VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA DE ALUNOS COM PARALISIA CEREBRAL Michele Oliveira da SILVA1 Eduardo José MANZINI2 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília Apoio: Proesp/ Capes; Cnpq 1 INTRODUÇÃO Na área da Educação Especial, tão importante quanto avaliar as necessidades e capacidades dos alunos é utilizar os dados da avaliação para elaborar um planejamento acadêmico com finalidades pedagógicas que vão ao encontro das suas características (CURTO; MORILLO; FEIXIDÓ, 2000; CORREIA; TONINI, 2012). Nesse sentido, a avaliação não é um processo desvinculado da intervenção, mas um processo que a antecede (MANZINI, 1999). No entanto, estudos indicam que professores da Educação Especial não têm vinculado a avaliação dos alunos à elaboração do planejamento acadêmico. Sobre esse assunto, Jesus e Aguiar (2012) identificaram que professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) concebiam a avaliação pedagógica desarticulada da intervenção e, por isso, não consideravam seus dados como preliminares para elaboração do planejamento pedagógico. Resultados similares aos encontrados por Milanesi (2012). O autor identificou que a avaliação realizada pelos professores especializados das salas de recurso de um município paulista tinha como principal finalidade a elaboração de relatórios para a coordenação da escola sobre o desenvolvimento do aluno, sem que, necessariamente, os dados também fossem utilizados para elaborar o planejamento acadêmico. Tanto na pesquisa de Jesus e Aguiar (2012) quanto na pesquisa de Milanesi (2012), as pesquisadoras identificaram que a avaliação não era sistematizada entre os professores, e que, portanto, cada profissional avaliava utilizando seus próprios recursos e estratégias. Em relação à avaliação sistematizada, Silva e Manzini (2011a) indicaram que o uso de um instrumento padronizado de avaliação auxiliou os pesquisadores na avaliação de uma aluna com paralisia cerebral. Os resultados da pesquisa indicaram que os dados da avaliação foram utilizados na elaboração de um planejamento acadêmico que contemplou a indicação de objetivos pedagógicos e adaptação de recursos. Além disso, dois estudos posteriores, um com análise qualitativa e outro com análise quantitativa, indicaram que o uso do instrumento padronizado auxiliou os participantes na avaliação de seus alunos com deficiência física. No estudo qualitativo (SILVA, MANZINI, 2010), a análise do conteúdo de dez avaliações realizadas por estudantes da área da Educação Especial indicou que, sem a utilização de um instrumento padronizado, houve avaliações parciais, como, por exemplo, uma avaliação que identificou a dificuldade do aluno para escrever, mas não especificou se a dificuldade era relacionada ao acesso do material pedagógico ou ao nível de escrita do aluno com deficiência 1 Pedagoga, Mestre e Doutoranda em Educação, UNESP (Marília), bolsista CNPq, e-mail: [email protected] 2 Livre-docente em Educação e docente da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP (Marília), e-mail: [email protected] 3670 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X física. No estudo quantitativo (SILVA, MANZINI, 2011b), os pesquisadores identificaram que o total de habilidades avaliadas pelas participantes, sem o uso de nenhum instrumento de avaliação, variou entre quatro a dezoito habilidades em comparação com um total de cento e quatorze questões avaliativas do instrumento padronizado. Os resultados das pesquisas citadas anteriormente, por um lado, indicam que os professores que não têm realizado uma avaliação sistematizada têm tido dificuldades para avaliar o aluno e considerar os dados da avaliação na elaboração de um planejamento pedagógico. Por outro lado, os resultados das pesquisas cujos pesquisadores utilizaram um instrumento padronizado de avaliação indicaram que o uso do instrumento auxiliou o professor na avaliação dos alunos e na elaboração do planejamento pedagógico. Assim, questiona-se, será que o uso de um instrumento de avaliação padronizado poderá auxiliar o professor com formação na área da Educação Especial na elaboração do planejamento pedagógico para alunos com paralisia cerebral? Desse modo, o objetivo do presente estudo foi avaliar alunos com paralisia cerebral com o uso do instrumento intitulado de Avaliação Sistematizada para Professores de Alunos com Paralisia Cerebral (ASPA-PC) (SILVA, no prelo) e indicar um plano de ensino. 2 MÉTODO Os alunos participantes dessa pesquisa foram avaliados com o uso do ASPA-PC. As avaliações foram filmadas e posteriormente analisadas. A partir da análise, os dados foram categorizados em: 1) áreas de habilidades; 2) áreas de intervenção e 3) acessibilidade dos recursos para a escrita. A partir dessa categorização foi possível elaborar um plano de ensino para cada aluno avaliado, como descrito nos resultados do atual estudo. 2.1 Participantes da pesquisa, local da avaliação e aspectos éticos Participaram desta pesquisa três alunos diagnosticados com paralisia cerebral matriculados em uma sala especial no Ensino Fundamental. Para contextualizar o estudo, no Quadro 1, há uma descrição sobre a comunicação e a habilidade motora dos membros superiores de cada participante cujos nomes foram substituídos por letras (A, B e C) para preservar suas identidades. Quadro 1 – Características dos participantes Aluno A Comunicação Habilidade motora Oral sem Não há limitação motora aparente nos membros superiores, no dificuldade entanto, a execução dos movimentos ao manipular os recursos pedagógicos é bastante lenta. B Não falante Os membros superiores têm limitação motora. A mão direita é mais funcional do que a mão esquerda, com a mão direita ele consegue manipular recursos pedagógicos com a preensão em pinça. Ele aponta com o polegar e com o olhar. C Não falante Os membros superiores têm limitação motora grave, o que não permite que o aluno tenha autonomia para manipular qualquer recurso sozinho. Ele aponta com os dedos em flexão e com o olhar. Fonte: elaboração própria 3671 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X A avaliação foi realização individualmente, em uma sala disponibilizada pela diretora, na própria escola de Ensino Fundamental onde os alunos estudavam. O tempo de avaliação variou de acordo com cada aluno: aluno A (3h 04`00``), aluno B (1h 47`44``) e aluno C (2h18´00´´). Em relação aos aspectos éticos, pelo menos um dos responsáveis dos alunos assinou o termo de consentimento livre e esclarecido autorizando a participação deles na pesquisa. Houve o consentimento tanto da prefeitura municipal onde ocorreram as avaliações quanto da professora da sala. Além disso, o estudo foi enviado ao parecer do comitê de ética da Unesp (Marília) e foi aprovado com o número do protocolo 0134/2011. 2.3 Instrumentos Para avaliar os participantes foi utilizado o instrumento (ASPA-PC) (SILVA, 2103). O ASPA-PC tem o objetivo de avaliar as áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Sensorial, Contexto Social e Comunicação de alunos com paralisia cerebral matriculados nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Para o atual estudo foram considerados os resultados das avaliações nas áreas de Língua Portuguesa, Matemática e acesso aos recursos pedagógicos para a escrita. A estrutura do ASPA-PC está disposta em colunas que devem ser preenchidas da esquerda para direita, de acordo com a habilidade do aluno avaliado. Na primeira coluna há itens para avaliação que foram nomeados de perguntas avaliativas, ou seja, é a partir dessas perguntas que a habilidade será avaliada; na coluna intitulada de alternativas o avaliador indica se o aluno realiza ou não a atividade, para que em seguida, na coluna habilidades, o avaliador especifique a habilidade avaliada: para a resposta sim ou para a resposta não, sempre seguindo a alternativa escolhida. Para a resposta sim, o avaliador preenche a coluna do nível de dificuldade, ou seja, ele deve circular do número zero ao número quatro aquele que representa o nível de dificuldade do aluno em relação à execução da habilidade avaliada, sendo zero para nenhuma dificuldade e quatro para muita dificuldade. Se há dificuldade, o avaliador deverá especificar se é quanto ao conteúdo ou ao acesso do material e, em seguida, sugerir uma possível adaptação no recurso, no conteúdo ou na estratégia de ensino. Para a resposta não, o avaliador deve prosseguir a avaliação com o Caderno complementar. O Caderno de avaliação complementar avalia habilidades que antecedem a interpretação de figura a partir da sua silhueta, como, por exemplo, habilidade para identificar figuras, fotos e/ou miniaturas. O Quadro 2 traz um exemplo da estrutura do ASPA-PC utilizado para avaliar os participantes dessa pesquisa. Quadro 2 – Exemplo da estrutura do ASPA - PC Itens para avaliação Habilidades O aluno interpreta uma figura a partir da sua ( ) Sim Como o aluno realiza a atividade? ( ) sozinho, com os membros superiores. Com auxílio do avaliador: Nível de dificuldade: circule o número correspondente Nenhuma Muita 0 1 2 3 4 Se há dificuldade, indique: 3672 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X silhueta? ( ) indicando com o membro ( ) dificuldade quanto ao superior conteúdo ( ) indicando pelo olhar ( ) outra maneira. ( ) dificuldade ao acesso do Especifique:________________ material ( ) Não Utilize o Caderno de avaliação complementar. Caso necessite de adaptação, descreva: Fonte: Silva (no prelo) Além do instrumento de avaliação, foi utilizada uma filmadora e um tripé. 2.4 Procedimentos Os alunos foram avaliados no primeiro semestre de 2012. As avaliações foram filmadas e posteriormente, analisadas. Dessa maneira, antes de cada aluno ser avaliado, a filmadora foi posicionada em cima de um tripé e era acionada no início da avaliação. 3 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS A análise dos vídeos e a sistematização dos dados das avaliações indicaram: 1) a habilidade acadêmica; 2) as áreas que necessitavam de intervenção e 3) a acessibilidade dos materiais pedagógicos para a escrita. A partir dessa sistematização foi possível elaborar um plano de ensino para cada aluno avaliado. É importante salientar que tanto os dados da avaliação, quanto as sugestões de ensino foram entregues para a professora na forma de um planejamento acadêmico individual. Aluno A Na área da Língua Portuguesa foram identificadas as habilidades e as áreas que necessitam de intervenção, como mostra o resultado da avaliação no Quadro 3: Quadro 3 – Resultado da avaliação na área da Língua Portuguesa do aluno A Habilidade Áreas que necessitam de intervenção Alfabeto. Reconheceu todo o alfabeto, leu as letras em maiúscula; Identificação de embalagem. Reconheceu embalagens e contextualizou seu uso; Diminutivo/aumentativo. Classificou, sem dificuldade, as palavras no diminutivo e aumentativo. Escrita. Reconhecer as famílias silábicas ao invés de soletrar as letras do alfabeto, principalmente as famílias com encontro consonantal (bla, tra, cha). Estrutura de um texto. Identificar o tipo de texto através da sua estrutura, como, por exemplo: receita, poema, carta. Construir uma história a partir da sequência de figuras. O aluno não produz um texto usando figura. Ele não sabe iniciar um texto e não reconhece os elementos que ele contém, como, por exemplo, título e autoria. Pontuação. Não reconhece nenhum sinal de pontuação. Ordem alfabética. O aluno demonstrou não saber o seu significado. 3673 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Foi possível identificar que ele tem uma grande dificuldade motora para escrever, apesar de não ter limitações físicas aparentes nos membros superiores. Talvez seja esse o motivo da dificuldade na produção escrita e, consequentemente, na leitura, já que o uso do lápis realça suas dificuldades, o cansa rapidamente, o desmotiva e, consequentemente, faz com ele tenha dificuldade para concluir as atividades. O computador e o alfabeto silábico são acessíveis ao aluno. O lápis é acessível se usado por um período pequeno de tempo. Fonte: elaboração própria Acessibilidade dos materiais pedagógicos A partir dos dados da avaliação foi possível sugerir para o professor trabalhar com atividades que envolvessem sílabas com o uso do alfabeto silábico e não letras isoladas do alfabeto. Além disso, as atividades devem envolver frases curtas e de fácil compreensão, que exijam entonação do uso das pontuações. Nas leituras em sala, os conceitos sobre autoria e título do livro poderão ser abordados, primeiro, oralmente e depois para o aluno identificar individualmente, além disso, a leitura de diversos textos deverá abordar a estrutura textual da carta, da entrevista e do poema, por exemplo. Na escrita o professor deve revezar o uso computador que é um recurso acessível às características motoras do aluno, com o uso do alfabeto silábico e do lápis, desde que o uso do lápis seja considerado em atividades que exijam uma quantidade pequena de escrita. Na área da Matemática as características avaliadas foram: Quadro 4 – Resultado da avaliação na área da Matemática do aluno A Habilidade Sequência de números. O aluno contou até o número 30. Identificação gráfica dos números. Até o número 36 ele reconheceu sem dificuldade, com exceção do número 19, em que ele teve dificuldade para reconhecer; Quebra-cabeça. Montou sem dificuldade (com duas, quatro e oito peças); Horas. Sabe os horários com horas inteiras que fazem parte da sua rotina. Data. Soube identificar dia, mês e ano sem dificuldade. Sabe todos os dias da semana; Meses. Sabe todos os meses do ano; Correspondência entre objeto e sua quantidade. Conseguiu até o número 20, com pequenas mediações orais que o incentivaram a continuar e, em algumas vezes, corrigindo seus erros. Formas geométricas. O aluno reconheceu sem dificuldades o quadrado, triângulo, círculo e o retângulo. Conceito maior/menor. O aluno soube identificar um valor maior/menor do que o outro. Construção de tabela. Ele conseguiu montar uma tabela colocando números em ordem crescente até o número10. Identificação de sinais das quatro operações matemáticas. O aluno identificou o sinal de subtração; Conceitos direita/esquerda/meio. O aluno soube sem dificuldade. Sistema monetário. O aluno reconheceu as notas de um, dois, cinco, dez, vinte, cinquenta e cem reais. 3674 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Conceito “somar mais dois”. Teve dificuldade para somar mais dois a partir do número que ele já tinha. Nessa mesma atividade, não demonstrou iniciativa para retomar a contagem a partir dos objetos dispostos. Identificação gráfica a partir do número 36, retomando os números anteriores; Horas. O aluno tem uma noção de horas, principalmente as que marcam a sua rotina, mas, tem dúvidas em relação à função do ponteiro maior (que deve marcar as horas) e do ponteiro menor (que deve marcar os minutos); Uso do calendário. Não consegue encontrar uma data específica. Não tem compreensão sobre a estrutura do calendário; Quatro operações matemática. Não sabe estruturar uma conta, aparentemente, não tem o conceito de soma, subtração, divisão e multiplicação, mesmo com ajuda de material concreto; Correspondência entre objeto e sua quantidade a partir do número 20, retomando os anteriores; Identificação de sinais das quatro operações matemáticas. O aluno não identificou o sinal de soma, multiplicação e divisão. Calculadora. Por não saber estruturar uma conta, não sabe utilizar uma calculadora. Sistema monetário. O aluno não conseguiu utilizar mais de uma nota para encontrar o resultado esperado. Par/impar. Não sabe o que significa. Fonte: elaboração própria Áreas que necessitam de intervenção A partir da sistematização dos resultados, a sugestão para o planejamento das atividades foi trabalhar a partir das habilidades identificadas nas atividades rotineiras, como, por exemplo, a utilização do calendário, relógio, construção de tabela aliadas a conceitos que o aluno não adquiriu, como, por exemplo, a identificação gráfica de números maiores do que o número que ele conhece e construção de contas utilizando a calculadora, já que é um recurso acessível para a suas habilidades motoras. Em relação ao uso do computador, foi sugerido que fosse disponibilizado um computador para uso do aluno nas atividades escritas. Para resolver sentenças matemáticas, o computador deve ser utilizado após o aluno aprender a estruturar as contas no caderno e/ou com material concreto, já que o computador pode disponibilizar o resultado sem a reflexão do aluno. Aluno B Na área da Língua Portuguesa foram identificadas as habilidades e as áreas que necessitam de intervenção, como mostra o resultado da avaliação no Quadro 5: Quadro 5 – Resultado da avaliação na área da Língua Portuguesa do aluno B Habilidade Escrita. A produção do aluno indicou que ele está na fase silábica alfabética sem valor sonoro em conflito com valor sonoro. Ele escreve com letras em maiúsculo. Conhecimento de vogais. Reconhece as a, i, o, u, não reconheceu a vogal E. Produção de texto com figuras. Ele montou sem dificuldade. 3675 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Escreveu o seu nome; Leitura. Identificou sílabas simples com dificuldade; Escolher uma peça entre outras. Ele conseguiu identificar uma peça entre três, a partir dessa quantidade ele se confundiu. Áreas que Reconhecer todas as letras do alfabeto; necessitam de Identificar a vogal E. intervenção Escrever palavras com sílabas simples (inicialmente) com e sem a identificação da figura da comunicação alternativa. Escrever frases e textos com auxílio das figuras da comunicação alternativa. Acessibilidade Foi possível identificar que ele tem uma grande dificuldade motora para dos materiais utilizar o lápis. O computador e o alfabeto silábico são acessíveis ao aluno, pedagógicos desde que ele tenha tempo hábil para utilizar esses recursos. Fonte: elaboração própria A partir dos dados da avaliação foi possível sugerir que fossem realizadas atividades que incentivassem o aluno a escrever palavras (com autonomia), frases e textos com auxílio. Nessas atividades, as palavras devem conter sílabas, incialmente, terminadas com vogais que ele já conhece, e posteriormente, com a vogal “E” que ele tem dificuldade para reconhecer. O professor deverá enfatizar oralmente a pronúncia das sílabas e palavras, quantas vezes for preciso, para auxiliar o aluno na diferenciação das sílabas e escrita de palavras. Esse procedimento é necessário por que o aluno não fala oralmente e está com dificuldade para relacionar a pronúncia com a palavra escrita, dependendo, portanto, do professor para identificar o conteúdo escrito. Em relação aos recursos pedagógicos, o computador não necessita de nenhuma adaptação, no entanto, é necessário que o professor disponibilize um tempo hábil para o aluno terminar a atividade. O computador é um recurso que facilita sua atividade escrita e pode ser utilizado em conjunto com outros recursos, como o alfabeto silábico. A manipulação do lápis exige muito esforço físico e deve ser considerado apenas para o aluno assinar o nome dele ou em outras situações indispensáveis para o aluno concluir a atividade. A digitação do aluno é realizada com o polegar da mão direita. A avaliação indicou que ele sabe utilizar as teclas back space e enter com autonomia. Na área da Matemática, resultados da avaliação contemplaram: Quadro 6 – Resultado da avaliação na área da Matemática do aluno B Habilidade Áreas que Reconhecimento de números. Identificou corretamente até o número cinco; e com dificuldade até o número nove. Escrita de números. Escreveu corretamente o número um; Quebra-cabeça. Montou até com oito peças sem dificuldade; Divisão. Ele sabe o conceito de divisão. Divide os objetos corretamente, mas, não consegue indicar o resultado correto, devido a sua dificuldade para identificar números gráficos. Maior/menor. O aluno tem o conceito de maior/menor em relação à quantidade. Reconhecimento de sinais. Identifica os sinais de soma e subtração. Meses do ano. Não indicou corretamente o mês atual; 3676 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X Dias da semana. Não indicou corretamente o dia atual; Uso do calendário. Não sabe localizar uma data no calendário. Conhecimento dos números. Conhecer os números a partir do cinco; Escrita de número a partir do número dois; Correspondência entre quantidade e representação numérica; Conceito sobre as quatro operações matemáticas. Sistema monetário. O aluno não tem conhecimento nenhum em relação ao sistema monetário. Não identifica os sinais de multiplicação e divisão; Formas geométricas. Não soube identificar nenhuma forma de maneira correta. Não sabe utilizar a da calculadora Fonte: elaboração própria necessitam de intervenção A partir dos dados da avaliação foi possível sugerir que fossem realizadas atividades que favorecessem o aprendizado do reconhecimento numérico relacionado à sua quantidade e sequência, utilizando objetos concretos. Além disso, foi sugerido que após o aluno adquirir o conceito da soma, subtração, divisão e multiplicação, as atividades envolvendo operações matemáticas fossem realizadas com o uso da calculadora e do computador com o software Excel. Aluno C Na área da língua portuguesa foram identificadas as habilidades e as áreas que necessitam de intervenção, como mostra o resultado da avaliação no Quadro 7: Quadro 7 – Resultado da avaliação na área da Língua Portuguesa do aluno C Escrita. O aluno é alfabetizado, faz algumas trocas referentes aos sons das sílabas. Escrita do próprio nome. O aluno escreveu o seu próprio nome. Leitura. O aluno lê. Áreas que Família silábica. As famílias que ele teve dificuldade para reconhecer foram necessitam de dispostas da seguinte maneira, primeiro, a sílaba ditada e entre parênteses a sílaba intervenção escolhida pelo aluno PU (CU), LO (NO), LA (FA), PE (FE), PE (NE), SI (VI), RI (JI) TU (JU), MU (VU). Escrita/leitura. Com o uso de um computador acessível ao aluno. Interpretação de dados a partir de uma figura, frase, texto curto e ou trecho de filme. Acessibilidade Foi possível identificar que ele tem uma grande dificuldade motora nos membros dos materiais superiores. Caso o lápis seja posicionado na mão dele entre o dedo indicador e o pedagógicos dedo anelar, ele consegue escrever por poucos minutos. No entanto, o gasto energético é grande para a execução dos movimentos, fazendo com que o aluno se desestabilize na sua posição sentada e se canse rapidamente. O uso de alfabeto móvel é viável se houver uma pessoa para auxiliá-lo, disponibilizando as peças em cima da mesa e posicionando as letras na palavra, conforme ele vai apontando. O recurso mais acessível para o aluno é o computador que deve ter seu teclado inclinado e o aluno deve usar uma ponteira na mão. Fonte: elaboração própria Habilidade 3677 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X A partir dos dados da avaliação foi possível identificar que o aluno está alfabetizado. A dificuldade com as famílias silábicas e com a escrita está relacionada à falta de acesso ao recurso para escrita. A falta de um recurso acessível limita o aluno a realizar atividades curtas, pois, o esforço físico faz com que ele se canse rapidamente. Dessa maneira, as atividades de escrita devem ser realizadas com o uso de um computador que deve possuir um teclado posicionado na vertical, em aproximadamente 90º, para o aluno digitar. Além do teclado inclinado, o aluno necessita de uma ponteira para encaixar na mão para que ele possa teclar com os dedos em flexão. Salienta-se, ainda, que o aluno precisa de treino para usar as funções do computador, desde ligar o computador, abrir um software, salvar, fechar o arquivo e desligar o computador e, principalmente, para utilizar a tecla back space que coloca espaço entre as palavras digitadas. Além disso, devem ser trabalhadas leituras de diferentes textos, enfatizando a sua estrutura (começo, meio e fim). Na área da Matemática, os resultados da avaliação contemplaram: Quadro 8 – Resultado da avaliação na área da Matemática do aluno C Habilidade Áreas que necessitam de intervenção Identificação de figuras geométricas. Identificou o círculo, triângulo, retângulo e quadrado sem dificuldade. Maior/menor/ meio. O aluno sabe todos esses conceitos. Identificação dos dias da semana. Identificou o dia atual corretamente Identificação do mês atual. Soube identificar a placa do mês atual a partir da leitura. Reconhecimento de notas. Identificou as notas de um, dois, cinco, dez, vinte, cinquenta e cem com facilidade. Soma utilizando o sistema monetário. Conseguiu formar três reais utilizando notas de um real. Valor menor/maior. Não teve dificuldade nessa atividade. Direita/esquerda. Sabe. Tem o conceito. Escrita de números. Escreveu corretamente os números: 4, 8, 9, 10, 12, 13, 15, 17, 18, 19, 20, 22, 30, 100. Soma. Ele separa a quantidade correta, mas, na maioria das vezes, não chega ao resultado correto. Reconhecimento gráfico. O aluno identificou os números: 9,10, 14, 15, 16, 17, 21, 22. Calculadora. O aluno soube ligar a calculadora. Correspondência gráfica e quantidade de objeto. O aluno separou corretamente dois, seis e quatro quantidades com suas representações gráficas. Subtração. A avaliadora pediu para o aluno subtrair três de um total de seis, no início ele tentou somar, mas, com orientação da avaliadora, ele subtraiu. Divisão. Ele sabe dividir por dois usando a estratégia de dar um para cada um. Direita/esquerda - Sabe. Tem o conceito Conhecimento dos dias da semana em sequência. O aluno sabe a sequência de 2ª a 4ª feira, depois disso ele não sabe mais. Sequência dos meses do ano. O aluno não sabe a sequência dos meses do 3678 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X ano. Soma utilizando o sistema monetário. Ele não soma os valores que as notas têm, mas, sua quantidade, como se todas valessem um real. Par/impar. O aluno não tem o conceito. Escrita e identificação de números. A partir do número vinte e três. No entanto, enfatizando também o número dezesseis, pois, o aluno demonstrou ter dificuldade. Soma. Ele separa a quantidade correta, mas, na maioria das vezes, não chega ao resultado correto. Subtração. Aprofundar o conhecimento básico que ele possui. Calculadora. Não sabe a estrutura da conta, por exemplo, “ 2+6”, ele digita o 2 e o 6 sem o sinal de adição e do igual. Reconhecer os quatro sinais da operação matemática. O aluno não reconheceu nenhum com autonomia. Fonte: elaboração própria A partir dos dados da avaliação foi possível sugerir que as atividades que envolvam Matemática têm que ser trabalhadas, inicialmente, com objeto concreto com o auxílio total do professor para manipular as peças. Após ele adquirir o conceito das quatro operações matemáticas, o uso da calculadora e do Excel devem ser priorizados, já que o uso do lápis além de requer um gasto de energia muito grande, o movimento para manipulá-lo desestrutura sua posição sentada. 4 DISCUSSÃO A partir da análise dos resultados foi possível categorizar os dados e elaborar um planejamento acadêmico para cada aluno avaliado. Na área acadêmica, o uso do ASPA-PC identificou que a origem da dificuldade do aluno A em reconhecer as famílias silábicas advinha do uso contínuo das letras do alfabeto móvel de maneira separada, assim, foi sugerido o uso do alfabeto silábico para ele trabalhar com as sílabas na formação das palavras e não apenas com as letras isoladas. Identificou-se, ainda, que os alunos B e C necessitavam de alguém para falar em voz alta a pronúncia das palavras para que pudessem identificar as letras para escrever. Observa-se que, sem uma avaliação criteriosa das situações anteriores, a dificuldade dos alunos poderia ser atribuída à sua incapacidade intelectual, quando, na verdade, advinha da falta de recurso e de estratégia de ensino apropriada. Moura (2004) alertou que o aluno com paralisia cerebral, pode ser considerado como um aluno incapaz de realizar determinadas atividades intelectuais, quando, na maioria das vezes, o que ele não consegue é manipular o material pedagógico ou ter acesso a atividades. Em relação aos materiais pedagógicos, os resultados das avaliações foram eficientes para indicar a necessidade de restringir o tempo de uso de determinado recurso pedagógico em virtude do esforço físico, cansaço precoce e, consequentemente, desmotivação para realizar a atividade, como no caso do uso do lápis para os alunos A e B, e descartar o uso do lápis para o aluno C, evitando a desestabilidade postural advinda do esforço que ele fazia para escrever. Além disso, foi possível indicar estratégias de ensino, tais quais: 1) disponibilizar um maior 3679 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X tempo para os alunos terminarem a atividade e 2) revezar a utilização dos recursos para a escrita a fim de evitar o cansaço físico (alunos A e B). A avaliação da acessibilidade dos recursos indicou que não houve a necessidade de adaptar o computador para os alunos A e B. A adaptação foi necessária apenas para o aluno C, que necessitou de um teclado inclinado na posição vertical em 90º e do uso de uma ponteira em sua mão direita. Nota-se, que foi a partir da avaliação das características do aluno C que foram identificadas as modificações que eram necessárias para o aluno ter acesso ao manuseio do computador. Esses resultados alertam aos professores que não é por que o aluno é deficiente físico que ele, necessariamente, precisa que todos seus recursos pedagógicos sejam adaptados. É o professor que deve identificar, a partir da avaliação das características dos alunos, se há ou não necessidade de adaptar o recurso pedagógico (SILVA, 2010). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O objetivo da atual pesquisa foi avaliar três alunos com paralisia cerebral com o uso do ASPA-PC e indicar um planejamento acadêmico. A partir do resultado das avaliações foi possível identificar as potencialidades e as necessidades acadêmicas dos alunos nas áreas da escrita, leitura e matemática e acessibilidade dos recursos para a escrita. A partir da sistematização dos dados foi possível elaborar um planejamento acadêmico para cada aluno individualmente, que contemplou: 1) objetivos acadêmicos para as áreas da escrita, leitura e matemática; 2) planejamento de estratégia de ensino e 3) a escolha de recursos mais acessíveis aos alunos. Destaca-se ainda, que a avaliação com o uso do ASPA-PC favoreceu para que houvesse uma interação profissional entre os pesquisadores a professora da sala, já que, após as avaliações, a professora da sala recebeu uma cópia dos planejamentos dos alunos. Presume-se, que o material auxiliou a sua prática pedagógica, já que, apesar da professora avaliar seus alunos durante o processo de ensino e aprendizagem, o planejamento entregue pelos pesquisadores foi o primeiro registro de uma avaliação precisa de dados que indicou as potencialidades, necessidades e fez sugestões em relação ao ensino dos alunos, como definiram Silva e Manzini (2011b), ao falarem das avaliações precisas cujos resultados oferecem informações para a elaboração da atividade e para indicação e/ou adaptação de recurso pedagógico no contexto educacional. REFERÊNCIA CORREIA, L. M.; TONINI, A. Avaliar para intervir: um modelo educacional para alunos com necessidades especiais. Revista Educação Especial, Marília, v.25, n.44, p. 367-382, 2012. Disponível em: < http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/educacaoespecial/issue/view/434/showToc>. Acesso em: 12 fev. 2013. CURTO, L. M.; MORILLO, M. M.; FEIXIDÓ, M. M. Escrever e ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e ler. Tradução: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2000. 3680 VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X GONZÁLEZ, J. A. T. Educação e diversidade: bases didáticas e Organizativas. Tradução de Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002. JESUS, D. M.; AGUIAR, A. M. B. O calcanhar de Aquiles: do mito grego ao desafio cotidiano da avaliação inicial nas salas de recursos multifuncionais. Revista Educação Especial, Santa Maria, v.25, n.44, p. 399-416, 2012. Disponível em: < http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/educacaoespecial/issue/view/434/showToc>. Acesso em: 12 fev. 2013. MANZINI, E. J. Recursos pedagógicos para o ensino de alunos com paralisia cerebral. Revista Mensagem da APAE, São Paulo, v. 36, n.84, p.17-21,1999. MILANESI, J. B. 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