IDENTIDADE NACIONAL
ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA
na Indonésia, considerada como um modelo de anticolonialismo, por causa da Conferência de Bandung.
Foi apenas isso que fui aprender a essa ribeira da Oceânia, diante da sonhada terra austrália do Espírito Santo, na procura de um novo império anti-imperialista, o do
poder dos sem poder. Até voltei a acreditar na Europa, porque ela pode ser uma
potência do espírito e da moral, desde que da respectiva conduta se possa voltar a
extrair uma máxima universal.
As mais recentes crises dos preços do petróleo, dos bens alimentares e os sobressaltos da geofinança apenas têm demonstrado que o mundo viveu hipnotizado por
uma vaga ideia de globalização e que a presente encruzilhada exige uma espécie de
“new deal” universal que não se confunda com os ritmos fisiocráticos do “laissez
faire”, ou os do neomercantislismo proteccionista dos estadualismos. Não apenas os
neoliberais e neoconservadores, mas também póscomunistas, pósfascistas, democratas-cristãos e sociais-democratas. Por outras palavras, a ilusão do fim da história foi,
como diz o ditado português, “chão que deu uvas mirradas”.
Talvez importe sublinhar que só novos paradigmas conceituais podem permitir
captar e compreender as efectivas circunstâncias de tempo e de lugar que marcam as
presentes coordenadas da navegação humana. E dalém, na mais recente república
asiática, na ribeira da Oceânia, foi-me dado aprender que todos temos que nos expatriar nas próprias raízes do político. Porque, se como ocidentais, percorrermos Platão
e Aristóteles, podemos concluir lugares comuns para o urgente diálogo de civilizações, porque todas elas são filosoficamente contemporâneas. Pelo menos, podemos
extrair da história comparada uma lição: os problemas económicos apenas se resolvem com medidas económicas, mas não apenas com medidas económicas. Porque a
política é superior à economia, tal como é superior ao Estado e ao próprio mercado.
Volta a ser a hora de recuperarmos o conselho de Rawls e Habermas que, em
1995, advogavam o regresso à lição de Kant, de dois séculos antes, esse subsolo filosófico do Estado de Direito universal que nos permite superar Vestefália dos Estados-Lobos-dos-Estados, tão selvagem quanto a sociedade de casino e as bebedeiras
de Wal Street. Basta recordarmos que coisas como o branqueamento de capitais, o
financiamento do terrorismo e a bandocracia da corrupção deixaram cogumelos
virais no próprio coração do sistema financeiro internacional. Um processo que, ao
mesmo tempo, gerou inúmeros micro-autoritarismos estatais, subestatais e supraestatais, com as suas sociedades de corte, promovendo a fragmentação e a captura
dos tradicionais Estados que, algumas vezes, não passam de meras presas de grupos
de interesse e de grupos de pressão.
Tal como Kant propunha, importa darmos de novo política à chamada governação global, para que ela deixe de ser mera navegação à deriva e uma consequente
governança sem governo, onde as pilotagens automáticas e as lideranças políticas de
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rência de Bandung. Foi apenas isso que fui a