BEXIGÃO CIDADÃO Antecedentes 1980 Lina Bo Bardi e Marcelo Suzuki projetam o atual teatro Oficina e sua expansão. Novembro - O Grupo Silvio Santos inicia demolições no quarteirão do Oficina e tenta comprar o teatro. Dezembro – o grande movimento de artistas e público pela continuidade do Oficina faz com que o grupo SS desista da compra. 1982 O Teatro Oficina é tombado pelo CONDEPHAAT e desapropriado para garantir o trabalho da companhia. 1983 Iniciam-se as obras de demolição e construção do novo teatro. 1991 Paulo Mendes da Rocha apresenta nova proposta para a expansão do Oficina baseada na idéia original de Lina. 1994 O novo teatro Oficina é inaugurado, porém sem a expansão originalmente desenhada por Lina Bardi. 2000 Abril – É aprovada a construcão do Shopping Center de Entretenimento do grupo Silvio Santos, o Bela Vista Festival Center, nos terrenos envoltórios do Oficina. Maio – Daniel Roberto Fink, promotor de justiça do meio ambiente do ministério público do Estado de São Paulo, instaura inquérito civil para apurar a Lenise Pinheiro São Paulo, 27 de março de 2002, dia internacional do Teatro e do Circo Este jornal reúne uma breve dramaturgia do conflito urbano que aqui se trava. legalidade da construção do shopping naquele local Novembro – As negociações com o Grupo SS mediadas pelo ministério público atingem o ponto tabú, o Teatro de Estádio a ser construído no lugar do atual estacionamento do Baú da Felicidade. Dezembro, 30 – A gestão Celso Pitta dá a aprovação final à construção do shopping. 2001 Março - O grupo SS em nova reunião dá fim às negociações indispondo-se a alterar qualquer característica do projeto do shopping que não o aumento de 3 metros em seu recuo lateral. Julio Neves propõe pessoalmente a José celso Martinez Corrêa a compra e demolição das casas da Rua Japurá para implantar o Teatro de Estádio. O Oficina não aceita. Abril - É instaurada ação civil pública a pedido do instituto Lina Bo e P. M. Bardi, contra a construção do empreendimento do grupo SS. Maio, 18 – O Oficina recebe nova proposta para a construção da expansão. Diante da perpetuação do esmagamento que o projeto propunha a companhia decide não aceitar. Dezembro Medida Cautelar impede o início das obras do shopping até que se tenha o resultado da ação civil pública de abril. 2002 na última página 16 de maio de 2001 - Marta Suplicy Já tomei minha decisão. Sou favorável ao shopping do Sílvio Santos porque vai revitalizar toda aquela área. Sem gastar nenhum tostão da prefeitura. Oficina Marta, a Lina Bo Bardi, pensando justamente na revitalização da cidade projetou um novo espaço público, ligado ao teatro, aberto à penetração das chuvas, que vai ser completamente destruído com a construção do shopping... Marta Suplicy Você não vai querer discutir revitalização agora vai? Olha, eu já tomei minha decisão, conheço o Oficina mais do que você. Se quiserem mudar a fachada... coisas assim, aceitamos sugestões. Agora, o Shopping vai sair. Tommy Pietra trechos de cenas baseadas em encontros com autoridades públicas 7 de junho de 2001 - Clara Ant, administradora da Reginal Sé Eu olho aquele bexiga eu não vejo! ou faz uma brincadeira como fez o ACM em Salvador, finge que está preservando, pega um trechinho, faz um cartão postal piriri pororó … deste ponto de vista, O BEXIGA NÃO TEM NENHUMA POSSIBILIDADE DE DAR UM TRATAMENTO QUE RECUPERE ou que dê um fôlego dentro do plano de reconstrução…não sei. Não daria, quero dizer, não vai conseguir! Oficina Nós vamos lutar até o fim. Sabemos que a cidade está cada vez mais cheia de shoppings, porque as ruas estão cada vez mais feias e perigosas, e quanto piores as ruas, mais shoppings são construídos para fugir do verdadeiro problema. Precisamos de praças verdes, de céu , de estrelas, de árvores, o shopping só vem aumentar o deserto. O nosso projeto quer um espaço público agradável a todos. Não é possível que um projeto popular que privilegia o público numa relação revolucionária dentro do teatro,nascido naquele lugar, originário daquele bairro, que faz questão de trabalhar com pessoas que estão na vizinhança,inclusive nas ruas, que pensa num trabalho novo, que carrega consigo a concepção de espaço vivo, lugar de encontro do Homem com a terra, seja destruído por um shopping e desprezado pelas autoridades. Clara É um sonhador… eu concordo com tudo o que você disse, eu também já fui uma sonhadora, mas eu não posso fazer nada. O que eu vi , eu como arquiteta, eu digo: é medonho! É medonho! Mas é propriedade privada, eles fazem lá o que eles quiserem. BIXIGÃO Estádio de Theat(r)o Musical, SP 448 Anos CENTRO DE FAZERES DA NOVA CIDADE DA IDADE DA ANTROPOFAGIA Ágora, Bucolium, Zona, Libido Social. Um Centro cultural construindo-se na sociedade de informação como reflexão, estudo, crítica, participação, atuação popular, sobretudo invenção, festa, prazer: Teatro, SEMPRE EM TORNO DE UMA OBRA DE ARTE QUE POSSA SER ALIMENTO E ORIENTE DE TODOS OS ACONTECIMENTOS. l- O dia em que fomos reapresentados ao Centro Cultural de Entretenimento Bela Vista. Diante do Procurador do Meio Ambiente, Dr. Roberto Carramenha, os representantes do Grupo Silvio Santos nos mostram o projeto do Centro de Cultura e Entretenimento Bela Vista. Nós conhecíamos por um belo desenho que nos foi enviado a proposta. Compreendemos felizes o esforço que foi feito: os muros do beco sem saída caíram, foi nos concedido um espaço ao ar mais ou menos livre do tamanho do Oficina, diante de um muro paredão mais largo e uma saída por uma rampa subindo e outra descendo como saída para a Rua Japurá. O Centro não é um centro, tem fachada e tem fundo como a estátua de um santo católico. A Rua Japurá que poderia ser uma das frentes, vira fundo. Nós teríamos uma saída ainda que envergonhada para ela, pelos fundos. Nossas exigências, portanto, parecem estar satisfeitas. 2- Para haver negociação é preciso não estar subordinado a pressão de uma fatalidade. São dois mundos tentando ser criadores, não limitadores. Trata-se de um Projeto Cultural Comum. Eu declarei ao procurador, que era difícil uma negociação diante da pressão da considerada fatalidadade de um empreendimento que nós conhecíamos, diante da ignorância dos que nos pressionavam a respeito do que nós desejamos não somente para o Teatro Oficina, mas para o quarteirão onde se passa a ação desta peça, para o Bexiga, para o futuro das cidades, para o globo. A contracenação, a negociação que visa um entendimento depende de um reconhecimento mínimo dos conteúdos em discussão. Paulo Mendes da Rocha, completador do trabalho iniciado por Lina Bardi e Edson Elito, autor de um projeto para a área que envolve um milagre de um sim para o Minhocão, com sua resignação em ágora em Praça de Cultura, recusa por exemplo, a participar deste embate na justiça enquanto for uma questão de centímetros para cá ou para lá. 3 - Convocação de Paulo Mendes da Rocha para falar livremente. Penso mesmo que neste momento uma convocação de Paulo para falar abertamente sobre o Projeto ágora seria muito reveladora. Paulo estudou muito o Bexiga. De sua cabeça nasceu até a idéia de um lago na Zona que o Bexiga escorre na 9 de julho. É um arquiteto artista, um gênio, tem que ser ouvido. 4- Está-se discutindo o Centro Cultural de uma Metrópole no século 21. A negociação só é possível se criadora e pública. Se os negociadores enfrentarem as diferentes visões de mundo, do público, de política cultural contidas nos projetos e partirem para a criação. Há uma imposição. Ou você aceita a discussão monetarista como um axioma ou não tem conversa. Numa área tão fundamental para São Paulo, o centro cultural da metrópole, é preciso uma discussão de valores não somente financeiros, mais valores humanos, sociais, políticos, estéticos e de saúde libidinosa. O urbanismo e a arquitetura não são neutros, encenam uma ideologia, um conceito de vida. 5- Itens. Eduardo Velucci nos enviou gentilmente para o Teatro o projeto do Centro. O advogado Dr. Marcelo Terra, pediu que colocássemos por escrito o que queremos diante da proposta que nos fazem. Em itens. O mais rápido possível. Dia 15 de janeiro de 2002. É um começo de negociações entre o ócio e o neg-ócio. Há tudo por se criar a partir do momento que nasça o desejo do entendimento. 6 - Dia de Oswald. Hoje, 11 de janeiro. 112 anos de Oswald de Andrade, poeta do modernismo, da antropofagia, precursor do tropicalismo. Nasceu na Barão de Itapetininga, vinha brincar numa chácara da rua Santo Antônio e morreu num apartamento da rua Ricardo Batista, no Bexiga, e desejou, viu o Teatro de Estádio:”Estádios de nossa época, onde se há de se tornar uma realidade o teatro de amanhã, como foi o teatro na Grécia, o teatro para a vontade do povo e para a emoção do povo...” Oswald de Andrade “Ponta de Lança”. E tinha que ser na ágora onde o poeta fóra da Torre de Marfim, abre seu abcesso fechado em Praça Pública na ágora, no Social! Libertado como escreveu na “Morta” peça que inspirou a invasão do sol no Oficina, no país sem luz própria, o Teatro. O movimento arquitetônico urbanístico do Oficina em ágora, espaço público, é totalmente poesia concreta realizando-se das antenas e raízes deste grande e ainda por se redescobir filósofo, poeta do Bexiga. 7- Primeira Coragem: proposta. Estamos no Brasil, num século que abre com a guerra e terrorismo. Guerra ao Terrorismo e Casa dos Artistas. Neste embate específico entre as partes, vivemos exemplarmente no embate: Grupo Silvio Santos & Oficina, essas contradições do mundo, mas em segredo. Passo a falar diretamente em carta aberta como os que nos pediram propostas em itens: Se nos abrirmos publicamente, vamos brincar de brigar primeiro mas, depois, em vez de nos massacrarmos, podemos encontrar o inverso de nos consumirmos, nos comermos, produzindo, trabalhando juntos, começando por transformar nossa disputa em espetáculo gravado sem fronteiras, exatamente como na “Casa dos Artistas” transmitido ao mesmo tempo que juntos encenamos no Quarteirão tal com ele está. “Os Sertões” de Euclides da Cunha, agora em 2002, centenário do livro em co-produção. 8- Centro Cultural temático no Centenário de “Os Sertões”. Da nossa parte, mesmo se vocês não toparem estamos fazendo juntos esta encenação. Aqui, agora, nesta carta pois o impasse entre “Sertões” e “República” é o mesmo desta contenda que já nos reúne há mais de um ano. O que há cem anos se revelava no livro que reinventou o Brasil é o que se vive no mundo, a mesma Terra, o mesmo Homem, a mesma Luta:civilização & barbárie, terror da ordem & desordem do terror universo liberal republicano & o que está fora dele. Mas, tem um porém. Nós não vamos reviver o livro para fazer a missa do massacre, nem vocês. Cabe a nós agora reinventar outro Brasil, onde os termos das contradições não se excluam criando o nunca visto: a captação das energias guerreiras antípodas para a cachoeira transmitida digitalmente. O Sertão do seu centésimo ano vira cachoeira entre o Grupo Silvio Santos, o SBT, o Teatro Oficina Uzyna Uzona, Artistas de todas as áreas, técnicos, pessoas aprendendo, ensinando o Público ativo não somente espectador. (mas quem quiser pode ficar só vendo). Não sei se devia deixar esta decorosa proposta para o fim porque a estas alturas vocês vão estar dizendo que isto não tem nada a ver com o assunto. Mas vamos provar que tem. 9- O Projeto do Shopping Cultural. No fim do ano passado nos reunimos, estudamos o projeto Julio Neves do Centro. Para o que pretende não há melhor. É ótimo. Uma Torre que começou enfeitada como um castelo dos Jetsons, agora é gêmea da torre da caixa d’água do Sesc Pompéia, de Lina Bardi. Sorveu o glacê do bolo de noiva da Disneyworld: um Caralho explícito maior, mais alto, do que o Copan, o poderio do Rei da Vela nos domínios do Bela Vista, a cruz da primeira missa para um restaurante onde se come vendo e sendo visto por toda São Paulo! O reino do novo Rei do Brasil. Sem ironia mas com fé, viva Silvio Santos! Viva seu atual reinado! Da tua torre, nem com luneta se verá um mendigo. Eles comprarão casas e somente os painéis de hotéis multi-estrelados duma mais que Broadway Brasileira. A estrela da novela mexicana no seu coquetel de estréia de lá verá a Bexiga, perdão, a Bela Vista e seu empresário lhe dirá: “Você tem a Bela Vista a seus pés”. Os executivos terão inúmeras salas para suas convenções e fofocas. Depois terão o Credicard Show, a Fnac, os teatros Alpha, as Academias de Malhação, Centros da Convenção , a praça da alimentação, uma micro Orlando para seus garotos e lojas satélites, 10 cinemas de 80 lugares, passando o mesmo filme: Bilheterias, bilheterias, e bilheterias... E para sair do sério dentro do “espírito boêmio” do bairro virado metrópole, uma Pista de Dança com um subsolo riquíssimo em estacionamento, de onde todos se retirarão seguros aos pares ou em bandos como coros orientais de executivos, com garotos(as) de programa para seus lugares, famílias pra os lares, hotéis, ou motéis com a certeza metafísica que consumiram. Mas que ficou faltando alguma coisa, sempre falta. O quê? No meio daquele templo a minhoca do Oficina dá para um Playground, que chamam Teatro Grego e sai em fila por trás, pois como um palco italiano, o Shoppping Centro tem repito fachada e muro dos fundos. Não é um centro, um Cieps do capitalismo popular, onde nada se cria, tudo se consome. Um Templo de Consumo. Aleluia! O projeto tem tudo que conhecemos na culinária do mundo do entretenimento americano junto. Ideal para montar “Ascensão e Queda de Mahagony” de Bertolt Brecht. 10- Bexiga Centro ou Bela Vista Center da Paulicéia 448. É o início com esta torre e este centro modelo de cultura e entretenimento, de uma implantação onde o Bexiga vai desaparecer num qualquer lugar, uma Barra da Tijuca sem Lúcio Costa, sem o mar, uma Miami a seco. Talvez caiba um Piscinão. O projeto de Lina Bardi do Oficina é o de um embrião de uma cidade, o modelo do Shopping de outra, ou melhor do mesmo DNA da mesma que vem sendo construída há 448 anos. Mesma idade do nascimento da antropofagia com a devoração do Bispo Sardinha. Estamos, portanto, neste aniversario de São Paulo vivendo este tupy or not tupy. Digo Sim a este projeto se examinar pela sua natureza financeira como um novo Centro de Diversões e Entretenimentos da cidade mais claramente: Centro da Cidade, uma mais que Broadway. Digo Sim, se fosse tudo por dinheiro. O Bexiga entrou para a Operação urbana, logo vira Bela Vista, vira Centro da Cidade. A Torre do novo Marco Zero de São Paulo no emergir do Vaticano da SBT, de Silvio Santos vivovirando o Rei do Brasil, o Rei da Vela!Maravilhoso! Mas um espetáculo já conhecido. Se fosse tudo por dinheiro! Mas não é. 11- O Rei Merece Mais. Este novo Rei sinceramente, merece mais. Já pode aposentar a fatalidade do Rei Midas. Concordo que o Bexiga seja o Centro porque é o umbigo cultural da Cidade, pode como todo centro quer e ser o centro do mundo, de um mundo, de muitos mundos. Já conhecemos estes centros em muitas capitais de capitais de mundos, o centro do Vaticano do Consumo culinário da Imagem do Espetáculo Happy Hour do Mundo, com muitas sagradas bilheterias. Este é o mundo que conhecemos, e que está como está aterrorizado, com seu próprio espetáculo bíblico de horror de sua própria produção de drogas, de terror, de calotes, exílios, refugiados de ditaduras econômicas, et les miserables. Tudo porque rejeita, reprime, exclui o que não entra na sua ordem. Os gregos foram sábios, instituíram em Atenas o Terreiro das Fúrias onde todo o rejeitado do social era praticado, transmutado. Daí veio a Tragédia Grega, a maior criação de arte pública da história da humanidade. 12- Centro de Cultura de Importação ou Exportação? Produção ou Consumo? That is the question. O centro de uma Cidade hoje, pós 11 de setembro, não tem obrigação de ser de diversão mercenarizada. Saímos culturalmente da imposição trágica do mercantilismo. Pode ser o de produção de arte e de vida, um centro de exportação e não de importação. Centro Produtor de uma cultura de Exportação, para lá da Benetton, ou da Factory de Andy Wahrol. A overdose financeira do capitalismo provocou no entretenimento a tagarelice, o papo furado, a especulação. Mas a verdadeira diversão é criar, produzir, jogar e inventar o jogo. Atuar no social por amor a si mesmo, para produzir outra sociedade, sociabilidade. Além do saldo, as multidões estão famintas daquilo que não se compra e que podem fabricar juntas com a participação de sua energia criadora. A popularidade dos jogos da SBT são vanguarda, sintoma de uma multidão que quer jogar o jogo dos valores da vida. É canalizada para o dinheiro, mais quer mais está querendo mais. Mais dinheiro e mais não dinheiro. 13- Bexiga mire-se na Lapa, no Recife velho. No Candial. No Rio de Janeiro, a Lapa voltou a ser a Lapa. É o ponto maior do mapa do ex-Distrito Federal. Salve a Lapa! Sexta-feira ela é Federal e Negra, é capital. Todo Diáspora Africano carioca com seu luxo de Madame Satã, ocupa o novo centro Vivo do Rio. A cultura dominante africana na ginga do mundo futuro que o presente engravida, esparrama-se pelas escadarias de Santa Tereza, azuleijadas por um artista do bairro num chão brilhante de subida de estrelas, esquentado por milhares de bundas assentadas em todos os seus degraus, assistindo as ruas e casas abertas cheias da Lapa funkando. A “Fundição Progresso”, o “Tá na Rua”, o “Circo Voador”, o Teatro, foi a vanguarda recriadora onde as putas, poetas, malandros, já haviam reinado, onde a Corte portuguesa capitalizando Portugal no Brasil havia feito os Arcos. A Lapa está virando um Maracanã de cultura popular viva. Um Milagre. No Recife, a Velha Sinagoga origem de Nova York está lá musicada pelo Mangue Beat, pelos Galpões do porto ocupados por grupos de teatro, maracatú, reinado de Chico Science. Sem esquecer a maravilhosa ágora do candial em Salvador dirigida pelo gênio de Carlinhos Brown e projeto axé etc.. 14- Bexiga, bairro inventado como centro internacional cultural por artistas. Digo Sim ao Sim. De um Bexiga assim revitalizado, revivescido, das suas origens tupys e negras: o quilombo de Libertas, a escrava alforriada que ganhou a “Chácara do Bexiga” do seu Senhor que ia até a Avenida Paulista. De lá veio a Glória da “Vai-Vai”, até hoje sem quadra de ensaios que faz da rua, sua casa de artista. Vieram os emigrantes do império Romano. Fizeram a arcos casarões, palácios de fachada que você não dá nada por dentro, como a casa do fotógrafo inglês, Granger, que por dentro é um Palazzo.Os negros foram para as cabeças de porco e para os cortiços, e veio o Samba de São Paulo. A ópera italiana no Zeus, Adoniran rebolou. Abriram-se as cantinas e o TBC. O primeiro com uma companhia permanente de teatro e de cinema, a Vera Cruz. De lá, saíram vários territórios livres de produções verdadeiras, cidades principados de teatro. Viva Franco Zampari! Sérgio Cardoso e Nídia Licia, Maria Della Costa, Cacilda Becker, Arena, Oficina, cada lugar um universo de auto produção de exportação. Um país, um lugar único como cada cantina tendo seu sabor específico. Os artistas de teatro, do samba, da poesia moravam no Bexiga. Pensões de estudantes, eu mesmo morei na Condessa São Joaquim para fazer a Faculdade de Direito. 15- Origem e Destino: Bairro não de boêmios, mas de artistas criadores de sua própria maneira de viver, produzir. Omulú, deus bixiguento da cura. Artistas, senhores de sua própria horta, de seu próprio pomar nessa diversidade provocando toda a cidade como um todo que trazia o nome dos buracos na cara da peste, da resistência à peste, da reivenção permanente da doença em saúde de Omulú, o deus bexiguento do Bexiga. 16- Teatro Oficina, o que restou de uma prática passada agora futura. O Teatro Oficina é um teatro inaugurado no dia 16 de agosto, dia de Omulú de l961, virou três vezes para virar terreiro eletrônico. Hoje centro cultural orgânico em fase de plugação virtual e transbordamento de toda cultura retida, primeiro pela ditadura militar depois, pela financeira. Agora, plantando um vasto pomar sem dono. No universo pós dia 11 de setembro, este núcleo é o Guesa, isto é, o último índio de um tipo de teatro-terra, cultivado por companhias, coletivas que se suscendem. Poderia ser uma espécie em extinção, mas justamente na sua solidão veio de encontro à tendência natural de todo teatro novo de São Paulo configurada no movimento “Arte contra a Barbárie”, das novas companhias paulistas de repertório ocupando o espaço para cultivo de uma maneira de ser. Teatro de Companhias, livres, independentes que querem produzir-se. Assim como esta arte é mambembe, ela parte sempre de um lugar onde ela concebe de um barraco de fabricação onde ela tem seu suporte, seu estúdio de artista como o cineasta a câmera, o violonista o violão. O teatro é uma arte de ocupação de espaço para criação dos rituais públicos de inter-relação humana, visando o movimento, a transformação, e esta arte como todas transcende atualmente a bilheteria, e assim como a novela da televisão, ela deve ser criada original e visar todo o público, independentemente de seu poder aquisitivo. E tende cada vez mais em jogar com a sociedade de espetáculos como sua fonte desmistificadora, criadora e revitalizadora para a sociedade mais do que do espetáculo. É um teatro em que público não somente assiste, mas atua. Ensina e aprende. Coube este destino ao Teatro Oficina. De ter acumulado uma experiência e um acervo de mudas capazes de expandirem-se socialmente. Grávido de uma história de mais de quarenta anos, está prenhe de um projeto para seu entorno Tombado, que aliás deu origem ao seu terceiro nascimento como o Teatro Oficina de Lina Bardi e Edson Elito. Lina concebeu num canudo de terras um teatro de passagem, um link, uma liga, uma tomada entre a Rua Jaceguay e o Anhangabaú através de um Estádio de Teatro Eletrônico ao Ar Livre, com teto retrátil acomodado a topografia do terreno do atual estacionamento do Baú da Felicidade. Paulo Mendes da Rocha completou ligando o Minhocão e terrenos remanescentes a este canudos, imaginado da Rua Adoniran Barbosa até a Rua Japurá numa planta baixa como duas taças ligadas por suas hastes. Uma rua e duas praças dando para outras ruas, um delta irrigador da cidade, com criação e consumo na fonte. A primeira visão de Paulo, foi uma prateleira espelhada do Bar com pingas de todo mundo. O projeto nascido de uma história de resistência sem resistência a transformação é cosmopolita, não há nada no mundo parecido, é de exportação. 17- Teat(r)o Futebol Esta expansão é uma necessidade vital das sementes culturais de mais de quatro décadas, que agora contém muitos erros preciosos, muitos acertos, muitas apostas para o futuro de uma produção de invenção de vida convivida de artista a ser partilhada e principalmente potencializada pela inclusão no seu processo de todo o mundo. Chegou a hora do Brasil viver seu teatro popular como um futebol. Chegou o momento em que é possível o Teatro ter seu Estádio e tudo que envolve esta arte com todo poder e pujança que já existiu na Grécia. O VAI-VAI , o TBC, o Samba de Adoniran, a Poesia de Oswald, o Teatro de Cacilda, e os delírios Tecnológicos do terreiro eletrônico vão dar agora num Estádio Tecnizado de Teatro, num pomar no sentido da ecologia urbana de lugar onde em se plantando dá frutos entornado, abraçado de tudo que possa dar vida a este salto de popularização de Teatro. Quando o público vai ver “Bacantes” não sai mais do teatro, quer mais. Quer fazer teatro, dançar, namorar, quer mais que consumir, quer produzir, gerar, fecundar. 18- Exercício de Imaginação. Antônio Conselheiro encontra-se com Marechal Bittencourt no meio da Guerra de Canudos e muda o destino do massacre. Tudo que for necessário para fazer uma peça de Estádio e para acolher sua recepção poderá ser feito, e a melhor maneira de nós fazermos a entender, é propondo ao menos como exercício de imaginação, a produção conjunta de uma peça de Estádio: “Os Sertões”, por exemplo. É um livro onde há o arraial de Canudos cercado pelo Exército que quer civilizar os bárbaros a pranchadas. Vamos supor que Antônio Conselheiro, João Abade, O Beatinho, Pajeú, as Beatas de Canudos conduzidos pelo jornalista, poeta e cientista Euclides da Cunha no meio da Guerra se encontrassem com o Marechal Bittencourt. O presidente Prudente de Morais, os Nizan Guanaes da época se propusessem ao invés de se matarem, unir as forças da produção de mutirão de Canudos com as do Exército e potencializarem os dois Brasis, num terceiro Brasil desconhecido. O Grande livro de Euclides e a Epopéia que os brasileiros viveram tanto no Exército como em Canudos, valem neste ano eleitoral este escândalo de contracenação de contrários. Uma novela que vem a tona hoje na segunda semana do ano 2002, para começarmos a gravar hoje no tribunal do meio ambiente. Se não gravarmos, estará gravado na nossa memória e logo passado para anotações, daí para cena. Mais uma vez vão dizer, não estamos de acordo, isto não tem nada a ver com o que estamos discutindo. Ora, estamos tratando do centro cultural de São Paulo, o Teatro Oficina de quatro décadas de experiência de continuidade da contribuição do modernismo, do tropicalismo, do teatro universal, e o grupo com o protagonista de que leva o nome, tornado o mais onipresente deste ano em tudo no Brasil, Silvio Santos holístico. Acha que um teatro pode burocraticamente ignorar toda a riqueza desta novela e ficar numa discussão abstrata, fora do tempo e do espaço? Fixar-se em duas concepções segundo a limitação dos nossos conceitos, presos a velhos esquemas e preconceitos? De repente, juntos não podemos fazer alguma coisa a altura do momento excitante em que vivemos? Vamos cair no lugar comum? 19- Abrir o jogo, debate público em ação construtiva de um trabalho. O que há para esconder? Eu sei que o segredo é a alma do negócio, mas o que há para esconder que não deva ser mostrado. As guerras atuais escarafuncharam tudo, está tudo a vista. A sociedade de espetáculos atingiu um tal ponto em que é inevitável as câmeras voltarem-se para os que fazem o espetáculo do mundo, e para os segredos dos seus negócios este slogan foi superado pela revolução digital. O maior negócio, o da China, seja agora talvez revelar seu segredo. O Teatro, artes, a literatura, são portas abertas na revelação dos segredos. Eu quero passar todos os segredos que produzem meus maiores negócios, como é o de estar em cena para mim. Acho que temos de ensinar um pouco das nossas malandragens profundas para todo mundo. Seria maravilhoso que Júlio Neves viesse se juntar ao seu colega de classe Paulo Mendes, a Edson Elito, ao paisagista Fernando Chacel, a Lina, para criarmos juntos alguma coisa que nunca se viu. De Silvio Santos, o homem que ganhou de Bin Laden em Mídia no Brasil, é o mínimo que eu espero. A audácia de não fazer um Centro lucrativo e previsível, mas de surpreender com uma aliança tão absurda e investir numa jogada de reinventar o Brasil e reinventar o mundo, de criarmos juntos com muitos artistas e crianças brasileiras de todas as classes e idades, um espaço cultural o mais móvel e rápido possível em torno de temas. Neste ano viveríamos “Os Sertões”. O que é preciso para os “Sertões”? A Formação de uma pequena humanidade de atores, músicos, técnicos capazes de encenarem de um lado uma comunidade de jagunços, nordestinos, a população mais viva do Bexiga atual com fé na sua capacidade de reviver sua própria cultura comunitária, de mutirão, seu forró de Gonzagão pós Chico Science, seu Forró do Avanço como já tivemos aqui no Oficina nos anos 80, nordestinos que foram a rocha viva da vitória do Oficina Tombado, sobre o Oficina quase comprado pelo Baú. A formação de tudo que é preciso para um exército com todo o poder da República, uma rua do Ouvidor, um baixo atento, informado, fofoqueiro, a opinião pública da classe média mudando os destinos das fatalidades. Comendo da farinha de guerra, da mandioca aos tofús, nas cantinas cabarets. Todas as condições do musical americano para este exército. Todas as tecnologias, a cyber informação e o universo digital nos seus níveis mais sofisticados de revelar as entranhas do corpo humano, da terra, da sociedade construindo-se. Toda esta humanidade estudando-se junto, revezando os papéis. Liberando com a força do teatro todo seu desejo de transmutação inter-relacionada e pública. Parece “Imagine” do João Lennon, ou as utopias da bondade d’Ela, sua Santidade, o Papa, mas não é. No espetáculo do espetáculo, na cultura e no entretenimento, na ciência, no estudo, no amor, tudo é possível. Mas vocês vão dizer, é um negócio: o show business argumentarão. Mas o show business padronizado é um negócio que está ficando chato, sem criatividade, sem tesão. Onde o jogo está com as cartas marcadas demais e o resultado, a produção de tédio. Os Centros de Entretenimento e cultura não vão mais produzir tédio e terrorismo. Vamos fazer business do século 21. Estou oferecendo esta consultoria grátis para um grande empreendimento patrocinado pelo Grupo Silvio Santos. Incluindo o Minhoção e as Torres do Arquivo Eletrônico do Teatro e A Casa de Produção com o Bar de todas as pingas que Paulo Mendes da Rocha viu. 20- Primeiro passo, tomar conta do espaço sertão. Vamos ser mais concretos, partir do que está. Dos espaços tais como estão, dos lugares já comprados como a Sinagoga, o prédio da esquina Abolição Japurá, e todo nosso conflito se derrama na armação, encenação da história de um conflito e do massacre de Canudos que é chave para que o Brasil de um salto. Montamos juntos todos os cursos necessários do que o livro pede. Todos os conselhos. Juntamos todas as traduções do livro no mundo e criamos a partitura musical, com músicas a partir das letras de Euclides, de várias culturas: China, EEUU, Islã e do Brasil. O poeta Carlos Renó vai colher trechos do livro e dar para os compositores do Brasil musicar. “Os Sertões” é um musical do Bexiga no mundo. Seu destino é formar um Cieps de cultura, ciência, política, história, brasileira, com todos os seus criadores. O próprio povo periférico que já através da Petrobrás recebe bolsas para participar em mergulhos de artes que levem a uma participação em um espetáculo desta monta. Investimento social em leituras coletivas do livro, cursos sobre todos seus multifacetados aspectos: geologia, física, metereologia, ecologia, (Os Sertões é a primeira grande obra de ecologia, na acepção mais vasta que inclui a economia geral da vida no combate ao martírio da terra conseqüente do martírio do próprio homem). Matemática, artes marcias, ocidentais, estratégia, marketing, literatura, língua shakesperiana de Euclides, capoeira, dança, maracatú, taichi chuan, sertanejo, yoga, história do teatro, teatro, muito teatro e circo, e dança, raves sagradas, artes cênicas.Augusto Boal poderá organizar uma Universidade do Teatro do oprimido. O grupo dos teatros de deficientes mentais Ueinz, os presidiários do Carandirú, os meninos do Bexiga e tantos grupos viriam se juntar! A SBT abriria toda uma área experimental de estudos da TV da era digital, Canudos no mundo cybernético com pessoas vindas de todo o Brasil. Estas idéias todas estão registradas no coração deste escrito, mas se quiserem copiar não vão saber fazer. É alguma coisa que tem de ser feito abertamente, dando prioridade a produção, a criação, ao aprendizado e a humildade do aprendizado de nós todos. Ivaldo Bertazzo também poderia trazer seu saber trabalhar multidões. E a SBT poderia fazer “A Guerra do Fim do Mundo” de Vargas Lloza, uma novela global que é uma toca não montar este ano. 21- O que o Bexiga pode poder e precisar? Mas a questão que se coloca, deve ser debatida e produzida publicamente é a de saber se São Paulo precisa de mais shoppings culturais ou não. Se o Bexiga com sua configuração geográfica, não totalmente verticalizada, e sua possibilidade de ser um centro de artistas, lugar onde se vai consumir o que lá se produz, se cria, se exporta: produção e vida de artista, ou vai ser uma área turística de consumo, de “bohemia” e de exibição das grandes corporações. No espetáculo da cidade de São Paulo, o Bexiga deve ser um lugar de liberdade onde estará acontecendo sempre alguma coisa imprevisível. Nesta virada do mundo, como diretor do Oficina, sinto que desejo dizer sim a tudo que criei aqui até aqui e, que agora está a ponto de realizar-se pleno no social, na ágora. Mas devo dizer-me a mim, a meu trabalho, não? Diante de um projeto que o interesse está em gerar 9000 empregos, por uma aplicação de 75 milhões de reais, e que tem sua qualidade maior exatamente na sua forma arquitetônica-urbanística de Shopping Cultural, de fazer render este capital e garantir esses empregos? Vivo sem dúvida uma situação trágica. Parece o quinto ato de uma tragédia. A contracenação que eu esperava entre dois tipos de teatro tem sido difícil encontro uma posição financista fundamentalista, no poder público, estado, município, no tudo por dinheiro. Este dado é tomado como tabú, indiscutível, metafísico, hegemônico. 9000 empregos - 9000 trabalhos de criação, 75 milhões - investidos na infra estrutura de tornar público e praticável o Bexiga, praças verdes, confortos urbanos, produções culturais digitalizadas.Trabalho social, educativo de artístico para que o Teatro de Estádio se transforme numa riqueza cultural e econômica como o futebol. Executivos & populares, vanguarda econômica & vanguarda artística & população teatralizando seus conflitos e contradições, projetados nas criações coletivas do Bexigão. circo romano, muvucas GLS, e fanáticos heteros, Rock in Rio, sinagoga com rave ecumênica, com raves de todos os credos, músicas e danças sagradas de todos os deuses. Um trabalho em progresso que vai sendo determinado arquitetural e urbanisticamente pela sua evolução conjunta. Investimento para grande rendimento a médio prazo. Invenção de uma nova paixão nacional: a novela sem fronteiras das superproduções coletivas.O grupo Silvio Santos que criou a vanguarda no capitalismo popular, pode saltar para um investimento social com sua experiência, terminará por fazer multiplicar ao infinito o capital investido.Minha proposta é de um investimento desse porte e até mais, para todo o Centro da cidade cultural, o Bexiga como Bexiga. Com seu casario, com uma ampliação maníaca de todos os seus pomares possíveis e impossíveis no seu atual deserto, do seu passado, de suas saudosas malocas e castelos, na folhagem excessiva e sombria que cobre a casa de Dona Iaiá, que os homens com as ferramentas não vão derrubar , se somem construções urbanas que o Bairro nunca teve para virar o centro cultural de uma cultura viva de São Paulo futurista, mas com gente, muita gente e muita tecnologia e muita, muita produção. Que se crie uma infra estrutura pública na restauração de muitos espaços e no equipamento onde se desenvolva um trabalho de arte, educação de artes populares e eruditas, estudos que seja todo ocupado com Oficinas, Uzynas Uzonas, Estúdios, Sítios de Arte, como uma universidade popular onde todo saber da gaia ciências das periferias venham se encontrar nesta periferia, que ela não saia daqui. Mas que não fique como está agora, periférica, miserabilisada, mendiga, assaltante, sem teto. Que essa quantidade, empregos e dinheiro, seja investida na transformação de seus habitantes, os que quiserem aqui estar, ser um lugar não para as famílias passearem, mas para quem quiser não desistir da Ronda, o samba hino de São Paulo, e precisar sair na fissura da mais nova aventura e reinventar uma cidade pelo seu centro cultural velho, ressuscitado criança. Sei do que sonho para aquele quarteirão e sempre pensei que os reis do Brasil iriam se orgulhar do que nasceu nele. Já teve sinagoga, terreiro, igreja protestante com corais bachicos maravilhosos, partido comunista, UEE, PT, centro de meditação japonesa, Baú da Felicidade, Teatro Oficina. Era um quarteirão cabeça. Jaceguay, rua do que come cabeça. Vieram aqueles prédios enormes, com o nome imenso de SS, como nos blocos das grandes corporações americanas, o sonho americano. Misturado como toda miscelânea no Bexiga, tudo bem. Mas aos poucos foi comprando tudo e botando tudo abaixo, criando a tensão Quarteirão do Silvio Santos, agora Bela Vista Las Vegas.Tudo disse sim, não sei porque no Oficina eu disse sim, ao poder que o lugar tinha criado e tenho a pretensão de que existe uma força indivina popular não informada, desligada, mas que atenderia ao chamado de um trabalho cultural forte que como artista com vocês, eu posso demonstrar através de um trabalho coletivo com os “Sertões”. Não sei abranger todo o Bexiga, muito menos todo o quarteirão. Vou aprender, vocês e todo mundo podem me ensinar. Sei que se este assunto fosse deixado de ser tabú e Silvio Santos em pessoa viesse ser pessoa aqui também, se quiser passo meu papel de Antônio Conselheiro e o dirijo ou vice-versa. Sua fortuna foi construída como camelô, é o deus dos ambulantes, exploração, devoração, adoração, não sei. Ele tem a sabedoria com o dinheiro a ponto de ser artista do dinheiro e começou do centavo. Sua filha na tragédia “Fernando Dutra Pinto”, revelou o desejo do pai. Todos os jornais repetiram o release, desfilou no Sambódromo do Rio, foi seqüestrado, estourou na Casa dos Artistas e finalizou o ano com o desfile de políticos, coroando-o rei do espetáculo e Maluf do simpático Bobo do Rei ( adoro, não tenho nada contra). Sou um dramaturgo atormentado por estar vivendo diante de tal novela, dentro dela, mas fora dela, sujeito oculto, vivendo a clareza de estar vivendo esta situação mas sem saber fazê-la emergir com toda sua imensa teatralidade. É impossível discutir sério a questão de um Centro Cultural fechando as asas do Oficina, sem ser capaz de trazer a tona esta novela. É de interesse do que, de quem? que esta novela não apareça, que não seja dada clara ao público? Mas não sou somente eu que estou jogando meu talento de artista de teatro fora, se não consigo criar um poema a altura deste acontecimento. Todos nós, juristas, partes, responsáveis, estamos num encontro para marcar o século. É grande demais! E eu, sou pequeno diante de tanta grandeza. Devo ter a possibilidade de elaborar publicamente este projeto com muita gente. Abrir a zona para todos os puta artistas criarem. Com dor de dente, dopado, indolor, mas incolor, luto com minha cabeça e corpo, pois tenho certeza que a formulação mais clara se se busca vem. “Se disserem desista, esta busca é inútil. Eu não desistia”. 22- “A arquitetura dos homens de conhecimento” “Será preciso entendermos um dia , talvez um dia próximo o que falta acima de tudo nas nossas cidades, tranqüilos e espaçosos lugares para a reflexão, lugares com longas e altas galerias para o tempo ruim ou demasiado claro, onde não o chegue o barulho dos carros e dos pregoeiros e onde um refinado decoro proibisse até a um padre de rezar em voz alta. Construções e passeios que no conjunto exprimissem o que há de sublime no meditar, e no por-se de lado. Foi-se o tempo em que a Igreja tinha o monopólio da reflexão, em quer a vita contemplativa tinha de ser antes vita religiosa. Tudo o que a Igreja construiu deu expressão a esta idéia. Eu não sei como que tais construções, ainda que fossem despidas de finalidade eclesiástica, poderiam nos satisfazer. Elas falam uma linguagem demasiado patética e constrita, enquanto casa de Deus e luxuosos pontos um comércio supra terreno, para que nós, o sem deus pudéssemos pensar ali, os nossos pensamentos. Queremos nos ver traduzidos, nós mesmo em planta e pedra. Queremos passear em nós mesmos, ao andar por estas galerias e jardins. Nietzche “A Gaia Ciência”. Pois nisso tudo, no aperto que querem vocês querem nos meter, na casa de cachorro, estamos vindo para trazer ar, verde, frutos e flores, pausas para meditação na simplicidade de um caminho novo escolhido para uma tentativa de fazer alguma coisa gostosa. Salve a promotoria do meio ambiente. Salvas!Salvas para os contendores que no correr das audiências foram se revelando pessoas encantadoras. Pena que não foi gravado, mas está na minha memória e quero escrever muito sobre este momento privilegiado. Só quero que o embate de frutos saia da cerimônia e da seriedade estéril e se transforme num Bexigão. ENSAIO DE UM DEBATE PÚBLICO últimos textos trocados entre Marcelo Terra, advogado do Grupo Silvio Santos e José Celso Martinez Corrêa, diretor do Teatro Oficina Sílvio Santos Empreendimentos e Participações S/ C Ltda., acompanhada por seu procurador, abaixo assinado, em atendimento ao exposto no Ofício n. 162/02-4 PIMAC-IC 078.00 do dia 17 de janeiro, vem, respeitosamente, se manifestar sobre o documento intitulado como “proposta elaborada pelos membros do Teatro Oficina Uzyna Uzona” (BEXIGÃO), aduzindo o quanto segue: Objetivando pôr um fim ao verdadeiro tumulto procedimental causado pelo Teatro OficinaUzyna Uzona, houve por bem V.Exa. determinar que referida Associção formulasse uma proposta técnica objetiva, articulada, clara e inequívoca a respeito de sua proposta de eventual conciliação. A proposta que escrevi a pedido do Dr. Marcelo Terra, mais do que uma tentativa de acordo foi uma proposta de trabalho. Partiu da declaração que fiz na audiência do dia 17 de janeiro a esta promotoria que somente seria possível a discussão entre as partes, quando se levasse em conta o projeto que há 22 anos o Oficina vem concebendo para seu entorno de imóvel tombado, afim de que o Grupo Silvio Santos tivesse a mínima informação sobre o que, com o que, com quem, está, esteve, discutindo sua tentativa de acordo. “Tecnicamente” uma proposta de conciliação nasce acima de tudo do entendimento dos direitos, projetos, desejos, das partes, e não por critérios exclusivamente da “objetividade”, da “articulacão”, da “clareza” da lógica subjetiva e delirante do “tudo por dinheiro” Em 13 de janeiro de 2002 o ilustre patrono da Associação requereu a juntada aos autos de uma documentação – que é um manifesto, como tantos outros já produzidos – que o nobre subscritor e patrono optou por identificar como “proposta elaborada pelos membros do Teatro Oficina uzyna Uzona”. Não sou “patrono” de Associação nenhuma. Sou diretor do Teatro Oficina e presidente da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, que zela pelos objetivos vivos que inspiraram o Tombamento deste bem Tombado, sua manutenção e principalmente seu crescimento. Trabalhamos com o Conselho da Associação minuciosa e criadoramente sobre a situação especifica que inspirou o texto, que com muito orgulho, eu, José Celso Martinez Corrêa, diretor, ator, produtor e dramaturgo premiado, digitei com meus próprios dedos. Como o assunto é de importância vital para o Centro de São Paulo, esperava nem digo, o mesmo do Diretor do grupo, mas que Silvio Santos do alto do seu pedestal, tivesse a delicadeza e a humildade, por respeito a justiça da cidade, de manifestar-se diante de uma proposta de trabalho, de um “Manifesto” que tem tudo a ver com ele, feito por um artista reconhecido de sua mesma cidade. Os entendimentos de contrários somente são possíveis na prática do trabalho comum e o contrário de uma guerra. Sou líder de um grupo cultural, que se manifesta apaixonada e personificadamente, em manifestos também, como os nossos ancestrais modernistas de 22. E muitas vezes. É nosso estilo. Cartas abertas que não se conformam com os segredinhos do negócio quando uma causa pública está em jogo. Tal documento tem o salutar efeito de demonstrar, de uma vez por todas e colocando certamente uma pá-de-cal no presente procedimento, que: a) A Associação rasga a constituição Federal e toda a legislação infra-constitucional brasileira, regedora e disciplinadora do direito de propriedade. b) A Associação não guarda o menor respeito pela autoridade constituída pela ilustre Promotoria, pelo princípio da proteção à propriedade privada, pelo princípio da boa fé , pelo princípio da serenidade e da lealdade. Não considero salutar colocar uma “pá-de-cal” em procedimentos vivos e nem mesmo isto é possível. Vivemos uma sociedade que luta por ser democrática. Nosso conflito é muito real, é global e está muito vivo. a) A paranóia do “direito de propriedade” é tanta que uma proposta de trabalho comum, é vista como um atentado a esta instituição. Ninguem está querendo num simples esclarecimento de posicionamentos, ocupar, invadir, tomar a propriedade de ninguém. Está se levantando a hipótese de que por desejo próprio, Silvio Santos ou o Grupo Silvio Santos, a partir de um momento de parenteses nos preconceitos, muito necessário no mundo hoje em dia, participem de um empreendimento de alcance social, público, estético, de relevância, sinergisando-se o capital cultural dos 40 anos do Oficina e o capitalismo popular midiático bem sucedido do GSS. E esta possibilidade foi aventada em nome de uma hipótese intelectual, para o entendimento do conflito e sua possível superação. Em sentido totalmente contrário ao entendimento do Grupo Silvio Santos, em nenhum momento a Associação rasga a Carta Magna, mas cumpre, realizando um dos direitos e garantias fundamentais consubstanciado no artigo 5º, IV que é o da livre manifestação do pensamento e formas de expressão. No mesmo sentido encontra-se o artigo 216 que inclui de forma cristalina como patrimônio cultural brasileiro os bens materiais e imateriais, portadores de referência a identidade, à ação, à memoria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem as edificações e demais espaços destinados as manifestações artístico-culturais, das quais o Oficina faz parte uma vez que esta no livro do Tombo. O defensor do Grupo Silvio Santos refere-se a afronta ao “direito de propriedade” que encontra-se consubstanciado no artigo 5º, XXII da Constituição. Todavia se esquece que nenhum direito é absoluto e deve harmonizar-se com o texto constitucional, que preserva o patrimônio cultural, sendo compreendido assim o Teatro Oficina Uzyna Uzona. Verifica-se que a área de 300 metros em torno do patrimônio tombado deve ser preservada nas suas caracteristicas, sem impedimentos à sua visualização, acessibilidade. Estranhamente o Grupo Silvio Santos ignora tal realidade e fala em “falta de boa-fé”. A boa fé sempre esteve ao alcance da grande Corporação e seu vasto escritório advocaticio, no Livro do Tombo. Se existiu algo foi a inércia, passividade, negligência de verificar-se tais fatos ou ... má fé. É a obra de Lina Bardi que o Instituto que leva seu nome, defende na justiça: um embrião que transborda o limite físico do atual Oficina para seu entorno, um DNA de um outro conceito de cidade desentulhada, arejada, verde e mais que humana. b) Nossa luta existe, por respeitar, querer fortalecer, muito, esta promotoria, as leis do meio ambiente muitas vezes violadas, desrespeitadas pela absoluta incompreensão de muitos do que seja um procedimento legal a partir da valorização do fim social da propriedade privada, dos que não tem a experiência deliciosa da boa-fé e da nunca invocada, temida, criatividade para enfrentar uma situação eminentemente cultural. A respeito da “lealdade” eu nao entendi nada. Meu horror à hipocrisia, pede que seja expilicado qual o sentido da invocação desta palavra. Lealdade ao que? a quem? Quanto ao promotor Doutor Roberto Carramenha e aos procuradores que o precederam nesta questão, muito além do respeito, foi crescendo em mim, em todos que querem o Teatro Oficina, a admiração pela coragem, amor, inteligência e firmeza, com que têm desempenhado esta função pública. Um procedimento de absoluta lealdade ao meio ambiente, à vida. Não obstante, a absoluta falta de clareza de articulação do arrazoado, obviamente não escrito pelos ilustres advogados, alguns pontos merecem destaque, tudo a demonstrar sua absoluta inutilidade. O Dr. Modesto Cavalhosa, realmente um ilustre advogado, depois de ouvir, “O Bixigão” que li para ele, aconselhou-me, dirigiu-me a encaminhar o texto como estava, sem nenhum juridiquez, acompanhado de um vídeo, que revelasse meu empenho pessoal, a eloquência e a especificidade do escrito. Infelizmente oitenta anos depois da Semana de Arte de 22, o texto não soube ser lido pelo academicismo parnasiano das cabeças que declaram pretender construir um Centro Cultural em São Paulo. Começa a “proposta” pela sugestão de uma discussão pública do manifesto (grife-se que a própria Associação batiza sua proposta como manifesto e não como tentativa de composição), jogando luzes definitivas sobre sua verdadeira intenção de produzir fatos jornalísticos e de prejudicar o empreendimento que é vizinho ao prédio por ela ocupado precaria e gratuitamente, à custo do erário público, eis que o prédio, vale sempre se afirmar, é de domínio da Fazendo do Estado. A discussão pública sempre foi o nosso desejo. Somos um teatro. Um grupo produtor de cultura. Nossa responsabilidade é para com a sociedade. Esta situação, este assunto, é de interesse público. Talvez até transcenda o direito civil e tenha que ser encarada do ponto de vista criminal. Extermínio de um bairro, de uma cultura. Este crime não pode ser decidido por uma corporacão, por maior que seja. Este procedimento unilateral e sem a participação do publico é genocídio. O projeto do Grupo Silvio Santos vem se relevando um Show Room do que pretendem fazer no Bairro todo, dando prosseguimento a lógica das obras do Minhocão, fazer do Bixiga um lugar nenhum, chamado Bela Vista, um centro de Hotelaria e de diversão da Cultura Shopping, pior que uma Broadway brasileira: um “O Clone” de Las Vegas. Este projeto veio cair nos pés do Teatro Oficina, um centro ativo de produção cultural, que por estar nesta situação de ameaça, tem tomado conhecimento, tem experimentado, como agora está, esta atitude autoritária, tipicamente mafiosa de fazer na calada, sem a discussão democratica essa invasão. Por amor a justiça da fé no teatro como arte poderosa social, não se pode passar batido a este cerco genocida. A área urbana transformada em zona de especulação imobiliária vai expulsar toda a população de renda baixa que ocupa o Bixiga. E atenção. O texto do Dr. Terra revela a intenção de pressionar a Fazenda Estadual, para que saiamos do Oficina. Declara que a ocupação do Oficina por nós, é precária. Absolutamente, ao contrario. É das casas culturais mais arraigadas no seu próprio território no Brasil. Fizemos o lugar. Artistas, público, poder público, (Governo Marin, Montoro, Quércia, Fleury, Covas, e acredito Governador Alckimin) todos trabalhamos para que o Oficina não fosse vendido para Silvio Santos em 1980 e para que exatamente fosse Tombado para a continuidade de nossos trabalhos e da expanção do semeado urbanisticamente pelo gênio inventivo de Lina Bardi. Somos os criadores, cultivadores e guardiões deste teatro. De um ponto de vista democrático, a Fazenda do Estado não tem “domínio” sobre o Teatro Oficina. Em 20 anos, Estado tombou, desapropriou concluiu as obras do teatro para que conforme o ato do tombamento, o grupo continuase seus trabalhos, e não fosse engolido pelo Baú da Felicidade. Vem o Estado há 20 anos, exercendo sua intervenção justa diante da ameaça do Poder Econômico. O Estado patrocinou parte de alguns espetáculos por premiações, filtradas por editais da Secretaria de Cultura. Patrocinou Oficinas culturais gratuitas para a montagem de “Os Sertões”, como é seu dever constitucional: a promoção da cultura. O Erário público participou na fase de desapropriação exatamente garantindo a continuidade, e o crescimentro do imenso capital cultural acumulado na Rua Jaceguai, 520 no imóvel Tombado. Querer por em dúvida a legitimidade da ocupação do Oficina pelo Oficina é ignorar a história da cultura brasileira e afinal uma falta de compreenssão de qual seja o conteúdo desta contenda. Porque não discutir então a concessão dos canais de TV à Silvio Santos pelo Estado ? A Fazenda é um organismo à serviço da sociedade, no caso, a serviço de suas aspirações culturais mais elevadas. A leitura como puro “domínio” vêm da cobiça finaceirista que ignora a historia e vê o Estado como um objeto de manipulação a favor dos interesses especulativos privados. No mundo todo existem teatros como o Oficina que prestaram grandes servicos à sociedade e puderam se desenvolver tantos nos seus entornos, como na influência sobre o mundo: a Ópera de Pequim, o Teatro de Arte de Moscou, o Royal Shakespeare de Londres, O Berliner Ensenble, a Comedie Française, a Cia. de Peter Brooks, milhares de instituições, que enriquecem a inteligência de seus países e do mundo. O que torna esta contenda interessante é que documentos como este, expõe a cabeça despreparada do “tudo por dinheiro”, diante da vida cultural em que quer se meter. Mas esta cabeça no mundo contemporâneo é anacrônica. Que a história não se repita, que o paulista, o sulista, deixe de continuar sendo “o empreiteiro predileto das grandes hecatombes” como escreveu Euclides em “Os Sertões”. Continua a “proposta” em sua tentativa vã de provocar risos, sugerindo a “substituição total do mencionado projeto…omissis…que esses recursos sejam aplicados na área social, particularmente na revitalização do Bixiga transformando o espaço destinado ao shopping, em torno do Teatro Oficina tombado, num centro de formação cultural e artísitica da população de São Paulo”. “O que uma pessoa pode fazer senão rir” (Shakespeare- Hamlet). Porque não gargalhar de felicidade quando existe uma proposta de transformação de um empreendimento privado em público? Em vez de destruir um Bairro histórico e popular, porque uma Grande Corporação não pode a partir de um teatro, reconstruir o umbigo cultural prodigamenete fértil do Bixiga, no centro de uma das maiores cidades do mundo. Plantar as sementes de uma outra urbes, uma nova vida vindo do que Bexiga criou e não o seu sepultamento numa Bela Vista de hotelaria de business-men, interessados somente na cultura Shopping? Demonstra a Associação sua total aversão política e econômica ao projeto, sem , contudo, arguir ou apresentar qualquer ilegalidade. Quero por que quero! Esta é a única e infantil assertiva da Associação, tentando fazer da Digna Promotoria o veículo de sua insensatez. A gestão atual do Condephaat, aprovou esse filho do Minhocão sem levar em conta o entorno do Oficina. Entorno geográfico e cultural, contido já no projeto Lina Bardi há 22 anos, 4 anos antes do tombamento do Teatro. A “insensatez” todos nós felizmente às vezes somos insanos, mas quem se aventura a passar por cima com o trator em qualquer lugar que pretenda especular, sem levar em consideração as minas, a existência do que há de específico, o que é? A aversão política e econômica é menos ao projeto arquitetônico do Shopping (é até boa para o que pretende: capitalizar, pode ser construido em qualquer lugar) do que à maneira cega com que se quer implantar a partir desta torre do tamanho do Banespa um domínio feudal privado. Na carta magna procura-se harmonizar-se os direitos e não esmagá-los. Artigo 5º, XXIII Ao longo de suas longas, enfadonhas, tumultuadas quatorze páginas, o manifesto da Associação nada de novo trouxe aos autos , somente se repetindo, se repetindo, se repetindo, sem nexo, sem lógica, sem juricidade. Se fosse uma petição inicial, certamente sem destino seria o julgamento de sua inépcia! A inépcia no caso é a falta de capacidade intelectual, cultural escondida no formalismo jurisdicista, totalmente inadequada a decifrar a Justiça numa causa eminentemente cultural de lógica eco-lógica que fala a língua da arte. Ali, nada há que se aproveite, por mais que se tente, por maior que seja o esforço do leitor. Tanto assim que, contrariando ao que foi determinado por esta D. Promotoria, não há no documento entelado uma linha sequer que trate de quetões técnicas de arquitetura que pudesse possibilitar alguma compreensão sobre a posição da Associação. A arquitetura é uma arte mais do que uma “técnica”. Em se tratando de um centro cultural, somente pode ser discutida a partir de critérios públicos, estéticos, sociais, como exaustivamente tentei explicar no documento, pedindo inclusive a palavra solta de um dos maiores arquitetos brasileiros: Paulo Mendes da Rocha, autor do projeto “Ágora” para o entorno do Oficina. Paulo recusa-se a participar de um entendimento que parta de uma visão unilateral de milimetragem. No documento de Dr.Terra penso que não foi entendida a determinação do Promotor que visava um entendimento baseado na legislação do Tombamento, e na defesa do meio ambiente. Não ví no projeto do Shopping nada que possa sequer mencionar a mínima preocupação com este aspecto legal. Como não houve a oferta de qualquer proposta, a ora Requerente pede vênia para não mais se alongar. Não há o que ser contraditado, não há o que se contra argumentar. Infelizmente o documento que redigi, não encontrou no primeiro momento, esforço para ser compreendido. No centenário de “Os Sertões”, o grande livro brasileiro, poderíamos encontrar uma via para nos entendermos através de um trabalho prático aqui e agora no quarteirão tal qual está. Não ponho “pá-de-cal” em nada. Não sou coveiro. Fiz uma proposta, uma simples proposta que foi julgada indecorosa e nem sequer citada no documento. Escandalizou em um primeiro momento meus queridos algozes impotentes até agora de dar uma réplica à altura da situação. Não tive o talento ainda de ser claro, nem encontrei talento, boafé nos meus contendores para o início de uma compreensão produtiva entre o Oficina e o Grupo Silvio Santos. Jamais me veio a mente que uma simples proposta de trabalho conjunto pudesse provocar uma reação tão grosseira, brutal, autoritária, tanto no primeiro documento que foi divulgado como nota oficial do Grupo Silvio Santos assinado pelo sr. Carlos Brickman, como pelo que atualmente respondo. Um muro e uma muralha de comunicação, mas o muro tem um furo. Um buraco. Mas, para que dúvida não paire, a ora Requerente consiga sua mais absoluta contrariedade à tentativa – que restará infrutífera – de transformar a reunião agendada para o dia 20 de fevereiro próximo em palco público para mais uma encenação de quem não respeita a Justiça ! Nesse item há clara demonstração do horror ao “palco público”, à democracia e ao teatro. O não respeito e atencão a lei do entorno faz-se com que se perca a oportunidade para tratar uma questão de direito cultural de uma maneira realmente nobre e civilizada. Esse encontro das partes, promovido pelos promotores do meio ambiente, sempre foi enriquecedor, agradável e clarificador, mesmo quando fiquei chocado com a dificuldade que tem o Grupo Silvio Santos de entender o outro, a cidadania além da mercadoria. Não entendo a concepção irada e farisaica que diz que não respeito a justiça porque quero exatamente discussão aberta, pública e com arte. Sou formado em direito na Faculdade do Largo São Francisco e por paixãoadoração a Justica Justa de Xangô me dediquei ao Teatro. Como artista que compreende a advocacia sei que esta polêmica não para aí. Muitas águas vão rolar sob o signo da justiça. Por isso respondo aos itens ao nome da iluminação da razão, das muitas razões que fazem da vida riqueza cultural. As leis do meio ambiente existem, fiquei sabendo por Euclides da Cunha, desde 1713 e visavam “a severa proibição do corte das florestas”, pra impedir a seca. Hoje as próprias hecatombes que a não observação a estas leis provocou na economia geral da vida, criou a consciência no mundo, que elas são hoje o fundamento das esperanças de sobrevivência da Terra. Oficina nesta Luta está ensaiando “Os Sertões” que jogam tanta luz nesta questão. Na sua época ele concluiu o livro dizendo não haver alertadores, para os crimes das nacionalidades. Hoje temos. Euclides tornou-se este alertador. O denunciador no seu livro de um crime, um holocausto. Cem anos depois, sua lembrança viva fará com que este crime no coração urbano do Bixiga querido, não seja consumado. Que São Paulo tenha sobre o Martírio da Terra esta vitória do Meio Ambiente. Termos em que, reiterando seu pedido de arquivamento do presente inquérito civil. São Paulo, 05 de fevereiro de 2002. Marcelo Terra – OAB 53.205 Evoé! São Paulo, 5 de março de 2002. José Celso Martinez Corrêa bexigão cidadão editado por Tommy Pietra, Cristiane Cortilio e Maurício Shirakawa