CMYK CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 7 de abril de 2013 • Economia • 12 CUIDADO PARA NÃO CAIR NA LISTA DE MAU PAGADOR POR CAUSA DO CELULAR Inadimplência chega a 8,7%. Jovens lideram atrasos de pagamento das faturas » MARYNA LACERDA ESPECIAL PARA O CORREIO mesmo celular que soluciona problemas e facilita a vida pode se transformar em dor de cabeça. Com tantas funções disponíveis no aparelho, muita gente acaba perdendo o controle dos gastos. Recursos como acesso à internet, jogos on-line, mensagens e aplicativos diversos são capazes de seduzir os mais distraídos. A compra de modelos de última geração e as ligações em excesso também explicam o índice de inadimplência da telefonia, que chegou a 8,7%, de acordo com o último estudo da Serasa Experian sobre o setor. O levantamento da Serasa levou em conta o acompanhamento dos números do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) relacionadas a compras de telefone móvel durante 12 meses. O resultado indica que a população jovem de baixa renda é a recordista de ocorrências no Sistema de Proteção ao Crédito (SPC). Esse grupo representa 24,4% das 400 mil consultas feitas nos últimos 12 meses. Mas não é só. O celular se transformou em um dos principais motivos para os consumidores pararem na lista de maus pagadores. Muitos preferem encher os telefones de créditos do que pagar contas básicas, como as de água e luz. Outros, compram aparelhos caríssimos em prestações a perder de vista, mas não dão conta de quitá-las. Os dados coletados sinalizam mudanças no padrão de consumo de produtos eletrônicos no Brasil. Existem atualmente no país 263 milhões de celulares ativos, segundo a Agência Nacional deTelecomunicações (Anatel). Somente em fevereiro deste ano, foram adquiridos 786 mil aparelhos: 366 mil na modalidade pré-paga e 420 mil na pós-paga. A Anatel estima a média nacional de 1,33 celular por habitante. No Distrito Federal, essa proporção salta para 2,18. As novas aquisições, avalia a Serasa, são resultado do incremento da renda da população e do barateamento de tecnologias. A dica do educador financeiro Reinaldo Domingos para que o celular não vire dívida é aliar a escolha do plano com o orçamento. O ideal, sugere ele, é comprometer entre 1% e 5% da renda com as despesas de telefonia. “O pagamento da conta de telefone não pode interferir na sustentabilidade financeira”, afirma ele, antes de destacar a análise individual dos casos. “Há situações em que o jovem trabalha, mora com os pais e não tem outras despesas. Nesses casos, ele poderá reservar até 30% da receita com o celular sem ter problemas”, exemplifica. O 53% Índice de brasileiros que usam o dinheiro de plástico, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços Cartão tem de ser aliado » ANA CAROLINA DINARDO Quando se fala em inadimplência,ocartãodecréditoéapontado como principal vilão. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que seis em cada 10 famílias brasileiras estão com dívidas: o índice alcançou 61,2% em março, ante 57,8% do mesmo período de 2012. O cartão de crédito, comprovam as estatísticas, corresponde a 76,3% desses débitos. Saber utilizar esse meio de pagamento de forma controlada, portanto, é fundamental para manter a saúde financeira. O analista de sistemas André Feitosa, 29 anos, já se deu mal com o cartão de crédito. Faltou conhecimento, confessa ele, em relação aos juros cobrados pelas instituições financeiras. Durante seis meses, ele pagou apenas o valor mínimo das faturas. Resultado: teve o cartão bloqueado até que a pendência de R$ 2,9 mil fosse paga. “Não contava que a dívida aumentaria tanto”, diz. Sem saída, ele pediu R$ 3 mil emprestado ao banco para quitar a dívida. O limite do cartão recuou de R$ 4 mil para R$ 500, e Feitosa garante ter aprendido a lição: “Agora, só pago a fatura integralmente”. Situações como essa são muito comuns. “Não é aconselhável de maneira alguma pagar o mínimo da fatura”, reforça o educador financeiro Mauro Calil. A quitação integral, sustenta o especialista, deve sempre ser feita, ainda que o consumidor tenha de recorrer a outras linhas de crédito. Manter o limite do cartão em até 50% da renda também é uma dica importante. O publicitário Marcos Motta, 29, passou por perrengue semelhante ao de Feitosa. Há dois anos, pediu ao banco um cartão de crédito e começou a gastar mais do que podia. Sem condições de arcar com o valor total das faturas, limitou-se ao pagamento mínimo durante quatro meses. “A dívida chegou a R$ 2 mil, e meu orçamento foi por água abaixo. Tive que recorrer à ajuda do meu pai”, recorda. Passada a tempestade financeira, o cartão virou aliado. “Hoje, faço uso consciente dele”, comenta. Opção certa Desespero Suspensão O inadimplente pode negociar a conta até o segundo mês seguinte à realização das chamadas. Após 15 dias de dívida, é feita a suspensão parcial do serviços, e o usuário passa apenas a receber ligações, podendo ser cobrado pelas tarifas em aberto. Com 45 dias, ocorre a suspensão total do serviços. Com três meses de débito, o contrato é rescindido, e a empresa fica autorizada a incluir o nome do cliente no cadastro de devedores. Para limpar o nome na praça, é preciso entrar em contato com a operadora e negociar as faturas. gundo, mudei para um plano mais barato e atrasei a parcela. No terceiro, não quitei o débito, e a linha foi cortada”, conta. Com a dívida paga, Ferreira migrou do pós para o pré-pago.“Acabei escolhendo o plano controle, que me custa só R$ 30 por mês”, recorda. Para manter as contas em dia, o jovem precisou reduzir gastos com gasolina e alimentação. “Passei a colocar menos combustível e a almoçar em casa”, diz. O esforço, avalia ele, valeu a pena. “Mas preciso me segurar mais.” Troca de operadora Antes de definir o plano, é importante pesquisar qual operadora oferece as menores taxas em cada região, reforça a coordenadora institucional do Proteste, Maria Inês Dolci. “Uma CMYK O especialista recomenda pacotes pós-pagos para quem tem maior margem de gastos.“Como a parcela já tem um mínimo estabelecido, tarifas são reduzidas, e determinados serviços são isentos de cobrança”, detalha. Essa modalidade também é indicada para fins profissionais, uma vez que os contratos podem exigir cota maior de chamadas e mensagens. O pré-pago, por sua vez, vale para quem precisa controlar melhor as despesas.“É uma forma de fazer a lição de casa”, diz Domingos. Por limitar as chamadas, esses planos possuem tarifas mais altas, mas podem ser a melhor alternativa para quem recebe mais ligações do que faz. A modalidade pré é a mais apropriada para os jovens, os principais responsáveis pela taxa de inadimplência do setor, conforme o estudo da Serasa. Lucas Ferreira, 19 anos, aprendeu a economizar. Na época em que estagiava, o estudante tinha um plano pós-pago. “Costumava pagar cerca de R$ 200 por mês. Enquanto tinha salário, conseguia bancar o custo”, lembra. Quando pediu demissão, a situação mudou. “No primeiro mês, apertei os gastos e paguei. No se- prestadora de serviço considerada vantajosa em São Paulo pode não ser no Acre”, diferencia. Além disso, ela também destaca a necessidade de identificar qual empresa os amigos e a família preferem. “Ligações para a mesma operadora costumam ser bem mais baratas”, explica. Outra dica, acrescenta o educador financeiro Reinaldo Domingos, é trocar de operadora periodicamente. “Sugiro que, a cada seis meses, a pessoa mude de operadora. A portabilidade permite testar todas elas sem perder o número da linha”, incentiva. O acirramento da concorrência, emenda ele, permite ao cliente aproveitar promoções. As ofertas, no entanto, demandam cuidados. Maria Inês, do Proteste, chama a atenção para as propostas com critérios confusos. “As empresas ligam para os clientes oferecendo aparelhos novos e pacotes com mais minutos. Parece tentador, mas é aí que os clientes se atrapalham”, alerta. Prestações mais caras, embora englobem benefícios, podem acabar desequilibrando as finanças. No caso de residências em que todos usam o celular, uma boa saída é procurar os planos familiares, com cobranças específicas. Se, mesmo diante das dicas dos especialistas, o pagamento atrasar, o cliente tem direito de ser informado do débito pela própria empresa. A linha só pode ser cortada 24 horas após esse aviso. Para evitar que isso ocorra, o especialista Reinaldo Domingos insiste do conselho de escolher parcelas que estejam de acordo com a disponibilidade financeira. O drama de acumular cinco cartões de crédito e uma dívida de mais de R$ 1 mil fez com que a auxiliar de serviços gerais Flaviana Maria Barbosa, 39, entrasse em desespero. Com a renda de um salário mínimo, ela não conseguia quitar as faturas. Aprendida a lição hoje ela só faz compras à vista. “Antes, levava três, quatro pares de sapatos. Agora, penso bastante, e só pago à vista”, compara. O especialista Mauro Calil alerta que o consumidor não é obrigado a pagar a taxa de anuidade do cartão de crédito, o que pode ajudar a manter as contas em dia. Na hora de assinar o contrato com o banco, é possível negociar e pedir a isenção. Para se livrar da taxa já existente, geralmente o cliente tem de cancelar o cartão que possui e solicitar outro à instituição, sem a cobrança.