Itamar Bezerra impressões 2 contos e crônicas para rir e chorar, ler e pensar... Sobre o Autor Itamar Bezerra é Ministro Presbiteriano, servindo à Igreja Presbiteriana da Bahia – Salvador. Nascido em Pedrinhas – Sergipe, é Casado com a professora Raquel Nery, e pai de André e Ana Ruth. Autor dos livros: Histórias de Pescador, para pescadores de Almas, Mical – o drama de uma princesa, Impressões – inquietações de um poeta urbano, e Ricos de Verdade. Também compõe músicas e escreve artigos para publicação semanal em sua igreja. Itamar Bezerra impressões 2 Itamar Bezerra impressões 2 contos e crônicas para rir e chorar, ler e pensar... A Jair e Cornélio, amigos preciosos que encontrei, com quem reparto agradáveis momentos de descontração e bate-papos filosóficos, nos almoços de segunda-feira. impressões 2 Prefácio Eu considerei as linhas que tracei para este livro como uma viagem, o seguir em uma estrada. É mais que comum isso acontecer: caminho afora, paisagem que se modifica a cada metro, nuances que se apresentam em cada curva, uma experiência renovada a cada passo, à medida que seguimos. Por isso, quem sai a caminhar por uma trilha, em dedicada observação, tem muita história para contar. Estas meditações, ou projetos de crônicas, fazem parte de uma seleção de textos que escrevi para a comunidade que apascento, e revelam a visão que carrego sobre a dinâmica da nossa vida, seja no campo religioso-eclesiástico, seja no cotidiano secular que nos rodeia, ou no seio familiar. Confesso que me divirto ao escrever muitas dessas analogias, bem como gemo e choro ao digitar páginas proféticas. Fico ansioso para que estes ensaios sejam lidos por aqueles que elegi, e gratificado quando uma ou outra 6 impressões 2 ideia proposta produz efeito positivo, pois esta é a motivação que nutro ao escrever: abençoar, criar rotas para a reflexão, convidar amigos para um tempo de meditação e libertação do pensamento. Desde já, pondero: ler algo pelo simples exercício da leitura não muda nada, pois a leitura estática sem reflexão é estéril. A riqueza se estabelece quando migramos de um grande plano para o macro, do cenário amplo para o detalhe, do trecho para a frase, da sentença para uma expressão enfática. Assim, convido você a ler os textos que escrevi, com os olhos e com a razão, meditar e formar juízo, recortar para posterior análise o que gerou dúvida, acolher na alma o que lhe pertencer. É isso. Nessa estrada em que seguimos pode-se encontrar de um tudo. Os apressados, como sempre, estarão concentrados no destino; os curiosos, no percurso. Ambos chegarão lá, mas estes, com muito maior background. 7 impressões 2 9 A geração da apostasia Há cerca de uma semana, acordei sobressaltado com uma pergunta na cabeça. Depois disso, passei aquele dia inteiro remoendo e deglutindo idéias relativas àquela pergunta, e nos dias seguintes passei a buscar respostas. A pergunta é: Em que mundo viverá a geração dos meus filhos? Confesso que me achei angustiado, ansioso e inquieto ante as preocupações que me cercaram. Recapitulei a minha própria vida e voltei no tempo, dei asas à memória e ordens para que me levasse à infância. Quis verificar como algumas coisas funcionavam no meu tempo de criança e adolescente, e quais valores eram correntes em minha formação. As mudanças que identifiquei são de estarrecer, inda mais quando vejo que não se passaram tantas décadas desde então; três, quatro, no máximo. E dentre tantas e tão grandes mudanças que ocorreram em nossa história, frutos da industrialização, impressões 2 do advento da mídia eletrônica, da informática, da internet, da globalização, enfim, a qualidade e expectativa de vida dos nossos iguais se transformaram drasticamente. Passamos a viver mais do que os nossos antepassados, em termos cronológicos, mas nunca envelhecemos tanto em tão pouco tempo. Nunca foram tão visíveis as marcas das agressões a que somos submetidos. Nunca cresceu tão rápido a industria de cosméticos e a busca por métodos que retardem os sinais do envelhecimento. Hoje, muitos nutrem a expectativa de viverem até os cem anos, mas sabese lá como se condicionarão pra isso. Somos fustigados e agredidos a todo instante por armas e inimigos que vêm de todos os lados, e os nossos sonos e sonhos passam longe de serem doces e suaves. Dormimos mal e pouco, e, não raro, sofremos pesadelos (no rebobinar da mente, imagens, idéias, palavras e sentimentos ruins evocados do subconsciente que conseguiram romper a censura); comemos muito mal (agrotóxicos, enlatados lotados de conservantes, hormônios aplicados nas carnes, sem critério) e muito apressados, além de bebermos tanta droga travestida de refresco. Coitados dos nossos ouvidos que são submetidos a níveis absurdos de pressão sonora onde 11 impressões 2 quer que andemos; estamos ficando surdos rapidamente. As nossas narinas se ardem de cheiros estranhos, de componentes nocivos ao nosso sobrecarregado pulmão, “fumamos” todas, querendo ou não. Os nossos olhos, igualmente, lacrimejam e se embaçam em meio a uma sutil e invisível nuvem poluída que rega diariamente a terra. Além de tudo isso, a selva que se tornou a sociedade pós-moderna, altamente competitiva e excludente, gerou um estado tal de ânimo em todos nós que não dá para contabilizar as unhas que teimamos roer. Vivemos cansados, estressados, aborrecidos, adrenalinizados, ultra-ansiosos, com medo de tudo e perplexos com as ondas bravias que o mundo moderno levanta sobre nós. Não fosse tudo isso mais que bastante, um vento estranho, forte, constante e malévolo sopra sobre as nossas searas sem piedade. É o corrosivo vento de uma espiritualidade oca que, como um manto, vai cobrindo lentamente a verdade, deixando atrás de si uma realidade híbrida, mesclada de sofismas, mas em essência uma mentira pura. Não bastasse a agonia pela qual passa a atual geração que bunzou a própria água, destelhando o próprio teto em iminente vendaval, ainda amargamos uma falsa esperança propalada por falsos 12 impressões 2 pregadores, gerenciando e vendendo uma fé, baratíssimo, gritando a plenos pulmões a um deus surdo e inexistente, miscigenando verdades eternas com vontades humanas, entronizando a criatura em lugar do Criador. Com muito boa vontade e esforço que ainda nos resta, focamos os olhos no meio mais representativo da fé evangélica contemporânea, e depois olhamos com simplicidade para a verdade contida nos evangelhos sinóticos e só vemos discrepância, contradição, desconformidade entre estas duas realidades. Estamos tão distantes do que ensinou o Mestre, que o evangelho que apresentamos às pessoas parece só uma caricatura do original. Para completar o quadro e a dramaticidade, vemos que os indivíduos que tomarão os bastões da fé salvadora para passá-los a outros que ainda virão, esses não estão interessados em aprender; antes, esperam alimento pronto, algo que não lhes dê muito trabalho para digerir, algo que não lhes traga desconforto. Então, volto à pergunta: Em que mundo viverão os nossos filhos? Assim, abro os olhos hoje, e, na condição de profeta, venho despertar outros, a fim de que preparemos melhor a atual geração para enfrentar a Apostasia premente e certa. 13 impressões 2 A igreja do futuro Refletir sobre as implicações do ser igreja no presente já não é tarefa fácil, muito menos conjecturar ou projetar quem ela será em um tempo mais para frente. Simplesmente não se pode determinar com precisão essas realidades, uma vez que não nos pertencem. No entanto, a julgar pelo retrospecto histórico e pela caminhada presente, associados às profecias bíblicas no tocante aos males dos últimos dias, podemos sugerir traços que marcarão a compleição da instituição chamada igreja num futuro não muito distante. Ao dizer igreja, refiro-me não ao corpo de Cristo, invisível e místico, composto de todos os eleitos, remidos pelo sangue do Cordeiro, pois este é uno, indivisível, puro e relevante; antes, refiro-me às comunidades locais, grupos e denominações, ajuntamentos de homens com suas idiossincrasias. Falo do misto joio e trigo; do chamado povo “evangélico” que lota templos e salões e comunga 16 impressões 2 fé com outras crenças; de pessoas que aplaudem ao Deus vivo juntamente com outras que acendem velas para entidades. Os sinais assustam e alegram. Sim, assustam porque nós, os que cremos e aguardamos a manifestação do Filho do Homem, teremos que conviver num mundo em que prevalecerá a incredulidade e apostasia (quando Ele vier, porventura encontrará fé na terra? Lucas 18:8); alegram, porque, sem dúvida, O sinal que antecederá a Sua vinda estará patente. Como seria, então, essa igreja do futuro? Quais suas características e qual o perfil dos seus adeptos? Bem, a julgar pelo que hoje já nos cerca, a “igreja” perderá a sua singularidade. Estará tão envolvida pelas filosofias, conceitos e valores mundanos que não mais poderá distinguir a verdade absoluta do relativismo moral imposto pelo sistema; perderá a distinção que sempre a marcou; em vez de protestante será tolerante; em vez de sal da terra, será apenas terra em terra, sem relevância nem impacto; sua mensagem terá mais psicologia do que teologia; seu culto será mais voltado para o homem do que para Deus; sua ênfase deixará de ser cristocêntrica para ser antropocêntrica; seus métodos, estratégias e critérios serão os mesmos praticados pelas grandes 17 impressões 2 empresas seculares; seus ministros serão profissionais prestadores de serviço, e não bastará apenas serem bons, mas os melhores, embora descartáveis, habilíssimos em atrair e manter em seus rebanhos fiéis mantenedores; a porta estará cada vez mais larga, para dar vazão a um caminho igualmente largo, no qual multidões seguirão apressadas, não em busca de salvação para suas almas, mas de alívio para suas mazelas. Muita gente, milhares e milhares, crentes nominais, mas sem a genuína experiência do novo nascimento. Assim como a geração que deixou o Egito viu milagres portentosos, comeu do maná, foi chamada povo de Israel, mas apenas um pequeno grupo adentrou a terra prometida, assim será com esse “povo de Deus” sem Deus, que abraçou um cristianismo sem cruz, pensa chegar a Canaã sem passar pelo deserto, e alcançar a salvação sem o arrependimento. Assim será a “igreja” do futuro... SE NÃO ABRIRMOS OS OLHOS HOJE e buscarmos a Deus com sincero coração e espírito quebrantado; se não voltarmos o pensamento para as fiéis misericórdias prometidas a Davi; se não nos apegarmos à Bíblia Sagrada e sua teologia como fonte única de revelação, Palavra infalível e inerrante, única regra de fé 18 impressões 2 e prática mesmo; se não tivermos os olhos molhados, os joelhos dobrados e uma fé simples, daquela que crê tão somente porque o Senhor disse. O futuro começa hoje. Acordemos, construamos a igreja do futuro. 19 impressões 2 Aftas Não é segredo para mais ninguém, todos sabem que quinzena sim, quinzena não, sou acometido por essas danadinhas inconvenientes. Tem sido assim desde a minha adolescência. Aftas são erupções na mucosa bucal, geralmente advindas de distúrbios no aparelho digestivo, como a acidez descontrolada, ou reações a um destempero emocional. Uma ferida dolorida. Você quer aprender a falar o idioma alemão? Então repita comigo: “as aftas ardem”. Que brincadeirinha mais sem graça. Inda bem que eu não falei o restante da piada, por ser impróprio para este espaço. Elas ardem mesmo; são como um pedacinho de brasa assentado na delicada pele da boca; como incomodam! Eu posso afirmar que sou pós-graduado nelas, tenho know-how sobre a matéria, sou especialista no assunto, sem ser da área médica, apenas pela larga experiência em lidar com elas por todos esses anos. Já 22 impressões 2 as tive na língua, nos lábios, no céu-da-boca, na região interna das bochechas, e até na garganta. Desde aquelas pequitititas, mas ardidas como pimentas malagueta, até aquelas enormes que demoram duas semanas para cicatrizarem. Certa vez eu estava pregando um sermão, cheio de vigor e energia, e estava curtindo a dor de uma dessas doloridas, na lateral da língua. De repente, num descuido, ou, como inventei agora, numa barbeiragem oral, taquei-lhe (gostaram do verbo?) uma dentada bem em cima da condenada... Meu Deus! Engoli as palavras e vi tudo escurecer e a congregação sumir. Nesses segundos lancinantes eu vi anjos, arcanjos e querubins cantando... Exageros à parte, quem as têm sabe muito bem do que estou falando. E nessa caminhada de tantos anos afetado por esse dolorido estorvo, eu já recebi todos os conselhos e receitas que você pode imaginar, inclusive simpatias para exterminarem esse pequeno-grande mal. Omcilon oral base, Albicon, Pedra Ume, Violeta, Bicarbonato de sódio, merthiolate e até pimenta. Remédios de farmácia já provei todos. Já tomei chás de entre-casca de várias árvores, já bochechei coisas que nem conhecia, e nada adiantou. Como praxe, sempre me preocupo em olhar as 23 impressões 2 bulas antes de usar o medicamento, para não ter surpresas depois, como um que me receitaram e depois eu li que entre os efeitos colaterais havia: demência, cegueira, paralisia e óbito. Eu descobri, na prática, que não existe remédio substância para as aftas. Elas têm um ciclo que se inicia, atinge um ápice e desvanece. O que se pode fazer para minimizar os seus efeitos é tudo paliativo, seja um remédio tópico, seja algo para o estômago. Nada encurta o caminho dessas condenadas. Sabendo dessa minha experiência, um pai de adolescente da nossa igreja me procurou e me pediu uma indicação de remédio para as aftas, pois o seu filho, assim como eu, vive atormentado por esses monstrinhos. No momento eu não tive como explicar muita coisa, mas agora e aqui quero revelar o segredo e o remédio que descobri para prevenir as aftas. Para prevenir! Leia-se e publique-se. Peguem caneta e papel e anotem aí: um excelente remédio para aftas é uma bela bacia de jabuticabas tiradas no pé. Duvidam? Podem tirar a prova. Um dia na roça, de pés descalços, aspirando o cheiro de grama e terra frescas, um riachinho de águas claras correndo e lavando suas canelas, o som da liberdade na voz de pássaros que voam aqui e ali, silêncio e o sopro 24 impressões 2 do vento nas copas das árvores, sem carros, buzinas, fumaça, gente maluca correndo para todos os lados, sem necessidade de olhar para o relógio a todo o momento, sem computadores ou televisão, apenas a natureza e a paz. Eu já tomei esse remédio várias vezes. Não tem afta que encontre lugar para nascer. E a que já estiver nascida, busca o rumo de casa com pressa. Aliás, a afta é uma ferida que ocorre no organismo de alguns; em outros, outro tipo de ferida se aloja, mas todos os que vivem nessa rodaviva infernal dos tempos modernos também são afetados; ninguém escapa. E digo a você, com plena convicção: Quer cura para sua neurose? Tome o jugo de Jesus e tente passar um dia fora do sistema opressor. 25 impressões 2 Alta Noite Novo Dia “Eu sei que verei a bondade do Senhor na terra dos viventes” A esperança renovada é o combustível que mantém aceso o vigor da nossa alma. Aquele que preserva em seu coração a capacidade de sonhar, de crer e esperar, sem esmorecer, verá cumprido ao fim de tudo um plano eterno em seu favor. Essa santa expectativa é cura para a vida: é aquele constante e desperto aguardar de coisas novas que só o Senhor pode gerar; um pré-vislumbre de um milagre certo, uma certeza inexplicável que uma voz silente anunciou. Esse sentimento vitorioso e belo, no entanto, não é pertinente e natural aos filhos de Adão, não se encontra à mostra e nem à disposição por baixo preço. A Queda afetou toda a natureza e cancelou a festa. A 28 impressões 2 partir dali, degeneramos. Um quadro de incertezas visitou a raiz de todos os homens, e o pessimismo se alojou em sua morada. Sangue, suor e lágrimas adolesceram. Dor, tristeza e morte emolduraram o horizonte da experiência humana. Daí, então, o arrebol escureceu, parece não haver esperança para os filhos dos homens. E hoje, decorridas tantas eras, esse mal envelhecido, amargando o desengano, agoniza moribundo. É o fim dos tempos, o cerrar das portas, o apagar das luzes, a madrugada da história. Vai alta a noite e com ela os seus horrores, mas vem chegando o dia, e já seus raios tímidos se despertam. Os incrédulos não os vêem, nem os discernem, não os podem aguardar. Para eles não há luz, só escuridão e medo; nem mesmo um túnel há onde no fim brote uma luz; para eles não há esperança. Mas esse alvorecer que desponta, projetando seus raios multicores, traz um sol de cor intensa, vivo e pleno em seu vigor. É o Sol da Justiça, a Brilhante Estrela da Manhã, trazendo salvação em suas asas, desfazendo a influência tosca do reino das trevas, que tira os homens da frieza mortal das sombras da impiedade, trazendo-os para o calor dos ternos braços do amado Pai. Bem-vindo, reino da luz, que lindo Dia! Aleluia! Olhos espirituais nos foram 29 impressões 2 dados; podemos enxergar com nitidez os vívidos sinais da Sua vinda, e a áurea de glória que inunda a terra, revelando parte da divina Luz da morada eterna. Se hoje, para nós, tão intensa luz já brilha, descortinando a cada instante beleza incomparável, o que há de ser dos nossos pobres olhos quando estivermos diante daquele que criou o sol? Importa, portanto, que, como filhos da luz, deixemos para trás todo o apelo da noite, e sigamos, confiantes, essa Luz. Que permitamos a entrada desses benfazejos raios nas sombras que teimam nos assustar, e eles trarão poesia, sonho, viço, canto, beleza, riqueza e todos os encantos de uma vida plena ainda aqui nesse planeta, e muito mais na esfera que nos aguarda como um novo dia. 30 impressões 2 Banal Segundo os dicionaristas, banal é aquilo que é ou se tornou corriqueiro, trivial, vulgar. Essa vulgaridade aí descrita está associada ao conceito de algo sem valor. Já o corriqueiro e o trivial aí de cima dão a idéia de uma coisa apenas comum, que se repete diariamente, sem, no entanto, atribuir-lhe valor. Assim sendo, podemos dizer que não nos impressionamos tanto mais com o advento da aviação, como nossos pais, pois aviões cruzando os céus sobre nossas cabeças são algo corriqueiro. Aliás, não só a maravilha da aeroplanagem, mas as muitas e muitas outras maravilhas da ciência moderna já não nos espantam mais. Os nossos olhos estão saturados de novidades e não sabemos aonde a tecnologia irá nos levar. Lidamos com coisas que seriam espantosas ou fruto até de bruxaria para os antigos de poucas gerações passadas, mas que para nós é o trivial de segunda a domingo. Diga-me se não é 32 impressões 2 fantástico um aparelho celular pequenino, sem qualquer fio, com o qual você pode falar com alguém a muitos e muitos quilômetros de distância, além de tantos recursos que o danadinho oferece...? Incrível, não? Só que até por um real a gente consegue comprar um desses aparelhos, a depender da ocasião e da promoção; qualquer garoto de seis, sete anos tem o seu e o usa para trocar torpedos com os colegas. Você já parou pra pensar o que representa um chip para a nossa geração? Milhões e até bilhões de informações estão contidas em muitos deles, que não passam aos nossos olhos de umas plaquinhas com uns risquinhos de memória. Mas um chip que pode abrigar terabytes é algo Fantástico. É... Banalizamos o espetáculo! E infelizmente não foi só esse tipo de extraordinário que banalizamos... Ficamos tão anestesiados que banalizamos outras coisas ainda mais espetaculares: banalizamos a vida. De tão ordinária que ficou, viramos números; o nosso nome e a nossa história já não são mais importantes que o nosso CPF. Somos identificados por senhas e códigos. Quem é o homem nesse processo? Quem vale mais: um homem ou um celular? Depende. Por isso não nos chocamos mais ao vermos milhares de irmãos iguais a nós 33 impressões 2 caídos na sarjeta, no lixo das nossas ruas, vizinhos à nossa casa. Por isso tantos crimes horrendos, por um simples par de tênis, um vale-transporte, ou mesmo por nada. A natureza por Deus criada, a assombrosa obra das suas mãos, que deixou o salmista sem palavras, desmorona ante a ação predatória e irresponsável do próprio homem, destruindo o lugar da sua própria habitação. E a neurose é tão grande que não há tempo ou lugar para a contemplação desse grande cenário que o Criador emoldurou para nos encantar. Estamos olhando ao redor e vendo tudo cinza. O processo é grave, irreversível e ruinoso. Feliz aquele que em meio a esse barulho todo consegue enxergar valor em um pequeno gesto, um sinal dos céus. Mais bem aventurado ainda será aquele que não se deixar contaminar com toda essa fuligem, e no final não banalizar a graça de Deus e cada um dos seus milagres corriqueiros-nãobanais. 34 impressões 2 Bons tempos Primeira, segunda, terceira, segundo-papo, papônis... Que saudade daqueles tempos... Brincadeiras saudáveis e inocentes nas ruas de chão batido lá do interior. Pião, bola de gude, furão, arraia, carrinhos de lata de óleo e pneus recortados de chinelos velhos, espadas de galhos secos, bolinhos de lama, baleadeiras, bola de capotão, pés descalços, testa suada, tudo era festa e animação. Ao chegar da escola, o fim do mundo era o limite, as portas da possibilidade se escancaravam e o cosmos adentrava a nossa vida pelas janelas da imaginação. Grupos de amigos, vizinhos e primos apresentavam-se para o início da aventura. Não importava qual seria a atividade; poderia até mesmo ser uma tarefa obrigatória, ainda assim seria uma boa aventura. À noite, após o singelo jantar, grande oportunidade de aprendizado e crescimento se apresentava “na porta da rua”. Costumávamos nos 36 impressões 2 assentar na “calçada” para ouvir as histórias e estórias dos mais antigos, sobre viagens, caçadas, mistérios, lendas e ditos dos ainda mais antigos. Jatos poderosos açoitavam a nossa imaginação e, assim, andávamos por estradas nunca vistas, cidades nunca antes visitadas, encontrávamos com personagens inexistentes e construíamos os nossos sonhos. Não havia traumas, depressões, e nem sabíamos o que vinha a ser estresse. Crescemos, e foi tão rápido, não tanto quanto o foi o mundo. A mudança foi intensa e devastadora, até parece que tudo acabou... Não há mais chão batido, nem brincadeira de roda, nem boca-de-fornoforno, nem heróis e mitos que nos ensinem a correr e voar. As portas se fecharam e não se brinca mais. O medo está nas ruas e o silêncio dentro das casas. Foi-se o tempo da amizade, do aperto de mão sincero, da troca de favores sem interesse, do respeito pela história e pelo nome alheio; foi-se o tempo da solidariedade, do compromisso moral e zelo ético para com os valores adquiridos, da honra à vida, ao ser humano, aos mais velhos e aos mais novos. Em lugar disso, o mal se instalou. A liberdade cedeu lugar à escravidão existencial: poleiros de homens, caixinhas pra se habitar, regras e condicionamentos, correntes legais 37 impressões 2 que nos prendem dentro de nós mesmos. Em lugar da alegria, angústia e expectação sobre cada segundo incerto que se aproxima. Estresse, hora marcada, planejamento, cobranças, relógio, sirenes, suor e lágrimas, um salve-sequem-puder. A TV e a NET roubaram dos nossos filhos a capacidade do abstrair-se, a poesia e o sonho, e os fez escravos da imagem. Quem sabe ainda haja tempo, porta adentro, de, pela ministração e exemplo, semearmos na alma dos nossos filhos parte da semente que nos formou, a fim de que eles, adiante, possam dizer ainda sobre esses dias: que bons tempos aqueles... 38 impressões 2 Esconder a idade Pessoal, é sério mesmo! Leiam este texto com reverência e sincera meditação. Não pretendo expor convicções pessoais, ou meras opiniões minhas ou de terceiros sobre esse tema tão polêmico e atual. Vou expor a natureza, a raiz de onde tudo isso vem, sem medo de ser leviano. Recentemente, completei felizes quarenta e sete anos de idade; metade dos quais, como ministro do Evangelho de Jesus. A igreja resolveu comemorar essa data com um culto em ações de graças, numa quarta-feira. Muita gente compareceu, e os ministros da igreja celebraram a liturgia, sendo o pregador da ocasião o renomado e querido reverendo Edésio de Oliveira Chequer – ex-presidente do Supremo Concílio da IPB. Foi uma festa muito linda, para a glória de Deus, seguida de um descontraído momento de confraternização com torta, salgados, refrigerantes e muitos presentes. Tudo beleza! Antes, durante a celebração do culto, em dado momento, o pregador, que nunca tropeça 40 impressões 2 nas palavras, gaguejou mais de uma vez, visivelmente desconfortável e inseguro de revelar à Congregação presente os dígitos do meu natalício, os quais eu lhe tinha cochichado ao ouvido momentos antes. No final da reunião de culto, o outro pastor, de forma descontraída e jocosa, pediu aos presentes que descessem ao salão social, onde se encontrava o ambiente da recepção, onde eu, o aniversariante, poderia receber meus 47 abraços. Todos caíram no riso e entenderam a proposital brincadeira. Na ocasião, eu também me entreguei à brincadeira, para não ser deselegante e “corta-barato”, chato e piegas. Mas já de muito, todos sabem o que penso sobre isso. O que está por trás da negação da própria idade? Qual a raiz dessa necessidade de se esconder dos outros quantos anos de vida já se alcançou? Em primeiro lugar, o gravíssimo pecado da vaidade. Aparência, mera aparência, uma tentativa sistemática de se mostrar o que não é ou o que não tem; uma busca mesquinha e infantil pela aprovação do outro. Não tem jeito, a vida é assim mesmo, degenera a natureza humana; o tempo não perdoa; não há o que fazer, é parte da condição humana. Todos os homens, sem exceção, nascem, crescem, decrescem e morrem. São 41 impressões 2 jovens boa parte da vida e envelhecem; cheios de vigor em um tempo, e debilitados em outro. A pele, os músculos, os cabelos, a aparência vão se desgastando com o tempo; é inevitável, é irreversível. Por um tempo ainda se consegue administrar as marcas inconfundíveis da passagem do tempo: cremes, roupas, tintas, etc. Depois vai ficando ridícula toda tentativa de esconder o óbvio. Vaidade, pura vaidade, inútil vaidade, uma mentira tola de uma realidade tão comum e universal. Em segundo lugar, o gravíssimo pecado da ingratidão. Ora, se declaramos entender que a vida é um precioso dom de Deus, um presente incomparável, então é um contra-senso não admitirmos que vivemos mais um dia e mais um ano, e sermos muito gratos por isso. Dessa forma, fica sem sentido a oração do salmista, ao expressar: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio”. A idéia bíblica é a solene alegria de se observar a cada dia que o tempo vai passando e a pessoa vai seguindo sua trilha abençoada por Deus. Portanto, pare de ser irreverente e ingrato e dê louvores a Deus por cada novo dia que ele lhe concede; e, se puder, publique isso. É uma grande bênção viver muito e envelhecer aos pés da cruz. 42 impressões 2 Como acabar um casamento Tem coisas que aprendemos com muita dificuldade; outras, com extrema facilidade. Desde sempre é assim. E nesse aprendizado constante a experiência nos leva a reconhecer que é bem mais fácil assimilar e praticar coisas erradas do que discernir e permanecer no que é correto. Desde que o pecado entrou na raça humana há uma inclinação natural do nosso ser ao mal, e isso desde cedo. “A estultícia está ligada ao coração da criança”. Não precisamos gastar muito tempo para ensinar a uma criança algo errado, contanto que lhe pareça interessante; um conceito firme e sadio que lhe valerá para a vida, no entanto, poderá levar anos até que se torne padrão de conduta no seu comportamento. A lição que quero lhe ensinar aqui é das mais fáceis, das que se podem colocar em prática num abrir e fechar de olhos, e tem a ver com a vida familiar. Aprenda como acabar o seu 44 impressões 2 casamento rapidinho. Crie dentro de casa um ambiente de competição; queira ser melhor que o seu cônjuge em quase tudo o que você é e faz. Isto eliminará o sentimento de parceria e cumplicidade, já será um bom pontapé inicial. Torne-se recluso, elimine o diálogo, isto fará cada um distanciar-se do outro matando a afetividade e prejudicando a unidade; sem comunicação a desordem se instala, uma vez que toda ordem se estabeleceu do caos pela palavra de Deus, no início de tudo. Seja rixoso, cri-cri, procure confusão, transforme a atmosfera da casa em um cenário de guerra, ainda que seja por pequenas coisas, isto fará com que o seu cônjuge não sinta prazer de estar em casa e procure refúgio em outros lugares. Economize, poupe carinho e atenção, jamais manifeste com palavras e gestos os seus sentimentos, deixe que estranhos façam isso por você. E não se preocupe, essas manifestações de fora farão muito bem ao coração sedento e carente do seu cônjuge; lembre-se que combustível, palha seca e fogo fazem um trio do barulho. E mais, compare o seu cônjuge com outros, repreenda-o na presença de amigos, permita que os familiares e “amigos” interfiram na sua relação, ignore as mais sagradas carências emocionais do seu 45 impressões 2 companheiro (a), por mais bobagem que pareça ser, seja gentil só para com os estranhos, pressione-o a qualquer custo para que mude e deixe de ser quem é, etc, etc e etc. Por fim, deixe Deus de fora da sua relação conjugal, lute com as suas próprias forças, force a barra, vença no grito e na marra. Seguindo ao pé da letra estes conselhos, em pouco tempo você terá acabado o seu casamento. É tiro e queda. Mas se, ao contrário, você desejar edificá-lo e fortalecê-lo, então releia o texto e faça tudo ao contrário, não tem errada. 46 impressões 2 Crendices Acompanhe com atenção esta estória: Minha avó paterna se chamava Martiniana. Hoje ela é falecida; viveu 104 anos. Baixinha, compenetrada, gente séria, sisuda – meio brutinha, não era mulher de mentir, nem de inventar histórias. Eram os idos de 1950; ela morava na roça com meu avô Silvino Agostinho e seus 21 filhos. Criação austera, viviam para a sobrevivência, com limitações, mas grande dignidade. Naquele tempo, naquelas roças cercadas de matas, soltas e malhadas, sem muita gente por perto, nem a influência desintegradora da civilização urbana, a vida se desenvolvia em uma frequência diferente da que conhecemos hoje, e a dinâmica das relações era mui estranha, comparando-se às dos padrões atuais. São tantas histórias interessantes, tantas estórias intrigantes, tantos causos curiosos. Numa determinada tarde, a minha avó estava trabalhando no cultivo do algodão, numa planície 48 impressões 2 que se estendia logo após a colina que divisava a casa da família e a fazenda de D. Neném. Para se chegar onde ela estava era necessário se atravessar uma cortada de mata virgem, densa, e famosa de acolher tantas crendices. No meio da tarde, o meu pai – que era apenas um garoto – foi levar para ela: água e lanche, e cruzou a famigerada mata. De um certo ponto mais alto ele conseguiu ver voquinha inclinada, trabalhando. Desceu uma gruta, subiu outro elevado e, para sua surpresa, viu que ela se encontrava agora num ponto oposto ao que ele tinha visto. Estranhou, deu meia volta e seguiu para o novo rumo. Chegando mais perto, procurou um lugar mais alto e olhou em volta, e, para um susto ainda maior, ela estava ainda mais longe e no sentido contrario. Ele estava sendo vítima daquilo que tanto era comentado pelos mais velhos: enganado pela Caipora. Muito tempo depois, cansado e assustado, encontrou sua mãe bem pertinho de onde ele estava. Algumas semanas depois, ele e um dos seus amigos de trabalho, conhecido como Daniel, saíram para caçar passarinhos naquela redondeza. Segundo ele, depois de se separar a uma boa distância do companheiro, avistou embaixo de uma moita alta um boi em pé, que não tinha cabeça. Ele saiu dali 49 impressões 2 assustado e achando que se tratava de uma “visagem”, e fez um teste: pediu a Daniel para ir lá à dita moita, sem lhe contar o que vira. Daniel foi, ingenuamente, e voltou em desabalada carreira, assombrado com a mesma visão. Não muitos dias depois, era uma noite de lua cheia, minha avó se encontrava na cozinha, à luz de uma lamparina, adiantando a refeição daqueles que iriam para a roça no fim da madrugada do dia seguinte. De repente ela ouviu o alarido de muitos latidos nervosos dos cães que guardavam a casa. Eram latidos diferentes, assustados e assustadores, entrecortados por gemidos e grunhidos inexplicáveis. O barulho de mato esmagado cresceu e se aproximou do oitão da casa; o galinheiro se alvoroçou, e o barulho de patas dos cães em desespero se aproximou do quintal. A porta dos fundos, que era a da cozinha, estava só encostada – e era dividida em duas bandas. De repente – disse ela – perseguido e atormentado pelos quatros cães que guardavam a casa, arrojou-se porta adentro aquele “cachorrão” estranho, com cara estranha para um cão, com olhos faiscantes, andando meio de pé e meio de quatro, e passou em desespero roçando-se no vestido da minha avó, que também no susto, deu um 50 impressões 2 safanão no bicho com a colher-de-pau que manuseava. O maldito saiu pela porta lateral, acuado pelos cães e não foi mais visto naquela redondeza, nos dias seguintes. Muitos outros vizinhos daquelas bandas tiveram também suas experiências com lobisomens, caiporas, mulas-sem-cabeça e outros seres... Não precisa nem falar, já sei que você está achando tudo isso ridículo demais, crendice tola desse povo simplório da roça, da mesma forma que sei que você não crê na influência direta das fases da lua e movimento das marés na vida cotidiana de homens e animais, nem que haja uma energia tão negativa em uma pessoa, capaz de fazer plantas murcharem e animais adoecerem. Tudo bem. Você não acredita em cavalos alados ou sereias nos lagos, ETs ou chupa-cabras, e tem seus motivos pra isso. E eu pergunto: Você crê na intercessão dos “santos mortos”? Ou na invocação dos mortos, numa sessão de necromancia? Ou que uma pessoa pode ser salva por ser religiosa, ou que a própria religião oferece libertação à alma sedenta de qualquer criatura? Você crê que alguém pode galgar o céu, tão somente porque frequenta uma igreja ou faz declarações ritualísticas compostas por líderes de denominações cristãs? Você acredita que Deus se agrada e 51 impressões 2 recebe culto e adoração de gente hipócrita de vida dupla, que chora no templo, emocionado (a), com as mensagens e cânticos, mas que fora dali é desonesto (a), avarento, malicioso, ingrato, irreverente e incrédulo? Olha, eu acho mais fácil acreditar em Curupira e Boi tatá... 52 impressões 2 Desconectando-se... Eu sei e você sabe, não temos o hábito, nem o recurso nato da meditação. Já nascemos sob o signo da lepidez; somos a lebre e não a tartaruga; vivemos correndo, apressados, atrasados, com um constante sentimento de perda e defasagem. E a nossa esquizofrenia é tão grande que nos sentimos culpados se deixarmos os mil afazeres para uma pausa à reflexão. Coitado do nosso cérebro que não descansa nem quando dormimos; ele está sempre tão estimulado, tão acelerado que não conseguimos dormir relaxada e satisfatoriamente. Durante o sono temos espasmos e agitos, como quem está assombrado, e acordamos com o coração palpitando, pois o campo cerebral responsável por reordenar as informações que capturamos durante todo um dia não dá conta ou não tem tempo para processar tanta coisa ao mesmo tempo. Ao amanhecer, o galo não canta mais, também acorda 54 impressões 2 estressado, tudo é veloz demais e quem não entrar nesse “bonde” fica para trás e se desconecta do mundo moderno. Só de escrever isso já estou estressado e ofegante; tenho pouco tempo para pôr no papel essas idéias que serão publicadas no boletim semanal, e cada um que participará desse processo também tem pressa para terminar sua tarefa. E você que está lendo este texto também tem pressa para finalizar sua leitura, porque sua mente já tem mil planos para agora e mais tarde. É de enlouquecer qualquer um a vida que esse tempo nos propõe. E essa roda-viva é uma invenção humana, uma construção sistêmica para dar ao homem moderno a sensação de divindade que sempre o habitou. O ser humano realmente assumiu ares de deus. Em poucas décadas multiplicou o saber, brincando de criador, imitando o divino. Fez flutuar o ferro, criou a aviação, manipulou a vida, desenvolveu a bio-genética, abriu caminho para a universalização social, inventou a internet, globalizou a informação e a linguagem. Em pouco tempo de história passamos a ser regidos por satélites e integrados por ondas invisíveis. Quebramos a barreira do som, viajamos para além de nossa própria atmosfera, estabelecemos estações espaciais, trouxemos à existência o 55 impressões 2 incrível, convivemos cotidianamente com máquinas superhiper-ultra-mega sofisticadas, de altíssima tecnologia, para tornar a vida humana cada dia mais desencanada e fácil, além de rápida – que é o propósito maior. Dependendo do que se pretende fazer, um minuto é uma eternidade. Temos à nossa disposição dispositivos mecânicoshidráulicos-tecnológicos que nos desincumbem do que seriam grandes e pesadas e demoradas tarefas. Em apenas um clique suave, algo extraordinário acontece, de forma estupenda e maravilhosa, e o que poderia nos roubar horas de serviço, resolve-se em poucos segundos. Sem dúvida é tudo muito fantástico e útil, invenções engenhosas para dinamizar a nossa vida terrena, para libertar-nos dos trabalhos penosos, mas o preço de tudo isso foi e tem sido a escravidão do tempo. Tudo à nossa volta depende de uma máquina, depende da tecnologia. Para quem vive como vivemos, faltar energia durante algumas horas é sinal de um apocalipse terrível, pois estamos escravizados pela tecnologia. Por causa dela corremos o tempo todo e não temos tempo. A vida bela e pura que pregamos e sonhamos é apenas uma referência teórica e distante. Dormimos mal, comemos mal, andamos com medo o 56 impressões 2 tempo todo, fechamos a boca para não falar com estranhos, não nos lembramos do que sonhamos, vivemos ansiosos e com uma agenda sempre lotada para tudo e para todos, não nos relacionamos mais nem com os da própria casa. Estamos virando zumbis, quase espumando pela boca, com os olhos ressecados e o coração endurecido. Essa é a razão por que não conseguimos ficar quietos em um lugar solitário e silencioso lendo a Bíblia e pensando naquilo que ela está nos instruindo. Seja bem honesto com você mesmo: quando foi a última vez que você fez isso? Quando foi que você saiu da roda-viva, fechou sua agenda por um certo tempo, ficou à sós com Deus meditando na Palavra? Então leia isto: Se você quer saúde integral, pare em meio ao corre-corre da vida, saia de cena, desconecte-se de tudo e tente ficar em silêncio a sós com Deus. É remédio certo para a sua loucura. 57 impressões 2 Ele estava lá Numa determinada passagem bíblica (Jo 8:57, 58) Jesus informa a um grupo de Judeus que o estorvava com suas mil perguntas capciosas, que ele mesmo conhecera a Abraão. Todos ficaram irados e ironizaram: “Ainda não tens cinquenta anos e viste a Abraão?”. E para espanto de todos, Jesus sentenciou: “Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU”. Ele estava no princípio com Deus; todas as coisas foram por ele e por causa dele, e sem ele nada do que foi feito se fez (Jo 1). Ele estava lá, quando o primeiro casal “pisou na bola”, trazendo ruína a toda a raça humana; ele viu quando Caim levantou a mão e, com um golpe, derramou o primeiro sangue sobre a terra, o sangue de Abel; ele estava lá, quando o velhinho Noé fez entrar em sua arca um casal de cada espécie, e quando as muitas águas cobriram os montes da terra, fazendo perecer tudo o que se movia na terra. Ele estava lá quando Abraão entrou em aliança com o Eterno, tornando-se o pai de nações. Inclusive foi ele mesmo quem apareceu a Abraão na companhia de dois 60 impressões 2 anjos, embaixo de um carvalho, e lhe fez a promessa de um filho herdeiro em sua velhice. Ele viu Jacó correr em fuga para longe de seu vingativo irmão enganado, e depois Ele estava lá quando José foi vendido por seus irmãos a uma caravana de Ismaelitas, e depois assumir o segundo posto mais elevado do Egito. Ele viu um Bebê ser colocado num cesto e largado no rio Nilo, para ser salvo da fúria do Faraó, ser resgatado pela princesa e criado no palácio, depois fugir para o deserto e cuidar de ovelhas; falou-lhe por meio de uma sarça em chamas, e o viu tirar a Israel do domínio de faraó, depois de 430 anos. Ele viu, feliz, um menino pastor desafiar e vencer um gigante Filisteu que afrontava o exército do povo de Deus, e viu esse plebeu assumir o trono por quarenta anos de glória. Ele viu Salomão orar pedindo sabedoria, e decidir a causa de duas mulheres que requeriam a maternidade de uma criança. Ele estava lá quando Elias entregou seu manto profético a Eliseu, e depois foi arrebatado ao céu numa carruagem de fogo, sem passar pela morte física. Viu Eliseu fazer um machado flutuar na água, e multiplicar o azeite da viúva. Ele viu e sofreu muito ao ver Israel capitular ante o poder da Assíria, deixando de existir como nação, amargando 61 impressões 2 horrível cativeiro; e igualmente Judá cair de joelhos, servo dos Babilônios durante setenta longos anos. Ele viu reis e profetas pendularem entre o temor ao Deus da aliança e a idolatria pagã de falsos deuses, e a luta de sacerdotes de santificar o povo. E o mais curioso: ele viu nascer uma criança robusta, da linhagem de Davi, da casa de Jacó. Era um menino chamado José. O menino cresceu como um rapaz piedoso e temente a Deus. Anos depois, esse rapaz bem mais velho se encanta por uma mocinha virgem descendente dos filhos de Judá. Eles se enamoraram e firmam uma aliança de amor, para a alegria plena dEle. Chegara a hora; Aquele que viu o mundo nascer a partir do nada, e depois toda a historia acontecer, foi enviado ao ventre daquela que Ele mesmo vira nascer, virou embrião, feto, bebê, nasceu em carne, na forma de um ser humano, em meio a uma família, com pai mãe, irmãos e irmãos, primos e tios, cresceu como um homem normal, e morreu ainda jovem. Ressuscitou e está vivo ao lado do Pai, onde sempre esteve. Ele sempre esteve lá. Jesus não passou a existir a partir de Belém; Ele sempre foi e é. O que, então comemoramos no Natal? Comemoramos a nossa redenção. Porque um menino nos nasceu... 62 impressões 2 ...Eles não sabem o que fazem... Foram as palavras de Jesus ditas na cruz, aos que dele zombaram. Mas muito bem podem servir a tantos outros que emolduram a sua história. O imperador Cesar augusto não sabia o que estava fazendo, quando baixou um decreto ordenando que todos fossem alistar-se, cada um em sua terra natal. Com essa ordem, José saiu de Nazaré, na Galiléia, para a Judéia, e depois à cidade de Belém, com sua esposa Maria nos últimos dias de sua gravidez. Chegando ali, a cidade lotada por aqueles que, de outras bandas, voltaram à sua terra para também recensear-se, todos os donos de abrigos, pousadas, hotéis, pensões, não sabiam o que faziam. Um a um, ao olharem para aquele casal em aperto, disseram em coro: “não há lugar”. Nem mesmo o dono de um estábulo sabia o que estava fazendo ao conceder abrigo tão precário a uma jovem que sentia as contrações do parto. Nesse tempo, o rei Herodes não sabia o que estava fazendo ao convocar os magos do Oriente, para se informar com precisão sobre o tempo que eles seguiam uma estrela, e onde ela estacionara, e onde deveria nascer aquele menino. Ele não sabia o que estava 64 impressões 2 fazendo ao se inflamar de ciúme e ódio, promovendo tão grande matança de crianças inocentes na terra de Belém, na tentativa de, com isso, barrar o caminho daquele que seria o rei dos Judeus. Os governantes do Egito também não sabiam o que faziam ao dar abrigo àquela família Judia, vinda do nada, sem carta de apresentação, visto ou passaporte, mesmo num período em que as feridas relacionais entre egípcios e hebreus ainda não haviam sido cicatrizadas. Assim, em outras paginas da trama, Herodes Arquelau não sabia o que estava fazendo, ao assumir o trono em lugar do Herodes - O grande, e dar sequência aos seus atos sanguinários na Judéia, obrigando a José e Maria, com o menino Jesus, a se desviarem dessa rota de morte, indo morar na cidade de Nazaré, na Galiléia. Os doutores do templo não sabiam o que faziam ao interrogar, espantados, ao garoto perdido dos pais. João Batista não sabia o que fazia, ao derramar água sobre Jesus, batizando-o como fazia a milhares, sendo que a estes, o batismo era para arrependimento. Os Judeus ortodoxos, “filhos de Abraão”, não sabiam o que estavam fazendo, ao perseguirem Jesus por todo canto, provando-o, com o fim de execrá-lo como impostor. Anás e Caifás, Sumos 65 impressões 2 Sacerdotes, homens da lei, não sabiam o que faziam, ao entregarem Jesus nas mãos de Pilatos, para ser julgado pelo crime de perjúrio e insurreição. Este Pilatos, governador da Judéia, sob a influência ferina de Herodes Antipas, tendo interrogado a Jesus, perante os líderes do povo, sem consciência do que fazia, lavou as mãos. Judas Iscariotes, que traíra Jesus por trintas moedas, ainda sem saber o que havia feito e continuava fazendo, suicidouse. A multidão, ensandecida, em frente ao pretório, sem saber o que estava fazendo, gritava a plenos pulmões e em coro: “crucifica a Jesus! Crucifica-o!” Os soldados que lançavam sortes sobre as roupas de Jesus, e aqueles que o insultavam, e os demais que o açoitavam, juntos com aqueles que lhe cravaram as mãos e os pés, eles não sabiam o que faziam. Ninguém sabia de nada sobre Jesus, na história de então; Deus sabia de tudo desde sempre, pois estava escrito. “Vindo a plenitude do Tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a Lei “Gl 4:4. Hoje aqui, talvez você não saiba o que está fazendo, mas Deus sabe por que você está aí agora. É para cumprir um propósito eterno em sua vida... 66 impressões 2 Envelhecer Eu não queria envelhecer. Eu queria permanecer criança como estou. Eu não queria o entardecer, o crepúsculo agressor; eu queria o sol sereno da manhã, como o que me aquece agora. Envelhecer é caminhar para o fim. Eu queria mesmo era o desabrochar, o início da vida, como o que tenho agora. Envelhecer é ver tudo degenerar, as folhas caírem, de mortas. O que eu queria era me abrir toda manhã, me reinventar como um botão de rosa que se oferece saliente a quem quer vê-lo, como me sinto agora, no exercício de minha criancice. Envelhecer é não poder mais realizar tantas coisas, depender de tudo e de todos, limitar-se. O que eu queria mesmo era continuar por tanto tempo com essa imensa liberdade de ir e vir, tendo o horizonte como limite horizontal de minhas ações terrenas, e o céu como espaço suficiente para as peraltices inocentes, como as que transgredi há poucos 68 impressões 2 instantes. Envelhecer é deixar-se carcomer pelo passado, por aquilo que já foi e não é mais, afogar-se em lembranças que zombam do seu estado de decrepitude. Eu não queria envelhecer; queria permanecer vendo o futuro ainda distante, enquanto ignoro o presente zombeteiro, tendo o passado como uma história de amor, sempre lépido, prosseguindo, sem enganchar em nenhum graveto, como faço exatamente agora. Envelhecer é olhar no espelho e suspirar pelos vincos fundos das rugas e marcas de expressão tatuadas por todo o rosto, carregando tantas histórias doridas. Que nada, eu queria era olhar no espelho e me espantar com o brilho do olhar de quem está feliz, e celebrar a alegria de um rosto jovem e em paz com tudo, e notar as marcas fundas nos cantos da boca. Envelhecer é acercar-se de medos e sombras, e iniciar o processo consciente de clausura psicoemocional, em face de tantas limitações e defasagem ante o mundo que corre à sua volta. Por isso não queria envelhecer; queria era continuar me sentindo forte, vigoroso, encarando desafios, desafiando gigantes, sentindo-me estimulado ante o desconhecido e amigo do novo, sem perder o passo e o compasso dos tempos, ligado ao som e ao 69 impressões 2 ambiente do meu tempo, como estou fazendo agora. Envelhecer é parar de sonhar, achar que o melhor dos seus dias ficou no passado, quando podia andar depressa e enxergar longe, quando não era necessário fazer contas e medir os passos, e simplesmente corria. Quiii nada, eu queria mesmo era me manter assim jovem como estou, acreditando que o melhor dos meus dias ainda está por acontecer, que a minha maior alegria já experimentada é apenas a medida mínima para a festa que diante de mim está; queria continuar enxergando o futuro como parceiro íntimo, com quem reparto sonhos e projetos audaciosos, e em quem deposito confiança e segredos, e a quem digo: me aguarde! Envelhecer é começar a morrer, é partir aos poucos. Por isso não quero envelhecer; por isso quero aproveitar o melhor da vida, enquanto estou tão jovem e com uma vida inteira pela frente. Acho até que você, ao ler este texto, deve estar pensando: o que uma criança como esta pode saber sobre a vida e sobre a velhice, para falar essas coisas desse modo? É, sei pouca coisa mesmo sobre a velhice, e quero continuar sabendo menos ainda, pois não quero envelhecer. Eu vou fazer cinquenta anos de idade, mas sou uma criança na alma. Eu não estou me 70 impressões 2 referindo a idade cronológica ou faixa etária, ao senil ou ao pueril, a dentes de leite ou a cabelos brancos, como os que tenho agora. Antes, eu me refiro a um estado de espírito que gerencia a nossa vida e nos faz viver e sonhar, ou a desistir e morrer. Conheço rapazes e moças de espinhas no rosto, que querem morrer, e vivem enclausurados num asilo existencial, com bengalinhas e muletas emocionais, esperando a morte chegar. E conheço idosos de cabeça branca e pele enrugada, a quem às vezes é preciso conter e dizer: menos, menos...!, pois estão acesos, animados, em paz com tudo, aceitando os limites do corpo numa boa, e sem pressa para morrer. São jovens em um corpo flácido, ao contrário daqueles outros que são velhos em um corpo sarado. Eu não queria, nem quero envelhecer; quero permanecer assim jovem como estou agora, aos cinquenta. 71 impressões 2 Fones de ouvido Recentemente, precisei comprar um fone de ouvido para curtir as minhas músicas no aparelho celular, e fiz uma rápida pesquisa de mercado. Fiquei impressionado com o que descobri. Hoje existem muitas marcas e modelos, com as mais destacadas funções e configurações. Descobri que podemos comprar um fone de ouvido ali naquela muvuca do centro da cidade, por apenas dois reais, mas também encontrei um modelo em uma loja em São Paulo, custando dois mil reais. Uns transportam o som até o ouvido com baixíssima qualidade, chiados e distorções, e se quebram com extrema facilidade. Outros, por sua vez, levam até o ouvido o mais puro som, com definições de graves, médios e agudos tão perfeitos, que nos dão a impressão de que estamos mesmo ao vivo na sala de apresentação de uma afinada orquestra. São cápsulas pressurizadas de alta performance que inibem a entrada do som externo, 74 impressões 2 fazendo com que o ouvinte apenas sinta as vibrações do som que vêm do aparelho reprodutor musical e não do que se passa ao seu redor na rua. Pois é, a tecnologia está cada dia mais avançada e traz comodidade e conforto ao homem moderno. Não é de admirar que esta seja uma cena cada vez mais comum nas ruas da cidade. Por onde quer que passemos, lá estão os tais fones equipando ouvidos jovens e outros nem tanto. É assim nos ônibus, na saída da escola, nos calçadões e em qualquer lugar onde haja muita gente. Sim, o fone de ouvido não é apenas um acessório moderno, é mais que isso. Ele é um sinal desse nosso tempo, um ícone, um símbolo, uma representação da nossa esquizofrenia moderna. O fone de ouvido vai adiante de nós dizendo às pessoas que não queremos conversa, que não estamos disponíveis ao contato, que queremos estar sós. Isolamento é a palavra. Se houver alguém do seu lado, juntinho mesmo, ao ponto de você sentir o seu calor e o seu perfume, e esse alguém estiver usando um fone no ouvido, vocês dois estarão em mundos diferentes, não importa a distância física que os separarem. Dentre os muitos males desse nosso século, um dos mais agressivos contra a nossa constituição como humanos é o 75 impressões 2 isolamento, pois fomos criados para a interação, o contato, o diálogo, a sinergia. Não é bom que o homem esteja só, disse o Senhor. A corrupção generalizada que assola a nossa sociedade no apagar das luzes da história trancafia as pessoas em seus mundos e rouba de nós os nós do cordão que nos prende ao próximo; próximo que fica distante a cada dia. O fone de ouvido é, portanto, apenas um instrumento, um aparelho, um recurso disponível. O que nos remete a ele é que nos compromete. Não é errado e nem ruim usar um fone de ouvido; ele é um elemento elétrico-eletrônico-acústico fabricado para nos fazer ouvir a música com precisão e conforto. Mas precisamos saber usá-lo, para que não desperdicemos as ricas e benfazejas bênçãos que Deus nos dá, via contato humano. Vai que numa dessas passa um anjo entre nós, e você vai estar bem looonngeee... 76 impressões 2 Gente não é gente... Que coisa complicada é gente... Lidar com ela, então, UH!! Só a graça divina. Parece-nos melhor lidar com máquinas, por mais sofisticadas e complexas que sejam, pois se lhes aplicarmos os ajustes necessários, logo responderão sem surpresas; ou talvez seja melhor cuidar de bichos, ainda que selvagens, pois com disciplina e firmeza logo nos atenderão. Gente é muito complicada, cheia de vontades, idiossincrasias, neuroses e contradições. Cada cabeça uma sentença, cada indivíduo um universo, cada vida uma vida, cada vida uma história. E tem umas, então... Não há reforma que dê jeito, só mesmo um milagre daqueles do tipo “Haja luz e houve luz”. E quando se vive em comunidade aí então é que todas as esquisitices se manifestam; é na convivência efetiva que virtudes e defeitos ganham contornos visíveis. E é aí que a coisa pega. Se por um lado nos deparamos com boas surpresas 78 impressões 2 advindas de corações graciosos e bem-aventurados, por outro nos chocamos ante a ruindade de seres doentios com caras de anjo. Se ocorre sermos abençoados por gestos benignos de quem não esperávamos, também somos alvo de ações mórbidas de quem muito menos esperávamos. É... Gente não é gente! Com certeza foi por isso que o rei Davi ao ser confrontado em seu pecado e receber a oportunidade de escolher o castigo, disse: “É grande a minha angústia! Prefiro cair nas mãos do Senhor, pois é grande a sua misericórdia, a cair nas dos homens”. 1 Crônicas 21:13. Deus me livre! Tem gente que não é gente, pois não consegue conciliar o sono enquanto não faz mal a outro semelhante; não sossega enquanto não prejudica alguém. Às vezes, com palavras malignas engenhosamente inventadas para render estórias, ou pequenos comentários revestidos de aparente piedade, mas que não passam de sofismas infernais que irão destruir a vida de inocentes. O certo é que parece haver uma ação direta de Satanás na vida de algumas pessoas, inspirando-as a proferir palavras malditas com um incrível poder de destruição, com o inequívoco intento de matar, roubar e destruir. Não deveria ser assim. Antes, as pessoas 79 impressões 2 deveriam se respeitar e cuidar umas das outras, em razão de serem todas feituras das magnânimas mãos de Deus. Sim, somos todos imagem e semelhança do Criador, quer crentes ou incrédulos, ateus ou adoradores, ricos ou pobres, não importa. Procurar sempre o bem-estar do outro faz parte do caráter de Deus; ferir e prejudicar o semelhante é coisa de quem tem parte com o sujo. É por isso que eu repito: Gente não é gente! 80 impressões 2 Ímpares A mensagem deste texto é dirigida a você que é par e nunca parou para meditar sobre o que vem a ser a vida de alguém que é ímpar. Embora a nossa sociedade seja composta de pessoas ímpares e de pares, e isso faça parte do curso natural da história do homem na terra, não é fácil viver sozinho, especialmente depois de certa idade. E muito mais quando essa pessoa de certa idade necessita de cuidados e carinhos. É muito difícil. Você não sabe o que é isso. Não é fácil sentir frio durante a noite, revirarse e buscar aconchego em um frio cobertor... Levantar cedo, usar o banheiro de portas abertas, escovar os dentes olhando o próprio e único rosto no espelho, enquanto a casa, sempre arrumada, também acorda em silêncio total. Você sabe o que é arrumar a mesa para o café da manhã para uma pessoa e ninguém mais? Um pedaço de pão, uma torrada, meia xícara de leite, uma fruta e 82 impressões 2 muitos suspiros... ? Pense no que vem a ser tomar banho sem pressa, sem ninguém a bater à porta do banheiro, arrumar-se, perfumar-se, sem ninguém para apreciar e cheirar... O ímpar, de qualquer lugar da casa pode ouvir o surdo barulho do ponteiro menor do relógio na parede a contar os segundos... Tempo que não passa, horas que não chegam, dias que se atrasam. O rádio que toca, as notícias que se repetem na televisão, aquele artista íntimo da hora programada, tudo é enfadonho e repetitivo. Chega a hora do almoço... O que vou requentar? Duas colheres de arroz no fogo, três cápsulas de remédios sobre a mesa, um prato para lavar. A tarde parece durar um dia todo, parece eterna, densa e cansativa. Escurece. Escurece. Escurece. O ímpar troca de roupa cedo à noite e prepara-se para dormir o mais tarde possível, pois a madrugada que se avizinha será uma jornada por demais longa a atravessar. Senta-se no sofá, levanta-se do sofá, vai à janela, consulta a agenda de cabeceira, procura um número de telefone para quem ligar, desiste de ligar, olha para o aparelho, ele não toca nunca, volta à janela, volta ao sofá... Dez minutos se passaram. Croc, Croc, Croc, Nhac, Nhac, Nhac, Slurb, Pan, Smach... Qualquer som parece 83 impressões 2 alto demais, todo movimento se alteia... Quanta saudade, quantas lembranças, quantos quereres... Quantas, tantas vezes os olhos derramam lágrimas, muitas lágrimas, e ninguém vê... Dores? Quantas... E quanta auto-ajuda, socorro próprio, auto-atendimento, pois não há quem perceba um só gemido. Horas, dias, meses, anos de solidão, enquanto se espera o socorro. Assim se passam os dias de determinadas pessoas que classificamos como ímpares. Algumas dessas, pasmem, ao morrerem, só serão achadas dias depois. E o que estamos fazendo em direção a elas? Somos seres gregários, nascidos para a interação, criados para receber e dar amor. No plano original do Criador está definido: “Não é bom que o homem esteja só”. Claro, a natureza humana é, em essência, carente de proximidade, calor, companhia, cumplicidade, reconhecimento, apreciação, de olhares atentos, de ouvir os sons dos diálogos pertinentes ao cotidiano partilhado, do amor latente que se manifesta nos fraternos laços da verdadeira comunhão. Quer matar alguém de fato? Então deixe-a sozinha. Não propriamente e tão somente em um lugar onde não há mais ninguém, mas em um lugar aonde ela se sinta esse ninguém. Nada é mais destrutivo para a 84 impressões 2 alma, nada corrói mais o coração do que a sensação de invisibilidade, de invalidez, de desconexão. Por isso um velho de mais de cem anos quer viver muito mais, por se sentir ainda útil, valorizado, acolhido e amado, e um jovem de pele lisa quer morrer, por não achar sentido em sua existência, pois todos o deixaram no meio da jornada. Somos uma sociedade que envelhece a cada dia; aumenta o número de vovôs e vovós, bem como de tantos ímpares deixados pelo meio do caminho. Desatualizaram-se, soltaram os cabos que os prendiam à geração seguinte, não sabem mais como falar aos da geração virtual, foram isolados, dispensados, postos de molho. Isso é pecado. A Escritura diz: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente” 1 Tim 5:8. O que precisamos fazer de fato é voltar os olhos para os que se tornaram ímpares e estão ao nosso lado, e oferecer-lhes abraço, atenção, cuidados, telefonemas, visitas, amor sincero. Isto dará sentido aos seus solitários dias, e o Senhor se agradará disso. 85 impressões 2 Impecável Faz pouco mais de dois anos que eu assisti a um filme que me fez pensar profundamente sobre a vida, as relações, e as minhas próprias posturas diante de Deus, das pessoas, e de mim mesmo. Vou evitar dizer aqui o nome do filme, a fim de não estragar a sua expectativa em assistilo do início ao fim. Vou apenas citar a história contada na tela. O enredo, baseado em uma história real, apresenta uma viagem normal, até que terroristas se manifestaram armados, e anunciaram a presença de uma bomba a bordo, e o plano de sequestrar a aeronave para um destino que eles determinariam. Minutos de pânico se instalaram dentro do avião, até que dois agentes policiais à paisana, que seguiam viagem como simples passageiros, investiram contra os malditos bandidos. Um alvoroço generalizado tomou conta do lugar, e uma luta corporal intensa incrementou o tumulto. O comandante e o co-piloto abriram a porta 88 impressões 2 da cabine para se acercarem dos fatos, e foram alvejados com tiros. Caíram mortos no corredor. Gritos, desespero e horror tomaram conta daquele ambiente; uma cena horrenda. Os sequestradores foram enfim subjugados e mortos. Acabou a luta. Passado o trauma do pânico em decorrência da peleja e dos tiros, todos à uma chegaram à constatação ainda mais dramática: o avião estava sem seus dois pilotos. Seguia curso pré-estabelecido no piloto automático, mas precisaria descer e pousar. Como sempre ocorre em casos caóticos assim, sempre surge um líder, alguém que toma a iniciativa de trazer ordem ao caos. Teria alguém dentre os passageiros que soubesse pilotar um Boeing daquele porte? Não. Depois de instantes de desespero, descobriram um moço que tinha tomado aulas de pilotagem, e que acumulava algumas horas de voo em aviões pequenos. Ele tinha boas noções de pilotagem, e até uma certa experiência, mas não o suficiente para a tarefa mais difícil e estressante no campo da aviação: aterrissar; e inda mais um Boeing. Não tinha outro jeito, teria que ser ele mesmo. E os outros mais de trezentos a bordo teriam que rezar. Claro, o roteiro do filme é estrito a esse fato, mas os seus diretores exploraram ao máximo as emoções 89 impressões 2 e o drama que todos eles viveram ali, nos últimos minutos daquele voo. O moço assumiu a cabine do avião, que mais parecia uma sala, com milhares de botoezinhos, telas e controles digitais, e, por rádio, em contato com a torre de controle mais próxima, expôs o drama da situação e foi seguindo as instruções, como podia. Para piorar ainda mais a situação (e isso foi possível), surgiu uma tempestade e a aeronave foi atingida por raios, e perdeu a comunicação com a torre. Eu nem preciso narrar com detalhes o agonia vivida por todos naqueles momentos, mas quero explorar um pouquinho o drama do jovem piloto, vendo o combustível se acabando, sem contato com a torre, e os indicadores de nível mostrando o avião em declínio, tendo a consciência de que centenas de pessoas estavam dependendo agora de sua habilidade, e milhares em terra estavam paralisados em agonia, aguardando o desfecho. O filme focou boa parte de suas cenas nesses últimos minutos, em grandíssimo suspense, mostrando a face do piloto lavada em suor, olhos esticados em tensão, movimentos apressados das mãos sobre aqueles botões, a aeronave que balançava em desgoverno, e uma constatação: ali estava uma pessoa esmagada por um peso 90 impressões 2 invisível de uma responsabilidade sobre-humana e uma missão quase sobrenatural. Simplesmente ele não poderia errar. Conclusão dessa história: aos trancos e barrancos, e um impacto violento no chão, ele conseguiu pousar o Boeing, mesmo saindo da pista e enfiando o bico num barranco ao fim da linha, que já estava cheia de bombeiros, para-médicos, autoridades e imprensa, mas, como herói, salvou aqueles que se achavam hipoteticamente mortos. Um final feliz, abraços, choro, reencontro, homenagens e recompensas, como não poderia deixar de ser. Contase que o herói dessa aventura precisou de tratamento psicológico e psiquiátrico para se recuperar desse trauma. É desumano carregar um peso tão grande e não poder errar. 91 impressões 2 Invisível Criança é fogo, né? Que fase maravilhosa essa... É tudo tão simples e verdadeiro... A criança é muito pura e acredita em cada coisa... Eu tenho um primo por parte de pai que quando era garoto vivia dizendo que quando crescesse queria aprender câmera lenta. Outros coleguinhas andavam desejando, sinceramente, ser o The Flash e se deslocar para vários lugares em altíssimas velocidades; outros queriam voar como o Super-homem, ou subir pelas paredes como uma aranha. E eu mesmo já andei pela rua com um martelão de madeira, achando que era o Poderoso Thor. Esses superpoderes sempre povoaram a imaginação da criançada e até seguiram em desejo interno no coração de jovens de todas as idades. E, é claro, por serem pura fantasia, jamais veremos nas ruas alguém passar como um vento, ou subir pelas paredes, ou levantar um ônibus com uma das mãos. Mas desses superpoderes 94 impressões 2 fantásticos encontrados nos heróis das fantasias infantis, um em especial parece ser encontrado entre nós. Se não, efetivamente, como uma dádiva de Odim, pelo menos em seus efeitos. Você já ouviu falar do homem invisível? Recentemente isso voltou à baila através do filme “O quarteto Fantástico”: trata-se de um grupo que passou por um processo de mutação, devido a radiações elevadas no corpo, e um deles teve os músculos do seu corpo transformados em pedra, outro passou a desenvolver a capacidade de ficar em chamas e voar velozmente, outro podia estender-se como borracha, e outro descobriu que podia tornar-se invisível quando quisesse. Aqui e acolá o cinema explora o tema da invisibilidade humana, por ser essa fábrica de sonhos, e poder levar as pessoas, ainda que seja por algumas horas assentadas numa poltrona, a lugares impossíveis de se ir, conceber o que não existe, e fazer o que a natureza humana não pode realizar. Bem, a tecnologia e a coragem podem fazer coisas espantosas mesmo. Um americano, por exemplo, conseguiu a proeza de “voar” sete quilômetros, a 200 km por hora, saltando de um avião, usando apenas uma roupa especial. Coisa fantástica (tem cada maluco), mas o Super-homem não 95 impressões 2 existe. Usando aparelhos cada vez mais sofisticados e impressionantes, o homem já consegue se locomover a incríveis velocidades, mas o The Flash também não existe. Mas, o homem invisível existe, sabia? Ele é capaz de entrar e sair de uma igreja evangélica, várias vezes, sem ser notado. Isso não é mesmo é incrível? 96 impressões 2 Jesus e sua Noiva Há na Bíblia várias figuras que representam a relação de Deus e o seu povo, entre Cristo e sua igreja. Ele é o Oleiro e o seu povo é o barro; Ele é o Agricultor, nós a lavoura; Ele é o Pastor, nós as ovelhas; Ele é a Cabeça e a igreja é o corpo; Ele é o Noivo e a igreja é a Noiva. A idéia é celestial e perfeita; uma revelação divina. Cristo é o Noivo; a sua igreja, a Noiva. Dêem-me licença para pensar. Sobre a integridade da figura de Cristo, menos controvérsia há, senão a perspectiva profética dos falsos cristos que aparecerão no final dos tempos. Inda mais que esses falsos cristos preditos pelo Salvador não se constituem em personagens, em pessoas, mas em idéias erradas sobre a pessoa e missão do Filho de Deus. Mas o que me intriga, de fato, é a figura da noiva de Cristo no cenário evangélico nacional. Alguma coisa está errada. Muito errada. Cristo é um só, e a sua igreja também é 98 impressões 2 Una. Então, quantas noivas ele tem? Diante de diferenças tão gritantes entre os perfis da igreja evangélica presente em nosso tempo, a pergunta é mesmo inevitável: Qual é a verdadeira noiva de Jesus? Claro, porque é óbvio que não se trata de uma mesma pessoa. Deixe-me exalar minhas conjecturas. Seria, porventura, uma ilustração do reinado de Salomão, que no exercício do poder acumulou mil mulheres em seu harém? Fica claro no texto que ele tinha uma mulher a quem pertencia o seu coração – uma tal Sulamita, mas ao seu redor havia mil noivas, entre esposas e concubinas. Eram mulheres de vários países e culturas diferentes, com seus costumes e crenças também tão diferentes, que foram adicionadas a cada aliança feita com as nações vencidas. Pois é, a igreja protestante evangélica foi sub-dividida em tantas frentes, com tantas caras e tantas personalidades, costumes e doutrinas distintos, que não podemos identificar e definir com singularidade a “Noiva de Jesus”. Isso é tão verdade que essas várias noivas se indispõem entre si, tornando-se inimigas e concorrentes, disputando à força a atenção do Noivo. Há poucas décadas nós aprendemos e cantamos um “corinho” que dizia: “Não importa a igreja que tu vais; se atrás do Calvário tu 99 impressões 2 estás; se o teu coração é igual ao meu, dá-me a mão e meu irmão serás”. Em tese isso funcionou por pouco tempo no cenário evangélico nacional, mas hoje estamos cada vez mais isolados e desfigurados. A verdade verdadeira é que a verdadeira igreja de Cristo (sensacional), sua Noiva, é Una, íntegra, perfeita. Há um só corpo e um só Senhor. Deus não conhece denominação ou placa de igreja; isso é coisa humana e carnal. Tudo bem que haja diferenças, pois somos mesmo diferentes, e a multiforme graça de Deus permite que manifestemos nossas peculiaridades e mantenhamos nossa identidade. Mas somente no que é periférico e não essencial à salvação. No colégio apostólico havia homens diferentes no temperamento e na condução de seus ministérios. Eles continuaram sendo quem eram, mas combinaram como uma única palavra naquilo que era o cerne da mensagem que Cristo ordenou que eles pregassem. Não havia contradição, nem competições, não criaram ministérios pessoais ou suas próprias igrejas, mas todos, igualmente, falaram a mesma coisa de modo diferente a todos que precisavam ouvir. Cristo é um só; a cruz é uma só, a mensagem da salvação é única; há um único caminho, uma única verdade, uma única porta para 100 impressões 2 a salvação. O que estamos vendo em nome da igreja e da verdade é o cumprimento da profecia, quando diz que surgirão falsos cristos e falsos profetas, com seus falsos ensinos, falsos cultos, falsas promessas, formando falsas igrejas e falsos crentes. O que dói é que eles não irão para um falso inferno. Concluo: Cristo não tem um harém lotado de noivas; ele é apaixonado e comprometido com a sua Noiva, a única igreja verdadeira que existe, formada pelos remidos de todos os cantos da terra. Eu tô aí nesse meio. E você? 101 impressões 2 Jesus no Brasil Bem, sabemos que Deus encarnou e veio nascer entre nós, como um dos moradores do planeta Terra. Veio viver como um de nós, com todas as implicações de um ser humano, mesmo sendo Deus em sua plenitude. Havia muitas nações constituídas no mundo antigo; muitas capitais, muitas cidades grandes e muitas outras médias e pequenas nos interiores de seus países. Jesus veio para um povo específico; nasceu em uma nação pré-estabelecida pelo Pai, “veio para o que era seu”; veio para a Judéia; foi concebido no ventre de uma jovem virgem que morava numa cidadezinha chamada Nazaré, na Galiléia. E o povo que vivia na região da sombra e da morte viu grande Luz. Fiquei pensando... E se Jesus tivesse nascido aqui no Brasil...? Onde ele teria nascido? Não há a menor dúvida de que, não importando onde ele fosse nascer, o seu nascimento e a sua vida seriam em benefício de todos 104 impressões 2 os seus eleitos do mundo inteiro, como foi anunciado pelos anjos aos pastores: “Eis aqui vos trago Boa-Nova de grande alegria, que o será para todo o povo”. Mas onde será que ele nasceria? Tenho a impressão de que não em Brasília. Não, ele não veio para ser um líder político, conquanto o governo estivesse e esteja em seus ombros. É que o seu governo é espiritual; o seu trono majestoso não é feito por mãos humanas e nem gerencia leis de homens. Ele não era afeito ao ambiente dos palácios, nem às mordomias bajulantes dos maiorais do seu tempo; ele não veio para ser servido ou para dar ordens; ele veio cumprir ordens do seu Pai e servir aos pequeninos do Reino celestial. Do contrário, ele teria nascido em Roma. Não acho que ele nasceria em São Paulo, a cidade que não para. O grande centro comercial do país, a cidade cosmopolita, o lugar onde há a maior concentração de estrangeiros e imigrantes, a cidade das oportunidades, o município de maior concentração de renda do país, lugar de gente estressada, apressada e sem tempo. Talvez ele morresse lá. Se fosse assim, ele teria nascido em Jerusalém. Também não acho que ele nasceria em Salvador ou Porto Alegre, centros conhecidos por sua influência mística, ou 105 impressões 2 no Rio de Janeiro, onde ele é retratado de braços abertos em um morro, como que acolhendo e abençoando um povo, o povo das artes. Pois assim ele teria nascido em Alexandria, Atenas ou Corinto. Então, onde nasceria Jesus aqui no Brasil? Perdoem-me os baianos e os demais brasileiros, mas eu acho que ele nasceria em Pedrinhas. Acham que estou brincando? Falo sério. Era mais ou menos o que representava Belém, em relação a Jerusalém e Roma. Como diz a profecia: “E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo, Israel”. Ela se tornou grande, sendo a menor. José e Maria chegariam a Pedrinhas e procurariam a pensão de dona Bembém, que estaria lotada; eles iriam até a praça da matriz e procurariam abrigo na pousada de dona Amélia, mas esta estaria também lotada; eles, por fim, iriam tentar a pousada Weslanta na beira da estrada que vai para Riachão do Dantas, mas esta também estaria cheia e não haveria vagas. Eles, então, sem mais tempo para nada, pois o menino estava para nascer, achariam abrigo no curral de Jorge de seu Osnar. Ali, na cocheira de dar ração ao gado, Jesus seria colocado envolto em faixas. Uma estrela 106 impressões 2 brilharia sobre o estábulo, e pastores viriam ver o menino com seu pai terreno e sua mãe. Esses pastores seriam os mesmos que viram um coral de anjos lhes anunciarem as boas-novas, enquanto eles guardavam os rebanhos em um pasto perto de seu Alfredo Prata. Jesus veio assim. Nasceu num lugar insignificante aos olhos de uma nação arrogante e indiferente às coisas celestiais. Nasceu de uma forma indigna, num lugar inapropriado, para mostrar ao mundo que o Reino de Deus não consiste em coisas e nem em glórias humanas. Hoje, como sempre, o Natal acontece em corações humildes e quebrantados, a quem ele mesmo chamou de “pobres de espírito”, e não nos meandros da vaidade humana. Que ele mesmo, o JesusHomem-Deus faça brilhar a sua bendita luz e lhe dê um verdadeiro e divino Natal. 107 impressões 2 “Meia tigela” Por acaso você sabe de onde vem a consagrada expressão popular “... de meia tigela”? Não?! Bem, isso é o que poderíamos chamar de santa ignorância... Mas não se sinta ofendido por isso, porque eu também não sei. Fio da meada, amigo da onça, mão à palmatória, e outros adágios mais comuns, eu até que já encontrei explicações; mas esse aí, até agora, nada. Quem sabe, em uma revista como uma superinteressante da vida, ou em algum livro de ditos e contos a gente consiga achar, né? A conotação, no entanto, não deixa dúvidas: trata-se de algo pela metade. Logo assim de saída, poderia eu afirmar que sou um pesquisador de meia tigela, pois com tantos e quantos recursos à vista, não descobri ainda de onde vem essa tal de meia tigela... Mas não me desespero, porque sei que estou escrevendo para um leitor que, mesmo achando este texto algo meia tigela, não vai mover uma unha, 110 impressões 2 ainda que por mera curiosidade, para saber ao certo de onde vem essa tal meia tigela. E, por favor, não me venha com essa disfarçada amizade de meia tigela, criticando o fato de eu não saber a origem de uma expressão tão consagrada como meia tigela, pois o que importa é eu saber o que significa, na prática, uma meia tigela. E se, porventura, nesse ínterim, você descobrir em algum lugar de onde vem ou onde nasceu meia tigela, por favor, tenha a bondade de me informar, pra que você também não seja um irmão de meia tigela. E se você já estiver saturado, com vontade de parar de ler este texto aqui pela metade, por causa de tanta meia tigela, aí, sim, você estará se autoclassificando como um autêntico meia tigela. Bom, mas por que estou enrolando tanto com esta história da meia tigela? Na verdade, somos todos limitados, imperfeitos e incompletos, e, portanto, em muitas coisas nós somos e seremos de meia tigela, deixando a desejar. Assim como o empresário fora-de-série que é um pai de meia tigela, ou um notável pregador, líder carismático, que é meia tigela em sua forma de administrar. Então não há ninguém aqui que não tenha a sua porção na meia tigela. E se alguém achar que não tem, esse é o meia tigela cheia. 111 impressões 2 Só teve um que em sua vida toda nunca provou o que é ser meia tigela. Foi o amado Salvador. Perfeito, intenso e verdadeiro em tudo, ele é o grande exemplo a ser seguido. Sendo assim, deixo uma palavra aos tigelões, tigelas e tigelinhas: pelo menos procure nunca ser um crente de meia tigela; dê o seu melhor sempre. 112 impressões 2 Música infantil Li, recentemente, um comentário, que não trazia autoria, sobre as canções infantis que embalaram gerações, e que ainda são lembradas pelos avós e pais dessa nova geração. O comentário mais que pertinente e lúcido fala do milagre de como conseguimos crescer sem maiores traumas, depois de tanta ministração perversa e informações tenebrosas, compostas em melodias tão meigas, como as canções de ninar. Fiz as minhas contas também e lembrei que de fato passei por muitos medos e ameaças. Veja se isso é o que se deve falar a uma criança que está prestes a dormir: “boi, boi, boi, boi da cara preta, 114 impressões 2 pega essa criança que tem medo de careta”. Já pensou? O que se está querendo dizer é que o bebê deve dormir logo, senão o boi terrível de cara preta vem pegá-lo. Não é sensacional? E essa daqui: “Dorme nenê que a Cuca vem pegar; papai foi pra roça e mamãe pro cafezal...”. O nenê, além de ficar sozinho em casa sem pai e mãe, que foram trabalhar, está na iminência de ser apanhado pela Cuca (um ser abominável do nosso folclore). E essa: “Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to não morreu-reu reu; Dona Chica-ca admirou-se-se do berro, do berro que o gato deu – Miaaaauuuu!”. Mais politicamente incorreto impossível; em tempos de preservação da natureza e dos animais, essa é uma lição de maldade e crueldade sem limites para se ensinar a uma criança, não acha? Inclusive já escreveram nova letra para esse cântico. É assim: “Não atire o pau no gato-to, porque isso-so não se faz-faz-faz; o bichinho-nho é nosso amigo-go, não podemos maltratar os animais... Miau!”. Veja que maravilha da pedagogia infantil: Eu sou pobre pobre pobre de marré marré marré; e eu sou rico rico rico de marré dé sí...”. Isso é o que se pode aprender desde cedo sobre a ultrajante desigualdade social que degrada o ser humano. Outra: “marcha soldado, cabeça 115 impressões 2 de papel; quem não marchar direito vai preso no quartel”. Isso é uma ameaça? Ou uma cobrança extrema sob pena de sanções graves? E essa obra prima: “A canoa virou, quem deixou ela virar? Foi por causa de (e aí citavam o nome de fulano) que deixou ela virar...”. Ou seja, em vez de ensinar à criança a cooperação e a ajuda de equipe, ensina-se a dedurar e condenar quem não consegue dar conta de uma atividade. E essa é mesmo de doer: “samba lelê tá doente, tá de cabeça quebrada; samba lelê precisava é de umas boas palmadas...”. Não é o máximo? Ou seja, em vez de dar a samba lelê cuidados médicos e carinho, dá-lhe palmadas. É o que a Bíblia chama de apagar a torcida que fumega. E a linda, consagrada e eterna ciranda cirandinha? “O anel que tu me deste era vidro e se quebrou; o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”. Bela lição pra se ensinar a uma criança. Em vez de se ministrar que o amor é o vínculo da perfeição e que deve durar para sempre, canta-se para a pura criança que o amor é algo que se acaba logo. E pra fechar com chave de ouro, veja essa: “ O cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada; o cravo ficou ferido e a rosa despetalada. O cravo ficou doente, a rosa foi visitar; o cravo caiu doente e a rosa pôs-se a 116 impressões 2 chorar”. É mesmo emocionante. Incitando à violência conjugal e apresentando à inocente mente infantil um fim trágico de feridas e lágrimas. Não é mesmo deprimente? Para nós que conhecemos a verdade que liberta é muito melhor, em vez de ministrarmos aos nossos pequeninos essas lindas baboseiras nocivas, ensinarmos a elas as belas histórias da Bíblia, e cantarmos para elas as lindas canções sobre a nossa salvação. E não queira parodiar nenhuma delas com cunho evangélico, e colocar no lugar de boi da cara preta o Bute-Fute. Por favor. 117 impressões 2 Novidade e rotina Você já parou alguma vez pra meditar sobre o que seria de nós se tivéssemos como experiência de vida apenas um ou outro desses elementos? Que tédio seria a nossa vida, se tudo apenas fosse rotina; e que stress seria viver apenas do novo... Já imaginou a situação de um náufrago, ter que sobreviver comendo cocos e olhando a mesma paisagem o resto de sua vida...? Ou um prisioneiro condenado a anos sem fim olhando as mesmas paredes e fazendo as mesmas coisas nos mesmos horários, dia após dia...? É angustiante e desesperador. Por outro lado, ninguém suportaria comer só em restaurante, viver dentro de um carro, mudar de cidade todo mês, trocar de função toda semana, não ter uma hora certa pra dormir nem acordar, e viver num frenesi louco o tempo todo. Deus fez todas as coisas e as estabeleceu em perfeita ordem, cada uma delas em seu devido lugar. Há tempo para todo propósito 120 impressões 2 debaixo do céu, diz o Pregador. Em nossa curta vida há lugar para o evento e para o cotidiano. Eles fazem parte do que nos constitui; precisamos de ambos. Desastre é fazer com que a natureza de um se misture à do outro; ou seja, querer fazer da busca por evento uma rotina, ou tornar a rotina o seu evento mais importante. Se um impossibilita o firmar de raízes de sustentação, o outro mata a criatividade e a capacidade de sonhar. Precisamos fugir dos extremos e exageros, e buscar o centro, o equilíbrio em todas as coisas, quer como indivíduos, ou como comunidade. Chega de copiar a cultura secular brasileira no que não traz edificação: não podemos querer viver “deitados eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo”, vendo a vida passar, sem buscar possibilidades, enfrentar desafios novos, com medo de arriscar e quebrar paradigmas. Da mesma forma não podemos querer um “santo” para cada dia do ano, nem nos alegrarmos por cinquenta feriados em 365 dias, e viver em função disso. Tem igrejas que param em Dezembro, em razão das festas de fim de ano, e só retomam as suas atividades depois do carnaval. Depois dão uma pausa por causa da semana santa, e esperam passar a Copa do mundo 121 impressões 2 de futebol. Depois disso, curte-se a ressaca pela vitória ou pela derrota, descansa-se um pouco, pois Agosto é um mês “morto”, e aí o ano acaba, pois pra Dezembro é um pulinho... O dinamismo de uma igreja passa pela capacidade de combinar estrategicamente essas coisas: Manter-se intocável em seus valores espirituais e morais, adequando a sua linguagem ao seu tempo. Novidade e rotina no tempero certo. 122 impressões 2 O celular e a Teologia Existem assuntos ou abordagens que aparentemente são ridículos. O título deste texto é um deles. Mas pode não ser. Como bem sabemos, há coisas, situações e verdades que são antagônicas e irreconciliáveis, pois não há como estabelecer conexões entre as partes. Esse tema é um deles. Mas pode não ser. Particularmente eu gosto das duas coisas. Gosto de Teologia e gosto de celular. Lógico, uma coisa nada tem a ver com a outra. Mas pode ter. Bom, eu gosto da teologia porque ela me explica sistematicamente tudo o que diz respeito às coisas de Deus: o Seu caráter, os Seus atributos, bem como Seus feitos majestosos. É a teologia que me expõe com profundidade o plano da salvação e os meios de Graça, bem como os sinais das últimas coisas. Gosto da teologia, porque por ela sou fortalecido nas verdades eternas, e recebo conhecimento que me concede autonomia e segurança para a caminhada cristã, enquanto 124 impressões 2 aqui estou. Agora, não sei bem porque gosto tanto de aparelhos celulares... Ou talvez saiba... Quando criança, eu era o “Professor Pardal”, o inventor que criava brinquedos para mim, para os meus irmãos e para a meninada da rua. Carros de lata, de rolimã e de fricção, armas engenhosas, bonecos articulados, instrumentos musicais, e até coisas elaboradas, como um eficiente projetor de slides. O depósito de casa era o meu ateliê de trabalho. Madeira, lata, prego, borracha, fios de metal ou nylon, qualquer coisa podia virar qualquer coisa que pudesse ser útil ao trabalho ou ao lazer. Por isso, a criatividade, os recursos, as possibilidades, a engenhosidade me encantam. E então? Um aparelho celular não é mesmo espetacular? Imagine se pudéssemos voltar no tempo, levar um desses aparelhos modernos e colocá-los na mão de um dos nossos bisavôs. Imagine o que seria explicar-lhes que com aquela caixinha era possível se comunicar com alguém que estava em outra cidade, estado ou país, além de tantas outras funções possíveis em um celular. Não faria sentido algum para eles. Seria algo meramente fictício. Como há trezentos anos alguém receber a informação de que era possível algo tão pesado como um avião transportar 125 impressões 2 pessoas pelos ares, rapidamente e de forma tão sistemática e segura, ou como hoje imaginarmos ser possível daqui a muitos anos termos como meio comum de transporte a translocação celular da matéria – desaparecermos aqui e aparecermos no destino desejado, por meio de tecnologia. Ou quem sabe a máquina do tempo sair da ficção e virar realidade. Em 1966, o capitão Kirk, da série Jornada nas estrelas, aparecia na TV usando um aparelhinho chamado Tricorder. Esse aparelho era sem fio, transmitia voz e dados, a partir da Nave Enterprise, em órbita a centenas de Km da Terra. Isso parecia um sonho impossível. Em 1973 a Motorola criou o primeiro celular –“tijolão”, que foi aperfeiçoado pelos japoneses em 1979. Depois vieram os americanos e europeus, com suas contribuições, em 1982. Nesse tempo os celulares serviam apenas para falar. A tecnologia avançou não a galope, mas a mil por hora. Da geração de celulares (1G), já estamos abraçando a (4G), que chega à América do Sul até o final deste ano, inclusive com a incrível marca de 5 bilhões de aparelhos circulando no planeta. Ao que parece, não foi o celular que se incorporou à vida do homem moderno, mas este se rendeu ao assédio da tecnologia móvel, a ponto de não 126 impressões 2 mais sobreviver sem ela. Muita gente hoje não sabe o que fazer se, por alguns instantes, se ver sem o aparelho, por perda, roubo ou esquecimento. Simplesmente estarão desnorteadas ou desconectadas. A vida de muita gente está presa a muitas informações alojadas naquela caixinha mágica. Eles são mesmo fantásticos, assustadores. Falar e ouvir são um mero detalhe. Eles podem fotografar em alta definição, enviar e receber torpedos e email em tempo real, acessar em alta velocidade a Internet, conectar-se às redes sociais, trazem jogos interativos, muitos deles com recursos inacreditáveis de identificação de voz, movimento e toque, GPS para localização em qualquer parte do mundo, espaço cada vez maior para armazenamento desses dados – um microchip capaz de guardar milhares de músicas, fotos, vídeos, contatos, etc. Eles lêem códigos de barras, conectam-se às redes Wi-Fi, editam textos, fazem movimentações bancárias, atualizam a previsão do tempo, servem como controle remoto, recebem sinal de TV digital e milhares dos mais impressionantes aplicativos. Imagine o que representa tudo isso para a cabeça do inventor pedrinhense que tramava e bolava coisas espetaculares, usando paus, molas, pregos 127 impressões 2 e latas...! Sim, a tecnologia celular me encanta. Ei! Mas o que é que tudo isso tem a ver com o título sugerido? Que conexão há entre teologia e celular? Na verdade, para os teólogos, nenhuma; e para os magos da tecnologia, menos que nenhuma. Para mim, além do fato de eu ter no meu celular toda a Bíblia em um aplicativo, ocorreu-me uma idéia altamente teológica: O homem sem Deus é como um celular sem linha, desabilitado – cheio de recursos e possibilidades, mas sem sinal com o céu. 128 impressões 2 O sero mano Já diziam as boas línguas que herrar é umano; que a natureza humana é cheia de imperfeições e pecados. Esse ente é tão imperfeito que merece a construção do título proposto. É incompreensível e inalcançável a veia de onde nasce a inclinação do seu coração. Só mesmo a descrição bíblica do efeito do pecado de Adão na raça humana pode dar uma idéia do que é a nossa condição. “desesperadamente corrupto o coração do homem, e mal toda a inclinação do seu ser”. Não adianta maquiar nem pôr tapumes, sem a ação efetiva e plena do Espírito Santo na vida de qualquer um de nós humanos, o que se pode esperar é a maldade. E isso vale para os mais santos e consagrados. Não dá para imaginar uma mente santa como 130 impressões 2 a de Abrão – o pai da fé – maquinando o imponderável e insano para se safar de situações embaraçosas, por medo. Mentiu, dissimulou, se escondeu e foi vergonhosamente repreendido por um ímpio, depois de quase ter a sua amada esposa, sua princesa Sara, entregue como objeto nas mãos de homens voluptuosos e carnais. Não dá para imaginar um homem com a envergadura espiritual de Davi, um gigante da fé, o homem segundo o coração do Altíssimo, o poeta de Deus, em cuja mente se alojavam pensamentos tão sublimes acerca de Deus e sua obra, dessa mesma mente brotar planos tão vis, tão cruéis e vergonhosos: cobiçou a mulher do seu guerreiro especial, deitou e rolou com ela, engravidando-a, e depois tramou engenhosamente como se safar dessa embaraçosa situação, inclusive bolando a morte do seu amigo guerreiro, esposo legítimo daquela com quem ele se envolveu. Ali não estava o poeta sacro e o nobilíssimo rei, mas o homem Davi, o sero mano imperfeito e carnal, como qualquer outro ser humano na face da terra. Não consigo imaginar um homem como o profeta Elias, o mais poderoso de todos os profetas, o mais distinto, o mais destemido, que no monte Carmelo desafiou os 400 profetas de Baal, fazendo 131 impressões 2 cair fogo de céu, segundo sua palavra, homem que a terra não era digna de tê-lo, tanto que não passou pela morte física, sendo arrebatado para o céu numa carruagem de fogo. Como imaginar esse mesmo homem escondido numa caverna, soturno, encolhido, deprimido, querendo morrer, por medo de Jezabel, esposa do rei Acabe... Não é mesmo incrível? O sero mano é mesmo uma incógnita. E a respeito desse mesmo profeta nos diz Tiago, em sua carta, que ele, Elias, era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos. E olhando assim, de fora a fora nas páginas das Escrituras, confirma-se a definição teológicoantropológica de que não há um só que não peque, e se dissermos que não cometemos pecado fazemos Deus de mentiroso, pois a nossa condição é mesmo a fraqueza. Sem a ação do Espírito fazendo guerra com a nossa carne, fatalmente seremos todos agentes do mal, totalmente inclinados a ele. Essa é a razão porque a mesma boca que diz Bendito o que vem em nome do Senhor, também diz crucifica-o; o mesmo lábio que bendiz, amaldiçoa; a mesma pessoa que é fonte de edificação, também é pedra de tropeço. Misericórdia, Senhor, guarda a nossa vida desse assédio do mal, pois somos seres inclinados ao mal, como 132 impressões 2 disse Paulo, o apóstolo: desventurado homem que sou; o bem que quero fazer, esse não faço, mas o mal que não prefiro, esse é o que faço. Piedade, Senhor, trabalhe em nosso ser, santificando-nos e não nos deixando à mercê de nossas vontades, e perdoa-nos por nossas vontades feitas e pelo mal que causamos a Ti, aos outros e a nós mesmos. Perdoa os nossos pecados todos. Amém. 133 impressões 2 Orkut e msn Para os que não são ligados à Internet e não sabem do que se trata o título deste texto, Orkut e Msn são algumas das redes de relacionamento, ou redes sociais, como também são conhecidas. Foram idéias fabulosas criadas e disponibilizadas na grande rede de computadores, com a finalidade original de aproximar pessoas e mantêlas conectadas. Pela proposta do Orkut é possível ir adicionando páginas pessoais de amigos e conhecidos, e através dessas ir multiplicando a teia de conhecimento. Ex. Pedro adiciona Márcio. Ora, Márcio carrega em sua página mais de quinhentos amigos. Pedro terá acesso àqueles 500 amigos do outro, e vice-versa. Essas páginas são constituídas de informações pessoais: perfis, dados, fotografias, vídeos e depoimentos. Os orkuteiros se correspondem através de scraps ou recados deixados na página alheia, ou em depoimentos reservados. Uma 136 impressões 2 olhada rápida nessa proposta deixa uma feliz idéia de algo potencialmente excelente. Afinal, que oportunidade formidável de encontrar amigos que nunca mais vimos. Seria, se não houvesse no meio a maldade humana. Logo de cara, qualquer pessoa pode se inscrever criando um perfil totalmente falso: nome, endereço, idade, nacionalidade, sexo, e qualquer outra informação, incluindo a fotografia. No Orkut ou no MSN, ou Facebook, ou no Twitter, eu posso ser qualquer pessoa; posso inventar qualquer perfil e anunciar ao mundo que sou aquele que ali fala. Um bandido pode facilmente cometer um crime de posse de várias informações verdadeiras de gente inocente. Ele acha a pessoa, grava as fotos, anota endereços, colhe informações deixadas nos recados e a maldade está feita. Há uma rede gigantesca de pedofilia instalada no Orkut, bem como um mar de pornografia disfarçada em falsos perfis; só Deus sabe os danos que ela tem causado a muitíssimas famílias. O MSN, ou Messenger, tem outra dinâmica. Enquanto o Orkut é estático, a pessoa pode analisar e responder aos recados somente quando der ou quiser, o MSN é online; o internauta acessa e interage em tempo real com os amigos adicionados. Isso exige 137 impressões 2 tempo, dedicação e presença. É possível, inclusive, falar com muitos ao mesmo tempo, com a maravilha de poder ver o outro interlocutor através de uma Webcam. Não é maravilhoso poder falar com um filho distante, parentes e amigos que estão longe, e vê-los ao vivo na telinha? É. A idéia é sen-sa-cio-nal, mas você não tem noção de quantas tragédias acontecem através dessa ferramenta. Para começar, muitos namoros, noivados e até casamentos tem acabado por causa do MSN. Muitas relações extraconjugais se efetivam por esse meio; muitos adultérios e fornicações. Digamos que o Orkut seja uma sala de estar cheia de amigos e conhecidos, embora muitos a gente não conheça bem; o MSN é um quarto com a porta fechada onde ninguém tem acesso. Essa vida secreta protegida por senhas tem levado muitos casais a se separarem. Além de um tempo incrível que se perde na frente do computador, que poderia ser usado para a leitura bíblica, oração, louvor e meditação, quanto lixo é despejado na mente dessa juventude deslumbrada; quantos perigos de assaltos e assédios do mal em todo o tempo; drogas que viciam... Dentre todos os habitantes do planeta que têm acesso à Net, o brasileiro é o maior consumidor das redes sociais, o 138 impressões 2 mais deslumbrado. Através dessas redes as manipulações se espraiam, os Hackers se esbaldam, a vida da gente é bisbilhotada violentamente, e o mal acaba se instalando em nossa história, pelos cliques de nossa própria volúpia. Eu abri um site que permite baixar arquivos autorizados e gratuitos para o computador, e os meus olhos acharam um anúncio curioso, sob o título “MSN espião”. Dizia assim: “você quer ver o que as pessoas conversam no MSN? Clique aqui e baixe agora”. Você só é vítima se quiser. Seguramente Deus não está nesse negócio. A Internet e seus filhotes podem ser um fabuloso instrumento nas mãos do sábio, de quem ela é escrava, mas pode ser um veneno letal nas mãos de quem ela se tornou senhora. Que Deus dê juízo ao seu povo. 139 impressões 2 Que diferença fará Que diferença fará, se o seu time do coração é o Bahia ou o Vitória, Flamengo ou Fluminense? Se o banco onde você tem conta é o Bradesco, Itaú, Caixa Econômica ou o do Brasil? Se o seu carro, ou com o qual você sonha é um Fiat, Ford, Volkswagen, Chevrolet, ou um desses chiques importados? Se o perfume que você usa é Natura, Avon, Boticário, ou um outro daqueles carirérrimos? Se a sua morada está na zona norte ou na zona sul, se é casa ou apartamento, se possui muitos cômodos ou apenas quarto e sala? Que diferença fará, se o seu prato predileto é carne ou massa; se a cozinha que lhe agrada é italiana, chinesa, mexicana ou de qualquer outra parte do mundo? Se o seu cabelo é longo ou curto, castanho ou loiro, crespo ou liso? Se você é homem ou mulher, alto ou baixo, gordo ou magro, preto, branco, cafuso ou amarelo, saudável ou carrega alguma enfermidade? Que diferença fará, se você 142 impressões 2 é solteiro ou casado, se tem muitos filhos ou nenhum? Se você é analfabeto, ou concluiu apenas o primeiro grau, ou tem PHD? Se você é sanguíneo, fleumático, colérico ou melancólico? Se o filme que lhe agrada é um romântico, ou de aventura, suspense, humor ou terror? Que diferença fará, se você usa Orkut, MSN, Flog, Blog, se utiliza UOL, BOL, IG, Gmail ou Hotmail, ou se você não é afeito à internet? Se você está com 12, 20, 30, 50 ou 90 anos de idade? Se o seu aparelho celular é Nokia, LG, Motorola, Sony Ericsson, e sua operadora é Vivo, OI, Claro ou Tim? Se você é PFL, PSDB, PT, PSOL, ou ARENA? Se a sua música predileta é clássica, popular, regional, erudita, e muito menos importa qual o nome do seu cantor ou artista preferido? Sim, que diferença fará, quando Ele se manifestar? Que diferença fará, se você é apenas religioso ou ateu? Se você é integrante de uma confissão presbiteriana, ou batista, ou metodista, ou assembléia de Deus, ou congregacional? Se você é um novo convertido ou se os seus cabelos já branquejaram dentro de uma igreja? Se você é conhecido como um pastor, um evangelista, um presbítero ou diácono, um eloquente pregador ou um hábil instrumentista? Que diferença fará, 143 impressões 2 se o crivo é um só? A Santa e pura Escritura afirma em 1 João 5:12: “Aquele que tem o Filho de Deus tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida”. Por isso entendo perfeitamente as palavras do Senhor Jesus, quando disse: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?”. Lucas 9:25. Portanto, importa que nos apeguemos com mais firmeza àquilo que é eterno, e priorizemos aquilo nos remete à glória do Pai. Uma vida santa, sim, fará toda diferença, quando Ele se manifestar, pois sem santificação, ninguém verá o Senhor. 144 impressões 2 Que peninha... É, gente, pode ser apenas saudosismo meu – e sou mesmo, ou puro fruto de um inveterado sonhador, mas é o sentimento que em mim se move quando uma pessoa me pergunta como é um pé de caju, ou um pé de jaca, ou mesmo como é uma laranjeira... Ou então quando uma pessoa “da cidade” começa a espirrar, só porque pôs os pés no chão. Dá vontade de chorar também quando vejo um adolescente saudável ficar deprimido e querer morrer, por “não ter o que fazer”, pois o computador apresentou defeito. Olho ao redor e vejo tantas pessoas apressadas, visivelmente angustiadas, testas franzidas, zanzando pelas ruas da cidade “correndo atrás” de tantas coisas, indiferentes a quem passa do seu lado, acostumadas a respirar fumaça poluída e a ouvir o irritante barulho de buzinas dos carros de pessoas irritadas; gente estressada, amedrontada, ansiosa, escrava do ter, doente sem cura. 146 impressões 2 Que peninha que dá...! O sistema das grandes cidades está matando o sonho e a poesia da alma que reside em cada ser humano. Sim, os poetas mais aclamados da nossa literatura vieram do interior, da experiência rural, da vida pobre e de grandes apertos, e os que nasceram e viveram nos grandes centros precisaram descolar-se deles para respirar outros ares; a cidade grande produz operários, estivadores desenervados, ou grandes executivos sem tempo para viver. Os seus sentidos estão treinados e condicionados a perceber o óbvio e dar sequência a uma agenda de coisas rituais do dia-a-dia, uma roda que não para nunca. Como quis expressar o saudoso poeta da antiga e pequena Feira de Santana, que agora morava em São Paulo: “Parem o mundo que eu quero descer, que eu já não aguento mais acordar com a boca cheia de fumaça...”. Dá uma peninha ver que essas pessoas nunca pararam alguns minutos para observar uma singela gota se desprender de uma folha e cair em nossa testa em um dia de chuva, e sentir aquele cheirinho sem igual de mato molhado, e o capim orvalhado molhar os nossos pés; ver, nesse cenário, andorinhas alegres, aos bandos, encherem os céus com seu vôo sem compasso; ouvir o 147 impressões 2 piar enigmático de aves que não vemos, recolhidas em seus ninhos; depois de um sereno refrescante, ver a natureza em festa: animais, aves, plantas, insetos, tudo enfim cantando em louvor a Deus. E ao chegar a noite, dormir ao som de uma grande orquestra afinada: a chuva caindo e escorrendo pela telha, descendo pela calha e enchendo o pote, e a gente ali bem coberto e aquecido naquele friozinho, e, para completar a delícia, sentir que micro-gotas se desprendem do telhado e caem em nosso rosto... No dia seguinte, acordar pelo cheiro do café no bule e do cuscuz feito da espiga, com ovo de galinha do quintal... Hein? Aí sim...! Pois é, a meninada de hoje que lê esse texto, com certeza está pensando: “Que viagem, pastor...!” E é bem capaz que estejam com peninha de mim. Mas peninha por peninha, colocadas em balança, quem já ouviu o barulhinho de um rio passando sobre as pedras, bebeu água na moringa e foi despertado por um bem-te-vi na cerca, não precisará nunca de Lexotan ou Rivotril para conciliar o sono. 148 impressões 2 Que saudades da igreja Ai que saudade da igreja...! Ai que saudade da casa de Deus. Quando me lembro dessas coisas chamadas espirituais, de fato, a minha alma se comove, se encanta e chora. Não é um sentimento ruim, até porque saudade nunca é fruto de uma experiência ruim. Sentir saudade é reviver um sonho, recortar no processo histórico um bem ideal. Por isso não sentimos saudade do que não deu certo e do que não foi bom. Felizes são aqueles que carregam na alma um conteúdo rico daquilo que pode gerar saudade. Eu sinto saudades, muita saudade. Rubem Alves define saudade como a presença de uma ausência. Não sinto saudade de Jesus, pois ando com ele todo o 150 impressões 2 tempo. Sou amigo dele e não o perco de vista em meu caminho. Estou com ele agora mesmo. Também não sinto saudade da experiência da fé, do quebrantamento da alma e do mover do Espírito que espiritualiza a dinâmica do cotidiano, pois isso é o que me inspira a pôr no papel cada uma dessas palavras, transformando em letras o que ocorre em meu mundo interior. Sinto saudade da igreja. A saudade que sinto, no entanto, não é dessa ou daquela comunidade organizada, ou de um ou outro movimento ou momento da nossa ou de qualquer outra denominação evangélica, mas do que Deus disse ser a sua igreja e do que acreditei ser possível viver nela. Que saudade de quando li na Escritura e acreditei que os pastores dos rebanhos de Jesus eram homens verdadeiramente separados para o serviço cristão, consagrados para as coisas espirituais, íntegros, sãos, exemplos de piedade e reconhecidos pela comunidade da aliança como profetas de Deus, merecedores de solene obediência e justa reverência, como indica o título que carregam, pelo teor de sua missão e o significado de sua vocação. Jamais imaginei que esses ministros se deixariam corromper em seu caráter, atendendo aos apelos das luzes deste mundo, 151 impressões 2 negociando por bagatela a sublimidade do seu chamado e as implicações das revelações que receberam. E que, por consequência, os fiéis os tenham identificados como servidores de causas eclesiásticas, bons gerentes de uma estrutura denominacional definida, empregados-chefes de uma comunidade religiosa organizada, comodoros de um bom clube religioso, e nada além. Foi demolida por completo a imagem dos pais espirituais, os pais da igreja, guardiães da noiva de Cristo, e não profissionais da fé. Que saudade. E que dor. E que saudade sinto de quando entendi ser a igreja uma família, a família de Deus. Um lugar de irmãos, lugar de gente regenerada que sabe que vai morar no céu, e onde há espaço para compartilhamento saudável e cura, apoio, acolhimento, perdão e graça. Jamais imaginei que veria os chamados eleitos inquietos correndo atrás de bens materiais, esquecidos do céu, buscando conforto e não a glória de Cristo, transformando o Reino em comércio e a salvação em lucro. Que saudade de reconhecer todas as pessoas pelos nomes, e de recebêlas em casa sem constrangimentos, e de sentir imensa alegria em receber um visitante na igreja, e de olhar no olho das pessoas, sem medo de ser censurado, e de ver 152 impressões 2 muitos grupos de relacionamento se integrando na igreja, e de ver as pessoas sem pressa de deixar o templo, e de ver a culpa expiada por Cristo na cruz também sendo liberada na congregação pelos líderes do povo, e de ver a graça prevalecendo sobre a lei, e um povo cativo ao amor de Jesus sendo libertado para viver em santa união. Que saudade da sinceridade, que saudade da honestidade, que saudade do amor não fingido, que saudade da igreja... Que saudade... Que saudade... Ah se fendesses os céus e descesses outra vez entre nós, fazendo coisas tremendas, tudo novo de novo. Faz isso, Senhor, pois esperamos. 153 impressões 2 Ressuscitados Vamos dar asas à imaginação e criar umas situações de fato impossíveis, porém mais que interessantes. Primeiramente, vamos imaginar Alberto Santos Dumont, o pioneiro da aviação, ressuscitado dos mortos e fazendo uma visita a um movimentado aeroporto. Imagine o impacto que ele sofreria, e a intensa emoção ao ver tantos aviões decolando e aterrissando a todo momento, e aeronaves em fila aguardando sua vez para subir ou descer. Agora pense em como seria uma visita dele à cabine de um moderníssimo Boeing, daqueles de dois andares, com capacidade para transportar 500 pessoas – um A380. A quantos batimentos por segundo sofreria o seu coração? E uma perguntinha: será que ele saberia pilotar um Caça F16, que é capaz de romper a barreira do som? Já imaginou que experiência fascinante para tal inventor, ver a que nível de progresso chegou o seu invento? Agora, 156 impressões 2 tomando o mesmo exemplo, crie a imagem de Ghran Bell ressuscitado, visitando uma feira de aparelhos eletrônicos. Imagine o choque que ele teria, ao tomar nas mãos e tentar manipular um desses modernos e sofisticados aparelhos celulares. Imagine um daqueles consultores explicando ao inventor do telefone todos os recursos que um aparelhinho daquele oferece: aquilo que apenas servia para ligar e receber ligação, filma em Full HD, fotografa em alta resolução, toca musica em vários formatos, conectase à internet, recebe sinal de satélite GPS, e uma gama interminável de aplicativos, cada um mais impressionante que o outro. Já pensou? Quanto progresso! Quanta melhoria! E o Benjamin Franklin e a lâmpada elétrica? E agora só mais um: vamos ressuscitar o britânico Charles Miller inventor do futebol, e levá-lo ao maracanã, durante a Copa do Mundo, em 2014. A organização, o nivelamento das equipes, as grandes potências, grandes investimentos e grandes investidores, bilhões por uma bola. Quanta coisa mudou e se aperfeiçoou, desde que o Soccer chegou ao nosso continente. Essas e outras criações progrediram e se aprimoraram. Fiquei pensando: O que tem Jesus ressurreto a dizer hoje sobre a igreja que ele plantou e 157 impressões 2 estabeleceu? A igreja primitiva era tão linda, tão pura, tão piedosa, tão comprometida, tão espiritual. O tempo passou e, em vez de a igreja crescer em santidade e temor, degenerou-se; multiplicou-se em mil pedaços; criou mil altares; curvou-se ante outros cristos e divulgou outros evangelhos. Diante de tão impressionante contradição, vale a pena a reflexão: Nunca é tarde para se rever os fatos e retomar a caminhada. 158 impressões 2 Self-Service Deus salve a América (ou os Estados Unidos, como preferirem – e em todos os sentidos possíveis). Esse país continental-hegemônico-imperial passa por uma crise sem precedentes. O gigante intocável estremece e se escora, assim como ocorreu com Babilônia, Egito, Assíria e Roma. Faz parte dos sinais que anunciam a segunda vinda de Cristo. Se houver interesse, depois me pergunte como. Mas a influência efetiva que esses brotheres exercem sobre outras culturas é mesmo impactante, a começar na imposição da língua. Em qualquer lugar do planeta, não importando o idioma ou dialeto que se fale, o inglês é imprescindível e senha para que siga adiante em qualquer transação, seja comercial, diplomática ou social. Aqui no Brasil, talvez mais do que em qualquer outra parte do globo, essa dominação cultural é assustadora e humilhante. O estrangeirismo liberado beira o ridículo. 160 impressões 2 Como exemplo disso, ao andar pelas ruas das nossas grandes cidades, quem não souber um mínimo da fala do Tio Sam pode se perder em meio a tantas faixas, cartazes, e placas de anúncios, que obviamente já foram batizadas por nós de Out-door, onde praticamente não se usa a língua pátria. Os shopping Centers, e suas mil magazines, apresentam seus stafs bem treinados em toda forma de business, e atraem seus clientes com estampas para americanos comprarem, e não brasileiros, pois lá se lê: “Sale 50% Off ”. O payment é feito em Credcard, para não fugir à regra, claro. Além de que estamos tão condicionados e induzidos a acolher a cultura e linguagem alheia que enrolamos a língua e identificamos todos os aparelhos e instrumentos que compramos, com a maior naturalidade, até porque pouca coisa traz um nome brasileiro em seu rótulo. Somos tão fascinados com a estranheza do diferente, que ensaiamos pronunciar, com sotaque americano, a palavra: “World”, ou semelhantes. Riririririri. Enquanto que um americano jamais se esforça para pronunciar corretamente a nossa palavra “farofa”. Diriam eles: “faurofa...”, numa boa, sem crises. ririririri. Puxa vida, deveríamos ficar muito mais orgulhosos em 161 impressões 2 sermos brasileiros, e termos a nossa riquíssima cultura, e uma língua tão bela, e sotaques tão variados e tão nossos. Sim, mas o assunto não é esse... Ou pelo menos não especificamente. Tudo o que eles promovem vira moda no Brasil; todos os programas de televisão que aqui assistimos como novidade, já cansaram por lá. E foi de lá que veio a inspiração do Fast-Food, da comida pronta e rápida, do lanche comido às pressas, ou da refeição esgulupida. Faz poucas décadas que a nossa sociedade consumista e cosmopolita aderiu ao self-service, ao prato por peso, e ao delivery. São marcas que identificam um tempo, um jeito de viver. Aquilo que a pressa louca marcou New York nas décadas de setenta e oitenta, em diante, é o que se vê em São Paulo hoje, bem como nas grandes metrópoles, que copiam tudo sem questionar. Não há mais como viver sem essas coisas; a vida não pode parar, não há tempo a perder. E veja só que coisa sensacional; por que não se pensou nisso bem antes? A gente chegar a um restaurante, na hora que melhor nos parecer, e sem ter que esperar por ninguém, ou depender de quem que seja, entramos na fila, pegamos o nosso prato, e seguimos ao lado de uma mesa ou bancada imensa, com dezenas de pratos, com a 162 impressões 2 maior variedade de todo tipo de comida, folhas, legumes, massas e carnes, tantos que é difícil escolher. E depois que enchemos o prato, pagamos pelo peso que escolhemos, comemos fartamente, e já podemos ir embora, totalmente satisfeitos, pois só escolhemos o que gostamos, e nem temos que ter trabalho depois para lavar a louça, arrumar a mesa e varrer a sala. Existe algo mais conveniente do que isso? É uma marca do nosso tempo: o imediatismo, o descartável, a praticidade e a liberdade de escolha. Mas isso não funciona com respeito às coisas espirituais, as coisas de Deus, a Bíblia, a igreja, a fé. Pare e pense sobre isso. 163 impressões 2 Sonhos Uma das coisas mais intrigantes que existem é o sonho: ainda não decifrado e cada dia mais estudado pela inteligência humana. É um grande mistério. Que critério a mente usa para selecionar e projetar imagens, sentimentos, cores e sons em nossa atividade cerebral, enquanto dormimos? Por mais avançados que já estejamos nas pesquisas científicas, ainda não chegamos a conclusões e teses sobre isso. Pode-se dizer, e é o que tem sido dito, que os sonhos são informações que a nossa mente recebe do sub-consciente, e até do inconsciente, das múltiplas áreas de interesse que são capturadas pela memória ativa, enquanto acordados estamos. Assim, nos meus sonhos eu jamais poderia sonhar os seus sonhos, pois estes dizem respeito somente ao seu mundo interior. Você projeta os seus medos, fantasmas, ídolos e heróis, expectativas e planos, decepções e frustrações, e eu projeto os meus, 166 impressões 2 de acordo com a vida que cada um de nós experimenta. Aproveitei o tema para viajar para bem longe. Pergunteime sobre o que poderia ter sido o tema dos sonhos de Jesus, quando ele dormia. Teria ele sonhado com o céu, do tempo em que, com o Pai, criava e cuidava do plano de salvação? Ou sonhava com as coisas terrenas ligadas à sua experiência de convivência com os demais humanos?. Sim, ele era e é perfeitamente homem e perfeitamente Deus; em sua natureza havia e há em plenitude as duas matérias; ele viveu em plenitude a essência divina, antes de encarnar, e viveu plenamente as implicações de sua encarnação. E nos evangelhos sinóticos há registros de momentos em que ele, Jesus, dormia, como vemos, inclusive, ele ferrado no sono em um barquinho durante uma tempestade. Ora, quem dorme sonha. Sobre o que Jesus sonhava? Seria sobre o brilho das pedras, a esmeralda, o topázio, a safira, o berilo, o carbúnculo, o jaspe, o ônix, de quando andava cercado por anjos, arcanjos, serafins e querubins, no tempo em que as melodias mais lindas se podia ouvir, vindas das filhas da música, que estabeleciam a moldura, o cenário do ateliê de Deus, enquanto as hostes celestiais eram criadas, ainda sem a existência humana? Ou teria 167 impressões 2 Jesus sonhado com as diversas campanhas e missões que realizara na Antiga aliança, a mandado de seu Pai, sob o pseudônimo de O Anjo do Senhor? Quantas vezes teria Jesus sonhado com sua aparência anterior, como a que usou, quando apareceu a Abraão, embaixo dos carvalhais de Manre, acompanhado de dois anjos? Ou a aventura de Muay-thai que realizou, quando lutou uma noite inteira com Jacó, no Vau de Jaboque, transformando um pecador abominável em um príncipe com Deus? Quem sabe ele sonhou algumas vezes com fornalhas ardentes, onde ele esteve uma vez para livrar servos de Deus dessa cruel morte, ou ainda cova de leões, de onde ele resgatou três servos fiéis. Já pensou nisso? Ou será que Jesus, como homem, filho de Maria, criado por José, cercado de irmãos e irmãs, vivendo em Nazaré como qualquer judeu de seu tempo, ao se deitar para o repouso necessário, sonhava com Roma, suas leis, seus soldados, sua dominação, ou com Cafarnaum e seu comércio fluente, sua pesca, seu cheiro de mar; ou teria ele sonhado com o marasmo de Nazaré, as ruas empoeiradas e crianças brincando de correr e pegar, mulheres no batente da porta tecendo em suas rocas, e coisas assim de um cotidiano morno? Ou será 168 impressões 2 ainda que ele sonhava caminhando com seus discípulos, rindo, chorando, ensinando, pregando, cantando no templo e lendo o rolo da lei na sinagoga, como certamente sonhavam de vez em quando os mestres da lei? Ninguém jamais saberá nada sobre isso, e não há quem possa sequer conjecturar, pois não há registro algum sobre nada disso. O que se fizer de menção a esse respeito como história será pura heresia. O que estou escrevendo aqui é apenas imaginação e sonho meu, pois o tema Jesus vive presente todo o tempo em minha memória, e invade os meus sonhos amiúde. E por ser assim na vida de todos, se alguém me perguntasse sobre o que eu imagino que Jesus sonhava, eu responderia: Eu acho que ele sonhava com a cruz. 169 impressões 2 Surpresa! Muitos pregadores e escritores já se valeram dessa ideia que vou usar, para despertarem em seus ouvintes, no mínimo, um sentimento de curiosidade a respeito da nossa chegada ao céu. De tanto se utilizarem desse recurso, tornou-se lugar comum, uma ideia já batida. Mas deixe-me dar mais uma batidazinha, pois não nos custa nada imaginar, sonhar, e faz tão bem à nossa alma pensar e anelar pelo paraíso que nos aguarda. Então, para nossa meditação, vamos imaginar algumas surpresas que nos “esperam” no céu. Você já parou para imaginar a surpresa que João Batista, o precursor, vai ter, quando despertar no 172 impressões 2 último Dia e ver ao redor do Trono Samaritanos, asiáticos, africanos e gente de todas as raças, e não somente judeus? Sim, porque ele morreu escandalizado ao ver que Jesus pregava o evangelho para publicanos e pecadores. Você já parou para imaginar a surpresa que será para muitos, ao chegarem ao céu e se depararem com um Jesus com um aspecto humano, de carne e ossos, sorridente e bemhumorado, moreninho e baixinho? E que surpresa extraordinária para tantos descobrir, enfim, que o céu não é um espaço vago, embaçado por nuvens, silencioso e onde tudo se move em câmera lenta, mas um novo universo ainda mais lindo e colorido do que este no qual vivemos: aves canoras de todas as cores, felizes, cortando os ares sem medo dos homens; animais selváticos maravilhosos, convivendo no mesmo espaço com os domésticos; rios de águas cristalinas, frescas e cheirosas; um ar puríssimo, árvores frondosas, floradas, perfumadas, carregadas de frutos perfeitos (muitas jabuticabeiras); ruas, sim, ruas e avenidas de casas, sem caos, sem pressa, nem confusão ou violência; gente, muita gente feliz, em paz, sem máscaras, sem culpas, nem medos, nem dramas, dores, lágrimas, ou qualquer evento de ordem negativa, pois não haverá 173 impressões 2 pecado. E mais: não haverá velhice, pois ninguém mais morrerá; todos terão a aparência dos seus melhores dias, a estatura de varão perfeito. E mais ainda: haverá trabalho; não mais o trabalho imposto como consequência do pecado e seus efeitos, mas a atividade produtiva do bem, pois a Escritura afirma: “e os seus servos o servirão”. Surpresa! Surpresa será para muitos, enfim, descobrir uma escala de valores completamente diferente da que estabeleceram para si enquanto aqui nesta terra estiveram. Verem invertidas as coisas que realmente importavam; verem que correram tanto, e gastaram energia e vigor, e o melhor do seu tempo, e até brigaram tanto por coisas que para o Eterno não significavam quase nada, coisas que estavam lá no finalzinho da lista, e negligenciaram os primeiros itens da lista de Deus, a divina ordem das grandes virtudes, a prioridade do que agrada ao Soberano. Muitos verão, estupefatos, Deus recompensar prodigamente ao “bom samaritano” e dar tão pouco a sacerdotes “zelosos” pela lei e que foram apressados para cumprirem os seus ritos religiosos, ignorando a dor alheia; verão abraços e beijos tão calorosos de boas-vindas a ex-meretrizes e exmarginais excomungados, assentados à frente de muitos 174 impressões 2 pastores e líderes na assembléia dos salvos. Entenderão, de fato, o que Deus sempre quis ministrar com a profecia: “misericórdia quero, e não sacrifícios”. Verão, in loco, em que lugar da lista de Deus se encontram as doutrinas e sistemas denominacionais, os regimentos de homens, as performances ritualisticas dos cultos, os perfis confessionais, regras, ritos, praxes e ordens estabelecidas pelos homens, em nome de Deus. E verão em que lugar da lista de Deus se encontram o amor sincero ao próximo e uma vida simples desprovida de vaidades, fora do templo. Por fim, tantos líderes e membros de igrejas evangélicas povoando o inferno, e tanta gente que julgávamos hereges, de joelhos diante do Trono. Imaginação à parte, pelos sinais bíblicos de que dispomos, há verdades aí... Vale a reflexão. 175 impressões 2 Um grito à meia-noite À meia-noite, ouvir-se-á o grito: “Eis o Noivo, saí ao seu encontro!”. O dia se inicia aos primeiros raios do sol, quando as sombras da madrugada vão dando lugar às cores e formas cobertas pela escuridão da noite anterior. Os dois períodos do dia, governados pela luz, manhã e tarde, são marcados pelo trabalho, pela atividade criativa, pelo movimento, pela pressa, pelo desincumbir-se de demandas e responsabilidades. No finalzinho da tarde, ao declinar o sol, a temperatura cai, os bichos no campo buscam a proteção de seus refúgios, e as aves se recolhem em seus ninhos; cada um volta para sua casa e o barulho das ruas dá lugar ao silêncio. À medida que a noite avança, a escuridão que se engrandece, o bem se prepara para dormir, e o mal sai de casa para agir. Está exaustivamente comprovado, por estatísticas, que a maior parte dos crimes, assassinatos, resultados trágicos da embriaguez, a 178 impressões 2 visibilidade da violência extrema, acontecem no avançar da noite. Como se diz na boca popular da sabedoria: tarde da noite não é hora de quem é do bem estar no olho da rua. Com imenso discernimento, o apóstolo Paulo escreveu aos romanos e, criando uma metáfora, disse: “Vai alta a noite e vem chegando o dia; deixemos as obras das trevas e nos revistamos do Senhor Jesus”. Ele associa o avançar da noite com as obras das trevas, e o raiar do dia, ao Senhor Jesus. É isso, estamos nos aproximando da meia-noite da história; as trevas cobrem a face da terra, a maldade sai do seu esconderijo e invade as ruas, as casas, os relacionamentos, a inocência infantil, e nada a detêm. Ao vivo, em tempo real, sob o olhar de muitas câmeras, a violência campeia. Pais contra seus filhos, e filhos batendo em seus pais; assaltos, arrombamentos, gritos, blasfêmias, corrupção, leviandade. Como bem disse o apóstolo: Os últimos dias serão difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, jactanciosos, arrogantes, desafeiçoados, inimigos do bem, cruéis, desobedientes aos pais, e todo tipo de ruindade. Com um perfil desse caracterizando a humanidade, não é mesmo de se estranhar que as coisas caminhem em decomposição progressiva e irreversível, e 179 impressões 2 de forma insuportável. O Senhor Jesus Cristo preveniu aos seus discípulos a respeito das coisas do fim, e traçou um quadro dantesco, dramático e assustador. Ele disse que os seus servos deveriam orar e vigiar, para que os horrores daqueles dias não os apanhassem como um laço pega um pássaro desatento. Em resumo, e não há dúvidas quanto a isso, vai alta a noite, ou seja, nos aproximamos do fim, e já colhemos os frutos amargos dessa árvore mortal; já aspiramos o ar pesado e poluído da ambiência de morte que, como orvalho, cai sobre nossas cabeças. O que nos resta como consolo e esperança é certeza de que as palavras proféticas e as promessas de que o Salvador voltará para buscar a sua igreja, a sua noiva para as bodas, não falharão, como nenhuma de suas promessas antigas falhou. Assim, como eleitos amados que somos, devemos aguardar a qualquer momento o som solene da voz que anunciará: “Eis o Noivo, saí ao seu encontro”. 180 impressões 2 Um Natal sem Presentes Mais um ano chega ao fim; mais um dezembro que nos é dado; Natal. Natal que chega em outubro, quando a Prefeitura e o CDL resolveram decorar as ruas, praças, avenidas, lojas e shopping centers com milhões de luzes, bolas, arcos, pendentes, árvores, sinos e todos os adornos característicos da época. Muda o cenário das ruas, muda o ritmo das músicas, as cores das roupas, o volume do trânsito e dos engarrafamentos, e as colmeias humanas: gente esbarrando em gente, freneticamente em busca da melhor oferta, da promoção da hora. Os cartazes aumentam de tamanho, anunciando o imperdível, com letras gigantes dando, e letrinhas miúdas embaixo tomando. Todo ano é a mesma coisa. Decidi sair às ruas certo dia, não para comprar alguma coisa, mas apenas para observar. Quando se sai do circuito e fica-se em um “posto de observação” é que a gente esbarra na crua e 182 impressões 2 dura realidade. É chocante. De um lado da história as pessoas caminham apressadas, solitárias ou no máximo em dupla, ansiosas, nervosas, tensas, semblantes fechados, visivelmente sem se perceberem, conquanto esbarrem umas nas outras. A sensação que se tem é de que são robôs, mecanismos programados, com um chip ativado na mente, piscando e dizendo: “Comprar, comprar, comprar...”. Em contrapartida, vi outras pessoas igualmente agitadas, da mesma forma programadas para impulsionar suas vendas, gente treinada para convencer aos outros de que precisam comprar aquele produto, como se, aquilo não acontecendo, um cataclismo de proporções universais acontecesse. Uma febre, um enxame, um estouro de boiada. Gente encurvada pelo peso das sacolas, filas e mais filas nos caixas, taxis em bandeira 2 alucinados para darem conta de tanta gente que vai e vem. Vendo de fora é algo surreal. Mas voltei os olhos para o outro lado, virei a página e me assustei ainda mais. Há um outro universo, um outro mundo, uma outra espécie de vida caminhando paralela a essa, sem se encontrarem; Uma realidade descolada e avulsa, tão próxima e tão distante ao mesmo tempo. Pisando as mesmas pedras, caminhando nas 183 impressões 2 mesmas calçadas, ocupando os mesmos espaços, milhares seguem na contra mão da sociedade. São miseráveis que não partilham do banquete do rei. Mal têm o que comer e o que vestir e vivem, ou sobrevivem, indignamente, sem teto, sem chão, sem esperança, sem expectativa do amanhã. Cruzam o caminho dos apressados, mas estes não os vêem; são invisíveis ou, quando percebidos, um estorvo. Eles estão à volta, em multidão. Fazem malabarismos nos semáforos, por uma moeda fria. Vão às filas dos supermercados com um produto na mão implorar que alguém o pague. Estendem a mão nas ruas, em desespero, mas não há resposta. Um dia desses eu andei a pé pelas ruas do centro, na madrugada, e vi uma cidade que a maioria não vê. Carros não param de transitar, jovens e adolescentes zanzam aos bandos, indo e vindo de festas e baladas, bêbados e drogados se encostam nas esquinas para vomitarem seu vício. Travestis e prostitutas se exibem escandalosamente nas pontas das ruas, e carros de luxo param para recolhê-los. Famílias inteiras: pai, mãe e reca de filhos dormem quietos debaixo de pedaços de papelão, sob marquises. O que pode significar Papai Noel, sinos, guirlandas, trenós, pinheirinhos e canções festivais 184 impressões 2 para essa gente? Eles já estão mais que acostumados a curtir um Natal sem presentes, sem calor, sem alegria, sem amor. Do meu posto de observação vejo que Natal para esses, assim como para aqueles, é um evento social cuja razão reside em ter ou não ter; poder ou não poder. Vejo que ambos estão fora do foco. Natal não é ter ou não ter presentes, poder ou não comprar um presente em uma loja. O Natal é o presente. O maior presente. Jesus, o Salvador, nasceu. Quem a ele recebe, encontra vida, amor, esperança e paz. 185 impressões 2 Um perfil admirável A história bíblica é feita e recheada de personagens dos mais variados perfis. Muitos foram os que se notabilizaram por feitos escusos e muito feios, deixando na história um rastro de maldades e um exemplo a ser evitado. Outros, ainda, conseguiram se estabelecer em um meio termo, do que é chamado de senso comum, passando a figurar apenas na lista de uma árvore genealógica, sem maior influência ou relevância para os anais da existência humana no planeta. Mas há aqueles também que marcaram positivamente os seus nomes nos livros de historia, pelos fatos e atos maravilhosos que protagonizaram, deixando para a posteridade o bom perfume de um grande exemplo a ser imitado. Deixe-me esboçar aqui nestas poucas linhas o perfil de alguém que deixou o seu nome na galeria dos homens que jamais serão esquecidos, para ver se você consegue descobrir quem é até o fechamento deste texto. 188 impressões 2 Quero lhe apresentar um homem, um líder respeitado em sua comunidade de origem e que, pelo destaque e relevância de sua liderança, foi chamado por Cristo para ser seu discípulo. Eram muitos os seguidores que cercavam Jesus naqueles dias, bem como muitos interessados e interesseiros, mas a princípio o sábio Mestre pôs os olhos em apenas doze homens especiais, a quem decidiu treinar pessoalmente, gastando com eles grande parte do seu ministério terreno. Passados alguns meses de treinamento intensivo, viu o Mestre Jesus que aquele grupo daria conta do recado, o mais sublime recado, a mensagem celestial da salvação. Em certo dia, chamou-os à parte e deulhes o nome de Apóstolos, impondo sobre todos eles as suas divinas mãos; ou seja, aqueles que representariam a igreja da Nova Aliança; aqueles cujos tronos já estão reservados diante do Trono e do Cordeiro, a saber, doze tronos, onde se assentarão os seus doze apóstolos. Viram? Dentre tantos e tantos discípulos, ele separou doze e lhes concedeu a autoridade profética de serem seus apóstolos, de quem toma o nome toda a igreja. Seguindo um pouco mais, no meio desse grupo seletíssimo ele, Jesus, se deu ao luxo de reservar espaço para um grupo ainda mais seleto, 189 impressões 2 com quem partilhou momentos extraordinários, longe da presença dos demais. E na equipe ministerial daquele que foi o mais nobre de todos os grupos de liderança da história, Jesus escolheu um, a quem entregou o que na época era a tarefa de confiança. Esse a quem me refiro, andava do seu lado direito e tinha o respeito de todos os seus colegas de apostolado; o homem acima de qualquer suspeita, o homem de confiança do Mestre. Como os demais, este foi treinado e provado pelo Supremo Mestre em todas as áreas de seu discipulado; ele foi enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel; seguiu com o grupo por aldeias e cidades pregando o Evangelho do Reino e a salvação em Jesus, curou enfermos, expeliu demônios e todas as demandas da mensagem do Reino dos céus. Posso assegurar que este de quem falo foi tremendamente usado por Deus em seu ministério, juntamente com os onze apóstolos. Em um dos momentos mais emblemáticos de toda a vida terrena de Jesus ele estava lá; aliás, mais do que isso, ele estava no lugar de maior destaque e significativa intimidade. Esse momento era a soleníssima e sagrada Santa Ceia do Senhor, que significa a nossa união com Ele. Foi o próprio Cristo quem definiu: “Quem de mim 190 impressões 2 se alimenta, por mim viverá”. Esse líder estratégico teve a liberdade e honra de, além de participar desse momento Eterno, ser aquele que, pela intimidade, meteu a mão no prato de Jesus. A vistas nuas, um perfil maravilhoso que, talvez, o escolhêssemos para ser nosso representante, mas esse tal era Judas Iscariotes, que traiu a Jesus. Deus o escolheu com um propósito, mas, para nós, as aparências enganam e servem para nosso aprendizado e postura mais criteriosa em nossas escolhas. 191 impressões 2 Um robô no púlpito Recentemente, em viagem a outro Estado, durante um vôo, peguei uma das revistas de bordo e comecei a folhear, sem muito interesse. Lá pelas tantas, no meio da revista, os meus olhos foram atraídos para uma matéria mui curiosa, começando pelo título: “Agora eles pensam, reagem e sentem”. Era um artigo sobre a robótica avançada (ciência e técnica da concepção e construção dos robôs). Num último salão de amostragem científica e tecnológica, realizado no Japão, foram apresentados ao público os mais novos robôs. Impressionante aparência humana, em assustadora perfeição de detalhes, com cabelos naturais, com pele desenvolvida em laboratório, a partir da textura da pele humana, com micro poros e pêlos exatamente como os de um ser humano, inclusive o controle de temperatura e alterações da tez nesses intervalos. Por dentro, bilhões de circuitos integrados proporcionam um 194 impressões 2 movimento cada vez mais livre da rigidez característica de uma máquina, criando manejos sutis, próprios de uma pessoa de carne e ossos. Em seu cérebro eletrônico, um hardware poderosíssimo de altíssima complexidade, contendo zilhões de informações em micro-chips, sobre os meandros mais específicos do comportamento humano, como, por exemplo, mapas de cadeias genéticas, e resultados recentes do que há de mais avançado no campo psico-cibernético. De modo que um desses protótipos se mostrou capaz de esboçar, “por si mesmo”, um ar de riso, com o característico fungar de nariz, ao ver pela TV um anúncio de produto à venda, com tom jocoso e hilário. Ou sutilmente descair o semblante ante uma notícia triste, sem que ninguém manipulasse um controle remoto. O que os seus idealizadores divulgaram é que eles estão sendo programados para tomarem decisões ante as demandas que lhes forem apresentadas, sem ativação imediata de um operador, como, por exemplo, ao verem uma pessoa em dificuldade de atravessar uma avenida movimentada, ele, o robô, fazer essa leitura rapidamente e agir, como um ser humano faria. É passado, o tempo em que esses aparelhos apenas pegavam objetos, sob o comando de um joystick, 195 impressões 2 se movimentando pra lá e pra cá sobre uma esteira rolante, com luzinhas piscantes e voz metalizada, saída de uma caixa, com frases curtas e pré-programadas para coisas específicas, como uma boneca que diz: “mamãe”; “brinca comigo”; “me põe pra dormir”. Os robôs inteligentes atuais articulam a fala, interagem, demonstram sinais de emoção, embora sejam programados, como uma das demonstrações feitas desses humanóides: Uma pessoa bate à porta de um apartamento, e uma linda senhora vai atender, caminhando sem rigidez, como uma pessoa. Abre a porta, sorri gentilmente, estende a mão para o cumprimento, e chama o visitante pelo nome. É certo que em seus chips há o registro como contato daquela pessoa, com imagem e nome, e o sensor de presença ativa aquela “memória” e determina a ação. É impressionante, não? Mas isso não é mais ficção, nem imaginação dos cineastas, é realidade. Com o avançar veloz da ciência eletrônica e as leis da informática, disponíveis à robótica, como eles mesmos afirmam, em pouquíssimo tempo estaremos em dificuldade de identificar um ser humano, ante uma dessas máquinas. Elas estarão em escritórios, lojas, lugares públicos, vendendo ou comprando coisas, interagindo 196 impressões 2 conosco, como profetizaram os filmes de Hollywood. Dentre tantos, destaco aqui: “Eu, robô”. Um filme que conta do envolvimento de uma dessas máquinas com os seres humanos, em nível de intimidade, até chegar ao ponto de a máquina se emocionar e chorar, comovida. Ufa, que viagem! Já imaginou daqui a uns tempos um robô no púlpito? Mui bem programado, teologia definida por computador, segundo melhor a sua liderança escolher, postura impecável, eloquência irreparável, administrador incontestável, incansável, perfeito... Que igreja não queria ter o seu? Ele não teria salário, e sim suas baterias recarregadas; não usaria uma casa pastoral, mas apenas seu armário pessoal; nem teria mandato, apenas a conveniência do seu uso, antes do próximo upgrade. S-en-s-a-c-i-o-n-a-l!!! 197 impressões 2 Uma folha amassada Certo dia, tomei uma folha de papel em branco, um lápis grafite, e uma idéia fixa na cabeça. Tentei lançar nele as minhas idéias e impor naquele espaço os meus quereres, a qualquer custo. Mesmo sob teimosa insistência, nada ficava como eu queria e tudo fugia ao meu agrado. Sem cerimônias, a princípio, dobrei a folha em duas, quarto, oito partes, muitas partes, e, ainda não satisfeito, comecei a amassá-la com força, formando uma pequena bola. Por absoluta falta de propósitos e completa culpa, comecei a comprimir ainda mais a pequena bola de papel, e torná-la ainda menor, deixando-a bem distante da singela folha. Alguns instantes depois, no entanto, como um raiozinho ligeiro, uma frase daquilo que havia sido escrito e descartado veio à memória como algo exponencial merecedor de nova reflexão e posterior exploração. Iniciei o resgate, primeiramente tentando encontrar uma das pontas da 200 impressões 2 antiga folha – agora bola de papel, o que não estava fácil. Aos poucos fui desfazendo o bolo, na esperança de devolver a sua forma original, ainda que não plena. Eu estava arrependido, não havia outras folhas como aquela, e eu precisava muito do recurso. Abri parte a parte em suas múltiplas desdobras, e em quase desespero percebi que havia inutilizado aquela ferramenta, diante de tantas covas, corcovas, vincos e sulcos picados. Não imaginara ser tão grave a agressão que praticara; nenhum outro processo natural modificaria aquelas cicatrizes, ainda que com muitas tentativas. Não perdi a oportunidade e entregueime à reflexão: De posse de alguns centavos e numa curta caminhada será possível adquirir uma nova folha igual àquela para uma nova jornada literária; estará resolvido o problema. Nos relacionamentos interpessoais, no entanto, não é assim que funciona. Em primeiro lugar: Muitíssimas vezes mais que de uma folha de papel, nós precisamos sempre de alguém como suporte e auxílio para o nosso crescimento e desenvolvimento do caráter e de nossas potencialidades. Em segundo lugar: Diferentemente de uma folha de papel, não podemos descartar as pessoas, pelo fato de não entenderem o nosso projeto. Em terceiro 201 impressões 2 lugar: Assim como uma folha amassada não perde nunca as cicatrizes, da mesma forma a alma das pessoas enruga em função dos machucados de palavras e gestos sem amor a ela dirigidos. E em quarto lugar: É fácil e lícito comprar uma nova folha de papel; uma pessoa, jamais. Use e descarte as coisas; ame e acolha as pessoas. Deus se agradará disto. 202 impressões 2 Uma odisséia na igreja Acordei cedo, certo dia e, pelo calendário, percebi que era domingo, dia de ir à igreja. Havia algo sinistro no ar, não sabia explicar. Não estava dormindo, mas parecia sonho. Olhei pela janela e não reconheci nada do que vi. Os ângulos das ruas eram os mesmos, mas absolutamente nada me lembrava o lugar da minha habitação. Perplexo, intrigado e confuso, vesti-me apressadamente, apanhei os meus óculos que jaziam sobre o móvel da sala e desci alucinadamente as escadas dos dois andares que ficavam abaixo do meu apartamento. Já lá fora, mal conseguia respirar e os meus olhos se esqueceram de piscar. Em que mundo estou? A primeira impressão era de que eu estava dentro de um avançado computador com seus chips e comandos eletrônicos, ou de um moderníssimo videogame interativo. Tudo parecia Hi-Tec, uma experiência vídeo-eletrônica, a julgar pelo piscar característico das 204 impressões 2 luzinhas nas vitrines e letreiros das lojas, e a disposição da iluminação pública, se é que podemos chamar aquilo de iluminação... Era algo branco pálido e não se sabia de onde vinham os fachos de luz; algo que dava ao ambiente um aspecto cósmico-galático. As pessoas usavam roupas estranhas e de um material que não pude identificar. Não dava para reconhecer quem era homem ou mulher e não se percebia criança em parte alguma. A grande maioria usava um estranho aparelho de metal de um lado da cabeça ligado por um fio à cintura, e caminhavam todos em passos apressados sem se perceberem. Não havia música nem carros. Procurei informações à volta, mas não sabia acessar nada, tudo era digital e complexo. Além do mais, não tive coragem de me aproximar de ninguém, pois parecia não me notarem. Em passos tímidos e cautelosos, dobrei a primeira esquina e segui desconfiado. Lembrei-me que havia uma igreja a três quarteirões dali; pelo menos aquele era o endereço. Aproximei-me e percebi que, embora absurdamente diferente, ainda era uma igreja. Fui entrando ao que parecia uma porta ou um portal e fui barrado por um sistema invisível de segurança. Uma voz digitalizada pediu que eu colocasse a minha mão 205 impressões 2 sobre uma tela negra de cristal líquido, e em segundos, com uns barulhinhos, surgiu na tela uma ficha extensa com uma foto do meu rosto. O acesso foi permitido. Não havia suntuosidade no ambiente, nem inspirava devoção, mas tudo era muito funcional e confortável. As poltronas eram todas de encosto muito alto, não se permitindo ver quem estava à frente e muito pouco quem estava do lado. Por toda parte, inclusive nas poltronas, telas de alta resolução transmitiam a calma programação, e o som de alta performance só se ouvia através de fones de ouvido especiais dispostos em cada um dos assentos. Não havia celebrantes e, ao que parecia, programações diferentes eram transmitidas individualmente. Coloquei os meus fones e ouvi a mensagem daquele dia, cujo tema era: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje, e o será para sempre”. Isso encheu o meu coração de fé e alegria. De repente, ouviuse um grito, uma voz a me chamar. Acordei do sonho. Suspirei, sorri e pensei: será que será assim? 206 impressões 2 Unreality show Assim que foram lançados os primeiros programas na televisão brasileira com esse formato “casa de vidro”, em que as pessoas podem ser vistas enquanto se relacionam, pensei comigo: isto não vai dar certo, ninguém vai perder o seu tempo assistindo a bobagens. Mas com a chegada dos dias, todos os índices de audiência foram sendo batidos e as redes de TV perceberam achar o filão. Os episódios viraram série e febre dos horários nobres da telinha. Confesso que, diante da curiosidade de ver tantas pessoas correndo para um mesmo lugar, parei certa vez para ver o que acontecia em uma dessas casas. Para minha surpresa, não era bem do jeito que a minha ignorância julgava: um poço de mediocridade, antes era muitíssimo 208 impressões 2 pior. Pasmei ante o insano, o desperdício de vidas humanas. Tanto as que produzem e representam, como as que consomem. Deixe-me considerar algumas coisas, pelo menos duas dos muitos aspectos que merecem ser abordados sobre esta questão. 1) Deveria nos encher de vergonha a imposição e manipulação da cultura americana sobre a nossa gente que, subserviente, deixa de aplaudir os seus heróis e honrar a sua história, para cultuar e enaltecer a cultura de um povo que nos olha de cima para baixo, como réles mortais, meros pedintes de uma sub cultura desinformada e inferior. Quem tem uma TV por assinatura sabe que a grandessíssima maioria dos programas estreados pelas emissoras brasileiras é uma adaptação dos programas americanos, até nos cenários. Tudo o que eles fazem parece o máximo para o nosso povo. E o que dizer dos estrangeirismos em dilúvio que avassalam a nossa língua? Em todos os lugares, sejam lojas, bares, mercearias, ou anúncios de qualquer natureza, nomes próprios, lá estão as expressões em inglês, ainda que poucos saibam o que significa. Será que algum dia você vai ver um jornalista americano entrevistando um brasileiro, em português? É preciso dar um basta e abrir 209 impressões 2 os olhos. 2) A pós-modernidade está levando o homem à falência intelectual ou pelo menos a uma certa regressão psíquica, um adormecimento mental. Não há espaço para a reflexão, meditação e introspecção. A pressa tem levado as pessoas a desejarem o pronto e o rápido - a mentalidade fast-food do que acabamos de comentar. Eis por que a indústria do entretenimento é a que mais cresce em todo o mundo. Os efeitos da globalização em um mundo pós-moderno estão dizendo às pessoas: anestesiem a sua mente, fujam da realidade, entorpeçamse, invistam no humor e no alívio paliativo. A angústia que já se abate sobre a face da terra e os rumores funestos dos dias vindouros têm levado pessoas velhas e jovens a se acotovelarem nos corredores dos shoppings em busca de recreio, também nas casas de massagem, praças, calçadões e salas de vídeo. Fuga, simplesmente fuga. Muitos querem fugir da reality e incrivelmente vêem-se flechados e sedados na frente da televisão a sorverem do mundo fictício e alienante dos reality shows, sem que possam se defender. É o descalabro, um culto à mediocridade, uma afronta à inteligência, um curso prático de imbecilismo. Se é por falta do que fazer, eu recomendo a prática de uma 210 impressões 2 boa leitura e meditação em coisas eternas e duradouras: as páginas das Escrituras Sagradas que podem nos fazer sábios para a vida e preparados para toda boa obra. Em vez de poluir a mente com erotismo barato e frivolidades, por que não tomar o conselho sensato do apóstolo Paulo: Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isto o que ocupe o vosso pensamento. 211 impressões 2 Vaidade vã e fugaz Dizem as más línguas que Eva, ao ser tentada no Éden, pela serpente encantada, resistiu firmemente até quando pôde, ante os ataques do inimigo, e enquanto estes se deram no campo teológico e espiritual; mas quando veio a facada pessoal, a coitada se rendeu. Dizem que a serpente argumentou, mostrando que se ela comesse da fruta, os seus olhos se abririam, e ela teria todo o discernimento espiritual, como o próprio Deus. E ela disse não. A condenada tentou seduzi-la também, dizendo que se comesse do fruto, passaria a conhecer o bem e o mal e dominar toda a ciência. Mas ela disse não. E assim foram muitas tentativas inúteis. E quando a “bicha” viu que não conseguiria enredar aquela forte e segura mulher com as coisas da fé, atacou com um argumento irresistível: Disse a serpente: “Come, boba, emagrece!”. E Eva, sem pestanejar, comeu, gulosamente. 214 impressões 2 Pode um negócio desse? E o que ela deve ter dito a Adão sobre os poderes da fruta eu não quero nem comentar aqui. Imagine você mesmo. Claro que isso é uma piada, não é? Talvez até meio sem graça; ou ainda inadequada a um boletim dominical de uma igreja histórica; ou ainda mais imprópria, por se tratar de um tema religioso, com personagens bíblicos; ou mais grave ainda, como alguém poderia se escandalizar, brincar com as coisas de Deus. E eu sou obrigado a concordar e me submeter à censura e reprovação dos criteriosos e apologistas. Mas antes de me crucificarem, deixem-me fazer uma perguntinha básica: E se essa brincadeirinha “descabida” for apenas uma maneira jocosa e ilustrada de revelar uma verdade grave e devastadora? Por favor, não fechem o filtro, leiam com calma e atenção até o fim. Estamos no ano de 2011; o sistema de vida que escolhemos, ou que acatamos, nos traz muitos benefícios e comodidades, mas também consequências letais; a explosão da ciência e da tecnologia nos trouxe tantos recursos, em tão pouco tempo de história, que não estamos dando conta de administrar a avalanche de novidades. Dentre as muitas indústrias que fervilham no mundo para aquecerem o apetite 215 impressões 2 humano, algumas foram catapultadas velozmente para o topo das exigências, pelo grito das demandas sociais: a indústria dos medicamentos (Com toda modernidade à disposição, o stress está matando o homem por dentro, em sua agonia); a indústria do entretenimento (A angústia que açoda o homem moderno o está empurrando para o lazer, como escape para a sublimação, ou não suportará a pressão); a indústria cosmética e estética (A tecnologia informou ao homem moderno que não há limites para o seu voo rumo à imortalidade). Falando somente de Brasil, se você não sabe ainda, somos o país número um do ranquin dos que mais consomem produtos de beleza, à frente dos Estados Unidos, Alemanha e França – nessa ordem. Cem por cento dos shoppings trazem 90% de produtos relativos à beleza e aparência: roupas, calçados, acessórios, perfumes e supérfluos diversos. Em vinte anos, centuplicou a quantidade de academias, clínicas estéticas, casas de massagem, bem como os serviços oferecidos para o tratamento de pele e capilar, com os nomes mais criativos e curiosos. Cremes, sabões, banhos e poções mágicas, vale tudo quando se destina ao rejuvenescimento da pele e melhoria da aparência. E quando a química não 216 impressões 2 cumpre sua promessa, o bisturi entra em cena. Nunca se procurou tanto clínicas de reparos físicos; hoje, corrige-se tudo, a partir de simulações computadorizadas. Homens e mulheres querem mostrar-se sarados e na moda, usando o corpo como vitrine. Como a moda desse tempo é de homens musculosos e de sobrancelhas feitas (cruz credo), já estamos vendo servos de Deus orando ao Pai para que lhes dê discernimento para decidir que clínica procurar; e irmãs queridas, servas piedosas, angustiadas querendo fazer aquela plástica reparadora, para deixar tudo em cima (eu pergunto: em cima de que?). Muitos vendem a alma a satanás, fazem qualquer negócio em favor do que chamam de auto-estima; para não se verem fora da moda, fora do padrão mentiroso que o mundo apresenta. Muitos estão mais preocupados com as rugas, as peles caídas, os cabelos brancos, os sinais do tempo (que deveriam ser celebrados com gratidão a Deus), do que com a saúde integral: moral, emocional e principalmente espiritual. Satanás continua querendo enganar os homens, oferecendo-lhes frutos atraentes, para afastá-los do principal, que é a obediência a Deus. Pense nisso. (eu sei que ranquin se escreve Ranking). 217 impressões 2 Viver ou morrer A vida é um precioso dom de Deus e não pode ser desperdiçada em um só segundo. Cada novo dia que recebemos é um valioso presente que dura somente até à hora de dormir. Se bem usarmos esse talento, mui bem será; se o negligenciarmos, que desperdício tremendo. E o pacote desse dom vem completo e se apresenta rigorosamente igual para todos: O mesmo sol nasce e se põe sobre todos; as possibilidades se renovam a cada manhã para todos; a vida que pulsa exuberante é de todos. Da mesma forma, a maldade presente na terra, em forma de opressão, acorda ao lado de cada um de nós todos os dias, de modo que viver bem é uma escolha. Seguem aqui alguns conselhos básicos para a sua meditação: Decida sorrir mais, relaxar ante as muitas pressões que são impostas sobre você o dia todo. O bom humor é remédio certo para a sequidão da vida no planeta. Você não vai conseguir 220 impressões 2 dar conta de tudo e agradar a todos ao mesmo tempo. Querer desempenhar um papel de salvador do mundo e manter uma performance impecável de quem não erra, o tempo todo, é comprar doença emocional, pois todos somos falhos e limitados; ninguém vai conseguir viver sem tropeçar. Observe mais os detalhes das coisas, perceba o que está em volta do que se encontra no centro, saia do lugar comum, mude de janela, desvie o foco, abstraia-se, arrisque-se de vez em quando, prove algo novo, converse com uma criança, ouça uma história de um velhinho, pare em um lugar belo e fique quieto ouvindo os sons, observe os passos das pessoas e medite, dê ordens à sua mente para que se aquiete, busque em sua memória lembranças boas, retenha só que for bom, jogue fora todo o que for estorvo e não lhe traga edificação, durma mais, ouça mais música, ponha o pé no chão, corte as unhas você mesmo, de vez em quando presenteie você mesmo, não tenha medo de ser ridículo aos olhos de alguém só porque você está feliz, relembre os seus sonhos ao amanhecer, coma bem, abrace mais, beije, converse com amigos sobre os seus medos e sonhos, colha uma fruta no pé, promova e cultive amizades, ore mais, seja mais crente, desenvolva a 221 impressões 2 sua salvação, veja o sol se pôr mais vezes, curta uma lua cheia, faça elogios sinceros, leia mais a Bíblia, se possível, evite o centro da cidade, planeje melhor o seu dia, a fim de sobrar tempo para os seus cuidados pessoais, doe o que você não usa, compre somente o que você realmente precisa. Evite ficar ansioso, não sofra antecipadamente por nada, dê sentido às coisas, gerencie com zelo as suas emoções, alimente sua mente com boas leituras, aprenda algo novo, não deixe ninguém manipular seus pensamentos e vontades, não manipule, aprenda a dizer não com classe, mas não faça o que realmente não quer, desafie os seus medos, cresça, não estacione, mude seus itinerários, aprenda com os erros dos outros, seja elegante, admita que perdeu, construa em sua mente a vívida idéia de que cada segundo vivido contém um valor inestimável e não volta mais; valorize cada gesto, cada palavra, cada sentimento que perpassar sua existência. Para a sua saúde integral, faça essas coisas, ou morra. 222 Aguçar o olhar para perceber e traduzir os sinais que a vida nos apresenta; deixar de lado a correria do dia-a-dia para exercitar nossa capacidade de observação e reflexão sobre fatos que nos rodeiam; ativar memórias, lembrar da infância, reviver cheiros, imaginar o futuro; enfim, viver sem perder a poesia. Este é o convite que o autor Itamar Bezerra faz através do livro Impressões 2 - contos e crônicas para rir e chorar, ler e pensar. Cronista por excelência, Itamar descreve experiência pessoais e marcantes ao longo de sua vida com a mesma clareza e sensibilidade com que analisa acontecimentos do cotidiano. Junto com ele, embarcamos na maravilhosa aventura de celebrar o prazer da existência. O livro Impressões 2 – Contos e crônicas para rir e chorar, ler e pensar... é como o próprio título sugere: um convite à reflexão sobre a vida, as relações, a igreja, a família, e tudo o que cerca a estrada que trilhamos. O texto de Itamar Bezerra é recheado de lirismo e poesia; a sua prosa é rica em metáforas e de uma simplicidade cativante. Ele reparte conosco, com extrema sensibilidade, suas impressões sobre fatos, situações, falas e marcas dos rastros deixados por nós, à medida que seguimos nossa trilha. Impressões 2 é mais que uma experiência literária; é um passeio fora da cidade, como filosofa o próprio autor.