Práticas de Sustentabilidade em uma Média Empresa: um
estudo de caso em uma indústria gaúcha do setor de alimentos
NATÁLIA ROHENKOHL DO CANTO
Universidade Federal do Rio Grando do Sul
[email protected]
RODRIGO MALDONADO RODRIGUES
Universidade Federal do Rio Grando do Sul
[email protected]
ANA PAULA FERREIRA ALVES
Universidade Federal do Rio Grando do Sul
[email protected]
Práticas de Sustentabilidade em uma Média Empresa:
um estudo de caso em uma indústria gaúcha do setor de alimentos
1 Introdução
Um dos desafios enfrentados atualmente pela sociedade em geral é o de reduzir
impactos socioambientais e de desenvolver soluções em prol de um desenvolvimento mais
sustentável (SILVA et al., 2012). A percepção da importância da problemática socioambiental
envolve também as organizações, as quais passaram a repensar suas práticas de produção e a
formular políticas de gestão ambiental (GOBBI; BRITO, 2009). Seja por iniciativa própria,
seja por pressão dos stakeholders, as empresas incorporam, cada vez mais, ações social e
ambientalmente responsáveis ao seu dia-a-dia, bem como buscam interagir com a sociedade
de modo responsável e transparente (OLIVEIRA, 2005).
Nesse sentido, a despeito do fato de que a sustentabilidade parece ser algo para as
grandes empresas, com seus balanços sociais e grandes ações de responsabilidade social
amplamente divulgados na mídia, as pequenas e médias empresas também têm sua parcela de
responsabilidade. Ainda que não esteja claro se elas devem integrar efetivamente práticas de
sustentabilidade e questões sociais em suas ações quotidianas, essa problemática vem
ganhando importância politica e socialmente (JOHNSON, 2013; REVELL and
BLACKBURN, 2007; SEIDEL et al., 2008). Elas respondem pela maioria dos empregos no
Brasil e por uma parte substancial do PIB, porém, à diferença das grandes empresas, suas
ações de sustentabilidade não têm tanta repercussão. Todavia, isso não significa que estas
empresas não tenham projetos ou que não os realizem de maneira adequada.
Ainda, percebe-se que existem empresas mais suscetíveis que outras no
desenvolvimento e na execução de projetos ligados à sustentabilidade. Existem setores que,
devido à tangibilidade do seu produto, sentem maior necessidade de reduzir os impactos
causados pela sua atividade, enquanto outros a sentem em função da sua relação com o
território em que estão inseridos (UHLANER et al., 2012). O setor de alimentos, de acordo
com essa proposição, é um setor com bastante tangibilidade de produto, além da
transversalidade dos seus consumidores, haja vista a necessidade de se alimentar, que é
inerente aos seres vivos.
Diante disso, esta pesquisa tem por objetivo analisar a adoção de práticas de
sustentabilidade por uma indústria do setor de alimentos. Para responder tal questão, foi
realizada uma pesquisa com abordagem qualitativa, utilizando-se como método de pesquisa o
estudo de caso com a Empresa X, localizada na Mesorregião Centro Oriental1, do estado do
Rio Grande do Sul. Assim, foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com os gestores
desta empresa, com a finalidade de identificar práticas de sustentabilidade adotadas pela
empresa, bem como compreender o processo da adoção destas práticas.
Este artigo está dividido em quatro partes, além desta introdutória. Na seção seguinte,
apresenta-se o referencial teórico utilizado para embasar o desenvolvimento da pesquisa,
abordando mais especificamente as temáticas da sustentabilidade e práticas de
sustentabilidade em pequenas e médias empresas. Posteriormente, são descritos os
procedimentos metodológicos que nortearam a pesquisa. Em seguida, é exposta a análise dos
resultados, visando atender ao objetivo proposto. Por fim, colocam-se as considerações finais
contemplando as contribuições que emergem deste estudo, bem como suas limitações e
possibilidades de pesquisas futuras.
1
Divisão regional em mesorregiões do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2 Referencial Teórico
Nesta seção, abordaremos a fundamentação teórica que está embasando o estudo.
Assim, são relacionadas as temáticas sobre conceitos e práticas ligados à sustentabilidade e
sobre sustentabilidade nas pequenas e médias empresas.
2.1 Sustentabilidade: conceitos e práticas
A discussão sobre a sustentabilidade foi inicialmente promovida por movimentos
ambientalistas, que buscaram demonstrar os impactos negativos da excessiva exploração dos
recursos naturais para o desenvolvimento da humanidade. Assim, gerou-se o grande dilema
entre conservação ambiental e crescimento econômico, que conduziu a reflexões sobre
sustentabilidade também no âmbito social (CARREIRA, 2011). A popularização do assunto
ocorreu a partir de 1987, quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento das Nações Unidas divulgou o relatório “Nosso Futuro Comum”, também
conhecido como Relatório Brundtland (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008).
Neste relatório, o desenvolvimento sustentável foi definido como aquele no qual as
necessidades do presente são atendidas sem comprometer a capacidade das gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades. O desenvolvimento sustentável não pode ser
considerado estático, mas sim um processo permanente de mudança no qual estariam
envolvidas a exploração dos recursos, os investimentos, o desenvolvimento tecnológico e as
instituições (WCED, 1987).
Dentre as interpretações de sustentabilidade existentes, a mais difundida no âmbito
empresarial é a do triple bottom line (TBL), segundo a qual existem na sustentabilidade três
dimensões que se relacionam: econômica, ambiental e social. A expressão surgiu na década
de 90 e foi amplamente difundida a partir do livro Cannibals With Forks: The Triple Bottom
Line of 21st Century Business, de John Elkington, lançado em 1997. Desde então,
organizações como o GRI (Global Reporting Initiative) e a AA (AccountAbility) vêm
promovendo o conceito de TBL e o seu uso em corporações de todo o mundo (DIAS, 2011).
O TBL também é conhecido como o tripé da sustentabilidade, podendo ser aplicado de modo
mais macro (em um país ou até mesmo no planeta), e também com uma visão mais micro (em
uma residência, empresa ou escola, por exemplo) (DIAS, 2011).
Barbieri et al. (2010, p. 150) caracterizam às dimensões do TBL da seguinte maneira:



Dimensão social: preocupação com os impactos sociais das inovações nas
comunidades humanas dentro e fora da organização (desemprego; exclusão
social; pobreza; diversidade organizacional, etc.);
Dimensão ambiental: preocupação com os impactos ambientais pelo uso de
recursos naturais e pelas emissões de poluentes;
Dimensão econômica: preocupação com a eficiência econômica, sem a qual
elas não se perpetuariam. Para as empresas essa dimensão significa
obtenção de lucro e geração de vantagens competitivas nos mercados onde
atuam (BARBIERI et al., 2010, p.150).
Dias (2011), com uma visão semelhante, afirma que, do ponto de vista econômico,
sustentabilidade significa que as empresas devem ser economicamente viáveis, ou seja, que
deve ser dado retorno ao investimento feito pelo capital privado; do ponto de vista social, a
empresa deve proporcionar boas condições de trabalho aos seus empregados e seus dirigentes
devem participar das atividades socioculturais da comunidade em que a unidade produtiva se
insere; por fim, do ponto de vista ambiental, as organizações devem buscar ações que visem a
ecoeficiência em seus processos, como a produção mais limpa, o desenvolvimento de uma
cultura ambiental e de uma postura de responsabilidade ambiental, a não contaminação do
ambiente natural e a participação em as atividades locais relacionadas ao meio ambiente.
A interpretação do TBL pressupõe a busca por uma harmonia entre as dimensões. O
processo de desenvolvimento sustentável, neste sentido, “combina crescimento econômico
com mudanças sociais e culturais, reconhecendo os limites físicos impostos pelos
ecossistemas, fazendo com que as considerações ambientais sejam incorporadas em todos os
setores e também na arena política” (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008, p. 291).
Estas questões ligadas à sustentabilidade e às suas dimensões estão sendo cada vez
mais defendidas pela sociedade, de modo que valores ligados ao desenvolvimento sustentável
e ao respeito às políticas ambientais estão se institucionalizando, e atores como a mídia, os
formadores de opinião, os movimentos ambientalistas e os órgãos governamentais pressionam
as organizações para que ajam frente a estas questões (BARBIERI et al., 2010). Os
consumidores também cobram este tipo de postura organizacional, passando, por exemplo, a
preferir adquirir mercadorias e serviços produzidos de maneira socialmente responsável
(SILVA et al., 2012).
Diante de um contexto no qual a tendência é de maiores exigências dos stakeholders e
de valorização de investimentos em sustentabilidade (SOUZA; COSTA, 2012), as empresas
passar a se tornar cada vez mais conscientes de seus impactos nos diferentes públicos com os
quais interagem, como os empregados, fornecedores, consumidores, a comunidade e o meio
ambiente. Os interesses dos acionistas deixam de ser os únicos contemplados, sendo também
levadas em consideração as demais partes envolvidas no processo produtivo (SILVA et al.,
2012), existindo cada vez mais preocupações no sentido de manter relações construtivas com
a sociedade em geral e com o ambiente em que se inserem as organizações (SOUZA;
COSTA, 2012).
Para que uma organização passe pelo processo de implantação de práticas de
sustentabilidade, Claro, Claro e Amâncio (2008) destacam a necessidade de que haja esta
pretensão por parte da gestão organizacional. O papel da alta administração é, assim,
fundamental para que seja criada uma sensibilização da empresa neste sentido. A partir desta
tomada de consciência e busca por sustentabilidade, surgem as chamadas organizações
sustentáveis, que procuram reduzir o consumo de recursos, a geração de poluição e as
desigualdades sociais e regionais (BARBIERI, 2007). De acordo com Leal (2009), a definição
de organização sustentável pode ser aplicada a “empresas dos mais diferentes setores (público
ou privado), independente de seu porte e de sua área de atuação” (LEAL, 2009, p. 5).
Esta pesquisa aborda um tipo específico de organização, as pequenas e médias
empresas. Neste sentido, após esta abordagem mais ampla sobre sustentabilidade nas
empresas, a seguir serão apresentados alguns dados específicos da relação daquele tipo de
empresa com a questão da sustentabilidade.
2.2 Sustentabilidade nas Pequenas e Médias Empresas
Vista a importância das pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil, as quais detêm
uma participação bastante expressiva na economia do país, respondendo por 60% dos
empregos do Brasil e 20% do PIB nacional em 2012 (BRASIL, 2012), surge a necessidade de
se verificar como um tema recorrente como a sustentabilidade é tratado por estas estruturas.
Há poucas informações nas pequenas e médias empresas a respeito de práticas de
sustentabilidade, e também de temas relacionados, como a responsabilidade social
corporativa, apesar da importância que esses agentes têm para muitas das economias mundiais
(BAUMANN-PAULY, 2013). Além disso, empresas com menos de 250 colaboradores são a
maioria nos países desenvolvidos e em desenvolvimento no mundo e estima-se que os
impactos socioambientais derivados de suas atividades sejam responsáveis por 70% da
poluição global (JOHNSON, 2013; HILLARY, 2000; REVELL et al., 2010). Somado a isso,
o desempenho das PME's é considerado de suma importância para o atingimento dos
objetivos ambientais nacionais (HOLT et al., 2001), e não pode ser negligenciado.
Em comparação com as grandes empresas, e em estudos correlatos sobre
responsabilidade social corporativa, não se chegou a um consenso sobre se as PME's têm
melhores ou piores ferramentas para lidar com questões ligadas à sustentabilidade do que as
empresas multinacionais. (BAUMANN-PAULY, 2013). Por outro lado, as grandes empresas
são mais visadas e suas reputações e até mesmo a sua sobrevivência podem ser ameaçadas se
um comportamento incoerente for demonstrado (UHLANER, 2012; LYNCH-WOOD et al.,
2009). Isso não significa que não haja, por parte das PME's uma preocupação com questões
relativas à sustentabilidade. Em relação às PME's com administração familiar, por exemplo,
pode-se afirmar que elas se preocupam não só com objetivos financeiros, mas também com
objetivos sociais, incluindo a proteção ao meio-ambiente, em função de elas serem fortemente
radicadas em seu território (UHLANER, 2012; ASTRACHAN, 1988; FULLER;TIAN, 2006;
NIEHM et al., 2008).
Assim, não é possível afirmar que as PME's não estejam contribuindo com ações de
sustentabilidade. As pesquisas neste sentido se focam bastante na relação entre o tamanho da
empresa e as ações de sustentabilidade que ela pode desenvolver. Em estudo sobre as PME's
holandesas, Uhlaner et al. (2012), afirma que as práticas de sustentabilidade destas empresas
podem ser influenciadas por fatores como a "tangibilidade" do setor (que vai de bem a
serviços, de modo que, quanto mais tangível o produto, mais resíduos o setor gera e mais
preocupado com impactos ambientais será), os benefícios financeiros percebidos, a orientação
para a inovação e questões relativas à gestão da empresa familiar. Além destes, não se pode
negar a existência da componente ética como importante fator motivador para as atividades
sustentáveis dos pequenos negócios, componente esta que tem sido tratada de forma marginal
pela literatura (RODGERS, 2010). Uhlaner et al. (2012) concluíram seu estudo afirmando que
as políticas de incentivo para que as PME's tenham uma orientação mais sustentável devem
ser direcionadas à valorização da reputação das empresas que realizam ações sustentáveis,
bem como de seus gestores.
Outra questão a ser analisada, além da disposição das PME's em trabalhar com
problemáticas sustentáveis, refere-se às ferramentas disponíveis a essa tipologia de empresa,
para não só implementar, mas também mensurar o seu desempenho. As ferramentas de gestão
ambiental podem ser tomadas como inovações organizacionais (JOHNSON, 2013). Em seu
estudo, Johnson (2013), encontrou mais de 36 ferramentas para a gestão sustentável que
poderiam ser adequadas às PME's, e verificou que a sensibilização das empresas alemãs deste
porte para a maior parte destas ferramentas era bastante pequena. Além disso, o autor afirma
que a maior parte das ferramentas de gestão sustentável com maior penetração é adaptada de
ferramentas de gestão tradicionais já devidamente estabelecidas, como a gestão da qualidade,
o treinamento de funcionários e a gestão da cadeia de suprimentos, entre outras. Assim,
políticas governamentais que estimulem o conhecimento, por parte dos pequenos empresários,
de técnicas de gestão sustentáveis podem ser de grande auxílio para a sua sensibilização e
posterior implementação.
Não é suficiente, porém, somente realizar ações sustentáveis. As PME's também
devem comunicá-las, e encontram bastantes dificuldades para realizar estes relatórios ou
atividades de relações públicas. Em 2001, a Comissão Europeia reconheceu esta dificuldade,
creditando-a à falta de um modelo de linhas-guia para a redação de um relatório sobre
sustentabilidade devidamente adaptado às realidades das pequenas e médias empresas
(BORGA et al., 2009). Borga et al. (2009) sugerem um modelo simplificado de relatório e os
benefícios percebidos em função da redação e divulgação destes relatórios, que vão desde
uma melhoria de relacionamento com os stakeholders das empresas, passando pela utilização
do relatório como uma ferramenta de marketing, até o envolvimento dos funcionários nas
atividades sustentáveis, causando uma melhoria no ambiente de trabalho.
Todavia, as dificuldades de redação de relatórios de sustentabilidade e de
responsabilidade social corporativa são bastante elevadas para as PME'S, em relação às
empresas multinacionais. Os empecilhos não são apenas de cunho financeiro, mas também
relativos à existência de pessoal capacitado para redigir os relatórios de forma adequada e
divulgá-los nos canais corretos. Bauman-Pauly et al. (2012), sugerem que, se por um lado há
a dificuldade de redação por parte das PME's dos relatórios de responsabilidade social
corporativa em função do custo, por outro, as empresas multinacionais encontram
dificuldades na implementação e coordenação das atividades de responsabilidade social
corporativa, em função do maior número de funcionários e hierarquias, o que poderia também
ser aplicado, visto as semelhanças conceituais à sustentabilidade.
3 Metodologia
O presente estudo busca analisar a adoção de práticas de sustentabilidade por uma
indústria do setor de alimentos. Assim, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa,
uma vez que tal abordagem contempla a descoberta e a valorização da dinâmica do fenômeno
em sua totalidade (VERGARA, 2008). Ainda, esta pesquisa pode ser classificada como
exploratória, em razão de que favorece uma nova compreensão do problema, indicando
conceitos claros, prioridades e definições operacionais (COOPER; SHINDLER, 2003). Como
método de pesquisa utilizado, realizou-se um estudo de caso único. O estudo de caso permite
que uma variedade ampla de evidências seja tratada na análise de um fenômeno
contemporâneo (YIN, 2001).
Nesse sentido, aponta-se que a escolha do caso analisado considerou rigorosamente
uma empresa que tenha adotado práticas relacionadas à sustentabilidade em suas atividades
organizacionais. Dessa maneira, foi selecionada a Empresa X, a partir de um contato inicial
em um estudo anterior envolvendo outras temáticas pesquisadas. A Empresa X é uma
indústria do setor de alimentos localizada na Mesorregião Centro Oriental do estado do Rio
Grande do Sul. A organização foi fundada em meados de 1940 e, atualmente, possui 52
colaboradores diretos. Para fins de proteção da identidade da empresa, optou-se por utilizar
uma razão social fictícia: Empresa X.
Assim sendo, como técnica de coleta de dados, foram conduzidas entrevistas
semiestruturadas, realizadas visitas técnicas às instalações da empresa e levantados dados
secundários. O roteiro das entrevistas foi elaborado com base no referencial teórico levantado
sobre sustentabilidade e práticas de sustentabilidade em PME’s, havendo também perguntas
sobre o histórico e a atuação da empresa. Conforme já mencionado, o contato inicial com a
empresa ocorreu em virtude de um estudo anterior. Posteriormente, entrou-se em contato com
os gestores da Empresa X com o objetivo de convidá-los a participar desta pesquisa. No
intuito de possibilitar maior conveniência aos participantes do estudo, as entrevistas foram
realizadas pessoalmente com a gerente de marketing e o diretor presidente da organização nas
próprias instalações da empresa. Visando preservar suas identidades, os entrevistados foram
classificados de acordo com a ordem de realização das entrevistas, de modo que a gerente de
marketing será referenciada como Entrevistada A e o diretor presidente como Entrevistado B.
O processo de coleta de dados ocorreu durante o mês de maio de 2014. Cada entrevista
com um gestor da empresa durou, em média, uma hora e meia. As entrevistas foram
registradas por meio de gravação em áudio e, em seguida, transcritas. Por sua vez, cada visita
técnica durou aproximadamente quatro horas, e foi conduzida por outro colaborador – que
não os gestores que estão participando deste estudo. Além disso, salienta-se que foram
elaboradas notas de campo pelos autores desta pesquisa durante as visitas técnicas e as
entrevistas. Após cada coleta, os autores discutiam o que foi anotado nas notas de campo, de
modo a validar os dados que foram obtidos.
Para análise e tratamento dos dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo
proposta pela autora Bardin (2011). Essa técnica visa constatar o que está sendo dito a
respeito de determinado tópico (VERGARA, 2008). Nessa perspectiva, a análise de conteúdo
se baseia na realização de um desmembramento do texto em unidades, análise de tais
unidades e, em seguida, o reagrupamento dessas unidades em categorias compostas por
elementos comuns (BARDIN, 2011). Nesta pesquisa, optou-se pela identificação das
categorias de análise a partir de grade aberta, por meio de procedimentos interpretativos – isto
é, as categorias emergiram dos dados coletados, durante a análise desse material. Diante disso,
as categorias de análise usadas compreendem: (a) motivações para práticas; (b) práticas de
sustentabilidade; e, (c) impactos percebidos.
4 Análise dos Resultados
Nesta seção, serão expostos os resultados encontrados. Inicialmente, será descrita a
história e situação atual da empresa. Em seguida, será apresentada a análise das práticas de
sustentabilidade da empresa, dividida de acordo com três categorias: motivações, práticas
adotadas e impactos percebidos.
4.1 A Empresa X
A história da Empresa X origina-se nos anos de 1941 e 1942, quando surge entre um
grupo de amigos de uma cidade da Mesorregião Centro Oriental Rio-Grandense a ideia de
aproveitar o desnível de um arroio da cidade para instalar uma indústria moageira. Para testar
a força do arroio, o grupo construiu uma barragem em 1944, que acabou não resistindo a uma
enchente e desabou.
Certo tempo depois, alguns integrantes do grupo retomaram a ideia do
empreendimento, à qual novos parceiros se juntaram. Para tanto, outra barragem mais
resistente foi erguida, e foram também construídos um canal de água de mais de mil metros de
comprimento e o prédio que abrigaria a indústria. Assim, a Empresa X foi fundada em maio
de 1949, sendo que suas atividades industriais de moagem de trigo e de milho iniciaram em
janeiro de 1950. Os principais equipamentos inicialmente instalados para a moagem do trigo
foram dois cilindros Bühler (suíços), um planshister (máquina usada para a peneiragem da
farinha) e sassores (peneiras industriais removedoras de impurezas), bem como equipamentos
completos de limpeza dos grãos. Para a moagem de milho, foram instaladas duas mós (pedra
circular e rotativa dos moinhos, que tritura e mói os grãos). Os produtos da empresa passaram
a ser comercializados na cidade a partir do ano de 1950.
Em 1964, houve a primeira reforma do moinho, a partir da qual a sua capacidade de
produção foi triplicada. No mesmo ano, a empresa também substituiu a turbina movida a água
por um motor movido a óleo diesel, uma inovação para aquela época. Outra grande reforma
industrial ocorreu na década de 80, quando se aumentou o parque industrial e foram instaladas
novas máquinas. Como resultado, a empresa tornou-se mais competitiva e ampliou a sua
participação no mercado.
Há seis anos, houve uma mudança na gestão do moinho. Dois integrantes de uma
geração mais recente da família assumiram a diretoria da empresa e adotaram algumas
mudanças na sua gestão, buscando ações mais voltadas à inovação e à sustentabilidade.
Segundo os entrevistados, o foco atual está em atender o Rio Grande do Sul, especialmente as
regiões do Vale dos Sinos e da serra (Caxias, Bento, Farroupilha).
Dentre os clientes da empresa, existem tanto consumidores dos supermercados quanto
indústrias e padarias. Em algumas regiões específicas existe uma concentração no mercado
doméstico; em outras, no industrial; e há ainda aquelas nas quais o foco está nos dois tipos de
públicos. O Entrevistado B explicou que desde o ano passado a empresa também está tendo a
oportunidade de trabalhar com o mercado de outros estados como São Paulo, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. No entanto, estes mercados exigem um volume muito
alto em relação ao que o moinho produz, e que poderia abarcar cerca de 50% de sua produção.
Para o entrevistado, fechar negócio com um cliente deste tipo seria perigoso para a empresa,
em função da concentração das vendas em poucos clientes e por isso eles estão sendo
cautelosos em relação a estas propostas.
No que tange aos produtos ofertados, estes variam entre diferentes tipos de farinha de
trigo, podendo ser estas tradicionais ou específicas para pães e/ou biscoitos, e de uso caseiro
ou industrial. As embalagens dos produtos disponíveis variam de um quilo a 50 quilos,
existindo também embalagens intermediárias de cinco quilos e 25 quilos.
Os entrevistados ainda apontam que existem concorrentes, principalmente os de outros
estados, que produzem em um volume muito maior que a sua empresa e, consequentemente,
obtêm uma vantagem com ganhos de escala. Por isso, a estratégia da Empresa X volta-se para
a busca de vantagem competitiva de outra maneira, que recai no desenvolvimento de produtos
diferenciados e na adoção de práticas ligadas à sustentabilidade, que serão detalhadas na
próxima seção.
4.2 Práticas de Sustentabilidade da Empresa X
Conforme mencionado anteriormente, os dados coletados foram agrupados em três
categorias de análise das práticas de sustentabilidade da Empresa X. Assim, esta seção dividese nestas três análises principais. Na primeira, serão expostas as motivações da Empresa X
para a adoção de práticas sustentáveis; em seguida, serão apresentadas as ações de
sustentabilidade que foram e estão sendo desenvolvidas pela empresa; e, por último, haverá
uma análise dos impactos percebidos pelos entrevistados em relação às práticas sustentáveis.
Motivações
As motivações para a adoção de práticas de sustentabilidade surgiram há seis anos,
quando houve a troca de gestão. Atualmente, a Entrevistada A é a coordenadora e principal
motivadora das ações ligadas à sustentabilidade, o que mostra que as ideias e valores dos
novos diretores foram fundamentais para que a empresa adotasse esta nova postura e passasse
a se interessar por questões socioambientais. Tal fato reforça a afirmação de Claro, Claro e
Amâncio (2008) relativa à importância do papel da alta administração para a sensibilização da
organização para questões ligadas à sustentabilidade.
Dentre as motivações para a adoção de práticas sustentáveis, foram encontradas mais
motivações ligadas a práticas dos eixos social e econômico, enquanto que as motivações em
função do eixo ambiental são consideradas menos significativas:
Nós entendemos a sustentabilidade como um todo. E não só a questão de meio
ambiente. Até acredito que o nosso projeto está mais focado na questão da
sustentabilidade econômica da empresa e no social, e aí envolve mais a educação do
que propriamente o meio ambiente, por incrível que pareça (Entrevistada A).
Nesta fala, percebe-se que existe um alinhamento do conceito que a Entrevistada A
possui de sustentabilidade em relação à abordagem do TBL apresentada por diversos autores
(DIAS, 2011; BARBIERI et al., 2010; CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008), visto que ela
reconhece as três dimensões da sustentabilidade.
No que tange práticas ligadas à educação, estas estão ligadas ao objetivo de preparar
futuros funcionários para a empresa. Como explicado pelos entrevistados, na região existe
dificuldade de obtenção de mão de obra, principalmente em relação àquela qualificada. Logo,
a percepção dos gestores é a de que tanto a empresa como a comunidade poderão ser
beneficiadas por ações neste sentido.
Além disso, as ações de sustentabilidade também visariam determinado
posicionamento da empresa e diferenciação frente aos concorrentes: “a sustentabilidade te
coloca num lugar de marca diferencial” (Entrevistada A). Para o Entrevistado B, ações de
sustentabilidade engrandecem a empresa e demonstram que a mesma possui firmeza moral na
condução dos seus negócios.
Segundo os entrevistados, a imagem que a empresa transmite afeta aqueles que nela
trabalham. Deste modo, outra motivação seria a de “mostrar pro teu funcionário o que tu quer
dele dentro da tua organização” (Entrevistado B). Ou seja, a empresa, ao dar o exemplo de
como ela interage com a sociedade, espera que os seus funcionários adotem o mesmo tipo de
postura em suas condutas. Tal percepção pode ser ligada ao componente ético mencionado
por Rodgers (2010), que é visto pelo autor como importante motivador para a adoção de
práticas de sustentabilidade por PME’s.
Por fim, outra motivação mencionada é a financeira. Neste sentido, busca-se “sustentar
a possibilidade de dar um emprego, uma geração de renda” (Entrevistada A), ou seja, dar
possibilidades para a comunidade de modo geral. Assim, percebe-se que a empresa busca
alinhar seus objetivos ligados à dimensão econômica à geração de vantagens também para os
demais públicos envolvidos.
Pode-se notar que as motivações ações de sustentabilidade da Empresa X estão de
acordo com a ideia de Silva et al. de que as empresas estão passando levar em consideração
os interesses dos públicos com os quais interage. Assim, percebe-se que a empresa possui
motivações para, por meio de ações de sustentabilidade, manter boas relações tanto com todos
aqueles com quem se relaciona e com a sociedade de uma forma geral (SOUZA; COSTA,
2012).
Práticas Adotadas
Como destacado no referencial teórico, diversos autores (UHLANER, 2012;
ASTRACHAN, 1988; FULLER; TIAN, 2006; NIEHM et al., 2008) apontam que, por
possuírem laços fortes com a comunidade, as PME's com administração familiar se
preocupam não só com objetivos financeiros, mas também com objetivos sociais e
ambientais, o que se aplica ao caso da Empresa X. As práticas de sustentabilidade adotadas
pela empresa são, no entanto, mais ligadas à dimensão social do que à ambiental.
Na dimensão ambiental, podem ser destacadas algumas ações pontuais, como a busca
pela diminuição da quilometragem rodada ao transportar cargas. Além disso, a empresa
também realizou uma ação para a coleta de banners juntamente a outras instituições a fim de
reutilizar o material como matéria-prima para outros produtos. Ainda, foi realizado um
projeto para a limpeza de um rio da cidade.
Em relação ao tratamento dos resíduos da empresa, ocorre em suas instalações a
separação de quatro tipos de lixo (metal, plástico, papel e orgânico). Neste sentido, a
Entrevistada A destaca que, como a indústria produz pouco resíduo e nenhum lixo tóxico, as
possibilidades de melhorias ambientais são restritas à matéria-prima, que é proveniente de
fornecedores. Como sua empresa não tem muito poder de barganha com estes, eles acreditam
que até conseguiriam “mobilizar a cadeia”, mas ainda possuem “muito pouca
representatividade” para isso (Entrevistada A). Deste modo, percebe-se que, assim como no
estudo de Uhlaner et al. (2012), os resíduos gerados no processo industrial impactam no tipo
de ações de sustentabilidade implementadas. Apesar de a Empresa X possuir um produto
tangível, ela não é grande geradora de resíduos, de modo que suas ações de sustentabilidade
não estão concentradas nesta questão.
Em relação aos aspectos sociais, a maioria das práticas adotadas são voltadas às
escolas. Segundo a Entrevistada A, desde o ano de 2013 são realizadas ações neste sentido. A
Entrevistada A aponta que este projeto durará nove anos, durante os quais a Empresa X irá
“acompanhar a formação dessas crianças dentro das escolas com temas pertinentes às
demandas das escolas e dos alunos”. Ano passado, por exemplo, foi realizada uma ação ligada
à higiene bucal, na qual dentistas e farmacêuticos foram às escolas e trabalharam questões
como a escovação dentária.
Outro trabalho realizado com as escolas foi dirigido à questão cultural. A empresa
organizou uma visita à Bienal de Porto Alegre, oportunidade que, segundo os entrevistados,
“nunca nem os professores tinham tido acesso”. Também houve uma prática com caráter mais
filantrópico, na qual foi entregue material às escolas. Por fim, ainda houve uma atividade com
os alunos na qual foi realizada uma oficina de culinária. Em relação à escolha das escolas
envolvidas nos projetos, Entrevistada A destaca que são selecionadas escolas da comunidade,
nas quais os funcionários, seus filhos ou netos estudem ou tenham estudado.
A empresa também procura se relacionar com o restante da comunidade. O exemplo
dado neste sentido foi o de incentivo ao uso de sacolas retornáveis. Este projeto foi realizado
em três supermercados, nos quais foram sorteados entre os clientes que usassem as sacolas
retornáveis prêmios de caráter sustentável, como bolsas femininas confeccionadas com o
material dos banners reciclados. Além disso, a Empresa X também apoia eventos
comunitários, como os que ocorrem no Natal e no Dia do Amigo. Deste modo, percebe-se que
a empresa procura impactar com suas ações de sustentabilidade os diferentes públicos com os
quais interage, preocupando-se com impactos tanto internos quanto externos à organização e
contribuindo para a diminuição de problemas tais quais o desemprego, a exclusão social e a
pobreza (BARBIERI et al., 2010).
Impactos Percebidos
Os entrevistados da Empresa X percebem um “impacto [das ações de sustentabilidade]
mais institucional do que comercial” (Entrevistado B). Ou seja, a imagem da empresa é
promovida mediante este tipo de ação, mas não é possível perceber um aumento nas vendas
devido a esta nova postura organizacional:
Comercialmente, tu não percebes um aumento de vendas, até porque é difícil tu
conseguir convencer alguém por parte de ti. Se o cliente não tem isso na cultura
dele, ele não dá o menor valor pra isso. Não existe uma conscientização a nível
nacional de que isso seja um diferencial, ou um pré-requisito obrigatório pra que tu
sejas fornecedor. Eu não vou conseguir mais preço no meu produto ou mais volume
por causa disso (Entrevistado B).
As práticas de sustentabilidade vêm gerando divulgação da empresa pela mídia, que
comunicou algumas das práticas adotadas. Isso impacta a percepção que tanto a comunidade
como clientes e outras entidades têm da empresa. Em relação aos clientes, destaca-se que já
existem planos para trabalhar de forma conjunta em projetos de sustentabilidade, o que
contribuirá para um estreitamento da relação entre as organizações. Por outros lado, também
foi gerada a oportunidade de interagir com a Bienal do Mercosul, que soube do projeto pela
divulgação na imprensa e entrou em contato com a Empresa X.
No entanto, a Entrevistada A aponta que existem dificuldades de divulgação das
práticas adotadas, visto que “80% das ações que foram feitas não foram divulgadas”. Deste
modo, percebe-se que o reconhecimento por parte da Comissão Europeia de que as PME’s
possuem dificuldades de comunicação das ações sustentáveis (BORGA et al., 2009) aplica-se
também ao caso da Empresa X. Ademais, as dificuldades mencionadas por Bauman-Pauly et
al. (2012) também foram encontradas, uma vez que na empresa não existe pessoal capacitado
para redigir relatórios de sustentabilidade e divulgá-los nos canais corretos. Recentemente, a
organização entrou em contato com uma agência de publicidade a fim de melhorar esta
questão, contudo percebe-se que boa parte da divulgação de impacto ainda é feita de modo
não intencional, por parte da imprensa.
O impacto para a comunidade é percebido positivamente por parte dos entrevistados.
As ações da empresa têm gerado interação entre diferentes públicos e dado oportunidades
educacionais diferenciadas, o que contribui para o desenvolvimento da comunidade e,
principalmente, dos alunos contemplados nos projetos. A divulgação das ações pela mídia
também colocam a cidade em destaque e a tornam mais conhecida por seu entorno e outras
localidades. Além disso, também são percebidos impactos no público interno da organização,
de modo que a postura ética da empresa seria determinante para que os empregados a
percebam não apenas como “um lugar pra tu vires trabalhar, ganhar o teu e ir embora”
(Entrevistado B), mas sim como uma entidade que busca melhorar o mundo ao seu redor.
Nesta análise, nota-se que os impactos percebidos pelos dirigentes da organização
relacionam-se primordialmente à imagem institucional para os diversos públicos envolvidos
com a empresa, seja direta, seja indiretamente. Pode-se especular, desta forma, se outro fator a
ser adicionado às motivações não seria relacionado aos valores institucionalizados na
sociedade e às pressões de diversos públicos, mencionados por Barbieri et al. (2010).
Diante do que foi exposto nesta seção de análise dos resultados, elaborou-se o Quadro
1, em que foram resumidos os principais resultados identificados a partir das três categorias
de análise.
Quadro 1 – Práticas de Sustentabilidade da Empresa X: Motivações, Práticas Adotadas e Impactos
Percebidos.
Práticas de Sustentabilidade da Empresa X
Motivações
 Formar mão de obra
para a empresa;
 Diferenciar a marca;
 Dar exemplo a
funcionários;
 Gerar renda
permanente para a
comunidade.






Práticas Adotadas
Dimensão Social
Dimensão Ambiental
Projeto de limpeza e
 Separação de lixo;
higiene bucal;
 Limpeza do rio;
Visita à Bienal de
 Diminuição da
Porto Alegre;
quilometragem rodada
Entrega de materiais
no transporte de
para escolas;
cargas;
Oficina de culinária;
 Coleta de banners
para reciclagem.
Incentivo ao uso de
sacolas retornáveis
Apoio a eventos
comunitários
Impactos Percebidos
 Desenvolvimento da
comunidade;
 Imagem institucional
positiva para o público
externo;
 Imagem positiva da
empresa para os
funcionários;
 Divulgação na
imprensa;
 Interação com outras
empresas e entidades.
5 Considerações Finais
Esta pesquisa objetivou analisar a adoção de práticas de sustentabilidade por uma
indústria do setor de alimentos. Para tanto, foi realizado um estudo de caso com a Empresa X,
localizada na Mesorregião Centro Oriental do estado do Rio Grande do Sul. Desse modo,
entrevistas foram conduzidas com dois gestores de tal organização. Nesse contexto, verificouse que o processo de adoção de práticas de sustentabilidade pela Empresa X está vinculado à
mudança na sua gestão, que ocorreu em 2008. Neste ano, novos gestores assumiram a
diretoria da Empresa X, modificando suas estratégias organizacionais e seu foco de atuação.
Considerando a necessidade percebida pelos novos gestores de gerenciar as atividades da
Empresa X de maneira mais responsável, práticas de sustentabilidade passaram a ser
adotadas.
Nesse sentido, identificou-se que a adoção de práticas de sustentabilidade pela
Empresa X está vinculada a três questões centrais, assumidas como categorias de análise: (a)
motivações para práticas; (b) práticas adotadas; e, (c) impactos percebidos. Pode-se destacar
que o entendimento dos gestores sobre o conceito de sustentabilidade está de acordo com a
abordagem do TBL existente na literatura, visto que eles apresentam a visão das três
dimensões existentes. Em relação às motivações da empresa, em relação aos projetos de
cunho ambiental, estas estavam presentes em uma menor proporção, sendo que as práticas
neste sentido eram também em menor número e seu impacto foi menos valorizado pelos
entrevistados. Em relação às motivações para a adoção de práticas sociais, percebe-se que
neste quesito existe grande vontade por parte dos dirigentes de impactar as pessoas com as
quais a organização se envolve interna e externamente.
No que tange às práticas adotadas, percebeu-se um enfoque muito maior em práticas
de cunho social e que geram algum tipo de resultado positivo para a organização, como o
desenvolvimento da mão de obra disponível e a divulgação da imagem da Empresa X para a
comunidade na qual se insere. Dentre os impactos percebidos, pode-se destacar que os
resultados das ações são abrangentes e repercutem na mídia, de modo a impactar muitos dos
stakeholders com os quais a organização está envolvida. No entanto, a empresa tem
dificuldade para mensurar os resultados de suas práticas. Poderiam ser desenvolvidas métricas
neste sentido, de modo que a organização tivesse condições de avaliar seus resultados obtidos
e estabelecer metas em relação ao impacto buscado com as ações. Além disso, tal mensuração
permitiria à Empresa X avaliar sua evolução ao longo do tempo e divulgar isto para o público
interno e externo.
Apesar de algumas práticas da organização serem divulgadas pela mídia, outra
oportunidade de melhoria encontrada foi em relação à divulgação das práticas de
sustentabilidade. Os entrevistados percebem que, apesar da organização ser ativa neste
sentido, a comunicação das práticas adotadas ainda é insuficiente. Os dirigentes afirmam que
nem todos os funcionários tomam conhecimento das práticas realizadas pela organização, e
que apenas aqueles cujos filhos estudam nas escolas selecionadas inteiram-se sobre os
projetos nas mesmas. De modo similar, na percepção dos entrevistados, as ações não estão
sendo amplamente divulgadas para seus clientes, visto que os representantes comerciais da
empresa não estão totalmente informados a respeito do assunto. Assim sendo, percebe-se que
a divulgação das práticas adotadas pode ainda ser ampliada, de modo a gerar mais resultados
positivos à empresa.
Dentre as limitações deste estudo, destacam-se a análise restrita do contexto de uma
empresa e o número de participantes da pesquisa. Os resultados obtidos refletem a percepção
dos entrevistados em relação à adoção de práticas de sustentabilidade na Empresa X. Portanto,
outros participantes da mesma empresa e a participação de outras organizações no estudo
poderiam reproduzir resultados distintos. No que diz respeito a estudos futuros, são apontadas
a realização de um estudo longitudinal para compreender a maturidade das práticas de
sustentabilidade adotadas pela Empresa X; a ampliação dos participantes do estudo,
considerando não somente gestores, mas também colaboradores, fornecedores, clientes e a
comunidade em geral; e a realização de estudos em outros contextos organizacionais.
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Práticas de Sustentabilidade em uma Média Empresa: um estudo