Identificação de parâmetros de transferência de carga nos diagramas de Rigidez de Décourt (2008) Kurt André Pereira Amann Centro Universitário da FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, [email protected] RESUMO: Partindo-se das análises matemáticas de Massad (2008), fundamentadas no Método das Duas Retas Modificado (MDRM) por Massad e Marques (2004), manipularam-se suas equações para interpretação do diagrama de Rigidez de Décourt (2008), de modo a se obter graficamente sobre este os parâmetros de transferência de carga de estacas rígidas. Assim, da interpretação gráfica da função matemática resultante, identificaram-se suas assíntotas oblíquas e o significado, em termos de transferência de carga, de suas interseções com os eixos cartesianos da Rigidez e da carga, permitindo identificar os parâmetros de transferência de carga diretamente sobre o diagrama de Rigidez. Deduz-se ainda uma nova proposta de função matemática contínua para a curva cargarecalque de estacas escavadas, que a descreve mais adequadamente do que as funções de Chin (1972) ou de Van der Veen (1953), evitando também a segmentação da curva carga-recalque, inerente ao MDRM, podendo-se ainda incluir o efeito de cargas residuais para estacas escavadas. As formulações propostas são aplicadas a estacas escavadas e cravadas com comportamento rígido, ensaiadas a prova de carga. Assim, demonstra-se que a aplicação de um método relativamente simples como o da Rigidez, quando tratado matematicamente, permite inferir parâmetros de comportamento de métodos mais complexos como os de transferência de carga, facilitando a metodologia de análise de ensaios de prova de carga. PALAVRAS-CHAVE: Método da Rigidez, Transferência de Carga, Curva Carga-Recalque, Provas de Carga, Estacas Rígidas. 1 INTRODUÇÃO O interesse no conhecimento do processo de transferência de carga de uma estaca para o solo é fundamental para a perfeita análise do seu comportamento durante um ensaio de prova de carga, bem como para fins de projeto. Assim, este trabalho apresenta uma contribuição por meio da comparação entre os métodos da Rigidez (Décourt, 2008) e das Duas Retas Modificado – aqui representado por MDRM – (Massad e Marques, 2004), mas com metodologia ligeiramente distinta da empregada por Massad (2008). Faz-se aqui uma proposta de interpretação matemática do Método da Rigidez que permita obter graficamente os parâmetros de transferência de carga do MDRM, tornando-se uma ferramenta auxiliar para facilitar a aplicação desse último (Amann, 2010). Adicionalmente, deduz-se uma nova forma matemática para a curva carga-recalque de estacas escavadas, a qual representa de maneira mais adequada o comportamento deste tipo de fundação. Devido às condicionantes da dedução, a proposta é aplicada a estacas de comportamento rígido, demonstrando seus bons resultados para estacas escavadas. Tenciona-se com isso, ampliar o estado de conhecimento dessa promissora ferramenta que é o Método da Rigidez. 2 O MÉTODO DA RIGIDEZ (DÉCOURT, 2008) A partir de sua experiência com a aplicação da curva de rigidez a estacas de atrito, sapatas e estacas escavadas, Décourt (2008) propôs uma metodologia para identificar o domínio do atrito e da ponta na curva de Rigidez. Neste processo, identifica-se o trecho linear do diagrama de Rigidez, ajustando-o a uma reta (equação 1), cuja intercepção com o eixo das cargas resulta no limite superior Qsu (Figura 1a) do atrito lateral. Q = b L − a L .Rig AL = Q su − a L .Rig AL (1) Rig (kN/mm) curva carga-recalque, o qual indica o momento em que todo o atrito lateral foi mobilizado. As expressões matemáticas envolvidas são (2) e (3): Po 4 = µ.Alr + A.S + R.S.µ.y1 d2 = Qsu atrito Q (kN) a) Quc Q (kN) ponto de regressão log(Q)=bs+as.log(s) 0,1.D s (mm) 1 1 + Kr R.S (3) ⋅ ⋅ ponta QsL 1 (2) b) Figura 1. a) domínios do atrito e da ponta, com ajuste linear e obtenção do limite superior do atrito Qsu; b)reta para definição do limite inferior do atrito QsL na curva carga-recalque. Em seguida, Melo (2009) indica traçar sobre a curva carga recalque uma reta passando pelo ponto de definição da ruptura convencional Quc e pelo último ponto (do fim para o começo) do ajuste log(Q)-log(s) do fim da curva, denominado “ponto de regressão”, definindo na sua intercepção com o eixo das cargas o limite inferior do atrito QsL. O valor estimado do atrito lateral Qsc na ruptura é a média entre Qsu e QsL. 3 FUNDAMENTAÇÃO MATEMÁTICA DA CURVA DE RIGIDEZ (MASSAD, 2008) Kr: rigidez estrutural da estaca; µ = 1+(Ph/Alr): coeficiente de carga residual Ph; ⋅ Alr: atrito lateral na ruptura, o equivalente; ⋅ R: parâmetro da segunda Lei de Cambefort modificada por Massad (1992), para a ponta; ⋅ A: parâmetro de adesão ou suporte inicial devido à geometria da estaca; ⋅ S: área da seção tranversal da estaca. Este ponto 4 tem especial importância pois é possível definí-lo sobre a reta do final da curva de ensaio. Partindo das funções hiperbólicas de Fleming (1992), Massad (2008) define suas relações com as cargas genéricas transferidas por atrito Al e pela ponta Qp: yf y y = 1 + f Al Alr Alr yp Qp yp y2 + Qpr Qpr ⋅ (5) yf e yp: deslocamento do fuste e da ponta; ⋅ y1: deslocamento do fuste para mobilização plena do atrito lateral; ⋅ y2: deslocamento para a mobilização plena da ponta; Na expressão (5) Qpr é a carga de ruptura da ponta. Disso resulta a expressão hiperbólica de Fleming (6): Alr Qpr (6) P = + o Para entendimento da dedução de Massad (2008) destaca-se do MDRM, o ponto 4 da = (4) 1+ y1 yf 1+ y2 yp Contudo, Massad (2008) observa que a expressão (6) pode ser adequada para estacas de deslocamento, porém as estacas escavadas não definem a ruptura assintótica para a ponta, sendo mais adequada a expressão (7), oriunda da Qpr do MDRM: ( Alr Po = + A.S + R.S.y p y 1+ 1 yf ) (7) Os deslocamentos yf e yp dependem do encurtamento elástico da estaca, o qual dificulta a análise para estacas longas ou flexíveis, que serão tratadas em trabalho futuro. Para estacas curtas ou rígidas, onde yf ≅ yp ≅ yo, a solução se simplifica e será aqui detalhada. Assim, incluindo o conceito de Rigidez (Rig=Po/yo), dessas análises Massad (2008) deduz as expressões relativas a estacas rígidas escavadas (8) e de deslocamento (9): Rig y1 . (Po 4 − Po ) y 1 .y 2 . Rig (Po r − Po ) . (y1 + y 2 ) − 2 R.S.Po Rig − − =0 (Po 4 − Po ) (Po 4 − Po ) 2 + Po (Por − Po ) . analisar a curva de Rigidez, o qual será apresentado iniciando pelas estacas escavadas. 4.1 Função Matemática da Curva de Rigidez de Estacas Escavadas Rígidas Fazendo-se µ=1 (primeiro carregamento), yf=yp=yo (estaca rígida), isolando-se Alr na expressão (2), substituindo-se na (7) e agrupando os termos em Rig² e Rig, obtém-se uma variante da expressão (8), qual seja, a expressão (10): y1 . 1 − A.S .Rig 2 − (Po 4 − Po ).Rig − R.S.Po = 0 (10) Po A expressão (10) pode ser interpretada como uma equação parabólica (11) cujos coeficientes A, B e C são funções de Po, facilmente identificados em (10): A.Rig 2 − B.Rig − C = 0 (8) (9) Po Alr.y 2 + Qpr.y1 Rig . = Po (Por − Po ) (Por − Po ) Na expressão (9) Por é a carga de ruptura assintótica, definida sobre a curva de ensaio. Deste ponto em diante Massad (2008) realiza simplificações para definir o campo de validade do Método da Rigidez, numa comparação com os parâmetros do MDRM. Para definir a nova proposta de identificação desses parâmetros sobre a curva de Rigidez, tomam-se aqui por base as expressões (8) e (9), sem simplificações, realizando uma análise matemática e gráfica, como se apresenta a seguir. 4 PROPOSTA DE ANÁLISE MATEMÁTICA E GRÁFICA DA CURVA DE RIGIDEZ Partindo-se das expressões (6) e (7), propõe-se um outro tratamento matemático e gráfico para (11) Isolando-se Rig em (11), obtém-se duas curvas como solução (expressão 12), sendo que apenas a do primeiro quadrante do diagrama Rig-Po tem significado físico, resultando a expressão (13) ao substituirem-se A, B e C na solução adequada: Rig = B ± B 2 + 4.A.C 2.A (12) (P o 4 −Po ) + (P o 4 −Po )2 + 4.R.S.Po .y1. 1 − A.S Rig = Po (13) A.S 2.y1 . 1 − Po Define-se, desta forma, a expressão (13) como sendo a função matemática da curva de Rigidez Rig=f(Po) de estaca escavadas rígidas. 4.2 Análise Gráfica da Curva de Rigidez de Estacas Escavadas Rígidas A curva da expressão (13) pode ser melhor analisada se desmembrada e reescrita na forma (14): Rig = (Rig Alr + Rig RS ). Rig AS 2.Rig Alr (14) Sendo: Rig Alr = Rig AS = Rig RS = (Po 4 − Po ) (15) y1 (Po 4 − Po ) A.S y1. 1 − Po = Rig Alr A.S 1− Po 1 A.S 2 . (Po 4 − Po ) + 4.R.S.Po .y1. 1 − y1 Po (16) (17) Dessa forma, fica imediato que RigAlr (15) é uma assíntota oblíqua da curva (13), como apresenta a Figura 2. Rig(kN/mm) Po4/y1 Solução desprezada -1/y1 A.S Po4 Po(kN) Rig Rig AS Rig RS Rig Alr Figura 2. Interpretação gráfica da curva de Rigidez de estacas escavadas rígidas com definição dos parâmetros de transferência de carga y1, Po4 e A.S. Portanto, a proposta de identificação dos parâmetros de transferência de carga y1 e Po4 sobre a curva de Rigidez fica definida exatamente pela reta RigAlr (15), como apresentada na Figura 2. É importante observar que essa reta (15) não coincide exatamente com a reta (1) ajustada ao trecho aparentemente linear usado por Décourt (2008) para definir o valor de Qsu, sendo, portanto, aquela metodologia uma aproximação. Verifica-se, também, que não se trata de um trecho propriamente linear, mas que indica sim a tendência de limite da curva de Rigidez à assíntota RigAlr (15). Assim, na prática da análise gráfica, pode-se obter uma melhor estimativa de y1 se for utilizada a inclinação da reta tangente ao ponto de ensaio anterior à Po4, ou diretamente o intercepto desta no eixo da Rigidez (Rig=Po4/y1, na Figura 2). A intercepção com o eixo das cargas é de fato Po4, como encontrado por Massad (2008) com sua simplificação. Assim, indica-se aqui, sem uso de simplificações, que se deve adotar esse valor como limite superior do atrito, ou seja Qsu≅Po4. Já a curva RigAS (16) demonstra que a curva de Rigidez (13) possui uma assíntota vertical dada por Po=A.S, o que não era possível de ser identificado pela dedução (8) de Massad (2008). Assim, propõe-se aqui estimar o parâmetro ‘A’ diretamente da análise gráfica. É importante ressaltar que a curva RigRS (17) guarda uma característica fundamental para a forma da curva das estacas escavadas. Se o parâmetro R da ponta é maior do que zero, a partir do ponto Po4 em que a reta RigAlr se torna negativa, o resultado da Rigidez (13) será sempre maior do que zero, apresentando graficamente a tendência a uma assíntota horizontal (que é o próprio eixo das cargas), como observado por Décourt (2008). Se, por outro lado, R=0 (estaca de atrito ou flutuante), tem-se RigRS=RigAlr, resultando Rig=RigAS, que apresenta o ponto Po4 como intercepção do eixo das cargas. Neste caso, pela expressão (2), se A=0, então Po4=Alr=Por, como interpretado por Décourt (2008) e Massad (2008). Dessa forma, fica demonstrada a proposta de expressão matemática completa da Rigidez de estacas escavadas rígidas, com identificação de parâmetros de transferência de carga. A inclusão das cargas residuais será discutida oportunamente. 4.3 Função Matemática da Curva de Rigidez de Estacas de Deslocamento Rígidas Seguindo raciocínio semelhante ao das estacas escavadas, chega-se às mesmas expressões (11) e (12) para as estacas de deslocamento, contudo com equações diferentes para os coeficientes A, B e C. Fundamentalmente, o que muda é a necessidade de inclusão da carga residual Ph, desde o primeiro carregamento (devido à instalação da estaca), modificando a expressão (6) para (18): µ.Alr Qpr − Ph Po = + µ.y1 y 1+ 1+ 2 yf yp (18) Deve-se atentar também que aqui não se define Po4, mas sim a carga de ruptura assintótica Por, que por equilíbrio estático fica definida por (19), onde o coeficiente υ=1Ph/Qpr foi proposto por Amann (2008b): Por = µ.Alr + Qpr − Ph = µ.Alr + υ.Qpr (25) [µ.y1.[(Por − µ.Alr) − Po ] + y 2 .(µ.Alr − Po )]2 + + 4.µ.y1.y 2 .[(Por − Po ) − Po ] (26) y2 y2 µ.y1.y 2 Dessa forma se obtém o gráfico da Figura 3, onde se identificam as duas assítontas oblíquas RigµAlr e RigQpr. Rig(kN/mm) µAlr/µy1 -1/µy1 Por µ.y1.y 2 A= Po (20) µ.y1.[(Por − µ.Alr ) − Po ] + y 2 .(µ.Alr − Po ) B= Po (21) C = (Por − Po ) (22) É importante notar que A, B e C são funções de Po. Substituindo-se suas expressões em (12) e desconsiderando a segunda solução (a que subtrai a raiz), obtém-se a expressão matemática da curva de rigidez de estaca de deslocamento rígidas. 4.4 Análise Gráfica da Curva de Rigidez de Estacas de Deslocamento Rígidas A equação de rigidez (12) com as expressões (20), (21) e (22) resulta em um gráfico cujo contradomínio é descontínuo, dificultando sua interpretação, por isso indica-se multiplicar essas três expressões por Po, de modo que não se alteram os pontos do gráfico e obtém-se uma curva contínua que pode ser expressa por (23). ( Rig y1y 2 = (Por − µ.Alr ) − Po = (Qpr − Ph ) − Po (19) Assim, considerando estacas rígidas (yf=yp=yo) e substituindo (Qpr−Ph) por (Por−µAlr) da expressão (19), as expressões de A, B e C para estacas de deslocamento ficam: 1 Rig = . Rig µAlr + Rig Qpr + Rig y1y 2 2 (µ.Alr − Po ) Rig µAlr = µ.y1 Rig Qpr = ) (23) (24) Rig(Po) Rig 2a sol. Rig Qpr Rig uAlr Rig y1y2 Qpr-Ph µAlr Po(kN) -1/y2 Solução desprezada Figura 3. Interpretação gráfica da curva de Rigidez de estacas de deslocamento rígidas, com definição dos parâmetros de transferência de carga µy1, y2, µAlr e Ph. É importante observar na Figura 3 que a interseção da reta RigµAlr com o eixo das cargas é µAlr, ou seja, o atrito afetado pela carga residual, confirmando Qsu (Figura 1) como limite superior de Alr, assim como concluído por Massad (2008) com suas simplificações. Note-se também que a reta da expressão (1) não coincide com RigµAlr, resultando Qsu num valor entre µAlr e Por. Contudo, sua inclinação aL pode ser uma boa estimativa de 1/µy1. A interseção da reta RigQpr define o valor de Qpr-Ph, e sua inclinação o valor de 1/y2. Embora esse trecho negativo não fique definido com os valores do ensaio de prova de carga, pode ser usado para verificar a consistência dos ajustes, já que influencia o valor de Por. A equação Rigy1y2 define a curvatura da curva, devendo-se ter em mente que, do ponto de vista matemático, a equação da Rigidez é uma cônica e sua forma e domínio dependem do resultado do valor dentro da raiz, comumente denominado ∆. Assim, o valor do ∆ pode influenciar a forma da curva no gráfico, sobretudo quando se discute o que ocorre em relação à ponta e à carga residual, mediante os valores de µ (e claro, de Ph), Qpr e y2. 5 NOVAS EXPRESSÕES PARA A CURVA CARGA-RECALQUE DE ESTACAS RÍGIDAS 5.1 Estacas Escavadas Rígidas Na expressão (10) se no lugar de Rig substituirse por Po/yo, agrupando-se os termos em yo, chega-se a uma expressão do tipo (27): A.Po − B.y o − C. 2 yo = 0 Po (27) A solução fisicamente coerente fica (27): y o = Po . − B + B2 + 4.A.C 2.C (28) A expressão (28) é a nova proposta matemática para a curva carga-recalque de estacas escavadas rígidas, tendo a vantagem de ser fundamentada nos parâmetros de transferência de carga e de ser contínua, ao contrário da curva do MDRM. Os coeficientes A, B e C são os mesmos identificados na expressão (10). Se considerada a carga residual Ph, tem-se para estes coeficientes as seguintes expressões: A = µy1. 1 − A.S − Ph Po (29) B = Po 4 − Ph − Po (30) C = R .S.Po (31) Observa-se que o efeito gráfico da carga residual é o de modificar a interseção das retas assíntotas vertical e oblíqua para AS-Ph e Po4Ph, respectivamente, além de mudar a inclinação da assíntota oblíqua para -1/µy1. 5.2 Estacas de Deslocamento Rígidas De forma análoga, a expressão (27) vale para estacas de deslocamento, devendo-se adotar para os coeficientes A,B e C as expressões (20), (21) e (22) multiplicadas por Po, como mencionado na seção 4.4. 6 APLICAÇÃO A ENSAIOS DE PROVA DE CARGA Para exemplificar as expressões propostas acima, aplicam-se a dois casos de provas de carga, um em estaca escavada rígida, a saber a estaca barrete BAR-1 da ABEF (1989), amplamente estudada e citada por Massad (1992), Décourt (2008) e Amann (2010). A estaca Barrete apresenta as seguintes características aproximadas (apud Amann, 2010): dimensões 1650x400mm, Kr=2861 kN/mm, instalada no campo experimental da USP em solo residual. O processo de aplicação das análises aqui demonstradas pode ser assim descrito: a) constrói-se o gráfico de Rigidez sobre a envoltória dos carregamentos, considerando µ=1 (Amann, 2010) e ajusta-se a reta RigAlr (Figura 2) tangenciando-a à curva na região próxima a Po4, obtendo-o, bem como à estimativa de y1 pela sua inclinação; b) estimase o valor do produto A.S pela aparente assíntota de Rigidez e pela carga em que a curva carga-recalque visualmente “descola” do eixo Po; c) estima-se o produto R.S pela inclinação da reta 4-5, já que a estaca é rígida (Kr elevado resulta 1/d2≅1/RS); d) com os valors de Po4, y1, A.S e R.S, calculam-se as curvas teóricas de Rigidez e de carga-recalque, verificando o ajuste às curvas experimentais. As Figuras 4a e 4b mostram essa aplicação. É importante verificar que a curva teórica de rigidez se afasta um pouco da experimental na região de Po4 (Figura 4a). Isso foi observado por Massad (2008) como sendo uma das imprecisões do método da Rigidez, não havendo plena aderência entre a curva teórica e a reta RigAlr ajustada à curva experimental. O valor de atrito Alr=1320 kN foi calculado pela expressão (2). Estaca Cosipa 6 - Rigidez Estaca Barrete-ABEF (1989) - Rigidez 600 (P o 4 −Po ) + (P o 4 − Po )2 + 4.R.S.Po .y1 . 1 − A.S Rig = 2.y1. 1 − 400 A.S Po 300 -1/y1=-1/(4,0) mm 200 -1 Ensaio Rigidez Teórica Rig(kN/mm) Rig(kN/mm) 500 Po 100 Po4=1900 kN 0 0 1000 AS=500 kN 0 2000 Po(kN) 3000 4000 5000 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Rig = 2.µ.y 1 .y 2 -1/µy1=-1/(14,0) mm -1 Ensaio Rigidez Teórica Po(kN) 0 6000 (B.Po ) + ( B.Po ) 2 + 4.µ.y 1 .y 2 .Po .(Por − Po ) 500 1000 1500 2000 a) a) Estaca Barrete - ABEF(1989) - Curva Teórica Estaca Cosipa 6 - Curva Teórica AS=500 kN 1000 2500 µAlr=Por=2250kN 2000 3000 4000 0 5000 Po(kN) Po4=1900 kN 1000 1500 2000 2500 Po(kN) 10 Ensaio Ensaio 20 yo=(Po-Po4)/(R.S) 50 500 0 0 yo calculado 30 yo calculado yo = 150 Kr=2861kN/mm y1=4,0mm A.S Po 1/(R.S)= =1/(19,8) mm/kN 2.R.S Alr=1320 kN yo(mm) yo(mm) 40 −(Po4 −Po) + (Po4 −Po)2 +4.R.S.Po.y1. 1− 100 50 yo = − ( B.Po ) + ( B.Po ) 2 + 4.µ.y 1 .y 2 .Po .( Por − Po ) 60 2.Po .( Por − Po ) 70 80 Kr=69kN/mm µy1=14,0mm µAlr=2250 kN 90 100 200 b) b) Figura 4. Aplicação à estaca escavada rígida tipo barrete a) ajuste da curva de Rigidez Teórica; b) ajuste da nova proposta de curva carga-recalque teórica ao ensaio. Figura 5. Aplicação à estaca de deslocamento rígida tipo tubo metálico com embuchamento parcial a) ajuste da curva de Rigidez Teórica; b) ajuste da nova proposta de curva carga-recalque teórica ao ensaio. Em comparação com a análise completa pelo MDRM, feita por Amann (2010), os valores obtidos foram: Po4=1567kN; y1=4,96mm; A.S=0 kN; R.S=24,85kN/mm; Alr=1445kN, resultando para Alr erro de -9,5%, razoável, embora para os demais parâmetros a diferença seja maior. A outra estaca escolhida é uma estaca de deslocamento, do tipo tubo metálico, instalada na Cosipa, denominada Estaca 6 (Massad, 1993), com Kr=69 kN/mm. Verifica-se alguma dificuldade em analisar a separação do atrito, admitindo-se inicialmente um comportamento linear para a curva de rigidez e valores semelhantes para Por e µAlr. Procedeu-se considerando y2=D/10=65mm, o que é outra dificuldade de se estimar sem uma análise do tipo do MDRM. O valor de µy1 foi admitido pela inclinação média dos pontos da rigidez e pelo ajuste da curva carga-recalque teórica aos pontos experimentais, resultando em 14 mm. A determinação do valor do coeficiente de carga residual µ também exige a aplicação de uma metodologia via descarregamento, pois a estaca de deslocamento guarda uma carga residual de instalação. Comparando com as análises de Massad (1993), µAlr=1492 kN resultou em erro de +50%. Fazendo algumas tentativas de ajuste, obtém-se, para um valor de µ=1,4, Alr=1631 kN, contra µ=1,1 e Alr=1356 kN de Massad (1993), um erro de +16,8% em Alr. A dificuldade neste caso está em testar ao mesmo tempo os valores de µ, y1 e y2, o que gera uma grande incerteza para a solução no caso de estacas de deslocamento. incentivo à apresentação deste trabalho. 7 REFERÊNCIAS CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho apresentou uma nova comparação matemática entre os métodos da Rigidez de Décourt (1996, 2008), das Duas Retas Modificado (MDRM) de Massad e Marques (2004) e de Fleming (1992), seguindo uma linha distinta de Massad (2008) ao evitar simplificações e analisar graficamente as assíntotas das funções matemáticas propostas para a Rigidez de estacas escavadas e de deslocamento. Demonstrou-se a possibilidade de se identificarem parâmetros de tranferência de carga sobre a curva de Rigidez de estacas escavadas, a saber, Po4, y1, A e R, via os produtos A.S e R.S do MDRM. Para estacas de deslocamento os parâmetros identificados foram µy1, µAlr Qpr, y2 e Por. Adicionalmente, deduziu-se uma nova forma matemática para a curva carga recalque de estacas escavadas e de deslocamento, as quais são contínuas, diferentemente da curva teórica do MDRM, e definidas pelos parâmetros de transferência de carga, o que é um diferencial em relação às curvas de Van der Veen (1953) e de Chin (1972). A aplicação dessas análises a ensaios de prova de carga de uma estaca escavada de outra de deslocamento evidenciaram que a metodologia proposta é razoável para estimar o atrito lateral de estacas escavadas, porém mais complexa de ser aplicada para estacas de deslocamento, por envolver estimativas de carga residual e do comportamento de ponta, que exigem análises complementares. Como se trata de uma proposta em princípio de análise, a sua aplicação a uma quantidade maior de ensaios deve fornecer novas informações para solução das questões envolvendo as estacas de deslocamento e melhoria do entendimento da estimativa de parâmetros de estacas escavadas. AGRADECIMENTOS O autor agradece ao Centro Universitário da FEI e ao prof. Faiçal Massad pelo apoio e Amann, K. A. P. (2008) Simulação parametrizada de provas de carga utilizando as leis de Cambefort modificadas por Massad (1992, 1993). XIV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações - COBRAMSEG, Búzios, RJ, Brasil, agosto, arquivo GF36. vol.2. pp. 869-876. Amann, K. A. P. (2010). Metodologia semiempírica unificada para a estimativa da capacidade de carga de estacas. 2010. 430p. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Décourt, L. (2008). Provas de carga em estacas podem dizer muito mais do têm dito. In: SEMINÁRIO DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES ESPECIAIS, 6, 2008, São Paulo. Anais... SEFE VI. São Paulo: ABEF/ABMS, 2008, p. 221-245. Massad, F. (2008). Fundamentação matemática do método da rigidez de Décourt e definição de seu campo de aplicação. In: SEMINÁRIO DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES ESPECIAIS, 6, 2008, São Paulo. Anais... SEFE VIII. São Paulo: ABEF/ABMS, 2008, v. 1, p. 117-131. Massad, F.; Marques, J.A.F. (2004). Provas de carga instrumentadas em estacas escavadas com bulbos, executadas na região praieira de Maceió, Alagoas. Revista Solos e Rochas, São Paulo, v. 27, n. 3, p. 243260, dez. 2004. Melo, B. (2009). Análise de provas de carga à compressão à luz do conceito de rigidez. 2009. 219p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2009.