RISCO DE CÂNCER DE PELE ASSOCIADO À INCIDÊNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR EM PALMAS Carolinne Teixeira Moraes Guimarães, Farmacêutica, Especialização em Vigilância Sanitária pela Universidade Católica de Goiás, GO. e-mail: [email protected] Pedro Binsfeld (PhD), Docente do Programa de Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pelo Instituto de Estudos Farmacêuticos e Universidade Católica de Goiás, GO. e-mail: [email protected] RESUMO As neoplasias malignas da pele são os tumores mais comuns adquiridos pelos humanos ao longo da vida. No Brasil, o câncer de pele gira em torno de 25% entre todos os tumores diagnosticados em todas as regiões geográficas. Para apurar a frequência de novos casos de câncer de pele em Palmas-TO, fez-se um estudo das notificações dos anos 2006 e 2007, na região de Palmas. Os dados do trabalho foram coletados na Secretaria Municipal de Saúde, Sociedade Brasileira de Dermatologia e Instituto de Meteorologia de Palmas. A região Norte recebe menor incidência de radiação solar no Verão comparado a região Sul, ocorrendo, porém, o inverso durante o inverno. No ano de 2006 foram diagnosticados 14 novos casos de câncer de pele, destes, 12 foram diagnosticados como Carcinoma Basocelular, um caso de Carcinoma Espinocelular, e um caso referente a outro tipo de dermatose. Já em 2007 houve apenas 7 notificações, sem especificação o tipo de câncer de pele. A exposição à radiação ultravioleta é um dos principais fatores de risco de câncer de pelo, mas não foi possível estabelecer correlação entre incidência de radiação na região de palmas e o surgimento de câncer de pele, visto que esta radiação é semelhante a outras regiões do país. Especula-se que possa haver um grande número de subnotificações o que dificulta estabelecer a relação causa/efeito e definir estratégias para prevenção. Palavras-chave: Carcinoma, radiação ultravioleta, neoplasia, tumores cutâneos. ABSTRACT Malignant neoplasms of skin, are the most commom tumors acquired by humans along the course of your life.In Brazil, skin cancer accounts about 25% of all tumors diagnosed in all geographic regions, thus the need to analyse the number of notifications of skin cancer new types in Palmas in 2006 and 2007 and to correlate this index of solar radiation in the North area.It was performed a retrospective and quantitatively study, where data were collected at Municipal Health Department, Dermatology Brazilian Society and Palmas Meteorology Institute. Norht area receives a lower incidence of solar radiation during the summer than the south area, while the opposite occured during the winter.During the year 2006 were diagnosed 14 cases of skin cancer, 12 cases of basal cell carcinoma(BCC), one case of squamous cell carcinoma(SCC) and one referring case to another type of skin cancer.Exhibition to ultraviolet radiation(UVA and UVB radiation along many years) is a major risk factor for skin tumors, but there’s no correlation for the incidence of radiation in the north area and appearance of skin cancer, since this radiation in other regions of the federation. It was also observed that there may be a lot of underreporting of malignant melanoma and nonmelanoma (carcinomas) in Palmas, requiring more prevention campaigns. 1 Keywords: Self-examinations; underreporting; north. 1. INTRODUÇÃO O câncer é um termo genérico usado para designar o crescimento celular descontrolado, que pode surgir de uma única célula que se torna insensível ao mecanismo de inibição por contato e divide-se rapidamente, originando novas células também insensíveis a esse mecanismo (LIMA, 1996). Assim, forma-se uma massa de células em crescimento que afasta as células normais pressiona mecanicamente tecidos sadios e absorve nutrientes disponíveis para eles. Quando o tumor é limitado ao local que se formou, ele é denominado benigno, mas quando as células cancerosas caem na circulação sanguínea ou linfática e são levadas a outros órgãos onde originam novos tumores é chamado maligno. Ao processo de migração das células malignas dá-se o nome de metástase (LIMA, 1996). De modo geral, uma célula cancerosa é uma célula somática com mutações (pode ser uma apenas) acumuladas em diferentes genes, resultando em perda do controle da proliferação celular. O crescimento contínuo das células cancerosas leva a dano tecidual grave, falência de múltiplos órgãos e, eventualmente, morte (PASTERNAK, 2002; SPENCE et al., 2003). O câncer esta se tornando um problema cada vez maior para a humanidade, ou seja, um problema de saúde pública, onde as neoplasias malignas de pele são os tumores mais comuns adquiridos pelo ser humano no curso de sua vida. A incidência de Carcinomas (Basocelular ou Espinocelular) de pele supera a incidência de cânceres de pulmão, mama, cólon, reto, próstata, bexiga e todos os linfomas combinados (MILLER et al., 1994). Como o melanoma é um tipo de câncer pouco freqüente se comparado a outros tipos como o de pulmão ou de mama, as medidas preventivas terão mais êxito se forem dirigidas diretamente aos grupos de maior risco (AZEVEDO et al., 1992). O autoexame de lesões de pele deve-se atentar para alterações na cor, forma, tamanho e bordas de lesões cutâneas existentes (ABCD – assimetria, bordas, cor, diâmetro), (GUIMARÃES et al., 2008). O Melanoma cutâneo, também conhecido como Melanoma maligno, origina-se dos melanócitos (células produtoras de melanina, substância que determina a cor da pele), afetando principalmente a população adulta jovem e de pele clara. Pelo fato de um de seus fatores de risco, a exposição solar, ser um fator mutável, essa patologia tem chamado atenção de médicos e provedores de saúde, no sentido de prevenir e diagnosticar precocemente essa 2 doença em populações de alto risco (GUIMARÃES et al., 2008). A localização do melanoma cutâneo pode ser em qualquer parte do corpo, sendo mais comum no tronco (nos homens) e nas extremidades inferiores (nas mulheres), (ROSENTHAL et al., 1995; FORONES et al., 2005; GUIMARÃES et al., 2008). Os tumores de pele do tipo não melanoma (Carcinoma Basocelular e Espinocelular) é o tipo de câncer mais freqüente (MILLER et al., 1994). O tipo não melanoma é de fácil diagnóstico, sendo freqüentemente identificado no exame de inspeção da pele (GUIMARÃES et al., 2008). O Carcinoma Basocelular é uma neoplasia maligna derivada de células originadas da camada basal da pele (epiderme e apêndices cutâneos, acima da camada basal, como os pêlos, por exemplo), sendo o tipo de câncer mais comum, que compreende 75% dos cânceres de pele não melanomas. Sua localização mais comum é na cabeça (principalmente nariz) e pescoço (LOPES et al., 2005). Geralmente manifesta-se como lesão nodular assintomática ou ulcerativa mais elevada do que a pele ao seu redor (GUIMARÃES et al., 2008). O Carcinoma Espinocelular é o segundo tipo de câncer mais comum na pele, o risco relativo é mais alto em pessoas de pele clara. Geralmente as lesões são da mesma coloração da pele, róseas ou marrons (LOPES et al., 2005). No Brasil, o câncer de pele corresponde a cerca de 25% de todos os tumores diagnosticados em todas as regiões geográficas , o que pode ser explicado pelo alto índice de raios solares, a falta de consciência do uso de proteção solar, o baixo índice de campanhas de prevenção agregadas com a pouca cultura preventiva da população brasileira (SOUZA et al., 2004; INCA 2008). A exposição á radiação solar é um dos principais fatores de risco aos tumores cutâneos. A região Norte recebe menor incidência de radiação solar durante o Verão do que a região Sul, apesar de sua localização próxima à linha do Equador. Durante os meses de Inverno, ocorre o inverso e a região Amazônica recebe maior irradiação solar global. Isso se deve as características climáticas da região Amazônica que apresenta fração de cobertura de nuvens e precipitação elevadas durante o Verão devido à forte influência da Zona de Convergência Intertropical (PEREIRA et al., 2006). O objetivo do presente estudo diagnóstico foi analisar o número de notificações dos novos casos de câncer de pele em Palmas e correlacionar este índice com a incidência da radiação solar nesta região. 3 2. METODOLOGIA O presente trabalho é um estudo do tipo retrospectivo e quantitativo, onde os dados foram coletados nos arquivos de notificação da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), no período de janeiro de 2006 a dezembro 2007, este recorte temporal decorre das datas de campanhas nacionais de prevenção, os dados de insolação foram obtidos junto ao Instituto de Meteorologia de Palmas, localizado na UNITINS e Universidade Federal do Tocantins (UFT). Os dados foram coletados no acervo bibliográfico em bases de dados disponíveis em bibliotecas virtuais e sítios da rede mundial de computadores, entre os quais Portal da CAPES, Scientific Eletronic Library Online (Scielo), da Literatura Latino Americana em Ciência da Saúde (LILACS), e Descritores em Ciências da Saúde (DECs/BIREME) e em outras fontes de dados como livros. Os dados coletados no presente trabalho, foram processados e os resultados apresentados na forma de gráficos que foram interpretados e apresentados de forma didática e de fácil compreensão. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A radiação solar é, sem dúvida, um dos mais importantes agentes envolvidos na etiologia do câncer de pele. E o Brasil situa-se geograficamente numa zona de alta incidência de radiação solar em especial os raios ultravioletas. As pessoas mais sensíveis que se expõem muito ao sol, desprotegidas, seja por trabalho ou por lazer, são as que apresentam maior risco de contrair câncer de pele, principalmente aquelas de pele clara. Segundo estatísticas do Instituto Nacional do Câncer, o câncer de pele é o de maior incidência no Brasil e está diretamente relacionado à exposição ao sol. Somente no ano passado, cerca de 55 mil brasileiros foram acometidos pelo mal. 3.1. Principais riscos em relação à radiação solar A incidência da radiação solar durante as estações do verão e inverno é variável conforme se pode observar na Figura 1. A região Norte recebe menor incidência de radiação solar durante o verão em relação à região Sul, e na estação de inverno ocorre o processo inverso. A variação média da incidência de radiação solar entre as estações de inverno e verão é menor na região Norte do que nas regiões Sul e Sudeste. 4 A B Figura 1 – Representação da distribuição da Radiação Solar no período do Verão (A) e Inverno (B). Fonte: Atlas Brasileiro de Energia Solar 2006. Segundo PEREIRA et al (2006) a variação da incidência de radiação solar entre o Inverno e o Verão é menor na região Norte, mesmo sendo uma região próxima a linha do Equador, do que nas regiões Sul e Sudeste. Sendo que a região Norte recebe maior incidência de radiação solar durante as estações secas, particularmente entre os meses de Julho e Setembro, quando o número de dias de céu claro é maior. O que é de grande relevância na região Norte são: a) as temperaturas elevadas, b) o grande número de dias de céu claro, c) o hábito de maior exposição ao sol pela população, seja pelas vestimentas que expõem mais o corpo ao sol ou pelo lazer e atividades esportivas ao ar livre. Já na região Sul, as temperaturas são mais amenas e as pessoas protegem mais o corpo, devido ao frio, e usam mais roupas, deixando o corpo menos exposto a radiação solar (PEREIRA et al., 2006). Estudos realizados afirmam que a exposição aos raios ultravioleta é um dos principais fatores de risco para desenvolver tumores cutâneos, seja para Melanoma maligno ou tumores de pele do tipo não melanoma como o Carcinoma Basocelular ou Espinocelular (MAIA et al., 1995; MARGHOOB, 1997; COSTA et al., 2004; RHEE et al., 2004). Embora o dano celular possa ocorrer nas fases iniciais da vida, geralmente passam-se muitos anos entre a exposição à dose iniciadora de radiação e o surgimento de uma neoplasia maligna. Isso sugeriria que a exposição a agentes promotores está envolvida na proliferação de células lesadas pela radiação e no desenvolvimento final do tumor (SPENCE et al., 2003). 5 De acordo com o comprimento de onda, os raios ultravioletas (raios UV) são classificados em raios UV-A, 320-400 nm, e em raios UV-B, 280-320 nm. Em decorrência da destruição da camada de ozônio, os raios UV-B (principal comprimento de onda carcinogênico), que estão intrinsecamente relacionados ao surgimento do câncer de pele, têm aumentado progressivamente sua incidência (SPENCE et al., 2003; DERGHAM et al., 2004; SOUZA et al., 2004; INCA, 2008). Além disso, os raios UV-A independem da camada de ozônio, e causa câncer de pele em quem se expõe a eles em horários de alta incidência, continuamente e, ao longo de muitos anos, as pessoas de pele clara que vivem em locais de alta incidência de luz solar são as que apresentam maior risco (INCA 2008). Portanto, a radiação é mutagênica e acredita-se que cause transformação maligna por lesão do DNA (SPENCE et al., 2003; SOUZA et al., 2004). A confirmação da mutagenicidade da radiação ultravioleta ocorreu em 1960, com a descoberta da formação do fotodímero ciclobutano, após a irradiação da base timina por comprimento de onda de 254 nm (DAVIES, 1996). Estudos posteriores identificaram aquilo que seria a assinatura do ultravioleta: a produção de mutações em pontos específicos do DNA (onde existam duas bases pirimidinas adjacentes), levando à formação do dímero de pirimidina ciclobutílica e de fotoprodutos pirimidina-pirimidona, segundo DAVIES (1996) e LEFFELL et al., (1997). A produção de fotodímeros em pele humana, mais especificamente em queratinócitos e melanócitos, de acordo com YOUNG et al., (1999), pode ser induzida tanto pelo UVA quanto pelo UVB (FREEMAN et al.,1987; YOUNG et al., 1999). Os serviços meteorológicos já mostram consciência da importância do aumento da exposição a raios UV, ao divulgar diariamente os níveis de exposição para diferentes regiões do país (SBD 2006). 3.2. Incidência de Câncer de Pele em 2006 e 2007 Os dados aqui apresentados referem-se as das notificações do ano de 2006 de casos confirmados de Câncer de Pele, obtidos da Pesquisa Nacional de Controle de Câncer de Pele, realizada em dezembro de 2006 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde em Palmas, Tocantins. Os dados referem-se a 286 pessoas (100%), sendo que 14 (4,9%) apresentaram câncer de pele e 272 (95,1%) não tinham nenhum tipo de câncer de pele (Figura 2). 6 Sim 4,9% Não 95,1% Fonte:SBD, 2006. Figura 1 – Representação da freqüência percentual de incidência de câncer de pele do universo considerado no ano de 2006 pela Sociedade Brasileira de Dermatologia juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde em Palmas, Tocantins. Fonte: SBD, 2006. Já os resultados referentes ano de 2007 relativos à incidência de Câncer de Pele em Palmas são de difícil análise, pois não especificam o diagnóstico clínico destes pacientes, se eram casos de Melanoma maligno ou não-melanoma (Carcinoma Basocelular ou Espinocelular). Ressalta-se que neste ano não houve campanha de prevenção ou controle de Câncer de Pele, como ocorrido no ano de 2006. Pois, no ano de 2007 houve apenas 7 (sete) casos de Câncer de Pele notificados pela secretaria de saúde, da cidade de Palmas-TO, mas não foram especificados os tipos de câncer apresentados. Suspeita-se que de que existir notificações da ocorrência de câncer, é possível que seja necessário aprimorar o sistema de notificação e registro dos casos para poder efetuar estatísticas de maior confiabilidade e poder fazer inferências mais seguras sobre a incidência de câncer de pele na cidade. Depoimentos de profissionais da saúde do Hospital Padre Luso, Instituto do Câncer de Palmas, e Hospital Geral de Palmas (HGP), os casos de câncer eram apontados em um livro de registro, para que os pacientes após triagem fossem submetidos á exames clínicos e laboratoriais para confirmação de diagnóstico. Todavia, em muitos casos os pacientes devido ao medo ou até por esquecimento, deixavam de retornar ao Hospital para confirmação do diagnóstico. Isso pode resultar em subnotificação dos casos de Melanoma maligno e não melanoma (Carcinoma Basocelular e Espinocelular). Campanhas frequentes de prevenção de Câncer de Pele seriam atividades de rastreamento para o diagnóstico precoce dessa doença, possibilitando tratamento rápido, 7 diminuição da morbidade e aumento da sobrevida do paciente, sendo de grande importância para a população tocantinense. A consciência da gravidade sanitária do câncer da pele é pequena entre os profissionais de saúde em várias partes do mundo. Para ampliá-la, são geradas iniciativas como intervenções educacionais para profissionais envolvidos com a atenção básica sobre práticas para o controle de câncer da pele (MIKKILINENI et al., 2001) ou a inclusão de profissionais de enfermagem no processo de suspeição e encaminhamento de casos (GELLER et al.,2003). No Brasil, a consciência da gravidade do problema entre os responsáveis pela saúde pública é influenciada pela percepção de que a mistura racial determinaria um baixo risco para a população brasileira. Sem dúvida, o câncer da pele não melanoma é mais frequente em pessoas de pele mais clara e sensível ao sol, o que não invalida o risco naquelas de pele mais pigmentada. A maioria dos estudos realizados no Brasil e no exterior baseia-se em rastreamento de populações selecionadas por meio de campanhas para prevenção de diagnóstico precoce de câncer de pele, segundo LUCCIOLA et al., (1993); BRANDT (1996); TARLÉ (1998). Ou seja, as campanhas de saúde pública procuram atingir a população, primeiro, no sentido de evitar o aparecimento da doença, prevenção primária, e depois chamando atenção para o diagnóstico precoce, prevenção secundária (MAIA et al., 2006). A prevenção primária do câncer da pele deve ter como principal população-alvo a infantil, uma vez que as crianças se expõem ao sol três vezes mais que os adultos, e a exposição cumulativa durante os primeiros 10 a 20 anos de vida determinam o risco de câncer da pele, mostrando ser a infância uma fase particularmente vulnerável aos efeitos nocivos do sol (SBD, 2006). A prevenção secundária na população adulta pode e deve ser realizado na rotina da atenção à saúde, o que, porém, requer maior engajamento dos profissionais de saúde e da população em geral na ação preventiva. A divulgação dos riscos da exposição solar pela mídia vem aumentando a consciência do problema entre os brasileiros, criando pouco a pouco um ambiente favorável a iniciativas de prevenção primária na infância (SBD, 2006). 3.3. Tipo de Câncer de Pele diagnosticado em função da idade dos pacientes De acordo com o Diagnóstico Clínico, houve 12 casos (4,2%) de Carcinoma Basocelular (CBC), um caso (0,3%) de Carcinoma Espinocelular (CEC), nenhum caso de 8 Melanoma maligno e um caso referente a outro tipo de dermatose cânceres (tumor maligno). A idade média de pacientes com câncer de pele foi em torno de 60 anos (Figura 3). 100 80 60 40 IDADE 20 0 -20 N= 14 272 Sim Não Câncer de Pele FIGURA 3 – Representação da idade média dos pacientes com Câncer de Pele. Fonte:SBD,2006. De acordo com estudo realizado por DERGHAM et al., (2004), o Carcinoma Basocelular (câncer de pele não-melanoma), acomete mais os indivíduos durante a sexta década, ou seja, em torno dos 60 anos, ocorre mais no sexo feminino, e a ocorrência mais frequente na região cefálica. O câncer de pele melanoma é raro antes da puberdade, o pico de acometimento está entre os 40 e 60 anos, informações compatíveis com este estudo, que demonstrou média de 60 anos. A ocorrência maior no sexo masculino é discutível. Para alguns autores, o predomínio está no sexo feminino (AZULAY, 1997). A percepção do estado de saúde e da qualidade de vida dos pacientes, bem como o impacto tanto de sua doença como de seu respectivo tratamento, estão sendo amplamente reconhecidos como um elemento importante de avaliação de resultados, sendo tópico de pesquisa em estudos clínicos e epidemiológicos (FERRAZ, 1998). O paciente portador de câncer de pele, seja na face ou no pescoço (Carcinoma Basocelular ou Espinocelular), exceto o Melanoma cutâneo, possui menor autoestima (a faixa etária dos pacientes com idade igual ou inferior a 55 anos foi a que mais apresentou os efeitos negativos sobre a autoestima), do que os pacientes sem câncer (CARVALHO et al., 2007). 3.4. Incidência de câncer em função da pigmentação da pele dos pacientes 9 A distribuição dos pacientes segundo câncer de pele e cor ficou distribuído nas seguintes proporções: (9,6% - 11/115) brancos, (2,2% - 3/138) de pardos, sendo que os de pele negra (0,0% - 33) não apresentaram câncer de pele (Figura 4). Figura 4 – Representação da freqüência percentual de incidência de câncer de pele em função da pigmentação (cor) da pele das pessoas avaliadas pela Soc iedade Brasileira de Dermatologia juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde em Palmas, Tocantins. Fonte: SBD, 2006. A evidência de que as pessoas de pele clara (branca) e de ascendência européia têm maior pré-disposição para o desenvolvimento de câncer de pele é fortalecida ao se verificar que os coeficientes de ocorrência, em populações de raça negra e amarela, são inferiores às de raça branca (DERGHAM et al., 2004; LOPES et al., 1992; WATERHOUSE, 1990). Há no país grupos populacionais de maior risco para o câncer de pele, em geral, representadas por descendentes de europeus, principalmente nas regiões sul e sudeste, onde foi mais intensa a concentração de imigrantes europeus, onde existem comunidades que, por razões geográficas, sociais e culturais sofreu pouca ou quase nenhuma miscigenação racial. Conseqüentemente, estas comunidades expressam risco mais elevado, por suas características, para o desenvolvimento de câncer de pele (AZEVEDO et al., 1992). A percepção da gravidade sanitária do câncer da pele é ainda pequena entre os profissionais de saúde em várias partes do mundo. Para aumentar essa consciência são feitas inúmeras iniciativas orientadoras para profissionais da atenção básica sobre práticas para o controle de câncer de pele ou a inclusão de profissionais de enfermagem no processo de triagem diagnóstica e encaminhamento de casos. No Brasil, a consciência da gravidade do problema entre os responsáveis pela saúde pública é influenciada pela idéia de que a mistura racial determinaria um baixo risco para a 10 população brasileira. Sem dúvida, o câncer da pele não melanoma é mais freqüente em pessoas de pele mais clara e mais sensível à radiação solar, o que não significa a ausência de risco naquelas de pele mais pigmentada. 3.5. Interação entre exposição ao sol e sexo dos pacientes Os indivíduos do sexo masculino apresentaram maior índice de câncer de pele (9,4% 11/117), em relação ao sexo feminino (1,8% - 3/169), como demonstra a Figura 5. Figura 5 – Representação da freqüência percentual de incidência de câncer de pele em função do sexo dos pacientes pessoas avaliadas pela Soc iedade Brasileira de Dermatologia juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde em Palmas, Tocantins. Fonte: SBD, 2006. Já na Figura 6 observa-se que os pacientes do sexo masculino (76,9%) pela sua maior exposição ao sol e sem proteção comparada ao sexo feminino (60,9%), que se protege mais quando fica exposto ao sol. 11 Figura 6 – Representação da freqüência percentual de incidência de câncer de pele em função da exposição dos pacientes. Fonte: SBD, 2006. Apesar da exposição maior das mulheres ao sol, elas se protegem mais ou têm maior percepção do risco de câncer de pele e são mais propensas a mudar o seu comportamento, comparadas aos homens. A baixa percepção do próprio risco e a menor propensão a mudar o seu comportamento explicaria a maior frequência de danos solares entre os homens (SOUZA et al., 2004). É muito importante perceber que em cerca de 75% dos casos de melanoma, as lesões foram descobertas por leigos, seja o próprio paciente, o cônjuge, outro membro da família ou amigo. As mulheres não foram mais eficientes do que os homens em encontrar suas lesões de pele, apesar da literatura referir o contrário. Já quando o melanoma foi descoberto por terceiros, de forma significante, os pacientes já tinham mais de 60 anos (MAIA et al., 2006). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo aponta para algumas considerações conclusivas, como a de que as campanhas de prevenção ao câncer de pele poderiam ser um meio promotor do diagnóstico precoce dessa doença. Pois, em sendo a pele um órgão de fácil acesso ao autoexame e a inspeção médica facilitada, há a possibilitaria do diagnóstico precoce e por isso diminuir a severidade e o número de casos de câncer de pele sem cura. Durante a campanha realizada em Palmas, detectou-se que os pacientes do sexo masculino foram os mais acometidos em função da maior exposição aos raios solares (UVA e UVB), e também pouco se protegem em relação ao sexo feminino. O uso adequado de filtro solar é ainda muito baixo, não apenas por questões econômicas, mas também por percepções equivocadas por parte da população. Além disso, é preciso superar a concepção de que os cuidados com a pele têm apenas finalidade estética. Os profissionais da área da saúde mencionam a imprecisão das notificações dos casos de câncer de pele em Palmas, pois em geral os médicos não têm o hábito de proceder a notificação da doença. A obrigatoriedade do registro do câncer de pele junto a Secretária da Saúde, campanhas de prevenção para a conscientização da população para aumentar a percepção dos riscos de câncer de pele entre a população, são medidas necessárias para ampliar as estatísticas e a partir dessas traçar estratégias e políticas públicas que permitam avançar na adoção de medidas preventivas, assim como, o diagnóstico precoce a fim de evitar 12 danos mais graves aos pacientes e elevados custos ao sistema público de saúde. Pois a maioria dos casos são tratáveis e curáveis desde que diagnosticados em tempo hábil. 5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AZEVEDO, Guinar, MENDONÇA, Silva. Risco crescente de melanoma de pele no Brasil. Revista de Saúde Pública v.26, n.4, São Paulo, agosto 1992. AZULAY, D. R., Oncologia Dermatológica. Dermatologia 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan: 1997. p.320-77. BRANDT, T.P. Skin cancer screening. Med Clin North Am 1996 ;80:99-114. BRASIL, Instituto Nacional do Câncer (INCa). 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