Itamar Bezerra
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contos e crônicas para rir e
chorar, ler e pensar...
Sobre o Autor
Itamar Bezerra é Ministro Presbiteriano, servindo à Igreja Presbiteriana da Bahia – Salvador. Nascido em Pedrinhas – Sergipe, é
Casado com a professora Raquel
Nery, e pai de André e Ana Ruth.
Autor dos livros: Histórias de Pescador, para pescadores de Almas,
Mical – o drama de uma princesa,
Impressões – inquietações de um
poeta urbano, e Ricos de Verdade.
Também compõe músicas e escreve artigos para publicação semanal em sua igreja.
Itamar Bezerra
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Itamar Bezerra
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contos e crônicas para rir e
chorar, ler e pensar...
A Jair e Cornélio, amigos preciosos que
encontrei, com quem reparto agradáveis
momentos de descontração e bate-papos
filosóficos, nos almoços de segunda-feira.
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Prefácio
Eu considerei as linhas que tracei para este livro como
uma viagem, o seguir em uma estrada. É mais que comum
isso acontecer: caminho afora, paisagem que se modifica
a cada metro, nuances que se apresentam em cada curva, uma experiência renovada a cada passo, à medida que
seguimos. Por isso, quem sai a caminhar por uma trilha,
em dedicada observação, tem muita história para contar.
Estas meditações, ou projetos de crônicas, fazem parte de
uma seleção de textos que escrevi para a comunidade que
apascento, e revelam a visão que carrego sobre a dinâmica
da nossa vida, seja no campo religioso-eclesiástico, seja
no cotidiano secular que nos rodeia, ou no seio familiar.
Confesso que me divirto ao escrever muitas dessas analogias, bem como gemo e choro ao digitar páginas proféticas. Fico ansioso para que estes ensaios sejam lidos
por aqueles que elegi, e gratificado quando uma ou outra
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ideia proposta produz efeito positivo, pois esta é a motivação que nutro ao escrever: abençoar, criar rotas para a
reflexão, convidar amigos para um tempo de meditação
e libertação do pensamento. Desde já, pondero: ler algo
pelo simples exercício da leitura não muda nada, pois a
leitura estática sem reflexão é estéril. A riqueza se estabelece quando migramos de um grande plano para o macro,
do cenário amplo para o detalhe, do trecho para a frase,
da sentença para uma expressão enfática. Assim, convido
você a ler os textos que escrevi, com os olhos e com a razão, meditar e formar juízo, recortar para posterior análise
o que gerou dúvida, acolher na alma o que lhe pertencer.
É isso. Nessa estrada em que seguimos pode-se encontrar
de um tudo. Os apressados, como sempre, estarão concentrados no destino; os curiosos, no percurso. Ambos
chegarão lá, mas estes, com muito maior background.
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A geração da apostasia
Há cerca de uma semana, acordei sobressaltado com
uma pergunta na cabeça. Depois disso, passei aquele
dia inteiro remoendo e deglutindo idéias relativas àquela
pergunta, e nos dias seguintes passei a buscar respostas.
A pergunta é: Em que mundo viverá a geração dos
meus filhos? Confesso que me achei angustiado, ansioso
e inquieto ante as preocupações que me cercaram.
Recapitulei a minha própria vida e voltei no tempo, dei
asas à memória e ordens para que me levasse à infância.
Quis verificar como algumas coisas funcionavam no
meu tempo de criança e adolescente, e quais valores
eram correntes em minha formação. As mudanças que
identifiquei são de estarrecer, inda mais quando vejo que
não se passaram tantas décadas desde então; três, quatro,
no máximo. E dentre tantas e tão grandes mudanças que
ocorreram em nossa história, frutos da industrialização,
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do advento da mídia eletrônica, da informática, da
internet, da globalização, enfim, a qualidade e expectativa
de vida dos nossos iguais se transformaram drasticamente.
Passamos a viver mais do que os nossos antepassados, em
termos cronológicos, mas nunca envelhecemos tanto em
tão pouco tempo. Nunca foram tão visíveis as marcas das
agressões a que somos submetidos. Nunca cresceu tão
rápido a industria de cosméticos e a busca por métodos
que retardem os sinais do envelhecimento. Hoje, muitos
nutrem a expectativa de viverem até os cem anos, mas sabese lá como se condicionarão pra isso. Somos fustigados e
agredidos a todo instante por armas e inimigos que vêm
de todos os lados, e os nossos sonos e sonhos passam
longe de serem doces e suaves. Dormimos mal e pouco,
e, não raro, sofremos pesadelos (no rebobinar da mente,
imagens, idéias, palavras e sentimentos ruins evocados
do subconsciente que conseguiram romper a censura);
comemos muito mal (agrotóxicos, enlatados lotados
de conservantes, hormônios aplicados nas carnes, sem
critério) e muito apressados, além de bebermos tanta droga
travestida de refresco. Coitados dos nossos ouvidos que
são submetidos a níveis absurdos de pressão sonora onde
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quer que andemos; estamos ficando surdos rapidamente.
As nossas narinas se ardem de cheiros estranhos, de
componentes nocivos ao nosso sobrecarregado pulmão,
“fumamos” todas, querendo ou não. Os nossos olhos,
igualmente, lacrimejam e se embaçam em meio a uma
sutil e invisível nuvem poluída que rega diariamente a
terra. Além de tudo isso, a selva que se tornou a sociedade
pós-moderna, altamente competitiva e excludente, gerou
um estado tal de ânimo em todos nós que não dá para
contabilizar as unhas que teimamos roer. Vivemos cansados,
estressados, aborrecidos, adrenalinizados, ultra-ansiosos,
com medo de tudo e perplexos com as ondas bravias que
o mundo moderno levanta sobre nós. Não fosse tudo isso
mais que bastante, um vento estranho, forte, constante
e malévolo sopra sobre as nossas searas sem piedade. É
o corrosivo vento de uma espiritualidade oca que, como
um manto, vai cobrindo lentamente a verdade, deixando
atrás de si uma realidade híbrida, mesclada de sofismas,
mas em essência uma mentira pura. Não bastasse a agonia
pela qual passa a atual geração que bunzou a própria água,
destelhando o próprio teto em iminente vendaval, ainda
amargamos uma falsa esperança propalada por falsos
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pregadores, gerenciando e vendendo uma fé, baratíssimo,
gritando a plenos pulmões a um deus surdo e inexistente,
miscigenando verdades eternas com vontades humanas,
entronizando a criatura em lugar do Criador. Com muito
boa vontade e esforço que ainda nos resta, focamos
os olhos no meio mais representativo da fé evangélica
contemporânea, e depois olhamos com simplicidade para
a verdade contida nos evangelhos sinóticos e só vemos
discrepância, contradição, desconformidade entre estas
duas realidades. Estamos tão distantes do que ensinou
o Mestre, que o evangelho que apresentamos às pessoas
parece só uma caricatura do original. Para completar o
quadro e a dramaticidade, vemos que os indivíduos que
tomarão os bastões da fé salvadora para passá-los a
outros que ainda virão, esses não estão interessados em
aprender; antes, esperam alimento pronto, algo que não
lhes dê muito trabalho para digerir, algo que não lhes traga
desconforto. Então, volto à pergunta: Em que mundo
viverão os nossos filhos? Assim, abro os olhos hoje, e,
na condição de profeta, venho despertar outros, a fim de
que preparemos melhor a atual geração para enfrentar a
Apostasia premente e certa.
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A igreja do futuro
Refletir sobre as implicações do ser igreja no presente
já não é tarefa fácil, muito menos conjecturar ou projetar
quem ela será em um tempo mais para frente. Simplesmente
não se pode determinar com precisão essas realidades,
uma vez que não nos pertencem. No entanto, a julgar pelo
retrospecto histórico e pela caminhada presente, associados
às profecias bíblicas no tocante aos males dos últimos dias,
podemos sugerir traços que marcarão a compleição da
instituição chamada igreja num futuro não muito distante.
Ao dizer igreja, refiro-me não ao corpo de Cristo, invisível
e místico, composto de todos os eleitos, remidos pelo
sangue do Cordeiro, pois este é uno, indivisível, puro e
relevante; antes, refiro-me às comunidades locais, grupos
e denominações, ajuntamentos de homens com suas
idiossincrasias. Falo do misto joio e trigo; do chamado
povo “evangélico” que lota templos e salões e comunga
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fé com outras crenças; de pessoas que aplaudem ao Deus
vivo juntamente com outras que acendem velas para
entidades. Os sinais assustam e alegram. Sim, assustam
porque nós, os que cremos e aguardamos a manifestação
do Filho do Homem, teremos que conviver num mundo
em que prevalecerá a incredulidade e apostasia (quando
Ele vier, porventura encontrará fé na terra? Lucas 18:8);
alegram, porque, sem dúvida, O sinal que antecederá a
Sua vinda estará patente. Como seria, então, essa igreja do
futuro? Quais suas características e qual o perfil dos seus
adeptos? Bem, a julgar pelo que hoje já nos cerca, a “igreja”
perderá a sua singularidade. Estará tão envolvida pelas
filosofias, conceitos e valores mundanos que não mais
poderá distinguir a verdade absoluta do relativismo moral
imposto pelo sistema; perderá a distinção que sempre a
marcou; em vez de protestante será tolerante; em vez de
sal da terra, será apenas terra em terra, sem relevância
nem impacto; sua mensagem terá mais psicologia do que
teologia; seu culto será mais voltado para o homem do
que para Deus; sua ênfase deixará de ser cristocêntrica
para ser antropocêntrica; seus métodos, estratégias e
critérios serão os mesmos praticados pelas grandes
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empresas seculares; seus ministros serão profissionais
prestadores de serviço, e não bastará apenas serem bons,
mas os melhores, embora descartáveis, habilíssimos em
atrair e manter em seus rebanhos fiéis mantenedores;
a porta estará cada vez mais larga, para dar vazão a um
caminho igualmente largo, no qual multidões seguirão
apressadas, não em busca de salvação para suas almas,
mas de alívio para suas mazelas. Muita gente, milhares e
milhares, crentes nominais, mas sem a genuína experiência
do novo nascimento. Assim como a geração que deixou
o Egito viu milagres portentosos, comeu do maná, foi
chamada povo de Israel, mas apenas um pequeno grupo
adentrou a terra prometida, assim será com esse “povo
de Deus” sem Deus, que abraçou um cristianismo sem
cruz, pensa chegar a Canaã sem passar pelo deserto, e
alcançar a salvação sem o arrependimento. Assim será a
“igreja” do futuro... SE NÃO ABRIRMOS OS OLHOS
HOJE e buscarmos a Deus com sincero coração e espírito
quebrantado; se não voltarmos o pensamento para as fiéis
misericórdias prometidas a Davi; se não nos apegarmos
à Bíblia Sagrada e sua teologia como fonte única de
revelação, Palavra infalível e inerrante, única regra de fé
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e prática mesmo; se não tivermos os olhos molhados, os
joelhos dobrados e uma fé simples, daquela que crê tão
somente porque o Senhor disse. O futuro começa hoje.
Acordemos, construamos a igreja do futuro.
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Aftas
Não é segredo para mais ninguém, todos sabem que
quinzena sim, quinzena não, sou acometido por essas
danadinhas inconvenientes. Tem sido assim desde a
minha adolescência. Aftas são erupções na mucosa bucal,
geralmente advindas de distúrbios no aparelho digestivo,
como a acidez descontrolada, ou reações a um destempero
emocional. Uma ferida dolorida. Você quer aprender a
falar o idioma alemão? Então repita comigo: “as aftas
ardem”. Que brincadeirinha mais sem graça. Inda bem
que eu não falei o restante da piada, por ser impróprio para
este espaço. Elas ardem mesmo; são como um pedacinho
de brasa assentado na delicada pele da boca; como
incomodam! Eu posso afirmar que sou pós-graduado
nelas, tenho know-how sobre a matéria, sou especialista
no assunto, sem ser da área médica, apenas pela larga
experiência em lidar com elas por todos esses anos. Já
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as tive na língua, nos lábios, no céu-da-boca, na região
interna das bochechas, e até na garganta. Desde aquelas
pequitititas, mas ardidas como pimentas malagueta,
até aquelas enormes que demoram duas semanas para
cicatrizarem. Certa vez eu estava pregando um sermão,
cheio de vigor e energia, e estava curtindo a dor de uma
dessas doloridas, na lateral da língua. De repente, num
descuido, ou, como inventei agora, numa barbeiragem
oral, taquei-lhe (gostaram do verbo?) uma dentada bem
em cima da condenada... Meu Deus! Engoli as palavras e
vi tudo escurecer e a congregação sumir. Nesses segundos
lancinantes eu vi anjos, arcanjos e querubins cantando...
Exageros à parte, quem as têm sabe muito bem do que
estou falando. E nessa caminhada de tantos anos afetado
por esse dolorido estorvo, eu já recebi todos os conselhos
e receitas que você pode imaginar, inclusive simpatias
para exterminarem esse pequeno-grande mal. Omcilon
oral base, Albicon, Pedra Ume, Violeta, Bicarbonato de
sódio, merthiolate e até pimenta. Remédios de farmácia
já provei todos. Já tomei chás de entre-casca de várias
árvores, já bochechei coisas que nem conhecia, e nada
adiantou. Como praxe, sempre me preocupo em olhar as
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bulas antes de usar o medicamento, para não ter surpresas
depois, como um que me receitaram e depois eu li que
entre os efeitos colaterais havia: demência, cegueira,
paralisia e óbito. Eu descobri, na prática, que não existe
remédio substância para as aftas. Elas têm um ciclo que se
inicia, atinge um ápice e desvanece. O que se pode fazer
para minimizar os seus efeitos é tudo paliativo, seja um
remédio tópico, seja algo para o estômago. Nada encurta
o caminho dessas condenadas. Sabendo dessa minha
experiência, um pai de adolescente da nossa igreja me
procurou e me pediu uma indicação de remédio para as
aftas, pois o seu filho, assim como eu, vive atormentado
por esses monstrinhos. No momento eu não tive como
explicar muita coisa, mas agora e aqui quero revelar o
segredo e o remédio que descobri para prevenir as aftas.
Para prevenir! Leia-se e publique-se. Peguem caneta e
papel e anotem aí: um excelente remédio para aftas é uma
bela bacia de jabuticabas tiradas no pé. Duvidam? Podem
tirar a prova. Um dia na roça, de pés descalços, aspirando
o cheiro de grama e terra frescas, um riachinho de águas
claras correndo e lavando suas canelas, o som da liberdade
na voz de pássaros que voam aqui e ali, silêncio e o sopro
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do vento nas copas das árvores, sem carros, buzinas,
fumaça, gente maluca correndo para todos os lados, sem
necessidade de olhar para o relógio a todo o momento,
sem computadores ou televisão, apenas a natureza e a
paz. Eu já tomei esse remédio várias vezes. Não tem afta
que encontre lugar para nascer. E a que já estiver nascida,
busca o rumo de casa com pressa. Aliás, a afta é uma ferida
que ocorre no organismo de alguns; em outros, outro tipo
de ferida se aloja, mas todos os que vivem nessa rodaviva infernal dos tempos modernos também são afetados;
ninguém escapa. E digo a você, com plena convicção:
Quer cura para sua neurose? Tome o jugo de Jesus e tente
passar um dia fora do sistema opressor.
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Alta Noite Novo Dia
“Eu sei que verei a bondade do Senhor na terra
dos viventes”
A esperança renovada é o combustível que mantém
aceso o vigor da nossa alma. Aquele que preserva em
seu coração a capacidade de sonhar, de crer e esperar,
sem esmorecer, verá cumprido ao fim de tudo um plano
eterno em seu favor. Essa santa expectativa é cura para
a vida: é aquele constante e desperto aguardar de coisas
novas que só o Senhor pode gerar; um pré-vislumbre de
um milagre certo, uma certeza inexplicável que uma voz
silente anunciou. Esse sentimento vitorioso e belo, no
entanto, não é pertinente e natural aos filhos de Adão, não
se encontra à mostra e nem à disposição por baixo preço.
A Queda afetou toda a natureza e cancelou a festa. A
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partir dali, degeneramos. Um quadro de incertezas visitou
a raiz de todos os homens, e o pessimismo se alojou em
sua morada. Sangue, suor e lágrimas adolesceram. Dor,
tristeza e morte emolduraram o horizonte da experiência
humana. Daí, então, o arrebol escureceu, parece não haver
esperança para os filhos dos homens. E hoje, decorridas
tantas eras, esse mal envelhecido, amargando o desengano,
agoniza moribundo. É o fim dos tempos, o cerrar das
portas, o apagar das luzes, a madrugada da história. Vai
alta a noite e com ela os seus horrores, mas vem chegando
o dia, e já seus raios tímidos se despertam. Os incrédulos
não os vêem, nem os discernem, não os podem aguardar.
Para eles não há luz, só escuridão e medo; nem mesmo
um túnel há onde no fim brote uma luz; para eles não há
esperança. Mas esse alvorecer que desponta, projetando
seus raios multicores, traz um sol de cor intensa, vivo e
pleno em seu vigor. É o Sol da Justiça, a Brilhante Estrela
da Manhã, trazendo salvação em suas asas, desfazendo a
influência tosca do reino das trevas, que tira os homens da
frieza mortal das sombras da impiedade, trazendo-os para
o calor dos ternos braços do amado Pai. Bem-vindo, reino
da luz, que lindo Dia! Aleluia! Olhos espirituais nos foram
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dados; podemos enxergar com nitidez os vívidos sinais da
Sua vinda, e a áurea de glória que inunda a terra, revelando
parte da divina Luz da morada eterna. Se hoje, para nós,
tão intensa luz já brilha, descortinando a cada instante
beleza incomparável, o que há de ser dos nossos pobres
olhos quando estivermos diante daquele que criou o sol?
Importa, portanto, que, como filhos da luz, deixemos
para trás todo o apelo da noite, e sigamos, confiantes, essa
Luz. Que permitamos a entrada desses benfazejos raios
nas sombras que teimam nos assustar, e eles trarão poesia,
sonho, viço, canto, beleza, riqueza e todos os encantos de
uma vida plena ainda aqui nesse planeta, e muito mais na
esfera que nos aguarda como um novo dia.
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Banal
Segundo os dicionaristas, banal é aquilo que é ou se
tornou corriqueiro, trivial, vulgar. Essa vulgaridade aí
descrita está associada ao conceito de algo sem valor. Já
o corriqueiro e o trivial aí de cima dão a idéia de uma
coisa apenas comum, que se repete diariamente, sem, no
entanto, atribuir-lhe valor. Assim sendo, podemos dizer
que não nos impressionamos tanto mais com o advento
da aviação, como nossos pais, pois aviões cruzando os
céus sobre nossas cabeças são algo corriqueiro. Aliás, não
só a maravilha da aeroplanagem, mas as muitas e muitas
outras maravilhas da ciência moderna já não nos espantam
mais. Os nossos olhos estão saturados de novidades e não
sabemos aonde a tecnologia irá nos levar. Lidamos com
coisas que seriam espantosas ou fruto até de bruxaria para
os antigos de poucas gerações passadas, mas que para
nós é o trivial de segunda a domingo. Diga-me se não é
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fantástico um aparelho celular pequenino, sem qualquer
fio, com o qual você pode falar com alguém a muitos e
muitos quilômetros de distância, além de tantos recursos
que o danadinho oferece...? Incrível, não? Só que até por
um real a gente consegue comprar um desses aparelhos, a
depender da ocasião e da promoção; qualquer garoto de
seis, sete anos tem o seu e o usa para trocar torpedos com
os colegas. Você já parou pra pensar o que representa
um chip para a nossa geração? Milhões e até bilhões de
informações estão contidas em muitos deles, que não
passam aos nossos olhos de umas plaquinhas com uns
risquinhos de memória. Mas um chip que pode abrigar
terabytes é algo Fantástico. É... Banalizamos o espetáculo!
E infelizmente não foi só esse tipo de extraordinário que
banalizamos... Ficamos tão anestesiados que banalizamos
outras coisas ainda mais espetaculares: banalizamos a vida.
De tão ordinária que ficou, viramos números; o nosso
nome e a nossa história já não são mais importantes que
o nosso CPF. Somos identificados por senhas e códigos.
Quem é o homem nesse processo? Quem vale mais:
um homem ou um celular? Depende. Por isso não nos
chocamos mais ao vermos milhares de irmãos iguais a nós
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caídos na sarjeta, no lixo das nossas ruas, vizinhos à nossa
casa. Por isso tantos crimes horrendos, por um simples
par de tênis, um vale-transporte, ou mesmo por nada. A
natureza por Deus criada, a assombrosa obra das suas
mãos, que deixou o salmista sem palavras, desmorona
ante a ação predatória e irresponsável do próprio homem,
destruindo o lugar da sua própria habitação. E a neurose é
tão grande que não há tempo ou lugar para a contemplação
desse grande cenário que o Criador emoldurou para nos
encantar. Estamos olhando ao redor e vendo tudo cinza.
O processo é grave, irreversível e ruinoso. Feliz aquele
que em meio a esse barulho todo consegue enxergar
valor em um pequeno gesto, um sinal dos céus. Mais bem
aventurado ainda será aquele que não se deixar contaminar
com toda essa fuligem, e no final não banalizar a graça
de Deus e cada um dos seus milagres corriqueiros-nãobanais.
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Bons tempos
Primeira, segunda, terceira, segundo-papo, papônis...
Que saudade daqueles tempos... Brincadeiras saudáveis
e inocentes nas ruas de chão batido lá do interior. Pião,
bola de gude, furão, arraia, carrinhos de lata de óleo e
pneus recortados de chinelos velhos, espadas de galhos
secos, bolinhos de lama, baleadeiras, bola de capotão,
pés descalços, testa suada, tudo era festa e animação. Ao
chegar da escola, o fim do mundo era o limite, as portas
da possibilidade se escancaravam e o cosmos adentrava
a nossa vida pelas janelas da imaginação. Grupos de
amigos, vizinhos e primos apresentavam-se para o
início da aventura. Não importava qual seria a atividade;
poderia até mesmo ser uma tarefa obrigatória, ainda assim
seria uma boa aventura. À noite, após o singelo jantar,
grande oportunidade de aprendizado e crescimento
se apresentava “na porta da rua”. Costumávamos nos
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assentar na “calçada” para ouvir as histórias e estórias dos
mais antigos, sobre viagens, caçadas, mistérios, lendas e
ditos dos ainda mais antigos. Jatos poderosos açoitavam a
nossa imaginação e, assim, andávamos por estradas nunca
vistas, cidades nunca antes visitadas, encontrávamos
com personagens inexistentes e construíamos os nossos
sonhos. Não havia traumas, depressões, e nem sabíamos
o que vinha a ser estresse. Crescemos, e foi tão rápido,
não tanto quanto o foi o mundo. A mudança foi intensa
e devastadora, até parece que tudo acabou... Não há mais
chão batido, nem brincadeira de roda, nem boca-de-fornoforno, nem heróis e mitos que nos ensinem a correr e
voar. As portas se fecharam e não se brinca mais. O medo
está nas ruas e o silêncio dentro das casas. Foi-se o tempo
da amizade, do aperto de mão sincero, da troca de favores
sem interesse, do respeito pela história e pelo nome alheio;
foi-se o tempo da solidariedade, do compromisso moral e
zelo ético para com os valores adquiridos, da honra à vida,
ao ser humano, aos mais velhos e aos mais novos. Em
lugar disso, o mal se instalou. A liberdade cedeu lugar à
escravidão existencial: poleiros de homens, caixinhas pra
se habitar, regras e condicionamentos, correntes legais
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que nos prendem dentro de nós mesmos. Em lugar da
alegria, angústia e expectação sobre cada segundo incerto
que se aproxima. Estresse, hora marcada, planejamento,
cobranças, relógio, sirenes, suor e lágrimas, um salve-sequem-puder. A TV e a NET roubaram dos nossos filhos
a capacidade do abstrair-se, a poesia e o sonho, e os fez
escravos da imagem. Quem sabe ainda haja tempo, porta
adentro, de, pela ministração e exemplo, semearmos na
alma dos nossos filhos parte da semente que nos formou,
a fim de que eles, adiante, possam dizer ainda sobre esses
dias: que bons tempos aqueles...
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Esconder a idade
Pessoal, é sério mesmo! Leiam este texto com reverência
e sincera meditação. Não pretendo expor convicções
pessoais, ou meras opiniões minhas ou de terceiros sobre
esse tema tão polêmico e atual. Vou expor a natureza, a
raiz de onde tudo isso vem, sem medo de ser leviano.
Recentemente, completei felizes quarenta e sete anos de
idade; metade dos quais, como ministro do Evangelho
de Jesus. A igreja resolveu comemorar essa data com um
culto em ações de graças, numa quarta-feira. Muita gente
compareceu, e os ministros da igreja celebraram a liturgia,
sendo o pregador da ocasião o renomado e querido
reverendo Edésio de Oliveira Chequer – ex-presidente do
Supremo Concílio da IPB. Foi uma festa muito linda, para
a glória de Deus, seguida de um descontraído momento
de confraternização com torta, salgados, refrigerantes e
muitos presentes. Tudo beleza! Antes, durante a celebração
do culto, em dado momento, o pregador, que nunca tropeça
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nas palavras, gaguejou mais de uma vez, visivelmente
desconfortável e inseguro de revelar à Congregação
presente os dígitos do meu natalício, os quais eu lhe
tinha cochichado ao ouvido momentos antes. No final da
reunião de culto, o outro pastor, de forma descontraída e
jocosa, pediu aos presentes que descessem ao salão social,
onde se encontrava o ambiente da recepção, onde eu, o
aniversariante, poderia receber meus 47 abraços. Todos
caíram no riso e entenderam a proposital brincadeira. Na
ocasião, eu também me entreguei à brincadeira, para não
ser deselegante e “corta-barato”, chato e piegas. Mas já de
muito, todos sabem o que penso sobre isso. O que está
por trás da negação da própria idade? Qual a raiz dessa
necessidade de se esconder dos outros quantos anos de
vida já se alcançou? Em primeiro lugar, o gravíssimo
pecado da vaidade. Aparência, mera aparência, uma
tentativa sistemática de se mostrar o que não é ou o que
não tem; uma busca mesquinha e infantil pela aprovação
do outro. Não tem jeito, a vida é assim mesmo, degenera
a natureza humana; o tempo não perdoa; não há o que
fazer, é parte da condição humana. Todos os homens,
sem exceção, nascem, crescem, decrescem e morrem. São
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jovens boa parte da vida e envelhecem; cheios de vigor em
um tempo, e debilitados em outro. A pele, os músculos, os
cabelos, a aparência vão se desgastando com o tempo; é
inevitável, é irreversível. Por um tempo ainda se consegue
administrar as marcas inconfundíveis da passagem do
tempo: cremes, roupas, tintas, etc. Depois vai ficando
ridícula toda tentativa de esconder o óbvio. Vaidade, pura
vaidade, inútil vaidade, uma mentira tola de uma realidade
tão comum e universal. Em segundo lugar, o gravíssimo
pecado da ingratidão. Ora, se declaramos entender
que a vida é um precioso dom de Deus, um presente
incomparável, então é um contra-senso não admitirmos
que vivemos mais um dia e mais um ano, e sermos muito
gratos por isso. Dessa forma, fica sem sentido a oração
do salmista, ao expressar: “Ensina-nos a contar os nossos
dias, para que alcancemos coração sábio”. A idéia bíblica
é a solene alegria de se observar a cada dia que o tempo
vai passando e a pessoa vai seguindo sua trilha abençoada
por Deus. Portanto, pare de ser irreverente e ingrato e dê
louvores a Deus por cada novo dia que ele lhe concede; e,
se puder, publique isso. É uma grande bênção viver muito
e envelhecer aos pés da cruz.
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Como acabar um casamento
Tem coisas que aprendemos com muita dificuldade;
outras, com extrema facilidade. Desde sempre é assim.
E nesse aprendizado constante a experiência nos leva
a reconhecer que é bem mais fácil assimilar e praticar
coisas erradas do que discernir e permanecer no que é
correto. Desde que o pecado entrou na raça humana há
uma inclinação natural do nosso ser ao mal, e isso desde
cedo. “A estultícia está ligada ao coração da criança”.
Não precisamos gastar muito tempo para ensinar a uma
criança algo errado, contanto que lhe pareça interessante;
um conceito firme e sadio que lhe valerá para a vida,
no entanto, poderá levar anos até que se torne padrão
de conduta no seu comportamento. A lição que quero
lhe ensinar aqui é das mais fáceis, das que se podem
colocar em prática num abrir e fechar de olhos, e tem
a ver com a vida familiar. Aprenda como acabar o seu
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casamento rapidinho. Crie dentro de casa um ambiente
de competição; queira ser melhor que o seu cônjuge em
quase tudo o que você é e faz. Isto eliminará o sentimento
de parceria e cumplicidade, já será um bom pontapé inicial. Torne-se recluso, elimine o diálogo, isto fará
cada um distanciar-se do outro matando a afetividade e
prejudicando a unidade; sem comunicação a desordem se
instala, uma vez que toda ordem se estabeleceu do caos
pela palavra de Deus, no início de tudo. Seja rixoso, cri-cri,
procure confusão, transforme a atmosfera da casa em um
cenário de guerra, ainda que seja por pequenas coisas, isto
fará com que o seu cônjuge não sinta prazer de estar em
casa e procure refúgio em outros lugares.
Economize,
poupe carinho e atenção, jamais manifeste com palavras
e gestos os seus sentimentos, deixe que estranhos façam
isso por você. E não se preocupe, essas manifestações de
fora farão muito bem ao coração sedento e carente do seu
cônjuge; lembre-se que combustível, palha seca e fogo
fazem um trio do barulho. E mais, compare o seu cônjuge
com outros, repreenda-o na presença de amigos, permita
que os familiares e “amigos” interfiram na sua relação,
ignore as mais sagradas carências emocionais do seu
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impressões 2
companheiro (a), por mais bobagem que pareça ser, seja
gentil só para com os estranhos, pressione-o a qualquer
custo para que mude e deixe de ser quem é, etc, etc e etc.
Por fim, deixe Deus de fora da sua relação conjugal, lute
com as suas próprias forças, force a barra, vença no grito
e na marra. Seguindo ao pé da letra estes conselhos, em
pouco tempo você terá acabado o seu casamento. É tiro
e queda. Mas se, ao contrário, você desejar edificá-lo e
fortalecê-lo, então releia o texto e faça tudo ao contrário,
não tem errada.
46
impressões 2
Crendices
Acompanhe com atenção esta estória: Minha avó
paterna se chamava Martiniana. Hoje ela é falecida; viveu
104 anos. Baixinha, compenetrada, gente séria, sisuda –
meio brutinha, não era mulher de mentir, nem de inventar
histórias. Eram os idos de 1950; ela morava na roça com
meu avô Silvino Agostinho e seus 21 filhos. Criação
austera, viviam para a sobrevivência, com limitações, mas
grande dignidade. Naquele tempo, naquelas roças cercadas
de matas, soltas e malhadas, sem muita gente por perto,
nem a influência desintegradora da civilização urbana,
a vida se desenvolvia em uma frequência diferente da
que conhecemos hoje, e a dinâmica das relações era mui
estranha, comparando-se às dos padrões atuais. São tantas
histórias interessantes, tantas estórias intrigantes, tantos
causos curiosos. Numa determinada tarde, a minha avó
estava trabalhando no cultivo do algodão, numa planície
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impressões 2
que se estendia logo após a colina que divisava a casa da
família e a fazenda de D. Neném. Para se chegar onde ela
estava era necessário se atravessar uma cortada de mata
virgem, densa, e famosa de acolher tantas crendices. No
meio da tarde, o meu pai – que era apenas um garoto – foi
levar para ela: água e lanche, e cruzou a famigerada mata.
De um certo ponto mais alto ele conseguiu ver voquinha
inclinada, trabalhando. Desceu uma gruta, subiu outro
elevado e, para sua surpresa, viu que ela se encontrava
agora num ponto oposto ao que ele tinha visto. Estranhou,
deu meia volta e seguiu para o novo rumo. Chegando mais
perto, procurou um lugar mais alto e olhou em volta, e,
para um susto ainda maior, ela estava ainda mais longe e no
sentido contrario. Ele estava sendo vítima daquilo que tanto
era comentado pelos mais velhos: enganado pela Caipora.
Muito tempo depois, cansado e assustado, encontrou sua
mãe bem pertinho de onde ele estava. Algumas semanas
depois, ele e um dos seus amigos de trabalho, conhecido
como Daniel, saíram para caçar passarinhos naquela
redondeza. Segundo ele, depois de se separar a uma boa
distância do companheiro, avistou embaixo de uma moita
alta um boi em pé, que não tinha cabeça. Ele saiu dali
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impressões 2
assustado e achando que se tratava de uma “visagem”, e
fez um teste: pediu a Daniel para ir lá à dita moita, sem
lhe contar o que vira. Daniel foi, ingenuamente, e voltou
em desabalada carreira, assombrado com a mesma visão.
Não muitos dias depois, era uma noite de lua cheia, minha
avó se encontrava na cozinha, à luz de uma lamparina,
adiantando a refeição daqueles que iriam para a roça
no fim da madrugada do dia seguinte. De repente ela
ouviu o alarido de muitos latidos nervosos dos cães que
guardavam a casa. Eram latidos diferentes, assustados
e assustadores, entrecortados por gemidos e grunhidos
inexplicáveis. O barulho de mato esmagado cresceu e se
aproximou do oitão da casa; o galinheiro se alvoroçou, e
o barulho de patas dos cães em desespero se aproximou
do quintal. A porta dos fundos, que era a da cozinha,
estava só encostada – e era dividida em duas bandas. De
repente – disse ela – perseguido e atormentado pelos
quatros cães que guardavam a casa, arrojou-se porta
adentro aquele “cachorrão” estranho, com cara estranha
para um cão, com olhos faiscantes, andando meio de pé
e meio de quatro, e passou em desespero roçando-se no
vestido da minha avó, que também no susto, deu um
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impressões 2
safanão no bicho com a colher-de-pau que manuseava. O
maldito saiu pela porta lateral, acuado pelos cães e não foi
mais visto naquela redondeza, nos dias seguintes. Muitos
outros vizinhos daquelas bandas tiveram também suas
experiências com lobisomens, caiporas, mulas-sem-cabeça
e outros seres... Não precisa nem falar, já sei que você está
achando tudo isso ridículo demais, crendice tola desse
povo simplório da roça, da mesma forma que sei que você
não crê na influência direta das fases da lua e movimento
das marés na vida cotidiana de homens e animais, nem
que haja uma energia tão negativa em uma pessoa, capaz
de fazer plantas murcharem e animais adoecerem. Tudo
bem. Você não acredita em cavalos alados ou sereias
nos lagos, ETs ou chupa-cabras, e tem seus motivos pra
isso. E eu pergunto: Você crê na intercessão dos “santos
mortos”? Ou na invocação dos mortos, numa sessão de
necromancia? Ou que uma pessoa pode ser salva por ser
religiosa, ou que a própria religião oferece libertação à alma
sedenta de qualquer criatura? Você crê que alguém pode
galgar o céu, tão somente porque frequenta uma igreja
ou faz declarações ritualísticas compostas por líderes de
denominações cristãs? Você acredita que Deus se agrada e
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impressões 2
recebe culto e adoração de gente hipócrita de vida dupla,
que chora no templo, emocionado (a), com as mensagens
e cânticos, mas que fora dali é desonesto (a), avarento,
malicioso, ingrato, irreverente e incrédulo? Olha, eu acho
mais fácil acreditar em Curupira e Boi tatá...
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impressões 2
Desconectando-se...
Eu sei e você sabe, não temos o hábito, nem o recurso
nato da meditação. Já nascemos sob o signo da lepidez;
somos a lebre e não a tartaruga; vivemos correndo,
apressados, atrasados, com um constante sentimento de
perda e defasagem. E a nossa esquizofrenia é tão grande
que nos sentimos culpados se deixarmos os mil afazeres
para uma pausa à reflexão. Coitado do nosso cérebro que
não descansa nem quando dormimos; ele está sempre
tão estimulado, tão acelerado que não conseguimos
dormir relaxada e satisfatoriamente. Durante o sono
temos espasmos e agitos, como quem está assombrado,
e acordamos com o coração palpitando, pois o campo
cerebral responsável por reordenar as informações que
capturamos durante todo um dia não dá conta ou não
tem tempo para processar tanta coisa ao mesmo tempo.
Ao amanhecer, o galo não canta mais, também acorda
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impressões 2
estressado, tudo é veloz demais e quem não entrar nesse
“bonde” fica para trás e se desconecta do mundo moderno.
Só de escrever isso já estou estressado e ofegante; tenho
pouco tempo para pôr no papel essas idéias que serão
publicadas no boletim semanal, e cada um que participará
desse processo também tem pressa para terminar sua tarefa.
E você que está lendo este texto também tem pressa para
finalizar sua leitura, porque sua mente já tem mil planos
para agora e mais tarde. É de enlouquecer qualquer um a
vida que esse tempo nos propõe. E essa roda-viva é uma
invenção humana, uma construção sistêmica para dar ao
homem moderno a sensação de divindade que sempre o
habitou. O ser humano realmente assumiu ares de deus.
Em poucas décadas multiplicou o saber, brincando de
criador, imitando o divino. Fez flutuar o ferro, criou a
aviação, manipulou a vida, desenvolveu a bio-genética,
abriu caminho para a universalização social, inventou a
internet, globalizou a informação e a linguagem. Em pouco
tempo de história passamos a ser regidos por satélites e
integrados por ondas invisíveis. Quebramos a barreira
do som, viajamos para além de nossa própria atmosfera,
estabelecemos estações espaciais, trouxemos à existência o
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impressões 2
incrível, convivemos cotidianamente com máquinas superhiper-ultra-mega sofisticadas, de altíssima tecnologia, para
tornar a vida humana cada dia mais desencanada e fácil,
além de rápida – que é o propósito maior. Dependendo
do que se pretende fazer, um minuto é uma eternidade.
Temos à nossa disposição dispositivos mecânicoshidráulicos-tecnológicos que nos desincumbem do que
seriam grandes e pesadas e demoradas tarefas. Em apenas
um clique suave, algo extraordinário acontece, de forma
estupenda e maravilhosa, e o que poderia nos roubar horas
de serviço, resolve-se em poucos segundos. Sem dúvida é
tudo muito fantástico e útil, invenções engenhosas para
dinamizar a nossa vida terrena, para libertar-nos dos
trabalhos penosos, mas o preço de tudo isso foi e tem
sido a escravidão do tempo. Tudo à nossa volta depende
de uma máquina, depende da tecnologia. Para quem vive
como vivemos, faltar energia durante algumas horas é
sinal de um apocalipse terrível, pois estamos escravizados
pela tecnologia. Por causa dela corremos o tempo todo
e não temos tempo. A vida bela e pura que pregamos
e sonhamos é apenas uma referência teórica e distante.
Dormimos mal, comemos mal, andamos com medo o
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impressões 2
tempo todo, fechamos a boca para não falar com estranhos,
não nos lembramos do que sonhamos, vivemos ansiosos
e com uma agenda sempre lotada para tudo e para todos,
não nos relacionamos mais nem com os da própria casa.
Estamos virando zumbis, quase espumando pela boca,
com os olhos ressecados e o coração endurecido. Essa é a
razão por que não conseguimos ficar quietos em um lugar
solitário e silencioso lendo a Bíblia e pensando naquilo
que ela está nos instruindo. Seja bem honesto com você
mesmo: quando foi a última vez que você fez isso? Quando
foi que você saiu da roda-viva, fechou sua agenda por um
certo tempo, ficou à sós com Deus meditando na Palavra?
Então leia isto: Se você quer saúde integral, pare em meio
ao corre-corre da vida, saia de cena, desconecte-se de
tudo e tente ficar em silêncio a sós com Deus. É remédio
certo para a sua loucura.
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impressões 2
Ele estava lá
Numa determinada passagem bíblica (Jo 8:57, 58)
Jesus informa a um grupo de Judeus que o estorvava com
suas mil perguntas capciosas, que ele mesmo conhecera
a Abraão. Todos ficaram irados e ironizaram: “Ainda não
tens cinquenta anos e viste a Abraão?”. E para espanto de
todos, Jesus sentenciou: “Em verdade, em verdade eu vos
digo: antes que Abraão existisse, EU SOU”. Ele estava
no princípio com Deus; todas as coisas foram por ele e
por causa dele, e sem ele nada do que foi feito se fez (Jo
1). Ele estava lá, quando o primeiro casal “pisou na bola”,
trazendo ruína a toda a raça humana; ele viu quando Caim
levantou a mão e, com um golpe, derramou o primeiro
sangue sobre a terra, o sangue de Abel; ele estava lá,
quando o velhinho Noé fez entrar em sua arca um casal
de cada espécie, e quando as muitas águas cobriram os
montes da terra, fazendo perecer tudo o que se movia na
terra. Ele estava lá quando Abraão entrou em aliança com
o Eterno, tornando-se o pai de nações. Inclusive foi ele
mesmo quem apareceu a Abraão na companhia de dois
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impressões 2
anjos, embaixo de um carvalho, e lhe fez a promessa de um
filho herdeiro em sua velhice. Ele viu Jacó correr em fuga
para longe de seu vingativo irmão enganado, e depois Ele
estava lá quando José foi vendido por seus irmãos a uma
caravana de Ismaelitas, e depois assumir o segundo posto
mais elevado do Egito. Ele viu um Bebê ser colocado
num cesto e largado no rio Nilo, para ser salvo da fúria
do Faraó, ser resgatado pela princesa e criado no palácio,
depois fugir para o deserto e cuidar de ovelhas; falou-lhe
por meio de uma sarça em chamas, e o viu tirar a Israel do
domínio de faraó, depois de 430 anos. Ele viu, feliz, um
menino pastor desafiar e vencer um gigante Filisteu que
afrontava o exército do povo de Deus, e viu esse plebeu
assumir o trono por quarenta anos de glória. Ele viu
Salomão orar pedindo sabedoria, e decidir a causa de duas
mulheres que requeriam a maternidade de uma criança.
Ele estava lá quando Elias entregou seu manto profético
a Eliseu, e depois foi arrebatado ao céu numa carruagem
de fogo, sem passar pela morte física. Viu Eliseu fazer um
machado flutuar na água, e multiplicar o azeite da viúva.
Ele viu e sofreu muito ao ver Israel capitular ante o poder
da Assíria, deixando de existir como nação, amargando
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impressões 2
horrível cativeiro; e igualmente Judá cair de joelhos, servo
dos Babilônios durante setenta longos anos. Ele viu reis
e profetas pendularem entre o temor ao Deus da aliança
e a idolatria pagã de falsos deuses, e a luta de sacerdotes
de santificar o povo. E o mais curioso: ele viu nascer uma
criança robusta, da linhagem de Davi, da casa de Jacó. Era
um menino chamado José. O menino cresceu como um
rapaz piedoso e temente a Deus. Anos depois, esse rapaz
bem mais velho se encanta por uma mocinha virgem
descendente dos filhos de Judá. Eles se enamoraram e
firmam uma aliança de amor, para a alegria plena dEle.
Chegara a hora; Aquele que viu o mundo nascer a partir
do nada, e depois toda a historia acontecer, foi enviado
ao ventre daquela que Ele mesmo vira nascer, virou
embrião, feto, bebê, nasceu em carne, na forma de um ser
humano, em meio a uma família, com pai mãe, irmãos e
irmãos, primos e tios, cresceu como um homem normal,
e morreu ainda jovem. Ressuscitou e está vivo ao lado
do Pai, onde sempre esteve. Ele sempre esteve lá. Jesus
não passou a existir a partir de Belém; Ele sempre foi e é.
O que, então comemoramos no Natal? Comemoramos a
nossa redenção. Porque um menino nos nasceu...
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impressões 2
...Eles não sabem o que fazem...
Foram as palavras de Jesus ditas na cruz, aos que dele
zombaram. Mas muito bem podem servir a tantos outros
que emolduram a sua história. O imperador Cesar augusto
não sabia o que estava fazendo, quando baixou um
decreto ordenando que todos fossem alistar-se, cada um
em sua terra natal. Com essa ordem, José saiu de Nazaré,
na Galiléia, para a Judéia, e depois à cidade de Belém,
com sua esposa Maria nos últimos dias de sua gravidez.
Chegando ali, a cidade lotada por aqueles que, de outras
bandas, voltaram à sua terra para também recensear-se,
todos os donos de abrigos, pousadas, hotéis, pensões, não
sabiam o que faziam. Um a um, ao olharem para aquele
casal em aperto, disseram em coro: “não há lugar”. Nem
mesmo o dono de um estábulo sabia o que estava fazendo
ao conceder abrigo tão precário a uma jovem que sentia
as contrações do parto. Nesse tempo, o rei Herodes não
sabia o que estava fazendo ao convocar os magos do
Oriente, para se informar com precisão sobre o tempo que
eles seguiam uma estrela, e onde ela estacionara, e onde
deveria nascer aquele menino. Ele não sabia o que estava
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impressões 2
fazendo ao se inflamar de ciúme e ódio, promovendo tão
grande matança de crianças inocentes na terra de Belém,
na tentativa de, com isso, barrar o caminho daquele que
seria o rei dos Judeus. Os governantes do Egito também
não sabiam o que faziam ao dar abrigo àquela família
Judia, vinda do nada, sem carta de apresentação, visto
ou passaporte, mesmo num período em que as feridas
relacionais entre egípcios e hebreus ainda não haviam sido
cicatrizadas. Assim, em outras paginas da trama, Herodes
Arquelau não sabia o que estava fazendo, ao assumir o
trono em lugar do Herodes - O grande, e dar sequência
aos seus atos sanguinários na Judéia, obrigando a José
e Maria, com o menino Jesus, a se desviarem dessa rota
de morte, indo morar na cidade de Nazaré, na Galiléia.
Os doutores do templo não sabiam o que faziam ao
interrogar, espantados, ao garoto perdido dos pais. João
Batista não sabia o que fazia, ao derramar água sobre Jesus,
batizando-o como fazia a milhares, sendo que a estes, o
batismo era para arrependimento. Os Judeus ortodoxos,
“filhos de Abraão”, não sabiam o que estavam fazendo,
ao perseguirem Jesus por todo canto, provando-o, com o
fim de execrá-lo como impostor. Anás e Caifás, Sumos
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impressões 2
Sacerdotes, homens da lei, não sabiam o que faziam, ao
entregarem Jesus nas mãos de Pilatos, para ser julgado
pelo crime de perjúrio e insurreição. Este Pilatos,
governador da Judéia, sob a influência ferina de Herodes
Antipas, tendo interrogado a Jesus, perante os líderes do
povo, sem consciência do que fazia, lavou as mãos. Judas
Iscariotes, que traíra Jesus por trintas moedas, ainda sem
saber o que havia feito e continuava fazendo, suicidouse. A multidão, ensandecida, em frente ao pretório, sem
saber o que estava fazendo, gritava a plenos pulmões e
em coro: “crucifica a Jesus! Crucifica-o!” Os soldados
que lançavam sortes sobre as roupas de Jesus, e aqueles
que o insultavam, e os demais que o açoitavam, juntos
com aqueles que lhe cravaram as mãos e os pés, eles não
sabiam o que faziam. Ninguém sabia de nada sobre Jesus,
na história de então; Deus sabia de tudo desde sempre,
pois estava escrito. “Vindo a plenitude do Tempo, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a Lei “Gl 4:4. Hoje aqui,
talvez você não saiba o que está fazendo, mas Deus sabe
por que você está aí agora. É para cumprir um propósito
eterno em sua vida...
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impressões 2
Envelhecer
Eu não queria envelhecer. Eu queria permanecer criança
como estou. Eu não queria o entardecer, o crepúsculo
agressor; eu queria o sol sereno da manhã, como o que
me aquece agora. Envelhecer é caminhar para o fim. Eu
queria mesmo era o desabrochar, o início da vida, como
o que tenho agora. Envelhecer é ver tudo degenerar, as
folhas caírem, de mortas. O que eu queria era me abrir
toda manhã, me reinventar como um botão de rosa que
se oferece saliente a quem quer vê-lo, como me sinto
agora, no exercício de minha criancice. Envelhecer é não
poder mais realizar tantas coisas, depender de tudo e de
todos, limitar-se. O que eu queria mesmo era continuar
por tanto tempo com essa imensa liberdade de ir e vir,
tendo o horizonte como limite horizontal de minhas
ações terrenas, e o céu como espaço suficiente para as
peraltices inocentes, como as que transgredi há poucos
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impressões 2
instantes. Envelhecer é deixar-se carcomer pelo passado,
por aquilo que já foi e não é mais, afogar-se em lembranças
que zombam do seu estado de decrepitude. Eu não queria
envelhecer; queria permanecer vendo o futuro ainda
distante, enquanto ignoro o presente zombeteiro, tendo
o passado como uma história de amor, sempre lépido,
prosseguindo, sem enganchar em nenhum graveto, como
faço exatamente agora. Envelhecer é olhar no espelho
e suspirar pelos vincos fundos das rugas e marcas de
expressão tatuadas por todo o rosto, carregando tantas
histórias doridas. Que nada, eu queria era olhar no
espelho e me espantar com o brilho do olhar de quem
está feliz, e celebrar a alegria de um rosto jovem e em paz
com tudo, e notar as marcas fundas nos cantos da boca.
Envelhecer é acercar-se de medos e sombras, e iniciar
o processo consciente de clausura psicoemocional, em
face de tantas limitações e defasagem ante o mundo que
corre à sua volta. Por isso não queria envelhecer; queria
era continuar me sentindo forte, vigoroso, encarando
desafios, desafiando gigantes, sentindo-me estimulado
ante o desconhecido e amigo do novo, sem perder o
passo e o compasso dos tempos, ligado ao som e ao
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impressões 2
ambiente do meu tempo, como estou fazendo agora.
Envelhecer é parar de sonhar, achar que o melhor dos
seus dias ficou no passado, quando podia andar depressa
e enxergar longe, quando não era necessário fazer contas
e medir os passos, e simplesmente corria. Quiii nada, eu
queria mesmo era me manter assim jovem como estou,
acreditando que o melhor dos meus dias ainda está por
acontecer, que a minha maior alegria já experimentada é
apenas a medida mínima para a festa que diante de mim
está; queria continuar enxergando o futuro como parceiro
íntimo, com quem reparto sonhos e projetos audaciosos,
e em quem deposito confiança e segredos, e a quem digo:
me aguarde! Envelhecer é começar a morrer, é partir aos
poucos. Por isso não quero envelhecer; por isso quero
aproveitar o melhor da vida, enquanto estou tão jovem
e com uma vida inteira pela frente. Acho até que você,
ao ler este texto, deve estar pensando: o que uma criança
como esta pode saber sobre a vida e sobre a velhice, para
falar essas coisas desse modo? É, sei pouca coisa mesmo
sobre a velhice, e quero continuar sabendo menos ainda,
pois não quero envelhecer. Eu vou fazer cinquenta anos
de idade, mas sou uma criança na alma. Eu não estou me
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impressões 2
referindo a idade cronológica ou faixa etária, ao senil ou ao
pueril, a dentes de leite ou a cabelos brancos, como os que
tenho agora. Antes, eu me refiro a um estado de espírito
que gerencia a nossa vida e nos faz viver e sonhar, ou a
desistir e morrer. Conheço rapazes e moças de espinhas
no rosto, que querem morrer, e vivem enclausurados num
asilo existencial, com bengalinhas e muletas emocionais,
esperando a morte chegar. E conheço idosos de cabeça
branca e pele enrugada, a quem às vezes é preciso conter
e dizer: menos, menos...!, pois estão acesos, animados,
em paz com tudo, aceitando os limites do corpo numa
boa, e sem pressa para morrer. São jovens em um corpo
flácido, ao contrário daqueles outros que são velhos em
um corpo sarado. Eu não queria, nem quero envelhecer;
quero permanecer assim jovem como estou agora, aos
cinquenta.
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impressões 2
Fones de ouvido
Recentemente, precisei comprar um fone de ouvido
para curtir as minhas músicas no aparelho celular, e fiz uma
rápida pesquisa de mercado. Fiquei impressionado com o
que descobri. Hoje existem muitas marcas e modelos, com
as mais destacadas funções e configurações. Descobri que
podemos comprar um fone de ouvido ali naquela muvuca
do centro da cidade, por apenas dois reais, mas também
encontrei um modelo em uma loja em São Paulo, custando
dois mil reais. Uns transportam o som até o ouvido com
baixíssima qualidade, chiados e distorções, e se quebram
com extrema facilidade. Outros, por sua vez, levam até
o ouvido o mais puro som, com definições de graves,
médios e agudos tão perfeitos, que nos dão a impressão
de que estamos mesmo ao vivo na sala de apresentação
de uma afinada orquestra. São cápsulas pressurizadas de
alta performance que inibem a entrada do som externo,
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impressões 2
fazendo com que o ouvinte apenas sinta as vibrações do
som que vêm do aparelho reprodutor musical e não do
que se passa ao seu redor na rua. Pois é, a tecnologia está
cada dia mais avançada e traz comodidade e conforto ao
homem moderno. Não é de admirar que esta seja uma
cena cada vez mais comum nas ruas da cidade. Por onde
quer que passemos, lá estão os tais fones equipando
ouvidos jovens e outros nem tanto. É assim nos ônibus,
na saída da escola, nos calçadões e em qualquer lugar onde
haja muita gente. Sim, o fone de ouvido não é apenas um
acessório moderno, é mais que isso. Ele é um sinal desse
nosso tempo, um ícone, um símbolo, uma representação
da nossa esquizofrenia moderna. O fone de ouvido vai
adiante de nós dizendo às pessoas que não queremos
conversa, que não estamos disponíveis ao contato, que
queremos estar sós. Isolamento é a palavra. Se houver
alguém do seu lado, juntinho mesmo, ao ponto de você
sentir o seu calor e o seu perfume, e esse alguém estiver
usando um fone no ouvido, vocês dois estarão em mundos
diferentes, não importa a distância física que os separarem.
Dentre os muitos males desse nosso século, um dos mais
agressivos contra a nossa constituição como humanos é o
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impressões 2
isolamento, pois fomos criados para a interação, o contato,
o diálogo, a sinergia. Não é bom que o homem esteja só,
disse o Senhor. A corrupção generalizada que assola a
nossa sociedade no apagar das luzes da história trancafia
as pessoas em seus mundos e rouba de nós os nós do
cordão que nos prende ao próximo; próximo que fica
distante a cada dia. O fone de ouvido é, portanto, apenas
um instrumento, um aparelho, um recurso disponível. O
que nos remete a ele é que nos compromete. Não é errado
e nem ruim usar um fone de ouvido; ele é um elemento
elétrico-eletrônico-acústico fabricado para nos fazer ouvir
a música com precisão e conforto. Mas precisamos saber
usá-lo, para que não desperdicemos as ricas e benfazejas
bênçãos que Deus nos dá, via contato humano. Vai que
numa dessas passa um anjo entre nós, e você vai estar
bem looonngeee...
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impressões 2
Gente não é gente...
Que coisa complicada é gente... Lidar com ela, então,
UH!! Só a graça divina. Parece-nos melhor lidar com
máquinas, por mais sofisticadas e complexas que sejam,
pois se lhes aplicarmos os ajustes necessários, logo
responderão sem surpresas; ou talvez seja melhor cuidar
de bichos, ainda que selvagens, pois com disciplina e
firmeza logo nos atenderão. Gente é muito complicada,
cheia de vontades, idiossincrasias, neuroses e contradições.
Cada cabeça uma sentença, cada indivíduo um universo,
cada vida uma vida, cada vida uma história. E tem umas,
então... Não há reforma que dê jeito, só mesmo um milagre
daqueles do tipo “Haja luz e houve luz”. E quando se
vive em comunidade aí então é que todas as esquisitices
se manifestam; é na convivência efetiva que virtudes e
defeitos ganham contornos visíveis. E é aí que a coisa
pega. Se por um lado nos deparamos com boas surpresas
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impressões 2
advindas de corações graciosos e bem-aventurados, por
outro nos chocamos ante a ruindade de seres doentios
com caras de anjo. Se ocorre sermos abençoados por
gestos benignos de quem não esperávamos, também
somos alvo de ações mórbidas de quem muito menos
esperávamos. É... Gente não é gente! Com certeza foi por
isso que o rei Davi ao ser confrontado em seu pecado e
receber a oportunidade de escolher o castigo, disse: “É
grande a minha angústia! Prefiro cair nas mãos do Senhor,
pois é grande a sua misericórdia, a cair nas dos homens”.
1 Crônicas 21:13. Deus me livre! Tem gente que não é
gente, pois não consegue conciliar o sono enquanto
não faz mal a outro semelhante; não sossega enquanto
não prejudica alguém. Às vezes, com palavras malignas
engenhosamente inventadas para render estórias, ou
pequenos comentários revestidos de aparente piedade,
mas que não passam de sofismas infernais que irão
destruir a vida de inocentes. O certo é que parece haver
uma ação direta de Satanás na vida de algumas pessoas,
inspirando-as a proferir palavras malditas com um incrível
poder de destruição, com o inequívoco intento de matar,
roubar e destruir. Não deveria ser assim. Antes, as pessoas
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impressões 2
deveriam se respeitar e cuidar umas das outras, em razão
de serem todas feituras das magnânimas mãos de Deus.
Sim, somos todos imagem e semelhança do Criador,
quer crentes ou incrédulos, ateus ou adoradores, ricos ou
pobres, não importa. Procurar sempre o bem-estar do
outro faz parte do caráter de Deus; ferir e prejudicar o
semelhante é coisa de quem tem parte com o sujo. É por
isso que eu repito: Gente não é gente!
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impressões 2
Ímpares
A mensagem deste texto é dirigida a você que é par e
nunca parou para meditar sobre o que vem a ser a vida
de alguém que é ímpar. Embora a nossa sociedade seja
composta de pessoas ímpares e de pares, e isso faça parte
do curso natural da história do homem na terra, não é
fácil viver sozinho, especialmente depois de certa idade.
E muito mais quando essa pessoa de certa idade necessita
de cuidados e carinhos. É muito difícil. Você não sabe o
que é isso. Não é fácil sentir frio durante a noite, revirarse e buscar aconchego em um frio cobertor... Levantar
cedo, usar o banheiro de portas abertas, escovar os dentes
olhando o próprio e único rosto no espelho, enquanto
a casa, sempre arrumada, também acorda em silêncio
total. Você sabe o que é arrumar a mesa para o café da
manhã para uma pessoa e ninguém mais? Um pedaço
de pão, uma torrada, meia xícara de leite, uma fruta e
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impressões 2
muitos suspiros... ? Pense no que vem a ser tomar banho
sem pressa, sem ninguém a bater à porta do banheiro,
arrumar-se, perfumar-se, sem ninguém para apreciar e
cheirar... O ímpar, de qualquer lugar da casa pode ouvir
o surdo barulho do ponteiro menor do relógio na parede
a contar os segundos... Tempo que não passa, horas que
não chegam, dias que se atrasam. O rádio que toca, as
notícias que se repetem na televisão, aquele artista íntimo
da hora programada, tudo é enfadonho e repetitivo.
Chega a hora do almoço... O que vou requentar? Duas
colheres de arroz no fogo, três cápsulas de remédios
sobre a mesa, um prato para lavar. A tarde parece durar
um dia todo, parece eterna, densa e cansativa. Escurece.
Escurece. Escurece. O ímpar troca de roupa cedo à noite
e prepara-se para dormir o mais tarde possível, pois a
madrugada que se avizinha será uma jornada por demais
longa a atravessar. Senta-se no sofá, levanta-se do sofá,
vai à janela, consulta a agenda de cabeceira, procura um
número de telefone para quem ligar, desiste de ligar, olha
para o aparelho, ele não toca nunca, volta à janela, volta ao
sofá... Dez minutos se passaram. Croc, Croc, Croc, Nhac,
Nhac, Nhac, Slurb, Pan, Smach... Qualquer som parece
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impressões 2
alto demais, todo movimento se alteia... Quanta saudade,
quantas lembranças, quantos quereres... Quantas, tantas
vezes os olhos derramam lágrimas, muitas lágrimas, e
ninguém vê... Dores? Quantas... E quanta auto-ajuda,
socorro próprio, auto-atendimento, pois não há quem
perceba um só gemido. Horas, dias, meses, anos de
solidão, enquanto se espera o socorro. Assim se passam
os dias de determinadas pessoas que classificamos como
ímpares. Algumas dessas, pasmem, ao morrerem, só serão
achadas dias depois. E o que estamos fazendo em direção
a elas? Somos seres gregários, nascidos para a interação,
criados para receber e dar amor. No plano original do
Criador está definido: “Não é bom que o homem esteja
só”. Claro, a natureza humana é, em essência, carente
de
proximidade,
calor,
companhia,
cumplicidade,
reconhecimento, apreciação, de olhares atentos, de ouvir
os sons dos diálogos pertinentes ao cotidiano partilhado,
do amor latente que se manifesta nos fraternos laços da
verdadeira comunhão. Quer matar alguém de fato? Então
deixe-a sozinha. Não propriamente e tão somente em um
lugar onde não há mais ninguém, mas em um lugar aonde
ela se sinta esse ninguém. Nada é mais destrutivo para a
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impressões 2
alma, nada corrói mais o coração do que a sensação de
invisibilidade, de invalidez, de desconexão. Por isso um
velho de mais de cem anos quer viver muito mais, por
se sentir ainda útil, valorizado, acolhido e amado, e um
jovem de pele lisa quer morrer, por não achar sentido em
sua existência, pois todos o deixaram no meio da jornada.
Somos uma sociedade que envelhece a cada dia; aumenta
o número de vovôs e vovós, bem como de tantos ímpares
deixados pelo meio do caminho. Desatualizaram-se,
soltaram os cabos que os prendiam à geração seguinte,
não sabem mais como falar aos da geração virtual, foram
isolados, dispensados, postos de molho. Isso é pecado. A
Escritura diz: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus
e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é
pior do que o descrente” 1 Tim 5:8. O que precisamos
fazer de fato é voltar os olhos para os que se tornaram
ímpares e estão ao nosso lado, e oferecer-lhes abraço,
atenção, cuidados, telefonemas, visitas, amor sincero.
Isto dará sentido aos seus solitários dias, e o Senhor se
agradará disso.
85
impressões 2
Impecável
Faz pouco mais de dois anos que eu assisti a um
filme que me fez pensar profundamente sobre a vida, as
relações, e as minhas próprias posturas diante de Deus, das
pessoas, e de mim mesmo. Vou evitar dizer aqui o nome
do filme, a fim de não estragar a sua expectativa em assistilo do início ao fim. Vou apenas citar a história contada na
tela. O enredo, baseado em uma história real, apresenta
uma viagem normal, até que terroristas se manifestaram
armados, e anunciaram a presença de uma bomba a bordo,
e o plano de sequestrar a aeronave para um destino que eles
determinariam. Minutos de pânico se instalaram dentro do
avião, até que dois agentes policiais à paisana, que seguiam
viagem como simples passageiros, investiram contra os
malditos bandidos. Um alvoroço generalizado tomou
conta do lugar, e uma luta corporal intensa incrementou
o tumulto. O comandante e o co-piloto abriram a porta
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impressões 2
da cabine para se acercarem dos fatos, e foram alvejados
com tiros. Caíram mortos no corredor. Gritos, desespero
e horror tomaram conta daquele ambiente; uma cena
horrenda. Os sequestradores foram enfim subjugados e
mortos. Acabou a luta. Passado o trauma do pânico em
decorrência da peleja e dos tiros, todos à uma chegaram
à constatação ainda mais dramática: o avião estava sem
seus dois pilotos. Seguia curso pré-estabelecido no piloto
automático, mas precisaria descer e pousar. Como sempre
ocorre em casos caóticos assim, sempre surge um líder,
alguém que toma a iniciativa de trazer ordem ao caos.
Teria alguém dentre os passageiros que soubesse pilotar
um Boeing daquele porte? Não. Depois de instantes de
desespero, descobriram um moço que tinha tomado aulas
de pilotagem, e que acumulava algumas horas de voo em
aviões pequenos. Ele tinha boas noções de pilotagem, e até
uma certa experiência, mas não o suficiente para a tarefa
mais difícil e estressante no campo da aviação: aterrissar;
e inda mais um Boeing. Não tinha outro jeito, teria que ser
ele mesmo. E os outros mais de trezentos a bordo teriam
que rezar. Claro, o roteiro do filme é estrito a esse fato,
mas os seus diretores exploraram ao máximo as emoções
89
impressões 2
e o drama que todos eles viveram ali, nos últimos minutos
daquele voo. O moço assumiu a cabine do avião, que mais
parecia uma sala, com milhares de botoezinhos, telas e
controles digitais, e, por rádio, em contato com a torre
de controle mais próxima, expôs o drama da situação
e foi seguindo as instruções, como podia. Para piorar
ainda mais a situação (e isso foi possível), surgiu uma
tempestade e a aeronave foi atingida por raios, e perdeu
a comunicação com a torre. Eu nem preciso narrar com
detalhes o agonia vivida por todos naqueles momentos,
mas quero explorar um pouquinho o drama do jovem
piloto, vendo o combustível se acabando, sem contato com
a torre, e os indicadores de nível mostrando o avião em
declínio, tendo a consciência de que centenas de pessoas
estavam dependendo agora de sua habilidade, e milhares
em terra estavam paralisados em agonia, aguardando o
desfecho. O filme focou boa parte de suas cenas nesses
últimos minutos, em grandíssimo suspense, mostrando
a face do piloto lavada em suor, olhos esticados em
tensão, movimentos apressados das mãos sobre aqueles
botões, a aeronave que balançava em desgoverno, e uma
constatação: ali estava uma pessoa esmagada por um peso
90
impressões 2
invisível de uma responsabilidade sobre-humana e uma
missão quase sobrenatural. Simplesmente ele não poderia
errar. Conclusão dessa história: aos trancos e barrancos,
e um impacto violento no chão, ele conseguiu pousar o
Boeing, mesmo saindo da pista e enfiando o bico num
barranco ao fim da linha, que já estava cheia de bombeiros,
para-médicos, autoridades e imprensa, mas, como herói,
salvou aqueles que se achavam hipoteticamente mortos.
Um final feliz, abraços, choro, reencontro, homenagens
e recompensas, como não poderia deixar de ser. Contase que o herói dessa aventura precisou de tratamento
psicológico e psiquiátrico para se recuperar desse trauma.
É desumano carregar um peso tão grande e não poder
errar.
91
impressões 2
Invisível
Criança é fogo, né? Que fase maravilhosa essa... É tudo
tão simples e verdadeiro... A criança é muito pura e acredita
em cada coisa... Eu tenho um primo por parte de pai que
quando era garoto vivia dizendo que quando crescesse
queria aprender câmera lenta. Outros coleguinhas
andavam desejando, sinceramente, ser o The Flash e se
deslocar para vários lugares em altíssimas velocidades;
outros queriam voar como o Super-homem, ou subir
pelas paredes como uma aranha. E eu mesmo já andei
pela rua com um martelão de madeira, achando que era o
Poderoso Thor. Esses superpoderes sempre povoaram a
imaginação da criançada e até seguiram em desejo interno
no coração de jovens de todas as idades. E, é claro, por
serem pura fantasia, jamais veremos nas ruas alguém
passar como um vento, ou subir pelas paredes, ou levantar
um ônibus com uma das mãos. Mas desses superpoderes
94
impressões 2
fantásticos encontrados nos heróis das fantasias infantis,
um em especial parece ser encontrado entre nós. Se não,
efetivamente, como uma dádiva de Odim, pelo menos
em seus efeitos. Você já ouviu falar do homem invisível?
Recentemente isso voltou à baila através do filme “O
quarteto Fantástico”: trata-se de um grupo que passou
por um processo de mutação, devido a radiações elevadas
no corpo, e um deles teve os músculos do seu corpo
transformados em pedra, outro passou a desenvolver a
capacidade de ficar em chamas e voar velozmente, outro
podia estender-se como borracha, e outro descobriu que
podia tornar-se invisível quando quisesse. Aqui e acolá o
cinema explora o tema da invisibilidade humana, por ser
essa fábrica de sonhos, e poder levar as pessoas, ainda
que seja por algumas horas assentadas numa poltrona, a
lugares impossíveis de se ir, conceber o que não existe, e
fazer o que a natureza humana não pode realizar. Bem,
a tecnologia e a coragem podem fazer coisas espantosas
mesmo. Um americano, por exemplo, conseguiu a proeza
de “voar” sete quilômetros, a 200 km por hora, saltando
de um avião, usando apenas uma roupa especial. Coisa
fantástica (tem cada maluco), mas o Super-homem não
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impressões 2
existe. Usando aparelhos cada vez mais sofisticados e
impressionantes, o homem já consegue se locomover
a incríveis velocidades, mas o The Flash também não
existe. Mas, o homem invisível existe, sabia? Ele é capaz
de entrar e sair de uma igreja evangélica, várias vezes, sem
ser notado. Isso não é mesmo é incrível?
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impressões 2
Jesus e sua Noiva
Há na Bíblia várias figuras que representam a relação
de Deus e o seu povo, entre Cristo e sua igreja. Ele é o
Oleiro e o seu povo é o barro; Ele é o Agricultor, nós a
lavoura; Ele é o Pastor, nós as ovelhas; Ele é a Cabeça e
a igreja é o corpo; Ele é o Noivo e a igreja é a Noiva. A
idéia é celestial e perfeita; uma revelação divina. Cristo
é o Noivo; a sua igreja, a Noiva. Dêem-me licença para
pensar. Sobre a integridade da figura de Cristo, menos
controvérsia há, senão a perspectiva profética dos falsos
cristos que aparecerão no final dos tempos. Inda mais
que esses falsos cristos preditos pelo Salvador não se
constituem em personagens, em pessoas, mas em idéias
erradas sobre a pessoa e missão do Filho de Deus. Mas
o que me intriga, de fato, é a figura da noiva de Cristo
no cenário evangélico nacional. Alguma coisa está errada.
Muito errada. Cristo é um só, e a sua igreja também é
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impressões 2
Una. Então, quantas noivas ele tem? Diante de diferenças
tão gritantes entre os perfis da igreja evangélica presente
em nosso tempo, a pergunta é mesmo inevitável: Qual é a
verdadeira noiva de Jesus? Claro, porque é óbvio que não
se trata de uma mesma pessoa. Deixe-me exalar minhas
conjecturas. Seria, porventura, uma ilustração do reinado
de Salomão, que no exercício do poder acumulou mil
mulheres em seu harém? Fica claro no texto que ele tinha
uma mulher a quem pertencia o seu coração – uma tal
Sulamita, mas ao seu redor havia mil noivas, entre esposas
e concubinas. Eram mulheres de vários países e culturas
diferentes, com seus costumes e crenças também tão
diferentes, que foram adicionadas a cada aliança feita com
as nações vencidas. Pois é, a igreja protestante evangélica
foi sub-dividida em tantas frentes, com tantas caras e tantas
personalidades, costumes e doutrinas distintos, que não
podemos identificar e definir com singularidade a “Noiva
de Jesus”. Isso é tão verdade que essas várias noivas se
indispõem entre si, tornando-se inimigas e concorrentes,
disputando à força a atenção do Noivo. Há poucas décadas
nós aprendemos e cantamos um “corinho” que dizia:
“Não importa a igreja que tu vais; se atrás do Calvário tu
99
impressões 2
estás; se o teu coração é igual ao meu, dá-me a mão e meu
irmão serás”. Em tese isso funcionou por pouco tempo
no cenário evangélico nacional, mas hoje estamos cada
vez mais isolados e desfigurados. A verdade verdadeira é
que a verdadeira igreja de Cristo (sensacional), sua Noiva,
é Una, íntegra, perfeita. Há um só corpo e um só Senhor.
Deus não conhece denominação ou placa de igreja; isso
é coisa humana e carnal. Tudo bem que haja diferenças,
pois somos mesmo diferentes, e a multiforme graça de
Deus permite que manifestemos nossas peculiaridades e
mantenhamos nossa identidade. Mas somente no que é
periférico e não essencial à salvação. No colégio apostólico
havia homens diferentes no temperamento e na condução
de seus ministérios. Eles continuaram sendo quem eram,
mas combinaram como uma única palavra naquilo que
era o cerne da mensagem que Cristo ordenou que eles
pregassem. Não havia contradição, nem competições,
não criaram ministérios pessoais ou suas próprias igrejas,
mas todos, igualmente, falaram a mesma coisa de modo
diferente a todos que precisavam ouvir. Cristo é um só;
a cruz é uma só, a mensagem da salvação é única; há um
único caminho, uma única verdade, uma única porta para
100
impressões 2
a salvação. O que estamos vendo em nome da igreja e da
verdade é o cumprimento da profecia, quando diz que
surgirão falsos cristos e falsos profetas, com seus falsos
ensinos, falsos cultos, falsas promessas, formando falsas
igrejas e falsos crentes. O que dói é que eles não irão para
um falso inferno. Concluo: Cristo não tem um harém
lotado de noivas; ele é apaixonado e comprometido com
a sua Noiva, a única igreja verdadeira que existe, formada
pelos remidos de todos os cantos da terra. Eu tô aí nesse
meio. E você?
101
impressões 2
Jesus no Brasil
Bem, sabemos que Deus encarnou e veio nascer entre
nós, como um dos moradores do planeta Terra. Veio
viver como um de nós, com todas as implicações de um
ser humano, mesmo sendo Deus em sua plenitude. Havia
muitas nações constituídas no mundo antigo; muitas
capitais, muitas cidades grandes e muitas outras médias e
pequenas nos interiores de seus países. Jesus veio para um
povo específico; nasceu em uma nação pré-estabelecida
pelo Pai, “veio para o que era seu”; veio para a Judéia;
foi concebido no ventre de uma jovem virgem que
morava numa cidadezinha chamada Nazaré, na Galiléia.
E o povo que vivia na região da sombra e da morte viu
grande Luz. Fiquei pensando... E se Jesus tivesse nascido
aqui no Brasil...? Onde ele teria nascido? Não há a menor
dúvida de que, não importando onde ele fosse nascer, o
seu nascimento e a sua vida seriam em benefício de todos
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impressões 2
os seus eleitos do mundo inteiro, como foi anunciado
pelos anjos aos pastores: “Eis aqui vos trago Boa-Nova
de grande alegria, que o será para todo o povo”. Mas
onde será que ele nasceria? Tenho a impressão de que não
em Brasília. Não, ele não veio para ser um líder político,
conquanto o governo estivesse e esteja em seus ombros.
É que o seu governo é espiritual; o seu trono majestoso
não é feito por mãos humanas e nem gerencia leis de
homens. Ele não era afeito ao ambiente dos palácios, nem
às mordomias bajulantes dos maiorais do seu tempo; ele
não veio para ser servido ou para dar ordens; ele veio
cumprir ordens do seu Pai e servir aos pequeninos do
Reino celestial. Do contrário, ele teria nascido em Roma.
Não acho que ele nasceria em São Paulo, a cidade que
não para. O grande centro comercial do país, a cidade
cosmopolita, o lugar onde há a maior concentração de
estrangeiros e imigrantes, a cidade das oportunidades, o
município de maior concentração de renda do país, lugar
de gente estressada, apressada e sem tempo. Talvez ele
morresse lá. Se fosse assim, ele teria nascido em Jerusalém.
Também não acho que ele nasceria em Salvador ou Porto
Alegre, centros conhecidos por sua influência mística, ou
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impressões 2
no Rio de Janeiro, onde ele é retratado de braços abertos
em um morro, como que acolhendo e abençoando um
povo, o povo das artes. Pois assim ele teria nascido em
Alexandria, Atenas ou Corinto. Então, onde nasceria
Jesus aqui no Brasil? Perdoem-me os baianos e os demais
brasileiros, mas eu acho que ele nasceria em Pedrinhas.
Acham que estou brincando? Falo sério. Era mais ou
menos o que representava Belém, em relação a Jerusalém
e Roma. Como diz a profecia: “E tu, Belém, terra de Judá,
não és de modo algum a menor entre as principais de
Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu
povo, Israel”. Ela se tornou grande, sendo a menor. José
e Maria chegariam a Pedrinhas e procurariam a pensão de
dona Bembém, que estaria lotada; eles iriam até a praça da
matriz e procurariam abrigo na pousada de dona Amélia,
mas esta estaria também lotada; eles, por fim, iriam tentar
a pousada Weslanta na beira da estrada que vai para
Riachão do Dantas, mas esta também estaria cheia e não
haveria vagas. Eles, então, sem mais tempo para nada, pois
o menino estava para nascer, achariam abrigo no curral
de Jorge de seu Osnar. Ali, na cocheira de dar ração ao
gado, Jesus seria colocado envolto em faixas. Uma estrela
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impressões 2
brilharia sobre o estábulo, e pastores viriam ver o menino
com seu pai terreno e sua mãe. Esses pastores seriam os
mesmos que viram um coral de anjos lhes anunciarem
as boas-novas, enquanto eles guardavam os rebanhos em
um pasto perto de seu Alfredo Prata. Jesus veio assim.
Nasceu num lugar insignificante aos olhos de uma nação
arrogante e indiferente às coisas celestiais. Nasceu de uma
forma indigna, num lugar inapropriado, para mostrar ao
mundo que o Reino de Deus não consiste em coisas e
nem em glórias humanas. Hoje, como sempre, o Natal
acontece em corações humildes e quebrantados, a quem
ele mesmo chamou de “pobres de espírito”, e não nos
meandros da vaidade humana. Que ele mesmo, o JesusHomem-Deus faça brilhar a sua bendita luz e lhe dê um
verdadeiro e divino Natal.
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impressões 2
“Meia tigela”
Por acaso você sabe de onde vem a consagrada
expressão popular “... de meia tigela”? Não?! Bem, isso
é o que poderíamos chamar de santa ignorância... Mas
não se sinta ofendido por isso, porque eu também não
sei. Fio da meada, amigo da onça, mão à palmatória,
e outros adágios mais comuns, eu até que já encontrei
explicações; mas esse aí, até agora, nada. Quem sabe, em
uma revista como uma superinteressante da vida, ou em
algum livro de ditos e contos a gente consiga achar, né?
A conotação, no entanto, não deixa dúvidas: trata-se de
algo pela metade. Logo assim de saída, poderia eu afirmar
que sou um pesquisador de meia tigela, pois com tantos e
quantos recursos à vista, não descobri ainda de onde vem
essa tal de meia tigela... Mas não me desespero, porque sei
que estou escrevendo para um leitor que, mesmo achando
este texto algo meia tigela, não vai mover uma unha,
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impressões 2
ainda que por mera curiosidade, para saber ao certo de
onde vem essa tal meia tigela. E, por favor, não me venha
com essa disfarçada amizade de meia tigela, criticando
o fato de eu não saber a origem de uma expressão tão
consagrada como meia tigela, pois o que importa é eu
saber o que significa, na prática, uma meia tigela. E se,
porventura, nesse ínterim, você descobrir em algum lugar
de onde vem ou onde nasceu meia tigela, por favor, tenha
a bondade de me informar, pra que você também não seja
um irmão de meia tigela. E se você já estiver saturado,
com vontade de parar de ler este texto aqui pela metade,
por causa de tanta meia tigela, aí, sim, você estará se
autoclassificando como um autêntico meia tigela. Bom,
mas por que estou enrolando tanto com esta história
da meia tigela? Na verdade, somos todos limitados,
imperfeitos e incompletos, e, portanto, em muitas coisas
nós somos e seremos de meia tigela, deixando a desejar.
Assim como o empresário fora-de-série que é um pai de
meia tigela, ou um notável pregador, líder carismático, que
é meia tigela em sua forma de administrar. Então não há
ninguém aqui que não tenha a sua porção na meia tigela.
E se alguém achar que não tem, esse é o meia tigela cheia.
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impressões 2
Só teve um que em sua vida toda nunca provou o que é
ser meia tigela. Foi o amado Salvador. Perfeito, intenso e
verdadeiro em tudo, ele é o grande exemplo a ser seguido.
Sendo assim, deixo uma palavra aos tigelões, tigelas e
tigelinhas: pelo menos procure nunca ser um crente de
meia tigela; dê o seu melhor sempre.
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impressões 2
Música infantil
Li, recentemente, um comentário, que não trazia
autoria, sobre as canções infantis que embalaram
gerações, e que ainda são lembradas pelos avós e pais
dessa nova geração. O comentário mais que pertinente e
lúcido fala do milagre de como conseguimos crescer sem
maiores traumas, depois de tanta ministração perversa
e informações tenebrosas, compostas em melodias tão
meigas, como as canções de ninar. Fiz as minhas contas
também e lembrei que de fato passei por muitos medos e
ameaças. Veja se isso é o que se deve falar a uma criança
que está prestes a dormir: “boi, boi, boi, boi da cara preta,
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impressões 2
pega essa criança que tem medo de careta”. Já pensou?
O que se está querendo dizer é que o bebê deve dormir
logo, senão o boi terrível de cara preta vem pegá-lo. Não é
sensacional? E essa daqui: “Dorme nenê que a Cuca vem
pegar; papai foi pra roça e mamãe pro cafezal...”. O nenê,
além de ficar sozinho em casa sem pai e mãe, que foram
trabalhar, está na iminência de ser apanhado pela Cuca
(um ser abominável do nosso folclore). E essa: “Atirei o
pau no gato-to, mas o gato-to não morreu-reu reu; Dona
Chica-ca admirou-se-se do berro, do berro que o gato deu
– Miaaaauuuu!”. Mais politicamente incorreto impossível;
em tempos de preservação da natureza e dos animais, essa
é uma lição de maldade e crueldade sem limites para se
ensinar a uma criança, não acha? Inclusive já escreveram
nova letra para esse cântico. É assim: “Não atire o pau no
gato-to, porque isso-so não se faz-faz-faz; o bichinho-nho
é nosso amigo-go, não podemos maltratar os animais...
Miau!”. Veja que maravilha da pedagogia infantil: Eu sou
pobre pobre pobre de marré marré marré; e eu sou rico
rico rico de marré dé sí...”. Isso é o que se pode aprender
desde cedo sobre a ultrajante desigualdade social que
degrada o ser humano. Outra: “marcha soldado, cabeça
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impressões 2
de papel; quem não marchar direito vai preso no quartel”.
Isso é uma ameaça? Ou uma cobrança extrema sob pena
de sanções graves? E essa obra prima: “A canoa virou,
quem deixou ela virar? Foi por causa de (e aí citavam o
nome de fulano) que deixou ela virar...”. Ou seja, em vez
de ensinar à criança a cooperação e a ajuda de equipe,
ensina-se a dedurar e condenar quem não consegue dar
conta de uma atividade. E essa é mesmo de doer: “samba
lelê tá doente, tá de cabeça quebrada; samba lelê precisava
é de umas boas palmadas...”. Não é o máximo? Ou seja, em
vez de dar a samba lelê cuidados médicos e carinho, dá-lhe
palmadas. É o que a Bíblia chama de apagar a torcida que
fumega. E a linda, consagrada e eterna ciranda cirandinha?
“O anel que tu me deste era vidro e se quebrou; o amor
que tu me tinhas era pouco e se acabou”. Bela lição pra se
ensinar a uma criança. Em vez de se ministrar que o amor
é o vínculo da perfeição e que deve durar para sempre,
canta-se para a pura criança que o amor é algo que se
acaba logo. E pra fechar com chave de ouro, veja essa: “ O
cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada; o cravo
ficou ferido e a rosa despetalada. O cravo ficou doente,
a rosa foi visitar; o cravo caiu doente e a rosa pôs-se a
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impressões 2
chorar”. É mesmo emocionante. Incitando à violência
conjugal e apresentando à inocente mente infantil um fim
trágico de feridas e lágrimas. Não é mesmo deprimente?
Para nós que conhecemos a verdade que liberta é muito
melhor, em vez de ministrarmos aos nossos pequeninos
essas lindas baboseiras nocivas, ensinarmos a elas as belas
histórias da Bíblia, e cantarmos para elas as lindas canções
sobre a nossa salvação. E não queira parodiar nenhuma
delas com cunho evangélico, e colocar no lugar de boi da
cara preta o Bute-Fute. Por favor.
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impressões 2
Novidade e rotina
Você já parou alguma vez pra meditar sobre o que seria
de nós se tivéssemos como experiência de vida apenas um
ou outro desses elementos? Que tédio seria a nossa vida,
se tudo apenas fosse rotina; e que stress seria viver apenas
do novo... Já imaginou a situação de um náufrago, ter que
sobreviver comendo cocos e olhando a mesma paisagem
o resto de sua vida...? Ou um prisioneiro condenado a
anos sem fim olhando as mesmas paredes e fazendo as
mesmas coisas nos mesmos horários, dia após dia...? É
angustiante e desesperador. Por outro lado, ninguém
suportaria comer só em restaurante, viver dentro de um
carro, mudar de cidade todo mês, trocar de função toda
semana, não ter uma hora certa pra dormir nem acordar,
e viver num frenesi louco o tempo todo. Deus fez todas
as coisas e as estabeleceu em perfeita ordem, cada uma
delas em seu devido lugar. Há tempo para todo propósito
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impressões 2
debaixo do céu, diz o Pregador. Em nossa curta vida há
lugar para o evento e para o cotidiano. Eles fazem parte
do que nos constitui; precisamos de ambos. Desastre é
fazer com que a natureza de um se misture à do outro;
ou seja, querer fazer da busca por evento uma rotina,
ou tornar a rotina o seu evento mais importante. Se um
impossibilita o firmar de raízes de sustentação, o outro
mata a criatividade e a capacidade de sonhar. Precisamos
fugir dos extremos e exageros, e buscar o centro, o
equilíbrio em todas as coisas, quer como indivíduos, ou
como comunidade. Chega de copiar a cultura secular
brasileira no que não traz edificação: não podemos querer
viver “deitados eternamente em berço esplêndido, ao som
do mar e à luz do céu profundo”, vendo a vida passar,
sem buscar possibilidades, enfrentar desafios novos, com
medo de arriscar e quebrar paradigmas. Da mesma forma
não podemos querer um “santo” para cada dia do ano, nem
nos alegrarmos por cinquenta feriados em 365 dias, e viver
em função disso. Tem igrejas que param em Dezembro,
em razão das festas de fim de ano, e só retomam as suas
atividades depois do carnaval. Depois dão uma pausa por
causa da semana santa, e esperam passar a Copa do mundo
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impressões 2
de futebol. Depois disso, curte-se a ressaca pela vitória
ou pela derrota, descansa-se um pouco, pois Agosto é
um mês “morto”, e aí o ano acaba, pois pra Dezembro
é um pulinho... O dinamismo de uma igreja passa pela
capacidade de combinar estrategicamente essas coisas:
Manter-se intocável em seus valores espirituais e morais,
adequando a sua linguagem ao seu tempo. Novidade e
rotina no tempero certo.
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impressões 2
O celular e a Teologia
Existem assuntos ou abordagens que aparentemente
são ridículos. O título deste texto é um deles. Mas pode não
ser. Como bem sabemos, há coisas, situações e verdades
que são antagônicas e irreconciliáveis, pois não há como
estabelecer conexões entre as partes. Esse tema é um deles.
Mas pode não ser. Particularmente eu gosto das duas coisas.
Gosto de Teologia e gosto de celular. Lógico, uma coisa
nada tem a ver com a outra. Mas pode ter. Bom, eu gosto
da teologia porque ela me explica sistematicamente tudo
o que diz respeito às coisas de Deus: o Seu caráter, os Seus
atributos, bem como Seus feitos majestosos. É a teologia
que me expõe com profundidade o plano da salvação e os
meios de Graça, bem como os sinais das últimas coisas.
Gosto da teologia, porque por ela sou fortalecido nas
verdades eternas, e recebo conhecimento que me concede
autonomia e segurança para a caminhada cristã, enquanto
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impressões 2
aqui estou. Agora, não sei bem porque gosto tanto de
aparelhos celulares... Ou talvez saiba... Quando criança, eu
era o “Professor Pardal”, o inventor que criava brinquedos
para mim, para os meus irmãos e para a meninada da rua.
Carros de lata, de rolimã e de fricção, armas engenhosas,
bonecos articulados, instrumentos musicais, e até coisas
elaboradas, como um eficiente projetor de slides. O
depósito de casa era o meu ateliê de trabalho. Madeira,
lata, prego, borracha, fios de metal ou nylon, qualquer
coisa podia virar qualquer coisa que pudesse ser útil ao
trabalho ou ao lazer. Por isso, a criatividade, os recursos,
as possibilidades, a engenhosidade me encantam. E
então? Um aparelho celular não é mesmo espetacular?
Imagine se pudéssemos voltar no tempo, levar um desses
aparelhos modernos e colocá-los na mão de um dos
nossos bisavôs. Imagine o que seria explicar-lhes que com
aquela caixinha era possível se comunicar com alguém
que estava em outra cidade, estado ou país, além de tantas
outras funções possíveis em um celular. Não faria sentido
algum para eles. Seria algo meramente fictício. Como
há trezentos anos alguém receber a informação de que
era possível algo tão pesado como um avião transportar
125
impressões 2
pessoas pelos ares, rapidamente e de forma tão sistemática
e segura, ou como hoje imaginarmos ser possível daqui a
muitos anos termos como meio comum de transporte a
translocação celular da matéria – desaparecermos aqui e
aparecermos no destino desejado, por meio de tecnologia.
Ou quem sabe a máquina do tempo sair da ficção e virar
realidade. Em 1966, o capitão Kirk, da série Jornada nas
estrelas, aparecia na TV usando um aparelhinho chamado
Tricorder. Esse aparelho era sem fio, transmitia voz e
dados, a partir da Nave Enterprise, em órbita a centenas
de Km da Terra. Isso parecia um sonho impossível. Em
1973 a Motorola criou o primeiro celular –“tijolão”, que
foi aperfeiçoado pelos japoneses em 1979. Depois vieram
os americanos e europeus, com suas contribuições, em
1982. Nesse tempo os celulares serviam apenas para falar.
A tecnologia avançou não a galope, mas a mil por hora.
Da geração de celulares (1G), já estamos abraçando a
(4G), que chega à América do Sul até o final deste ano,
inclusive com a incrível marca de 5 bilhões de aparelhos
circulando no planeta. Ao que parece, não foi o celular
que se incorporou à vida do homem moderno, mas este
se rendeu ao assédio da tecnologia móvel, a ponto de não
126
impressões 2
mais sobreviver sem ela. Muita gente hoje não sabe o que
fazer se, por alguns instantes, se ver sem o aparelho, por
perda, roubo ou esquecimento. Simplesmente estarão
desnorteadas ou desconectadas. A vida de muita gente
está presa a muitas informações alojadas naquela caixinha
mágica. Eles são mesmo fantásticos, assustadores. Falar
e ouvir são um mero detalhe. Eles podem fotografar
em alta definição, enviar e receber torpedos e email
em tempo real, acessar em alta velocidade a Internet,
conectar-se às redes sociais, trazem jogos interativos,
muitos deles com recursos inacreditáveis de identificação
de voz, movimento e toque, GPS para localização em
qualquer parte do mundo, espaço cada vez maior para
armazenamento desses dados – um microchip capaz
de guardar milhares de músicas, fotos, vídeos, contatos,
etc. Eles lêem códigos de barras, conectam-se às redes
Wi-Fi, editam textos, fazem movimentações bancárias,
atualizam a previsão do tempo, servem como controle
remoto, recebem sinal de TV digital e milhares dos mais
impressionantes aplicativos. Imagine o que representa tudo
isso para a cabeça do inventor pedrinhense que tramava
e bolava coisas espetaculares, usando paus, molas, pregos
127
impressões 2
e latas...! Sim, a tecnologia celular me encanta. Ei! Mas o
que é que tudo isso tem a ver com o título sugerido? Que
conexão há entre teologia e celular? Na verdade, para os
teólogos, nenhuma; e para os magos da tecnologia, menos
que nenhuma. Para mim, além do fato de eu ter no meu
celular toda a Bíblia em um aplicativo, ocorreu-me uma
idéia altamente teológica: O homem sem Deus é como
um celular sem linha, desabilitado – cheio de recursos e
possibilidades, mas sem sinal com o céu.
128
impressões 2
O sero mano
Já diziam as boas línguas que herrar é umano; que a
natureza humana é cheia de imperfeições e pecados.
Esse ente é tão imperfeito que merece a construção do
título proposto. É incompreensível e inalcançável a veia
de onde nasce a inclinação do seu coração. Só mesmo
a descrição bíblica do efeito do pecado de Adão na raça
humana pode dar uma idéia do que é a nossa condição.
“desesperadamente corrupto o coração do homem, e mal
toda a inclinação do seu ser”. Não adianta maquiar nem
pôr tapumes, sem a ação efetiva e plena do Espírito Santo
na vida de qualquer um de nós humanos, o que se pode
esperar é a maldade. E isso vale para os mais santos e
consagrados. Não dá para imaginar uma mente santa como
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impressões 2
a de Abrão – o pai da fé – maquinando o imponderável e
insano para se safar de situações embaraçosas, por medo.
Mentiu, dissimulou, se escondeu e foi vergonhosamente
repreendido por um ímpio, depois de quase ter a sua
amada esposa, sua princesa Sara, entregue como objeto
nas mãos de homens voluptuosos e carnais. Não dá para
imaginar um homem com a envergadura espiritual de
Davi, um gigante da fé, o homem segundo o coração do
Altíssimo, o poeta de Deus, em cuja mente se alojavam
pensamentos tão sublimes acerca de Deus e sua obra,
dessa mesma mente brotar planos tão vis, tão cruéis e
vergonhosos: cobiçou a mulher do seu guerreiro especial,
deitou e rolou com ela, engravidando-a, e depois tramou
engenhosamente como se safar dessa embaraçosa situação,
inclusive bolando a morte do seu amigo guerreiro, esposo
legítimo daquela com quem ele se envolveu. Ali não estava
o poeta sacro e o nobilíssimo rei, mas o homem Davi,
o sero mano imperfeito e carnal, como qualquer outro
ser humano na face da terra. Não consigo imaginar um
homem como o profeta Elias, o mais poderoso de todos
os profetas, o mais distinto, o mais destemido, que no
monte Carmelo desafiou os 400 profetas de Baal, fazendo
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impressões 2
cair fogo de céu, segundo sua palavra, homem que a terra
não era digna de tê-lo, tanto que não passou pela morte
física, sendo arrebatado para o céu numa carruagem de
fogo. Como imaginar esse mesmo homem escondido
numa caverna, soturno, encolhido, deprimido, querendo
morrer, por medo de Jezabel, esposa do rei Acabe... Não é
mesmo incrível? O sero mano é mesmo uma incógnita. E a
respeito desse mesmo profeta nos diz Tiago, em sua carta,
que ele, Elias, era homem semelhante a nós, sujeito aos
mesmos sentimentos. E olhando assim, de fora a fora nas
páginas das Escrituras, confirma-se a definição teológicoantropológica de que não há um só que não peque, e se
dissermos que não cometemos pecado fazemos Deus de
mentiroso, pois a nossa condição é mesmo a fraqueza.
Sem a ação do Espírito fazendo guerra com a nossa carne,
fatalmente seremos todos agentes do mal, totalmente
inclinados a ele. Essa é a razão porque a mesma boca que
diz Bendito o que vem em nome do Senhor, também
diz crucifica-o; o mesmo lábio que bendiz, amaldiçoa; a
mesma pessoa que é fonte de edificação, também é pedra
de tropeço. Misericórdia, Senhor, guarda a nossa vida desse
assédio do mal, pois somos seres inclinados ao mal, como
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impressões 2
disse Paulo, o apóstolo: desventurado homem que sou; o
bem que quero fazer, esse não faço, mas o mal que não
prefiro, esse é o que faço. Piedade, Senhor, trabalhe em
nosso ser, santificando-nos e não nos deixando à mercê
de nossas vontades, e perdoa-nos por nossas vontades
feitas e pelo mal que causamos a Ti, aos outros e a nós
mesmos. Perdoa os nossos pecados todos. Amém.
133
impressões 2
Orkut e msn
Para os que não são ligados à Internet e não sabem do
que se trata o título deste texto, Orkut e Msn são algumas
das redes de relacionamento, ou redes sociais, como
também são conhecidas. Foram idéias fabulosas criadas
e disponibilizadas na grande rede de computadores,
com a finalidade original de aproximar pessoas e mantêlas conectadas. Pela proposta do Orkut é possível ir
adicionando páginas pessoais de amigos e conhecidos, e
através dessas ir multiplicando a teia de conhecimento.
Ex. Pedro adiciona Márcio. Ora, Márcio carrega em sua
página mais de quinhentos amigos. Pedro terá acesso
àqueles 500 amigos do outro, e vice-versa. Essas páginas
são constituídas de informações pessoais: perfis, dados,
fotografias, vídeos e depoimentos. Os orkuteiros se
correspondem através de scraps ou recados deixados
na página alheia, ou em depoimentos reservados. Uma
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impressões 2
olhada rápida nessa proposta deixa uma feliz idéia de
algo potencialmente excelente. Afinal, que oportunidade
formidável de encontrar amigos que nunca mais vimos.
Seria, se não houvesse no meio a maldade humana. Logo de
cara, qualquer pessoa pode se inscrever criando um perfil
totalmente falso: nome, endereço, idade, nacionalidade,
sexo, e qualquer outra informação, incluindo a fotografia.
No Orkut ou no MSN, ou Facebook, ou no Twitter, eu
posso ser qualquer pessoa; posso inventar qualquer perfil
e anunciar ao mundo que sou aquele que ali fala. Um
bandido pode facilmente cometer um crime de posse
de várias informações verdadeiras de gente inocente.
Ele acha a pessoa, grava as fotos, anota endereços, colhe
informações deixadas nos recados e a maldade está feita.
Há uma rede gigantesca de pedofilia instalada no Orkut,
bem como um mar de pornografia disfarçada em falsos
perfis; só Deus sabe os danos que ela tem causado a
muitíssimas famílias. O MSN, ou Messenger, tem outra
dinâmica. Enquanto o Orkut é estático, a pessoa pode
analisar e responder aos recados somente quando der
ou quiser, o MSN é online; o internauta acessa e interage
em tempo real com os amigos adicionados. Isso exige
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impressões 2
tempo, dedicação e presença. É possível, inclusive, falar
com muitos ao mesmo tempo, com a maravilha de poder
ver o outro interlocutor através de uma Webcam. Não é
maravilhoso poder falar com um filho distante, parentes e
amigos que estão longe, e vê-los ao vivo na telinha? É. A
idéia é sen-sa-cio-nal, mas você não tem noção de quantas
tragédias acontecem através dessa ferramenta. Para
começar, muitos namoros, noivados e até casamentos
tem acabado por causa do MSN. Muitas relações extraconjugais se efetivam por esse meio; muitos adultérios e
fornicações. Digamos que o Orkut seja uma sala de estar
cheia de amigos e conhecidos, embora muitos a gente não
conheça bem; o MSN é um quarto com a porta fechada
onde ninguém tem acesso. Essa vida secreta protegida por
senhas tem levado muitos casais a se separarem. Além de
um tempo incrível que se perde na frente do computador,
que poderia ser usado para a leitura bíblica, oração, louvor
e meditação, quanto lixo é despejado na mente dessa
juventude deslumbrada; quantos perigos de assaltos e
assédios do mal em todo o tempo; drogas que viciam...
Dentre todos os habitantes do planeta que têm acesso à
Net, o brasileiro é o maior consumidor das redes sociais, o
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impressões 2
mais deslumbrado. Através dessas redes as manipulações
se espraiam, os Hackers se esbaldam, a vida da gente é
bisbilhotada violentamente, e o mal acaba se instalando
em nossa história, pelos cliques de nossa própria volúpia.
Eu abri um site que permite baixar arquivos autorizados e
gratuitos para o computador, e os meus olhos acharam um
anúncio curioso, sob o título “MSN espião”. Dizia assim:
“você quer ver o que as pessoas conversam no MSN?
Clique aqui e baixe agora”. Você só é vítima se quiser.
Seguramente Deus não está nesse negócio. A Internet
e seus filhotes podem ser um fabuloso instrumento nas
mãos do sábio, de quem ela é escrava, mas pode ser um
veneno letal nas mãos de quem ela se tornou senhora.
Que Deus dê juízo ao seu povo.
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Que diferença fará
Que diferença fará, se o seu time do coração é o Bahia
ou o Vitória, Flamengo ou Fluminense? Se o banco onde
você tem conta é o Bradesco, Itaú, Caixa Econômica ou o
do Brasil? Se o seu carro, ou com o qual você sonha é um
Fiat, Ford, Volkswagen, Chevrolet, ou um desses chiques
importados? Se o perfume que você usa é Natura, Avon,
Boticário, ou um outro daqueles carirérrimos? Se a sua
morada está na zona norte ou na zona sul, se é casa ou
apartamento, se possui muitos cômodos ou apenas quarto
e sala? Que diferença fará, se o seu prato predileto é carne
ou massa; se a cozinha que lhe agrada é italiana, chinesa,
mexicana ou de qualquer outra parte do mundo? Se o
seu cabelo é longo ou curto, castanho ou loiro, crespo ou
liso? Se você é homem ou mulher, alto ou baixo, gordo
ou magro, preto, branco, cafuso ou amarelo, saudável ou
carrega alguma enfermidade? Que diferença fará, se você
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impressões 2
é solteiro ou casado, se tem muitos filhos ou nenhum?
Se você é analfabeto, ou concluiu apenas o primeiro
grau, ou tem PHD? Se você é sanguíneo, fleumático,
colérico ou melancólico? Se o filme que lhe agrada é um
romântico, ou de aventura, suspense, humor ou terror?
Que diferença fará, se você usa Orkut, MSN, Flog, Blog,
se utiliza UOL, BOL, IG, Gmail ou Hotmail, ou se você
não é afeito à internet? Se você está com 12, 20, 30, 50
ou 90 anos de idade? Se o seu aparelho celular é Nokia,
LG, Motorola, Sony Ericsson, e sua operadora é Vivo,
OI, Claro ou Tim? Se você é PFL, PSDB, PT, PSOL, ou
ARENA? Se a sua música predileta é clássica, popular,
regional, erudita, e muito menos importa qual o nome
do seu cantor ou artista preferido? Sim, que diferença
fará, quando Ele se manifestar? Que diferença fará, se
você é apenas religioso ou ateu? Se você é integrante de
uma confissão presbiteriana, ou batista, ou metodista, ou
assembléia de Deus, ou congregacional? Se você é um novo
convertido ou se os seus cabelos já branquejaram dentro
de uma igreja? Se você é conhecido como um pastor,
um evangelista, um presbítero ou diácono, um eloquente
pregador ou um hábil instrumentista? Que diferença fará,
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impressões 2
se o crivo é um só? A Santa e pura Escritura afirma em 1
João 5:12: “Aquele que tem o Filho de Deus tem a vida;
aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida”. Por
isso entendo perfeitamente as palavras do Senhor Jesus,
quando disse: “Que adianta ao homem ganhar o mundo
inteiro, se vier a perder a sua alma?”. Lucas 9:25. Portanto,
importa que nos apeguemos com mais firmeza àquilo que
é eterno, e priorizemos aquilo nos remete à glória do Pai.
Uma vida santa, sim, fará toda diferença, quando Ele se
manifestar, pois sem santificação, ninguém verá o Senhor.
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impressões 2
Que peninha...
É, gente, pode ser apenas saudosismo meu – e sou
mesmo, ou puro fruto de um inveterado sonhador, mas é
o sentimento que em mim se move quando uma pessoa
me pergunta como é um pé de caju, ou um pé de jaca, ou
mesmo como é uma laranjeira... Ou então quando uma
pessoa “da cidade” começa a espirrar, só porque pôs os
pés no chão. Dá vontade de chorar também quando vejo
um adolescente saudável ficar deprimido e querer morrer,
por “não ter o que fazer”, pois o computador apresentou
defeito. Olho ao redor e vejo tantas pessoas apressadas,
visivelmente angustiadas, testas franzidas, zanzando
pelas ruas da cidade “correndo atrás” de tantas coisas,
indiferentes a quem passa do seu lado, acostumadas a
respirar fumaça poluída e a ouvir o irritante barulho de
buzinas dos carros de pessoas irritadas; gente estressada,
amedrontada, ansiosa, escrava do ter, doente sem cura.
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impressões 2
Que peninha que dá...! O sistema das grandes cidades
está matando o sonho e a poesia da alma que reside em
cada ser humano. Sim, os poetas mais aclamados da nossa
literatura vieram do interior, da experiência rural, da vida
pobre e de grandes apertos, e os que nasceram e viveram
nos grandes centros precisaram descolar-se deles para
respirar outros ares; a cidade grande produz operários,
estivadores desenervados, ou grandes executivos sem
tempo para viver. Os seus sentidos estão treinados e
condicionados a perceber o óbvio e dar sequência a uma
agenda de coisas rituais do dia-a-dia, uma roda que não
para nunca. Como quis expressar o saudoso poeta da
antiga e pequena Feira de Santana, que agora morava em
São Paulo: “Parem o mundo que eu quero descer, que
eu já não aguento mais acordar com a boca cheia de
fumaça...”. Dá uma peninha ver que essas pessoas nunca
pararam alguns minutos para observar uma singela gota
se desprender de uma folha e cair em nossa testa em
um dia de chuva, e sentir aquele cheirinho sem igual de
mato molhado, e o capim orvalhado molhar os nossos
pés; ver, nesse cenário, andorinhas alegres, aos bandos,
encherem os céus com seu vôo sem compasso; ouvir o
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impressões 2
piar enigmático de aves que não vemos, recolhidas em
seus ninhos; depois de um sereno refrescante, ver a
natureza em festa: animais, aves, plantas, insetos, tudo
enfim cantando em louvor a Deus. E ao chegar a noite,
dormir ao som de uma grande orquestra afinada: a chuva
caindo e escorrendo pela telha, descendo pela calha e
enchendo o pote, e a gente ali bem coberto e aquecido
naquele friozinho, e, para completar a delícia, sentir que
micro-gotas se desprendem do telhado e caem em nosso
rosto... No dia seguinte, acordar pelo cheiro do café no
bule e do cuscuz feito da espiga, com ovo de galinha do
quintal... Hein? Aí sim...! Pois é, a meninada de hoje que
lê esse texto, com certeza está pensando: “Que viagem,
pastor...!” E é bem capaz que estejam com peninha de
mim. Mas peninha por peninha, colocadas em balança,
quem já ouviu o barulhinho de um rio passando sobre as
pedras, bebeu água na moringa e foi despertado por um
bem-te-vi na cerca, não precisará nunca de Lexotan ou
Rivotril para conciliar o sono.
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impressões 2
Que saudades da igreja
Ai que saudade da igreja...! Ai que saudade da casa
de Deus. Quando me lembro dessas coisas chamadas
espirituais, de fato, a minha alma se comove, se encanta
e chora. Não é um sentimento ruim, até porque saudade
nunca é fruto de uma experiência ruim. Sentir saudade
é reviver um sonho, recortar no processo histórico um
bem ideal. Por isso não sentimos saudade do que não
deu certo e do que não foi bom. Felizes são aqueles que
carregam na alma um conteúdo rico daquilo que pode
gerar saudade. Eu sinto saudades, muita saudade. Rubem
Alves define saudade como a presença de uma ausência.
Não sinto saudade de Jesus, pois ando com ele todo o
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impressões 2
tempo. Sou amigo dele e não o perco de vista em meu
caminho. Estou com ele agora mesmo. Também não
sinto saudade da experiência da fé, do quebrantamento da
alma e do mover do Espírito que espiritualiza a dinâmica
do cotidiano, pois isso é o que me inspira a pôr no papel
cada uma dessas palavras, transformando em letras o que
ocorre em meu mundo interior. Sinto saudade da igreja.
A saudade que sinto, no entanto, não é dessa ou daquela
comunidade organizada, ou de um ou outro movimento
ou momento da nossa ou de qualquer outra denominação
evangélica, mas do que Deus disse ser a sua igreja e
do que acreditei ser possível viver nela. Que saudade
de quando li na Escritura e acreditei que os pastores
dos rebanhos de Jesus eram homens verdadeiramente
separados para o serviço cristão, consagrados para as
coisas espirituais, íntegros, sãos, exemplos de piedade e
reconhecidos pela comunidade da aliança como profetas
de Deus, merecedores de solene obediência e justa
reverência, como indica o título que carregam, pelo teor
de sua missão e o significado de sua vocação. Jamais
imaginei que esses ministros se deixariam corromper em
seu caráter, atendendo aos apelos das luzes deste mundo,
151
impressões 2
negociando por bagatela a sublimidade do seu chamado
e as implicações das revelações que receberam. E que,
por consequência, os fiéis os tenham identificados como
servidores de causas eclesiásticas, bons gerentes de uma
estrutura denominacional definida, empregados-chefes
de uma comunidade religiosa organizada, comodoros de
um bom clube religioso, e nada além. Foi demolida por
completo a imagem dos pais espirituais, os pais da igreja,
guardiães da noiva de Cristo, e não profissionais da fé.
Que saudade. E que dor. E que saudade sinto de quando
entendi ser a igreja uma família, a família de Deus. Um
lugar de irmãos, lugar de gente regenerada que sabe que vai
morar no céu, e onde há espaço para compartilhamento
saudável e cura, apoio, acolhimento, perdão e graça.
Jamais imaginei que veria os chamados eleitos inquietos
correndo atrás de bens materiais, esquecidos do céu,
buscando conforto e não a glória de Cristo, transformando
o Reino em comércio e a salvação em lucro. Que saudade
de reconhecer todas as pessoas pelos nomes, e de recebêlas em casa sem constrangimentos, e de sentir imensa
alegria em receber um visitante na igreja, e de olhar no
olho das pessoas, sem medo de ser censurado, e de ver
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impressões 2
muitos grupos de relacionamento se integrando na igreja,
e de ver as pessoas sem pressa de deixar o templo, e de
ver a culpa expiada por Cristo na cruz também sendo
liberada na congregação pelos líderes do povo, e de ver a
graça prevalecendo sobre a lei, e um povo cativo ao amor
de Jesus sendo libertado para viver em santa união. Que
saudade da sinceridade, que saudade da honestidade, que
saudade do amor não fingido, que saudade da igreja...
Que saudade... Que saudade... Ah se fendesses os céus e
descesses outra vez entre nós, fazendo coisas tremendas,
tudo novo de novo. Faz isso, Senhor, pois esperamos.
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impressões 2
Ressuscitados
Vamos dar asas à imaginação e criar umas situações
de fato impossíveis, porém mais que interessantes.
Primeiramente, vamos imaginar Alberto Santos Dumont,
o pioneiro da aviação, ressuscitado dos mortos e fazendo
uma visita a um movimentado aeroporto. Imagine o
impacto que ele sofreria, e a intensa emoção ao ver tantos
aviões decolando e aterrissando a todo momento, e
aeronaves em fila aguardando sua vez para subir ou descer.
Agora pense em como seria uma visita dele à cabine de
um moderníssimo Boeing, daqueles de dois andares, com
capacidade para transportar 500 pessoas – um A380. A
quantos batimentos por segundo sofreria o seu coração?
E uma perguntinha: será que ele saberia pilotar um
Caça F16, que é capaz de romper a barreira do som? Já
imaginou que experiência fascinante para tal inventor, ver
a que nível de progresso chegou o seu invento? Agora,
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impressões 2
tomando o mesmo exemplo, crie a imagem de Ghran Bell
ressuscitado, visitando uma feira de aparelhos eletrônicos.
Imagine o choque que ele teria, ao tomar nas mãos e
tentar manipular um desses modernos e sofisticados
aparelhos celulares. Imagine um daqueles consultores
explicando ao inventor do telefone todos os recursos que
um aparelhinho daquele oferece: aquilo que apenas servia
para ligar e receber ligação, filma em Full HD, fotografa em
alta resolução, toca musica em vários formatos, conectase à internet, recebe sinal de satélite GPS, e uma gama
interminável de aplicativos, cada um mais impressionante
que o outro. Já pensou? Quanto progresso! Quanta
melhoria! E o Benjamin Franklin e a lâmpada elétrica? E
agora só mais um: vamos ressuscitar o britânico Charles
Miller inventor do futebol, e levá-lo ao maracanã, durante
a Copa do Mundo, em 2014. A organização, o nivelamento
das equipes, as grandes potências, grandes investimentos
e grandes investidores, bilhões por uma bola. Quanta
coisa mudou e se aperfeiçoou, desde que o Soccer chegou
ao nosso continente. Essas e outras criações progrediram
e se aprimoraram. Fiquei pensando: O que tem Jesus
ressurreto a dizer hoje sobre a igreja que ele plantou e
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impressões 2
estabeleceu? A igreja primitiva era tão linda, tão pura,
tão piedosa, tão comprometida, tão espiritual. O tempo
passou e, em vez de a igreja crescer em santidade e temor,
degenerou-se; multiplicou-se em mil pedaços; criou mil
altares; curvou-se ante outros cristos e divulgou outros
evangelhos. Diante de tão impressionante contradição,
vale a pena a reflexão: Nunca é tarde para se rever os fatos
e retomar a caminhada.
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impressões 2
Self-Service
Deus salve a América (ou os Estados Unidos, como
preferirem – e em todos os sentidos possíveis). Esse país
continental-hegemônico-imperial passa por uma crise
sem precedentes. O gigante intocável estremece e se
escora, assim como ocorreu com Babilônia, Egito, Assíria
e Roma. Faz parte dos sinais que anunciam a segunda
vinda de Cristo. Se houver interesse, depois me pergunte
como. Mas a influência efetiva que esses brotheres
exercem sobre outras culturas é mesmo impactante, a
começar na imposição da língua. Em qualquer lugar do
planeta, não importando o idioma ou dialeto que se fale,
o inglês é imprescindível e senha para que siga adiante em
qualquer transação, seja comercial, diplomática ou social.
Aqui no Brasil, talvez mais do que em qualquer outra
parte do globo, essa dominação cultural é assustadora e
humilhante. O estrangeirismo liberado beira o ridículo.
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impressões 2
Como exemplo disso, ao andar pelas ruas das nossas
grandes cidades, quem não souber um mínimo da fala
do Tio Sam pode se perder em meio a tantas faixas,
cartazes, e placas de anúncios, que obviamente já foram
batizadas por nós de Out-door, onde praticamente não
se usa a língua pátria. Os shopping Centers, e suas mil
magazines, apresentam seus stafs bem treinados em toda
forma de business, e atraem seus clientes com estampas
para americanos comprarem, e não brasileiros, pois lá
se lê: “Sale 50% Off ”. O payment é feito em Credcard,
para não fugir à regra, claro. Além de que estamos tão
condicionados e induzidos a acolher a cultura e linguagem
alheia que enrolamos a língua e identificamos todos os
aparelhos e instrumentos que compramos, com a maior
naturalidade, até porque pouca coisa traz um nome
brasileiro em seu rótulo. Somos tão fascinados com a
estranheza do diferente, que ensaiamos pronunciar, com
sotaque americano, a palavra: “World”, ou semelhantes.
Riririririri. Enquanto que um americano jamais se esforça
para pronunciar corretamente a nossa palavra “farofa”.
Diriam eles: “faurofa...”, numa boa, sem crises. ririririri.
Puxa vida, deveríamos ficar muito mais orgulhosos em
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impressões 2
sermos brasileiros, e termos a nossa riquíssima cultura, e
uma língua tão bela, e sotaques tão variados e tão nossos.
Sim, mas o assunto não é esse... Ou pelo menos não
especificamente. Tudo o que eles promovem vira moda no
Brasil; todos os programas de televisão que aqui assistimos
como novidade, já cansaram por lá. E foi de lá que veio
a inspiração do Fast-Food, da comida pronta e rápida,
do lanche comido às pressas, ou da refeição esgulupida.
Faz poucas décadas que a nossa sociedade consumista e
cosmopolita aderiu ao self-service, ao prato por peso, e ao
delivery. São marcas que identificam um tempo, um jeito
de viver. Aquilo que a pressa louca marcou New York nas
décadas de setenta e oitenta, em diante, é o que se vê em
São Paulo hoje, bem como nas grandes metrópoles, que
copiam tudo sem questionar. Não há mais como viver
sem essas coisas; a vida não pode parar, não há tempo a
perder. E veja só que coisa sensacional; por que não se
pensou nisso bem antes? A gente chegar a um restaurante,
na hora que melhor nos parecer, e sem ter que esperar
por ninguém, ou depender de quem que seja, entramos na
fila, pegamos o nosso prato, e seguimos ao lado de uma
mesa ou bancada imensa, com dezenas de pratos, com a
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impressões 2
maior variedade de todo tipo de comida, folhas, legumes,
massas e carnes, tantos que é difícil escolher. E depois que
enchemos o prato, pagamos pelo peso que escolhemos,
comemos fartamente, e já podemos ir embora, totalmente
satisfeitos, pois só escolhemos o que gostamos, e nem
temos que ter trabalho depois para lavar a louça, arrumar
a mesa e varrer a sala. Existe algo mais conveniente do
que isso? É uma marca do nosso tempo: o imediatismo,
o descartável, a praticidade e a liberdade de escolha. Mas
isso não funciona com respeito às coisas espirituais, as
coisas de Deus, a Bíblia, a igreja, a fé. Pare e pense sobre
isso.
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impressões 2
Sonhos
Uma das coisas mais intrigantes que existem é o
sonho: ainda não decifrado e cada dia mais estudado pela
inteligência humana. É um grande mistério. Que critério a
mente usa para selecionar e projetar imagens, sentimentos,
cores e sons em nossa atividade cerebral, enquanto
dormimos? Por mais avançados que já estejamos nas
pesquisas científicas, ainda não chegamos a conclusões e
teses sobre isso. Pode-se dizer, e é o que tem sido dito,
que os sonhos são informações que a nossa mente recebe
do sub-consciente, e até do inconsciente, das múltiplas
áreas de interesse que são capturadas pela memória ativa,
enquanto acordados estamos. Assim, nos meus sonhos
eu jamais poderia sonhar os seus sonhos, pois estes dizem
respeito somente ao seu mundo interior. Você projeta
os seus medos, fantasmas, ídolos e heróis, expectativas
e planos, decepções e frustrações, e eu projeto os meus,
166
impressões 2
de acordo com a vida que cada um de nós experimenta.
Aproveitei o tema para viajar para bem longe. Pergunteime sobre o que poderia ter sido o tema dos sonhos de
Jesus, quando ele dormia. Teria ele sonhado com o céu,
do tempo em que, com o Pai, criava e cuidava do plano de
salvação? Ou sonhava com as coisas terrenas ligadas à sua
experiência de convivência com os demais humanos?. Sim,
ele era e é perfeitamente homem e perfeitamente Deus;
em sua natureza havia e há em plenitude as duas matérias;
ele viveu em plenitude a essência divina, antes de encarnar,
e viveu plenamente as implicações de sua encarnação. E
nos evangelhos sinóticos há registros de momentos em
que ele, Jesus, dormia, como vemos, inclusive, ele ferrado
no sono em um barquinho durante uma tempestade.
Ora, quem dorme sonha. Sobre o que Jesus sonhava?
Seria sobre o brilho das pedras, a esmeralda, o topázio, a
safira, o berilo, o carbúnculo, o jaspe, o ônix, de quando
andava cercado por anjos, arcanjos, serafins e querubins,
no tempo em que as melodias mais lindas se podia ouvir,
vindas das filhas da música, que estabeleciam a moldura,
o cenário do ateliê de Deus, enquanto as hostes celestiais
eram criadas, ainda sem a existência humana? Ou teria
167
impressões 2
Jesus sonhado com as diversas campanhas e missões que
realizara na Antiga aliança, a mandado de seu Pai, sob o
pseudônimo de O Anjo do Senhor? Quantas vezes teria
Jesus sonhado com sua aparência anterior, como a que
usou, quando apareceu a Abraão, embaixo dos carvalhais
de Manre, acompanhado de dois anjos? Ou a aventura
de Muay-thai que realizou, quando lutou uma noite
inteira com Jacó, no Vau de Jaboque, transformando um
pecador abominável em um príncipe com Deus? Quem
sabe ele sonhou algumas vezes com fornalhas ardentes,
onde ele esteve uma vez para livrar servos de Deus dessa
cruel morte, ou ainda cova de leões, de onde ele resgatou
três servos fiéis. Já pensou nisso? Ou será que Jesus, como
homem, filho de Maria, criado por José, cercado de irmãos
e irmãs, vivendo em Nazaré como qualquer judeu de seu
tempo, ao se deitar para o repouso necessário, sonhava
com Roma, suas leis, seus soldados, sua dominação, ou
com Cafarnaum e seu comércio fluente, sua pesca, seu
cheiro de mar; ou teria ele sonhado com o marasmo de
Nazaré, as ruas empoeiradas e crianças brincando de
correr e pegar, mulheres no batente da porta tecendo em
suas rocas, e coisas assim de um cotidiano morno? Ou será
168
impressões 2
ainda que ele sonhava caminhando com seus discípulos,
rindo, chorando, ensinando, pregando, cantando no
templo e lendo o rolo da lei na sinagoga, como certamente
sonhavam de vez em quando os mestres da lei? Ninguém
jamais saberá nada sobre isso, e não há quem possa sequer
conjecturar, pois não há registro algum sobre nada disso.
O que se fizer de menção a esse respeito como história
será pura heresia. O que estou escrevendo aqui é apenas
imaginação e sonho meu, pois o tema Jesus vive presente
todo o tempo em minha memória, e invade os meus
sonhos amiúde. E por ser assim na vida de todos, se
alguém me perguntasse sobre o que eu imagino que Jesus
sonhava, eu responderia: Eu acho que ele sonhava com a
cruz.
169
impressões 2
Surpresa!
Muitos pregadores e escritores já se valeram dessa
ideia que vou usar, para despertarem em seus ouvintes,
no mínimo, um sentimento de curiosidade a respeito
da nossa chegada ao céu. De tanto se utilizarem desse
recurso, tornou-se lugar comum, uma ideia já batida. Mas
deixe-me dar mais uma batidazinha, pois não nos custa
nada imaginar, sonhar, e faz tão bem à nossa alma pensar
e anelar pelo paraíso que nos aguarda. Então, para nossa
meditação, vamos imaginar algumas surpresas que nos
“esperam” no céu. Você já parou para imaginar a surpresa
que João Batista, o precursor, vai ter, quando despertar no
172
impressões 2
último Dia e ver ao redor do Trono Samaritanos, asiáticos,
africanos e gente de todas as raças, e não somente judeus?
Sim, porque ele morreu escandalizado ao ver que Jesus
pregava o evangelho para publicanos e pecadores. Você
já parou para imaginar a surpresa que será para muitos,
ao chegarem ao céu e se depararem com um Jesus com
um aspecto humano, de carne e ossos, sorridente e bemhumorado, moreninho e baixinho?
E que surpresa
extraordinária para tantos descobrir, enfim, que o céu não
é um espaço vago, embaçado por nuvens, silencioso e onde
tudo se move em câmera lenta, mas um novo universo
ainda mais lindo e colorido do que este no qual vivemos:
aves canoras de todas as cores, felizes, cortando os ares
sem medo dos homens; animais selváticos maravilhosos,
convivendo no mesmo espaço com os domésticos; rios
de águas cristalinas, frescas e cheirosas; um ar puríssimo,
árvores frondosas, floradas, perfumadas, carregadas de
frutos perfeitos (muitas jabuticabeiras); ruas, sim, ruas e
avenidas de casas, sem caos, sem pressa, nem confusão ou
violência; gente, muita gente feliz, em paz, sem máscaras,
sem culpas, nem medos, nem dramas, dores, lágrimas,
ou qualquer evento de ordem negativa, pois não haverá
173
impressões 2
pecado. E mais: não haverá velhice, pois ninguém mais
morrerá; todos terão a aparência dos seus melhores dias,
a estatura de varão perfeito. E mais ainda: haverá trabalho;
não mais o trabalho imposto como consequência do
pecado e seus efeitos, mas a atividade produtiva do bem,
pois a Escritura afirma: “e os seus servos o servirão”.
Surpresa! Surpresa será para muitos, enfim, descobrir
uma escala de valores completamente diferente da que
estabeleceram para si enquanto aqui nesta terra estiveram.
Verem invertidas as coisas que realmente importavam;
verem que correram tanto, e gastaram energia e vigor, e
o melhor do seu tempo, e até brigaram tanto por coisas
que para o Eterno não significavam quase nada, coisas
que estavam lá no finalzinho da lista, e negligenciaram os
primeiros itens da lista de Deus, a divina ordem das grandes
virtudes, a prioridade do que agrada ao Soberano. Muitos
verão, estupefatos, Deus recompensar prodigamente ao
“bom samaritano” e dar tão pouco a sacerdotes “zelosos”
pela lei e que foram apressados para cumprirem os seus
ritos religiosos, ignorando a dor alheia; verão abraços e
beijos tão calorosos de boas-vindas a ex-meretrizes e exmarginais excomungados, assentados à frente de muitos
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impressões 2
pastores e líderes na assembléia dos salvos. Entenderão,
de fato, o que Deus sempre quis ministrar com a
profecia: “misericórdia quero, e não sacrifícios”. Verão,
in loco, em que lugar da lista de Deus se encontram as
doutrinas e sistemas denominacionais, os regimentos de
homens, as performances ritualisticas dos cultos, os perfis
confessionais, regras, ritos, praxes e ordens estabelecidas
pelos homens, em nome de Deus. E verão em que lugar da
lista de Deus se encontram o amor sincero ao próximo e
uma vida simples desprovida de vaidades, fora do templo.
Por fim, tantos líderes e membros de igrejas evangélicas
povoando o inferno, e tanta gente que julgávamos hereges,
de joelhos diante do Trono. Imaginação à parte, pelos
sinais bíblicos de que dispomos, há verdades aí... Vale a
reflexão.
175
impressões 2
Um grito à meia-noite
À meia-noite, ouvir-se-á o grito: “Eis o Noivo, saí ao
seu encontro!”. O dia se inicia aos primeiros raios do sol,
quando as sombras da madrugada vão dando lugar às
cores e formas cobertas pela escuridão da noite anterior.
Os dois períodos do dia, governados pela luz, manhã e
tarde, são marcados pelo trabalho, pela atividade criativa,
pelo movimento, pela pressa, pelo desincumbir-se de
demandas e responsabilidades. No finalzinho da tarde,
ao declinar o sol, a temperatura cai, os bichos no campo
buscam a proteção de seus refúgios, e as aves se recolhem
em seus ninhos; cada um volta para sua casa e o barulho
das ruas dá lugar ao silêncio. À medida que a noite avança,
a escuridão que se engrandece, o bem se prepara para
dormir, e o mal sai de casa para agir. Está exaustivamente
comprovado, por estatísticas, que a maior parte dos
crimes, assassinatos, resultados trágicos da embriaguez, a
178
impressões 2
visibilidade da violência extrema, acontecem no avançar
da noite. Como se diz na boca popular da sabedoria: tarde
da noite não é hora de quem é do bem estar no olho da rua.
Com imenso discernimento, o apóstolo Paulo escreveu aos
romanos e, criando uma metáfora, disse: “Vai alta a noite
e vem chegando o dia; deixemos as obras das trevas e nos
revistamos do Senhor Jesus”. Ele associa o avançar da noite
com as obras das trevas, e o raiar do dia, ao Senhor Jesus. É
isso, estamos nos aproximando da meia-noite da história;
as trevas cobrem a face da terra, a maldade sai do seu
esconderijo e invade as ruas, as casas, os relacionamentos,
a inocência infantil, e nada a detêm. Ao vivo, em tempo
real, sob o olhar de muitas câmeras, a violência campeia.
Pais contra seus filhos, e filhos batendo em seus pais;
assaltos, arrombamentos, gritos, blasfêmias, corrupção,
leviandade. Como bem disse o apóstolo: Os últimos dias
serão difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos,
presunçosos, jactanciosos, arrogantes, desafeiçoados,
inimigos do bem, cruéis, desobedientes aos pais, e todo
tipo de ruindade. Com um perfil desse caracterizando a
humanidade, não é mesmo de se estranhar que as coisas
caminhem em decomposição progressiva e irreversível, e
179
impressões 2
de forma insuportável. O Senhor Jesus Cristo preveniu
aos seus discípulos a respeito das coisas do fim, e traçou
um quadro dantesco, dramático e assustador. Ele disse
que os seus servos deveriam orar e vigiar, para que os
horrores daqueles dias não os apanhassem como um laço
pega um pássaro desatento. Em resumo, e não há dúvidas
quanto a isso, vai alta a noite, ou seja, nos aproximamos
do fim, e já colhemos os frutos amargos dessa árvore
mortal; já aspiramos o ar pesado e poluído da ambiência
de morte que, como orvalho, cai sobre nossas cabeças. O
que nos resta como consolo e esperança é certeza de que
as palavras proféticas e as promessas de que o Salvador
voltará para buscar a sua igreja, a sua noiva para as bodas,
não falharão, como nenhuma de suas promessas antigas
falhou. Assim, como eleitos amados que somos, devemos
aguardar a qualquer momento o som solene da voz que
anunciará: “Eis o Noivo, saí ao seu encontro”.
180
impressões 2
Um Natal sem Presentes
Mais um ano chega ao fim; mais um dezembro que
nos é dado; Natal. Natal que chega em outubro, quando
a Prefeitura e o CDL resolveram decorar as ruas, praças,
avenidas, lojas e shopping centers com milhões de luzes,
bolas, arcos, pendentes, árvores, sinos e todos os adornos
característicos da época. Muda o cenário das ruas, muda
o ritmo das músicas, as cores das roupas, o volume do
trânsito e dos engarrafamentos, e as colmeias humanas:
gente esbarrando em gente, freneticamente em busca
da melhor oferta, da promoção da hora. Os cartazes
aumentam de tamanho, anunciando o imperdível,
com letras gigantes dando, e letrinhas miúdas embaixo
tomando. Todo ano é a mesma coisa. Decidi sair às ruas
certo dia, não para comprar alguma coisa, mas apenas
para observar. Quando se sai do circuito e fica-se em um
“posto de observação” é que a gente esbarra na crua e
182
impressões 2
dura realidade. É chocante. De um lado da história as
pessoas caminham apressadas, solitárias ou no máximo
em dupla, ansiosas, nervosas, tensas, semblantes fechados,
visivelmente sem se perceberem, conquanto esbarrem
umas nas outras. A sensação que se tem é de que são robôs,
mecanismos programados, com um chip ativado na mente,
piscando e dizendo: “Comprar, comprar, comprar...”.
Em contrapartida, vi outras pessoas igualmente agitadas,
da mesma forma programadas para impulsionar suas
vendas, gente treinada para convencer aos outros de que
precisam comprar aquele produto, como se, aquilo não
acontecendo, um cataclismo de proporções universais
acontecesse. Uma febre, um enxame, um estouro de
boiada. Gente encurvada pelo peso das sacolas, filas e
mais filas nos caixas, taxis em bandeira 2 alucinados para
darem conta de tanta gente que vai e vem. Vendo de fora
é algo surreal. Mas voltei os olhos para o outro lado, virei
a página e me assustei ainda mais. Há um outro universo,
um outro mundo, uma outra espécie de vida caminhando
paralela a essa, sem se encontrarem; Uma realidade
descolada e avulsa, tão próxima e tão distante ao mesmo
tempo. Pisando as mesmas pedras, caminhando nas
183
impressões 2
mesmas calçadas, ocupando os mesmos espaços, milhares
seguem na contra mão da sociedade. São miseráveis que
não partilham do banquete do rei. Mal têm o que comer
e o que vestir e vivem, ou sobrevivem, indignamente,
sem teto, sem chão, sem esperança, sem expectativa do
amanhã. Cruzam o caminho dos apressados, mas estes
não os vêem; são invisíveis ou, quando percebidos,
um estorvo. Eles estão à volta, em multidão. Fazem
malabarismos nos semáforos, por uma moeda fria. Vão
às filas dos supermercados com um produto na mão
implorar que alguém o pague. Estendem a mão nas ruas,
em desespero, mas não há resposta. Um dia desses eu
andei a pé pelas ruas do centro, na madrugada, e vi uma
cidade que a maioria não vê. Carros não param de transitar,
jovens e adolescentes zanzam aos bandos, indo e vindo
de festas e baladas, bêbados e drogados se encostam nas
esquinas para vomitarem seu vício. Travestis e prostitutas
se exibem escandalosamente nas pontas das ruas, e carros
de luxo param para recolhê-los. Famílias inteiras: pai, mãe
e reca de filhos dormem quietos debaixo de pedaços de
papelão, sob marquises. O que pode significar Papai Noel,
sinos, guirlandas, trenós, pinheirinhos e canções festivais
184
impressões 2
para essa gente? Eles já estão mais que acostumados a
curtir um Natal sem presentes, sem calor, sem alegria,
sem amor. Do meu posto de observação vejo que Natal
para esses, assim como para aqueles, é um evento social
cuja razão reside em ter ou não ter; poder ou não poder.
Vejo que ambos estão fora do foco. Natal não é ter ou
não ter presentes, poder ou não comprar um presente em
uma loja. O Natal é o presente. O maior presente. Jesus, o
Salvador, nasceu. Quem a ele recebe, encontra vida, amor,
esperança e paz.
185
impressões 2
Um perfil admirável
A história bíblica é feita e recheada de personagens dos
mais variados perfis. Muitos foram os que se notabilizaram
por feitos escusos e muito feios, deixando na história
um rastro de maldades e um exemplo a ser evitado.
Outros, ainda, conseguiram se estabelecer em um meio
termo, do que é chamado de senso comum, passando a
figurar apenas na lista de uma árvore genealógica, sem
maior influência ou relevância para os anais da existência
humana no planeta. Mas há aqueles também que marcaram
positivamente os seus nomes nos livros de historia, pelos
fatos e atos maravilhosos que protagonizaram, deixando
para a posteridade o bom perfume de um grande exemplo
a ser imitado. Deixe-me esboçar aqui nestas poucas linhas
o perfil de alguém que deixou o seu nome na galeria dos
homens que jamais serão esquecidos, para ver se você
consegue descobrir quem é até o fechamento deste texto.
188
impressões 2
Quero lhe apresentar um homem, um líder respeitado
em sua comunidade de origem e que, pelo destaque e
relevância de sua liderança, foi chamado por Cristo para
ser seu discípulo. Eram muitos os seguidores que cercavam
Jesus naqueles dias, bem como muitos interessados e
interesseiros, mas a princípio o sábio Mestre pôs os olhos
em apenas doze homens especiais, a quem decidiu treinar
pessoalmente, gastando com eles grande parte do seu
ministério terreno. Passados alguns meses de treinamento
intensivo, viu o Mestre Jesus que aquele grupo daria conta
do recado, o mais sublime recado, a mensagem celestial
da salvação. Em certo dia, chamou-os à parte e deulhes o nome de Apóstolos, impondo sobre todos eles as
suas divinas mãos; ou seja, aqueles que representariam
a igreja da Nova Aliança; aqueles cujos tronos já estão
reservados diante do Trono e do Cordeiro, a saber, doze
tronos, onde se assentarão os seus doze apóstolos. Viram?
Dentre tantos e tantos discípulos, ele separou doze e lhes
concedeu a autoridade profética de serem seus apóstolos,
de quem toma o nome toda a igreja. Seguindo um pouco
mais, no meio desse grupo seletíssimo ele, Jesus, se deu ao
luxo de reservar espaço para um grupo ainda mais seleto,
189
impressões 2
com quem partilhou momentos extraordinários, longe
da presença dos demais. E na equipe ministerial daquele
que foi o mais nobre de todos os grupos de liderança da
história, Jesus escolheu um, a quem entregou o que na
época era a tarefa de confiança. Esse a quem me refiro,
andava do seu lado direito e tinha o respeito de todos os
seus colegas de apostolado; o homem acima de qualquer
suspeita, o homem de confiança do Mestre. Como os
demais, este foi treinado e provado pelo Supremo Mestre
em todas as áreas de seu discipulado; ele foi enviado às
ovelhas perdidas da casa de Israel; seguiu com o grupo
por aldeias e cidades pregando o Evangelho do Reino e
a salvação em Jesus, curou enfermos, expeliu demônios e
todas as demandas da mensagem do Reino dos céus. Posso
assegurar que este de quem falo foi tremendamente usado
por Deus em seu ministério, juntamente com os onze
apóstolos. Em um dos momentos mais emblemáticos de
toda a vida terrena de Jesus ele estava lá; aliás, mais do que
isso, ele estava no lugar de maior destaque e significativa
intimidade. Esse momento era a soleníssima e sagrada
Santa Ceia do Senhor, que significa a nossa união com
Ele. Foi o próprio Cristo quem definiu: “Quem de mim
190
impressões 2
se alimenta, por mim viverá”. Esse líder estratégico teve a
liberdade e honra de, além de participar desse momento
Eterno, ser aquele que, pela intimidade, meteu a mão no
prato de Jesus. A vistas nuas, um perfil maravilhoso que,
talvez, o escolhêssemos para ser nosso representante,
mas esse tal era Judas Iscariotes, que traiu a Jesus. Deus o
escolheu com um propósito, mas, para nós, as aparências
enganam e servem para nosso aprendizado e postura mais
criteriosa em nossas escolhas.
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impressões 2
Um robô no púlpito
Recentemente, em viagem a outro Estado, durante
um vôo, peguei uma das revistas de bordo e comecei a
folhear, sem muito interesse. Lá pelas tantas, no meio da
revista, os meus olhos foram atraídos para uma matéria
mui curiosa, começando pelo título: “Agora eles pensam,
reagem e sentem”. Era um artigo sobre a robótica avançada
(ciência e técnica da concepção e construção dos robôs).
Num último salão de amostragem científica e tecnológica,
realizado no Japão, foram apresentados ao público os
mais novos robôs. Impressionante aparência humana, em
assustadora perfeição de detalhes, com cabelos naturais,
com pele desenvolvida em laboratório, a partir da textura
da pele humana, com micro poros e pêlos exatamente
como os de um ser humano, inclusive o controle de
temperatura e alterações da tez nesses intervalos. Por
dentro, bilhões de circuitos integrados proporcionam um
194
impressões 2
movimento cada vez mais livre da rigidez característica
de uma máquina, criando manejos sutis, próprios de
uma pessoa de carne e ossos. Em seu cérebro eletrônico,
um hardware poderosíssimo de altíssima complexidade,
contendo zilhões de informações em micro-chips,
sobre os meandros mais específicos do comportamento
humano, como, por exemplo, mapas de cadeias genéticas, e
resultados recentes do que há de mais avançado no campo
psico-cibernético. De modo que um desses protótipos se
mostrou capaz de esboçar, “por si mesmo”, um ar de riso,
com o característico fungar de nariz, ao ver pela TV um
anúncio de produto à venda, com tom jocoso e hilário.
Ou sutilmente descair o semblante ante uma notícia triste,
sem que ninguém manipulasse um controle remoto. O que
os seus idealizadores divulgaram é que eles estão sendo
programados para tomarem decisões ante as demandas
que lhes forem apresentadas, sem ativação imediata de um
operador, como, por exemplo, ao verem uma pessoa em
dificuldade de atravessar uma avenida movimentada, ele,
o robô, fazer essa leitura rapidamente e agir, como um ser
humano faria. É passado, o tempo em que esses aparelhos
apenas pegavam objetos, sob o comando de um joystick,
195
impressões 2
se movimentando pra lá e pra cá sobre uma esteira rolante,
com luzinhas piscantes e voz metalizada, saída de uma
caixa, com frases curtas e pré-programadas para coisas
específicas, como uma boneca que diz: “mamãe”; “brinca
comigo”; “me põe pra dormir”. Os robôs inteligentes
atuais articulam a fala, interagem, demonstram sinais
de emoção, embora sejam programados, como uma das
demonstrações feitas desses humanóides: Uma pessoa
bate à porta de um apartamento, e uma linda senhora
vai atender, caminhando sem rigidez, como uma pessoa.
Abre a porta, sorri gentilmente, estende a mão para o
cumprimento, e chama o visitante pelo nome. É certo que
em seus chips há o registro como contato daquela pessoa,
com imagem e nome, e o sensor de presença ativa aquela
“memória” e determina a ação. É impressionante, não?
Mas isso não é mais ficção, nem imaginação dos cineastas,
é realidade. Com o avançar veloz da ciência eletrônica e
as leis da informática, disponíveis à robótica, como eles
mesmos afirmam, em pouquíssimo tempo estaremos
em dificuldade de identificar um ser humano, ante uma
dessas máquinas. Elas estarão em escritórios, lojas, lugares
públicos, vendendo ou comprando coisas, interagindo
196
impressões 2
conosco, como profetizaram os filmes de Hollywood.
Dentre tantos, destaco aqui: “Eu, robô”. Um filme que
conta do envolvimento de uma dessas máquinas com
os seres humanos, em nível de intimidade, até chegar ao
ponto de a máquina se emocionar e chorar, comovida.
Ufa, que viagem! Já imaginou daqui a uns tempos
um robô no púlpito? Mui bem programado, teologia
definida por computador, segundo melhor a sua liderança
escolher, postura impecável, eloquência irreparável,
administrador incontestável, incansável, perfeito... Que
igreja não queria ter o seu? Ele não teria salário, e sim suas
baterias recarregadas; não usaria uma casa pastoral, mas
apenas seu armário pessoal; nem teria mandato, apenas a
conveniência do seu uso, antes do próximo upgrade. S-en-s-a-c-i-o-n-a-l!!!
197
impressões 2
Uma folha amassada
Certo dia, tomei uma folha de papel em branco, um
lápis grafite, e uma idéia fixa na cabeça. Tentei lançar nele
as minhas idéias e impor naquele espaço os meus quereres,
a qualquer custo. Mesmo sob teimosa insistência, nada
ficava como eu queria e tudo fugia ao meu agrado. Sem
cerimônias, a princípio, dobrei a folha em duas, quarto,
oito partes, muitas partes, e, ainda não satisfeito, comecei
a amassá-la com força, formando uma pequena bola. Por
absoluta falta de propósitos e completa culpa, comecei a
comprimir ainda mais a pequena bola de papel, e torná-la
ainda menor, deixando-a bem distante da singela folha.
Alguns instantes depois, no entanto, como um raiozinho
ligeiro, uma frase daquilo que havia sido escrito e descartado
veio à memória como algo exponencial merecedor de
nova reflexão e posterior exploração. Iniciei o resgate,
primeiramente tentando encontrar uma das pontas da
200
impressões 2
antiga folha – agora bola de papel, o que não estava
fácil. Aos poucos fui desfazendo o bolo, na esperança de
devolver a sua forma original, ainda que não plena. Eu
estava arrependido, não havia outras folhas como aquela,
e eu precisava muito do recurso. Abri parte a parte em suas
múltiplas desdobras, e em quase desespero percebi que
havia inutilizado aquela ferramenta, diante de tantas covas,
corcovas, vincos e sulcos picados. Não imaginara ser tão
grave a agressão que praticara; nenhum outro processo
natural modificaria aquelas cicatrizes, ainda que com
muitas tentativas. Não perdi a oportunidade e entregueime à reflexão: De posse de alguns centavos e numa curta
caminhada será possível adquirir uma nova folha igual
àquela para uma nova jornada literária; estará resolvido o
problema. Nos relacionamentos interpessoais, no entanto,
não é assim que funciona. Em primeiro lugar: Muitíssimas
vezes mais que de uma folha de papel, nós precisamos
sempre de alguém como suporte e auxílio para o nosso
crescimento e desenvolvimento do caráter e de nossas
potencialidades. Em segundo lugar: Diferentemente de
uma folha de papel, não podemos descartar as pessoas,
pelo fato de não entenderem o nosso projeto. Em terceiro
201
impressões 2
lugar: Assim como uma folha amassada não perde nunca
as cicatrizes, da mesma forma a alma das pessoas enruga
em função dos machucados de palavras e gestos sem
amor a ela dirigidos. E em quarto lugar: É fácil e lícito
comprar uma nova folha de papel; uma pessoa, jamais.
Use e descarte as coisas; ame e acolha as pessoas. Deus se
agradará disto.
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impressões 2
Uma odisséia na igreja
Acordei cedo, certo dia e, pelo calendário, percebi que
era domingo, dia de ir à igreja. Havia algo sinistro no ar,
não sabia explicar. Não estava dormindo, mas parecia
sonho. Olhei pela janela e não reconheci nada do que vi.
Os ângulos das ruas eram os mesmos, mas absolutamente
nada me lembrava o lugar da minha habitação. Perplexo,
intrigado e confuso, vesti-me apressadamente, apanhei os
meus óculos que jaziam sobre o móvel da sala e desci
alucinadamente as escadas dos dois andares que ficavam
abaixo do meu apartamento. Já lá fora, mal conseguia
respirar e os meus olhos se esqueceram de piscar. Em que
mundo estou? A primeira impressão era de que eu estava
dentro de um avançado computador com seus chips e
comandos eletrônicos, ou de um moderníssimo videogame
interativo. Tudo parecia Hi-Tec, uma experiência
vídeo-eletrônica, a julgar pelo piscar característico das
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impressões 2
luzinhas nas vitrines e letreiros das lojas, e a disposição
da iluminação pública, se é que podemos chamar aquilo
de iluminação... Era algo branco pálido e não se sabia de
onde vinham os fachos de luz; algo que dava ao ambiente
um aspecto cósmico-galático. As pessoas usavam roupas
estranhas e de um material que não pude identificar. Não
dava para reconhecer quem era homem ou mulher e não
se percebia criança em parte alguma. A grande maioria
usava um estranho aparelho de metal de um lado da
cabeça ligado por um fio à cintura, e caminhavam todos
em passos apressados sem se perceberem. Não havia
música nem carros. Procurei informações à volta, mas
não sabia acessar nada, tudo era digital e complexo. Além
do mais, não tive coragem de me aproximar de ninguém,
pois parecia não me notarem. Em passos tímidos e
cautelosos, dobrei a primeira esquina e segui desconfiado.
Lembrei-me que havia uma igreja a três quarteirões dali;
pelo menos aquele era o endereço. Aproximei-me e
percebi que, embora absurdamente diferente, ainda era
uma igreja. Fui entrando ao que parecia uma porta ou um
portal e fui barrado por um sistema invisível de segurança.
Uma voz digitalizada pediu que eu colocasse a minha mão
205
impressões 2
sobre uma tela negra de cristal líquido, e em segundos,
com uns barulhinhos, surgiu na tela uma ficha extensa
com uma foto do meu rosto. O acesso foi permitido. Não
havia suntuosidade no ambiente, nem inspirava devoção,
mas tudo era muito funcional e confortável. As poltronas
eram todas de encosto muito alto, não se permitindo
ver quem estava à frente e muito pouco quem estava do
lado. Por toda parte, inclusive nas poltronas, telas de alta
resolução transmitiam a calma programação, e o som de
alta performance só se ouvia através de fones de ouvido
especiais dispostos em cada um dos assentos. Não havia
celebrantes e, ao que parecia, programações diferentes
eram transmitidas individualmente. Coloquei os meus
fones e ouvi a mensagem daquele dia, cujo tema era: “Jesus
Cristo é o mesmo ontem, hoje, e o será para sempre”. Isso
encheu o meu coração de fé e alegria. De repente, ouviuse um grito, uma voz a me chamar. Acordei do sonho.
Suspirei, sorri e pensei: será que será assim?
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impressões 2
Unreality show
Assim que foram lançados os primeiros programas na
televisão brasileira com esse formato “casa de vidro”, em
que as pessoas podem ser vistas enquanto se relacionam,
pensei comigo: isto não vai dar certo, ninguém vai perder
o seu tempo assistindo a bobagens. Mas com a chegada
dos dias, todos os índices de audiência foram sendo
batidos e as redes de TV perceberam achar o filão. Os
episódios viraram série e febre dos horários nobres da
telinha. Confesso que, diante da curiosidade de ver tantas
pessoas correndo para um mesmo lugar, parei certa vez
para ver o que acontecia em uma dessas casas. Para minha
surpresa, não era bem do jeito que a minha ignorância
julgava: um poço de mediocridade, antes era muitíssimo
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pior. Pasmei ante o insano, o desperdício de vidas
humanas. Tanto as que produzem e representam, como
as que consomem. Deixe-me considerar algumas coisas,
pelo menos duas dos muitos aspectos que merecem ser
abordados sobre esta questão. 1) Deveria nos encher
de vergonha a imposição e manipulação da cultura
americana sobre a nossa gente que, subserviente, deixa
de aplaudir os seus heróis e honrar a sua história, para
cultuar e enaltecer a cultura de um povo que nos olha de
cima para baixo, como réles mortais, meros pedintes de
uma sub cultura desinformada e inferior. Quem tem uma
TV por assinatura sabe que a grandessíssima maioria dos
programas estreados pelas emissoras brasileiras é uma
adaptação dos programas americanos, até nos cenários.
Tudo o que eles fazem parece o máximo para o nosso
povo. E o que dizer dos estrangeirismos em dilúvio que
avassalam a nossa língua? Em todos os lugares, sejam
lojas, bares, mercearias, ou anúncios de qualquer natureza,
nomes próprios, lá estão as expressões em inglês, ainda
que poucos saibam o que significa. Será que algum dia
você vai ver um jornalista americano entrevistando um
brasileiro, em português? É preciso dar um basta e abrir
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os olhos. 2) A pós-modernidade está levando o homem à
falência intelectual ou pelo menos a uma certa regressão
psíquica, um adormecimento mental. Não há espaço
para a reflexão, meditação e introspecção. A pressa tem
levado as pessoas a desejarem o pronto e o rápido - a
mentalidade fast-food do que acabamos de comentar.
Eis por que a indústria do entretenimento é a que mais
cresce em todo o mundo. Os efeitos da globalização
em um mundo pós-moderno estão dizendo às pessoas:
anestesiem a sua mente, fujam da realidade, entorpeçamse, invistam no humor e no alívio paliativo. A angústia que
já se abate sobre a face da terra e os rumores funestos dos
dias vindouros têm levado pessoas velhas e jovens a se
acotovelarem nos corredores dos shoppings em busca de
recreio, também nas casas de massagem, praças, calçadões
e salas de vídeo. Fuga, simplesmente fuga. Muitos querem
fugir da reality e incrivelmente vêem-se flechados e
sedados na frente da televisão a sorverem do mundo
fictício e alienante dos reality shows, sem que possam se
defender. É o descalabro, um culto à mediocridade, uma
afronta à inteligência, um curso prático de imbecilismo. Se
é por falta do que fazer, eu recomendo a prática de uma
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boa leitura e meditação em coisas eternas e duradouras:
as páginas das Escrituras Sagradas que podem nos fazer
sábios para a vida e preparados para toda boa obra. Em
vez de poluir a mente com erotismo barato e frivolidades,
por que não tomar o conselho sensato do apóstolo Paulo:
Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que
é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o
que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor
existe, seja isto o que ocupe o vosso pensamento.
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Vaidade vã e fugaz
Dizem as más línguas que Eva, ao ser tentada no
Éden, pela serpente encantada, resistiu firmemente até
quando pôde, ante os ataques do inimigo, e enquanto
estes se deram no campo teológico e espiritual; mas
quando veio a facada pessoal, a coitada se rendeu.
Dizem que a serpente argumentou, mostrando que se ela
comesse da fruta, os seus olhos se abririam, e ela teria
todo o discernimento espiritual, como o próprio Deus.
E ela disse não. A condenada tentou seduzi-la também,
dizendo que se comesse do fruto, passaria a conhecer
o bem e o mal e dominar toda a ciência. Mas ela disse
não. E assim foram muitas tentativas inúteis. E quando
a “bicha” viu que não conseguiria enredar aquela forte
e segura mulher com as coisas da fé, atacou com um
argumento irresistível: Disse a serpente: “Come, boba,
emagrece!”. E Eva, sem pestanejar, comeu, gulosamente.
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Pode um negócio desse? E o que ela deve ter dito a Adão
sobre os poderes da fruta eu não quero nem comentar
aqui. Imagine você mesmo. Claro que isso é uma piada,
não é? Talvez até meio sem graça; ou ainda inadequada a
um boletim dominical de uma igreja histórica; ou ainda
mais imprópria, por se tratar de um tema religioso, com
personagens bíblicos; ou mais grave ainda, como alguém
poderia se escandalizar, brincar com as coisas de Deus. E
eu sou obrigado a concordar e me submeter à censura e
reprovação dos criteriosos e apologistas. Mas antes de me
crucificarem, deixem-me fazer uma perguntinha básica:
E se essa brincadeirinha “descabida” for apenas uma
maneira jocosa e ilustrada de revelar uma verdade grave
e devastadora? Por favor, não fechem o filtro, leiam com
calma e atenção até o fim. Estamos no ano de 2011; o
sistema de vida que escolhemos, ou que acatamos, nos
traz muitos benefícios e comodidades, mas também
consequências letais; a explosão da ciência e da tecnologia
nos trouxe tantos recursos, em tão pouco tempo de
história, que não estamos dando conta de administrar
a avalanche de novidades. Dentre as muitas indústrias
que fervilham no mundo para aquecerem o apetite
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humano, algumas foram catapultadas velozmente para o
topo das exigências, pelo grito das demandas sociais: a
indústria dos medicamentos (Com toda modernidade à
disposição, o stress está matando o homem por dentro,
em sua agonia); a indústria do entretenimento (A angústia
que açoda o homem moderno o está empurrando para o
lazer, como escape para a sublimação, ou não suportará
a pressão); a indústria cosmética e estética (A tecnologia
informou ao homem moderno que não há limites para
o seu voo rumo à imortalidade). Falando somente de
Brasil, se você não sabe ainda, somos o país número um
do ranquin dos que mais consomem produtos de beleza,
à frente dos Estados Unidos, Alemanha e França – nessa
ordem. Cem por cento dos shoppings trazem 90% de
produtos relativos à beleza e aparência: roupas, calçados,
acessórios, perfumes e supérfluos diversos. Em vinte anos,
centuplicou a quantidade de academias, clínicas estéticas,
casas de massagem, bem como os serviços oferecidos
para o tratamento de pele e capilar, com os nomes mais
criativos e curiosos. Cremes, sabões, banhos e poções
mágicas, vale tudo quando se destina ao rejuvenescimento
da pele e melhoria da aparência. E quando a química não
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cumpre sua promessa, o bisturi entra em cena. Nunca se
procurou tanto clínicas de reparos físicos; hoje, corrige-se
tudo, a partir de simulações computadorizadas. Homens
e mulheres querem mostrar-se sarados e na moda, usando
o corpo como vitrine. Como a moda desse tempo é de
homens musculosos e de sobrancelhas feitas (cruz credo),
já estamos vendo servos de Deus orando ao Pai para que
lhes dê discernimento para decidir que clínica procurar;
e irmãs queridas, servas piedosas, angustiadas querendo
fazer aquela plástica reparadora, para deixar tudo em cima
(eu pergunto: em cima de que?). Muitos vendem a alma a
satanás, fazem qualquer negócio em favor do que chamam
de auto-estima; para não se verem fora da moda, fora do
padrão mentiroso que o mundo apresenta. Muitos estão
mais preocupados com as rugas, as peles caídas, os cabelos
brancos, os sinais do tempo (que deveriam ser celebrados
com gratidão a Deus), do que com a saúde integral: moral,
emocional e principalmente espiritual. Satanás continua
querendo enganar os homens, oferecendo-lhes frutos
atraentes, para afastá-los do principal, que é a obediência a
Deus. Pense nisso. (eu sei que ranquin se escreve Ranking).
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Viver ou morrer
A vida é um precioso dom de Deus e não pode ser
desperdiçada em um só segundo. Cada novo dia que
recebemos é um valioso presente que dura somente até
à hora de dormir. Se bem usarmos esse talento, mui bem
será; se o negligenciarmos, que desperdício tremendo.
E o pacote desse dom vem completo e se apresenta
rigorosamente igual para todos: O mesmo sol nasce e
se põe sobre todos; as possibilidades se renovam a cada
manhã para todos; a vida que pulsa exuberante é de todos.
Da mesma forma, a maldade presente na terra, em forma
de opressão, acorda ao lado de cada um de nós todos os
dias, de modo que viver bem é uma escolha. Seguem aqui
alguns conselhos básicos para a sua meditação: Decida
sorrir mais, relaxar ante as muitas pressões que são impostas
sobre você o dia todo. O bom humor é remédio certo para
a sequidão da vida no planeta. Você não vai conseguir
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dar conta de tudo e agradar a todos ao mesmo tempo.
Querer desempenhar um papel de salvador do mundo e
manter uma performance impecável de quem não erra,
o tempo todo, é comprar doença emocional, pois todos
somos falhos e limitados; ninguém vai conseguir viver sem
tropeçar. Observe mais os detalhes das coisas, perceba o
que está em volta do que se encontra no centro, saia do
lugar comum, mude de janela, desvie o foco, abstraia-se,
arrisque-se de vez em quando, prove algo novo, converse
com uma criança, ouça uma história de um velhinho, pare
em um lugar belo e fique quieto ouvindo os sons, observe
os passos das pessoas e medite, dê ordens à sua mente
para que se aquiete, busque em sua memória lembranças
boas, retenha só que for bom, jogue fora todo o que for
estorvo e não lhe traga edificação, durma mais, ouça mais
música, ponha o pé no chão, corte as unhas você mesmo,
de vez em quando presenteie você mesmo, não tenha
medo de ser ridículo aos olhos de alguém só porque você
está feliz, relembre os seus sonhos ao amanhecer, coma
bem, abrace mais, beije, converse com amigos sobre os
seus medos e sonhos, colha uma fruta no pé, promova e
cultive amizades, ore mais, seja mais crente, desenvolva a
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sua salvação, veja o sol se pôr mais vezes, curta uma lua
cheia, faça elogios sinceros, leia mais a Bíblia, se possível,
evite o centro da cidade, planeje melhor o seu dia, a fim
de sobrar tempo para os seus cuidados pessoais, doe o
que você não usa, compre somente o que você realmente
precisa. Evite ficar ansioso, não sofra antecipadamente
por nada, dê sentido às coisas, gerencie com zelo as
suas emoções, alimente sua mente com boas leituras,
aprenda algo novo, não deixe ninguém manipular seus
pensamentos e vontades, não manipule, aprenda a dizer
não com classe, mas não faça o que realmente não quer,
desafie os seus medos, cresça, não estacione, mude seus
itinerários, aprenda com os erros dos outros, seja elegante,
admita que perdeu, construa em sua mente a vívida idéia
de que cada segundo vivido contém um valor inestimável
e não volta mais; valorize cada gesto, cada palavra, cada
sentimento que perpassar sua existência. Para a sua saúde
integral, faça essas coisas, ou morra.
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Aguçar o olhar para perceber
e traduzir os sinais que a vida
nos apresenta; deixar de lado
a correria do dia-a-dia para
exercitar nossa capacidade de
observação e reflexão sobre
fatos que nos rodeiam; ativar
memórias, lembrar da infância,
reviver cheiros, imaginar o
futuro; enfim, viver sem perder a
poesia. Este é o convite que o
autor Itamar Bezerra faz através
do livro Impressões 2 - contos e
crônicas para rir e chorar, ler e
pensar. Cronista por excelência,
Itamar descreve experiência
pessoais e marcantes ao longo
de sua vida com a mesma
clareza e sensibilidade com
que analisa acontecimentos
do cotidiano. Junto com ele,
embarcamos na maravilhosa
aventura de celebrar o prazer da
existência.
O livro Impressões 2 – Contos e crônicas para
rir e chorar, ler e pensar... é como o próprio título
sugere: um convite à reflexão sobre a vida, as
relações, a igreja, a família, e tudo o que cerca
a estrada que trilhamos. O texto de Itamar
Bezerra é recheado de lirismo e poesia; a sua
prosa é rica em metáforas e de uma simplicidade
cativante. Ele reparte conosco, com extrema
sensibilidade, suas impressões sobre fatos,
situações, falas e marcas dos rastros deixados
por nós, à medida que seguimos nossa trilha.
Impressões 2 é mais que uma experiência
literária; é um passeio fora da cidade, como
filosofa o próprio autor.
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