Os Téxteis — História Social das Técnicas
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Os Téxteis
in: Maria José Ferro Tavares — História Social das Técnicas.
Lisboa, Universidade Aberta, 2000 (capítulo1).
Nota:
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Objectivos de aprendizagem
1.1. As Técnicas: origens e evolução
1.1.1 Os Têxteis
1.1.2 Técnicas de tecelagem, tingimento e confecção
1.2 Os tecidos, o vestuário e a sociedade
1.3 Conclusão
Bibliografia sugerida
Actividade sugerida
Glossário
Cronologia dos principais acontecimentos
Resenha Bibliográfica
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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Objectivos de aprendizagem
Esta Unidade pretende levar o formando a saber que:
•
O trabalho dos têxteis surgiu com a sedentarização do ser humano.
•
O homem trabalhou, desde o início, as fibras vegetais e as fibras animais.
•
O século XX fez aparecer as fibras químicas artificiais e as fibras químicas
sintéticas.
•
Uma parte significativa do trabalho têxtil, nomeadamente o do linho, era (e é)
feita por mulheres.
•
Os processos manuais de trabalhar as fibras foram sendo substituídos,
progressivamente, pela mecanização.
•
As técnicas do tingimento dos tecidos vêm da Antiguidade.
•
Com a evolução da produção e da transformação dos têxteis, foram
especializando-se funções que deram origem a novos ofícios.
•
A pré-revolução industrial e as chamadas duas revoluções industriais tiveram
a sua incidência na fabricação dos têxteis.
•
Na Inglaterra ocorreram várias dessas «invenções» aplicadas à tecnologia
da tecelagem, devido ao monopólio da produção e transformação da lã e do
algodão.
•
As inovações mecânicas sofreram fortes reacções sociais à sua
implementação.
•
A qualidade dos tecidos e a moda estiveram intimamente associadas aos
diferentes estratos sociais.
•
O vestuário masculino dos estratos sociais superiores sofreu uma evolução
mais rápida que o vestuário feminino.
•
O vestuário dos grupos populares evoluiu no tempo da muito longa duração.
•
O final do século XIX e, sobretudo, o século XX conheceram um maior
dinamismo na variedade da qualidade dos tecidos e no design das peças de
vestuário femininas, enquanto o vestuário masculino se fixava.
•
O vestuário acompanhou a complexificação das sociedades, tornando-se um
fenómeno civilizacional.
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1.1. As Técnicas: origens e evolução
1.1.1 Os Têxteis
A técnica da tecelagem exigia uma vida sedentária, pois os vários processos e
instrumentos de fabrico ou de tingimento dos tecidos eram dificilmente
transportáveis por comunidades em movimento. O desenvolvimento desta técnica
está ligado à história do vestuário, que permite a diferenciação social por estratos
e por género, e à tapeçaria, que reflecte a qualidade de vida que se respira no
interior da habitação. Tapetes para o chão e paredes, em esparto, cânhamo, lã ou
feltro concorriam com as peles inteiras dos animais mortos em caçadas; o linho, o
algodão ou as peles cobriam o ser humano no descanso nocturno e eram, no caso
do linho, por exemplo, utilizadas como mortalha, no sono denadeiro; com as peles
ou com o feltro faziam-se as tendas, moradas permanentes de alguns povos, ou
habitações transitórias de exércitos em campanha.
Mas também de tecido de linho grosso, o treu, eram feitas as velas dos barcos ou
as dos moinhos; assim como do cânhamo e do linho se fazia o cordame ou as
redes de pesca.
As fontes, para o estudo desta técnica nas épocas mais recuadas, reduzem-se à
arqueologia e à arte. No entanto, a sua memória é fragmentária e fragmentada, pois
recorda, na maioria dos casos, os mais ricos em detrimento dos mais humildes. De
facto, é nos túmulos daqueles que encontramos os vestígios materiais que o tempo
preservou. São eles também que nos dão as mais antigas informações sobre as
técnicas de transformação das várias fibras, utilizadas pelos homens.
O ser humano utilizou fibras animais e vegetais para se resguardar do frio, a par
das peles dos animais que matava. O fabrico de cestos, esteiras e cordas, pelo
homem paleolítico precedeu, com toda a probabilidade, a produção e
utilização do tecido e esteve na origem da técnica da tecelagem. No entanto,
os mais antigos exemplares, chegados até nós, são egípcios e datam do 5./ milénio
a. C. e incluem esteiras, cestaria enrolada e tecidos primitivos. Nos 4./ e 3./
milénios, a arte chegara já a perfeição tal que os fragmentos de tecido de linho de
que restam vestígios, apresentavam 64 fios na urdidura e na trama por centímetro1)
.
“As diferentes fases dos trabalhos deste vegetal, cultivo da planta, preparação da
fibra, sua curtimenta, gramagem, assedagem, fiação e tecelagem” aparecem-nos
representadas na pintura e nos gravados de alguns túmulos do Império Antigo,
assim como pertencem ao 4º milénio as mais antigas representações de um tear
horizontal (Fig. 10), as quais são provenientes do Egipto e da Mesopotâmia.
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Também é no Egipto que nos aparece, datando do 2./milenio, a mais antiga
representaçao do tear vertical2) (Figs. 16 a e b).
Tecia-se, desde aquelas épocas, o linho, a juta, o esparto, o algodão, a seda e
a lã. Antes de se conseguir um tecido, as fibras, fossem de que material fossem,
deviam ser:
— esticadas paralelamente e retorcidas entre as palmas das mãos ou entre a
mão e a coxa, até formarem um fio contínuo;
— enrolado este, no início, num pau de madeira, depois num fuso, com ou
sem cossoiros, era com o manuseio da roca fiado;
— com o tear horizontal, fixo no solo, invenção neolítica, ou vertical com ou
sem pesos, urdiam-se os fios e entrelaçavam-se numa trama contínua.
Esta arte pertencia às mulheres, desde tempos remotos, de tal modo que o fuso e
a roca acompanharam, a nível da história das mentalidades e ao longo dos séculos,
uma das funções femininas. A roca era dada pelo rapaz, ainda recentemente, em
certas regiões portuguesas, de oferta à namorada como proposta de casamento.
No entanto, o fabrico do tecido, desde a fiação ao tear, podia ser também realizado
por homens, como acontecia no Egipto ou na Grécia, onde a arte nos mostra
oficinas de tecelagem em que os escravos trabalhavam.
A forma mais simples e mais antiga de tecido é o tafetá que nos aparece com uma
textura muito fina, de que exemplo a peça tecida encontrada no túmulo dojovem
faraó egípcioTutankamon, ou com uma textura mais grossacomo as da época do
bronze escandinavo3) .
A seda, fibra natural de origem animal, era trabalhada pelos Chineses, desdeo 2./
milenio, onde a cultura do bicho da seda era um oficio fenunino.Expandiu-se do
Oriente para o Ocidente, no Império Romano que a comprava aos Persas. O
imperador do Império Romano do Oriente conseguiu importar bichos da seda do
Oriente, em meados do século VI, e tomar a produção e comércio deste tecido um
monopólio imperial, até que a expansão muçulmana para o Ocidente e o domínio
da Península Ibérica pelo Islão (sec. VIII) permitiram que estes instalassem no
Levante/Sul peninsular centros de produção de seda, como Almeria, Córdova,
Múrcia ou Granada.
Granada, Aragão e a Sicilia tomavam-se centros produtores e exportadores dos
tecidos de seda, que se estenderam às cidades italianas, como Florença e Veneza.
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A França desenvolveria também a indústria da seda, a partir do século XV,
destacando-se como centro produtor de tecidos, a cidade de Lyon. Também, em
meados dessa centúria, Portugal ensaiava a produção deste tecido, nomeadamente
na região transmontana, sem grande sucesso.
Produto de luxo, normalmente tingido de púrpura e ricamente bordado ou omado
com pedras preciosas, a seda era objecto de presente entre reis e altos dignitários
da Igreja, onde era usada em paramentos vários. Associada a esta indústria, temos
a produção dos veludos, dos damascos, dos brocados e dos cetins em que
algumas cidades italianas, como Milão e Florença, se celebrizaram, tingidos de
escarlata, de azul ou de negro, através da imersão em vários banhos em que
predominavam o pastel ou o indigo4) , ou, a preços mais económicos, os tafetás,
usados muitas vezes como roupa ou forro interior.
Com a expansão europeia, após a chegada dos Portugueses ao Oriente, a rota
terrestre da seda perdeu a preponderância. A grande importação das sedas
orientais para a Europa passou para as mãos dos Portugueses a quem sucederam
os Holandeses e Ingleses que iriam monopolizar, dominando o seu comércio. Nos
séculos XVII e XVIII, ocorreu um relançar da indústria europeia da seda. D. José I e
o Marquês de Pombal seriam os obreiros desta política económica, em Portugal,
que, ainda hoje, permanece na memória toponímica de Lisboa: a Rua das
Amoreiras e a Rua da Fábrica das Sedas, ambas ao Largo do Rato. Frederico II da
Prússia ensaiaria uma política semelhante em Berlim.
O algodão, fibra natural de origem vegetal, erajá conhecido, sendo importado do
Egipto ou do Próximo Oriente. Em Itália e no Levante peninsular, faziam-se os
fustões em algodão, misturado com cânhamo ou linho. No entanto, a sua grande
divulgação ficou a dever-se às descobertas europeias para o Oriente e
nomeadamente aos Ingleses, que passariam a deter o monopólio da produção
algodoeira na Índia e investiriam na sua produção nas grandes plantações da
América do Norte. Aqui, o trabalho agrícola era realizado pelos escravos negros e a
transformação do produto era feita nas fábricas, em Inglaterra, com o recurso à mão
de obra infantil e feminina.
Devido à sua grande divulgação na Europa, o algodão viria a suplantar o linho
e, em alguns casos, a própria seda, tornando-se o grande concorrente da lã.
De facto, a uniformidade, resistência e elasticidade, que caracterizam a textura
desta fibra, tomavam-na muito procurada, enquanto a elevada produção, nos
continentes asiático e americano, a embaratecia nos mercados europeus. “A
humanidade nunca tivera à sua disposição vestidos tão abundantes, variados e
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saudáveis, uma vez que o algodão era trabalhado a baixo custo, estampava-se e
tingia-se com muita facilidade e lavava-se rapidamente”5) .
Às fibras naturais, tradicionais e milenares, como o linho, a seda, a lã ou algodão,
juntaram-se neste século as fibras químicas artificiais e as fibras químicas
sintéticas. Ambas surgiram no século XX. As primeiras baseavam-se na celulose
natural, enquanto as segundas, totalmente sintéticas, integravam as poliamidas, os
poliésteres, os vinflicos e os acrílicos. Pertencem às fibras artificiais a seda
artificial, a raiona, e às fibras sintéticas o nylon, o terylene, o orlon, o acrilan, etc. O
poliéster aparecia no mercado por voltade 1941.
No entanto, as fibras químicas utilizadas sós, se trouxeram a capacidade de
conservar a forma sem se amarrotarem, de serem atractivas, tiveram também
inconvenientes. As fibras artificiais são termoplásticas e fundem-se a temperaturas
muito baixas, pelo que se tomavam perigosas para com os que as usavam, como
vestuário. Por outro lado a ausência de elasticidade, a incapacidade de, no verão,
absorverem a transpiração, dando uma sensação desconfortável, fizeram que os
industriais passassem a misturá-las com as fibras naturais. No início, a técnica não
resultou devido à estrutura dos fios, que, na lavagem ou na costura,
encolhiam/esticavam de modo diferente, ficando a peça de vestuário deformada.
Com o encurtamento das saias femininas, as meias de seda, embora ideais, eram
demasiado caras. A raiona e o nylon, a partir de 1939, tornaram-se a sua matéria
prima. Na segunda metade do século, juntou-se-lhes a licra.
Importante igualmente foi a introdução nos tecidos de um antirrugas à base de uma
resina, em 1920, assim como o tratamento da lã com gaz cloro, para evitar o seu
encolhimento com a lavagem6) .
1.1.2 Técnicas de tecelagem, tingimento e confecção
Vejamos como se processava todo este trabalho, seguindo a arte do trabalho do
linho, que pode ser tomada como modelo para as demais fibras.
O linho era apanhado, ripado, curtido em águas, paradas ou correntes, para a
separação dos elementos fibrosos dos lenhosos, posto a escorrer e seco ao
sol, podendo ser, ou não, maçado com um maço de madeira, após o que era
enfeixado. A separação dos elementos fibrosos com que se fazem os têxteis,
resulta de uma serie de operações:
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a)
maçagem exposto ao sol sobre uma laje ou uma rocha, para ficar aquecido,
o linho era batido com um maço de madeira. Mais tarde, este instrumento
que vinha da Antiguidade, seria substituído pelo engenho que podia ser
movido pela tracção humana, animal ou hidráulica. Em algumas regiões, à
maçagem do linho com o maço seguia-se a gramagem, ou seja, a maçagem
por meio de grama, gramadeira ou trilho;
b)
espadelada — trabalho feito por mulheres que batem nos feixes de linho,
assentes no cortiço ou espadeladouro, com um espadela (Figs. 11a b e 12);
c)
assedagem — nesta operação, as mulheres separam as fibras longas do
linho, das fibras curtas da estopa. O instrumento é o sedeiro (Fig. 13), ou
seja, um cepo de madeira, onde estão implantadas duas ordens de dentes
de aço, uns mais grossos e outros mais finos. Após esta operação, o linho
está pronto a ser colocado na roca para ser fiado, enquanto a estopa é
penteada com um pente de dentes ponteagudos, designado restelo, ficando
pronta para ser fiada.
Pronto para ser fiado, torce-se entre os dedos um pouco de fibras, enrolando-as na
ponta do fuso, fazendo-o rodar. Com
a mão esquerda e dedos indicador e polegar vão-se puxando do maneio mais fibras
que os dentes não raro ajudam a distender, humedecendo-as com saliva,
continuamente, arrastando umas as outras, colhidas pela torsão do fuso, em número
maior ou menor conforme se pretende um fio mais grosso ou mais fino.
No sistema mais geral, o fuso é posto a girar por meio dum movimento de
castanholar dado com o polegar, indicador e médio, ficando a rodar suspenso pelo
fio que a sua rotação vai torcendo; e este é mais ou menos torcido, conforme se
destina à urdidura, ou à trama, respectivamente7) .
A roca feita de materiais menos perecíveis deve ter-se difundido, a partir da Grécia,
embora a sua origem seja um pau direito ou uma cana, antes de ter o aspecto
fusiforme. Era nela que se prendia o manelo, ou seja, as fibras não enoveladas.
A fiação pode ser feita também numa roda de fiar (Fig. 15), ou seja, um aparelho
constituído por um fuso de madeira ou de ferro, cravado num pequeno carretel, e
uma roda com eixo e manivela também de madeira ou de ferro. A roda de fiar era
já conhecida, na Europa, no sécuio XIII, embora a sua origem provável tenha
sido a Índia, meio milénio antes (séc. VIII). Manobrada manualmente, passou a
ter um pedal por meio do qual a fiandeira sentada manobrava a roda. O seu
aparecimento e divuigação esteve directamente relacionado com o
desenvolvimento da produção textil urbana.
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O fio fiado na roca e no fuso ou na roda é disposto em meadas no sarilho (Fig. 14),
as quais antes de serem dobadas e tecidas sofrem o primeiro tratamento de
branqueamento. Neste processo as meadas são cozidas em grandes potes e
depois empapadas numa calda de água e cinza clara. Também podem ser cozidas
no forno do pão, sendo em seguida lavadas e postas a secar.
O fio das meadas é enovelado na dobadoira. Em novelos, o fio é levado à tecedeira
que o trabalha no tear.
Ernesto Veiga de Oliveira caracterizava, do seguinte modo, o tear:
o tear é um aparelho complexo em que se realiza o cruzamento dos fios que entram
na confecção do tecido. Os fios são de duas espécies: fios da urdidura, que se
preparam previamente num aparelho específico — a urdideira —. e se dispõem a
todo o seu comprimento no tear, iongitudinalmente, separados em duas séries —
pares e ímpares alternados — por dispositivos especiais; e o fio da trama, único,
que vai passando entre os fios daquelas duas séries da urdidura no sentido
perpendicular a eles, e ora da direita para a esquerda, ora da esquerda para a
direita. Pelo abaixamento e levantamento alternado de cada uma das séries de fios
da urdidura obtem-se uma abertura a toda a largura da urdidura, perpendicular a ela
— o passo ou cala —, e, de cada vez, passa por essa cala a lançadeira com o fio da
trama, que com o movimento alternado das séries dos fios da urdidura, fica preso,
por entrecruzamento, naqueles fios. O tear permite assim que, com um único gesto,
8)
se faça o fio da trama cruzar os fios da urdidura .
O tear, como já dissemos, podia ser horizontal (Figs. 10, 16b e c),
desenvolvendo-se a urdidura da teia entre duas travessas, assentes em quatro pés,
ou vertical (Fig. 1 6a), em que a urdidura da teia é montada sobre um caixilho
rectangular com os fios lançados no sentido do comprimento, esticados por pressão
de uma travessa inferior sem pesos ou por pesos de barro ou pedra, presos à
extremidade dos fios da urdidura. Este último seria o modelo do tear grego, tal
como é representado num vaso em que Penélope tecia o seu lençol, enquanto
esperava o regresso de Ulisses.
A este tear manual sucedeu o tear de pedais, por volta do século XII (Fig. 17).
Este tear é de tipo horizontal, com dois ou mais liços accionados por outros tantos
pedais.
Neste tear, todos os fios da urdidura são emaihados, cada uma das duas séries em
seu correspondente liço, e a abertura do passo para a passagem da trama é dada
pelo movimento ascendente e descendente desses liços, que são ligados a um
sistema de roldanas e accionados à vez por pedais; o mecanismo é completado por
um pente fixado a um caixilho móvel suspenso da própria armação do tear, que
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mantém a regularidade dos fios da urdidura e bate e aperta a trama após cada
9)
passagem .
É óbvio que a invenção/difusão do tear de pedais estava intimamente
relacionada com a difusão da roda de fiar e com o desenvolvimento da
produção têxtil no centro e norte da Europa.
A teia depois de pronta sofria um novo processo de branqueamento, passando por
várias lavagens com água e cinza ou água e sabão, e correspondentes secagens
ao sol10) . Aliás, a utilização do sabão no processo do branqueamento,quer do linho,
quer da lã, iria desenvolver a indústria do sabão, a partir de finais da Idade Média.
A tecelagem doméstica, que sobreviveu até aos nossos dias, cedeu o terreno ao
artesanato urbano, em que as e os artesãos estavam agrupadas(os) em pequenas
oficinas. Fusos, pentes de cardar, rocas, dobadoiras e teares faziam parte de uma
arte que foi evoluindo para uma produção em maior quantidade.
No período medieval, a documentação referia-se a oficinas, integradas em grandes
domínios senhoriais ou nos arredores de centros urbanos, onde as mulheres fiavam
e teciam. Na generalidade, estes centros de transformação estavam associados a
regiões de criação de gado lanígero, de raças várias que permitiam também
qualidades diversas de panos de lã, como os provenientes dos tosões ingleses ou
dos merinos castelhanos, ou a centros urbanos cuja economia radicava na
transformação da lã, como acontecia nas cidades flamengas ou nas cidades do
Brabante francês.
Completava as invenções já referidas na técnica da tecelagem, a mecanização
do apisoar do tecido. O pano saído do tear era, então, colocado numa cuba de
água e pisado por homens, de modo a ficar consistente e macio. Mais tarde, o pisar
com os pés foi substituído por maços de madeira e depois por um pisão de
madeira, movido pela força humana ou pela força da água. Neste, o trabalho de um
homem chegava a substituir o de 40 pisoeiros. O moinho-pisão foi introduzido e
divulgado na Europa, produtora de têxteis, a partir do século XIII, embora fosse
conhecido desde os finais do século XI. Engenho semelhante seria utilizado, em
Luca, na Itália, para torcer o fio de seda, na centúria de Duzentos.
Para além dos pisoeiros, a indústria têxtil medieval conheceu ainda outros
profissionais, como os tosadores, ou seja, os artesãos que aparavam e igualavam a
felpa do pano, antes de lhes aplicarem a goma.
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A par da tecelagem, do apisoamento e da tosa, desenvolveu-se a tinturaria,
que permitiria a divulgação dos panos de cores várias, desde o vermelho e
púrpura, cores de luxo, aos azuis e verdes. Na técnica do tingimento, os panos
eram mergulhados em grandes tinas de água tinta com corantes animais, vegetais
ou minerais, consoante a cor com que se queria impregnar o tecido. A importância
destes oficiais nas revoltas populares, nas regiões produtoras de têxteis, como a
Flandres, tornou-os célebres com a designação de ongles bleus («unhas azuis» ou
tintureiros).
A técnica do tingimento era muito antiga e famosa na Antiguidade, onde a
cor púrpura, obtida do molusco, o murex, tornou célebres os Fenícios e
manter-se-ia como cor imperial no império bizantino. No entanto, se bem que cor de
luxo no Ocidente europeu, seria destronada como cor da realeza pela escarlata,
tecido que surgiria no século XI.
É, de facto, nesta centúria, que surgem as primeiras referências à escarlata, um
tecido de cor vermelha, com uma textura aveludada, vulgarmente indicado como o
tecido usado pelos reis e sua familia. A sua cor provinha de uma tinta, extraída de
um insecto mediterrânico, chamado grã ou cochiniiha. “Com a sua cor intensa, na
gama dos vermelhos, as escarlatas usufruem durante vários séculos o mesmo
prestígio que a púrpura antiga e ficamreservadas a um número restrito de
utentes”11) .
Para além da grã, usava-se na tinturaria o pastel que produzia os vtirios tons de
azul, desde os carregados aos mais claros, ou, combinado com outros corantes,
tingia de verde. A arte da tinturaria conheceu um grande desenvolvimento no final
da Idade Média, com a introdução de corantes vegetais, animais e minerais,
autóctones das regiões ou importados do exterior, como o pau brasil. Da variada
gama de cores vivas, passou-se para as cores sombrias, como os azul e verde
escuros, o violeta e o negro. Esta última impôr-se-ia como moda nos finais da Idade
Média, tanto mais que ela reflectia, inicialmente antes de ser assumida como gosto
pela nobreza, o acesso aos tecidos de seda dos grupos ricos do povo, aos quais
estava interdito o uso desedas de outra cor que não o negro12)
Devido à divulgação dos corantes e ao seu uso na indústria têxtil, os panos
de cor expandiram-se, cada vez mais, por um maior número de compradores,
sendo bastante acessíveis à maioria da população urbana em pleno século
XIII. Para os camponeses, a posse de um fato de cor era já uma realidade na
época de Trezentos.
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A escarlata e os panos de cor de qualidade e preço variado concorreram com a
sarja, outro tecido de lã com um ligeiro relevo em diagonal. Os mais pobres
vestiam-se de panos grosseiros de lã, como o burel, normalmente de cor
esbranquiçada que, usado como luto, tornaria o branco símbolo de dó até finais do
século XV, ou o bragal, em linho. Não parece provável que, no interior dos campos,
se fabricassem tecidos para uso próprio. Pelo contrário, é provável que as
pequenas oficinas dispersas pelas aldeias respondessem a uma procura de mão de
obra mais barata que a urbana, por parte dos produtores e vendedores de têxteis.
No entanto, a lã tinha outros usos, para além dos panos. Outras técnicas de a
trabalhar eram conhecidas: o trabalho com agulhas, uma ou várias. Com elas se
faziam meias, luvas e toucas. Mas é, sobretudo, para confeccionar os chapéus e
bonés de feltro, populares na moda masculina, a partir do século XV, que esta
técnica se desenvolveu e deu lugar a uma profissão, a do feltreiro. Com a mesma
arte se faziam as meias e as luvas litúrgicas em seda.
Não devemos esquecer ao falarmos da tecnologia têxtil, da produção de mantas de
lã que permitiram a especialização de alguns tecelões (tecelões de mantas), nem
do desenvolvimento que ela teve com a divulgação do uso das roupas de cama,
onde os panos de linho iriam sobressair, na sua diversa qualidade e origem, assim
como do uso dos panos de cobrir as mesas, nas refeições festivas. Raros e de luxo,
os tecidos domésticos transpuseram as mesas régias ou dos grandes senhores
eclesiásticos e nobres e aburguesaram-se já no início da modernidade, constituindo
tal como os talheres e outros objectos em metal, mais ou menos precioso, objecto
de referência nos testamentos e doações.
Como já mencionámos, a propósito do Egipto, o linho seria o têxtil mais utilizado, ao
longo dos tempos, como mortalha. Esta era, em geral, de tecido novo, destinado
desde a sua origem para tal fim. Mesmo os mais pobres eram amortalhados em
tecidos mais grosseiros, por doações das confrarias ou da Misericórdia, no mundo
cristão.
Assim, observamos que as técnicas de produção de tecidos e vestuário, nas várias
matérias primas, agregaram a si outras artes, sendo, ao longo dos séculos, uma
fonte de emprego para homens e mulheres. Fiadeiras, cardadores, tecedeiras ou
tecelões, tosadores, pisoeiros, tintureiros, sirgueiros(as), feltreiros, alfaiates(as),
gibiteiros, calceteiros ou calceiros, barreteiros, chapeleiros, luveiros, botoeiros,
sapateiros, borzeguieiros, costureiros(as) ou modistas, ou recentemente os(as)
estilistas fizeram parte das especializações que os fabricos de têxteis e de
vestuário, na sua complexificação e massificação com a criação da moda,
produziram.
As peles e o couro eram usadas também como vestuário, quer como peças
autónomas, quer como adornos. Aliás, o tratamento das peles especializou,
também, vários oficiais da indústria dos curtumes, pelo que aos artesãos acima
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referenciados juntavam-se os peleiros, os curtidores de peles para o fabrico dos
coiros ou os malheiros que faziam as cotas de malha, ou seja vestes de couro
sobrepostas com lâminas de metal, para os guerreiros.
Ao grupo podiam-se ainda agregar as bordadeiras que trabalhavam os desenhos
mais diversos, delineados a linhas de cores várias ou a fios de ouro e prata, ou
faziam aplicações de pedras preciosas ou de bijuterias nas vestes ou nos seus
adornos, como os cintos.
Mais tarde apareceriam as engomadeiras.
A agulha passou de osso a ser feita em aço e o Ocidente divulgou os dedais que foi
buscar ao mundo islâmico.
A revolução industrial teve a sua incidência na produção e na transformação das
várias gamas de tecidos. Tendo-se iniciado, desde o século XVII,
nomeadamente em Inglaterra, a chamada primeira revolução industrial iria provocar
uma grande inovação na produção têxtil e tornar aquele reino o primeiro centro
produtor de tecidos, quer de lã, quer de algodão.
Mas seria a centúria seguinte, aquela em que a invenção de maquinaria apropriada
ao fabrico têxtil iria conduzir à grande produção fabril, nomeadamente do algodão.
Voltemos ao linho, pois foi a esta fibra que se aplicou o primeiro invento que
procurava separar mecanicamente a fibra do talo. Desde o início do século XVIII,
que se usava a força da água para a gramagem do linho, graças a uma roda
denteada, movida hidraulicamente. A lã, por sua vez, continuava a ser esticada
manualmente, embora as fibras mais curtas passassem a ser cardadas por
máquinas, duas delas movidas manualmente, as inventadas por Lewis Paul, e outra
hidráulicamente, a de Daniel Bourn. Curiosamente, as três surgiriam no ano de
1748.
Também, nesta primeira metade de Setecentos, apareceram em França três
máquinas para estampar os tecidos, que tinham grande apreço entre os(as)
elegantes deste reino. Nelas se preparava o padrão desejado, adequando uma
linha de agulhas às perfurações de um cartão com o desenho, enrolado à volta de
um cilindro perfurado, seleccionando automaticamente os fios da urdidura
necessários à composição do padrão. Depois de cada passagem da trama,
virava-se o cilindro para colocar na posição adequada as séries seguintes de
perfurações. Jacques de Vaucanson teve o seu nome ligado a um destes inventos,
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que seriam melhorados para mais fácil utilização, no início do século XIX, por
Jacquard, dando origem aos chamados tecidos gobelins13) .
Vaucanson respondia ao apelo de Colbert, primeiro ministro de Luis XIV, que
procurava incentivar ao desenvolvimento e à inovação da indústria francesa. A seu
respeito, Bruno Jacomy escrevia o seguinte:
Prefigurando pela sua cultura o engenheiro do século seguinte, Vaucanson reflecte
muito mais um estado de espírito ancorado no mais fundo do ser humano, um mito
primitivo que o homem procura há muito concretizar. Da fina análise anatómica
necessária à realização de um andróide, o mais fiel possível à realidade, à dos
gestos do trabalho visando reorganizar um posto ou uma cadeia de produção, o
caminho é o mesmo. A concepção mecanicista que leva Vaucanson a fabricar os
seus autómatos, passada da teoria dos filósofos do século XVII à prática por um
verdadeiro mecânico, abre as portas à organização científica do trabalho com, por
consequência, todos os conflitos inerentes a toda a tentativa de reforma tocando as
práticas e os estatutos dos trabalhadores.
As reacções — revoltas e greves — com as quais Vaucanson se chocou, em 1744,
quando da aplicação dos regulamentos que redigira para a Comunidade dos
fabricantes de Lyon, prefiguram os numerosos conflitos sociais que despoletarão no
século XIX. (... .) Os problemas do maquinismo industrial estãojá presentes nos
homens comoVaucanson que, pela síntese do técnico de alto nível e do humanista
esclarecido, imaginam um universo idílico em que o homem será libertado pela
14)
máquina omnipotente .
Vaucanson seria também o inventor do moinho para torcer, ao mesmo tempo,vários
fios de seda.
O receio dos problemas sociais foi motivo para estancar algumas invenções,
como a do tear para fitas, que surgiu pela primeira vez em Danzig, no ano de 1600.
Utilizado em Londres, no início da centúria seguinte, teve a sua difusão limitada e
até restringida legalmente, devido a revoltas populares. De novo, um século mais
tarde, um tear para Semelhante finalidade, movido hidraulicamente, Seria proibido
em Basileia.
Em 1733, John Kay inventava a lançadeira volante. “A máquina manejava-se
empurrando alternativamente os cabos de uma corda de couro atada a dois
condutores ou tacos que deslizavam ao comprimento de uma espada de metal.
Estes golpeavam a lançadeira que corria sobre rodas ao longo de um batente. Um
único tecelão podia fazer assim o trabalho de dois, sempre que tivesse energia
suficiente para desenrolar os fios de uma tela de dupla largura, assim como para
13
14
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
14/55
lançar a lançadeira; via-se estimulado a fazê-lo, porque pela primeira vez a sua
posição era vertical”15) .
O invento de Kay produziria poucos benefícios práticos na altura, exceptoaumentar
a pressão sobre as fiandeiras a fim de que satisfizessem a necessidade de procura
de fio por pane dos tecelões e, alongo prazo, estimularia a invenção do tear
mecânico.
Richard Arkwright inventou a máquina de fiar contínua, movida a água, a
water-frame, enquanto o seu contemporâneo James Hargraves inventava a
jenny, ou máquina de fiar com fusos múltiplos.
Estas máquinas estão na origem da produção fabril dos têxteis e deram à Inglaterra
o domínio sobre a indústria algodoeira, à qual foram aplicadas.
Na máquina de Arkwright, quatro bobinas horizontais de madeira
sustentavam as mechas de algodão bruto, que havia sido previamente
lavado, cardado e preparado para ser fiado recebendo uma ligeira
torsão. A mecha era levada para baixo através de dois pares de rolos,
o segundo dos quais movia-se a maior velocidade que o primeiro para
a esticar, e continuava o seu caminho descendente até à base da
máquina através do braço de uma correia unida a um fuso. O fuso
levava também uma bobina — que se movia a uma velocidade mais
reduzida que o fuso graças ao primitivo mecanismo de enrolar uma
peça de estambre à volta da sua base —, à roda da qual se enrolava
o algodão já fiado, assegurando o seu enrolamento uniforme, tal como
em alguns tornos de fiar primitivos, por meio de puas colocadas no
pente.
A jenny, na versão melhorada de Haley,
era uma máquina ligeira mais adequada a fios de entramado que a
fios de urdidura ou aos fortes fios de calcetaria a que se aplicou
inicialmente a máquina de Arkwright. No caso da jenny, as mechas
eram extraídas de umas bobinas situadas na parte inferior da
máquina, fazendo retroceder uma barra colocada na parte superior da
máquina e que se move para a frente e para trás. Dois trilhos
comprimiam-se um contra o outro para segurar a mecha enquanto a
barra realizava o seu movimento de retrocesso, sendo torcida a
mecha por uns fusos na extremidade oposta da máquina; a barra
movia-se então de novo para a frente ao mesmo tempo que um arame
15
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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empurrava o fio para baixo, de modo a que este pudesse ficar
enrolado nos fusos16) .
Adaptação híbrida das duas máquinas anteriores era a máquina de fiar
intermitente, ou mule, de Samuel Crompton.
Para além das máquinas de fiar, conheceram-se ainda, no século XVIII, as
máquinas de cardar o algodão, que trabalhavam continuamente tendo como base
um cilindro coberto de puas, das quais se retirava o algodão por meio de um pente.
No final do século, no condado de Nottingham, empregava-se a máquina a vapor
de Boulton e de Watt numa fábrica de fiação. No início do século seguinte,
graças à utilização do vapor o custo da fiação do algodão descia para 1/lo do que
custava trinta anos antes. Tal facto permitiu que as exportações do algodão fossem,
para a Inglaterra, quatro vezes mais importantes que a exportação dos tecidos de
lã, constituindo metade de todas as suas exportações.
Assim a maquinaria era utilizada na debulha e batida do algodão bruto, na
cardagem e na fiação do algodão. O suíço Bodmer inventaria a máquina que
cardava e fiava e Roberts criaria a máquina automática, a partir da mule de
Crompton. Nela um único fiandeiro podia controlar 1200 fusos.
Além da quantidade, os industriais sentiram necessidade de melhorar a qualidade
da textura do fio.
Cartwright, em finais do século XVIII, inventava o tear mecânico que ficaria numa
fase experimental até ao final da guerras napoleónicas. Em 1850, a indústria
algodoeira inglesa empregava 250 mil teares mecânicos. O século XIX veria o
aperfeiçoamento desta técnica cada vez mais automatizada e que do algodão
passaria às outras fibras. Roberts aplicava o tear mecânico aos tecidos de
fantasia.
O tratamento, feito com soda cáustica aos fios de algodão, por João Mercer
mostrou que as fibras se tornavam mais elásticas e se podiam tingir com maior
facilidade. Surgiria assim o algodão mercerizado. Aperfeiçoada esta técnica, o
algodão brilhante começaria a fazer concorrência à seda.
Com o tear de Jacquard mecanizou-se a indústria da seda, que teve a
particularidade de penetrar nas tecedeiras de seda que trabalhavam em casa. Mas
a indústria da seda europeia sofreria alguns sobressaltos com a doença na cultura
do bicho da seda, que Pasteur estudou tendo descoberto a sua cura. Na Alemanha,
16
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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inventou-se um novo processo de tratar previamente a seda, de modo a torná-la
mais pesada e brilhante.
Apenas a partir da segunda metade do século XIX, a mecanização seria utilizada
na fiação da lã e do linho. A partir da máquina do francês Girard, aperfeiçoada
em Inglaterra, criou-se um processo mecânico de separar as fibras do linho
das fibras de estopa, embora todos os tecidos de linho de qualidade
continuassem a obedecer a processos manuais. Enquanto a estopa podia sofrer
o processo mecânico similar ao do algodão, o linho veria o seu processo de
produção mecânica complicado pelos vários procedimentos de que a fibra
necessitava antes de ser fiada. A mecanização da fiação da lã andaria muito
próxima dos processos manuais.
A grande revolução, na indústria textil, surgiria no início do século XX, com o
aparecimento do tear automático, nos Estados Unidos. No entanto, a sua difusão
seria lenta, devido à actividade sindical que protegia os interesses dos
trabalhadores, para além de que, em termos de investimento de capital, era
dispendioso. Ao trabalhador apenas cabia reparar as roturas do fio da urdidura e da
trama e abastecer as bobinas, quando fosse necessário17) .
Aperfeiçoaram-se, neste século, os teares automáticos, movidos a electricidade
(Fig. 21), onde vários carros de fios permitem tecer padrões de cores e motivos
diversos. Os tecidos lisos ou estampados, finos ou espessos mesclam-se de fibras
naturais e de fibras químicas artificiais ou sintéticas. Ao desenho, recentemente
ainda feito manualmente por hábil artista, junta-se agora a figura do designer que,
com o auxilio do computador e de programas especiais, compõe padrões vários
para aplicar na urdidura do tecido.
Os tecidos e a sua transformação passaram a integrar uma cadeia de montagem:
uma única peça podia passar por muitas mãos diferentes, antes de terminar numa
combinação de operários manuais e operários de máquinas.
O crescimento da indústria têxtil ficou também a dever-se à invenção da máquina
de coser, o primeiro instrumento mecânico de uso individual, o qual seria
também aplicado ao trabalho do couro, quer na indústria docalçado, quer na
encadernação de livros18) .
A máquina de coser revolucionaria o trabalho doméstico feminino, na
Inglaterra e nos Estados Unidos, tal como contribuiria para o relativo
abaixamento dos preços dos produtos. A seu respeito, o editorialista do The
New York Tribune escrevia o seguinte, em 1859:
17
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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A agulha cairá em breve em desuso, tal como a roda de fiar, o ofício da tecelagem
ou as agulhas para tricotar. As mulheres trabalharão menos e serão mais bem
pagas. As pessoas trabalharão mais comodamente, vestir-se-ão melhor, renovarão
19)
mais vezes o seu vestuário, enfim, apresentar-se-ão melhor .
Integrada nas fábricas de confecção de vestuário, ela iria permitir maior emais
rápida produção de roupa em menor espaço de tempo, permitindo a produção em
série de vestuário estandardizado. Thimonnier, em França, Howe, em Inglaterra, e
Singer, nos Estados Unidos teriam os seus nomes a ela ligados, embora fosse este
último quem tivesse produzido a primeira máquina de coser doméstica. Em França,
seria utilizada na produção, em série, de uniformes militares, antes de se divulgar
entre as costureiras e alfaiates franceses. Em 1 83 1, , duzentos alfaiates
revoltaram-se contra a utilização da máquina de costura e alegavam o direito ao
trabalho, enquanto a guarda nacional protegia as máquinas de Thimonnier que, dez
anos mais tarde, Howe aperfeiçoaria no tipo de costura e de ponto e Singer com a
invenção do pedal. Accionada pelos pés, a máquina de costura amen-cana
libertava as mãos que guiava o tecido e tornar-se-ia o modelo dessas máquinas,
mesmo quando adaptadas à electricidade, já na segunda metade do século XX.
Nos Estados Unidos e, mais tarde, na Alemanha desenvolver-se-ia uma autêntica
indústria de fabrico de máquinas de coser. Curiosamente, a importância deste
invento é comprovado pelo facto de a sua venda ter iniciado a «venda a
prestações», a partir de uma verdadeira campanha de marketing nacional e
mundial, desenvolvido pela empresa Singer que, depois de ter conquistado o
mercado norte americano, investiu no domínio do mercado francês começando por
fornecer as máquinas para a produção dos uniformes militares, em 1855. A Singer
tornava-se a primeira multi-nacional americana. De pontos simples como era o
ponto de lançadeira da primeira máquina, passar-se-ia para vários tipos de pontos
de costura de qualidade e perfeição confirmadas.
Das primeiras máquinas manuais, que cosiam 20 pontos por minuto, às máquinas
movidas a vapor dos anos 1870 ou às máquinas eléctricas, que ultrapassam os 200
pontos por minuto, no início do século XX, a máquina de costura foi constantemente
aperfeiçoada para aumentar a sua velocidade, leveza e segurança. Uma velocidade
elevada necessita de uma boa lubrificação e de arrefecimento da agulha, graças a
um sistema de ventilação. Nos anos de 1950, algumas máquinas realizavam cerca
de 4500 pontos por minuto, tendo-se atingido hoje 8000 e mais. Graças à
informática, as máquinas podem ser, hoje, programadas para trabalhos
20)
específicos
Completava na produção do vestuário a complexificação das funções da máquina
de costura, a evolução da passagem dos tecidos, primeiro com ferro quente a
carvão, depois a electricidade e, por fim, a electricidade com vaporização
19
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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automática e controle de temperatura em função da qualidade do tecido. Do ferro
manual passou-se às máquinas de engomar a vapor, nos finais do século XIX, e,
depois, eléctricas na segunda metade da centúria seguinte.
Cerca de 1860, apareciam, em Inglaterra, as máquinas para cortar o tecido, ou
vários tecidos ao mesmo tempo, que substituiam as grandes tesouras de outrora.
No século seguinte, surgiam as tesouras eléctricas para o mesmo fim.
Hoje, a concepção e a padronização são feitas por computador, “que optimiza a
utilização do tecido, associando o seu corte por laser dirigido pelo computador” ao
modelo que se deseja produzir, com melhor qualidade e rapidez21) .
No entanto, a par das grandes fábricas de têxteis continuaram a permanecer as
pequenas empresas familiares que trabalham o linho ou a lã. Estas pequenas
empresas são um exemplo de “especialização flexível” avant la lettre, e de
«economia informal» antes que a noçãofosse importada aos países em vias de
desenvolvimento22) .
21
22
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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1.2 Os tecidos, o vestuário e a sociedade
Vestir-se para resguardar-se das condições climatéricas ou para tapar a nudez é
uma conquista do ser humano que responde a uma sensibilidade em relação ao
ambiente natural, ou ao outro género (o pudor/castidade ou o adorno, por exemplo),
ou ainda a uma interacção com o sobrenatural. Roland Barthes definia assim as
três funções do vestuário, ao longo dos tempos: protecção, pudor e adorno23) .
Não tendo nascido o indivíduo coberto, naturalmente, por uma camada depelo
abundante que o protegesse dos grandes frios, provocados pelas várias
glaciações, é legítimo supôr que se vestiu para se resguardar do clima,
independentemente de outros factores psicológicos e sociais que lhe foram sendo
agregados: uniformidade e originalidade, imitação e distinção, conformidade social
assim como identidade própria, segundo os parâmetros
com que Georg Simmel definiu a moda24) . Acresce que o vestuário é símbolo de
sociabilidade, de sexualidade e de distinção, pelo que, para além de ser um
sinal de civilização versus barbárie, é também um signum social complexo por
aquilo que representa.
O avanço da civilização ocidental e do cristianismo sobre as outras culturas iria,
como sabe, sobrepôr as técnicas do vestuário europeu sobre as dos outros povos,
nomeadamente nos trópicos americanos. Recordemos o espanto de Pero Vaz de
Caminha, no seu primeiro contacto com os índios do Brasil:
(...) quando o batel chegou à boca do rio eram ali dezoito ou v inte homens pardos,
todos nus, sem nenhuma coisa que lhes cobrisse suas vergonhas (. . .) e um deles
lhe deu um sombreiro de penas de aves compridas com uma copazinha de penas
vermelhas e pardas, como de papagaio (...).
Os Portugueses retribuiam, oferecendo barretes, carapuças e camisas25) .
Poderiamos, a propósito desta troca de dons, afirmar que a roupa. aqui
representada pela camisa e pelos chapéus, é um dos signos culturais daquilo que
Norbert Elias chamaria a civilização dos costumes26) .
Se exceptuarmos os tempos pré-históricos sobre os quais pouco sabemos, embora
os códigos pudessem ter sido os mesmos (Fig. 24), somos obrigados a reflectir
23
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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sobre o mimetismo que levava os que privavam com os chefes, reis e outros
poderosos a seguir-lhes os gostos. Tal se verificou na construção de túmulos e
habitações e o mesmo deve ter sucedido com o vestuário ou o penteado. A moda
era criada pelos que detinham o poder e deles, por imitação, descia aos altos
funcionários e seus familiares.
As peles dos animais caçados foram a sua primeira incipiente cobertura, antes
que aprendessem a trabalhá-las e a talhá-las, embora não dispusessem das
técnicas adequadas. Para que as peles não ficassem inaproveitáveis, porque rijas,
aprenderam a amolecê-las, mastigando-as durante muito tempo, tal como ainda
hoje fazem as mulheres esquimós, após o que as molhavam e batiam com um
maço, depois de, com uma raspadeira, lhes terem retirado todos os resíduos de
came. Descobriram depois, que as peles amoleciam, quando untadas com
azeite ou com uma outra gordura líquida. Em seguida, descobriram a técnica
dos curtumes. Perceberam que mergulhando-as em água, misturada com a
casca de carvalho ou de salgueiro, nomeadamente este que contém ácido
tânico, ou seja, tanino, as peles ficavam macias e impermeabilizadas. Depois
restava cortá-las e cosê-las. A invenção da agulha, em osso ou em marfim,
surgiu no Paleolítico superior e seria tão importante, como o fogo ou a roda.
Por outro lado, os povos que viviam em climas temperados ou quentes, arranjavam
outras soluções para o seu vestuário, como as fibras vegetais e animais. O feltro,
obtido de lã ou de pelos molhados e dispostos sobre uma pele que se enrolava bem
e se batia em seguida, deve ter sido um dos primeiros tecidos que a humanidade
conheceu, quer para se vestir, quer para se resguardar em tendas.
Da casca da amoreira e da figueira, mergulhada em água, sobreposta em camadas
e batida com um maço, até fazer uma massa compacta, fazia-se um «tecido», que
era impregnado de gordura e penteado, tomando-se resistente. Este tecido, difícil
de trabalhar, era enrolado à volta do corpo.
Mas outras fibras vegetais foram cedo utilizadas pelo homem, tais como o linho, no
Próximo Oriente antigo, o cânhamo na China, o algodão na Índia ou a seda no
Extremo Oriente, que seria divulgada na Ásia ocidental pelos Persas. A lã, usada
desde o Neolítico pelos povos que não podiam cultivar aquelas plantas, era tida por
impura, entre os Egípcios, embora fosse trabalhada na Mesopotâniia, no norte da
Síria ou na Escandinávia e noutras zonas frias da Europa. NaAmérica do sul, as
populações cobriam-se com os pelos do lama27) .
Leroi-Gourhan reconhecia a inconstancia da moda em todos os povos e em todas
as épocas, observando-se sempre variações consideráveis na forma, na cor, na
decoração e na textura, as quais evoluiram, em ritmos irregulares, segundo o gosto
27
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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estético de uma dada época e povo. O vestuário é precisamente uma das técnicas
com mudanças lentas; o estético impõe-lhe variações no detalhe, mas as suas
características essenciais são muito rebeldes à evolução28) .
O fabrico do vestuario, porem, possui um profundo significado para a história
da humanidade, pois reflecte o espírito estético de cada tempo e povo, para
além de, durante milénios, o ser humano ter confeccionado as suas próprias
vestes, antes de ter surgido o artesão especializado.
De início, indiferenciadas na forma, as vestes reduziam-se a um tecido
rectangular que se enrolava e prendia à volta da cintura, forma primitiva da
saia a que acrescentou um outro pano, a tapar o tronco e se prendia nos
ombros com uma fIbula, permitindo a agilidade dos movimentos dos
membros superiores e inferiores. Foram usados numa ou nas duas peças por
Egípcios e Assírios, mas seria certamente anterior.
Enquanto aqueles usavam o linho, os Mesopotâmios surgem, na estatuária,
representados com saias espessas de lã ou de peles, sobrepostas em vários
níveis, acrescidas de chailes franjados, que tapavam o tronco (Fig. 25). Cedo,
deixaram estas peças de vestuário para as mulheres e os homens passaram a
vestir-se com uma túnica com mangas e calçaram botas. Assim os vemos nos
baixos-relevos dos palácios assfrios, no mesmo jeito com que os archeiros persas
seriam retratados em Khorsabad. Em breve, aqueles adoptariam as calças, que a
rainha assíria Semiramis inventara, para poder comandar o seu exército,
montada num cavalo. Essa peça de vestuário tornar-se-ia o traje típico dos
homens e das mulheres persas e expandir-se-ia por todo o Oriente e mundo
muçulmano, sendo, mais tarde, trazida para o Ocidente pelas grandes
migrações de povos germânicos, a partir do século I a. C.
O traje distinguia os estratos sociais e o género. Assim, no antigo Egipto, os
escravos e os homens humildes andavam quase nus. O linho era o tecido usado
por vivos e por mortos. Mesmo quando a lã se divulgou com a conquista deste
território por Alexandre da Macedónia, ela permaneceria interdita aos sacerdotes,
porque impura. A veste era direita, drapeada, quer para o homem, quer para a
mulher, distinguindo-se, apenas, pelo comprimento. O branco era a cor
preferida. Não cobriam a cabeça, com excepção do faraó que aparecia sempre
representado com a dupla coroa do Egipto, ou dos guerreiros.
Em Creta, o género diferenciava também o vestuário. Enquanto o homem vestia
uma saia curta, enrolada à cintura, deixando o tronco descoberto, as mulheres
usavam saias de panos cortados, sobrepostos até aos tornozelos, presas à cintura
fina com um cinto, e um corpete curto e trançado que deixava os seios descobertos
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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(Fig. 26). Ambos apareciam preferencialmente de cabeça descoberta e com
cabeleiras trabalhadas, embora os homens pudessem também aparecer com uma
espécie de turbante ou um chapéu.
Indiferenciadas permaneceriam as túnicas gregas, constituídas por uma peça
única que se enrolava à volta do corpo, e se prendia num ou nos dois ombros
por û bulas e à cintura por um cinto ou uma corda. Os tecidos usados eram a
lã e o algodão. O tamanho variava, sendo nos homens, normalmente, até aos
joelhos e nas mulheres até aos pés (Fig. 27). Acrescentaram-lhe mangas que
fizeram a partir de duas peças de pano cosidas. Para o frio tinham um manto amplo
ou uma capa curta que vestiam sobre a túnica. Os chapéus de feltro eram
reservados para as viagens. Calçavam sandálias de tecido de lã. O coiro, protegido
por peças de metal, era o vestuário do guerreiro que era completado por capacete,
viseira, grevas ou cnémide e escudo.
Ao contrário dos Gregos, os Etruscos vestiam-se de peças cosidas e
drapeadas. Criaram o «vestido-túnica», com mangas curtas e sem cintura,
usado pelas mulheres, assim como a toga, feita de uma peça de pano semi-circular.
Calçavam botas altas, fechadas com laços, com origem provável na Ásia Menor.
Dos Etruscos, os Romanos adoptaram a toga ampla e aprenderam a coser o
vestuário (Fig. 28).Ao contrário da túnica grega, a túnica romana era cosida e
vestida, enfiando-se pela cabeça, e podia ter, ou não, mangas.
As mulheres cobriam a cabeça com um manto, quando saíam de casa. As sandálias
eram de tiras de couro e para a chuva calçavam umas botinas, que copiaram dos
Gauleses. Os homens adoptaram também as calças, usadas pelos povos
bárbaros29) .
O Baixo Império (séculos III-V) e a sua valência oriental ou bizantina alteravam
gostos e hábitos. Os tecidos eram agora espessos e pesados e procuravam
esconder todo o corpo. A joalharia desenvolvia-se e surgia aplicada aos
tecidos, nas várias componentes da peça de vestuário. “O Império bizantino,
como a China imperial, não conheceu, no domínio do império do vestuário, nem o
princípio da sedução, nem o da utilidade”30) . A lã, usada nosprimeiros tempos do
Império, foi substituIda pelo linho e pelo algodão egípcios, e depois pela seda vinda
da China. Bizâncio abusaria da púrpura e dos bordados sumptuosos, nos
tecidos usados pelas altas hierarquias do Império à semelhança da familia imperial.
Cedo, imitariam a moda oriental, com o turbante para a cabeça ou o amplo e
pesado manto com mangas, de origem síria, cujo comprimento ia até aos pés.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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A influência do vestuário romano nas vestes dos povos germânicos invasores
acompanhou a sua latinização e prolongou-se nos vários reinos que eles
fundaram. Assim, as investigações arqueológicas efectuadas na abadia de S.
Denis, em Paris, trouxeram à superfície o corpo da rainha merovIngia, Arnegonda.
Este encontrava-se coberto por uma fina camisa de linho, uma túnica de seda
violeta e por uma longa túnica exterior em seda vermelha, aberta à frente e com
mangas amplas. Um cinto largo, cruzado nas costas e descido à frente, segurava a
túnica. Um véu até aos pés, preso por uma fibula de ouro ricamente esmaltada,
completava a toi-lete. Os sapatos fechados eram em coiro preto, com fitas
enroladas à voltada perna31) .
Carlos Magno, imperador dos Francos, (séc. VIII) seguiria a moda bizantina,
vestindo à hora da morte uma túnica com mangas ornamentada com galões de ouro
e, sobre ela, uma dalmática de brocado bordado. Os sapatos em couro vermelho
eram bordados a ouro e esmeraldas. A coroa de ouro era incrustada de pedras
preciosas e de esmaltes32) . Segundo Eginhardo, o seu vestuário quotidiano era
mais sóbrio: uma túnica interior em linho ou em lã, designada camisa, e outra
exterior, ornada a seda colorida. No inverno, vestia um manto curto, debruado a
peles. As bragas acompanhavam as pernas até abaixo dos joelhos. Na cabeça
usava uma coifa.
O vestuário feminino compunha-se também de duas túnicas: a interior, designada
camisa, tinha mangas compridas e apertadas, enquanto a exterior era ligeiramente
mais curta e de mangas largas. O manto era posto sobre a cabeça, que também
podia ser coberta por um grande véu que se foi encurtando.
O fato militar era de couro coberto por escamas de metal ou por uma malha
metalizada. As pernas e os antebraços são revestidos por grevas e punhos de
couro, respectivamente. O capacete era de metal.
As cruzadas (séculos XI-XIII) trouxeram para o Ocidente o contacto com uma
civilização mais rica e sumptuosa. Para além do luxo, os cristãos conheceram
novos tecidos, a arte de os produzir e de os confeccionar. As mulheres
adoptaram o véu islâmico que lhes cobria o pescoço até ao queixo, deixando
apenas o rosto descoberto. Passaram a usar vestidos abotoados aos lados, que
moldavam o busto. A túnica ajustou-se ao corpo e as mangas abriam junto ao
pulso. A silhueta tornava-se esguia e cintada, fazendo sobressair o busto e os
ombros, enquanto a saia, ampla, caía em pregas. Uma gola ou colar, chamada
gorjal, feita em tecido fino ou em seda, cobria a parte superior do peito, moldava o
pescoço e enquadrava o rosto. O capuz que fizera parte da capa, libertou-se dela e
31
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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tornava-se uma peça autónoma, na segunda metade do século XII. As coifas eram
usadas, no interior das casas, por homens e por mulheres.
Nesta centúria, alterou-se também o vestuário masculino. As calças ou bragas
alongaram-se até aos pés, sendo atadas à cintura por um cordão. Eram fechadas
no vestuário do indivíduo nobre e abertas no do povo. As meias, em lã ou em
tecido, acompanhavam a perna. No século XI, subiam até ao joelho e no seguinte
até às coxas, cobrindo as bragas. Algumas meias chegavam até aos calcanhares;
outras cobriam o Pé todo e traziam na planta da pé uma pequena sola de couro,
que possibilitava andar sem sapatos, no interior da habitação. À medida que as
meias subiam, as bragas encurtavam-se, transformando-se em pequenos calções
que desapareceriam para dar lugar à meia-calça.
O vestuário diversificava-se: capas, mantos, saios, camisas, bragas, meias eram
confeccionados nos tecidos comprados aos mercadores de panos por alfaiates
mais ou menos experientes, ou adaptados pelos mais pobres a partir de vestes já
usadas anteriormente. Aliás, o vestuário popular era o que se transformava
mais lentamente, passando o seu uso de pais a filhos, através de sucessivas
adaptações. Ele constituia aquilo que Françoise Piponnier chamaria «a longa
duração do vestuário popular»: “Desde os tempos carolIngios até ao século XIV, a
lentidão das evoluções e, em certos casos, a imobilidade são nítidas”33) . Camisas
curtas para os homens e longas para as mulheres, feitas em tecido modesto, como
o bragal, eram acompanhadas por uma capa grosseira e pelas coifas de lã ou de
tecido para a cabeça. As calças cobriam os membros inferiores, cujas
extremidades, na generalidade, são representadas na iconografia como nuas. No
entanto, as gentes do povo também se calçavam, nomeadamente, com botas de
couro ou socos de madeira.
Trabalhadores rurais ou oficiais de um ofício sentiram, cedo, a necessidade
de criar um fato para o trabalho e um fato para os dias festivos. Mangas curtas
para libertar o movimento dos braços, camisas fendidas aos lados para melhor se
prenderem, deixando as pernas livres, calças largas, para mais facilmente se
poderem arregaçar, respondiam às necessidades impostas pelo trabalho. O avental
tornou-se uma peça importante no vestuário dos homens e das mulheres do povo,
independentemente das suas actividades. Acompanhando até aos pés o vestido
feminino, o avental, inicialmente de cor branca, constituiria parte integrante do
vestuário da mulher do povo, mesmo nos dias de festa ou de descanso. Atente-se,
ainda hoje, nos trajes tradicionais populares.
Os chapéus também variavam: o chapéu de palha de abas largas, usado pelo
camponês, para se proteger do sol no verão, o capuz de lã ou de tecido grosso do
pastor, durante o inverno, as coifas com um maior número de utilizações em
momentos e offcios diversos.
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Os mais ricos, além da variedade de tecidos, tinham também ao seu dispor uma
variedade de peles de animais (arminho, astrakan, castor, raposa, coelho) que
utilizavam como agasalho ou como adorno de mantos, capas e outras vestes e que
traduziam riqueza e prestígio social. Cedo chegavam aos chapéus. Devido à sua
posição na sociedade e ao estilo de vida mais dado a funções cortesãs, quando
não se encontravam em guerra, os altos dignitários laicos, e também alguns
religiosos, eram mais permeáveis ao sentido estético e à moda. De cabelos curtos
ou longos, frisados ou lisos, vestuário apropriado a caçadas, à vida no paço, a
viagens ou à guerra, calçado de biqueira curta ou longa, a fidalguia, depressa se
viu imitada pela população citadina detentora de riqueza. A partir do século XIII,
divulgou-se o uso dos bordados e das aplicações de pedras, mais ou menos
preciosas, no vestuário e respectivos adornos.
A guerra e os desportos de destreza bélica requeriam vestuário próprio. Surgia,
assim, a cota de malha até ao joelho. Ineficaz com a invenção da bésta, obrigou à
invenção da couraça, composta por várias partes: a central que protegia o corpo
até à cintura, as partes inferiores protectoras das pernas, as partes superiores a
acompanhar os braços, e a intermédia a proteger as ancas. Juntava-se-lhe o
capacete, a viseira, a gorj eira e as luvas. E surgia a armadura completa do
guerreiro nobre.
A necessidade de vestir uma peça de roupa justa ao corpo, em tecido ou em couro,
sob a armadura, conduziria à moda masculina do vestuário cingido à silhueta, que
escandalizaria o século XIV. «Moda vinda de Itália, segundo uns, de França,
segundo outros, mas sempre do exterior; em todos os casos, ela foi ocasião para
condenação, quer pelos clérigos, quer pela burguesia, da decadência dos costumes
do irrequieto grupo social cuja prepotência e luxo eram cada vez mais mal
suportados pela sociedade»34) . As duas peças masculinas, gibão ou tabardo e
calças e, sob aquele, a camisa curta de tecido fino, tendiam a sobrepôr-se à veste
comprida (opa ou roupa), acabando por prevalecer como o vestuário masculino
característico, deixando o brial e o pelote às mulheres. No século XV, o gibão, cada
vez mais curto, exigia o uso da braguilha. A silhueta masculina afirmava-se pelos
ombros excessivamente largos para uma cintura e ancas demasiado estreitas,
como pode observar no conhecido painel de S. Vicente, atribuído a Nuno
Gonçalves ou no retrato de D. Afonso V.
Pelo contrário, os idosos, os médicos e os letrados mantinham-se fiéis ao manto ou
à opa.
O costume de cobrir a cabeça gerava também uma grande variedade de modelos
de chapéus: sombreiros, capeirões, capuzes e coifas mais ou menos ponteagudas
e compridas.
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À variedade de vestes correspondia a variedade das cores e dos tecidos finos ou
das peles utilizados. O negro tornava-se, com o duque Filipe o Bom, da
Borgonha (genro de D. João I de Portugal), sinal de luto, enquanto noutros
lugares o burel exteriorizava o mesmo sentimento, quando usado por reis e
nobres. O negro era, também, a cor usada pela minoria judaica, em alguns reinos
europeus.
O vestuário feminino não evoluiu tão facilmente, quanto o masculino, ao contrário
do que aconteceu nos últimos dois séculos. Pertencendo ao silêncio da História, as
mulheres não nos aparecem muito referenciadas quanto ao vestuário e ao seu
preço. Parece, no entanto, que conseguiam vestir menos caro que os homens do
seu tempo.
No conjunto, a função desempenhada pelas princesas no desenvolvimento do luxo,
inseparável do desenvolvimento das cortes medievais, parece secundária, o que
está conforme às concepções medievais da superioridade~do homem em relação à
35)
mulher .
Nas mangas, na cintura e nos chapéus, residia a variedade da moda feminina. O
vestido comprido, brial e pelote, sobre a camisa fina era acompanhado pela
cobertura da cabeça, fosse ela feita por um véu, por vezes comprido, que a tapava,
ou por um chapéu. Os bordados ou as peles acompanhavam as extremidades da
saia, das mangas ou toda a roda do manto, podendo-se estender pelas bandas
laterais ou pelo capuz. A cintura definia-se no seu lugar, enquanto as mangas se
alargavam, abaixo do cotovelo e a saia se tornava ampla. Em meados de
Trezentos, a sobressaia ou pelote abria-se aos lados ou à frente e começava a
aparecer um leve decote.
Curiosamente enquanto, em finais do século XIV e na centúria seguinte, o negro e
as sedas conquistavam a moda masculina, a moda feminina optava pelas peles
brancas e pelas cores claras. É pelo veludo negro que as princesas chegariam a
esta cor, nos dois séculos seguintes.
Os chapéus apresentavam-se numa variedade de formas, desde as simples
crespinas aos exageros dos chapéus cónicos ou dos hennins bicónicos, ornados
por múltiplos véus (Fig. 29). A silhueta feminina, ao contrário da masculina, não
acentuava os ombros. Reflexo da função primeira da mulher nobre, gerar filhos
varões à família do marido, a moda estreitava a cintura, que subia abaixo dos seios,
e fazia salientar o ventre, como se a mulherjovem estivesse em permanente estado
de gravidez.
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Pelo contrário era na mulher citadina rica que mais se afirmava a variedade de
vestuário, em cores e tecidos, enquanto o homem preferia a veste comprida e
escura.
O vestuário diferenciava-se também por regiões. Assim a moda italiana era
diferente da francesa e inglesa ou da peninsular e estas da polaca ou das nórdicas.
O modo de trajar da Península Ibérica possuia uma certa originalidade perante as
demais, marcado que se encontrava pela influência islâmica.
Mas se o nu era visto com naturalidade nos tempos medievais, a verdade é que, em
certas situações, a ausência parcial de roupa era entendida como uma humilhação.
Por exemplo, o caso dos presos ou dos condenados que se apresentavam
publicamente em camisa. A roupa simbolizava respeito social, distinguindo estratos
sociais e os próprios ciclos da vida.
Da Itália partiria a moda da Renascença. Desapareciam as figuras longas, os
chapéus cónicos, os sapatos ponteagudos, as roupas justas. O vestuário
tornava-se, agora, pesado, largo, com as mangas volumosas e bordadas a pele e a
silhueta apresentava-se ampla. Com a invasão da Itália por Carlos VIII de França, a
moda das prósperas cidades italianas era imitada na corte francesa. Daqui emigrou
para a Inglaterra, onde a corte de Henrique VIII a seguiu, dando aqui origem ao
estilo Tudor. Os decotes ampliaram-se mostrando os ombros. Quadrados no
vestuário feminino e direitos nas vestes masculinas, permitiam libertar o pesçoço da
roupa. Os chapéus de feltro ou de veludo acompanhavam a cabeça, tendo
desaparecido a altura e a largura das abas dos chapéus da centúria anterior.
A profusão das cores aparecia como uma nftida influência alemã ou, melhor, suíça,
pois advinha da presença do exército suíço de Luis XI de França, vencedor do
duque de Borgonha, Carlos o temerário. «Eles teriam remendado, diz-se, as suas
vestes usadas com os tecidos caros (seda, damasco, brocados) tirados aos
vencidos». A moda dos «remendos», jogando com tecidos de cor diversa,
divulgou-se na corte francesa, graças aos duques de Guise, e daqui passou para a
Inglaterra, com o casamento da irmã de Henrique VII com Luis XII de França36) .
O gibão de veludo, cetim ou panos dourados tornava-se mais comprido que
anteriormente. O gosto pelas jóias e pelos tecidos caros acentuava-se por toda a
parte, assim como as cores vivas onde sobressaíam os tons de vermelho. O
vermelho mantinha-se como a cor exclusiva das elites, de tal modo que nas revoltas
dos camponeses alemães, uma das suas reivindicações era a permissão do uso
desta cor.
As calças dos homens eram folgadas e apertadas acima dos joelhos com ligas,
permitindo ver as meias em seda, lã ou tecido fino. Os chapéus de feltro diminuiam
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o tamanho das abas. Jóias e bordados ornamentavam os gibões, chapéus ou os
sapatos da gente rica, enquanto as peles debruavam e ornavam os mantos largos,
geralmente sem mangas, que se tornariam característicos na Europa reformada. Os
cabelos continuavam curtos.
No início do século XVI, a moda começava a divergir, distanciando-se o vestuário
da Península Ibérica do do resto da Europa. Ali, a austeridade da corte dos Reis
Católicos e a influência muçulmana não a tinham marcado com o colorido dos trajes
da Europa central e da corte francesa. Em meados da centúna com as guerras da
religião, a Reforma em algumas regiões da Europa central e nórdica ou a
Contra-Reforma, na Europa católica, a moda optou pela austeridade e pelos tons
escuros, devido à influência espanhola que predominava na Europa da época e se
prolongaria pelo princípio do século XVII. Era a hegemonia da Casa de Áustria e de
um império que abarcava a Europa central (Alemanha e Áustria), os Países Baixos,
a Espanha (e Portugal), o sul de Itália (o reino de Nápoles) e a América espanhola.
As cortes de Carlos V ou Carlos I de Espanha e de Filipe II ditavam a moda.
As cores escuras, negras, invadiram as cortes de França e de Inglaterra, esta
última com o casamento de Maria Tudor com o jovem Filipe II «O vestuário
espanhol traduzia na sua rigidez toda a severidade da corte da Contra-Reforma
católica. Apenas contava a dignidade e o aparato. Os gibões eram acolchoados do
pescoço à cintura, de modo a eliminar pregas e franzidos. Este acolchoamento,
chamado «barriga de pato» (ou «panseron») era feito de bocados de tecidos, pelo
de lã, crina de cavalo, algodão ou mesmo de farelos...» e “tornava a cintura fina,
enquanto as calças eram também acolchoadas nas ancas, arredondando-as”37) .
O vestuário identificava a pertença a um grupo, o que era traduzido na própria
figura, retratada arrogantemente de pé, arrogância que era salientada pela cabeça
erguida e estática, impostas pelas golas de folhos, chamadas popularmente «mós»
ou «rodas de charrette», pela sua forma redonda e larga (Fig. 30).
As vestes sobem, cobrindo o pescoço com grandes golas que impediam os
movimentos da cabeça. Nas senhoras, as grandes golas de folhos partiam de um
decote quadrado à frente, abrindo-se em leque. A gola tornar-se-ia símbolo de
prestígio social, apenas a podendo usar a famflia real e os altos membros da
nobreza.
Os cabelos eram pintados de louro em França, para salientar a palidez do rosto,
enquanto em Inglaterra a moda era o ruivo. As perucas e os postiços surgiam
como moda, assim como as «anquinhas», feitas de barbas de baleia ou de ripas
de madeira, acentuavam a largura de umas ancas que contrastava com a cintura
fina das mulheres . Assim, as saias ou são levemente direitas ou amplas, com
anquinhas, no final do século XVI, antecipando, desse modo, a moda da crinolina
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francesa. Além do corpete e da saia ampla, o principal vestuário das senhoras era
um manto que caía dos ombros e ao qual se acrescentavam, por vezes, mangas
falsas amovíveis.
Os acessórios divulgavam-se como os mantos de peles curtos ou compridos, as
meias altas bordadas ou não, os punhos de rendas, as luvas, os lenços finos de
renda, usados pelos e pelas elegantes da época, os sapatos de couro com tacão
alto em madeira e os leques. As botas inicialmente usadas para montar,
divulgaram-se e subiram acima dos joelhos até às coxas. Bem conhecidas ficaram
as botas dos mosqueteiros do rei de França, divulgadas com o traje, pelo cinema.
A partir da segunda década do século XVII, a França voltou a ditar a moda, com o
regresso à simplicidade no vestuário, no tempo de Henrique IV. Abandonaram-se
os espartilhos, as «anquinhas», as golas altas arrendadas que foram substituidas
por golas caídas feitas de renda. Os cabelos compridos e soltos eram usados por
homens e mulheres. Estas abandonaram o chapéu, passando a cobrir o cabelo com
um fino véu de renda ou um capuz. Os decotes do vestuário feminino eram ousados
pelo que, por vezes, as senhoras cobriam-nos com um peitilho de fina renda. A
excentricidade da época revelou-se nos sinais postiços, as mouches, feitas de seda
negra que se colocavam no rosto. Durariam até à Revolução Francesa.
A extravagância marcaria a moda das cortes de Luis XIV a XVI e quase todas as
cortes suas contemporâneas. Mais ousado, agora, o decote feminino mostrava os
ombros e parte dos seios; as mangas chegavam até aos cotovelos, tal como as da
camisa de renda, deixando livres os braços. As saias, em número de duas,
apareciam desniveladas, deixando a da veste superior ver a saia interior; a cintura
e o tronco delgados adelgaçavam graças ao uso do espartilho. Os cabelos eram
frisados sobre o rosto, caindo em amplos «caracóis» sobre as orelhas.
O vestuário definia religiões e partidos. Assim, os puritanos ingleses de
Cromwell, «os cabeças redondas», traziam o vestuário escuro e austero à moda
holandesa e o cabelo cortado; enquanto os cavaleiros partidários da monarquia
vestiam-se segundo a moda francesa38) .
O vestuário masculino regressava à veste, casaco que descia até aos joelhos,
acompanhando um colete que terminava numa saia ampla, da mesma altura que o
casaco. No colete sobressaíam os folhos de rendas, que eram o resultado da
indústria francesa de rendas desenvolvida por Colbert. Antepassados da gravata,
os lenços do pescoço irromperam como adornos dos vestuários masculino e
feminino em França. No final do século XVII, os lenços, presos à volta do pescoço
por sofisticados laços, estreitavam-se e alongavam-se.
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As perucas, empoadas de branco ou de cinzento, reapareciam no reinado de Luis
XIV, nas cabeças masculinas, na forma de cabelos longos e espessos e variavam
consoante o lugar, ou seja, havia perucas para quando se viajava, para quando se
estava no campo, ou para quando se ia à corte. No final do século, as perucas
eram tão sofisticadas e pesadas que os homens rapavam completamente os
cabelos. As mulheres não usavam perucas mas seguiam a moda dos frisados «à la
Sévigné», a célebre amante de Luis XIV, e depois a moda dos penteados altos,
elevando os cabelos com autênticas armações que caíram no ridículo, mas que
eram sinal de distinção aristocrática. Certamente que se lembra da poesia satírica
de Nicolau Tolentino a uma certa dama que trazia um colchão no cabelo...
Reaparecia o uso do espartilho e a moda da cintura fina, assim como a utilização
de tecidos pesados ricamente bordados, seguindo agora a influência de Madame
de Maintenon.
Enquanto as senhoras abandonavam os chapéus, os homens mantinham os
chapéus de feltro, emplumados ou não, por cima da cabeleira. Mandava a etiqueta
que, somente, junto da familia real, eles se descobrissem. Apenas as viúvas
continuaram a usar o véu branco sobre o cabelo, seguindo o costume da rainha.
Nas cortes europeias, vestir bem era vestir à moda de Versailles. Por seu lado, a
burguesia e o povo não tinham acesso a perucas, nem às ricas rendas e tecidos,
embora imitassem as três peças do vestuário. Com Luis XIV surgira o uniforme
militar, o traje dos magistrados e o dos padres.
A casaca persa, de corte direito, difundia-se a partir de Inglaterra. Também a
influência oriental, turca, interferia nas saias femininas que se encurtaram pelo
tornozelo. Era o resultado da entrega de IBombaim a Carlos II de Inglaterra, no dote
de Catarina de Bragança.
Após a morte do Rei-Sol, a moda aligeirou-se. O vestuário feminino tinha a sua saia
ampla e larga, que impedia as mulheres de atravessarem algumas portas ou de se
sentarem e mantinha o espartilho, apertado nas costas. As rendas dissimulavam o
amplo decote e deviam condizer com as do chapéu e as do lenço. O vestuário
masculino mantinha as três peças nobres da moda.anterior: colete ou gilet, a
casaca e as calças até ao joelho, apertadas com botões. As meias eram brancas ou
cremes.
Por volta de 1760, a moda francesa, chamada rocócó, sentiu a influência britânica e
tornou-se confortável e simples. Aparecia, então, a sobrecasaca que seria também
adaptada ao vestuário feminino. As mulheres começavam agora a ter possibilidade
de escolher entre vários estilos de vestuário, assim como optavam pelos penteados
altos, armados, sobre os quais colocavam chapéus de diversos feitios.
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Surgiam as primeiras revistas de moda feminina, The Lady ‘s Magazine, em
Inglaterra, e La Galerie des Modes, em França, entre 1770 e 1790. Também a
França dos LuIses fazia difundir os seus modelos, em bonecas vestidas com a
última moda...
A Revolução francesa acabaria com as casacas bordadas, os vestidos de
brocado, as perucas e os penteados extravagantes, assim como com os
sapatos de tacão. A Inglaterra ditava agora a moda, mesmo em França, tanto
mais que a Inglaterra era considerada a «terra da liberdade». Vestidos simples com
a cintura, abaixo dos seios, em tecido de mousselina, gaza ou outros padrões finos,
quase transparentes, eram usados pelas mulheres, enquanto os homens vestiam a
sobrecasaca inglesa. As camisas sem bordados tinham o colarinho alto que tapava
o pescoço, e os sapatos de tacão eram substituIdos pelas botas altas do cavaleiro
e o tricórnio pelo chapéu alto. Os penteados também se simplificaram e aparecia a
malinha de mão a substituir a algibeira, com acessório feminino.
O século XIX traria come moda o xaile, importado pelos ingleses de Cachemira,
antes de o produzirem, o qual devia ser elegantemente colocado sobre um vestido
de amplos decotes. Os costureiros imitavam aAntiguidade Clássica, o Oriente ou a
Espanha, consoante o ritmo das guerras napoleónicas.
A sobriedade marcava,, daqui em diante, o vestuário masculino: fraque, casaca,
casaco, sobretudo a três quartos, a camisa, o colete e as calças justas à
«hussard»; como acessórios, as luvas, o lenço, o colarinho e o chapéu. A moda
calçava botas e privilegiava um fato de lã de bom corte. Iniciava-se o hábito de
trazer bengala.
A partir de 1822, a cintura feminina retomava o seu lugar. O espartilho tornava-se
uma peça obrigatória, usada quer pelas mulheres, quer pelas raparigas. As saias
eram largas e as mangas apresentavam-se em balão a partir dos ombros, enquanto
a cintura era bastante estreita. Os chapéus variavam de forma e de material: palha,
feltro, veludo, cetim; altos como os dos homens, guarnecidos de plumas ou de
rendas. O penteado tornava-se sofisticado, com o recurso, ou não, a postiços. O
chapéu de chuva fazia parte do guarda roupa de qualquer dama elegante. Era o
romantismo na moda, sendo de bom gosto a mulher mostrar-se sofredora ou
doente. A mulher elegante devia completar a sua toilete com um pequeno ramo de
flores ou com um leque.
A segunda metade do século XIX viu aparecer na moda feminina a crinolina que
impunha a largura da saia, sem ser necessário vestir várias saias interiores.
Rodada e armada, a saia tornava-se um perigo com o vento (Fig. 3 1), pelo que as
mulheres passaram a usar calções de algodão branco que chegavam até aos
joelhos.
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A saia tendia a subir, deixando ver as pernas tapadas pelos calções que
chegavam aos tornozelos. A moda veio dos Estados Unidos com Amélia Bloomer.
Os calções entravam, assim, no vestuário feminino e seriam adoptados pelas
mulheres para andar de biciclete.
Com a imperatriz Eugénia (século XIX) nascia o conceito de alta costura. O
seu costureiro, Worth, de origem inglesa tornou-se o grande iniciador da moda
parisiense. Inventou as passagens de modelos, ao lançar a moda utilizando
manequins vivos. A saia ampla e comprida, a crinolina, mantinha-se em voga, mas
agora acentuava a parte de trás da saia e a cintura fina. Cada momento do dia
tinha o seu vestuário próprio. Regressava-se ao sapato de salto e às botinas
cobertas de rendas.
A II República francesa fazia regressar a moda à simplicidade inglesa. A invenção
da máquina de coser teve uma grande influência na moda. Misturavam-se
cores e padrões vários. Surgiam os conselheiros em matéria de vestuário que
explicavam como agregar as cores. A descoberta da anilina revolucionava a
tinturaria e os padrões cromáticos dos tecidos.
Com a Comuna, a crinolina desapareceu, a saia tornou-se menos ampla e
regressaram as «anquinhas» e as saias cOm vários refegos ou panos sobrepostos
(Fig. 32). No final do século, as «anquinhas» incidiam na parte inferior das costas,
tornando-se demasiado incómodas.Assim, várias formas se apresentavam no
mercado, desde a «científica» que não prejudicava a coluna, à Langtry, flexível, não
magoando a mulher quando se sentava.
A partir de 1890, a biciclete tornava-se popular e iria exigir um novo vestuário para
as amantes do ciclismo. Surgiam, assim, as saias-calças, que provocaram muita
contestação social. O vestuário feminino tornava-se mais cómodo e mais
consonante com a nova mulher que se queria emancipada. O saia e casaco,
acompanhado do camiseiro, causou um sucesso que, ainda hoje, se mantém. A
moda feminina masculinizava-se: bengala na mão, casaco, colarinho e lenço,
capelina na cabeça.
A mulher do primeiro quarto do século XX declarava a guerra ao espartilho, porque
prejudicial à saúde, e substituia-o pelo «soutien». As rendas abundavam, fosse no
saia e casaco, fosse no vestido. O chapéu permanecia como acessório importante,
quer como boné, quer como capelina. O saia e casaco identificava a mulher
trabalhadora, mas também passou a ser o traje da mulher rica, quandó em viagem.
Pelo contrário, a entrada das mulheres nas fábricas obrigou-as a vestir o fato
operário.
Pregas e drapeados eram o novo grito da moda feminina, que, sob a influência
russa, se orientalizava. Grandes decotes, saias travadas, plumas a substituir os
chapéus eram moda, em vésperas da primeira grande guerra.
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Esta última iria influenciar grandemente a produção do vestuário. Este tornava-se
utilitário e cómodo. A saia subia até ao joelho. O choque de mentalidades foi tal
que, em alguns países, se proibiu a saia curta. Em vão, as jovens assumiram a
moda e o mesmo se passou com as mães. De Paris, a capital da moda estava em
vias de se mudar para Londres ou Nova Iorque.
Surgiam os grandes nomes da alta costura contemporânea: Coco Chanel, Elsa
Schiaparelli, ou mais recentemente Pierre Cardin, Yves Saint-Laurent e outras(os).
A moda relacionava-se com a arte. Coco era amiga de Cocteau e Picasso,
enquanto Elsa o era de Dali. Saia e casaco, pequeno chapéu, cabelo curto, salto de
tacão médio: eis a mulher elegante, entre as duas grandes guerras.
O pós-guerra assistia à moda do vestido de saia ampla, importado dos Estados
Unidos, e com a saia pelo meio da perna. No final dos anos 60, por influência
inglesa, a saia encurtava acima do joelho e, nas últimas décadas, a saia curta ou
muito curta rivalizaria com as saias compridas e travadas, por vezes, até ao
tornozelo. Saia acima, ou saia abaixo, casaco e saia ou casaco e calça, ou os
práticos vestidos rodados, túnicas ou travados, a nova mulher era alguém que
conduzia automóvel, pilotava avião, praticava desportos, era militar, entrava na
política, ia para a fábrica ou para o escritório, deslocando-se em transportes
públicos, sem perder a elegância ou a feminilidade. A moda aburguesava-se, para
se democratizar no último quarto do século, com a difusão do cinema, com a
evolução do pronto-a-vestir, dos grandes armazéns e, sobretudo, das boutiques
com confecções de marca. A democratização da moda vinha anular a diferenciação
social, que esta, até há pouco, protagonizava, confundindo o «parecer» com o
«ser».
As peles naturais rivalizavam com as peles sintéticas, imitação, por vezes, quase
perfeita das naturais, ao mesmo tempo que se assistia à contestação do uso
daquelas, em prol de «salvem os animais». O chapéu tendia a desaparecer como
acessório, enquanto as luvas se difundiam e, até, por vezes, a própria gravata ou o
lenço e a écharpe.
Os sapatos oscilavam entre a moda do tacão alto e fino, aos sapatos cómodos. As
alpercatas, sapatos da classe proletária, tomaram-se, por força do desenvolvimento
do desporto, nos tennis. Inicialmente, made in USA, difundidos, em seguida, por
multinacionais ligadas ao desporto, de proveniência vária, os tenis foram assumidos
pela juventude de ambos os grupos, tal e qual a ganga. Ambos fazem parte do
fenómeno de globalização de certas peças de vestuário.
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1.3 Conclusão
Necessidade primária do ser humano, a cobertura do corpo foi desenvolvendo artes
e técnicas, que foram acompanhando a complexificação da sociedade e do
engenho do homem. As técnicas foram respondendo, com a introdução da
mecanização e da automatização, ao aumento acelerado de procura, que tinha que
ver com a subida do poder de compra de um cada vez maior número de
consumidores.
No entanto, não o esqueçamos, os têxteis foram e são, ainda hoje, os primeiros
sectores da produção industrial a estremecer, quando surge uma crise económica,
pois são os primeiros a serem abandonados pelos consumidores. Mas também são
o sector que mais facilmente se restabelece, quando o poder de compra
reaparece 39) .
Os assalanados do téxtil são, ainda hoje, maioritariamente do genero feminino e
caracterizam-se por pertencerem a uma população com índices baixos de
alfabetização. Mal remunerados estiveram nos últimos dois séculos na linha da
frente das reivindicações sociais e salariais, contra o patronato mercantil que os
explorava. Relembremos o 8 de Março, em Nova York... Viria a tornar-se o Dia
Internacional da Mulher...
Às fibras naturais sucederam por influência americana, após a segunda grande
guerra, as fibras artificiais e sintéticas, puras ou misturadas com aquelas.
Podemos dizer que os historiadores e os antropólogos opuseram, entre si, as várias
técnicas no fabrico do vestuário: a dos drapeados ou vestes direitas, como as
túnicas gregas e romanas, ou, ainda hoje, a dos saris indianos e de muitos povos
africanos, que se enrolam em espiral à volta do corpo, e se seguram por alfinetes
ou fivelas, num ou nos dois ombros, ou por um cinto na cintura, ou as capas,
chailes ou mantos compridos ou curtos; e a do vestuário cosido ou cortado, como
acontece, no mundo ocidental, desde o final do império romano até aos nossos dias
e que é uma herança dos povos germânicos, que invadiram a Europa ocidental no
Baixo-Império.
Outros autores preferiram classificar as técnicas de confecção atendendo ao clima,
designando-as por técnicas tropicais e setentrionais.
Leroi-Gourhan, numa leitura diacrónica e sincrónica do vestuário, preferia
homogeneizá-lo tipologicamente segundo a parte do corpo que cobria e o modo
como o fazia: a cabeça, os ombros, o tronco, as ancas, as pernas e os pés.
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A cobertura da cabeça pareceu-lhe ser a mais constante, quer no tempo, quer no
espaço. Assim o véu, que cobria a cabeça da mulher casada ou viúva, desde a
Antiguidade, surgindo-nos referenciado nos textos assírios do 2./ milénio a. C. ,
transformou-se numa touca õu num lenço que tapava, ou não, os ombros e que,
ainda hoje, permanece como peça de vestuário de muitas mulheres camponesas
idosas da Europa, à Ásia, à América latina, ou das mulheres muçulmanas.
Aliás, se observarmos os trajes regionais dos vários povos europeus e asiáticos,
veremos que as mulheres trazem a cabeça coberta por um lenço, uma touca ou
uma coifa (ou capucho) de formas e materiais diversos. Nas mulheres da cidade ou
nas pertencentes aos estratos médio e superior, a touca ou o lenço degenerou no
chapéu que, para além de definidor de status social, se tornou numa peça de
adorno, feita em feltro, veludo, pele, palha, etc. Mas o véu subsiste ainda hoje, por
razões religiosas, nas mulheres muçulmanas, ou por defesa para com a
luminosidade do deserto, nos homens touaregs.
Barretes, como o antiquíssimo barrete frIgio dos Persas e dos Judeus, capacetes
de coiro dos guerreiros assírios, ou de metal dos soldados gregos, romanos e
outros até à actualidade, chapéus e turbantes, de formas, tamanhos e materiais
vários, a que se poderiamjuntar as coroas emplumadas dos índios americanos,
fizeram também parte do vestuário masculìno, em múltiplos espaços e ao longo dos
séculos, talvez com a excepção dos antigos egípcios, dos gregos e dos romanos
em tempos de paz.
Ao contrário das vestes direitas, nas suas várias formas e tamanhos, e das. calças,
a saia parece ter sido, no espaço a menos expandida.
Os pés também se protegiam, nomeadamente nos climas frios. De tecidos finos,
peles, madeira, esparto, às tiras ou fechados, o ser humano cobriu e adornou os
pés com sapatos e botas40) .
Como podemos concluir, tecidos e vestuários definiam condições sociais,
sócio-profissionais e de género. No entanto, nem sempre a hierarquia social
herdada era compatível com a riqueza possuída, o que conduzia ao endividamento
de muitas famílias para bem parecer. Por outro lado, o vestuário permitiu a
exteriorização de riqueza aos grupos populares em ascensão social e económica,
possibilitando a confusão entre o parecer e o pertencer ou o ser, que as leis
anti-sumptuárias do Antigo Regime procuravam controlar sem resultado, proibindo
o desregramento no vestuário aos vários estratos da sociedade.
Roland Barthes salientara já a relação que o vestuário tem entre o ser e o parecer.
«O vestuário é sempre implicitamente concebido como o signficante particular de
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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um significado geral que lhe é exterior (época, país, classe social)"41) . Hoje, o
«pronto a vestir», ou o prêt-à-porter ou o ready-to-wear, dificultam ainda mais a
diferenciação social, a partir do vestuário, para além de que o vestuário de
qualidade tem tendência, cada vez mais, a democratizar-se.
Ao longo dos tempos e numa função social do vestuário, verificamos a existência
de uma circulação dos fatos entre os vários grupos sociais, numa ordem
descendente de utilização e de número de peças vestidas ao mesmo tempo, à
medida que os mesmos se depreciavam, acabando por cair, já gastos, no corpo de
algum pobre mendigo. Ao «dar» de ontem e de hoje, concorre, nos últimos anos, a
venda de vestuário em segunda mão, divulgada nos Estados Unidos e agora em
franca difusão em certos países da Europa.
Nos finais do século XVIII, o aumento da capacidade económica da burguesia
permitia uma inovação na arte do vestuário, com a criação de novos estilos e novos
compradores. Ao trabalho, por encomenda, sucederia a produção para venda.
Mestres alfaiates passaram a subcontratar costureiras e alfaiates a quem
entregavam a produção de peças de vestuário mais simples. Esta modalidade
acompanhava a difusão da máquina de coser. A grande difusão da máquina de
coser, apartirdofinal dos anos 1850, foi um vector essencialdo
desenvolvimento da confecção sem no entanto estar na sua origem42) .
A Revolução Francesa foi considerada o ponto de partida para a
democratização do vestuário. O século XIX conheceu a democratização dos
gostos. De facto, enquanto a pequena burguesia procurava imitar a burguesia
endinheirada, a classe operária começava a distinguir um fato próprio para usar ao
domingo.
Enquanto no vestuário masculino predominava a sobriedade e as cores escuras,
após o abandono das rendas e lenços por este, no tempo da Revolução, no
vestuário feminino a evolução tendia também para a sobriedade, reflexo da luta das
mulheres pela autonomia e pela emancipação. O aparecimento da algibeira foi o
primeiro sinal. A entrada em massa das mulheres no mundo do trabalho, nos finais
do século XIX, exigiu a necessidade do bolso para guarda da chave de casa. O
facto de possuir autonomia económica permitia-lhe dispor de dinheiro para a
aquisição de vestuário.
Para além do bolso, o vestuário feminino foi perdendo as formas amplas, a
abundância de rendas e de folhos, para se tomar mais sóbrio. Os alfaiates de
homens começavam a produzir fatos para as mulheres. Daí o termo tailleur para o
duas peças feminino, à semelhança do duas peças masculino.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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Desenhavam-se calças para as mulheres andarem de bicicleta ou para praticarem
desporto.
Com a 1ª Grande Guerra e o recrutamento das mulheres para o trabalho nas
fábricas, desaparecia uma das peças de vestuário feminino, o espartilho e
aumentava a preferência pelas calças, por parte das operárias fabris. Por isso, o
fato operário de ganga é o primeiro fato unissexo. Entre as duas grandes guerras, a
confecção simplificou-se, as saias foram-se encurtando e o vestuário
estandardizou-se.
A confecção de vestuário feminino evoluiu mais lentamente que o vestuário
masculino, devido ao facto de muitas mulheres fazerem em casa os seus próprios
fatos, ao contrário dos indivíduos de sexo masculino que os encomendavam ao
oficial da arte. Nos finais do século passado, divulgou-se o «pronto a vestir»
feminino, a partir dos Estados Unidos e depois da França, no início deste século, o
qual acompanhou o avanço da tecnologia de confecção, a abertura dos grandes
armazéns, o aumento do poder de compra da pequena burguesia e a emancipação
das mulheres no trabalho e na sociedade.
Na segunda metade do século XX, a tendência para a simplificação foi manifesta na
sobriedade do estilo, nas linhas direitas e no conforto das peças escolhidas. O
duas peças casaco/calça rivalizava com o duas peças casaco/ saia; as calças e
depois os jeans concorriam nos gostos com as saias e blusas ou com os vestidos,
em tecidos vários, naturais ou não43) . O vestuário feminino assumia as formas
masculinas no pós-guerra, com o uso do casaco/calça!gravata ou lenço, que
recordamos na figura da grande diva do cinema desta época, Marlene Dietrich.
Com a sua nova aparência, a mulher apresentava uma sensualidade agressiva e
usurpadora de funções masculinas, numa altura em que maioritariamente, a nível
mundial, ainda não detinha o direito pleno ao seu exercício de cidadania. O traje
unissexo das últimas décadas nada mais era do que a tradução da pretendida
igualdade de direitos, de liberdades e de deveres, que as mulheres desejavam
assumir no mundo de hoje.
Françoise Vincent-Ricard referia a grande revolução ocorrida, a partir da década de
70, com a democratização do vestuário, apoiada pela renovação frenética de
estilos, de tamanhos e de qualidades das peças de vestuário e respectivos
acessórios44) .
Se, como vimos, o século passado e o actual conheceram a afirmação da
alta-costura orientada para as elites sociais, também é verdade que, nas
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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últimas décadas, o «pronto-a-vestir» evoluiu para a qualidade acessível à
classe média, bem presente nos grandes armazéns ou nas boutiques das
grandes marcas internacionais, espalhadas por todo o mundo.
As indústrias de vestuário continuam, ainda hoje, a ser o último reduto da
manufactura, nos centros urbanos, apesar da invenção, no século passado, da
máquina de coser a pedal e, neste século, a electricidade, do ferro de engomar a
carvão, a electricidade ou da máquina de engomar eléctrica. Nas grandes capitais
da moda, Paris, Londres, Roma ou Nova Iorque, elas ainda arregimentam grande
número de trabalhadores que integram os sectores da produção, transformaçäo e
venda.
Só para exemplificar, Nova Torque, em 1855, tinha 1/3 da sua população operária a
trabalhar nas indústrias de vestuário; em i 900, estas alimentavam 135 000
operários (as) e em 1950, o número quase duplicava, atingindo os 228 857
trabalhadores(as). Entre 1869 e 1899, triplicavam, nos Estados Unidos, o capita!
investido na confecção, nomeadamente na confecção feminina, a produção e os
saláriós dos operários45) . Em 1906, Paris possuia 228 857 operárias(os) nestas
artes da confecção. Ainda hoje, elas são a segunda maior empregadora nesta
cidade46) . Mas a indústria do vestuário continua a ser, também, o pleno emprego,
por subcontratação ou não, de muitos homens e mulheres nos seus domicílios ou
nas suas lojas, à semelhança dos tempos idos.
A indústria do vestuário nova-iorquina fez-se à custa das grandes migrações de,
europeus, incluindo judeus, de sul e centro-americanos e de negros para as
grandes empresas que os empregaram.
Dois mitos fundadores atravessaram a centúria a propósito da mão de
obra da indústria do vestuário: o alfaiate judeu e a costureira de dedos
de fada.
(...) Mas se lhes acrescentarmos batalhões de homens e mulheres
vindos dos quatro cantos do mundo em vagas sucessivas, porque
queriam, porque tinham capacidade ou porque acima de tudo tinham
necessidade de trabalhar...47)
Hoje como ontem, os operários ou os artesãos dos grandes centros urbanos
são e foram, na sua maioria, migrantes à procura de melhores condições de
trabalho. Mas, não o esqueçamos, a indústria do vestuário, implantada nos
grandes centros da moda, diversificou a sua procura de trabalhadores, em função
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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da qualidade e variedade pretendidas, mas também da forte concorrência existente
no mercado. Por isso, hoje, investe numa mão de obra mais barata que a europeia
ou a norte americana, em zonas subdesenvolvidas do globo ou no sudeste asiático,
para o fabrico em série de vestuário de menor qualidade. Lembremos o exemplo da
quase falência das jeans Levis nos Estados Unidos, entre outros, devido à grande
concorrência provocada por outros fabricantes de calças de ganga cujo produto é
mais económico do que o produzido por aquela multinacional. É óbvio que, aqui,
teriamos de referir o perigo concorrencial da contrafacção das grandes marcas e o
dos revendedores clandestinos.
O vestuário, como já vimos, integra um número infindo de trabalhadores
especialistas, e aparece como uma das indústrias mais promissoras neste virar de
século. De facto, às críticas da falta de gosto dos americanos e da democratização
do vestuário, com o «pronto-a-vestir», os shorts e a ganga, por parte dos europeus,
sucede agora a entrada no mercado de um «pronto-a-vestir» de marca, destinado a
uma classe média e média alta.
Dividido entre a arte e a indústria, o fabrico do vestuário oscila, hoje, entre a peça
única, encomendada por homens e mulheres da high society mundial, e a produção
estandardizada que caracteriza a produção de massa, de maior ou menor
qualidade.
No entanto, não podemos esquecer que, mesmo o pronto-a-vestir está directamente
relacionado com o poder de compra individual ou familiar e que dele ainda se
encontra arredada a franja social dos mais pobres. Estes continuam, ainda, a
confeccionar o seu próprio vestuário, tal como o fizeram durante séculos, imitando,
em tecidos baratos, os modelos que vêem a gente rica vestir, ou limitando-se a usar
ou a transformar as vestes já gastas e abandonadas pelos seus patrões ou
compradas em lojas de roupa em segunda mão, enquanto os mais abastados
continuam a possuir estilistas/alfaiates e costureiras que desenham para si as
peças únicas do sonho de uma noite..., enquanto a comunicação social as divulga
para todo o mundo.
Ainda hoje, apesar da democratização do vestuário e da confusão entre o ser e o
parecer, imposta por esta, a verdade é que o traje define status social e
elegância/beleza, que a comunicação social premeia na classificação anual do
mundo vip dos dez mais bem vestidos ou dos dez mais mal vestidos... Tudo em prol
de uma indústria a que se agregam outras, desde a do calçado, às dos acessórios
vários (malas, luvas, chapéus, lenços, écharpes, etc.), à joalharia e bijuteria, à
cosmética e perfumaria.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
40/55
Bibliografia sugerida:
GREEN, Nancy L.
1998
Du sentier à la 7e Avenue. La confection et les immigrés. Paris-New
York 1880-1980, eds. du Seuil, Paris.
LAVER, James
1997
Histoire de la mode et du costume, Thames & Hudson, Paris, nova
edição.
MARQUES, A. H. de Oliveira
1971
A sociedade medieval portuguesa, eds. Sá da Costa, Lisboa (1ª ed.
1964), pp. 23-61.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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Actividade sugerida
I.
Visite o Museu Nacional do Traje e o Museu do Design, no Centro Cultural
de Belém ou visite um Museu próximo da sua residência e atente na
evolução do vestuário.
II.
Descanse, visitando um dos grandes Centros Comerciais existentes nas
grandes cidades e repare nas lojas, representantes das grandes marcas de
confecção de alta costura internacional e nacional.
III.
Recorde o que estudou, respondendo às questões que se seguem.
1.
Assinale, com X, o milénio ou a centúria em que surgiu o primeiro tear
horizontal.
_____ 5000/4 001 a.C
_____ 4 000/3 001 a. C.
_____ 3 000/2 001 a.C.
_____ 1 000 a. C
_____ séc. X
_____ séc. XII
_____ séc. XIV
_____ séc. XVIII.
2.
Assinale com X o complemento correcto da seguinte frase. Os primeiros
têxteis surgiram...
_____ na Grécia
_____ na China
_____ no Industão
_____ no Próximo Oriente Antigo
_____ no Império romano.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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3.
Indique o século em que apareceram as fibras químicas artificiais.
4.
Defina «sedeiro».
5.
Assinale com X o complemento correcto da seguinte frase:
A roda de fiar foi inventada...
____ no antigo Egipto
____ na Índia
____ no Império romano
____ na Europa do século XIII.
6.
Refira a conjuntura histórica em que se insere o aparecimento do tear de
pedais.
7.
Assinale com X a(s) frase(s) correcta(s).
A). Na Antiguidade, os tecelões produziam escarlata tingindo o tecido com a
tinta do murex.
B). A escarlata era o tecido, tingido a pastel, usado pelos reis.
C). A escarlata era a cor obtida com a grã, no império romano.
D). A realeza medieval vestia-se de escarlata, tecido tingido com grã.
8.
Refira a importância da revolução industrial no desenvolvimento da
tecnologia têxtil.
9.
Relacione o aparecimento da máquina de costura com a democratização da
confecção do vestuário.
10.
Assinale com X o complemento correcto da seguinte frase:
O lenço de renda, antepassado da gravata masculina, apareceu como
acessório do vestuário....
_____ no século XV.
_____ no século XVI.
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_____ no século XVII.
_____ no século XVIII. no século XIX.
Respostas:
1.
Devia ter assinalado 4000/3001 a. C.
2.
O complemento correcto era: Próximo oriente antigo.
3.
A resposta correcta era: séc. XX.
4.
O sedeiro é um cepo de madeira com dentes que ajuda a separar as fibras
do linho das fibras da estopa.
5.
Devia ter assinalado: Índia.
6.
Na sua resposta, devia ter relacionado o aparecimento do tear de pedals
com a difusão da roda de fiar e com o desenvolvimento da produção têxtil
urbana do centro e norte da Europa.
7.
Devia ter assinalado a última frase como correcta: A realeza medieval
vestia-se de escarlata, tecido tingido com grã. Porque: a escarlata é um
tecido medieval o que exclui as frases A e C; o tingimento é produzido pela
grã ou cochinilha o que anula as frases A e B.
8.
Na sua resposta, devia ter abordado os grandes inventos do século XVIII,
não esquecendo de referir os inventos de Kay, Arkwright, Hargraves,
Cartwright na produção têxtil; a aplicação da máquina a vapor na fiação do
algodão; a mecanização da seda.
9.
Devia ter assinalado a importância da máquina de costura no pleno emprego
de muitas mulheres em suas casas; na divulgação da venda a prestações,
aparecendo como um investimento de capital do trabalhador individual; na
produção da confecção em série, primeiro de uniformes militares, depois de
vestuário comum; na produção da confecção de qualidade.
10.
Devia ter assinalado: século XVII.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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Glossário
Brocado — pano de seda, tipo dos damascos, bordado em relevo largo com fios de
ouro e prata. No final da Idade Média, a designação estender-se-ia a outros panos
bordados que, não forçosamente, a ouro e prata.
Cetim — tecido em que predomina um dos fios na parte superior e o outro no
avesso, de modo a fazer um tecido de tecitura uniforme e apertada.
Damasco — pano de seda, com desenhos acetinados em fundo mate, oriundo da
cidade de Damasco. Variante do damasco era o brocado.
Escarlata — tecido de lã, linho ou seda, tingido de côr viva vermelha. Estambre —
fio de lã; fio de tecelagem.
Fibras têxteis — Classificam-se as fibras têxteis em: naturais, as quejá existem na
natureza, nos mundos animal, vegetal ou mineral, e que apenas requerem, para o
fabrico de tecido, de um tratamento mecânico ou mecânico-químico, como a lã, a
seda, o linho, o algodão, o cânhamo, a juta, o esparto, o sisal, etc.; e químicas, ou
seja, as fibras produzidas pela indústria química. Estas podem ser fabricadas a
partir de substâncias naturais, como a madeira, o petróleo ou a hulha, as quais, por
reacção química, dão origem a polímeros lineares que podem ser transformados em
fibras têxteis. Neste caso, designam-se fibras químicas art artificiais. As mais
importantes são as fibras celulósicas, feitas a partir da pasta da madeira, dos
línteres do algodão. Consoante os processos químicos usados, obtém-se, por
exemplo, a raiona que possui um toque acetinado, pelo que também é designada
seda artificial. As fibras químicas sintéticas pertencem ao grupo dos polímeros e
são obtidas a partir de compostos químicos simples, por processos de síntese.
Pertencem a este grupo: as poliamidas, os poliésteres, os acrílicos, entre outros.
Fustão — pano de origem oriental à base de algodão.
Grevas — parte da armadura que protegia as pernas abaixo dos joelhos.
Gobelin — tecido de desenhos complicados, feito pelo processo de Jacquard, em
cujo tear é possível utilizar várias centenas de fios de teia, o que não acontece num
tear vulgar.
Puas — intervalo entre os dentes do pente de um tear.
Sarja — tecido em que a teia e a trama passam uma sobre a outra com intervalos
regulares, de modo a formar cordões diagonais na parte superior do tecido.
Seda — fibra natural de origem animal, obtida a partir do casulo do bicho da seda.
É originária da China. Outros tipos de seda, mais grossa e menos apreciada,
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
45/55
podem ser obtidos de casulos de insectos existentes no Extremo Oriente e na
África.
Tafetá — tecido em que o debuxo ou forma de entrelaçamento dos dois tipos de
fios (da teia e da trama) se assemelha a um tabuleiro de xadrez.
Teia — é o tecido retirado do tear e que é sujeito a várias operações, após a
tecelagem.
Trama — fio que vai passando entre os fios da urdidura, no sentido perpendicular a
estes, ora da esquerda para a direita, ora vice-versa, por meio de uma lançadeira.
Urdidura — fio preparado na urdideira e que se dispõe, depois, no tear a todo o seu
comprimento, entre as duas travessas ou órgãos.
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
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Cronologia dos principais acontecimentos
Cronologia dos principais acontecimentos
Épo ca antes de C risto
Acon tecime nto
Paleolítico
vestuário de peles de animais
Paleolítico Superior
invenção da agulha em osso
Neolítico
primeiros têxteis (aldeia lacustre do lago Pfaeffikon — 7000 a. C.); fusos
e teares (Egipto — 5000 a C)
VI a. C.
roca (Grécia)
Épo ca dep ois de C risto
Acon tecime nto
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
47/55
VI
produção de seda em Bizâncio
VIII
roda de fiar (Índia) moinho-pisão
IX
moinho para cânhamo
XII
tear para tecer com 2 cadilhos de pedal
XIII
agulha de carda metálica
botões moinho para o torcido da seda em Itália
tear horizontal para 2 operários
difusão da roda de fiar
introdução da espadela gramadeira para o linho
XIV
urdidura sobre moldura de madeira para tecelagem dos panos
roda de fiar com pedais de aletas
XV
fuso com aletas
XVI
tear de Lee para certos pontos (Inglaterra)
tear para fitas (Da nzig — 1600)
tear de extensão, aperfeiçoado por Dangon
XVII
tear hidráulico (Basileia)
máquina a vapor de Papin (1690)
XVIII
moinho hidráulico para gramar o linho
torcedora de seda de Lombe (Inglaterra)
lançadeira volante de Kay (1733)
má quina de estampar tecidos de Vaucanson (1744)
moinho para torcer a seda de Vaucanson
máquina de cardar a lã (1748)
máquina de cardar o algodão (1750)
máquina de fiar jenny, de Hargraves (1764)
máquina de fiar Contínua de Ark wright (1769)
máquina a vapor de Watt (1776)
mule de Crompton (1779)
introdução na indústria do algodão da máquina a vapor (1785)
tear mecânico de Cartwright (1787)
debulhadora de algodão de Whitney (USA) (1793)
XIX
tear de Jacquard (França) (1801);
tear mecânico de Roberts (Inglaterra) (1822);
máquina de fiar contínua de Danforth (USA) (1828);
máquina de fiar Contínua de anéis, de Thorp (USA) (1828);
rastelo mecânico de linho, de Girard (1832);
máquina de costura Singer (1851);
pisão a vapor (França) (1859);
tear automático de Northrop (USA) (1895)
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
XX
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fibras químicas artificiais;
fibras químicas sintéticas;
tecios antirrugas (1920);
tear eléctrico (1920);
tear de agulha voadora (1930);
tear de fiação centrífuga (1937);
tear sem lançadeira, de Sulzer (1950);
máquina de costura eléctrica;
ferro eléctrico a vapor
***
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Os Téxteis — História Social das Técnicas
49/55
Resenha Bibliográfica
Nota:
a presente síntese bibliográfica cobre o conjunto dos capítulos da obra, pelo
que ela poderá ser útil para aprofundar outros tópicos, para além dos
abordados no presente capítulo.
ALMAGRO BASCH, Martín
1960 «Pré-História», in Manual de Historia Universal, Espasa-Calpe,
Madrid.
ALMEIDA, Vitor Manuel Dias de
1998 Videoconferência. Um instrumento para a educação do século XXI,
Lisboa, Universidade Aberta (tese dact.).
ALVES, José Augusto; CAMPOS, Pedro; BRITO. Pedro Quelhas
1999 O futuro da Internet, eds. Centro Atlântico, Lisboa.
ALVES, João Lopes (ed.)
1989 Tecnologias da informação & sociedade. Teoria, usos e impactos,
Sociedade Portuguesa de Filosofia e Associação Portuguesa para o
desenvolvimento das comunicações, Lisboa.
AMIOT, Michel
1991 Les misères du patronat: le monde des petites et moyennes
entreprises industrielles et de leurs patmns, Paris, L*Harmattan.
AMOUREflI?, Marie-Claire e COMET, Georges
1993 Hommes et techniques de l*Antiquité à la Renaissance, eds. Armand
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BARTHES, Roland
1967 Système de la mode, eds. du Seuil, Paris.
BEARDON, Colin; WHITEHOUSE, Diane (ed.)
1993 Computers and society, Oxford.
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1992 Mode et Société, Paris, PUF (1ª ed. 1976).
BENEVOLO, Leonardo
1994 Introducción a la Arquitectura, Madrid (P ed., Roma, 1960).
1995 A cidade na História da Europa, col. Construir a Europa, eds.
Presença, Lisboa (l.a ed., Roma, 1993).
BERTRAND, Guie
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1996 L*Orient ancien et nous. L*écriture, la raison, les dieux, Aibin Michel,
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BRAUDEL, Fernand
1979 Civilisation matérielle, Economie & Capitalisme (X Ve-X VIlle siècle),
eds. Armand Coiun, Paris, 3 vols.
BROTHWELL, Don e Patrícia
1969 A alimentação na Antiguidade, ed. Verbo, 1971 (l.a ed., Londres).
BUSSIERE, Eric; GRISET, Pascal; BOUNEAU, Christophe; WILLIOT, Jean-Pierre
1998 Industrialisation et sociétés en europe occidentale. 1880-1970, eds.
Armand Colin, Paris.
CAPEL MARTÍNEZ, Rosa Maria
1999 Mujer y trabajo en el siglo XX. Cuadernos de Historia, Arco/Libros,
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CASTELLS, Manuel
1997 La era de la información: economia, sociedad y cultura. La sociedad
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CAU VIN, J.
1994 Naissance des divinités, naissance de l*agriculture. La révolution des
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1994 Libros, lecturas y lectores en la Edad Moderna, Alianza Universidad,
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1999 Dicionário Visual de Arquitectura, S. Pauio.
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1948 Os arados portugueses e as suas prováveis origens. Estudo etnográfico, lAC, Lisboa.
DERRY, T. K. e WILLIAMS, Trevor
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FLANDRIN, Jean-Louis e MONTANARI, Massimo
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FORTY, Adrian
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FOZZA, Jean-Claude, GARAT, Anne-Marie e PARFAIT, Françoise
1983 Petite fabrique de l*image, Magnard, Paris.
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GIMPEL, Jean
1976 A revolução industrial da Idade Média, Colecção Saber, Publicações
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1998 Les oeuvriers des cathédrales, eds. de La Martinière, Paris.
JACOMET, Dominique
1987 Le textile-habillement: une industrie de pointe!, Paris, Economica.
JACOMY, Bruno
1990 Une histoire des techniques, eds. du Seuil, col. Points, Paris.
JEHEL, Georges e RACINET, Philippe
1996 La ville médiévale de l*Occident chrétien à l*Orient musulman. Ve-XVe
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JORDAN, R. Furneaux
1985 História da arquitectura no Ocidente, ed. Verbo, Lisboa (1ª ed.
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