8 2 ARMARINHO SALVADOR DOMINGO 19/12/2010 Mudando de assunto PEDRO FERNANDES Mais um baiano no Rio Moda Hype Depois de Luciana Galeão e Alexandre Guimarães é a vez de Solon Diego, 27, baiano de Vitória da Conquista que há dez anos vive em Salvador, representar a Bahia no Prêmio Rio Moda Hype. Ele leva para o PRMD, que acontece no ano que vem, em 10/1, no Rio de Janeiro, a sua marca de roupas masculinas, a recém criada Soddi, e vai concorrer com outros nove estilistas de várias partes do Brasil. A marca foi criada em 2005 para o projeto de conclusão do curso de Estilismo e Produção de Moda do Senai, mas era voltada para o público feminino. “Ela ficou estacionada, mas as ideias foram amadurecendo, até que fui selecionado para o Rio Moda Hype. Isso antecipou o lançamento do projeto, que talvez demorasse mais um pouco a sair do papel”, diz Solon. Para tocá-lo, ele se desligou da Mito, onde trabalhou como designer entre 2009 e 2010. Mila Cordeiro / Ag. A TARDE Andarilhos urbanos A coleção que se chama Um Homem de Fragmentos é inspirada nos homens que vivem na rua, andarilhos urbanos e nos volumes e sobreposições do seu vestuário. “Fiz um trabalho de pesquisa de vestuário feminino aplicado ao masculino, absorvendo a referência dos homens que vivem nas ruas, que adaptam essas roupas por conta da necessidade. O resultado são peças cheias de assimetrias, pregas, drapeados. De acordo com o estilista se trata de um produto um tanto restrito, para um homem aberto a novas possibilidades, que gosta de inovar, mas sem perder o tino no comercial. Solon traz referências do vestuário feminino para o masculino Danuza Leão Escritora e cronista Com o dólar baixo e as viagens mais acessíveis, muitos casais agora viajam para o exterior levando os filhos. Ouviram falar que viagem educa e pensam estar contribuindo para o futuro de sua prole da melhor maneira, isto é, viajando; mas não sei se é bem por aí. Aos 2 anos eles vão à Disney e a Miami, aos 4 a Nova York, e aos 6, 7, já fizeram um tour pela Europa (sete países em 21 dias). Se o pai esquiou e surfou na juventude, antes dos 16 as crianças terão passado uma temporada numa estação de ski e outra surfando nas Maldivas, do outro lado do mundo. Quem vai a Nova York aos 7, vai lembrar de alguma coisa da viagem além do susto com o tamanho dos edifícios, das montanhas de pipoca e batatas fritas e dos tênis que comprou? Provavelmente não – e nem falar inglês vai aprender. Para começar, nessa idade se viaja mas não se entende quase nada do que se vê. Para fazer uma viagem que valha mesmo a pena, primeiro é preciso querer muito ir para aquele destino, por uma ou várias razões. Geralmente, essa curiosidade, ou melhor, esse interesse, começa com a história, os livros, os filmes, as músicas. Enquanto a viagem não acontece, existem mais livros, mais filmes, mais músicas, para que se deseje e sonhe mais ainda. Tem alguma coisa melhor do que realizar um sonho sonhado durante muito tempo? Cada um fala por si, claro; em criança eu sonhava com Paris, e nunca pensei que fosse lá algum dia. Mas sonhei tanto, que um dia fui, e minha emoção e minhas recor- dações estão dentro de mim até hoje, intactas. Eu conhecia Paris antes de conhecê-la, e cada rua, cada museu, cada café me remeteu aos sonhos que povoaram minha adolescência. Valeu, ah, se valeu, e sou uma privilegiada, pois a cada vez que vou é como se fosse a primeira. E quando vejo crianças andando com os pais no Champs Elysées, fico pensando: será que eles ouviram falar que antes do desenho da cidade pelo prefeito Haussmann, Paris era uma favela? Que um dia o Exército de Hitler passou pelo Arco do Triunfo e desceu pela avenida mais linda do mundo, para humilhação dos franceses? Que quando Paris foi libertada pelo general De Gaulle, ele desceu a mesma avenida com o povo aplaudindo, num dos momentos mais emocionantes da história? Se soubessem disso – e de várias outras coisas –, essa viagem não teria sido diferente, infinitamente melhor? E adianta ver o túmulo de Napoleão sem saber pelo menos parte de sua história? Claro que não. O triste é que essas crianças que crescem conhecendo o mundo todo perdem a capacidade de desejar, de sonhar. Estou cansada de ver uma garotada sem vontade de nada, pois já tiveram tudo, desde cedo; entendem de sushi, conhecem as grifes, possuem todos os iPads e iPods do mundo e não conseguem se deslumbrar com mais nada. Perguntei a um deles outro dia em que pretendia trabalhar (isso já aos 25!) e ouvi como resposta que ainda não sabia, mas que o importante era ser feliz. Mas como assim, ser feliz? Não havia um objetivo mais concreto, uma curiosidade louca de conhecer alguma coisa, de ir a algum lugar, de sonhar, fosse com o que fosse? Não, ele só queria ser feliz. É bem legal querer ser feliz, mas é pouco.