 1 mostra, ainda, que o espanhol apresenta maiores chances de posposição caso os referentes sejam disponíveis, e, como já comentamos, novos e inferíveis. Podemos dizer que, para o espanhol, os referentes disponíveis e inferíveis parecem ter um comportamento semelhante ao de referentes novos (e de certa forma são novos no texto.). Os referentes inferíveis são informações que derivam da evocação de esquemas que são desencadeados pela 50 menção de um outro referente. Por não se manifestarem previamente no texto, podem ser associados às informações novas. Por outro lado, aproximam-se das informações evocadas por, de alguma forma, poderem ser relacionadas com algo já mencionado. Já os referentes disponíveis desencadeiam o conhecimento compartilhado do leitor. No português, por outro lado, os disponíveis se aproximam dos referentes evocados. Essa distribuição mostra que os textos jornalísticos do português tendem a construir a notícia em cima de referentes que fazem parte do conhecimento compartilhado do leitor, mas são sentidos como referentes evocados e, por isso, também raramente estão pospostos ao verbo. Os referentes evocados como podemos observar na tabela (1), aparecem num número insignificante de sujeitos pospostos (2/142), ou seja, 99% dos sujeitos evocados são antepostos. Além disso, considere-se que os evocados representam 39% de todos os sujeitos. A tabela também mostra que, no português, são apenas os inferíveis que se aproximam dos referentes novos. Vejamos agora o que podemos encontrar nos textos de opinião. Tabela 2 – Freqüência de ordem VS segundo o status informacional do sujeito nos artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. Referente novo 7/62 = 11% 26/164 = 16% Referente disponível 7/57 = 12% 6/40 = 15 % Referente evocado 5/109 = 5% 13/122 = 11% Referente inferível 17/147 = 12% 13/115 = 11% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Total 51 A tabela (2) revela um aumento percentual no total de posposição do português que o aproxima mais do espanhol. Mostra também que, para os artigos de opinião, há uma distribuição mais equilibrada, no espanhol. O aumento percentual do português talvez possa ser explicado pelo alto grau de formalidade deste gênero. Os artigos de opinião são textos dirigidos a um público mais escolarizado, ou especializado em diferentes setores de conhecimento (economia, política, educação, etc.), fato que permitiria manter, de certa maneira, os padrões mais conservadores da escrita. Os textos de notícias também estão sujeitos aos padrões da escrita, mas talvez atinjam um público leitor mais abrangente e diverso. E, por isso, talvez mantenha-se a objetividade na transmissão da informação, mas as construções sejam direcionadas para uma linguagem que transmita menor conservadorismo na escrita. A distribuição de freqüência das tabelas (1) e (2) nos revela que, em ambos os gêneros, a posição SV é predominantemente de referentes evocados, principalmente no português que apresenta menor chance de posposição com esses referentes. Diferentemente, o espanhol apresenta um percentual de posposição de evocados não muito distante das demais categorias, nos artigos de opinião, (11%), marcando uma distribuição mais equilibrada das categorias informacionais pospostas nesse gênero . A tabela dos artigos de opinião também reitera que em ambas as línguas não há uma exclusividade de sujeitos pospostos novos. Essa possibilidade de VS, tanto no português como no espanhol, em ambos os gêneros, com referentes evocados e inferíveis corresponde às conclusões de Votre & Naro (1999) e Berlinck (1997) no que diz respeito à idéia de que a posposição não serve basicamente para apresentar referentes novos no discurso. A distribuição mostra, ainda, uma complexidade na 52 referência dos sujeitos. E evidencia graus de novidade e de velhice que só podem ser explicados pelas diferentes estratégias discursivas que os gêneros notícia e artigo de opinião impõem. 53 4.2. A continuidade do SN Como já comentamos na seção anterior, trabalhamos com um material diferente do de Votre & Naro (op.cit.), que medem o status informacional dos sujeitos em VS e SV nos textos narrativos de fala. Nossos dados são textos escritos que abrangem dois gêneros diferentes: artigos de opinião e notícias, e, por isso, a expectativa é a de que não possuam o mesmo tipo de continuidade ou descontinuidade do texto falado. Essa expectativa se justifica porque são um tipo de material que envolve maior planejamento, permitindo maior complexidade e atenção do redator na indicação dos SNs/referentes. O redator tem de levar em conta as unidades de sentido no todo do texto, ou seja, a continuidade dos referentes ativados, re-ativados e dos que podem ser inferíveis a partir de expressões do texto. Assim, podemos ter referentes ativados que introduzem a informação principal do texto e que são retomados numa seqüência um número significativo de vezes. Esses são reconhecidos como referentes/tópicos centrais. Há também um tipo de ativação complexa de referente/tópico que não é realizada pelo mesmo item léxico, mas em que a mudança não acarreta uma descaracterização total que afete a relação de referência entre os SNs, já que alguma base semântica é preservada. Nesses casos, os SNs podem representar uma ativação por associação ao referente anterior, ou seja, as formas podem ser reconhecidas como quase sinônimas. Desse modo, seria pertinente dizer que há uma dinâmica nos textos em que os referentes seriam introduzidos, conduzidos, retomados, identificados e modificados à medida que o discurso se desenrola. O fragmento (9) é exemplar por sua complexidade e pode dar uma noção exata do que estamos querendo propor. 54 (9) O pânico tomou conta da cidade num efeito dominó, transformando os cariocas em reféns do medo. Além das ameaças concretas, as pessoas se deixaram levar por uma forte onda de boatos. Um fenômeno social que, segundo os psiquiatras, acontece quando medo real e o imaginário se misturam. Os cariocas resolveram agir de maneira preventiva, não deixando os filhos irem para o colégio, faltando ao trabalho ou se fechando em casa. (...) O temor foi real em alguns pontos da cidade em que homens armados ameaçaram comerciantes ou ordenaram o fechamento de escolas. Na Ilha do Governador, traficantes ameaçaram invadir o Iate Clube Jardim Guanabara. (...) Para o historiador Milton Teixeira, a situação de ontem só teve paralelo durante a segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando a cidade era obrigada a ficar às escuras durante simulações de ataque aéreo. Segundo ele, nem no golpe militar de 1964 o receio levou o comércio a fechar dessa maneira. Esse texto de notícias, retirado do jornal O Globo, informa sobre o pânico que tomou conta da cidade por conta de uma série de boatos espalhados por traficantes. (cf.anexo 9) No fragmento, o jornalista inicia o parágrafo com o tópico da informação, o Pânico. Em seguida, lança mão de autoridades no assunto que indicam as circunstâncias em que se pode aplicar o termo. E segundo essas autoridades (os psiquiatras), haverá pânico quando medo real e o imaginário se misturam. A menção da palavra medo introduz uma outra dimensão para os sentimentos dos cariocas, que têm em pânico o grau máximo de emoção e em medo uma emoção que parece ser menor. Logo a seguir, os conceitos são revistos como temor e receio, que também estabelecem uma gradação de sentimentos diferenciados. A substituição para o temor( foi real) remete à noção de fato fundamentado em ocorrências que realmente aconteceram, e essa noção é sustentada 55 em todo o parágrafo. Já ao reformular o referente uma segunda vez, o redator lança mão da atribuição semântica de sentimento mais abrandado, em que o medo parece atingir uma intensidade ainda menor, receio. Assim, podemos dizer que o referente vai se construindo no discurso e que é a relação entre os itens quase sinônimos que possibilita que se reconheça a continuidade de referência entre os SNs. É com base nessas observações que quero defender a relevância de que se leve em consideração na análise dos textos escritos uma continuidade em sentido mais amplo, em que não haveria necessidade de se reconhecer igualdade no item léxico, já que a referência pode ser estabelecida a partir das semelhanças na base semântica dos elementos em jogo. Essa relação, segundo Koch e Marcuschi (2002) e Mondada (2003), pode ser encontrada na noção de referenciação. “A referenciação é vista como um processo discursivo criado na dinâmica interacional, de modo que os referentes são considerados como objetos-de-discurso, e não como objetos-de-mundo. Correlacionada à noção de referenciação estaria a noção de anáfora” (cf. Cavalcante (2003 p. 109) A importância da correlação estaria no acréscimo da noção de domínio geral de remissão que o termo anáfora engloba. Nessa terminologia são vistos como anafóricos não só os elementos do texto que remetem a sintagmas ou a um ou alguns constituintes de um sintagma, como os que remetem a porções inteiras, maiores ou menores, do texto antecedente ou subsequente. Incluem-se, também, na noção de anáfora, além dos elementos que fazem remissão a outros expressos no texto, os que remetem a elementos do universo cognitivo dos interlocutores, desde que ativados por alguma expressão do texto.(cf. Koch (2001 p.39) Nos dados pudemos encontrar as seguintes estratégias de referenciação anafórica: por 56 meio de sintagmas nominais definidos correferenciais (exemplo 10), por meio de anáfora recategorizadora (11) e (12); por meio de anáforas diretas e indiretas (exemplos: (16) e (13)) e por meio de termos encapsuladores (exemplos: (14) e (15)), que serão comentados a seguir. As questões discutidas acima estabelecem, em linhas gerais, o que estamos considerando referentes contínuos. Com base nessa noção de referenciação, tentei verificar como a continuidade poderia estar condicionando a posposição do sujeito. Para isso trabalhei com um critério em que distingui os referentes que são mencionados apenas uma vez no texto (classificação de menção única) os referentes que são introduzidos pela primeira vez no texto (classificação de primeira menção) e referentes retomados. Para os casos em que os referentes são retomados no texto, consideramos dois aspectos: o primeiro, em que o referente é ativado na mesma função de sujeito; e o outro, em que o referente foi inicialmente ativado em uma função que não é a de sujeito. Na análise dos referentes retomados, foi necessário também que medíssemos as diferentes distâncias entre a menção analisada e a menção anterior do referente. A expectativa era a de que a maior ou menor proximidade entre os referentes pudesse ter também algum tipo de correlação com a posposição do SN. Contudo, tivemos que reagrupar essas categorias em uma só, já que, nas retomadas de referente distante da última menção com mesma função e nas retomada de referente distante da última menção em outra função, não havia exemplos suficientes que justificassem a manutenção de sub-grupos para medir diferentes distâncias. A análise mediu a distância entre o SN sujeito analisado e sua menção anterior em número de orações que as separam. Assim, consideramos como pequena distância de 1 - 10 orações anteriores e grande distância mais de 11 orações anteriores. Os tipos 57 de continuidade que pudemos encontrar a partir dos critérios adotados são: menção única; primeira menção; retomada de referente com mesma função, próximo à última menção; retomada de referente com função diferente, próximo da última menção e retomada de referente, distante da última menção. Passaremos a comentar cada um dos tipos com que trabalhamos. 4.2.1. Retomadas de referentes próximos As retomadas de referentes podem ser analisadas a partir do princípio da polaridade (cf. Naro & Votre (1999), que distinguem os referentes como centrais e periféricos). Segundo esse princípio, nas retomadas de referentes/tópicos centrais temos referentes re-ativados um número significativo de vezes e estes se conservam por mais tempo na posição de sujeito no discurso. Do outro lado, temos referentes/não-tópicos (periféricos), que são retomados uma ou duas vezes, ou ainda pode haver uma menção única. Esse comportamento é característico da ordem VS, em que os referentes sujeito não são o centro da atenção no texto e por isso são apresentados como itens descontínuos, periféricos. Com base na noção de referenciação e no princípio de polaridade, iniciaremos os comentários dos tipos encontrados. Em (10), por exemplo, temos um caso de referentes centrais. O SN Paulo Gomes desempenha função de sujeito paciente em uma estrutura passiva, mais adiante o SN sujeito é re-ativado em uma estrutura ativa. Esse é um exemplo de retomadas que ocorrem por meio de sintagmas nominais definidos correferenciais. (10) Ex-comandante da corporação e ex-secretário de Defesa Civil, Paulo 58 Gomes vem sendo investigado pela corregedoria e pelo Ministério público estadual porque teria fraudado concursos públicos (...) Apesar das acusações, Paulo Gomes é cotado para retornar ao cargo (...) Gomes responde ainda a duas ações na Justiça, movidas por outro oficial da corporação (...) (NOT.) 4.2.2. Retomadas de referentes distantes As retomadas a que nos referimos aqui são de referentes periféricos que não representam as entidades principais do texto, indicam que há uma interrupção na permanência do referente. Esses referentes ocorrem em contextos em que há grande distância entre a primeira e a última menção (mais de 11 orações antes). Razão pela qual foi atribuído a esses referentes a categoria descontinuidade, (11) e (12): (11) Assim, no campo da reforma, seria importante que os juizes de primeira instância e os jurisdicionados estivessem mais próximos, atuando em pequenos distritos, resultantes da divisão das grandes cidades. Os tribunais de Justiça seriam também descentralizados, atuando em regiões do estado, estrategicamente selecionadas. (...) São pontos a refletir e que evidenciam, senão a desnececessidade do órgão controlador, a sua descaracterização institucional. Para chegarmos ao controle desejado – o mais amplo possível – é preciso que sejam feitas, em primeiro lugar, as reformas das leis processuais, para que, com uma descentralização para valer, de juízos e tribunais, fiquem próximos partes, magistrados e demais operadores do Direito, tornando, assim, realmente efetiva, uma fiscalização que, ao invés de vir de cima para baixo, será feita paralelamente aos juízos e tribunais. (OP.) (cf. anexo 10) 59 (12) Un total de 40 personas han perdido la vida en las carreteras españolas desde el inicio de las vacaciones de Semana Santa, cuya segunda fase de salida se inició ayer con más de 90 kilómetros de retenciones en las carreteras de Madrid. El Instituto Nacional de Meteorologia (INM) prevé que los viajeros encontrarán en su destino un tiempo sensiblemente peor al disfrutado los últimos días. Las temperaturas registrarán una ligera mejoría el domingo. Desde el viernes pasado hasta Ias 20.00 horas del ayer se registraron en las carreteras españolas 34 accidentes. Tres amigas de 31, 23 y 19 años murieron el martes en Cáceres cuando su coche se incendió tras chocar contra un talud. En la tarde de ayer, tres personas más fallecieron en accidente en el municipio de Valdés, a 100 kilómetros de Oviedo, informa Javier Cuartas. La Semana Santa de 2003 terminó con 126 muertos. (NOT.) Assim, temos 21 orações de distância em (11) e 11 orações em (12). Em ambos os casos temos formas nominais definidas em que é possível se estabelecer relação com a menção anterior, ou seja, há um processo de referenciação anafórica por cosignificação. A distância que separa as menções é um fator determinante para que o referente seja re-ativado por meio de sintagma nominal pleno, a fim de que possa ser recuperado, fato já observado em outros trabalhos (cf. Berlinck (1997) e Paredes Silva (1991) Nesses casos os referentes são ativados quando entram no discurso e numa segunda e última menção. Esse é o caso de (11), que é reativado com um SN enriquecido de Sprep. (as reformas das leis processuais). Assim, ao retomar uma idéia genérica que já foi lançada vários parágrafos acima, dá à forma um sentido mais específico acrescentando ao núcleo original o tipo de reforma que se deve ter. Em (12), embora o texto relate o que se passou no feriado da Semana Santa e portanto seja este o tema, o referente não é re-ativado mais que três vezes. A primeira menção se dá no subtítulo, em uma posição que não é a de sujeito. Assume a posição de 60 sujeito na segunda menção no fim do primeiro parágrafo e em sua última menção está na forma de um Sprep. “La Segunda fase de la Operación Salida de Semana Santa que comenzó ayer y se extenderá hasta el Domingo”(...) 4.2.3. Menção única Nos nossos dados, os casos de menção única ocorreram na forma de referenciação por anáfora indireta e anáfora encapsuladora7. De modo geral, segundo Cavalcante (2003) as ligações inferenciais que se elaboram pelo emprego das anáforas indiretas são sempre cognitivamente mais complexas do que as relações entre a anáfora direta e seu antecendente. Há como que um percurso maior de raciocínio que só se completa com as informações supostamente presentes em esquemas mentais culturalmente compartilhados. A ativação desses esquemas mentais, assim como os diferentes graus de complexidade que se pode encontrar nas associações que serão estabelecidas, podem ser percebidas nos exemplos (13), (14) e (15). Em (13), o redator parece contar com as informações compartilhadas pelo leitor. No fragmento, que relata um assalto, o jornalista inicia o parágrafo situando o leitor quanto à localização do evento, o restaurante, que é uma informação importante dentro da imagem, pois desencadeia um esquema cognitivo que possibilita a inclusão e visualização de todo o cenário do assalto e das pessoas envolvidas nele. Assim, há uma ligação entre o restaurante e a existência de um cozinheiro. Desse modo, o redator espera que o leitor possa recuperar e fazer essa ligação, e por isso, menciona o SN o cozinheiro Raimundo Nonato Damasceno sem que se faça necessária nenhuma 7 Os referentes disponíveis também são SNs de menção única. 61 preparação para a introdução desse novo elemento (inferível, do ponto de vista informacional) já que este é facilmente dedutível pelo referente já mencionado anteriormente, o restaurante. (13) O assalto começou com a chegada dos três criminosos ao restaurante. Um deles ficou no Santana enquanto os outros entravam no estabelecimento. Lá dentro, obrigaram o gerente e sócio José Maria Spassadim Couto a abrir o cofre, onde estavam os 12 mil. Antes, os criminosos deram várias coronhadas em José Maria, que também foi jogado ao chão e chutado. Além do gerente, estava o cozinheiro Raimundo Nonato Damasceno, que foi agredido. O mesmo aconteceu com Sérgio Figueiredo, funcionário da Ambev, que estava no restaurante consertando uma máquina de refrigerantes. Outro tipo de menção única que encontramos em nossos dados é o da anáfora encapsuladora, que pode ser definida como um recurso coesivo pelo qual um sintagma nominal funciona como uma paráfrase resumitiva de uma porção antecedente do texto. Assim, um novo referente discursivo é criado na base de uma informação velha.(cf. Conte (2003) p.177). Os exemplos (14) e (15) são exemplos de SNs utilizados como recursos de encapsulamento: (14) Durante todo o dia a boataria dava conta de que o fechamento do comércio fora determinado por causa da morte do traficante Fernandinho Beira-Mar, da mãe dele e até de alguns de seus cúmplices. Houve também quem dissesse que o bandido teria conseguido fugir do Batalhão de Choque e estaria espalhando o terror pela cidade. Mas essas versões não passavam de boatos. Beira-Mar continua vivo, a mãe dele morreu há 20 anos, nenhum de seus cúmplices foi morto e o bandido continua 62 preso. (15) O ex-secretário nacional de Esportes Lars Grael negou ontem que tenha visitado o presídio Bangu III em 1999. Anteontem, o secretário estadual de Esportes, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, afirmou que esteve com Lars na unidade para implantar um projeto de ressocialização, o Pintando a Liberdade. O projeto jamais foi implantado no presídio. Como O GLOBO noticiou ontem, agentes penitenciários afirmam que o secretário visitava com freqüência traficantes em Bangu III. (...) As denúncias de envolvimento com traficantes não impedem o secretário estadual de Esportes, Francisco Carvalho (PSB), o Chiquinho da Mangueira, de sonhar alto. Nos exemplos (14) e (15) temos expressões como essas versões e as denúncias que são motivadas pelo discurso precedente. Esses referentes são uma espécie de interpretação avaliativa de tudo o que havia sido comentado no parágrafo anterior e, ao mesmo tempo funcionam como ponto de partida em 15, para outro parágrafo. Em (14) versões contribui com a idéia de concluir por generalização as várias interpretações de boataria. O exemplo (15) comenta sobre alguns detalhes da investigação que estava sendo realizada no presídio. As várias falas citadas são reunidas e reavaliadas como denúncias. Desse modo, podemos dizer que versões e denúncias ativam por inferência informações gerais que também são tópicos nos textos. Quanto à posição que o SN sujeito pode ocupar na sentença, a expectativa é a de que ocorra na posição anteposta ao verbo, devido a sua função de iniciar um novo parágrafo, em 15, e a de concluir argumentos, em 14. 63 4.2.4 Primeira menção Outra categoria de continuidade encontrada em nossos dados é o de referenciação anafórica por nomeação (ou nominalização). Uma nomeação pode ser construída a partir de conteúdos implícitos. Esses casos de anáfora indireta constituem um caso especial em que o termo anterior é um verbo. Nesses casos o sintagma nominal não constitui propriamente uma retomada, mas uma primeira menção que possibilitará outras menções desse termo ao longo do texto. Este caso é ilustrado pelo exemplo (16): (16) Departamento do Sistema Penitenciário quer investigar guardas que trabalhavam nos últimos 12 meses em Bangu III. (subtítulo de notícias) O diretor do Desipe, major Hugo Freire, determinou ontem que seja feita uma investigação para apurar sinais de enriquecimento ilícito de agentes penitenciários que trabalham em Bangu III nos últimos 12 meses. Durante a investigação, os policiais vão determinar quanto tempo se leva para construir um túnel deste comprimento, de forma a precisar quando começou a ser executado o plano de fuga. (...) Ontem, o secretário Paulo Saboya disse que somente as investigações poderão mostrar o que ocorreu, mas ele acredita que após a rebelião de 2001, quando os presos depredaram o presídio, a vigilância foi prejudicada. Em (16) temos a entrada de uma entidade realizada a partir do subtítulo que menciona a ação de investigar. A correspondência semântica da ação, através da forma verbal que originou o referente nominal uma investigação, permite que se mantenha a relação de associação. E essa nova condição se reflete também na posição posposta do S do SN. Na seqüência, esse referente é retomado de forma idêntica a sua última menção e passa à posição anteposta ao verbo. 64 A partir dessas classificações, tentamos verificar a correlação entre a continuidade e a posição do SN na sentença. As tabelas (3) e (4) mostram o tipo de continuidade que se mostrou mais relevante à ordem marcada do sujeito: Tabela 3 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em textos de Notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/Freq. 17/160 = 11% 33/185 =18% Primeira menção do referente 4/46 = 9% 4/31 = 13% Retomada de referente com mesma função, próximo à última menção Retomada de referente com função diferente, próximo da última menção Retomada de referente, distante da última menção 0/85 = 0% 1/48 = 2% 1/49 = 2% 2/28 = 7% 1/22 = 5% 1/31 = 3% Total 23/362 = 6% 41/323 = 13% Menção única A distribuição da tabela nas notícias apresenta tanto para o Português como para o Espanhol percentuais mais altos de VS para menção única. Esses percentuais comprovam que a construção VS ainda é mais usada quando os SNs introduzem referentes que não são centrais na informação (cf.Naro & Votre (1999)). As sentenças que ocorrem com menção única, com o sujeito posposto ao verbo, já foram comentadas acima através do exemplo (13), do português. Acrescentamos um exemplo do espanhol (17): (17) La lluvia caerá en el cuadrante sureste, Murcia y sur de la Comunidad Valenciana, así como en el Cantábrico y Canaria. El resto del país estará parcialmente nublado. Las temperaturas se recuperarán en el tercio norte peninsular y descienden modernamente en 65 Andalucía. No se prevé una ligera mejoría hasta el domingo. También amainarán los vientos en la costa Mediterránea y sólo podría llover sólo podría llover débilmente en el Cantábrico, resto de Aragón y Melilla. (NOT.) O espanhol tem seu segundo maior percentual no caso de primeira menção (13%), como em (18): (18) Em Cañada Real Gaiana viven miles de personas Já nas retomadas, as chances de posposição baixam, nas duas línguas. O português, por exemplo, apresenta (2%) de chances de VS com SNs sujeitos retomados com função diferente, próximo da última menção (19). (19) – O Rio tem um número de roubos muito grande (...) Se essa média for mantida serão 58.476 veículos levados por ladrões (...) Os números de roubos no Rio estão muito altos desde julho de 2002 (...) No primeiro ano, foram 47.218 roubos e furtos, enquanto o ano passado registrou 53.027 ocorrências. No exemplo (19) o SN roubos entra no texto em uma função que não é de sujeito para, em um segundo momento, ser retomado por sintagma nominal equivalente. Na seqüência, o SN roubo atua como Sprep. do núcleo sujeito, números. Esse é um referente que tem ao menos seis menções ao longo do texto. O núcleo sujeito, nesse caso, é sempre ocupado pelo item roubado, carros, veículos e números. Esse é um referente que, embora não tenha se mantido como núcleo sujeito ao longo do texto, é o tema desenvolvido no texto, inclusive faz parte do título da matéria “Explode o roubo de veículos”. Contudo, como vemos no exemplo em negrito, tem sua última menção na função de sujeito posposto ao verbo. 66 O espanhol apresenta seu mais baixo percentual caso os referentes sejam retomados com a mesma função, próximos da última menção, como em (20) e retomados distante da última menção, como em (12), comentado a cima. Comentamos abaixo o exemplo 20: (20) El atracador que mantuvo el lunes secuestrados a punta de pistola y con una grana de mano a ocho rehenes en una sucursal del Banco (…) El director fue quien peor lo pasó. El atracador la tomó con él. Le amenazó con volarle los sesos y le llegó a golpear en la cabeza con la culata de la pistola”, reveló ayer una de las rehenes. Sus exigencias fueron mútiples: bocadillos, cerveza, agua, y pizzas. También pidió un gramo de heroína. Ésta última petición no fue satisfecha, según la policía. El comisario justificó que los GEO optaran por no intervenir en la sucursal “ante el riesgo que corrían los rehenes”. (NOT.) O exemplo (20) tem organização semelhante à encontrada em (19). O SN sujeito los rehenes ocorre no início do parágrafo, em outra função (cf. anexo 5). É retomado com o termo los retenidos, com função de sujeito e tem sua última retomada na função de sujeito, como los rehenes, como em (20). Note-se que apesar de serem referentes/tópico, já que montam toda a imagem necessária para o desenvolvimento do texto, rehenes e asalto tendem a estar pospostos ao verbo quando vão sair do texto. No caso de los rehenes a posposição se dá também com verbo dicendi reproduzindo o discurso direto de um dos reféns. Vejamos o que podemos encontrar nos textos de opinião. 67 Tabela 4 – Freqüência da ordem VS segundo a continuidade do tópico em artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. 29/237 =12% 42/287 = 15% Primeira menção do referente 2/29 = 7% 3/26 = 12% Retomada de referente com mesma função, próximo à última menção Retomada de referente com função diferente, próximo da última menção Retomada de referente distante da última menção 3/40 = 7% 7/57 = 12% 1/49 = 2% 3/36 = 8% 1/22 = 5% 3/34 = 9% Total 36/377 = 10% 58/440 = 13% Menção única Na tabela 4 temos os percentuais que ocorreram nos textos de opinião. Um fato que logo chama a atenção é a alta ocorrência de menções únicas. Se compararmos os totais de referentes de menção única das duas línguas com o total geral correspondente, teremos um percentual de (63%), para o português e (65%), para o espanhol. A distribuição revela que o português apresenta maiores chances de posposição apenas no caso de referentes de menção única. Já o espanhol apresenta taxas semelhantes de posposição caso os referentes sejam menção única (15%), referentes de primeira menção (12%) e referentes retomados que desempenhem mesma função e estejam próximos da última menção (12%). Mas, se os referentes retomados têm função diferente ou estão distantes, há ligeira queda na posposição, no espanhol. No caso do português, temos percentuais mais baixos com casos de retomada de referente com função diferente, próximo da última menção e distante da última menção. No caso de retomadas com mesma função, próximo à última menção temos percentuais levemente mais altos. 68 Os exemplos do português e do espanhol, para os referentes distantes da última menção estão em (21) e (22): (21) Assim, no campo da reforma, seria importante que os juízes de primeira Instância e os jurisdicionados estivessem mais próximos, atuando em Pequenos distritos (...) Para chegarmos ao controle desejado – o mais amplo possível – é preciso que sejam feitas, em primeiro lugar, as reformas das leis processuais, para que, com uma descentralização para valer, de juízos e tribunais, fiquem próximos partes, magistrados e demais operadores do Direito (...) (OP.) (22) La cumbre, a la que asistió el rey Juan Carlos, como tiene por costumbre desde la primera (…) Y aunque a la postre la de San José resultó más dañada por las ausencias, no por ello se justifican las desafortunadas palabras de Rajoy al valorar despectivamente un encuentro al que asistió el Rey. El líder de la oposición y su partido, el PP, parecen a veces estar en permanente campana electoral. (OP.) O exemplo (21) já foi comentado em (11), mas, para melhor visualização, está sendo retomado aqui. É o único caso de posposição no português de referente retomado distante da primeira menção. No exemplo, como comentamos anteriormente, o SN reforma tem sua primeira menção em uma função que não é a de sujeito e tem sua última menção em função de sujeito em posição posposta ao verbo. Talvez se queira valorizar a realização do fato (fazer as reformas). Em (22), temos referência à reunião de chefes de governo a que o rei assistiu introduzindo o parágrafo. O SN el rey está em função de sujeito e posposto ao verbo. Algumas orações depois desta primeira menção temos a segunda e última menção do referente que se mantém em posição posposta ao verbo. 69 A análise da continuidade mostrou que, para o português, a posposição do sujeito predomina em entidades menos contínuas, ou seja, em referentes de menção única. Essa preferência confirma o estudo de Naro & Votre (1999) para a ordem VS na fala que associa a ordem VS à periferalidade do elemento no discurso. O espanhol revela comportamento diferenciado do visto para o português, nos textos de notícias e artigo de opinião. Nos textos de notícias, para o espanhol, há possibilidade de VS em caso de entidades menos contínuas (menção única) e em caso de primeira menção. Nos artigos de opinião, o espanhol também apresenta maiores taxas de posposição caso os referentes sejam menos contínuos e primeira menção. Mas esse gênero também mostra maiores chances de posposição do sujeito em caso de retomada de referente com mesma função, próximo à última menção. Podemos concluir que a distribuição no espanhol é mais equilibrada, não há diferenças percentuais significativas. 70 4.3. A extensão do sujeito Este grupo de fatores controla a extensão do sujeito. O objetivo é observar até que ponto o peso (SNs mais pesados ou mais longos) e a complexidade podem contribuir para a anteposição ou posposição do SN. Como critério para medir a extensão do sujeito, consideramos o limite de 1- 4 sílabas, como menor extensão, 5 – 9 sílabas, média extensão e 10 ou mais, maior extensão. Antes de seguirmos a análise gostaríamos de exemplificar o que estamos chamando de menor e maior extensão, e a conseqüente complexidade contida nos SNs segundo sua extensão. Observemos os exemplos (23), (24), (25) e (26) a seguir: (23) (...) Em novembro de 2001, 27 pessoas passaram 20 horas sob o domínio de presos armados com submetralhadoreas, pistolas, duas granadas, facas, foices e ameaçando explodir botijões de gás se a polícia tentasse agir. Ontem, o secretário Paulo Saboya disse que somente as investigações poderão mostrar o que ocorreu, mas ele acredita que após a rebelião de 2001, quando os presos depredaram o presídio, a vigilância foi prejudicada. Segundo ele, para a realização das obras de recuperação do presídio, por exemplo, foi necessária a ajuda de policiais militares. (NOT.) (24 ) Ayer el niño estaba de excursión con el colegio cuando Sonia le comunicó por móvil que volvía con ella. “El colégio le ha vitoreado, sus companeros le han dado ánimo y yo no hago sino agradecer el apoyo que he recebido de la gente de Huesca”, dice Sonia. De hecho, en la ciudad se creó la pasada semana una plataforma de apoyo a Sonia (…) (NOT.) 71 Em (23), temos um SN complexo, pois é composto de vários elementos que ajudam a compor a informação (núcleo + Sprep) a ajuda de policiais militares. O nome policiais remete a um referente que já havia sido mencionado, já o núcleo do referente ajuda é inferível pelo contexto. O adjetivo militares, que é introduzido nesse momento é menos previsível. No exemplo (24), una plataforma de apoyo a Sonia, também temos SN um composto de vários elementos. Os elementos apoyo e Sonia são conhecidos do leitor, inclusive o nome Sonia é uma informação/tópico, uma vez que é a história dela que é contada no texto. O nome plataforma é uma informação desconhecida do leitor, mas que pode ser inferida pelo contexto. A partir de estruturas como essas percebemos que os sujeitos pospostos e de maior extensão podem representar referentes inferíveis pelo contexto e que são enriquecidos com informações já conhecidas do leitor . Desse modo, a motivação para que haja um SN de longa extensão em posição VS, nos textos jornalísticos, em sentenças como (23) e (24) pode ser atribuída à necessidade de relacionar um referente que não é tópico com outros referentes no discurso. Contudo, SNs de maior extensão também podem ser realizados em posição anteposta ao verbo como em (25): (25) O coronel da reserva Paulo Gomes dos Santos Filho pode ter a aposentadoria cassada caso a Corregedoria Geral Unificada conclua que ele cometeu falta grave ao organizar concursos irregulares para o Corpo de Bombeiros. Em (25), o SN O coronel da reserva Paulo Gomes dos Santos Filho é introduzido nesse momento no início do texto e é retomado várias vezes ao longo do texto. Em uma das vezes em que é reativado, o redator o faz por meio de um pronome. 72 Assim, o referente é introduzido como um SN de longa extensão, mas ao longo do texto é recuperado por SNs de menor extensão como em (26): (26) (...) Apesar das acusações, Paulo Gomes é cotado para retornar ao cargo na administração da governadora eleita Rosinha Matheus, segundo fontes da equipe de transição. Ele estaria encarregado de escolher os nomes do futuro secretário de Governo e do comandante-geral da PM. (NOT.) Como Paulo Gomes já havia sido várias vezes mencionado e sua importância no desenrolar da história, que estava sendo contada, é perfeitamente identificável pelo leitor, o redator parece não necessitar do recurso de enriquecer o SN com informações novas e talvez por isso a referencialidade permaneça por meio de recursos como a menção do nome e sobrenome ou apenas o sobrenome, e ainda pode manter a referência por meio de pronome (todos SNs de menor extensão). Desse modo, temos em (26) um SN tópico e que tem a maioria de suas realizações em posição pré-verbal, posição típica de referentes tópico. O exame da freqüência entre a posposição do sujeito e a sua extensão em textos de notícias tem os resultados exibidos na tabela (5): Tabela 5 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em textos de Notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. Sujeito com menor extensão 3/187 = 2% 12/133 = 11% Sujeito com extensão média 13/120 = 11% 18/126 = 14% Sujeito com maior extensão 7/55 = 13% 11/64 = 17% Total 23/362 = 6% 41/323 = 13% 73 Como podemos observar na tabela 5, no português, há uma oposição entre os sujeitos de menor extensão e os de média/maior extensão. Já no espanhol, embora haja uma gradação na mesma direção, os percentuais são todos mais próximos. Logo, não se pode falar em efeito da menor ou maior extensão do SN nessa língua. Vejamos se essa situação se repete para os textos de opinião. Tabela 6 – Freqüência da ordem VS segundo a extensão do sujeito em artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/Freq. Sujeito com menor extensão 14/129 = 11% 20/190 = 11% Sujeito com extensão média 13/167 = 8% 24/160 = 15% Sujeito com maior extensão 9/81 = 11% 14/90 = 16% Total 36/377 = 10% 58/440 = 13% A tabela 6 nos mostra que, para o português, há semelhança na freqüência de sujeitos de menor, média e maior extensão. O Espanhol também apresenta percentuais muito semelhantes caso o sujeito tenha maior, média e menor extensão. Essa distribuição pode ser explicada, no português, pela baixa incidência de pronomes na função de sujeito nos artigos de opinião. Isso talvez se deva à própria característica argumentativa desse gênero. Diferentemente dos textos de notícias, que permitem a presença de pronomes de 1a pessoa do singular e 3a pessoa do singular e plural que, como vimos, dificulta, no corpus examinado, a posposição do sujeito. 74 Já no espanhol a explicação pode ser um pouco diferente. O espanhol também faz uso de pronomes de 1a pessoa singular e plural e 3a pessoa singular e plural nos seus textos, porém em um número muito menor que o português. Essa semelhança percentual dos pronomes com menor extensão com os de média e maior extensão, no espanhol pode também revelar que, diferentemente do português, essa língua marca a continuidade do referente/tópico mais pela ausência de pronome que pela sua realização. 75 4.4. Tipo de determinante Tradicionalmente, os determinantes definidos indicam que a entidade aludida é identificável, ou porque foi mencionada anteriormente ou porque pode ser identificada a partir de dados contextuais. Já os indefinidos indicam que o referente não é conhecido. Assim, seguindo a correlação que se propõe para a estrutura funcional da frase, construímos a hipótese de que os SNs definidos tendem a ser pré-verbais. Os SNs indefinidos, por outro lado, ocorreriam pospostos ao verbo. Vejamos os determinantes definidos, (27) e (28) e indefinidos, (29) e (30) que ocorreram nos dados, para o Português. (27) a direção contratou 12 estagiárias. Ainda assim, os alunos são dispensados duas horas antes, devido à falta de professores de atividade extra. (NOT.) (28) Cumprido o dever cívico, o carioca foi à praia e ignorou, solenemente, a lei seca. (NOT.) (29) um bandido morreu, três pessoas foram feridas a balas (NOT. GLO) (30) Temendo a violência do Rio, alguns parentes da corretora tinham decidido se mudar. (NOT.) Para o Espanhol temos os seguintes determinantes: (31) el chaval ha estado separado de su madre (NOT.El P.) (32) Los extremistas han utilizado las mezquitas para incitar a la violencia (NOT. El P) (33) La Ley de Enjuiciamento Criminal establece la posibilidad de que, transcurrido dos años desde que una persona está en prisión provisional, se pueda prolongar esa situación un máximo de dos años más. (NOT. El P.) (34) Muchos inmigrantes son practicantes en su lugar de origen, y cuando llegan a España buscan una comunidad evangélica para seguir el culto. 76 A tabela (7) apresenta a freqüência de posposição do sujeito de acordo com as estruturas exemplificadas: Tabela 7 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinantes em textos de notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/Freq. Definido 18/315 = 6% 27/287 = 9% Indefinido 5/47 = 11% 14/36 = 39% 23/362 =6% 41/323 = 13% Total A tabela revela que há um número acentuado de estruturas definidas, com 315, para o português e 287, para o espanhol o que corresponde a 87% e 89% dos SNs, respectivamente. Confirma também que essas estruturas não favorecem a posposição, especialmente no espanhol. Contudo, não poderíamos deixar de observar que há, nas duas línguas, um pequeno percentual de SNs definidos que fogem a nossa expectativa e são introduzidos no texto de modo posposto e definido. Assim, quisemos buscar as razões discursivas que estariam condicionando que SNs definidos que representam entidades conhecidas estivessem pospostas ao verbo, como em (35) e (36). (35) Existe a suspeita de que um agente tenha recebido R$ 400 mil pelas cópias das chaves da galeria onde estavam os detentos mortos, como adiantou o Jornal do Brasil na edição de ontem. (NOT.) (36) Sonia no podía reprimir ayer su emoción al abrazar a su hijo. “Creo que ha terminado la pesadilla”. (NOT.) Em (35) os detentos podem ser associados a outros referentes que já foram mencionados no texto, como morte de traficante, presídio, polícia, agentes 77 penitenciários. Todos esses elementos constroem o esquema que possibilita que o redator considere o referente os detentos mortos uma informação identificável. Essa possibilidade de inferência permite que o autor introduza o referente no texto como um SN sujeito definido. O exemplo (36), retirado do texto de notícias do espanhol, também é um SN em que o redator considera estar introduzindo uma informação identificável la pesadilla. A transcrição representa a primeira e única menção deste SN. No texto a autora aborda a situação de uma mãe que luta pela guarda do filho que corria risco de ser levado pelo pai para os Estados Unidos. A sentença determinando que a guarda definitiva ficaria com Sonia, a mãe da criança, representa o fim do pesadelo. Para reproduzir essa emoção a autora transcreve a fala da mãe e põe o SN sujeito definido posposto ao verbo. Segundo Chafe (1976), esse seria um recurso de preservação do referente, ou seja, os referentes sujeito introduzidos têm estreita correlação com os SNs mencionados anteriormente, em (35) e (36). Isso possibilita que os SNs os detentos mortos e la pesadilla ao serem introduzidos no textos sejam sentidos como referentes identificáveis e, por isso, sejam definidos. Outra situação em que o referente definido está posposto ao verbo pode ser observada nos exemplos (37), para o Português e (38), para o Espanhol. Nesses casos os referentes já foram mencionados antes, mas quando são reativados algumas orações após a primeira menção estão pospostos ao verbo. Nessas estruturas a possibilidade de identificação se mantém, mesmo considerando a distância entre a primeira e a última menção, porque o SN pode ser resgatado a qualquer momento já que se trata de texto escrito. 78 (37) “Um assaltante fugiu a pé com cerca de R$ 12 mil. O criminoso que foi atingido na cabeça. (...) O assalto começou com a chegada dos três criminosos ao restaurante. Um deles ficou no Santana enquanto os outros entravam no estacionamento. Lá dentro, obrigaram o gerente e sócio José Maria Spassadim Couto a abrir o cofre, onde estavam os R$ 12 mil. (NOT.) (38) El comisario justifico que los GEO optaran por no intervenir en la sucursal “ante el riesgo que corrían los rehenes”. (NOT.) Vejamos a tabela (8) a seguir para os artigos de opinião: Tabela 8 – Freqüência da ordem VS segundo o tipo de determinantes em textos de Opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. Definido 29/340 = 9% 47/398 =12% Indefinido 7/37 = 19% 11/42 = 26% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Total A tabela mostra que, também, nos artigos de opinião, ocorrem mais frequentemente SNs pospostos com determinantes indefinidos que com SNs definidos, tanto no Português como no Espanhol. Como já observamos nos textos de notícias, há uma disposição para que os referentes definidos estejam pospostos ao verbo. Vejamos algumas estruturas definidas encontradas nesse gênero para o português e espanhol: 79 (39) Para o Rio de Janeiro, o fim das agências seria uma tragédia. Primeiro, porque cinco delas estão sediadas aqui. Aqui, também, estão localizadas as sedes das principais empresas de infra-estrutura do país. (OP.) (40) Ha Hecho bien el PSOE en rectificar, aunque de manera algo sinuosa, su intención de no someter a votación parlamentaria el regreso inmediato de las tropas españolas desplazadas de Irak. (OP) Os referentes as sedes das principais empresas e El PSOE são exemplos de SNs definidos que podem estar acessíveis (39) ou disponíveis (40) na consciência do leitor, o redator contando com esse conhecimento introduz os SNs sujeitos na forma de estrutura definida. (cf. anexo 6 e 7) O SN em (39) remete a um referente de menção única, contudo o escritor conta com a capacidade do leitor de identificar essa informação a partir de todo o contexto anterior. O texto aborda a importância das agências reguladoras que, segundo o autor, garantiriam a estabilidade dos contratos de concessão e, com isso, permitiriam o investimento dos estados em infra-estrutura. No discurso anterior temos expressões como agências reguladoras, infra-estruturas e Rio de Janeiro que estão diretamente ligados ao SN em questão as sedes das principais empresas de infra-estrutura do país. Em (40), a estrutura Ha hecho bien el PSOE abre o texto e o SN el PSOE é um referente de menção única. Contudo, é um referente que o autor conta que seja conhecido do leitor, já que se refere a um partido político e, portanto, deve fazer parte do conhecimento compartilhado dos leitores do jornal. O autor conta com essa disponibilidade que permite que o leitor identifique o SN que está sendo introduzido nesse momento para apresentá-lo como referente definido. No desenvolvimento da análise, percebemos que, mesmo algumas estruturas indefinidas, que favorecem a posposição, apresentavam especificidades discursivas. 80 Pudemos perceber que, entidades que podem ter um elemento correferencial, como em (41) ou inferidos a partir do contexto, como em (42), podiam conter também essa noção de informação presente na consciência do leitor. (41) Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constituição, pois, segundo o artigo 200 da Carta Magna brasileira, os poderes da União são independentes e harmônicos entre si. Como, portanto, criar- se um órgão que, sem ter as prerrogativas do Judiciário a ele se sobreponha? (OP.) (42) los americanos pueden imponer sin limites la fuerza para restablecer el “orden” y aniquilar a sus enemigos, como hace Israel, e incluso, si con la fuerza y la impunidad no les es posible llevar a cabo la “operación” prevista para el 30 de junio, pueda decir que el caos que han creado los extremistas y fanáticos lo hacen imposible. (OP.) Em (41) temos um referente que já havia sido apresentado algumas orações antes como SN definido esse órgão. Ao reintroduzir esse referente (três vezes), o autor o faz de modo indefinido, como podemos ver na transcrição. Não podemos dizer, portanto, que, nessas construções, temos referentes indefinidos desconhecidos. As construções em questão podem ser associadas a referentes correferenciais de valor genérico, porque representam SNs de valor aleatório de uma classe denotada pelo nome (cf. Leonetti 1999 p.873) No exemplo (42) temos uma referencialidade construída a partir de informações contidas no próprio texto, como podemos ver, isso permite que o SN los extremistas y fanáticos possa ser apresentado como um referente definido. 81 A análise dos textos mostrou que as duas línguas seguem a mesma tendência na distribuição dos determinantes, ou seja, a posposição tende a ocorrer mais frequentemente com indefinidos e a anteposição com SNs definidos. Foi possível perceber também que, nos gêneros noticias e artigos de opinião, a identificabilidade é mantida não só para que se possa manter a continuidade do referente, mas também do tema/tópico do texto. Os textos de notícias e opinião apresentam diferenças percentuais significativas no português. Nos textos de notícias temos uma diferença percentual pequena de (6%), para referentes definidos e (11%), para referentes indefinidos. Já no caso dos artigos de opinião essa diferença percentual se acentua para (19%), para indefinidos e (9%), para definidos. O espanhol também apresenta diferenças percentuais em cada gênero. No caso do gênero notícias, por exemplo, o espanhol explora mais a posposição de indefinidos (39%) e mais acanhadamente a de SNs definidos (9%). Nos artigos de opinião, a diferença percentual é menor, com (26%), para referentes indefinidos e (12%), se definidos. 82 4.5. Transitividade Na visão tradicional, a transitividade é vista a partir do verbo. Nessa concepção os verbos são analisados segundo sejam intransitivos, transitivos, bitransitivos. (cf. Rocha Lima 1991). Na visão funcionalista, poderíamos analisar a transitividade nos termos de Hopper & Thompson (1980), que a classificam como uma propriedade que se manifesta por meio de dez traços sintático-semânticos relacionados aos participantes do evento e às características associadas ao verbo, quais sejam: número de participantes, cinese, aspecto, puntualidade, volição, afirmação, modo, agentividade, afetamento do objeto e individuação do objeto. Neste trabalho, submetemos nossos dados a três dos parâmetros de transitividade propostos por Hopper & Thompson. Trabalhamos com os traços número de participantes, agentividade e aspecto. 4.5.1. Número de participantes da oração No que diz respeito ao traço número de participantes, Hopper e Thompson (op.cit.) orientam que uma situação está plenamente realizada, quando há pelo menos dois participantes envolvidos na ação. Assim, se a estrutura não apresentar estes dois participantes será pontuada como menos transitiva. Nossa hipótese é a de que estruturas mais transitivas condicionem sujeitos pré-verbais e estruturas menos transitivas influenciariam a posposição do sujeito. Nos nossos dados encontramos estruturas menos transitivas, com um só participante, como em (43) e (44). 83 (43) lá dentro, obrigaram o gerente e sócio José Maria Spadim Couto a abrir o cofre, onde estavam os R$ 12 mil . (NOT.) (44) No se prevé una ligera mejoría hasta el domingo. También amainarán los Vientos en la costa mediterránea y sólo podría llover débilmente en el Cantábrico (...) (NOT.) Estruturas mais transitivas, com dois participantes, como em (45), (46) e, ainda, com três participantes, como em (47) e (48): (45) O policial baleou os dois assaltantes. (NOT.) (46) el expresidente Jose Maria Aznar apoyó el golpe (NOT.) (47) el socialista Álvaro Cuesta pedirá al ministro una reunión urgente (NOT.) (48) os seres responsáveis não enviaram ao palácio as listas (OP.) Vejamos as freqüências dessas estruturas, em textos de notícias e de opinião, no Português e no Espanhol, nas tabelas (9) e (10), respectivamente: Tabela 9 – Freqüência da ordem VS segundo a transitividade em Notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. 18/141 = 13% 21/117 = 18% Dois participantes 5/206 = 2% 20/187 = 11% Três participantes 0/15 = 0% 0/19 = 0% 23/362 = 6% 41/323 = 13% Um participante Total A tabela acima revela que, tanto no português como no espanhol, há maiores chances de posposição, caso a oração tenha apenas um participante. Nesse caso de posposição com um participante a estrutura pode ter verbos de ligação, como em (49) e 84 (50), verbos intransitivos, como em (51) e (52) e verbos com estrutura passiva que não tenha o agente da ação realizado na sentença, como em (53) e (54). (49) Por enquanto, o único é o Piaui8 (NOT.) (50) Ya son dos las muestras de ADN que sitúan a Tony A. K. en los escenarios del crimen (…) (NOT.) (51) A comissão da Alerj verificou que no Graham Bell faltam 13 professores em dez disciplinas (NOT.) (52) (...) al colisionar con los balastros ocasionó el descarrilamiento del convoy, en el que perecieron dos mujeres (...) (NOT.) (53) 200 policiais civis de várias delegacias e especializadas fizeram uma busca nas celas de Bangu III a procura de celulares e armas. Foram encontrados cerca de 30 disquetes no presídio (...) (NOT.) (54) en Minas, donde se encontró una colilla con restos de ADN de King (NOT.) Nos exemplos (49) e (50) o Piaui e las muestras de ADN são sujeitos de estruturas de verbos de ligação. Constatamos, durante a análise, que existiam poucos casos de posposição com verbos de ligação, e que há um maior número de casos de verbos intransitivos, como em (51) e (52). Essa raridade de posposição com verbos de ligação é similar ao que Ashby & Bentivoglio (1993) encontraram em seus trabalhos para os dados de fala do espanhol. No caso das estruturas com dois participantes, o percentual se deve às construções, como em (55), (56). (55) se essa medida for mantida serão 58.476 veículos levados por ladrões (NOT.) (56)De esta forma se expresa el titular del Juzgado de lo Penal número 12 (…). (NOT) 8 No exemplo, temos em Piauí um nome e em o único um adjetivo. Por essa razão consideramos o nome Piauí o sujeito da sentença. 85 No exemplo (55) temos uma estrutura passiva em que os participantes selecionados pela estrutura verbal são o SN sujeito veículos e um SN agente ladrões. Em (56) temos um dos muitos exemplos do espanhol de estrutura com pronome reflexivo se. Classificamos esse pronome como um sinal morfológico de complemento, já que sua presença na estrutura caracteriza maior transitividade. (cf. Hopper & Thompson pg.266) Com relação aos verbos que selecionam três participantes, as duas línguas coincidem em apresentar poucos dados dessas estruturas e nenhuma posposição. Essa distribuição mostra que as estruturas em que o verbo selecione três participantes, de certa forma, bloqueiam a possibilidade de posposição do sujeito, uma vez que sobrecarregaria a estrutura colocando três elementos à direita do verbo. Vejamos a distribuição que pudemos encontrar nos artigos de opinião. Tabela 10 – Freqüência da ordem VS segundo a transitividade em Artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. Um participante 23/155 = 15% 19/111 = 17% Dois participantes 13/210 = 6% 39/299 = 13% Três participantes 0/12 = 0% 0/30 = 0% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Total A distribuição nos artigos de opinião, para o português, é correspondente a que vimos nos textos de notícias. O português tem maiores chances de posposição no caso de estruturas com verbos que selecionam um participante, como em (57), (58) e (59). 86 (57) não cabe uma aceitação literal da Bíblia (OP.) (58) É evidente que, paralelamente, deveriam ser revistos os códigos processuais (...) (OP.) (59) criou-se uma ruptura na aliança ocidental que pode ou não ser duradoura Em (57) temos o verbo caber que seleciona um participante, uma aceitação literal da Bíblia. Em (58) temos uma estrutura passiva com apenas o SN sujeito realizado na sentença, razão pela qual classificamos a estrutura como tendo apenas um participante. Em (59) temos estrutura com passiva pronominal que não tem como em (53) um agente realizado e, por isso, esse tipo de estrutura também foi classificado como tendo apenas um participante. No caso de posposição com dois participantes as estruturas são como em (60) e (61). (60) Para os brasileiros, era tempo de começar de novo vai valer a pena, conforme nos ensinava a canção (OP.) (61) no processo estilhaçou-se a Otan (OP.) Em (60) o verbo ensinar tem como argumentos o SN sujeito a canção e um complemento indireto pronominal de pouco peso, o pronome clítico nos. No exemplo (61) temos o SN sujeito Otan e um complemento reflexivo se, também clítico. O espanhol apresenta uma semelhança com a distribuição percentual que vimos nos textos de notícias, para estruturas de um participante. (62)Al menos, se han dado ya algunos pasos (OP.) (63) Son muy tonificantes los cuentos (OP.) 87 Nos exemplos, temos estruturas com passiva e com verbo de ligação. Na primeira, temos uma estrutura de passiva pronominal com verbo composto. Nessa estrutura temos, devido à não realização do agente da ação, apenas um participante. No segundo, há um verbo de ligação que seleciona apenas um participante sujeito los cuentos. Nas estruturas com dois participantes, em que há menor número de posposição, temos os seguintes exemplos: (64) siempre se inclinan por lo menos tres hadas sobre la cuna (OP.) (65) cuando la dirección de un sindicato exhibe la disposición negociadora que le reclama la sociedad (OP.) (66) La cumbre, a la que asistió el rey Juan Carlos Em (64) temos uma estrutura com se reflexivo que, como já dissemos classificamos como um segundo participante e um SN sujeito tres hadas. Em (65) temos o SN sujeito la sociedad e um complemento indireto pronominal que retoma o SN já mencionado na estrutura la disposición. Em (66) temos o SN sujeito el rey Juan Carlos e uma preposição referenciadora seguida da estrutura pronominal la que anafórica que retoma o SN la cumbre. 4.5.2. Aspecto Ao relacionarem o traço aspecto à transitividade, Hopper & Thompson (op.cit.) o associaram à presença dos traços télico e atélico. Essa propriedade se relaciona ao modo de encarar o processo, na sua completude ou não. O verbo télico, desse modo, representaria alta transitividade, uma vez que nessa estrutura, a ação é vista como 88 completa, finalizada. O verbo atélico representaria baixa transitividade, já que a atividade desenvolvida na sentença é percebida como incompleta. Neste estudo utilizarei a dicotomização de Hopper & Thompson, pontuando [+ perfectivo] para ações acabadas e [- perfectivo] para situações incompletas. Nossa hipótese é a de que os verbos télicos ou [+perfectivos], por representarem verbos de alta transitividade, estariam mais associados a seqüências narrativas, com um mesmo sujeito e condicionariam a anteposição do sujeito, como em (67). Os verbos atélicos ou [- perfectivos] apresentariam maiores chances de posposição do sujeito, como em (68). (67) O policial baleou os dois assaltantes. (NOT.) (68) “La decisión sobre el regreso de las tropas la tomará el Congreso con una Propuesta del Gobierno”. (OP.) Vejamos o que a análise das tabelas (11) e (12) revela para essas estruturas: Tabela 11 – Freqüência da ordem VS segundo o aspecto em textos de Notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. + perfectivo 13/188 = 7% 15/115 = 13% - perfectivo 10/174 = 6% 26/208 = 13% 23/362 = 6% 41/323 = 13% Total Como podemos observar na tabela (11), a expectativa de que sujeitos pospostos ocorram mais frequentemente com verbos [–perfectivos] que sinalizam baixa transitividade da estrutura não se cumpre, para ambas as línguas, nos textos de notícias. 89 O espanhol apresenta percentuais iguais mostrando que a maior ou menor perfectividade do sujeito não é relevante para que haja posposição do sujeito. A menor ou maior pefectividade também não é relevante para que haja posposição no português, nos textos de notícias. Vejamos se essa distribuição se mantém nos artigos de opinião. Tabela 12 – Freqüência da ordem VS segundo o aspecto em artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. + perfectivo 8/96 = 8% 19/124 = 15% - perfectivo 28/281 = 10% 39/316 = 12% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Total A tabela 12 confirma que tanto para o português como para o espanhol a maior ou menor perfectividade não é relevante para que haja posposição No espanhol, a maioria dos verbos mais perfectivos ocorre com o auxiliar haber,em tempo compostos que sinalizam uma ação acabada (69). (69) los americanos pueden imponer sin limites la fuerza para restablecer el “orden” y aniquilar a sus enemigos, como hace Israel, e incluso, si con la fuerza y la impunidad no les es posible llevar a cabo la “operación” prevista para el 30 de junio, pueden decir que el caos que han creado los extremistas y fanáticos lo hacen imposible. No gênero artigo de opinião, o português apresenta posposição com verbos [perfectivo] que sinalizam eventos não acabados, tal como em (70). 90 (70) Em sua “carta à Família” (n0 17), o Papa João Paulo II recorda ser ela (a família) uma Instituição fundamental para a vida de cada sociedade”. O casamento é seu Alicerce. (...) Essa visão cristã evidentemente inclui os valores religiosos que são elementos vitais na preservação do casamento e na educação dos filhos. Quando se debilita o relacionamento de marido e mulher e falha a educação dos filhos e a adequada orientação da prole, em face dos problemas que surgem, acende-se o sinal vermelho, pois está em perigo o bem-estar espiritual e temporal de um lar. 4.5.3. Agentividade do sujeito Este fator diz respeito ao grau de envolvimento do agente no processo expresso pelo verbo. As construções cujo agente tenha maior controle constituem uma estrutura mais transitiva que aquelas em que o agente não seja controlador. Nossa hipótese é a de que as estruturas que tenham sujeitos com baixa agentividade, e, portanto, representem as estruturas menos transitivas como (71) apresentariam maiores chances de posposição que as estruturas em que os sujeitos tenham alta agentividade como (72). (71) Los altos del Rodeo está situado a 32 Kilómetros de donde se produjo el homicidio (…) (NOT.) (72) Salvador Jové, el eurodiputado y candidato alternativo a Meyer presentado por los críticos, hizo un discurso descarnado de crítica contra la dirección. (NOT.) 91 Vejamos o que as tabelas (13) e (14) revelam para essas estruturas. Tabela 13 – Freqüência da ordem VS segundo agentividade do sujeito em textos de notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. + agentivo 1/115 = 1% 9/91 = 10% - agentivo 22/247 = 9% 32/232 = 14% 23/362 = 6% 41/323 = 13% Total A tabela (13) mostra que tanto o português como o espanhol têm maiores chances de posposição caso o sujeito seja [– agentivo]. Revela também, como podemos observar, que essa diferença percentual é um pouco mais acentuada no português. Outro dado relevante é o percentual de (10%) para espanhol com SNs pospostos com sujeitos mais agentivos. Exemplos de SNs pospostos [+ agentivos] no espanhol estão em (73) e (74). (73) Lo que querían los críticos era lo que finalmente lograron: poder votar “no” en su papeleta. (NOT.) (74) La privilegiada relación que mantienen los socialismos francés y español se reflejará en el acto político conjunto (…) (NOT.) No trecho transcrito em (73), temos um SN sujeito [+humano] com alguma capacidade de ação sobre o evento que está sendo comentado. Em (74), o SN sujeito los socialismos francés y español representa um grupo de pessoas que pertencem a um partido que mantêm uma relação específica e desejada. São, portanto, SNs agentes/humanos com total capacidade de interferir no evento comentado no texto. Vejamos a tabela (14) a seguir: 92 Tabela 14 – Freqüência da ordem VS segundo agentividade do sujeito em artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. + agentivo 0/71 = 0% 19/111 = 17% - agentivo 36/305 = 12% 39/329 = 12% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Total A distribuição da tabela (14) coincide com as mesmas tendências observadas na tabela de notícias, para o português, só que mais acentuada. Vemos que há maiores chances de posposição em estruturas que apresentam sujeitos menos agentivos. Já o espanhol apresenta uma distribuição mais equilibrada, nos artigos de opinião, apresentando possibilidade de posposição em estruturas mais e menos agentivas, como as de (75) e (76) respectivamente. (75) De ahí que las negociaciones del Gobierno y los sindicatos para reformar el mercado español, a las que probablemente dará la señal de inicio Zapatero. (76) Son muy tonificantes los cuentos bien leídos (…) (OP.) Em (75), Zapatero é um referente humano/agente que participa ativamente do início e do desenrolar da ação expressa pelo verbo dar. Já em (76) temos construção com verbo de ligação, construção que requer referente sujeito menos agentivo. Do exposto, podemos concluir que, no gênero notícias, o português e o espanhol coincidem na tendência em pospor sujeitos em estruturas menos transitivas. Como vimos, as duas línguas apresentam maior percentual de sujeitos pospostos em estruturas 93 que tenham verbos que selecionem um participante, esse sujeito é também menos agentivo. As estruturas que selecionam um participante são as de verbos de ligação e intransitivos e passivas analíticas que não têm seu complemento agente realizado na estrutura. Talvez devido a esse número de estruturas passivas a maior ou menor perfectividade não pareça ser importante nesse gênero, para ambas as línguas. O fato é que pudemos constatar que apenas dois dos traços, participante e agentividade, se mostraram relevantes, nesse gênero. O artigo de opinião não apresentou percentuais diferenciados para cada uma das línguas. No português, por exemplo, vimos que embora haja um leve aumento percentual na posposição de estruturas com verbos que selecionem dois participantes, esses SNs sujeitos são [-perfectivas] e –agentivos. A baixa transitividade, desse modo, favoreceu mais a posposição no português. O espanhol apresenta um leve aumento percentual na posposição com estruturas menos transitivas. Como pudemos observar, há um percentual maior de posposição com verbos que selecionem um participante e sejam menos agentivos. 94 4.6. Vozes do verbo Segundo Bechara (1992) vozes verbais seriam as formas em que se apresenta um verbo para indicar o sujeito como agente ou paciente da ação verbal (cf.p85). No português e no espanhol há três possibilidades de vozes verbais: ativa, passiva e medial. Para este trabalho utilizei o termo “não se aplica” para construções predicativas. Nesta seção, discuto como as vozes estariam propiciando a ordem VS nos nossos dados. As noções que podemos esperar de cada estrutura são apresentadas a seguir: O grupo da voz ativa é classificado como o da forma usual simples do verbo pela qual normalmente se indica que o sujeito é o agente da ação expressa pelo verbo, como nos exemplos abaixo em (77) Lula e (78) el juez. (77) .Lula definiu o mapa dos próximos passos preguiçosos para compor o governo. (OP.) (78) El juez de Huezca dejo a Sonia libre (NOT.) A voz passiva é reconhecida como a forma especial em que se apresenta o verbo para indicar que o sujeito é o paciente da ação verbal. Neste grupo estão reunidas, apenas, as estruturas com passivas analíticas. (79) Paulo Gomes vem sendo investigado pela corregedoria. (NOT.) (80) Orfeo sera despedazado por las bacantes (OP.) A voz medial consiste no emprego da forma verbal conjugada ao pronome átono da mesma pessoa do sujeito. A voz medial assume diversas significações, entre as mais 95 importantes estão: a reflexiva, recíproca e dinâmica. Contudo, nos nossos dados encontramos apenas os reflexivos, como em (81) e (82). Acrescentamos a essas estruturas construções com passivas pronominais, como em (83) e (84). (81) Depois da Revolução de 1930, o Estado, capitalizado, transformou-se em empresário. (OP.) (82) Resultará difícil evitar que ese referendun se convierta en un plebiscito sobre Europa (...) (OP.) (83) em face dos problemas que surgem, acende-se o sinal vermelho, pois está em perigo o bem-estar espiritual e temporal de um lar. (OP.) (84) donde el sábado se celebraron las exequias por los dos pescadores (NOT.) E finalmente decidimos deixar isolado o grupo dos verbos relacionais, uma vez que são sentenças predicativas, como nos exemplos abaixo (85) e (86): (85) ele está em estado grave no Miguel Couto. (NOT.) (86) En las sociedades democráticas, la opinión pública es una magia sumamente poderosa (…) (OP.) A partir das observações dessas construções, procuramos identificar aquelas que favorecem a posposição do SN sujeito nos gêneros analisados. 96 Tabela 15 – Freqüência da ordem VS segundo voz do verbo em textos de notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. Voz passiva 14/62 = 23% 0/17 = 0% Voz ativa 4/228 = 2% 23/187 = 12% Voz medial 1/13 = 8% 13/61 = 21% Não se aplica 4/59 = 7% 5/58 = 9% 23/362 = 6% 41/323 = 13% Total A tabela (15) revela que há muito mais chances de posposição, no português, quando a estrutura é passiva analítica, como em (87). (87) O diretor do Desipe, major Hugo Freire, determinou que seja feita uma Investigação. (NOT.) Note-se que a freqüência baixa sensivelmente em todos os outros casos, mas principalmente na ativa. O espanhol apresenta maior percentual de posposição com estruturas mediais, como em (88) e (89). (88) (...) en Mijas, donde se encontró una colilla con restos de ADN de King. (NOT.) (89) (…) de esta forma se expresa el titular del Juzgado de lo Penal (NOT.) Em (88), temos uma estrutura passiva que tem como sujeito una colilla. No exemplo (89) temos estrutura reflexiva que tem como sujeito el titular del Juzgado de lo Penal. A tabela revela que há um número pequeno de estruturas com passiva analítica, nessa língua, e nenhuma posposição. Mostra também que o percentual baixa se as 97 estruturas forem ativas e que são menores ainda em caso de estruturas “não se aplica”, como em (90). (90) . Estos interlocutores reconocen que si se va "hasta el final" será abierta y total la guerra con el PP.. (NOT.) Vejamos a tabela de artigos de opinião a seguir. Tabela 16 – Freqüência da ordem VS segundo voz do verbo em artigos de opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. Voz passiva 6/44 = 14% 0/9 = 0% Voz ativa 10/206 = 5% 39/291 = 13% Voz medial 11/32 = 34% 14/58 = 24% 9/95 = 9% 5/82 = 6% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Não se aplica Total A distribuição nos artigos de opinião mostra maiores chances de posposição, para o português, caso a estrutura tenha verbo medial, como em (91) e (92). Aliás, é a variável em que se dá maior polarização de resultados. O segundo maior percentual é o da voz passiva analítica que tende a se opor a todos os demais casos, como em (93). (91) criou-se uma ruptura na aliança ocidental que pode ou não ser duradoura (OP.) (92) no processo estilhaçou-se a Otan (OP.) (93) (...) evidentemente que, paralelamente, devem ser revistos os códigos processuais (...) (OP.) 98 Por outro lado, quando a construção possui verbos com sujeitos ativos ou verbos de ligação, o percentual de posposição baixa. A tabela (16) confirma, para o espanhol, o percentual observado nos textos de notícias, ou seja, maiores chances de posposição em caso de estrutura medial (24%). O segundo maior percentual ocorre nessa língua com estruturas com voz ativa, como em (94) (94) De ahí que las negociaciones del Gobierno y los sindicatos para reformar el mercado español, a las que probablemente dará la señal de inicio Zapatero. (OP.) A tabela revela ainda que, caso a estrutura seja de verbos “não se aplica”, as chances de posposição diminuem. Podemos observar que também nos artigos de opinião (assim como nas notícias) existem poucas estruturas com passiva analítica e nenhuma posposição. Alguns comentários podem ser feitos a partir do exposto. Um fato que chama a atenção, no português, é onde ocorre o maior percentual de posposição em cada gênero. Nos textos de notícias, por exemplo, há maior percentual de posposição nas estruturas com passivas analíticas, mas se o texto for mais formal, como no caso dos artigos de opinião, o maior percentual passa ser o de estruturas com verbos mediais (representados por passiva pronominal e reflexivos). Essas freqüências são interessantes e comprovam estudos que apontam para o desaparecimento do pronome se. (cf. Galves (1987) e Nunes (1990) apud Galves (2002)). Esses autores revelam que, na maioria dos casos, esses clíticos estariam restritos a usos lexicalizados (verbos com uso pronominal) e a menores ocorrências com reflexivos. Nos nossos dados tivemos ocorrência do clítico se na forma reflexiva, tanto nos textos de notícias como nos artigos de opinião. Podemos concluir pelos percentuais das tabelas (15) e (16) que o pronome (se) ocorre mais 99 frequentemente, no português brasileiro, em contextos formais e que há restrições ao clítico em contextos menos formais. O espanhol concentra seu maior percentual nas construções de verbo medial, tanto nos textos de notícias como nos artigos de opinião. Também não apresenta caso de posposição se a estrutura for passiva analítica. É importante observar que a passiva analítica não é o tipo de estrutura preferida nessa língua. No espanhol predomina o uso de passiva pronominal. (cf. Gili Gaya 1994, p.127). A passiva nos textos jornalísticos, tanto no português como no espanhol, tem como função em primeiro lugar valorizar a ação ou o processo verbal em detrimento do agente; em segundo lugar as passivas possibilitam impessoalizar o discurso, omitindo seus agentes, criando desse modo uma suposta imparcialidade. 100 4.8. Natureza semântica Este grupo de fatores controla a natureza semântica do verbo. O objetivo é verificar até que ponto o tipo semântico de verbo contribui para a ocorrência da anteposição ou posposição do sujeito. Para isso, adotamos alguns conceitos presentes na tipologia de predicadores formulada por Moura Neves (2000) e Mira Mateus (1989). As autoras argumentam que é importante que se leve em conta, na classificação semântica, a predicação imposta pelo verbo. Segundo as autoras, seria necessário trabalhar a relação que se estabelece entre o verbo, os seus argumentos e os demais elementos do enunciado. O verbo teria, assim, propriedades sintáticas e semânticas importantes que permitem tanto uma classificação como uma descrição. Com base nas relações que o predicado pode estabelecer entre os termos e nas semelhanças semânticas presentes em cada verbo, estabelecemos inicialmente dez classes de predicados, quais sejam: ação, processo, modais, estado, volição, percepção/cognição, atitude sentimental, aspecto, elocução, apresentação. Contudo, os primeiros resultados mostraram que não seria possível trabalhar com todas as classificações propostas inicialmente. Os objetivos impostos para o desenvolvimento do trabalho impediam que mantivéssemos, por exemplo, estruturas com verbos apresentativos e de elocução, pois ambas apresentavam ordens fixas, para o português e espanhol. Os verbos apresentativos, nos nossos dados, tinham sujeitos categoricamente pospostos ao verbo, como em (95) e (96): (95) No cenário internacional, destacam-se os EUA (OP) 101 (96) Sabendo que não existiam filas e sem pressa para votar (NOT.) No caso dos verbos de elocução ou dicendi temos duas disposições, anteposta e posposta. Assim, se a estrutura estiver no discurso direto, os sujeitos serão categoricamente pospostos. Já no discurso indireto, os sujeitos se apresentarão categoricamente antepostos e com objeto oracional, como nos exemplos (97) e (98): (97) Ele conhece bem essa área. De onde estava, até via a nossa movimentação na casa da vítima. Mas sua prisão é uma questão de horas prometeu o delegado. (NOT.) (98) O ex secretário nacional de Esportes Lars Grael negou ontem que tenha visitado o presido Bangu III em 1999. (NOT.) Outro problema constatado durante a nossa seleção é o de algumas estruturas cujos predicados (verbos) apresentavam baixa freqüência, mas por outro lado, tinham características semânticas bastante semelhantes. Resolvemos aproveitar essa semelhança para dar mais uniformidade à análise e os reagrupamos. Esse foi o caso dos verbos de atitude sentimental, percepção/cognição e volitivos, todos de caráter mais subjetivo. Esse mesmo critério, de reunir verbos subjetivos numa mesma categoria, foi utilizado em outros trabalhos como os de Bentivoglio (1987)9 e Biber (1988)10. Aquela na análise da presença ou ausência dos sujeitos pronominais no espanhol de Caracas, este no estudo comparativo entre gêneros de fala e escrita no inglês. Passaremos agora a descrever e comentar as características semânticas de cada uma das categorias de verbos que mantivemos na análise. 9 A autora reuniu em um só subgrupo os verbos de atividade cognitiva e verbos de modalidade. 102 I) Verbos de ação: São acompanhados por um participante agente ou causativo, podendo haver, ou não, outro participante (afetado com mudança física ou não). (99) os presos depredaram o presídio (NOT.) (100) O prefeito criou um banco de microcrédito. (OP.) Os sujeitos (os presos, prefeito) são causadores de mudanças de estado e estas são realizadas intencionalmente. Essas entidades controladoras têm o poder de determinar (intencionalmente) a ocorrência ou não-ocorrência de um estado de coisas. Realizam, desse modo, um dado fazer (de natureza física ou psíquica) que altera o estado de coisas descritas. Como podemos ver em (99), descreve-se a passagem do presídio de um estado, inteiro, para outro, depredado; em (100) há a passagem de um estado em que o banco não existe, para outro estado em que o banco existe. II) Verbos de processo: Esses verbos envolvem uma relação entre um nome e uma mudança de estado, em que o nome é paciente do verbo (afetado). (101) Um bandido morreu, três pessoas foram feridas a bala (NOT.) (102) Ficou clara a necessidade de os municípios criarem um ambiente favorável para os pequenos negócios nascerem e se desenvolverem dentro da formalidade (OP.) Diferentemente dos exemplos (99) e (100), os verbos de processo (101) e (102) não possuem entidades com poder de controlar a ocorrência dos eventos. Há uma dinâmica nesses verbos que exprimem uma concepção de fazer específico, realizado ou sofrido por uma entidade X. Não há, na verdade, um deslocamento na localização 10 Esses verbos correspondem à categoria que Biber (88) denomina “ verbos privados”. 103 física das entidades. A mudança se dá por causa interna. Assim, os sujeitos “bandido” e “negócios” sofrem o processo de morrer, em (101) e de nascer, em (102). III) Verbos de Estado: Esses verbos são acompanhados por um sintagma nominal (sujeito) que é suporte do estado. O que os caracteriza é seu traço [– dinâmico]. (103) Mas como a pena é suspensão do cargo e no caso não cabe, porque o oficial está na reserva. (NOT.) (104) O Fome Zero começou a desandar quando meia dúzia de maganos de Brasília chegaram a Guaribas, no Piauí, a bordo de um helicóptero da polícia. As pessoas são pobres, não são burras. Sabem que um helicóptero cheio de maganos atende aos interesses de quem come e não de quem tem fome. (OP.) (105) Com semelhante organização, contaríamos não com um órgão, mas com um sistema controlador, cujas responsabilidades seriam divididas entre os jurisdicionados, sempre próximos dos juízos, advogados e membros do Ministério Público. Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constitucionalidade, pois, segundo o artigo 20o da Carta Magna brasileira, os poderes da União são independentes e harmônicos entre si.(OP.) (106) ficou clara a necessidade de os municípios criarem um ambiente favorável para os pequenos negócios nascerem e se desenvolverem. (OP.) As entidades envolvidas em (103), (104), (105) e (106) (o oficial, as pessoas, a criação de um órgão e a necessidade), de um modo geral, não têm controle dos estados descritos. Os sujeitos também não sofrem qualquer alteração ou transição durante o intervalo de tempo em que tais estados de coisas têm lugar. Isso demonstra que as estruturas apresentam baixa dinamicidade, propriedade que parece ser característica desses verbos. 104 IV) Verbos de atitude sentimental, cognição/percepção e volição (subjetivos): Esses verbos são usados para expressar emoção, conhecimento e percepção. (107) O Secretário estadual de Justiça, Paulo Saboya, reconheceu a existência de falhas na vigilância (NOT.) (108) O Papa João Paulo II recorda ser ela uma instituição fundamental para a vida de cada sociedade (op.) (109) o oficial não quis comentar ontem as acusações e disse que falaria em outra oportunidade. (NOT.) V) Os verbos modais na concepção tradicional são definidos como os verbos que se combinam com o infinitivo do verbo principal para determinar com mais rigor o modo como se realiza ou se deixa de realizar a ação verbal. (cf. Bechara 1999, pg.224) Podem ser definidos, também, como sendo uma apreciação qualitativa enxertada sobre o enunciado mínimo e que traduz ou uma tomada de posição do sujeito falante (reforço da ação enunciada, ou do seu caráter aparente, necessário ou provável), ou a manifestação da vontade, dos sentimentos ou do julgamento do sujeito gramatical. (cf. Kneipp 1980 apud Lobato 1971, p. 99) Para Biber (1988), os modais são marcas de persuasão. Representam a própria avaliação do falante sobre se o evento é provável, prudente ou desejável. Segundo Moura Neves (2000), os modais podem indicar modalidade epistêmica (ligada ao conhecimento) e deôntica ( ligada ao dever). Marcam de um modo geral, as tentativas do falante para persuadir o destinatário de que certos eventos são desejáveis, prudentes ou prováveis. (110) Dois agentes devem prestar depoimento (NOT.) (111) a criança pode apresentar dificuldades na associação de símbolos 105 auditivos e visuais (...) (OP.) (112) Deveriam ser revistos os códigos processuais (OP.) (113) Lula podia chamar a Febran de volta (OP.) Os sujeitos dos exemplos (110), (111) e (113) são humanos, mas não são controladores das coisas descritas. O sujeito do exemplo (112) é distinto dos demais, pois não é humano; semelhantemente aos outros exemplos, não controla a ação descrita. Há em todos os exemplos uma noção de condição necessária e suficiente, que determina se o estado de coisas descrito ocorrerá ou não. A partir da observação dessas diversas características, procuramos identificar as que favorecem a posposição do sujeito. As tabelas (17) e (18) abaixo, apresentam a freqüência de posposição para cada um dos tipos semânticos considerados. Tabela 17 – Freqüência de ordem VS segundo o tipo semântico nos textos de Notícias PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. De estado 7/73 = 10% 5/62 = 8% De processo 3/104 = 3% 14/130 = 11% De ação 13/148 = 9% 18/106 = 17% Modais 0/25 = 0% 2/16 = 13% Subjetivos 0/12 = 0% 2/9 = 22% 23/362 = 6% 41/232 = 13% TOTAL Como podemos observar nos resultados expostos na tabela (17), no português, o gênero notícias apresenta um maior percentual de sujeitos pospostos, caso o verbo seja 106 de estado (10%) e de ação (9%). O maior percentual de posposição com verbos de estado, nos textos de notícias, se deve às estruturas predicativas, (114) e passivas (115): (114) foram pequenas as apreensões e o custo muito alto: um sargento morreu, além de quatro traficantes, para que apenas três armas fossem tiradas de circulação. (NOT.) (115) O diretor do Desipe declarou que há mais de 20 dias estavam sendo realizadas buscas diárias dentro de Bangu III. (NOT.) No exemplo (114) o SN sujeito as apreensões não tem a função de agente ou paciente na estrutura. O verbo de estado mensura, em primeiro lugar, o valor das apreensões realizadas, contrastando-as com a perda de algumas vidas. Em (115) a construção passiva11 mostra um estado resultante de uma realização anterior . O SN buscas diárias tem a função de caracterizar essa situação. No caso dos verbos de ação, o percentual se justificaria pelo grande número de estruturas com passiva analítica, como (116): (116) Se essa medida for mantida serão 58,476 veículos levados por ladrões. (NOT. ) Na construção em (116) o argumento com força de agente aparece num SPrep. por ladrões (agente da passiva). A estrutura tem como sujeito veículos, nesse caso, a estrutura passiva tem como função valorizar a ação verbal em detrimento do sujeito. O nível percentual que vem em seguida é de predicados de processo, como em (117) e (118): 11 Assumimos a diferença semântica entre passivas com estar (incluídas nos verbos de estado) e com ser e outros (ação/processo). 107 (117) acredito que os bandidos tenham contado com a conivência de um ou mais agentes penitenciários para que entrassem fuzis em Bangu III (NOT.) (118) a comissão da Alerj verificou que no Graham Bell faltam 13 professores em dez disciplinas . (NOT.) Nos exemplos (117) e (118), temos tipos de processo. O primeiro mostra um processo que leva os nomes a mudarem de uma condição para outra, ou seja, os fuzis que entraram no presídio contrastando com uma condição anterior. O segundo exemplo mostra um processo habitual, ou seja, o da constatação de que no Graham Bell costumam faltar professores. Finalmente os casos de modais e subjetivos, pouco numerosos nas notícias, não apresentam posposição no português. Passaremos agora a discutir a distribuição da tabela (17) para o espanhol. A distribuição dos tipos semânticos no gênero notícias do espanhol é bem diferente da do português. O espanhol apresenta um maior percentual de sujeitos pospostos caso os verbos sejam de ação, como em (119) e (120). No exemplo (119) o SN sujeito é um referente animado/humano e agente da ação desenvolvida. No caso, a posposição ocorre como uma maneira de contrastar o referente já conhecido sabotaje com o referente desconhecido Ministro de Fomento introduzido no texto nesse momento. Já no exemplo (120) temos uma estrutura passiva sintética em que o agente da ação não está realizado na estrutura. Essa estrutura com passiva pronominal 108 condiciona a posposição verbal e possibilita o alto percentual de posposição que podemos observar na tabela (17). (119) Así rechaza la posibilidad del sabotaje (…) como hizo el entonces Ministro de Fomento, Francisco Alvarez-Cascos (…) (NOT.) (120) (…) de hecho, en la ciudad se creio la pasada semana una Plataforma de apoyo a Sonia. (NOT.) As estruturas com verbos de processo apresentam percentuais de 11%. (121) En la Cañada Real Galiana viven miles de personas en la más absoluta marginación, entre ellas, muchos inmigrantes. (NOT.) (122) la ciudad fantasma de Madrid, la tierra de nadie. Allí viven aquellos que no aparecen en las estadísticas. (NOT.) Nos exemplos (121) e (122), vemos a descrição de um processo que ainda não terminou e em que os sujeitos não são controladores. Para desenvolver esse processo, o redator procura situar o leitor sobre a localização da história que vai narrar12. Esse é o primeiro parágrafo, e em geral, nos textos jornalísticos, as informações iniciais são constituídas pelos elementos fundamentais do relato a ser desenvolvido no corpo do texto. Por isso no texto intitulado “Sobrevivir en tierra de nadie” (cf. anexo 4) a informação mais importante é a que inicia o texto. Assim, o redator começa a notícia pelo que Labov (1972) chama de “orientação” – uma contextualização espacial, colocando em posição pré-verbal, um locativo que situa o leitor sobre a localização dos fatos que serão narrados a seguir, para em um segundo momento informar ao leitor o 12 Segundo Labov (1972), na estrutura narrativa (de estória) é necessário que se oriente de algum modo sobre o lugar, as pessoas, suas atividades e situação. 109 número de pessoas que vive nesse lugar13 e, em um outro momento, especificar de forma anafórica com o SN aquellos a situação em que se encontram. A tabela (17) também mostra que o menor percentual de posposição, no espanhol, ocorre em verbos de estado, como em (123) e (124): (123) Para el responsable de coordinación parlamentaria del PP en las Cortes de Castilla y León, José Antonio de Santiago, “antes del problema del transfuguismo está la corrupción política que seria el intento de compra de un consejal (…) (NOT.) (124) sólo en Brasil son más de 15 millones de personas (NOT.) Os dados do espanhol diferem do português principalmente na freqüência dos verbos modais, (125) e subjetivos, (126). Mesmo com apenas dois exemplos de posposição com modais e subjetivos não podemos deixar de observar que o espanhol apresenta um comportamento diferente do português, que não apresentou exemplos de sujeitos pospostos, no gênero notícias. Considerando-se o número reduzido de ocorrências, contudo, não se pode ser muito conclusivo. (125) y encima de la mesa podría haber estado un cargo de asesoramiento externo con una retribución de entre 30 y 40 millones de pesetas al año (..) (126) Lo que querían los críticos era lo que finalmente lograron: poder votar “no” en su papeleta. (..) (NOT.) 13 Para Ocampo (1995) esta possibilidade de se colocar em posição pré-verbal a informação mais importante seria um recurso de foco de contraste. 110 A distribuição discutida acima parece ser diferente das freqüências encontradas nos artigos de opinião. Vejamos a tabela (18) a seguir: Tabela 18 – Freqüência de ordem VS segundo o controle semântico nos textos de Opinião PORTUGUÊS ESPANHOL Aplicação/Freq. Aplicação/freq. De estado 9/101 = 9% 5/85 = 6% De processo 10/118 = 8% 30/222 = 14% De ação 12/111 = 11% 17/73 = 23% Modal 5/39 = 13% 3/37 = 8% 0/8 = 0% 3/23 = 13% 36/377 = 10% 58/440 = 13% Subjetivos TOTAL A tabela (18) mostra que, no português, os artigos de opinião apresentam uma distribuição equilibrada com percentuais semelhantes de sujeitos pospostos, caso os verbos sejam de estado, processo, modais e de ação. Nossa expectativa era a de que houvesse maior inserção de verbos modais, já que os dados são de textos de opinião14. A função dos verbos modais, nos textos de opinião, seria a de contribuir na representação da posição tomada pelos autores nos artigos que produziram. Por isso, a surpresa ao ver que os modais não apresentam percentuais muito diferentes dos outros verbos, no que diz respeito à posposição do sujeito. A ordem VS nas orações de verbos modais ocorre de maneira específica: os argumentos são reorganizados e distribuídos de maneira não prototípica, ou seja, o objeto, que já é um item conhecido no texto, passa a assumir posição pré-verbal e o 111 sujeito, que é introduzido pela primeira vez no discurso, assume a posição pós-verbal. Vejamos (127) e (128). (127) Em tempos mais recentes, porém, a globalização passou a exigir novas e diversificadas formas de atuação para atenuar os eventuais efeitos perversos que esse movimento possa causar aos pequenos negócios. Ao fenômeno da globalização pode-se contrapor o desenvolvimento local. (OP.) (128) O general-presidente Geisel, referendo-se aos duros setores das Forças Armadas que se opunham ao seu projeto de abertura política, usou a expressão “bolsões sinceros, mas radicais”. Algo equivalente deverá enfrentar agora o PT (OP.) Ë interessante perceber que os sujeitos “desenvolvimento e PT” não são sujeitos agentes e também não são controladores ou causadores da ação desenvolvida. No caso dos verbos de ação, temos as seguintes estruturas: (129) criou-se uma ruptura na aliança ocidental (OP.) (130) Em 1999 foi criada a universidade franco-alemã, em Saarbrücken. (OP.) Os verbos de estado (9%) e processo (8%) também possibilitam a posposição. Os verbos de estado são frequentemente utilizados em estruturas que têm como função esclarecer o leitor quanto ao ponto de vista em que se coloca o autor, como em (131) e (132): (131) Com semelhante organização, contaríamos não com um órgão, mas com um sistema controlador, cujas responsabilidades seriam divididas entre os 14 No gênero notícias os redatores, muitas vezes, se distanciam do que afirmam, lançam mão das vozes dos participantes do discurso por meio do discurso direto. Mais especificamente no uso dos verbos dicendi. 112 jurisdicionados, sempre próximos dos juízos, advogados e membros do Ministério Público. Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constitucionalidade. (OP.) (132) Quando se debilita o relacionamento de marido e mulher e falha a educação dos filhos e a adequada orientação da prole, em face dos problemas que surgem, acende-se o sinal vermelho, pois está em perigo o bem-estar espiritual e temporal de um lar. (OP.) Nos verbos de processo temos os seguintes exemplos: (133) A diplomacia americana abandonou o princípio do consenso internacional que orientou todo o exercício da liderança dos Estados Unidos sobre seus aliados e sobre o sistema internacional. No processo estilhaçou-se a Otan. (OP.) (134) Quando se debilita o relacionamento de marido e mulher e falha a educação dos filhos (...) (OP.) A tabela (18) também mostra que no espanhol, os artigos de opinião apresentam o mais alto percentual de sujeitos pospostos, caso os verbos sejam de ação (23%). Vejamos as estruturas de verbos de ação para o espanhol nos textos de opinião: (135) la decision sobre el regresso de las tropas la tomará el Congresso (OP.) (136) (…) cuando la dirección de un sindicato exhibe la disposición negociadora que le reclama la sociedad, sea acusado de pactista por (…) (OP.) (137) En los cuentos de nuestra infancia – que algunos nunca hemos renunciado a releer siempre se inclinan por lo menos tres hadas sobre la cuna de los recién nacidos. (OP.) Um dos fatores para este maior percentual, no espanhol, se deve ao uso de clíticos pré-verbais, como em (135), (136) e (137), e também à presença de advérbio 113 como em (137). Nos exemplos (135) e (136), os itens conhecidos são retomados em posição pré-verbal com o clítico la (la decision) e le (la dirección que é um complemento indireto), isso possibilita que as informações introduzidas nesse momento “el congreso” e “la sociedad” estejam em posição posposta ao verbo. Em (137), temos uma estrutura semelhante às discutidas em (121) e (122), em que o sujeito está posposto e o advérbio anteposto ao verbo, distribuindo o peso da informação O segundo maior percentual ocorre nas estruturas com verbo de processo, (138) e (139), e subjetivos (140) . (138) ha hecho bien el PSOE en rectificar su intención (139) Pero ayer mismo, en un gesto de protección y de mofa, Múqtada viajó a refugiarse en la ciudad santa de Nayaf, donde reside el máximo líder espiritual de los chiíes, el gran ayatolá Sistani, cuya tranquilidad también está desafiando el joven líder radical. (OP.) (140) Las dos comunidades están básicamente de acuerdo en que la isla vuelva a ser un solo Estado, como lo desean también los Gobiernos tutelares de Atenas y Ankara (…) (OP.) Os modais nos artigos de opinião, no espanhol, ao contrário do português, apresentam menores chances de posposição, com um percentual de (8%), como em (141) e (142) (141) para entenderlo, puede bastar el simple enunciado. (OP.) (142) para generar la confianza la que deben ser abordados los inevitables problemas. (OP.) As observações presentes ao longo da análise vêm ao encontro do que diz a literatura, ou seja, o português pospõe em estruturas específicas. No caso dos textos de 114 notícias, o português pospõe preferencialmente com determinado tipos de verbos – estado, ação e processo. Mas tende a evitar posposição no caso de verbos modais e subjetivos, que são mesmo menos numerosos no gênero notícias. A inversão do sujeito com verbos de ação e estado, nos textos de notícias ocorre devido às estruturas passivas, sintética e analítica. Essas estruturas, que são comuns em textos formais, dão aos textos jornalísticos possibilidade de impessoalizar o discurso, omitindo seus agentes e criando uma suposta imparcialidade, porque como inserem o discurso dos participantes, dão voz a outras opiniões. Vimos também que os artigos de opinião, por serem textos que permitem mais inserções de elementos argumentativos, possibilitam maior ocorrência da ordem VS, caso as orações sejam de verbos modais, no português. A análise também mostrou que o espanhol apresenta uma variedade maior na distribuição de sujeito posposto e que essa distribuição é graduada conforme a semântica do verbo. Como vimos nos percentuais do espanhol, há chances de posposição, caso as orações ocorram com verbos de processo, ação, subjetivos, estado e modal distribuição que mostra que, no espanhol, não há o mesmo enrijecimento da ordem SV que encontramos no português. 115 5. CONCLUSÕES Este estudo teve como preocupação principal a análise de um fenômeno na língua em uso – a ordem sujeito-verbo – e demonstrou, entre outros aspectos, a adequação da teoria funcionalista na explicação dos contextos favoráveis às estruturas SV ou VS no português e no espanhol. Do ponto de vista teórico-metodológico, o instrumental da Teoria da Variação laboviana mostrou-se condizente com a nossa proposta, ou seja, confirmou estatisticamente as correlações entre a ordem marcada e não-marcada e os fatores que propusemos como contextos preferencias das estruturas SV ou VS nas duas línguas. A análise dos dados mostrou que a noção de referenciação correlacionada à continuidade ou descontinuidade do referente é pertinente, uma vez que revela tendências resultantes das estratégias discursivas nas duas línguas. Vimos, por exemplo, que no português, a posposição do sujeito predomina em SN´s que se referem a entidades menos contínuas. Essa preferência confirma o estudo de Naro & Votre (1999) para a ordem VS em narrativas orais do português. Outro resultado importante observado é que, tanto o português como o espanhol, apresentam distribuição diferenciada segundo o gênero seja notícias ou artigo de opinião. A conclusão geral é a de que a ordem VS representa uma baixa no fluxo informacional e que a ordem SV corresponde ao referente que é centro da informação. Essa correlação, aliás, parece ser o fator que conduz todos os demais fatores. Na discussão do status informacional do constituinte, vimos que não há exclusividade de sujeitos pospostos novos, embora haja o predomínio dessa categoria, no português e no espanhol, em ambos os gêneros textuais. Observamos que há possibilidade de VS, tanto no português como no espanhol, em ambos os gêneros, para 116 referentes evocados e inferíveis. A ordem VS com referentes evocados ou inferíveis não é casual. Como vimos, em todos os casos, é o grau de acessibilidade dos referentes no texto que permite que uma estrutura inferível ou evocada esteja anteposta ou posposta ao verbo. A análise da correlação entre referentes novos e sintagmas indefinidos e referentes conhecidos e sintagmas definidos mostrou que também ela não é categórica. De fato, pudemos observar que há sujeitos apresentados como indefinidos que representam referentes conhecidos ou identificáveis no texto. Isso revela que os autores de um modo geral preferem utilizar referentes conhecidos dos leitores para que se possa manter a continuidade não só do referente, mas do tema/tópico do texto. Na discussão de quanto o peso e a complexidade do SN poderiam contribuir para a anteposição ou posposição do SN, vimos que, no português, os sujeitos mais longos tendem a ser pospostos: pôde-se confirmar uma correlação entre ordem e sintagmas nominais de menor/maior extensão, particularmente no gênero notícias. Essa distribuição se modifica em artigos de opinião, uma vez que, nesse gênero, a extensão do sujeito não interfere nos percentuais de posposição. Já o espanhol, embora apresente a mesma gradação, possui todos os percentuais referentes à extensão do SN bastante próximos, nos textos de notícias assim como no gênero artigo de opinião. Essa distribuição revelou que aspectos referentes ao caráter argumentativo, predominante nesse gênero, impõem maiores restrições à presença de pronomes (que representam os sujeitos de menor extensão). Pode indicar também que há diferença na maneira como o espanhol e o português marcam a continuidade do referente/tópico, ou seja, enquanto o português marca a continuidade pela presença de pronomes, o espanhol 117 marca a continuidade mais pela ausência de pronome (anáfora zero) do que pela presença. O estudo da transitividade de acordo com alguns parâmetros de Hopper & Thompson (1980) mostrou que o gênero notícias tem como característica apresentar verbos mais transitivos, para o português e o espanhol Como resultado da alta transitividade dos verbos, nesses textos, temos menor incidência de posposição, em português com sujeitos + agentivos e com verbos com mais de um participante. O espanhol, por outro lado, apresenta maior percentual de verbos pospostos com sujeitos + agentivos que o português; há também, devido aos clíticos, um maior percentual de posposição em estruturas com verbos com dois participantes. Nos artigos de opinião o espanhol apresentou um leve aumento percentual de posposição com verbos [+perfectivos] e sujeitos mais agentivos. Na análise das vozes do verbo, pudemos constatar que, no português, há maiores chances de posposição com estruturas passivas. O tipo de passiva utilizada na construção dos textos de português pode mudar segundo o gênero seja notícias ou artigo de opinião. Desse modo, tendemos a ter passiva analítica nos textos de notícias e passivas pronominais em artigos de opinião. Fazem parte desse gênero também os verbos reflexivos, que juntamente com as passivas pronominais, possibilitam maior percentual de posposição de sujeito. O espanhol tem característica diferente, pois apresenta baixa incidência de verbos com passiva analítica e nenhuma posposição nesses casos. O espanhol parece preferir estruturas com passiva pronominal e verbos reflexivos. É também com essas estruturas que encontramos maior percentual de posposição. 118 No estudo da natureza semântica do verbo, pudemos constatar que a freqüência mais alta ou mais baixa na escolha semântica do verbo pode estar condicionada ao gênero. Assim, se os textos são de notícias, há preferência para a posposição em contextos em que os verbos sejam de estado ou ação no português. Por outro lado, tende-se a evitar a ordem VS com estruturas que tenham verbos modais e subjetivos. O gênero artigo de opinião correspondeu às nossas expectativas, no sentido de mostrar, no português, maior incidência de modais, e mais posposição nesse gênero, comparando-se com as notícias. Mas os tipos semânticos de verbos examinados, no conjunto, apresentaram percentuais próximos de posposição. Já no espanhol houve mais alta incidência de posposição com verbos de ação. Por outro lado, os outros tipos semânticos como os verbos de estado, processo, subjetivos e modal apresentaram distribuição semelhantes. A análise revelou também diferenças importantes e especificidades nas estratégias discursivas nos gêneros notícias e artigo de opinião, para o português e espanhol. Como pudemos constatar, as estratégias usadas nos artigos de opinião revelam maior formalidade (uso de passiva pronominal, por exemplo), o que pode resultar de um certo conservadorismo na escrita, permitindo um leve aumento percentual de VS nos artigos do português. Isso mostra que a ordem VS no português pode estar relacionada a características mais formais do texto. Desse modo, podemos constatar que, de modo geral, o espanhol apresenta uma distribuição mais equilibrada de sujeitos pospostos, nos contextos examinados. O espanhol também apresenta uma variedade maior na distribuição de sujeito posposto, vimos ainda que essa distribuição é graduada conforme a semântica do verbo. 119 Já o Português pospõe em estruturas específicas. Essa maior rigidez no emprego da estrutura VS já foi observada por Berlinck (1989), que mostrou através de um trabalho comparativo entre os séculos XVIII, XIX e XX, uma lenta mudança no sistema do Português, ou seja, uma diminuição na ocorrência de VS. E como podemos observar, pelos nossos resultados, a rigidez na ordem SV ao que parece está mais acentuada, uma vez que nos nossos dados encontramos uma estimativa percentual de posposição ainda mais baixa que a encontrada pela autora em seu trabalho. É verdade que essa diferença percentual talvez possa ser atribuída à retirada, no nosso caso, dos dados categóricos, os verbos apresentativos e dicendi, dados que a autora pode ter mantido no seu trabalho, aumentando desse modo o número de SNs pospostos.15 Esta tese atingiu, portanto, o objetivo geral de estudar a ordem do sujeito no português e no espanhol, nos gêneros notícias e artigo de opinião. Comprovamos a nossa hipótese de que há motivações discursivas para a escolha de uma ou outra ordem e que há especificidades nessa escolha para cada uma das línguas O estudo contribui, ainda, para um melhor conhecimento das características dos gêneros artigo de opinião e textos de noticiais, possibilitando futura aplicação das nossas observações para o ensino do espanhol como L2 e para o ensino do português. 15 Corpus % N Século XVIII (1750) 42% 203/486 Século XIX (1850) 31% 144/469 Século XX 21% 263/1262 8% 59/739 Século XXI (2006) Tabela adaptada de Berlinck ( 1998 ) acrescida dos resultados de Gomes 2006. 120 6. BIBLIOGRAFIA APOTHÉLOZ, D. Papel e funcionamento da anáfora na dinâmica textual. In. CAVALCANTE, M.M., RODRIGUES, B.B. & CIULLA, A. Referenciação. São Paulo: Contexto, 2003. p. 53 – 84. ASHBY William J. & BENTIVOGLIO Paola. Preferred argument structure in spoken French and Spanish. Cambridge University Press, 1993 p. 61 – 76. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. 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A atrocidade revelou com que requinte de crueldade o poder paralelo comanda as áreas sob seu controle. Na Vila Cruzeiro, policiais descobriram um lugar chamado de microondas: uma gruta usada para queimar os condenados pelo tráfico. A polícia chegou a anunciar que explodiria o “microondas” da Vila Cruzeiro. Não o fez e, há cerca de seis meses, o centro de execuções voltou a funcionar: um suposto estuprador foi queimado ali. O tráfico também voltou a torturar e executar vítimas no mesmo lugar onde Tim Lopez foi morto. Segundo moradores, depois da prisão do traficante Elias Maluco, em 19 de setembro, a polícia foi deixando as duas favelas e a vida voltou à anormalidade de sempre, com a lei do silêncio imperando. —Há alguns meses um rapaz foi arrastado do baile e levado para o “microondas”. Ele tinha uma divida de droga – contou um morador da Vila Cruzeiro, pedindo anonimato. 129 ANEXO 2 Mais do que contas difíceis Cerca de 6% das crianças apresentam o chamado Transtorno Específico da Habilidade em Aritmética (Teha). Esta perturbação é, em geral, diagnosticada quando o desempenho de uma criança em matemática se encontra bem abaixo dos padrões escolares esperados para a idade. As principais características do Teha são dificuldade para aprender a contar, em dominar os sistemas cardinais e ordinais, em executar operações aritméticas e em visualizar quantidades de objetos como grupos. Além disso, a criança pode apresentar dificuldades na associação de símbolos auditivos e visuais, na lembrança de seqüências de passos aritméticos e na escolha dos princípios para a solução de um problema. Embora o aspecto fundamental seja um prejuízo sério no desenvolvimento das tarefas aritméticas, a criança também pode apresentar dificuldades de leitura e ortografia. Porém, não são tão acentuadas como em matemática. Os pais precisam saber que o Teha se trata de um considerável problema no desenvolvimento que ocorre em crianças de inteligência normal (ou acima da média) e que tiveram instrução adequada. Existe uma predisposição genética para as capacidades matemáticas e para as incapacidades. Daí, algumas crianças apresentarem deficiência em manipular relações numéricas. Essas crianças precisam dos instrumentos fundamentais para o conhecimento de matemática. Entretanto, fatores emocionais e socioeconômicos, entre outros, interagem para produzir a deficiência. As crianças podem ter baixa auto-estima e precisam ser examinadas logo por um neuropsiquiatra infantil. 130 ANEXO 3 Ciência e consciência A ciência não conhece limites nem respeita fronteiras avança sempre na busca de desafios, de novos caminhos. Não obstante, os acontecimentos relacionados ao risco da disseminação de organismos geneticamente modificados evidenciam a urgência da adoção de normas para regular o tratamento jurídico que cumpre dar à matéria. Foi por essa ração que, ainda quando parlamentar, tive a oportunidade de submeter ao Congresso Nacional projeto de lei que, após receber subsídios tanto da Câmara dos Deputados como do Senado Federal, se converteu na lei n0 8.974/95 (Lei de Biossegurança). Consubstanciadora do primeiro esforço brasileiro no sentido de disciplinar a questão. Devemos lembrar, como salientou o ministro Paulo Leite que, obviamente, em face do progresso da ciência, sobretudo no campo da engenharia genética, esse instrumento legal precisa de novas achegas e, certamente, de adequada atualização. Isaac Asimov alertava sempre para a gravidade do desafio com que se confrontava a sociedade, ao destacar que o aspecto mais triste de nossa vida é que a ciência ganha em, conhecimentos mais rapidamente do que a sociedade em sabedoria. Já o pensador italiano Norberto Bobbio foi o mais incisivo ao proclamar: “Depois da afirmação dos direitos de liberdade, dos direitos políticos e dos direitos sociais, hoje avançamos em nova geração de direitos que se afirmam diante das ameaças à vida, à liberdade e à segurança, que provém do crescimento cada vez mais rápido, irreversível e incontrolável, do progresso técnico. Refiro-me em particular ao direito à integridade do próprio patrimônio genético, que vai muito além do tradicional direito à integridade física”. As palavras de Bobbio resumem de forma clara, o dilema atual da Humanidade. Para o direito, as questões daí decorrentes estão postas. Como definir e assegurar a observância de parâmetros éticos para as novas descobertas? É lícito clonar o se humano, patenteá-lo. A propósito, o Papa João Paulo II, ao abrir na Áustria há cerca de dez anos, um encontro sobre ciência e fé, observou que a toda técnica deve corresponder uma ética, e a toda ciência deve corresponder uma consciência. Com isso, quis dizer o Pontífice que todo o avanço no campo das ciências deve ser sempre cercado de cuidados, para que 131 possamos construir a desejada harmonia entre desenvolvimento técnico científico e bem-estar da sociedade. Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas adotou, em 1997, a Declaração Universal sobre Genoma Humano e os Direitos Humanos, marco importantíssimo para a codificação de um direito internacional sobre o assunto. Retomando a linha da declaração da ONU, a Unesco e a Comissão de Direitos Humanos, dois dos seus órgãos, trabalham em conjunto para definir o limite ético aceitável. E recentemente, o Brasil, reportando-se à legislação interna que logramos aprovar, votou na UNESCO, com a maioria dos países-membros, pela proibição da clonagem. Contudo, os problemas da complexa negociação que avizinha residem mais nos temas associados à proibição da clonagem, tais como o comércio de embriões, a adoção de sanções penais contra os infratores e o regime de propriedade intelectual a ser aplicado. Esses pontos, entre outros,irão conduzir o debate. A questão suscitada é, mais uma vez, a de como conciliar o avanço da ciência, sobretudo da engenharia genética – uma das fronteiras mais importantes da grande revolução científico-tecnológica que agita o mundo- com princípios morais. Enfim, com princípios que certamente terão de se refletir em regras do direito positivo. 132 ANEXO 4 SOBREVIVIR EN TIERRA DE NADIE En la Cañada Real Galiana viven miles de personas en la más absoluta marginación; entre ellas, muchos inmigrantes. Es la ciudad fantasma de Madrid, la tierra de nadie. Allí viven aquellos que no aparecen en las estadísticas y por los que ninguna administración parece sentirse responsable. La Cañada Real Galiana, una vía pecuaria protegida donde la ley prohíbe edificar, es, desde hace 40 años, el hogar de aproximadamente 40.000 personas. Hoy muchas de ellas son inmigrantes que no tienen otro lugar para encontrar su techo. Vienen de Marruecos, Rumania, Bulgaria e, incluso, del cercano Portugal. Toda la cañada, unos 15 kilómetros desde Valdemingómez hasta Coslada, pasando por el distrito de Villa de Vallecas, es una interminable fila de casas bajas construidas por sus propios dueños. Las hay de todas clases: desde chalés, con sistema de alarma antirrobo y antena parabólica incluidos, hasta pequeñas chabolas hechas con todo tipo de materiales. Pero hay quien vive en peores condiciones. Manuela tiene 28 años y es portuguesa de etnia gitana. Hace un ano que se mudo a la Cañada Real, a un pequeño poblado donde malviven otras cuatro familias cerca de Valdemingómez. Primero vivió de okupa en "un estudio en Villaverde" y luego en una chabola en el poblado de las Barranquillas. Ahora su hogar es una caravana y sus únicos ingresos son los 300 euros mensuales que le dan en concepto de renta mínima de inserción (Remi). Tiene dos hijos, una niña de dos años y un chico de nueve, con los que convive en un espacio de poco más de ocho metros de largo y dos de ancho, donde duermen, comen, se lavan y, cuando llueve o hace frío, pasan el día. "No podemos irnos a otro sitio es el único lugar donde nos dejan instalar nuestra casa", afirma Manuela. Pero "es mejor que nada, al menos tenemos un techo encima", insiste optimista. " La vida en la Cañada Real es difícil ". No solo porque el hedor de la cercana incineradora de Valdemingómez y el polvo lo envuelven todo. Las comodidades consideradas indispensables sólo existen de forma precaria: "Tenemos que pinchar la luz y el agua, y para lavarnos, calentamos el agua en Una olla todas las mañanas y nos 133 lavamos por trozos". "Cuando nos quitan la luz pasamos mucho frío", se lamenta. "Es mucho peor el invierno, porque cuando hiela por las noches es imposible dormir". Pero no es solo el frío y el barro. En esta zona tan remota y olvidada en tos limites de Madrid el transporte público brilla por su ausencia, al igual que las tiendas, los médicos o los colegios. "Solo hay un autobús, que para lejos de aquí y pasa pocas veces al día", cuenta Manuela, que tiene que calcular "muy bien" lo que necesita cuando va a la compra. "Si se te olvida la sal, simplemente no puedes comprarla en ningún sitio", cuenta. También hay momentos dramáticos. Más de una vez, Manuela ha tenido que llevar a su hija a urgencias en plena noche, "y es muy difícil, porque el último autobús pasa a las 12 de la noche". "He llorado de impotencia porque no he podido hacer nada mientras mi hija no paraba de llorar", asegura esta madre. La Cañada Real es también un lugar peligroso. Manuela está "muy preocupada7' por su hijo mayor. "Nació y se crió en un sitio normal, cuando vivíamos en Villaverde, y no conocía los peligros que ve ahora", dice. Aunque el niño va a la escuela —"todos los días lo recoge un autobús y va al colegio en Villa de Vallecas"—, su madre se ha dado cuenta de que "aquí se está volviendo cada vez más gamberro". "Hace lo que quiere, se va con otros niños al campo y no sé a qué juega", cuenta. A Manuela le preocupa que juegue a pocos metros de la carretera, donde todos los días filas interminables de camiones de recogida de basura van y vienen a toda velocidad a Valdemingómez, lo que ya ha provocado más de un atropello. Pero ésta no es la única amenaza para su hijo. "La droga de las Barranquillas está llegando a la Cañada", afirma Manuela, quien relata que cuando vivió allí veía a niños de 12 años enganchados. "Con los yonquis aquí ya no se podrá vivir", augura la mujer. Cuando esto pase, "en poco tiempo", Manuela no sabe donde instalará su caravana. Ella sólo espera conseguir un techo. "Qué más quisiera que tener un piso en alquiler, pero eso cuesta un dinero que yo no tengo", suspira. 134 ANEXO 5 La policía atribuye 17 asaltos al atracador del banco en Alicante El ladrón acumula 11 reclamaciones judiciales en Madrid, Valencia y la provincia alicantina REBECA LLORENTE, Alicante El atracador que mantuvo el lunes secuestrados a punta de pistola y con una granada de mano a ocho rehenes en una sucursal del Banco Popular de Alicante acumula un amplio historial delictivo: 17 asaltos a bancos y domicílios, en Madrid y Alicante, cuatro detenciones en Ia capital madrileña y Valencia por atraco y 11 reclamaciones judiciales. El subdelegado del Gobierno en Alicante, Alberto Martínez, describió ayer al secuestrador, J. I. G. M., de 28 años —huido de Ia justicia desde hace un año aprovechando un permiso penitenciario—, como un delincuente "altamente peligroso" y subrayó su "gran preparación y frialdad". El comisario provincial de Alicante, José Luis Villalobos, aseguró que el detenido contó con Ia colaboración de "más gente", si bien no precisó el número de implicados. "Quizá en Ias próximas horas o dias Ia investigación se complete", dijo. Durante Ia madrugada del lunes, poco después de que un vehículo policial bloqueara Ia huida en motocicleta del atracador, Ia policia halló en Ias inmediaciones de Ia sucursal el turismo del delincuente y en su interior un subfusil con cargadores completos en su interior y con cartuchos en Ia recámara, ademáss de una peluca. En el momento de Ia detención el atracador hizo ademán de utilizar el arma que portaba, una pistola CZ de 9 milímetros parabellum. Antes, el ladrón fue liberando a los rehenes de manera escalonada y tras "arduas" negociaciones mediante un psicólogo de Ia policia. Dos de los retenidos, el director de Ia sucursal y un cliente, permanecieron hasta 13 horas cautivos. "El director fue quien peor Io pasó. El atracador Ia tomo con él. Le amenazó con volarle los sesos y le llegó a golpear en Ia cabeza con Ia culata de Ia pistola", reveló ayer una de Ias rehenes. Sus exigencias fueron múltiples: bocadillos, cerveza, agua, y pizzas. También pidió un gramo de heroína. Esta última petición no fue satisfecha, según Ia policía. . El comisario justificó que los GEO optaran por no intervenir en Ia sucursal "ante el riesgo que corrían los rehenes". "El atracador estaba muy capacitado y su obsesión 135 era que no iba a volver a prisión bajo ningún concepto". Por ello, agregó el jefe policial, "hubiera hecho Io que hubiera sido necesario para no pisar Ia cárcel". Según el comisario, en su escapada, el indivíduo portaba Ia pistola montada y tuvo empuñada Ia granada con el pulgar en Ia anilla". El hombre permanece ingresado en el Hospital de Alicante en estado grave. Presenta politraumatismos con diastasis púbica leve, fractura maleolo interno en el tobillo derecho, así como hematoma pélvico sin repercusión funcional por hemorragia venosa y policontusiones. Los vecinos que fueron desalojados, algunos en pijama, ante el aviso de bomba criticaron Ia actuación de los responsables públicos por su “desatención y falta de información”. El delegado del Gobierno en la Comunidad Valenciana, Juan Cotino, propuso ayer a Interior que condecore a los agentes que participaron en la operción. 136 ANEXO 6 Moinhos de vento MÁRCIO FORTES O conjunto de projetos em curso no governo federal, modificando radicalmente as funções, atribuições e autoridade das agências, reguladoras, na prática, significa a sua extinção. Por falta de informação ou por uma visão equivocada do papel das agências, é cada vez mais freqüente que um ou outro membro do governo apareça atirando no que viu e acerte no que não viu. Se essa cruzada quixotesca conseguir acabar com as agências, perdem todos: o cidadão, o governo e, principalmente, o Rio de Janeiro. As agências reguladoras foram criadas, em primeiro lugar para garantir que os serviços de infra-estrutura entregues à administração privada sejam executados com a qualidade e nas condições estabelecidas nos contratos de gestão firmados com a sociedade. Como entidades independentes, protegem o cidadão tanto de eventuais desvios dos executores dos serviços contratados quanto do voluntarismo de governantes e de influências políticas que lhe possam ser danosas. Acabar com as agências, portanto, é deixar ao cidadão o ônus da defesa. Em segundo lugar, as agências foram idealizadas para harmonizar os interesses do Estado, do cidadão e dos investidores nas concessões de serviços públicos.O aumento crescente das demandas sociais e a complexidade da sociedade moderna reduziram drasticamente a capacidade de investimento dos estados. O Fórum Nacional, promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, no BNDES, semana passada, deixou isso evidente. Como ocorreu em todo o mundo, ao Estado brasileiro não restou alternativa senão aliar-se à iniciativa privada para poder continuar a cumprir suas funções clássicas — prover educação, saúde, segurança, etc. — sem paralisar os investimentos em infra-estrutura. Essa parceria entretanto, colocava um dilema para os Estados: os investimentos em infra-estrutura são, pela sua natureza, vultuosos e de retorno lento: exigem capacitação de recursos que são pagos ao longo de quinze ou vinte anos. Nenhum investidor se arriscaria a botar dinheiro em projeto dessa monta sem a garantia de que 137 as regras que regem a atividade seriam estáveis. As agências reguladoras foram a solução encontrada para garantir que o arcabouço legal sobre o qual repousam os contratos de concessão fossem estáveis no tempo. É evidente que modelo criado para harmonizar interesses tão conflitantes e de existência tão recente precisa ser aperfeiçoado. Ninguém duvida de que há falhas que precisam ser corrigidas. A legislação nem sempre é clara, por vezes é omissa ou imprecisa, as agências freqüentemente exorbitam de suas funções. Mas nada disso justifica a extinção do melhor instrumento criado pela sociedade moderna, em todo o mundo, para regular essas atividades. Acabar com as agências reguladoras é a melhor forma de inviabilizar novos investimentos em infra-estrutura no Brasil. Porque elas foram as fiadoras das empresas que para aqui vieram na época das privatizações. Extingui-las agora equivale a dizer para os investidores que este país não respeita acordos nem contratos. E não respeitar acordos é a melhor forma de elevar o risco e o custo de novos investimentos que, em última instância, acabarão sendo pagos pelo contribuinte. Para o Rio de Janeiro, o fim das agências seria uma tragédia. Primeiro, porque cinco delas estão sediadas aqui. Aqui, também, estão localizadas as sedes das principais empresas de infra-estrutura do país, como Eletrobrás, Petrobras, Furnas, Embratel, as usinas nucleares e as principais empresas de telecomunicações. São, todas, empresas que exigirão vultosos investimentos, nos próximos anos, para acompanhar o crescimento da demanda nos setores em que estão situadas. Com o fim do monopólio, o Rio de Janeiro, principalmente a Bacia de Campos, tornou-se a maior fronteira no mundo para novos investimentos na industria do petróleo. Temos espaço, aqui, para projetos que somam alguns bilhões de dólares, nos próximos anos. Na área de energia, esperamos que seja tocado o projeto de Angra III e todo o programa de termeletricidade. No setor de telecomunicações, as metas de universalização comportam, ainda, investimentos de peso. Apenas para ficar num exemplo, não podemos esquecer que o crescimento do Produto Interno Bruto do Rio de Janeiro tem-se devido, historicamente, à indústria extrativa mineral (leia-se petróleo). E que a garantia de novos investimentos nessa área depende, acima de tudo, de regras estáveis. Nenhum investidor desembolsará mais um centavo para aplicar no Brasil se não tiver a garantia que essas regras serão mantidas. 138 Tirar da Agência-Nacional de Petróleo a responsabilidade de licitar novas áreas a serem exploradas, por exemplo, seria um tiro no pé. O Rio de Janeiro precisa se mobilizar para impedir que uma visão equivocada sobre o papel das agências reguladoras acabe por inviabilizar investimentos que serão fundamentais para o crescimento da nossa indústria, para a geração de novos empregos, para o desenvolvimento da nossa economia. Acabar com as agências reguladoras equivale a atacar moinhos de vento. ______________________________________________________________________ MÁRCIO FORTES é presidente do Conselho Empresarial de Desenvolvimento e Turismo da Associação Comercial do Rio de Janeiro. 139 ANEXO 7 VOTARÁ LA CAMARA HA HECHO bien el PSOE en rectificar, aunque de manera algo sinuosa, su intención de no someter a votación parlamentaria el regreso inmediato de las tropas españolas desplazadas a Irak. Se trataba de un compromiso repetido en varias ocasiones por el presidente del Gobierno, José Luis Rodríguez Zapatero. Al día siguiente de Ias recientes elecciones generales, el líder socialista declaró que se proponía buscar "un amplio aval" del Parlamento al regreso de las tropas. "Quiero que sea una decisión no sólo de un Gobierno" subrayó. De acuerdo con ese criterio, Manuel Marín, presidente del Congreso, declaraba el 10 de abril: “La decisión sobre el regreso de Ias tropas Ia tomará el Congreso con una propuesta del Gobierno". El jueves pasado, durante el debate de investidura y en el turno de réplica al portavoz de Izquierda Unida. Zapatero se comprometió a comparecer en el Pleno de Ia Cámara "para explicar Ias decisiones que el Gobierno tome y buscar el respaldo" de los diputados y de Ia mayoria de los grupos parlamentarios. La intención expresada el lunes de celebrar una sesión informativa, sin votación, casaba mal con este compromiso. Ello no significa que el Gobierno —que "dirige la política interior y exterior, Ia Administración civil y militar y Ia defensa del Estado"— carezca de competencias para ordenar el regreso de Ias tropas. Tampoco cabe establecer un paralelismo entre Ia negativa de Aznar a someter al Parlamento Ia decisión de enviar soldados a un conflicto bélico exterior y Ia de Zapatero de hacer regresar a esos soldados. No es una cuestión de legalidad. De Io que se trata es de acreditar con los hechos el compromiso de convertir al Parlamento en el eje de Ia vida política y de ser fiel a Ia palabra dada: no sólo Ia de hacer regresar a Ias tropas, sino también Ia de llevar Ia cuestión al Congreso y recibir su respaldo. La rectificación consiste en mantener el formato de comparecencia informativa del Gobierno a petición propia —sin votación—, pero abriendo Ia posibilidad de votar tras esa comparecencia una proposición no de ley que avale Ia decisión del Gobierno. Ello requerirá el acuerdo de todos los grupos, también del PP, para modificar de aquí al martes próximo el orden del día acordado; una salida, por tanto, ligeramente tortuosa que tal vez busca desviar contra el Grupo Popular Ia responsabilidad de que no haya 140 votación si no se alcanza un acuerdo en Ia Junta de Portavoces. Una astucia susceptible de crítica, pero en absoluto comparable a Ia oportunista y abiertamente desleal iniciativa del ex presidente Aznar de telefonear a George W. Bush para expresarle su desacuerdo con Ia decisión de su sucesor de retirar Ias tropas de Irak. ¿Es ésta Ia lealtad que tantas veces reclamó a sus opositores? 141 ANEXO 8 EL FIN DE LA LÓGICA POLÍTICA Y EL TRIUNFO DEL CAOS Gema Martín Muñoz El análisis de Io que está ocurriendo en Oriente Medio nos vaticina los más siníestros augurios si Ia llamada comunidad internacional no es capaz de reaccionar y poner un límite a Ia actuación de EEUU en Irak y de Israel en Palestina. Tanto el asesinato del chayj Yassin como Ia persecución desencadenada contra Múqtada al Sáder Io que nos muestran es una opción descarnada en contra de Ia lógica política y a favor del caos generalizado en esta región del mundo. La aplicación de Ia teoria del caos permite el ejercicio de Ia impunidad total. Todo se justifica para responder al caos. Por ello se eliminan interlocutores, como es el caso del chayj Yassin, o se inflaman los espíritus, como es el caso de los seguidores de Múqtada al Sáder. En ambos casos, se trata de un mismo pensamiento colonialista que sólo persigue, con el único instrumento de Ia fuerza, someter a Ias poblaciones autóctonas y que excluye toda lógica política de negociación con el identificado como enemigo. Ariel Sharon, con el impune asesinato del chayj Yassin —seguido del de Abdelaziz Rantisi—, ha jugado claramente Ia carta del caos ante su repliegue unilateral de Gaza, al igual que Io ha hecho en Cisjordania frente a Al Fateh, garantizándose Ia ausencia de un interlocutor. El chayj Yassin, en contra de Io que habitualmente entiende Ia prensa internacional, había sido un actor sustantivo en Ia consecución de Ias diferentes tréguas logradas con Hamás en los dos últimos años, así como estaba siendo una pieza clave en Ia estructuración de un Gobierno palestino viable en alianza com Ia Autoridad Nacional Palestina de cara al posible repliegue unilateral israelí en Gaza. Unido a esto, representaba en el seno de Hamás una voz que, frente a Ias más radicales, se había manifestado en diversas ocasiones a favor de solucionar el conflicto si Israel se retiraba de los territorios ocupados en 1967. Es decir, a diferencia de otras voces en su propio movimiento, ponía toda su autoridad moral y espiritual a favor de una solución más realista que Ia de reclamar Ia recuperación de toda Ia Palestina histórica, Era un interlocutor creíble y necesario. Su asesinato no ha logrado más que radicalizar a Ias bases y favorecer Ias actitudes reactivas más intransigentes. Es más, ha favorecido el acercamiento entre Ias Brigadas de Al Aqsa (procedentes de Al Fateh) con Hamás, no sólo porque anunciaron que responderían con esta organización a dicho asesinato, sino porque incluso muchos cuadros de dichas Brigadas se han pasado a Hamás en Gaza. Es decir, Sharon ha buscado que Gaza se convierta en una anarquía de grupos palestinos enfrentados, sin posibilidad de control por parte de Ia Autoridad Nacional Palestina, sumergida progresivamente en una enfrentamiento civil "libanizado". A Ia vez que los atentados suicidas que se seguirán permitan seguir ejerciendo a Israel su total impunidad, justificada por "la guerra" contra el terrorismo que él mismo no deja de alimentar. En Irak, Ia situación desencadenada por EE UU en Faluya y en las ciudades chiíes del sur responden a Ia misma lógica. En Faluya, Ia asunción de Ia revancha y el castigo colectivo por el asesinato de cuatro paramilitares norteamericanos ha seguido el más fiel guión del Ejército israelí en su acción contra el campo de refugiados palestinos de Yenín. El sitio de Ia población, los bombardeos con Apaches y Ia matanza de multitud de civiles, incluidos niños, seguido de una huida desesperada de miles de 142 familias que son ya hoy civiles obligados a abandonar sus hogares por una acción militar, son métodos propios de Ia barbarie y no de Ia civilización que se arrogan representar. Los cuatro americanos asesinados en Faluya no eran simplemenle "civiles", eran paramilitares de Ia Blackwater Security Consulting, compañía de mercenarios contratada por Ia CIA para llevar a cabo operaciones de "contrainsurgencia", y que en Irak cuenta con unos 400 comandos armados. En Io que concierne a Ia resistencia iraquí, esos paramilitares no son civiles, sino objetivos militares de Ia ocupación. Y Ia ocupación en el denominado triángulo suní ha brutalizado a Ia población civil de esa región desde el primer momento, de ahí que Ia barbarie genere barbarie y algunos en Faluya celebrasen el espectáculo del horror en torno a los cuatro cuerpos americanos descuartizados y colgados. Pero Ia brutal revancha del Ejército de los EE U U contra los civiles de Faluya es completamente inaceptable desde Ia ley internacional y el respeto de los derechos humanos, y no puede engendrar más que un odio cargado de violencia. Que no traten de decirnos que sólo han luchado contra los "insurgentes" porque, aunque esas imágenes no hayan circulado como si Io hicieron intensivamente Ia de los cuatro americanos asesinados, Al Yazira nos ha dado a conocer demoledoras fotos de esos inocentes niños de Faluya asesinados en los bombardeos americanos. ¿No habían llegado a Irak para liberar a los iraquíes de Ia violación de los derechos humanos que ejercía Saciam Husein? Toda Ia vox pópuli iraquí clama hoy que no hay diferencia entre los americanos, Sadam Husein y Ariel Sharon. Por otro lado, aunque los americanos nos hayan mostrado desde hace un año que siguen una política ciega y autista en Irak, pensar que Ia provocación contra Múqtada al Sáder y sus seguidores ha sido un error más que ha encendido Ia Intifada chií, seria muy inocente por nuestra parte. Sería más inteligente pensar que ha sido una provocación buscada a favor del caos y Ia fuerza y en contra de Ia lógica política. La decisión de cerrar Ia publicación de este movimiento, que se hizo sin informar al ministro iraquí de Comunicación; de detener a su portavoz, Mustafá al Yaqubi, y de disparar contra los manifestantes que reaccionaron en contra de tal medida produciendo los veinte primeros muertos han respondido a un objetivo buscado: que Ia Intifada comenzase. Pero, eso si, presentándola como Ia actitud violenta de los "radicales", "fanáticos", "extremistas" chiíes. De hecho, Múqtada al Sáder, siguiendo el guión ya de sobra conocido, ha pasado de ser "radical" a "fuera de Ia ley", "criminal" y proximamente "terrorista". En consecuencia, puede ser objeto de un asesinato extrajudicial en cualquier momento. A veces se tiene Ia impresión de estar viviendo el mundo al revés. ¿Qué sensación se tiene, si no, cuando una fuerza que ilegítimamente está ocupando un país se permite hablar de "actos ilegales" y de iraquíes "fuera de Ia ley"? ¿De que ley? Aunque Múqtada al Sáder representase a uno de los liderazgos chiíes más expresamente contrarios a Ia ocupación, no por ello había abandonado su línea de resistencia armada. Al acabar con la lógica política, Bremer há invertido expresamente en su radicalización. ¿ Por qué? Los americanos han visto como progresivamente Ia oposición a Ia preconstitución (fabricada por ellos y el Gobierno provisional iraquí que ellos mismos han nombrado) y a su plan para el 30 de junio ha ido enfrentándose a una oposición política cada vez más firme y organizada. Muchos líderes chiíes Ia han ido expresando de manera cada vez más nítida y públicamente, pidiendo Ia unión de suníes y chiíes para que los americanos salgan del país. Y ello porque esos iraquíes saben que el plan para el 30 de junio consiste en que el supuesto "fin de Ia ocupación" significa Ia construcción de 14 bases militares norteamericanas que alojarán 110.000 soldados, estructura sustancial para el control de su "Gran Oriente Medio". Y saben que Ia supuesta 143 "devolución de Ia soberania" no integrará al Ejército iraquí, que quedaría al Ejército iraquí que quedaría bajo mando militar norteamericano; y también saben que los fondos para Ia reconstrucción tampoco pasarían a soberanía iraquí, sino que serían administrados por Ia nueva Embajada de EE U U en Bagdad, Ia más grande del mundo, albergando a 3.000 funcionarios. Muchos iraquíes, y no sólo los chiíes, no iban a tolerar dicho fraude, y los americanos Io saben. Por ello, apostando por el caos, los americanos pueden imponer sin limites Ia fuerza para restablecer el "orden" y aniquilar a sus enemigos, como hace Israel, e incluso, si con Ia fuerza y Ia impunidad no les es posible llevar a cabo Ia "operación" prevista para el 30 de junio, pueden decir que el caos que han creado los extremistas y fanáticos lo hacen imposible. Esto es siempre mejor de cara a Ia campaña electoral de Bush que un fracaso incontrolable llegado el momento. El caos y Ia inseguridad imposibilitan Ia dinámica de Ia negociación política, Ia estructuración de un discurso político alternativo, Ia emergencia de interlocutores y un liderazgo político estable iraquíes, cuyo objetivo seria siempre acabar verdaderamente con Ia ocupación. Sin embargo, el caos permite Ia impunidad, la depredación económica de Irak a través de su privatización y el desarrollo de unas ganancias ingentes de Ia industria militar y armamentística americana. En conclusión, una política ciega y suicida que alimenta Ia radicalización, Ia violencia y el terrorismo para su siniestro beneficio, y que no creeríamos posible si no Ia estuviésemos observando y tolerando ya desde hace tiempo en los territórios palestinos. Gema Martin Munoz es profesora de Sociologia del Mundo Árabe e Islámico de Ia Universidad Autónoma de Madrid. 144 ANEXO 9 MEDO PROVOCA EFEITO DOMINÓ NA CIDADE Boatos sobre Beira-Mar e ameaças concretas de traficantes fazem as pessoas misturarem real e imaginário O pânico tomou conta da cidade num efeito dominó, transformando os cariocas em reféns do medo. Além das ameaças concretas, as pessoas se deixaram levar por uma forte onda de boatos. Um fenômeno social que, segundo os psiquiatras, acontece quando medo real e o imaginário se misturam. Os cariocas resolveram agir de maneira preventiva, não deixando os filhos irem para o colégio, faltando ao trabalho ou se fechando em casa. O clima de insegurança espalhou-se e as pessoas buscaram desesperadamente informações sobre o aumento do uso da telefonia móvel, a Telemar divulgou que chegou a dobrar o número de ligações feitas através de telefones fixos. Em relação a segunda-feira da semana passada, o aumento no Rio foi de 98%. Em Niterói, de 102% e em São Gonçalo de 147%. O temor foi real em alguns pontos da cidade em que homens armados ameaçaram comerciantes ou ordenaram o fechamento de escolas. Na Ilha do Governador, traficantes ameaçaram invadir o Iate Clube Jardim Guanabara. Por orientação da polícia, a diretoria suspendeu ontem todas as atividades do clube. Durante todo o dia a boataria dava conta de que o fechamento do comércio fora determinado por causa da morte do traficante Fernandinho Beira-Mar, da mãe dele e até de algum de seus cúmplices. Houve também quem dissesse que o bandido teria conseguido fugir do Batalhão de Choque e estaria espalhando o terror pela cidade. Mas essas versões não passavam de boatos. Beira-Mar continua vivo, a mãe morreu há 20 anos, nenhum de seus cúmplices foi morto e o bandido continua preso. Até um policial militar, que trabalha na Zona Sul, disse que a ordem de fechamento do comércio veio de Fernandinho Beira-Mar, porque a PM não está cumprindo as exigências dele no Batalhão de Choque, como a permissão para a visita de parentes. Diante disso, ele teria determinado que todos os morros abastecidos por ele aderissem ao movimento. 145 Outro boato que circulou pela cidade era que ontem o traficante estaria aniversariando. Outra mentira. Beira-Mar fez aniversário em julho. O cientista político Alberto Carlos Almeida, da Fundação Getúlio Vargas e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), disse que houve uma histeria coletiva. Já a psiquiatra Alice Bittencourt acredita que momentos como o que o carioca enfrentou ontem fazem desencadear medos interiores. A população precisa ver que a realidade é que somos maioria em relação aos bandidos. Não podemos ficar a mercê de uma minoria – disse. Para o historiador Milton Teixeira, a situação de ontem só teve paralelo durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), quando a cidade era obrigada a ficar às escuras durante simulações de ataque aéreo. Segundo ele, nem no golpe militar de 1964 o receio levou o comércio a fechar dessa maneira: Estava dando uma aula e todos os alunos resolveram embora. A cidade nunca vive um dia como esse. 146 ANEXO 10 Controle Externo do Judiciário O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio de Mello, ao comentar as propostas existentes para a instituição do chamado controle externo da magistratura, pôs em evidência a circunstância de que, ao criarmos um órgão controlador do Poder Judiciário, seríamos levados, talvez a curto prazo, a criar um outro órgão controlador e assim por diante, ad infinitum. E, realmente, assim é. Se entendemos fundamental que tenhamos um órgão que controle e fiscalize o Poder Judiciário, esse órgão, ao se desviar de suas finalidades, estaria a requerer a existência de órgão que lhe seja superior. Essa questão do controle externo de órgãos ou instituições governamentais tem sido posta no plano das discussões com alto grau de emocionalidade, como – no caso da magistratura – se todas as mazelas decorrentes da atividade jurisdicional fossem o resultado da má atuação dos nossos juizes. Se as causas entregues à decisão da Justiça se eternizam com as características, muitas vezes, de verdadeira denegação de justiça, importando, na área criminal, na impunidade de delinqüentes de todas as espécies, semelhante situação não pode ser imputada, pura e simplesmente, à atuação dos juizes. Ela é resultante de omissões que impediram, até hoje, a modernização do sistema judiciário, amarrado, ainda, ao espírito das remotas Ordenações do Reino, do Brasil Colônia. Diante do aumento do número de demandas, na área criminal e em outras áreas, como civil, comercial, administrativa etc., manteve-se a mesma organização judiciária que qualificou o século passado, herdeiro de um sistema incapaz de responder às premências de uma sociedade em constante ascensão. Ao invés de ir-se ao cerne da questão – que é uma real descentralização da atividade judiciária – passou à criação de uma incipiente Justiça de pequenas Causas, numa discriminação capitalista do que sejam causas grandes ou pequenas, tendo em vista seu valor expresso em moeda corrente. 147 Os resultados obtidos não foram expressos, de tal arte que a situação de crise perdurou, com reflexos negativos em todas as áreas de sua atuação. Nessa mesma linha de pensamento, os tribunais de alçada que se constituíram numa esperança para o desafogo da Justiça de segunda instância, começam a desaparecer, absorvidos pelos tribunais de Justiça. Assim, no campo da reforma seria importante que os juizes de primeira instância e os jurisdicionados estivessem mais próximos, atuando em pequenos distritos, resultantes da divisão das grandes cidades. Os tribunais de Justiça seriam também descentralizados, atuando em regiões do estado, estrategicamente selecionadas. O órgão harmonizador da jurisprudência, em nível estadual, permanecera nas capitais. O Superior Tribunal de Justiça passaria a atuar como o responsável, em nível federal, pela nivelação da jurisprudência. Ao Supremo Tribunal Federal incumbir-se-iam tão somente, as questões constitucionais. É evidente que, paralelamente, deveriam ser revistos os códigos processuais, para que as demandas pudessem ser agilizadas na colheita da prova, perante os juízos inferiores, e, depois, nas decisões dos colégios superiores. Com semelhante organização, contaríamos não com um órgão, mas com um sistema controlador, cujas responsabilidades seriam divididas entre os jurisdicionados, sempre próximos dos juízos, advogados e membros do Ministério Público. Dessa maneira, não seria necessária a criação de um órgão, de duvidosa constitucionalidade, pois, segundo o artigo 200 da Carta Magna brasileira, os poderes da União (Legislativo, Executivo e Judiciário) são independentes e harmônicos entre si. Como, portanto, criar-se um órgão que, sem ter as prerrogativas do Judiciário, a ele se sobreponha? De que natureza será esse órgão? OU será mais um poder da União? São pontos a refletir e que evidenciam, senão a desnecessidade do órgão controlador, a sua descaracterização institucional. Para chagarmos ao controle desejado – o mais amplo possível – é preciso que sejam feitas, em primeiro lugar, as reformas das leis processuais, para que, com uma descentralização para valer, de juízos e tribunais, fiquem próximos partes, magistrados e demais operadores do Direto, tomando, assim, realmente efetiva, uma fiscalização que, ao invés de vir de cima para baixo, será feita paralelamente aos juízos e tribunais. 148 Mais do que um órgão controlador, necessitamos, isto sim, de um sistema de controle, abrangente e não burocratizado. E aí de apelar-se à participação popular, pedra de toque do moderno Estado Democrático de Direto. 149 RESUMO GOMES, Rosa Lucia Rosa. Posposição do sujeito no Português e no Espanhol: um estudo contrastivo. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, 2006. Tradicionalmente, o português e o espanhol são vistos como línguas de ordem variável, nas quais o sujeito pode estar anteposto ou posposto ao verbo. Atualmente, os lingüistas questionam essa aparente liberdade de posição e mostram que cada possibilidade poderia ser explicada a partir de motivações estruturais e discursivas que estariam atuando na escolha de uma ou outra ordem. Este estudo tem como preocupação principal demonstrar, através do arsenal teórico do funcionalismo, que a ordem pós-verbal e pré-verbal não é realizada arbitrariamente, mas que é motivada e pode ser correlacionada a um conjunto de fatores de diversas ordens que se associam às intenções do redator e com a capacidade de processamento do leitor. A escolha de uma ou outra ordem satisfaz as necessidades cognitivas e comunicativas. O estudo tem como base teórica o funcionalismo americano. Através do instrumental da Teoria laboviana, busca-se confirmar estatisticamente as correlações entre a ordem marcada e não-marcada e os fatores que propomos como preferenciais das estruturas SV ou VS nas duas línguas. O corpus se constitui de dois gêneros diferentes: artigos de opinião e notícias. Os textos foram coletados de jornais de distribuição nacional, o Jornal do Brasil e O Globo, para o Português. Para o Espanhol foram coletados textos de circulação internacional, do jornal El País. A análise apresentada neste estudo pode contribuir para uma melhor compreensão do gênero artigo de opinião e textos de notícias e possibilita futura aplicação das nossas observações para o ensino do espanhol como L2 e para o ensino do português. 150 RÉSUMÉ GOMES, Rosa Lucia Rosa. Position du sujet em portugais et em espagnol: une étude contrastive. Thèse de Doctorat. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, 2006. Traditionnellement, le portugais et l’espagnol sont considérés comme des langues d’ordre variable, où le sujet peut être placé avant ou après le verbe. Aujourd’hui, les linguistes mettent em question cette apparente liberté de position et affirment que chaque possibilité peut être expliquée à partir de motivations structurelles et discursives qui auraient influence sur le choix de l’ordre. À travers l’arsenal théorique du fonctionnalisme, cette étude a surtout l’intention de démontrer que l’ordre postverbal ou préverbal n’est pas utilisé de façon arbitraire, mais est motivé et peut être associé à un ensemble de facteurs d’ordres divers qui ont un rapport aux intentions de l’auteur et à la capacité de compréhension du lecteur. Le choix des ordres satisferait alors leurs besoins cognitifs et communicatifs. La base théorique de ce travail est le fonctionnalisme américain. Avec l’instrumental de la théorie labovienne, on a essayé de confirmer statistiquement les correlations entre l’ordre marqué et non-marqué et les facteurs que nous proposons comme préférenciels des structures sujet-verbe ou verbe-sujet dans les deux langues. Le corpus utilisé est constitué de deux genres différents: articles d’opinion et reportages. Ces textes ont été tirés de journaux de distribution nationale, Jornal do Brasil et O Globo, pour la langue portugaise; pour la langue espagnole, on a choisi des textes de circulation internationale, du journal El País. L’analyse que nous présentons dans cette étude peut contribuer à une meilleure compréhension du genre article d’opinion et textes de reportages, ce qui pourra possibiliter l’application de nos observations à l’enseignement de l’espagnol comme L2 et à l’enseignement du portugais. 151 ABSTRACT GOMES, Rosa Lucia Rosa. Posposição do sujeito no Português e no Espanhol: um estudo contrastivo. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, 2006. Traditionally, Portuguese and Spanish have been seen as variable languages, in which the subject can be placed before or after the verb. Nowadays linguists contest this apparent free position and show that each one could be explained by structural and discourse motivations which would act to choose one or the other order. This study, through a functionalist perspective, wants to demonstrate mainly that the pre and post-verbal orders do not occur at random, but are motivated. These orders can be related to a number of different factors which are associated to the writer intentions and to the competence of carrying out information by the reader. Choosing one or the other order satisfies the cognitive and communicative needs. This study is theoretically based on the American functionalism. Through labovian Theory, we want to confirm statistically the correlation between the marked and non-marked orders and the factors we present as the main ones in the structures SV or VS in both languages. The corpus is composed by two different genders: opinion articles and the news. The Portuguese texts were taken from nationally distributed newspapers , o Jornal do Brasil and O Globo. The Spanish ones were taken from international texts from the newspaper El País. The analysis presented in this study may contribute to a better comprehension of opinion articles and the news and enable future applies to the teaching of Spanish as FL and to the teaching of Portuguese.. 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